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Resumo
INTRODUÇÃO
Esta pesquisa contextualiza a relevância do professor e da educação para a sociedade, com detalhes e contextos que enobrecem a profissão, por um viés de transformação. Ser professor é poder contribuir com a mudança, é permitir-se agir contra a tentativa de segregação do conhecimento e de oportunidades.
Ao tempo que estamos a vivenciar novos elementos tecnológicos que incorporam o fazer pedagógico e a aprendizagem, ainda vive em nossas lembranças estudantis acontecimentos e contextos outrora vivenciados na escola, condimentados com brilhos de nostalgia que por vezes ainda amaciam a época passada. Quem nunca teve uma professora ou professor que marcou sua infância? Com aquela admiração singela, incalculável e respeitosa que não nos permitia duvidar de tamanha autoridade e importância para a nossa vida?
Ali, talvez, motivados pela representatividade intransponível daquele(a) professor(a) marcante, surgiram novos discípulos do encanto de educar, que por muitas vezes viram-se contagiados pela força do conhecimento e dedilhados pela sabedoria e simplicidade daquela pessoa. Professorar é uma vocação que nos convida na essência do sentir-se útil à vida do outro. Não vale, simplesmente, ensinar os bê-á-bás dos livros didáticos que moldam a aprendizagem acadêmica, é preciso marcar a trajetória e a vida do aprendiz. Conforme afirma Medeiros et al (2023, p. 18), “construir o magistério com (o) Arte é promover o encontro [a aula], com sensibilidade poética e criatividade, para a reflexão e a ação”.
O professor inspira e espelha comportamentos que redimensionam a compreensão dos conteúdos estudados. Ele, aos olhos do aluno, é visto como um ser que tudo sabe, tudo resolve, perfeito, exemplar, imune a falhas. Estas impressões singelas desenham a plenitude do poder do papel do professor na sociedade.
A ARTE DE EDUCAR E SEUS ENCANTOS
O professor tem, certamente, um simbolismo especial estampado nos olhos admirados de quem com ele constrói por fios iluminados de alegria o ensinar e aprender juntos, nos passos compassados das descobertas. A partilha de saberes é o poder que faz revigorar o fascínio pelo conhecimento.
Sem a disseminação do aprender significativo e a transformação adequada das práticas do professor, a sensibilidade poética do ensinar e aprender pode soar em tons de frustração. Por outro lado, consolidar o magistério dentro de um cenário de promoção da harmonia e abertura para momentos inesquecíveis e fascinantes de aprendizagem e ensaios interessantes para o teatro dos sonhos da vida real, traz boas perspectivas de futuro.
Professores fascinantes são profissionais revolucionários. Ninguém sabe avaliar o seu poder, nem eles mesmos. Eles mudam paradigmas, transformam o destino de um povo e um sistema social sem armas, tão-somente por prepararem seus alunos para a vida através do espetáculo das suas ideias (Cury, 2003, p. 79).
Cultivar pensamentos sábios e protagonistas nos aprendizes faz estremecer o silêncio cruel da tentativa de segregação da inteligência. Ajudar a compreender e a driblar os cárceres que cercam e tentam limitar o protagonismo na sociedade cristaliza o poder do professor sobre a formação do jovem e nas transformações que a educação é capaz.
Podemos ir mais além, dizendo que o espaço mental da inteligência necessita de fortalecimento emocional saudável, considerando as habilidades da escola como alternativas para a promoção e cultivo das emoções, relações interpessoais, empatia, confiança, (auto)motivação, autocontrole e perseverança.
Conquistar uma inteligência emocional fortalecida é talento que predispõe para o sucesso pessoal e profissional muito mais do que a inteligência escolar dos conteúdos aprendidos que têm a sua importância para as metas e objetivos na vida. Cultivar as boas sensações mesmo nas dificuldades e nos problemas enfrentados, como um intensivo aprendizado e maturidade, é preparação para os desafios que virão, trazendo segurança mental suscetível de grandes transformações.
