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Resumo
A conscientização do aluno para o mundo que o cerca, envolve não só a preparação do indivíduo para aprender a aprender diversos conteúdos, bem como colaborar para a manutenção de uma sociedade diversa e sólida. Uma vez que o cenário mundial caminha para a busca individual da felicidade plena de forma diversa, se faz necessário a investir na formação do indivíduo, corroborando para a inclusão da convivência plena com toda a sua diversidade, de forma a não alimentar o preconceito contra o que é diferente, pois um aluno com autonomia precisa fazer parte da manutenção de um mundo mais justo. Um ser que tenha noção da importância de sistematizar através da escola não só conteúdos, como também, aprender a respeitar o outro, apto a dar continuidade nessa transformação do mundo cada dia mais globalizado e diversificado.
Questões como os temas transversais e a diversidade, muito importantes para a formação ética do aluno, assim como na construção de sua formação autônoma, são trabalhadas nas escolas, através de momentos de aprendizado inserido no seu cotidiano grupal.
Partindo desse pensamento, questiona-se: como as aulas envolvendo esses temas podem contribuir para essa formação mais ampla e autônoma dos alunos? Como trazer esses assuntos para o cotidiano não só escolar como também individual na busca de concretizar metodologias que visem ensinar para a cidadania, tolerância e ética?
O mundo globalizado estreita cada vez mais a necessidade de vivermos com as diferenças e sabermos como nos relacionar com as pessoas e com o mundo, assuntos abordados pelos Temas Transversais citados pelos Parâmetros Curriculares Nacionais, incorporados ao trabalho diário em sala de aulas, auxiliam nessa formação.
A inserção dos temas transversais e da diversidade no currículo escolar vai além da simples transmissão de informações. Ao serem explorados de maneira contextualizada e relacionados à realidade dos alunos, esses temas proporcionam oportunidades valiosas para o desenvolvimento do pensamento crítico e da reflexão.
A análise de diferentes perspectivas, a compreensão da pluralidade de experiências e o debate sobre questões sociais relevantes estimulam os estudantes a construir seus próprios valores e a tomar decisões conscientes, elementos essenciais para a formação ética. Este estudo vem nos mostrar que através da transversalidade é possível afetar a diversidade com interesse de se formar alunos éticos e autônomos, com uma visão de mundo ampliada e igualitária, Ademais, o contato com a diversidade, seja ela cultural, social, étnico-racial, de gênero ou religiosa, fomenta a empatia e o respeito pelo outro. Ao conhecer e interagir com realidades distintas da sua, o aluno desenvolve a capacidade de reconhecer a validade de diferentes pontos de vista, o que é fundamental para a edificação de uma sociedade mais justa e tolerante. A pesquisa bibliográfica em materiais já publicados na literatura e de artigos científicos divulgados no meio eletrônico foi o recurso metodológico para a busca de respostas para essa situação problema.
Não é atrativo para a maioria dos alunos estarem na escola, principalmente se eles não forem expostos às razões pelas quais estão ali, torná-las relevantes com objetivos ao aprender tais conteúdos, dessa forma a escola precisa se aproximar do aluno, e sua cultura e cotidiano, podem abrir caminhos na procura de investimentos para socialização. De acordo com o PCN,
Por tratarem de questões sociais, os Temas Transversais têm natureza diferente das áreas convencionais. Sua complexidade faz com que nenhuma das áreas, isoladamente, seja suficiente para abordá-los. Ao contrário, a problemática dos Temas Transversais atravessa os diferentes campos do conhecimento. (Brasil, 1998, p.29)
Já que devemos estar sempre nos reinventando para arrebanhar a atenção dos alunos, isso nos leva a pensar que caminhos devem conduzir para esse fim? É aí que entram os temas transversais e o cotidiano voltados para a diversidade, pois um desses caminhos é entrar no cotidiano dos alunos para vincular os conteúdos com a realidade de cada um. Para isso a transversalidade é um caminho auxiliador na metodologia pedagógica, uma vez que precisamos ensinar para a cidadania, tolerância e ética.
