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Resumo
INTRODUÇÃO
A doença de Crohn é uma doença inflamatória intestinal crônica, recorrente, de etiologia desconhecida, porém cuja incidência vem aumentando consideravelmente. Sua prevalência é variável, sendo mais alta nos países industrializados. Acredita-se ser de origem multifatorial com importante interação entre os fatores genéticos, imunológicos e ambientais. Acomete ambos os sexos. Inicia-se mais frequentemente na segunda e terceira décadas de vida. Um segundo pico é observado entre 50 e 70 anos, mas pode aparecer em qualquer faixa etária. Existe uma maior predisposição da doença em pessoas de ascendência judaica. Uma maior incidência em pessoas da mesma família, sendo a prevalência entre irmão de paciente é 30 vezes maior que na população em geral. Observa-se também uma maior prevalência entre tabagistas.
Alguns estudos epidemiológicos demonstram aumento na incidência nas últimas décadas , na população adulta e pediátrica de vários países, sugerindo a participação de fatores ambientais. A prevalência dessa doença é de 1 para 1000, sendo os indivíduos de raça branca mais afetados.
Ocorre em qualquer parte do tubo digestivo, da boca ao ânus, sendo que o íleo terminal é o local mais acometido. Pode ser dividida em três tipos de acordo com a extensão: iônica, cólica ou íleo terminal. A inflamação afeta todos os compartimentos da parede intestinal: mucosa, músculos longitudinais e transversais e no tecido conjuntivo abaixo da mucosa.
As manifestações clínicas dependem do local acometido e da gravidade. As mais comuns são: dor abdominal, diarreia, febre, anemia, perda de peso e desnutrição. Aproximadamente 35% dos pacientes apresentam também manifestações extra-intestinais com o acometimento dos olhos, articulações, rins, pâncreas, pele e mucosas.
O diagnóstico é realizado com o achado de úlceras, estenoses e fístulas nos exames de imagem e biópsia da mucosa intestinal (colonoscopia e radiografias contrastadas). Existe pouca correlação entre o quadro clínico e os exames laboratoriais. Estes são úteis para avaliação do estado nutricional do paciente e da atividade inflamatória da doença. 6
As complicações mais frequentes são: abcessos e fístulas (comunicações anormais que facilitam infecções), obstruções intestinais (devido à inflamação ou aderências de partes inflamadas dos intestinos e à fibrosação durante as cicatrizações), cálculos vesiculares (devido a má absorção intestinal dos sais biliares). Menos frequentemente pode ocorrer sangramentos e perfuração intestinal com peritonite 1.
Atualmente é uma doença ainda sem cura, no entanto os tratamentos, clínico e cirúrgicos, permitem alívio dos sintomas e melhor qualidade de vida. Os medicamentos atualmente utilizados são: aminossalicilatos, corticosteroides e imunomoduladores.
Na cidade de Maringá como em qualquer outra a incidência da doença e o número de doentes não é grande, desta forma, a realização de novas pesquisas se torna complexo. Assim, o presente estudo teve o intuito de caracterizar os indivíduos com doença de Crohn atendidos no Hospital Universitário de Maringá, bem como identificar a prevalência da doença na região, os sintomas mais comuns e o tempo de diagnóstico.
METODOLOGIA
SUJEITOS
A amostra foi composta por 31 prontuários de pacientes do Hospital Universitário de Maringá (17 homens e 14 mulheres, com idade entre 21 e 80 anos).
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Este estudo caracteriza-se como transversal descritivo mostrando os indicadores da doença de Crohn de indivíduos atendidos no Hospital Universitário de Maringá (HUM). A coleta de dados foi realizada por meio de análise dos prontuários dos portadores da doença, desde o início das atividades do Hospital Universitário de Maringá (HUM) no ano de 1989 até julho de 2008.
PROCEDIMENTOS ÉTICOS DA PESQUISA
O presente estudo foi aprovado mediante parecer do Comitê de Ética A inclusão dos prontuários dos participantes se deu por meio da autorização do comitê de ética do Hospital Universitário.
ANÁLISE DOS DADOS
Para análise dos dados, inicialmente, foi utilizado o programa Microsoft Excel 2007 calculando-se a distribuição dos dados. De acordo com os resultados construíram-se os gráficos.