Neste sentido, estudantes e profissionais deixam o papel passivo e de meros receptores de informações, que lhes foi atribuído por tantos séculos na educação tradicional, para assumir um papel ativo e de protagonistas da própria aprendizagem. Isso leva ao desenvolvimento das competências de inteligência emocional, resiliência, tolerância ao estresse e flexibilidade para que participem, de forma eficaz, de novos contextos de aprendizagem, profissionais e sociais.
Por fim, a educação alinhada com demandas atuais e futuras prepara pessoas para exercer liderança e influência para que possam motivar e engajar seus pares a fazer a diferença onde estiverem. Esse estilo de liderança dissemina a competência de raciocínio, resolução de problemas e ideação e viabiliza que boas ideias e soluções sejam implementadas e impactem, de forma positiva, aqueles que as vivenciam (Filatro & Cavalcanti, 2023, p. 26-27, grifo do autor.)
Ser um co-artesão do conhecimento permite ao professor caminhar com responsabilidade por ventos que sopram as mais comoventes adversidades sociais que se é capaz de imaginar. Dialogar com lucidez com essas realidades sem perder a postura sensata e o foco nos objetivos traçados é uma habilidade digna dos grandes líderes, de mestres inesquecíveis.
São lições de persistência e dedicação que molduram a personalidade infanto-juvenil com condições adequadas de resistência para os combates sociais. É inegavelmente inegociável ter uma postura crítico-reflexiva e atuante no mundo de hoje. Se for diferente e acusar fragilidade, os momentos poéticos da vida poderão ser meros devaneios do acaso.
Os conflitos introspectivos que surgem nas incertezas habitadas nas práticas pedagógicas implicam nas relações de ensino e aprendizagem. As narrativas que sinalizam para a formação continuada do professor são sempre necessárias na medida em que os contextos educacionais vivenciam transformações instantâneas de instrumentos e de ambientes de aprendizagem, assim como de perfis de aluno.
Essas reflexões iniciais sobre o encanto de educar buscam polir as percepções sobre o caminhar da docência pelo entusiasmo. Como faróis que iluminam a abertura para o sucesso escolar com bordados brilhosos em bonitos tecidos estendidos como tapete vermelho para a viagem do ensinar e aprender com alegria.
A dinâmica que envolve o poder da educação é tecida com maciez pela escola e orquestrada na bagagem profissional e social de um bom professor. O encanto pelo conhecimento não surge por obra do “tanto faz” / “de qualquer jeito”, surge na beleza do amor pela partilha de saberes significativos com planejamento bem elaborado, executado e sublinhado por traços de dedicação, compromisso, responsabilidade e respeito.
O educador não precisa ser “perfeito” para ser um bom profissional. Fará um grande trabalho apresentando-se da forma mais próxima ao que ele é naquele momento, “revelando-se” sem máscaras, sem jogos. Quando se mostra como alguém que está atento para evoluir, aprender, ensinar. O bom educador é um otimista, sem ser “ingênuo”, consegue “despertar”, estimular, incentivar as melhores qualidades de cada pessoa (Moran, 2012, p. 81).
A beleza do aprender está na ação de estudar como ponte para as novas descobertas, portando a condição de incompleto ou insuficientemente sabido, pois o conhecimento é mutável e tem alma como condicionantes para reconstruir os caminhos sustentados pela curiosidade, assim como o doce gosto do néctar das flores que atrai o beija-flor de tempos em tempos.
Não temos extensão de inteligência para medir a evolução das capacidades e do potencial de aprendizado do aprendiz, tampouco do grau de influência positiva que o professor venha a ter na sua vida, o que sabemos é que as contribuições para ambos são significantes e com características marcadas pela partilha sustentada na convivência.
O ensinar e o aprender têm um encanto que mora na reciprocidade viva entre professores e alunos – entre pessoas/seres vivos. Quem ensina aprende, quem aprende também ensina. Portanto, a condição de ensinante e aprendente por momentos depende do contexto do momento, das experiências adquiridas, da sensibilidade e do olhar além do óbvio, do estudo. O que antecede o ensinar e o aprender parte de um saber anterior – uma preparação.