A INTEGRAÇÃO DA CULTURA E DOS TEMAS TRANSVERSAIS NA FORMAÇÃO INTEGRAL DO ALUNO
A globalização impulsionou um desenvolvimento exponencial em diversas áreas do conhecimento, com destaque para as tecnologias da informação. As crianças de hoje têm acesso precoce a celulares, smartphones e internet, sendo expostas a informações atraentes com um simples toque. Essa facilidade de acesso a respostas para qualquer pergunta tem contribuído para uma diminuição progressiva do interesse dos alunos pelos conteúdos escolares tradicionais.
Constata-se um abismo significativo entre a vasta tecnologia acessível e o uso do corpo como ferramenta de aprendizagem. A escola, muitas vezes, não se mostra um ambiente atraente, especialmente quando os alunos não compreendem as razões relevantes para aprender os conteúdos propostos. Nesse contexto, torna-se imperativo que a instituição escolar se aproxime da realidade dos alunos, incorporando sua cultura e cotidiano, buscando adequar-se às suas necessidades de socialização.
Conforme aponta Santos (1994, p.7), “a escola deverá organizar-se como um espaço democrático onde através do diálogo, do questionamento crítico, baseado na concepção de homem como sujeito”. Diante da necessidade constante de reinventar as práticas pedagógicas para engajar a atenção dos alunos, emerge a reflexão sobre os caminhos que podem conduzir a esse objetivo. É nesse ponto que os temas transversais e a abordagem do cotidiano, voltados para a diversidade, se apresentam como estratégias promissoras. Um dos caminhos para despertar o interesse reside em conectar os conteúdos curriculares com a vivência de cada aluno.
A transversalidade se configura como um importante auxílio na metodologia pedagógica, especialmente quando o objetivo é educar para a cidadania, a tolerância e a ética. Uma vasta gama de autores discorrem sobre a relevância da transversalidade e da diversidade na formação cidadã. É amplamente reconhecido que a aprendizagem e o cotidiano individual estão intrinsecamente ligados, e que a cultura desempenha um papel crucial nesse processo, demandando uma atenção especial no contexto educacional. Nóvoa (1991, p.46) elucida essa questão ao afirmar:
O indivíduo da espécie humana não se torna homem a não ser que se integre num grupo que lhe ensine a cultura e preencha a distância entre o cérebro e o ambiente. Este processo reside na transmissão de uma maneira coletiva de viver e de compreender o mundo. Na reprodução de um conjunto de significações graças às quais os homens dão forma à sua existência: é o ‘tornar-se homem’ do indivíduo. A cultura deve ser reproduzida em cada indivíduo novo em seu período de aprendizagem para poder auto interpretar-se e perpetuar a grande complexidade social; a sociedade é um sistema fenomenal dotado de uma memória geradora/regeneradora: a cultura. (Nóvoa, 1991,p.46)
Portanto, a integração dos temas transversais e a valorização do cotidiano e da diversidade dos alunos representam caminhos essenciais para tornar a escola um ambiente mais relevante, capaz de construir pontes entre o universo tecnológico e a experiência concreta dos estudantes, promovendo uma aprendizagem significativa e a formação de cidadãos conscientes e participativos.
É inegável que a cultura, intrinsecamente ligada ao cotidiano dos alunos, desempenha um papel fundamental na formação da personalidade individual. Nesse contexto, os temas transversais emergem como ferramentas valiosas para a construção de um cidadão ético, capaz de reconhecer a importância do aprendizado contínuo sobre o cuidado de si e do mundo circundante, ao mesmo tempo em que valoriza e respeita a diversidade humana.
As palavras de Paulo Freire (1980, p.28), “Quanto mais conscientizados nos tornamos, mais capacitados estamos para ser anunciadores e denunciadores, graças ao compromisso de transformação que assumimos”, ecoam a ideia de que um aluno com maior consciência crítica desenvolve um interesse e um compromisso mais profundo com a transformação do mundo, abrangendo tanto a sociedade quanto o cuidado com a própria existência.
