INTRODUÇÃO 

O letramento desempenha um papel fundamental no desenvolvimento integral das crianças, especialmente na faixa etária de 5 a 6 anos, que corresponde a uma etapa crucial para a construção de competências linguísticas e sociais. Nessa fase, as crianças começam a interagir mais intensamente com o mundo letrado, inserindo-se em práticas culturais que vão além do simples aprendizado técnico da leitura e da escrita. Assim, o letramento emerge como um processo que possibilita o acesso à compreensão crítica do ambiente social, cultural e tecnológico em que vivem. 

Para aprofundar neste estudo, surgem as seguintes questões norteadoras:(i) Como o letramento pode contribuir para o desenvolvimento crítico e social de crianças entre 5 e 6 anos, indo além do aprendizado técnico da leitura e da escrita (ii) Quais práticas pedagógicas podem ser utilizadas para inserir as crianças em atividades letradas que reflitam sua realidade social, cultural e tecnológica? (iii) De que forma a escola pode promover o letramento como uma ferramenta para a construção de sujeitos críticos e participativos no contexto contemporâneo?

As práticas pedagógicas desenvolvidas nesse período desempenham um papel essencial para garantir que as crianças tenham acesso a um letramento significativo. Essas práticas precisam considerar as especificidades da idade, utilizando estratégias que promovam a interação, a criatividade e a reflexão crítica. No entanto, é necessário também atentar para os desafios que afetam esse processo, como as desigualdades sociais, que limitam o acesso a recursos e oportunidades educativas, além das influências das transformações tecnológicas e culturais da sociedade contemporânea.

Nos últimos anos, o avanço tecnológico trouxe novas oportunidades e, ao mesmo tempo, desafios para o letramento infantil. Ferramentas digitais e ambientes virtuais têm se tornado cada vez mais presentes no cotidiano das crianças, exigindo que educadores incorporem metodologias inovadoras para integrar essas tecnologias ao processo de ensino. Contudo, essa integração não deve se limitar ao uso de recursos digitais; ela precisa estar ancorada em estratégias que promovam o pensamento crítico e o engajamento ativo das crianças com os diferentes tipos de textos e linguagens.

Além disso, as práticas de letramento infantil devem estar alinhadas às demandas da sociedade atual, que valoriza não apenas a capacidade de decodificar textos, mas também a habilidade de interpretar, refletir e produzir conhecimentos em contextos diversos. Isso requer uma abordagem pedagógica que dialogue com a diversidade cultural, respeite o ritmo de aprendizagem de cada criança e reconheça o letramento como um direito humano fundamental para a inclusão social e a cidadania.

Este artigo tem como objetivo geral analisar como as práticas pedagógicas contemporâneas têm contribuído para o letramento infantil, a partir de uma revisão bibliográfica de estudos recentes (2020-2024). A investigação busca compreender de que forma essas práticas podem superar desafios e atender às demandas da sociedade atual, promovendo um letramento integral, que transcenda as barreiras impostas pelas desigualdades sociais e ofereça às crianças as ferramentas necessárias para uma participação plena e crítica no mundo letrado.

Seguido de três objetivos específicos: (i) Identificar as principais práticas pedagógicas voltadas ao letramento infantil em contextos educacionais diversos, com base na literatura recente; (ii) Analisar como essas práticas podem contribuir para a superação das desigualdades sociais no processo de letramento infantil;
(iii) Propor caminhos e estratégias pedagógicas que promovam um letramento integral, capaz de preparar as crianças para uma atuação crítica e participativa na sociedade.

O PROCESSO DE LETRAMENTO

O letramento é entendido como a capacidade de compreender e usar a linguagem escrita em contextos sociais diversos, envolvendo práticas que vão além da decodificação de palavras. De acordo com Kleiman (2021), o letramento envolve aspectos cognitivos, culturais e sociais que se entrelaçam no desenvolvimento infantil. Vygotsky (apud Santos, 2022) destaca a importância da mediação social e do uso da linguagem como ferramenta para o desenvolvimento cognitivo.

