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Resumo
O modelo de ensino baseado na educação à distância, apesar de estar amplamente difundido, não é algo recente no Brasil. No século XX, antes do advento da internet, para efetivar a EaD utiliza-se meios como o rádio, a televisão e o material impresso como recursos pedagógicos. Dois exemplos de sucesso podem ser usados para uma melhor compreensão. O primeiro é o tão conhecido Instituto Universal Brasileiro, que desde 1941 utiliza esse método através de apostilas que são enviadas para as residências dos matriculados. O segundo é o Telecurso 2000, da Fundação Roberto Marinho, que desde os anos 70 tem investido na educação utilizando inicialmente a TV como forma e modelo de atuação inovadores para a época. Ambos na atualidade continuam com a mesma estratégia, porém com aperfeiçoamentos em seus layouts e como forma de inovação adaptaram seus cursos para o formato e metodologia de cursos on-line a fim de alcançarem o maior número possível de estudantes.
No Brasil, de acordo com o artigo 1º da do Decreto nº 9.057, de 25 de maio de 2017 “considera-se educação a distância a modalidade educacional na qual a mediação didático- pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem ocorra com a utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação, com pessoal qualificado, com políticas de acesso, com acompanhamento e avaliação compatíveis, entre outros, e desenvolva atividades educativas por estudantes e profissionais da educação que estejam em lugares e tempos diversos” (Brasil, 2017).
Observa-se que os princípios aplicados a esta modalidade favorecem a preferência em sua utilização, sendo eles: a flexibilidade, permitindo mudanças durante o processo; a contextualização, satisfazendo as necessidades educativas de cada região; a diversificação, gerando atividades e materiais que permitam diversas formas de aprendizagem; a abertura, permitindo que o aluno administre seu tempo e espaço de forma autônoma (Leite, 1998).
Diante do desafio crescente busca pela informação ao qual a sociedade contemporânea se encontra torna-se imprescindível e essencial o Design Instrucional como ferramenta com a finalidade de desenvolver mídias e objetos educacionais e instrucionais e consequentemente do profissional responsável, ou seja, do Designer Instrucional, tendo este um importante papel na elaboração de cursos EaD como também das escolhas e sugestões de recursos necessários para o aprendizado do aluno buscando sempre sua autonomia na realização de seus estudos e atividades.
PRÁTICAS EM UM CURSO ON-LINE EDUCACIONAL DE APRENDIZAGEM
Uma das modalidades utilizadas para a fomentação da EaD é o curso on-line, também conhecido como e-learning, sendo que pode ser síncrono, em que a interação ocorre ao vivo, independente do recurso utilizado, ou assíncrono, ao qual o material fica disponibilizado ao aluno para que o mesmo possa, dentro da sua autonomia, poder autogerir sua aprendizagem. Vale ressaltar ainda que para um planejamento adequado três princípios são fundamentais para a elaboração de um curso on-line. São eles: o princípio da multimídia (usar tanto imagens como textos); o princípio da contiguidade (o texto deve estar junto às imagens ou integradas a ela e o princípio da modalidade (deve ter narração do que está sendo demonstrado em tela (Costa, 2021).
Dentre os diversos modelos que existem para a ferramenta de Design Instrucional a mais conhecida é a ADDIE, que é a abreviatura de Analysis, Design, Development, Implementation e Evaluation (análise, design, desenvolvimento, implementação e avaliação) (Costa, 2021), compreendendo assim cinco fases para o projeto.
1ªFase: Análise
Na primeira fase são coletadas as informações pessoais dos participantes como também o que os mesmos devem alcançar ao final do curso e quais habilidades deverão alcançar. Além disso, são relacionados os objetivos gerais e específicos e os objetivos de ensino (focado nas ações do professor) e aprendizagem (focado no que o aluno deverá aprender).
É muito importante observar que:
A fase de análise pode ser considerada a etapa de “Definição dos Objetivos”. O foco do designer instrucional nesta fase deve ser o público-alvo. Também é neste momento que o programa deve respeitar o nível de habilidades e conhecimento que os participantes demonstram possuir para garantir que o que eles já sabem não seja repetido e, ao invés disso, o foco esteja em tópicos e conteúdos ainda não explorados. (Equipe Clarity Solutions, 2021)
2ªFase: Design
Na fase do design o foco deve ser os objetivos específicos que são relacionados ao aprendizado dos alunos, o conteúdo a ser aplicado juntamente com as atividades e tarefas, a seleção de mídias como recursos pedagógicos.