Ao inserir no dia a dia escolar a prática do respeito mútuo, a convivência harmoniosa com as diferenças e o estímulo à autonomia, certamente aumentamos as chances de despertar a atenção dos alunos para os conteúdos curriculares, incluindo aqueles essenciais para a educação para sua formação integral.
Freire (1979, p.21) também nos lembra que:
É preciso que a educação esteja – em seu conteúdo, […] adaptada ao fim que se persegue: permitir ao homem chegar a ser sujeito, construir-se como pessoa, transformar o mundo, estabelecer com os outros homens relações de reciprocidade, fazer a cultura e a história[…]
Dessa forma, podemos inferir que o indivíduo, enquanto sujeito ativo, busca aprimorar competências autônomas para transformar a realidade que o cerca. Contudo, reconhecemos que essa formação integral demanda estímulos externos, provenientes da escola, da sociedade e da família.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) reforçam essa perspectiva ao afirmar que “A contribuição da escola, portanto, é a de desenvolver um projeto de educação comprometida com o desenvolvimento de capacidades que permitam intervir na realidade para transformá-la” (MEC/SEF, 1997). Isso sublinha a relevância de um ensino que incorpore a transversalidade e a valorização da diversidade.
Nesse sentido, a reflexão de Forquin (1993, P.9) nos convida a considerar que:
[…]Ninguém pode ensinar verdadeiramente se não ensina alguma coisa que seja verdadeira ou válida a seus próprios olhos. Esta noção de valor intrínseco da coisa ensinada, tão difícil de definir e de justificar quanto de refutar ou rejeitar, está no próprio centro daquilo que constitui a especificidade da intenção docente como projeto de comunicação formadora. (Forquin, 1993, P.9)
Depreende-se, portanto, que o conteúdo abordado em sala de aula deve estar cada vez mais conectado com a realidade, a cultura e o convívio social dos alunos, em consonância com os contextos escolar, social e familiar. Essa integração se concretiza por meio da metodologia adotada por cada professor, e a transversalidade se apresenta como um suporte valioso para essa articulação. Os PCNs explicitam essa necessidade ao afirmar que “A educação para a cidadania requer, portanto, que questões sociais sejam apresentadas para a aprendizagem e a reflexão dos alunos” (PCN, p.25).
Mas, afinal, o que são os temas transversais? Eles representam questões que se manifestam de diversas maneiras no nosso dia a dia. Partindo dessa premissa, o Ministério da Educação (MEC) definiu alguns temas cruciais que abordam valores essenciais para a cidadania: Ética, Saúde, Meio Ambiente, Orientação Sexual, Trabalho e Consumo e Pluralidade Cultural.
Muitas são as orientações a cerca dos temas, não será abordado tema a tema para que não se perca o foco, que é a busca da auto-gestão pessoal do aluno, contudo o tema pluralidade cultural vem fechando um grupo de assuntos fundamentais à conscientização de nossos alunos, pois ele trás à tona a diversidade, outro fator importante nesse processo.
Para a formação de um cidadão pleno, a ética também se configura como um tema de valor inestimável. Sua prática se inicia nas interações entre os alunos, estendendo-se aos funcionários da escola, por conseguinte, à sociedade em geral. É a ética que instila a distinção entre o bem e o mal, o certo e o errado, exercendo uma influência significativa na formação moral do indivíduo. Daí a crucial importância desse tema, uma vez que os princípios morais constituem a base para a construção de uma autonomia responsável.
A orientação pedagógica para esses temas é que eles possuam a mesma importância que os demais conteúdos curriculares no processo de ensino-aprendizagem, integrando-se organicamente ao cotidiano das salas de aula. Nesse sentido, os PCNs destacam que “o tema Ética traz a proposta de que a escola realize um trabalho que possibilite o desenvolvimento da autonomia moral, condição para a reflexão ética” (PCN, p.26).