Comecemos por estudar, que envolvendo o ensinar do ensinante, envolve também de um lado, a aprendizagem anterior e concomitante de quem ensina e a aprendizagem do aprendiz que se prepara para ensinar amanhã ou refaz seu saber para melhor ensinar hoje, ou, de outro lado, aprendizagem de quem, criança ainda, se acha nos começos de sua escolarização (Freire, 1997, p. 20, grifo do autor).
Utilizando-se de termos trazidos do campo empresarial para caracterizar a atuação docente, podemos considerar que o professor é o designer do seu próprio marketing profissional. As suas atuações fazem a sua marca, seu status, sua representatividade adquirida há tempos na profissão. Contudo, anos de experiência não o fazem mais ou menos preparado. A qualidade de bom professor é fruto de sua preparação pessoal pelos estudos, de inovação nas estratégias e aceitação ao novo moderno, no convívio humanizado e agradável, pelo exemplo, acolhimento e sabedoria.
A qualidade do acolhimento nosso de todos os dias no ambiente de aprendizagem faz de todos os encontros terreno fértil para a semeadura de sorrisos de felicidade que emanam a alegria de aprender, das descobertas que vivem tão próximas dos olhos e da mente do aprendiz, mas que dependem da ponte para o conhecimento chamada professor.
As atuações do bom professor vivem no campo mental das conexões emocionais, marcam para a eternidade das lembranças inesquecíveis da época de estudante, cada aula revela um envolvimento límpido e desmedido dos interesses pelo aprender e ensinar sem as armaduras que engessam a criatividade, fazem brilhar a alegria e o sabor agradável do conhecimento.
Um bom professor, portanto, acredita que todos os estudantes podem aprender. Ele acredita no poder transformador da educação para garantir uma sociedade com oportunidades para todos, fomenta um clima de sala de aula propício para aprendizagem e acredita na importância do aprimoramento dos seus conhecimentos (Abmes, 2022, p. 17, grifo do autor).
O brilho do bom professor depende da consolidação de um ambiente de aventuras inesquecíveis pelo mundo mágico do conhecimento, mas essencialmente, do prazer de aprender do aprendiz. Pequenos estímulos às descobertas com ideias brilhantes fazem contemplar a beleza do aprender. Para Cury (2003, p. 34), “educar não é repetir palavras, é criar ideias, é encantar”. As curvas do percurso escolar precisam, fundamentalmente, da motivação pelo encanto do ensinar e do aprender.
Abordar os encantos da vida de professor é propor boas reflexões sobre os momentos vividos em sala de aula, encontros movidos à propagação da cultura de mudança, da busca por horizontes sem desumanidade, onde a sabotagem às oportunidades e à qualidade de vida seja apenas eventual discurso hipotético. Aula é vida! É movimento de desconstrução do sentir-se alheio ao direito à cidadania.
O espetacular dessa convivência é o renovar das expectativas que mobilizam o ensinar e o aprender a cada novo encontro, repetidas vezes, mesmos alunos, mesmo espaço físico abrigo de uma diversidade infinita de experiências e acontecimentos. É como um espetáculo teatral que abre as cortinas ao soar do sinal na certeza de que a apresentação de hoje jamais será igual a de ontem, virão novos desafios, novos aprendizados imedidos e envoltos pelo calor da participação.
Educar é uma arte que emana cumplicidade no belo desabrochar de “sementes de liberdade que aprendem” pela materialização dos objetivos, estratégias e senso de inovação do professor. A busca pelo conhecimento é como uma linha reta sem parada, sem freio, direcionada com perspicácia e apreço, perseverança, capacidade, motivação e determinação no semear das oportunidades e do protagonismo na sociedade moderna.