RESULTADOS
Todos os dados foram apresentados em forma de gráficos contendo informações sobre o estudo. Na amostra estudada houve uma média de idade dos pacientes de 41,93% com maior prevalência entre 31 e 41 anos, sendo todos os pacientes da raça branca.
FIGURA 1 – Gráfico da idade dos pacientes com Doença de Crohn HUM- Maringá PR, 2008.
Fonte: Elaboração da autora (2025)
FIGURA 2 – Gráfico do percentual dos sexos acometidos no estudo do perfil dos doentes de Crohn no HUM – Maringá -PR 2008.
Fonte: Elaboração da autora (2025)
De acordo com o gráfico dois houve predomínio do sexo masculino (52%), já o feminino apresentou menor parcela (48%).
Figura 3 – Gráfico do nível de escolaridade dos doentes de Crohn do HUM- Maringá PR 2008.
Fonte: Elaboração da autora (2025)
FIGURA 4 – Gráfico da procedências dos pacientes atendidos por Doença de Crohn no HUM – Maringá 2008.
Fonte: Elaboração da autora (2025)
A maioria dos pacientes atendidos eram procedentes de Maringá/PR, porém como o Hospital é referência para a região, pacientes de outras cidades também são atendidos.
Figura 5 – Gráfico da frequência dos sintomas apresentados pelos portadores de Doença de Crohn, HUM- Maringá PR, 2008.
Fonte: Elaboração da autora (2025)
Quanto aos sinais e sintomas mais frequentes, observou-se uma maior prevalência da diarréia, seguida de cólica intestinal e febre, sendo que o mesmo paciente pode apresentar mais de um sintoma.
Figura 6 – Gráfico das complicações mais comuns nos pacientes com Doença de Crohn do Hospital Universitário de Maringá PR.
Fonte: Elaboração da autora (2025)
As complicações mais frequentes foram fístula, seguida de fissura e obstrução intestinal.
Figura 7 – Gráfico dos medicamentos utilizados para tratamento dos pacientes com Doença de Crohn HUM- Maringá PR, 2008.
Fonte: Elaboração da autora (2025)
Os medicamentos mais utilizados para o tratamento clínico da doença foram Mesalazina, Corticoides e Azatioprina.
DISCUSSÃO
É importante determinar as características socioeconômicas e clínicas dos pacientes com Doença de Crohn no hospital universitário de Maringá/PR, devido à falta de estudo semelhante para a população brasileira.
Os dados desse estudo demonstram que a doença acomete ambos sexo, não havendo diferença significativa entre eles, a média da faixa etária foi entre 21-50 anos, a raça prevalente foi a branca e o grau de escolaridade teve um número igual tanto para 1º grau completo quanto para o 2º grau completo, concordando com os dados encontrados na literatura. Com maior frequência a idade do diagnóstico da doença é após os 10 anos de idade a distribuição bimodal não foi observada nesse estudo talvez devido ao tamanho pequeno da amostra 8,9,10,11,17.
Em relação às características clínicas e as complicações intestinais mais comuns o resultado desta pesquisa concorda com o resultado de outros autores, que similarmente detectaram como o principal sintoma a diarreia seguida da cólica intestinal, e as complicações intestinais mais comuns as fístula, fissura e obstrução intestinal. 12,13,14.
No que se refere à dificuldade de diagnóstico, observou-se tempo de diagnóstico superior a 5 anos,entre início dos sintomas e o diagnóstico da doença, como relatado por autores, que afirmam ser o mesmo muitas vezes confundido com outras afecções intestinais, especialmente durante manifestações iniciais, facilmente suspeitos e investigados. 15,16.
Os dados relativos ao tratamento farmacológico indicam que a maioria dos pacientes foram tratados com mesalazina e corticoides. Já a azatioprina não foi muito prescrita, de acordo com os achados na literatura. 18 Esses achados refletem padrões conservadores e homogêneos do tratamento, que pode estar relacionado com as características do Hospital em que foi realizado o estudo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os dados encontrados pelo estudo corroboram com os dados da literatura, apesar da população brasileira apresentar grande miscigenação racial. Seria interessante a realização de mais estudos aprofundados para confirmar essa hipótese, uma vez que a amostra da pesquisa é um fator limitante deste trabalho.
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