Ainda nesta fase há a elaboração do plano de curso, o qual deve ser desenvolvido pelo professor especialista e pelo designer instrucional. Ele é composto por um cabeçalho com os dados da instituição e do componente curricular, a ementa escrita de forma clara e sintética, os objetivos (gerais e específicos), o conteúdo programático descrevendo de forma analítica os assuntos que deverão ser abordados durante o curso, a unidade de aprendizagem podendo ser dividida por capítulos ou vídeos aulas, as estratégias de aprendizagem (metodologia) que será seguida e aplicada, como deverão ocorrer as avaliações e as formas e critérios de aplicação e correção e as referências, indicando assim fontes de pesquisa principal e complementares. Após a confecção, o plano de curso deverá ser deferido pela instituição solicitante.
Em relação a Matriz de Design Instrucional Ernane relata que:
[…] é um recurso complementar ao Mapa de Atividades, citado anteriormente, no qual atividades complexas podem e devem ser descritas para a equipe de montagem dos cursos, a fim de atingir todos os objetivos da tarefa proposta. Normalmente, a matriz é utilizada em atividades de dinâmicas que precisam de um detalhamento maior, e estas devem ser muito bem planejadas para o sucesso do material. A Matriz de Design Instrucional deve ser referenciada no Mapa de Atividades, indicando que ela será desenvolvida separadamente. Ela tem como função principal desenvolver tarefas complexas, que seriam complicadas na exposição do Mapa de Atividades. (Ernani, 2021,P.1)
3ª Fase: Desenvolvimento
Nesse momento ocorre a produção e a adaptação de recursos e materiais didáticos impressos e/ou digitais, a parametrização de ambientes virtuais e a preparação dos suportes pedagógico, tecnológico e administrativo (Costa, 2021).
Dois fatores são importantes no desenvolvimento: os objetivos de aprendizagem, compreendendo os recursos digitais e a consequente validação, a qual deverá ser feita após uma criteriosa revisão, e ainda podendo ocorrer antes ou depois da edição gráfica.
4 ª Fase: Implementação
Essa fase representa a execução do projeto, sendo de extrema importância a coleta dos retornos tanto da equipe multidisciplinar que está trabalhando quando dos alunos a fim de serem realizados os ajustes necessários. Observa-se então que duas tarefas são importantes nessa fase: a validação do design e os feedbacks (retornos). A importância dessa fase foi retratada por Filatro e Cairo (2015) da seguinte forma:
Se a produção é o momento da verdade de um projeto, a fase de implementação é a prova de fogo, pois é nela que ocorre a ação educacional propriamente dita. Ou seja, são aplicadas – e, consequentemente, colocadas em teste – as decisões de 28 planejamento e os conteúdos educacionais produzidos para apoiar a aprendizagem. (Filatro e Cairo, 2015, p.182)
5ª Fase: Avaliação
Em todo planejamento devem ser feitas métricas a serem alcanças e é justamente nessa fase que se verifica o realizado em relação ao previsto, fazendo assim as devidas comparações que confirmam se os objetivos foram alcançados. Independente dessa última fase ser avaliativa, não impede que nas fases anteriores sejam realizadas avaliações baseadas no que foi inicialmente traçado. É importante ressaltar ainda que ao findar um curso é natural e primordial que o mesmo seja avaliado a fim de verificar a eficácia no atingimento dos objetivos estabelecidos.
Filatro e Cairo (2015) afirmam que:
A avaliação da qualidade dos conteúdos produzidos varia de acordo com o modelo de design instrucional adotado. No modelo fixo, o foco está totalmente direcionado ao produto em si, uma vez que ele é criado a partir do zero e precisa submeter-se a exame criterioso nas diferentes dimensões de qualidade aqui apontadas. O modelo 29 aberto valoriza mais o processo de ensino-aprendizagem que os produtos disponibilizados para apoiá-lo. O design instrucional contextualizado, por sua vez, avalia continuamente tanto os produtos armazenados em um repositório quanto às atividades de aprendizagem e de suporte às quais eles estão atrelados em uma unidade de aprendizagem. (Filatro e Cairo, 2015, p.182).
De acordo com a Classificação Brasileira de Ocupações sob número 2394-35 as funções Desenhista instrucional, Designer instrucional e Projetista instrucional são sinônimas de Designer educacional, tendo sua descrição sumária como:
Implementam, avaliam, coordenam e planejam o desenvolvimento de projetos pedagógicos/instrucionais nas modalidades de ensino presencial e/ou a distância; participam da elaboração, implementação e coordenação de projetos de recuperação de aprendizagem, aplicando metodologias e técnicas para facilitar o processo de ensino e aprendizagem. Atuam em cursos acadêmicos e/ou corporativos em todos os níveis de ensino para atender as necessidades dos alunos, acompanhando e avaliando os processos educacionais. Viabilizam o trabalho coletivo, criando e organizando mecanismos de participação em programas e projetos educacionais, facilitando o processo comunicativo entre a comunidade escolar e as associações a ela vinculadas. Atuam no contexto clínico, avaliando as funções cognitivas, motoras e de interação social dos clientes e promovendo a reabilitação das funções prejudicadas dos mesmos. (Brasil, 2021)
Com base na CBO fica a critério da instituição a devida classificação dependendo do entendimento. O que se pode observar é a diferenciação quanto ao termo utilizado. Enquanto a nomenclatura “Designer Instrucional” é voltada para a participação desse profissional em uma equipe multidisciplinar para a formatação de cursos on line ou presenciais voltados para os diversos setores, os termos “Designer Educacional” fica restrito ao campo pedagógico na área da educação formal (educação básica, técnica e superior), porém independente da terminologia utilizada a formulação do curso deve seguir o princípio pedagógico da intencionalidade a fim de obter êxito em sua proposta.