Para educar, é necessário quebrar barreiras, reduzir distâncias. Para isso, existem inúmeros meios, tais como sala de aula, lousa, projetores, dinâmicas de grupo, laboratórios, bibliotecas, aplicativos, ambientes virtuais, comunidades, fóruns, redes sociais, simuladores, jogos, telepresença e realidade virtual ou aumentada. Cabe ao educador, ao designer educacional, aos gestores e também aos alunos decidirem qual combinação de recursos pode ser a mais adequada, viável e produtiva para cada atividade educacional, levando-se em conta as características dos alunos, os objetivos de aprendizagem e as especificidades do curso e da instituição. Esse é o caminho para uma educação transformadora e sintonizada com as demandas da sociedade pós-moderna, uma Educação SEM Distância (Tori, 2017, p. 33).
A educação é uma porta aberta para a cidadania, ainda que o sistema social seja por vezes seletivo e imprudente. Neste cenário, o professor é o farol de conexão entre o aprendiz, suas potencialidades e seu futuro, provido de competências e habilidades como instrumentos de luta pela ascensão social. A convivência e cumplicidade delineadas na conexão ensinante x aprendente teimam alterar o fluxo natural da roda gigante dos privilegiados de classes.
O professor com sua práxis tem uma característica social tão fundamental e marcante que excede qualquer objetivo de conteúdo curricular. Mediar condições e possibilidades que alteram histórias de vida enaltece e solidifica o navegar pedagógico por águas límpidas que transformam. Por trás das capacidades cognitivas do aprendiz e do seu sucesso profissional poderá haver sempre uma referência de professor. Permitir compreender-se com essa importância é um saber necessário para o crescimento na missão de educar.
Surpreendia-me a forma como cada estudante via seus professores, o quanto os tinham como referência, e como se espelhavam, admiravam, queriam estar perto. Foi nesse primeiro ano de trabalho que vi de perto a luta das famílias mais carentes para que seus filhos estudassem. Presenciei vários deles irem à escola pela alimentação que era servida, constatei de perto a desigualdade social e suas consequências (Soares, 2023, p. 95).
O espaço escolar abriga uma diversidade de expectativas e contextos de vida singulares que enfeitam a convivência e o poder da educação, com paradoxos entre o querer e o poder pedagógicos, anunciados por um acervo sociológico imprevisível que influencia positivamente e negativamente na escola.
O trabalho docente, eixo condutor dessa imprevisibilidade social na escola, precisa utilizar-se bem de suas capacidades profissionais, com criatividade e inovação estratégicas, identificando e respeitando os processos individuais de aprendizagem e sem desviar o foco dos objetivos propostos.
A colonização dos hiatos sociais pelos atalhos do conhecimento faz enobrecer o papel do educador e da escola e converter em boas perspectivas duras realidades pelas quais vive parte dos alunos. A formação integral desses alunos é resultado de complementos de valores humanos, sabedoria e de informações que se entrelaçam na construção do ser e viver cidadão. Tais cenários sociais não são quadros prontos com significados abstratos, são telas com rabiscos que manifestam incertezas e inseguranças de futuro, mas que, com entendimento e intencionalidade, trazem uma linguagem de esperança.
Todos os professores e todas as atividades de ensino e aprendizagem podem contribuir para que cada aluno se conheça melhor, se oriente de forma mais consciente. Alguns o fazem de forma mais institucional e direta, assumindo o papel de mentores, acompanhando mais de perto os alunos no seu dia a dia, ajudando-os a descobrir seus interesses, talentos e fragilidades e a tomar decisões para modificar sua visão de mundo e desenhar caminhos para o futuro (Moran, 2018, p. 7).
Ajudar a materializar projetos de vida é o selo de apreciação do encanto de educar. Poder fazer parte de sonhos pessoais e aspirações profissionais sensibiliza, motiva e repercute na alma com roteiros e narrativas indescritíveis. Enxergar saídas do movimento de opressão social para o aprendiz é uma habilidade que dignifica o bom professor para além dos indicadores escolares – faz dele um ator social mais completo.
Os momentos especiais proporcionados na vivência docente produzem experiências e aprendizados inesquecíveis a cada novo encontro com os aprendizes no projeto ensino-aprendizagem. Essa combinação não tem tutorial, muito menos manual padrão dos acontecimentos, mas personifica uma maturidade dinâmica de atuação e entendimento da relação colaborativa e mediadora do conhecimento. A sala de aula nunca será apenas um espaço de recepção e reprodução de ideias, mas de acolhimento e respeito às diferenças, de valorização da autonomia, do protagonismo e da leitura disruptiva de mundo.