Estudos recentes, como o de Almeida e Pereira (2023), ressaltam que práticas pedagógicas contextualizadas, que dialoguem com o universo cultural e cotidiano das crianças, são mais eficazes na promoção do letramento. Atividades lúdicas e colaborativas também são destacadas como essenciais para o engajamento e a aprendizagem significativa.

O conceito de letramento, associado ao processo de alfabetização, vai além da simples aquisição de habilidades técnicas de leitura e escrita. Como apontam autores contemporâneos, ele está relacionado às práticas sociais que envolvem a linguagem escrita e seus significados culturais. Segundo Soares (2021, p. 15), “[…] alfabetização em seu sentido próprio, específico: é o processo de aquisição do código escrito, das habilidades de leitura e escrita.”

Complementando, Soares (2021, p. 39) afirma que o letramento representa o resultado de ações de “ensinar e aprender as práticas sociais de leitura e escrita, estado ou condição que se adquire, um grupo social ou um indivíduo como consequência de ter se apropriado da escrita e de suas práticas sociais.”

Nesse sentido, alfabetização e letramento são processos complementares que visam ao desenvolvimento das capacidades de leitura e escrita, fundamentais para a formação do educando. Conforme Ferreiro e Teberosky (2021, p. 5):

“A aprendizagem da leitura, entendida como questionamento a respeito da natureza, da função e do valor desse objeto cultural que é a escrita, inicia-se muito antes do que a escola imagina, transcorrendo por insuspeitos caminhos.”

No entanto, o letramento não se limita à decodificação do texto. Ele exige condições sociais, culturais e econômicas que permitam seu pleno desenvolvimento. A escola, nesse contexto, é um espaço essencial para oferecer acesso à escrita e proporcionar práticas pedagógicas que fomentem o letramento em múltiplas dimensões. Segundo Lima e Silva (2023), é necessário que o ensino da leitura inclua atividades de interpretação e reflexão crítica sobre diversos gêneros textuais, desde textos literários até textos informativos.

A IMPORTÂNCIA DO CONTEXTO SOCIAL E CULTURAL

As condições sociais e culturais são fundamentais para o desenvolvimento do letramento. Segundo Santos e Oliveira (2022), “o letramento ocorre em contextos que possibilitam o acesso a materiais de leitura diversificados e a situações significativas de uso da escrita.” A escola, nesse sentido, deve atuar como mediadora, promovendo práticas pedagógicas que relacionem o conteúdo escolar às vivências culturais dos alunos.

Para Soares (2023, p. 68), “o letramento vai além do ensino técnico da leitura e escrita, englobando práticas sociais que permitem ao indivíduo interpretar, refletir e atuar no contexto em que está inserido.” Esse enfoque reforça o papel da escola como promotora de um letramento funcional, que habilite o aluno a utilizar a linguagem escrita em situações reais do cotidiano.

DIMENSÕES DO LETRAMENTO

O letramento possui duas dimensões principais: a individual e a social. Na dimensão individual, o foco está nas habilidades cognitivas e psicológicas associadas à leitura e à escrita. Soares (2023, p. 75) destaca que:

“Leitura é o processo de relacionar símbolos escritos a unidades de som e construir interpretações significativas a partir de textos escritos.”

Já na dimensão social, o letramento é visto como um fenômeno cultural. É o conjunto de práticas sociais relacionadas à leitura e escrita que permite a participação ativa do indivíduo na sociedade. Segundo Mendes e Costa (2022, p. 82), “o letramento social implica a capacidade de engajar-se em práticas de leitura e escrita que atendam às demandas culturais, sociais e econômicas do contexto em que o indivíduo vive.”

PRÁTICAS PEDAGÓGICAS E O PAPEL DO PROFESSOR

As práticas pedagógicas desempenham um papel crucial no desenvolvimento do letramento. Conforme Ribeiro et al. (2024), é essencial que os professores adotem estratégias que articulem a alfabetização com o letramento, promovendo atividades que estimulem a leitura crítica e a escrita criativa.