A integração da cultura e dos temas transversais no processo educativo emerge como uma estratégia pedagógica fundamental para a formação ética e integral do indivíduo. Diante de um mundo globalizado e tecnologicamente avançado, onde o interesse dos alunos pelos conteúdos tradicionais enfrenta desafios, a escola precisa se reinventar, conectando o currículo com a realidade, a cultura e o cotidiano dos estudantes.
A transversalidade, ao abordar questões sociais relevantes, oferece um caminho promissor para despertar o interesse e engajamento dos alunos. Ao inserir no ambiente escolar a prática do respeito mútuo, a valorização da diversidade e o estímulo à autonomia, a instituição de ensino se torna um espaço mais significativo e capaz de construir pontes entre o conhecimento formal e a experiência concreta dos estudantes.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise da literatura e dos documentos oficiais revela um consenso sobre a importância da integração da diversidade e dos temas transversais na formação de cidadãos conscientes e engajados. Uma educação que reconhece e valoriza a diversidade contribui para o desenvolvimento da autoestima e do sentimento de pertencimento dos alunos, especialmente daqueles que pertencem a grupos minoritários ou que são frequentemente marginalizados. Ao se sentirem acolhidos e representados no ambiente escolar, os alunos tendem a se engajar mais no processo de aprendizagem e a desenvolver uma visão mais positiva de si mesmos e do mundo ao seu redor.
A formação de alunos autônomos e críticos, capazes de reconhecer, respeitar e valorizar a diversidade em suas múltiplas dimensões, é um desafio central para a educação contemporânea. A integração da diversidade e dos temas transversais no currículo e nas práticas pedagógicas emerge como uma estratégia fundamental para alcançar esse objetivo.
Ao promover um aprendizado que conecta o conhecimento formal com as experiências e a realidade dos alunos, a escola se torna um espaço mais relevante e significativo, capaz de construir pontes para uma sociedade mais justa e inclusiva.
A valorização da “normalidade da diferença” e a abordagem transversal de temas como ética, pluralidade cultural e direitos humanos contribuem para o desenvolvimento de um senso de igualdade e para a construção de cidadãos mais conscientes e engajados na transformação social. Ao habilitar os alunos a observar o mundo ao seu redor de maneira mais igualitária, reconhecendo e respeitando as diferenças existentes, a educação cumpre seu papel de formar indivíduos capazes de construir um futuro mais promissor para todos. A escola, portanto, precisa assumir o compromisso de integrar a diversidade e os temas transversais de forma intencional e planejada, reconhecendo que essa é uma condição essencial para a formação plena da cidadania e para a construção de uma sociedade verdadeiramente democrática e inclusiva.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Disponível em:http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me000046.pdf acesso em 05/04/2025
Disponível em http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/pluralidade.pdf acesso em 10/04/2025
FORQUIN, J. C. Escola e cultura. Porto Alegre: Artes Médicas, 1993.
FREIRE, Paulo. Conscientização: teoria e prática da libertação. Uma introdução ao pensamento de Paulo Freire. 3.ed. São Paulo: Ed:Moraes, 1980.
FREIRE, Paulo. Teoria e Prática da Liberdade: Uma introdução ao pensamento de Paulo Freire. São Paulo: Cortez & Moraes, 1979.
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NOVOA, A. Para o estudo sócio histórico da gênise e desenvolvimento da profissão docente. Teoria e Educação. 1991 n.4 p.46
PCN, trasnversais.pdf, disponível em http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/ttransversais.pdf acesso em 03/04/2025
PCN, apresentação dos Temas Transversais Ética, p.20, 25 disponível em http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro081.pdf acesso em 08/04/2025
SANTOS, L.L. de C.P. Um currículo para a escola cidadã: a paixão de aprender. Porto Alegre: Secretaria Municipal de Educação/Prefeitura Municipal de Porto Alegre, n.7, p.6-11, 1994.
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