É preciso sentir e viver o magistério com a pureza de quem pretende contribuir com todas as suas forças na construção da história de vida dos seus aprendizes, com envolvimento e identidade própria de educador, favorecendo condições de diálogo com o aperfeiçoamento do processo escolar, priorizando o ensino com significado social.
Por esse viés, Freire (1996, p. 80), acredita que:
Há uma relação entre a alegria necessária à atividade educativa e a esperança. A esperança de professor e alunos juntos podemos aprender, ensinar, inquietar-nos, produzir e juntos igualmente resistir aos obstáculos à nossa alegria. Na verdade, do ponto de vista da natureza humana, a esperança não é algo que a ela se justaponha. A esperança faz parte da natureza humana. Seria uma contradição se, inacabado e consciente do inacabado, primeiro o ser humano não se inscrevesse ou não se achasse predisposto a participar de movimento constante de busca e, segundo, se buscasse sem esperança. A desesperança é a negação da esperança. A esperança é uma espécie de ímpeto natural possível e necessário, a desesperança é o aborto deste ímpeto. A esperança é um condimento indispensável à experiência histórica. Sem ela, não haveria História, mas puro determinismo. Só há História onde há tempo problematizado e não pré-dado. A inexorabilidade do futuro é a negação da história.
Essa alegria deve ser uma condição de vida e não apenas de atuação pedagógica. Ser alegre é contemplar-se como pessoa, estar seguro de suas capacidades profissionais e satisfeito com o movimento pessoal de desenvolvimento. É sentimento sem padrão ou regra específica – é clímax inferido pela naturalidade da sensação agradável e especial do momento.
O bom professor, piloto de voos particulares que levam e elevam a cidadania, partilha qualidades valiosas que coordenam a ação educativa e os obstáculos estruturais sem depreciar a esperança implícita no convite à liberdade de pensamento e aos estágios mais elevados de domínio de saberes. Transpor a condição abstrata da esperança desafia a apropriação do conhecimento com traços inovadores e o talento como espaços de criação e afirmação das possibilidades.
Os bons professores e orientadores sempre foram e serão fundamentais para avançarmos na aprendizagem. Eles ajudam a desenhar roteiros interessantes, problematizam, orientam, ampliam os cenários, as questões, os caminhos a serem percorridos. O diferente hoje é que eles não precisam estar o tempo todo junto com os alunos, nem precisam estar explicando as informações para todos. A combinação de aprendizagens personalizadas, grupais e tutoriais no projeto pedagógico é poderosa para obter os resultados desejados (Moran, 2018, p. 09).
Os obstáculos para o conhecimento não fadam e não devem fadar a esperança, abrem espaço para o fortalecimento do processo com parâmetros para a excelência no saber fazer pedagógico, com densidade de aspectos significativos sustentados em envelopes abertos de perseverança, autoconfiança e competência.
A docência proporciona viver e sentir realidades que humanizam e dissipam com indiferença as faces cruéis do egoísmo material que por vezes distancia as pessoas. Conhecer e compreender o contexto de vida dos alunos faz enaltecer o sentimento do “eu no outro” – esmaecer a força social do ato de educar não condiz com a essência fascinante do bom professor, muito menos com as expectativas individuais do aprendiz.
Sentir a felicidade em servir e se encantar com a importância de ser um bom professor, permite criar memórias que massageiam o ego com sensações e emoções que valem para além das técnicas pedagógicas que praticam concepções revolucionárias de ensino. Enriquecer a alma com passeios pelos projetos de vida desenvolvidos nos anfiteatros do conhecimento – as escolas, permite pensamentos lógicos sobre a missão de professor.
A sala de aula não é apenas um campo florido de construção de pensamentos e de futuros, é um espaço para aventuras agradáveis e de estímulos ao prazer de aprender, a ser e também fortalecer o potencial individual e de gerenciamento do próprio conhecimento por linhas colaborativas. É espaço de ousadia do professor com ideias e estratégias contagiantes para o ensinar e de envolvimento do aprendiz no despertar do aprender, com mobilização e parceria, partilha mútua e troca de saberes e experiências, com emoção e boa convivência.