Para Maciel e Lucena (2023, p. 31), “conduzir as aulas sob a perspectiva do letramento é uma decisão política que reconhece a leitura e a escrita como práticas sociais essenciais para a cidadania e o desenvolvimento humano.”

Entre as estratégias recomendadas, destacam-se o uso de textos diversificados, a exploração de diferentes gêneros discursivos e a promoção de debates que incentivem os alunos a refletirem sobre as múltiplas funções da linguagem escrita em seu cotidiano.

As abordagens pedagógicas para o letramento infantil têm evoluído para incorporar elementos lúdicos, tecnológicos e culturais. Segundo Silva et al. (2023), o uso de histórias, músicas e jogos na sala de aula não apenas estimula o interesse das crianças, mas também cria oportunidades para que elas construam significado em torno da linguagem escrita.

O uso de tecnologias digitais também tem ganhado destaque, com aplicações que promovem a interatividade e a personalização do aprendizado. Estudos como o de Oliveira e Santos (2022) indicam que plataformas digitais podem complementar o trabalho do professor, oferecendo experiências variadas e dinâmicas que potencializam o desenvolvimento das competências de letramento.

Outro aspecto importante é o trabalho com projetos interdisciplinares, que integram o letramento a outras áreas do conhecimento, como artes e ciências. Essas práticas permitem que as crianças relacionem o aprendizado com o mundo ao seu redor, tornando-o mais significativo (Freire, 2020).

DESAFIOS NO PROCESSO DE LETRAMENTO

O processo de letramento enfrenta uma série de desafios que interferem na sua eficácia, especialmente no contexto infantil. Esses desafios decorrem de fatores sociais, econômicos e pedagógicos, que impactam de forma desigual as oportunidades de acesso à leitura e escrita. Entre os principais obstáculos, destacam-se as desigualdades sociais, a formação docente insuficiente e os impactos decorrentes da pandemia de COVID-19, todos com implicações significativas para a aprendizagem (Santos e Oliveira, 2022).

Um dos maiores desafios no letramento infantil é a desigualdade social, que limita o acesso das crianças em situação de vulnerabilidade a recursos essenciais, como livros, tecnologias e ambientes propícios à aprendizagem. Souza e Lima (2021) ressaltam que, em contextos de pobreza, as condições sociais desfavoráveis afetam diretamente a alfabetização e o letramento, privando as crianças de experiências que promovem a familiaridade com a leitura e a escrita no cotidiano.

Outro aspecto crítico é a formação de professores, que nem sempre contempla práticas pedagógicas inovadoras e alinhadas às necessidades do século XXI. Santos e Oliveira (2022) destaca que muitos educadores enfrentam dificuldades em integrar tecnologias digitais e práticas contextualizadas em suas abordagens de ensino. Essa limitação prejudica a promoção de um letramento mais dinâmico e interativo, dificultando a preparação dos alunos para as demandas da sociedade contemporânea.

Os impactos da pandemia de COVID-19 trouxeram novos desafios para o letramento infantil, agravando problemas já existentes. Gomes et al. (2023) apontam que o ensino remoto imposto durante o período pandêmico comprometeu a interação presencial e o acompanhamento individualizado, fatores essenciais para o desenvolvimento do letramento. Além disso, a falta de infraestrutura tecnológica em muitas regiões acentuou as desigualdades educacionais, prejudicando ainda mais as crianças em contextos de vulnerabilidade.

Diante desses desafios, é fundamental que políticas públicas e iniciativas escolares sejam desenvolvidas para mitigar os efeitos das desigualdades e melhorar a formação docente. Investir na capacitação dos professores, na ampliação do acesso a materiais pedagógicos e na inclusão de tecnologias no ambiente escolar são estratégias cruciais para superar as barreiras enfrentadas no processo de letramento (Maciel e Lucena, 2023).