Dessa forma o Designer Instrucional tem sua atuação como um
[…] agente que apoie e participe ativamente do processo de planejamento, construção, avaliação e adequação de cursos oferecidos […] auxiliar na produção de materiais e de atividades que valorizem e sustentem o processo de ensino-aprendizagem e se alinhem à proposta pedagógica do curso e aos seus objetivos.” (Mendoza et. al.., 2010, p.97)
Vale salientar que o perfil desse profissional deve ser interdisciplinar para que todos os requisitos possam ser atendidos pelo mesmo, compreendendo a análise do material didático disponibilizado pelo professor conteudista, a devida comunicação dentro da equipe, ter conhecimentos e habilidades na área de gestão para que possa planejar e implementar de forma assertiva.
Kenski e Barbosa definem o Designer Instrucional ou Designer Educacional como o responsável não só pela elaboração dos cursos virtuais, mas por todas as fases desde o planejamento, desenvolvimento até a seleção da metodologia mais adequada, para que se possa atingir os objetivos educacionais propostos diante de cada contexto. (Kenski; Barbosa, 2007, p.3).
Dessa forma o mesmo pode ser compreendido com um profissional com perfil multiforme e que procura se adequar aos perfis dos docentes e discentes como também do próprio projeto.
A educação à distância é uma modalidade de ensino que busca dar a toda a sociedade a oportunidade de crescimento de forma democrática e com excelência em qualidade, já que o mundo contemporâneo busca qualificação através do conhecimento, por isso é importante e relevante que os processos educacionais possam ser revistos e reajustados de acordo com o público-alvo, principalmente no ensino on-line.
Cabe ao Designer Instrucional a abordagem e elaboração de estratégias que possam consolidar a utilização da tecnologia em relação a educação, com uma aprendizagem autogerida e colaborativa, devendo ainda verificar as vulnerabilidades do projeto, prevendo e eliminando os eventuais riscos durante todas as fases e aprimorando o curso a ser ofertado.
BRASIL. Classificação Brasileira de Ocupações. Ministério do Trabalho, 13 jul. 2021. Disponível em: http://www.mtecbo.gov.br/cbosite/pages/pesquisas/BuscaPorTituloResultado.jsf. Acesso em: 13 jul. 2024.
BRASIL. Decreto nº 9.057, de 25 de maio de 2017. Regulamenta o artigo 80 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da União, Brasília, 25 maio 2017.
COSTA, D. ADDIE: Desenvolvimento. Flórida: Must University, 2021.
COSTA, D. Modelo ADDIE. Flórida: Must University, 2021.
COSTA, D. Princípios de um bom curso on-line. Flórida: Must University, 2021.
EQUIPE CLARITY SOLUTIONS. Entenda o modelo ADDIE para Desenho Instrucional. Clarity Solutions, 24 fev. 2015. Disponível em: https://www.clarity.com.br/2015/02/24/entenda-o-modelo-addie-para-desenho-instrucional/. Acesso em: 10 jul. 2024.
ERNANE, J. Matriz de Design Instrucional. Sead Flix, 25 jan. 2014. Disponível em: https://sead.com.br/matriz-de-design-instrucional-2/. Acesso em: 13 jul. 2024.
FILATRO, A.; CAIRO, S. Produção de conteúdos educacionais. São Paulo: Saraiva, 2015.
KENSKI, V.; BARBOSA, A. Gestão de pós-graduação a distância: curso de especialização em designer instrucional para educação on-line. In: CONGRESSO LUSO-BRASILEIRO DE POLÍTICA E ADMINISTRAÇÃO DA EDUCAÇÃO, Porto Alegre, 2007. Anais… Porto Alegre: Anpae, 2007.
LEITE, L.; VIEIRA, M.; SAMPAIO, M. Atividades não presenciais: Preparando o aluno para a autonomia. Tecnologia Educacional, Rio de Janeiro: ABT, ano XXVI, n. 141, p. 36-40, abr./mai./jun. 1998.
MENDOZA, P. et al. Designer Instrucional: membro da polidocência na Educação a Distância. In: MILL, D.; OLIVEIRA, M.; RIBEIRO, L. (Org.). Polidocência na educação a distância: múltiplos enfoques. São Carlos: EDUFSCar, 2010. p. 95-110.
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