Nesta perspectiva, torna-se possível educar, conhecer, aprender em movimento, dinamizando a construção de novos saberes, com novos sentidos e significados, permitindo transgredir, refletir, transcender o conhecimento já instituído, possibilitando a produção de conhecimento de forma coparticipada em parceria com os outros sujeitos que vivem no território onde se encontra a escola, uma vez que, o processo educativo não pode ser limitado, como ato de reprodução, mas como ação em movimento, que permite o entrelaçamento de conhecimentos e experiências vivenciadas que possam transgredir os saberes hegemônicos legitimados (Lima, 2021, p. 138).
Dinamizar a construção de novos saberes é simplesmente encantador para o professor, mas principalmente e essencialmente para o aprendiz. Para o professor, ter esse entendimento e sensibilidade educativa faz despertar no aluno o sentido de estar na escola para aprender com significado, que involuntariamente, transfere ao professor a boa sensação de valorização do trabalho desenvolvido e das estratégias aplicadas.
Transcender o conhecimento instituído justifica-se pela naturalidade da busca inacabada de saberes que qualifica novas descobertas, inquieta e desconstrói a zona de conforto intelectual que sustenta o comodismo e a passividade social, com intervenções coerentes no movimento do educar e conhecer.
O potencial de desenvolvimento intelectual do aprendiz vive no horizonte da imprevisibilidade das capacidades cognitivas e da sensibilidade humana e pedagógica docente. Estabelecer vínculos atenciosos para a promoção de espaços escolares, inclusive em casa, com valores sociais e contextos adequados de aprendizagem fortalece o despertar para a cidadania.
Educar quer dizer formar cidadãos e cidadãs, que não estão parcelados em compartimentos estanques, em capacidades isoladas. Quando se tenta potencializar certo tipo de capacidades cognitivas, ao mesmo tempo se está influindo nas demais capacidades, mesmo que negativamente. A capacidade de uma pessoa para se relacionar depende das experiências que vive, e as instituições educacionais são um dos lugares preferenciais, nesta época, para se estabelecer vínculos e relações que condicionam e definem as próprias concepções pessoais sobre si mesmo e sobre os demais (Zabala, 1998, p. 28).
Uma abordagem educacional voltada para a cidadania busca contemplar os objetivos e propostas de ensino e aprendizagem sem traços mecanizados e limitados à sequência dos conteúdos curriculares. Traduz uma expertise de alinhamento dos conteúdos e saberes essenciais com uma postura proativa no meio social, possibilitando a constituição de uma aprendizagem significativa e, de fato, necessária.
O bom professor permite assoalhar os caminhos que levam ao conhecimento respeitando com naturalidade os processos individuais de apropriação da aprendizagem, principalmente pelos cenários dissemelhantes de vida dos aprendizes. Essa sensibilidade tem atributos capazes de influenciar positivamente na condição de assimilação do aprendizado, no entanto, é importante ir além da qualidade de atuação em sala de aula, é necessário abrir janelas com elementos que encantam e iluminam o educar, com brilho e fascínio que transformam.
Bons professores têm uma boa cultura acadêmica e transmitem com segurança e eloquência as informações em sala de aula. Os professores fascinantes ultrapassam essa meta. Eles procuram conhecer o funcionamento da mente dos alunos para educar melhor. Para eles, cada aluno não é mais um número na sala de aula, mas um ser humano complexo, com necessidades peculiares.
Os professores fascinantes transformam a informação em conhecimento e o conhecimento em experiência. Sabem que apenas a experiência é registrada de maneira privilegiada nos solos da memória, e somente ela cria avenidas na memória capazes de transformar a personalidade. Por isso, estão sempre trazendo as informações que transmitem para a experiência de vida (Cury, 2003, p. 57).