Por fim, é essencial reconhecer o papel da escola como mediadora entre os contextos sociais dos alunos e as práticas de leitura e escrita. Promover um letramento inclusivo e acessível requer esforços integrados entre família, escola e sociedade. Com a superação dos desafios apontados, o processo de letramento pode cumprir plenamente sua função de preparar as crianças para uma participação crítica e ativa no mundo letrado.

O PAPEL DA FAMÍLIA E DA COMUNIDADE

O papel da família no processo de letramento é fundamental, especialmente na infância, quando as primeiras interações com a linguagem ocorrem. A convivência familiar oferece à criança oportunidades únicas para o contato inicial com a leitura e a escrita, estabelecendo bases sólidas para seu desenvolvimento linguístico e cognitivo. Costa e Almeida (2022) enfatizam que atividades como ler histórias antes de dormir, escrever listas ou bilhetes e conversar sobre as leituras são formas simples e eficazes de integrar a linguagem escrita ao cotidiano familiar.

Além disso, o envolvimento dos pais ou responsáveis cria um ambiente que valoriza o aprendizado e a importância do letramento. Estudos demonstram que crianças cujas famílias participam ativamente de seu processo educacional têm um desempenho superior em leitura e escrita (Freire, 2020). Assim, promover práticas de leitura em casa é essencial para fortalecer o vínculo entre a criança e o universo letrado.

A comunidade, por sua vez, também exerce um papel significativo no processo de letramento, ao proporcionar espaços e iniciativas que ampliam as experiências de leitura e escrita. Bibliotecas públicas, por exemplo, oferecem acesso a uma ampla gama de materiais literários, permitindo que crianças de diferentes contextos sociais tenham oportunidades iguais de explorar o mundo letrado (Santos e Oliveira, 2022). Além disso, iniciativas como feiras literárias, círculos de leitura e oficinas culturais reforçam o contato com a linguagem de forma dinâmica e interativa.

Projetos sociais desenvolvidos em parceria com escolas e organizações locais têm sido uma estratégia eficaz para engajar a comunidade no processo de letramento. Essas iniciativas não apenas promovem o acesso a materiais de leitura, mas também criam espaços de convivência que fortalecem os laços entre alunos, professores e famílias. Segundo  Santos e Oliveira (2022), a colaboração entre diferentes atores sociais é essencial para superar barreiras, como a falta de recursos educacionais em comunidades de baixa renda.

Outro aspecto relevante é a integração da comunidade escolar como mediadora no processo de letramento. A escola pode organizar eventos que envolvam tanto a família quanto a comunidade, como encontros literários, palestras e workshops, para destacar a importância do letramento no desenvolvimento integral da criança. Essas atividades não apenas incentivam o hábito da leitura, mas também reforçam o papel coletivo na educação infantil (Maciel e Lucena, 2023).

Portanto, a interação entre família, comunidade e escola constitui um tripé indispensável para a formação de crianças letradas. Quando todos os envolvidos colaboram para criar um ambiente favorável ao aprendizado, o letramento se torna uma experiência rica, acessível e significativa. Essa cooperação, além de reduzir desigualdades educacionais, contribui para o desenvolvimento pleno das crianças e sua inserção ativa no mundo letrado.

CONSIDERAÇÕES FINAIS 

O letramento de crianças de 5 e 6 anos requer uma abordagem ampla, que valorize a diversidade de experiências e respeite os ritmos individuais de aprendizagem. Práticas lúdicas, o uso de tecnologias e a participação ativa da família e da comunidade são elementos essenciais para um processo de letramento eficaz.

Apesar dos desafios impostos pelas desigualdades sociais e pela pandemia, é possível promover um letramento inclusivo e significativo por meio de iniciativas que integrem escola, família e sociedade. Futuros estudos devem investigar soluções para minimizar as barreiras existentes e ampliar o acesso ao letramento para todas as crianças.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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