A história a ser escrita por cada aprendiz se sobrepõe aos conteúdos curriculares estudados que são complementos importantes trabalhados no laboratório de saberes essenciais – a escola. Porém, a “vida” que vale mesmo acontece fora do espaço escolar, na convivência como as informações que transmitem experiências com significados, no contato com os conflitos sociais e pessoais que exigem maturidade e personalidade, na busca pelo reconhecimento profissional com habilidade e solidez psicológica e na prática dos valores humanos aprendidos. Aqui nesse paralelo de memórias, frustrações e aprendizados é possível encontrar o sucesso.
Nos ensaios da vida real que acontecem na escola o bom professor é o escritor e diretor da peça, é quem pensa em cada cena desde a construção do roteiro (planejamento) e que considera o perfil de cada ator ou atriz (capacidades individuais) olhando as características de seus personagens (a turma). Os alunos são os protagonistas, com liberdade poética para criarem suas identidades e aprendizados a partir da excursão pela magia do conhecimento.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ser professor é ser um entusiasta das boas causas que podem transformar o mundo. É olhar para o horizonte futuro na tentativa de conduzir seus discípulos pelos mares revoltos da vida sem abdicarem dos próprios objetivos, mesmo que o soar da desistência ecoe insistentemente dia após dia no subconsciente da própria razão.
Os perceptíveis desencontros da profissão que acometem a caminhada docente e por vezes inibem a firmeza e o otimismo do professor são pedras que estremecem a sintonia do processo escolar, porém, por si só não são capazes de tornar o solo pedregoso infértil, pois, onde houver um aprendiz, seja em qualquer chão, e as árvores da descoberta forem regadas e adubadas com dedicação, sabedoria e envolvimento, os frutos do conhecimento brotarão.
Agir com segurança nas dificuldades do ensinar e aprender faz fortalecer a capacidade docente. Põe-se em vestes que mais parecem armaduras medievais blindadas para as batalhas contra as imperfeições sociais, armado de suas experiências nos desafios, resiliência e vitórias no campo das adversidades da vida de professor.
Não esperemos diminuir o poder da escola mesmo considerando a expansão do mundo tecnológico. O manejo prático e humanizado do professor e suas multifacetas no fazer pedagógico pode e deve alinhar-se à cultura moderna das tecnologias, mas sem descaracterizar suas habilidades afetivas e sociais sentidas na pedagogia da presença e da sensibilidade.
Ser professor é saber vivenciar seu importante papel na sociedade com a naturalidade e destreza de quem conhece os espinhos da caminhada e sabe que é capaz de fazê-los florir pétalas de esperança. É permitir-se mergulhar no oceano dos acontecimentos sociais que influenciam na sua prática, munido do oxigênio da persistência e de seu repertório de habilidades e competências.
É dada a importância devida ao professor no Brasil? A resposta para essa pergunta faz muitos professores repensarem sua escolha, no entanto, as respostas mais sinceras ecoam no sentimento de gratidão dos alunos e familiares e na sensação única de saber que valeu a pena todo o esforço. A satisfação do professor em saber que pôde contribuir para a vida de seu aluno e sentir-se contemplado pelo dom especial da missão de educar pode superar as expectativas.
Esse é um bom momento para refletirmos sobre o ofício do ensinar. Essa satisfação discursada é incomparável, todavia, por si só não constrói um entendimento de suficiência profissional. O ato de professorar não vive no mundo imaginário das fábulas onde tudo acontece e termina com o final feliz, é uma realidade desafiadora.
Discursar em púlpitos aleatórios sobre a importância do professor para a sociedade não pode navegar por linhas e contextos uniformes da mera formalidade. A tranquilidade para desempenhar um bom trabalho é ter a dignidade profissional reconhecida, com condições e qualidade moral que a profissão merece.
Sustentar o presente e o futuro de olhares juvenis de uma nação pelas mãos intelectuais do professor sem o envolvimento de toda a sociedade, é como propor a pintura de uma tela sem a arte do pintor, tinta e pincéis. A tela em branco, sozinha, não garante que seja admirável, assim como a arte de educar precisa dos traços coloridos de todos nós.
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