Considerações sobre o sistema de cuidado familiar rural e a atuação da enfermagem no contexto rural

CONSIDERATIONS ON THE RURAL FAMILY CARE SYSTEM AND THE PERFORMANCE OF NURSING IN THE RURAL CONTEXT

CONSIDERACIONES SOBRE EL SISTEMA DE CUIDADO FAMILIAR RURAL Y EL DESEMPEÑO DE LA ENFERMERÍA EN EL CONTEXTO RURAL

Autor

Amira Abbas
ORIENTADOR
 Luisa Rocha Tinoco Bonadiman

URL do Artigo

https://iiscientific.com/artigos/11DA65

DOI

Abbas, Amira. Considerações sobre o sistema de cuidado familiar rural e a atuação da enfermagem no contexto rural. International Integralize Scientific. v 5, n 46, Abril/2025 ISSN/3085-654X

Resumo

Este estudo teve como objetivo compreender a saúde da população rural, de uma maneira geral, como os seus desafios, seus costumes e práticas ligadas à saúde. Nesse cenário abordamos o sistema de cuidado familiar rural, que aponta diferentes particularidades voltadas à essa população, como a prática informal de cuidados, que é realizada através de remédios caseiros, plantas medicinais, condutas adotadas por familiares e vizinhos; sendo utilizada a prática formal de cuidados somente em casos graves, casos que a prática informal não tenha alcançado o resultado esperado. Por fim, abordou-se nesse trabalho o papel essencial desenvolvido pelos enfermeiros junto a população rural, sendo um elo fundamental na prevenção de doenças e nos cuidados necessários ao restabelecimento da saúde dessa população. A pesquisa foi conduzida por meio de uma revisão bibliográfica com o objetivo de avaliar pontos relevantes sobre a sistema de cuidado familiar rural, a saúde rural e a enfermagem no âmbito rural, focando sempre em identificar os desafios que devem ser superados e as práticas necessárias que devem ser adotadas, para que a população rural tenha acesso pleno à saúde. Inicialmente, foram selecionados 28 artigos, dos quais 10 foram considerados após a exclusão de temas irrelevantes. A revisão bibliográfica focou em estudos dos últimos 5 (cinco) anos, consultando as bases de dados Scielo, Pubmed e Google Acadêmico. Os resultados indicam que a população rural desenvolve práticas de cuidados de saúde primeiramente informais, diferente da população urbana, que primeiramente busca atendimento médico, realizando práticas formais de cuidado, e que o enfermeiro que trabalha na área rural, deve desempenhar um trabalho diferenciado do urbano, pois deve levar em consideração os costumes e crenças da população rural, para adequar com respeito ao paciente, às práticas científicas de cuidado, buscando com empatia e respeito a confiança do morador e o restabelecimento de sua saúde. Diante disto, o objetivo deste trabalho foi avaliar os cuidados familiares de saúde desenvolvidos pela população rural e como o trabalho dos enfermeiros é essencial na busca pela qualidade de vida da população rural.
Palavras-chave
População rural. Cuidado. Enfermagem.

Summary

This study aimed to understand the health of the rural population in general, including its challenges, customs and practices related to health. In this scenario, we addressed the rural family care system, which highlights different particularities aimed at this population, such as informal care practices, which are carried out through home remedies, medicinal plants, and behaviors adopted by family members and neighbors; formal care practices are used only in serious cases, cases in which informal practices have not achieved the expected results. Finally, this study addressed the essential role played by nurses with the rural population, as they are a fundamental link in disease prevention and in the care necessary to restore the health of this population. The research was conducted through a literature review with the objective of evaluating relevant points about the rural family care system, rural health and nursing in the rural environment, always focusing on identifying the challenges that must be overcome and the necessary practices that must be adopted, so that the rural population has full access to health. Initially, 28 articles were selected, of which 10 were considered after the exclusion of irrelevant topics. The bibliographic review focused on studies from the last 5 (five) years, consulting the Scielo, Pubmed and Google Scholar databases. The results indicate that the rural population develops primarily informal health care practices, unlike the urban population, which first seeks medical care, performing formal care practices, and that the nurse who works in the rural area must perform a different work from that of the urban population, as they must take into account the customs and beliefs of the rural population, in order to adapt with respect to the patient, to the scientific care practices, seeking with empathy and respect the trust of the resident and the restoration of their health. In view of this, the objective of this study was to evaluate the family health care developed by the rural population and how the work of nurses is essential in the search for quality of life of the rural population.
Keywords
Rural population. Care. Nursing.

Resumen

Este estudio tuvo como objetivo comprender la salud de la población rural, en general, incluyendo sus desafíos, costumbres y prácticas relacionadas con la salud. En este escenario, abordamos el sistema de cuidado familiar rural, que resalta diferentes particularidades dirigidas a esta población, como la práctica informal del cuidado, que se realiza a través de remedios caseros, plantas medicinales y conductas adoptadas por familiares y vecinos; Las prácticas de atención formal sólo se utilizan en casos graves, casos en los que las prácticas informales no han logrado los resultados esperados. Finalmente, este trabajo abordó el papel esencial que desempeñan las enfermeras entre la población rural, como eslabón fundamental en la prevención de enfermedades y en los cuidados necesarios para restablecer la salud de esta población. La investigación se realizó a través de una revisión bibliográfica con el objetivo de evaluar puntos relevantes sobre el sistema de cuidado familiar rural, la salud rural y la enfermería en el medio rural, enfocándose siempre en identificar los desafíos que se deben superar y las prácticas necesarias que se deben adoptar, para que la población rural tenga pleno acceso a la salud. Inicialmente se seleccionaron 28 artículos, de los cuales 10 fueron considerados tras la exclusión de temas irrelevantes. La revisión bibliográfica se centró en estudios de los últimos 5 (cinco) años, consultando las bases de datos Scielo, Pubmed y Google Scholar. Los resultados indican que la población rural desarrolla prácticas de atención en salud mayoritariamente informales, a diferencia de la población urbana, que busca primeramente la atención médica, realizando prácticas de cuidado formal, y que la enfermera que trabaja en el medio rural debe realizar un trabajo diferente a la población urbana, pues debe tomar en cuenta las costumbres y creencias de la población rural, para adaptarse, con respecto al paciente, a las prácticas de atención científica, buscando con empatía y respeto la confianza del residente y la restauración de su salud. Teniendo en cuenta esto, el objetivo de este trabajo fue evaluar la atención a la salud familiar desarrollada por la población rural y cómo el trabajo de las enfermeras es esencial en la búsqueda de la calidad de vida de la población rural.
Palavras-clave
Población rural. Cuidadoso. Enfermería.

INTRODUÇÃO

O sistema de cuidado familiar rural é tradicionalmente baseado em costumes, crenças, na espiritualidade, nos saberes épicos, nas condutas adotadas pelos antepassados; e se vincula intimamente nas tomadas de decisões, quando alguém fica doente.

Sendo uma prática comum quando alguém fica doente, um familiar ou um conhecido próximo, automedicar esse paciente, como por exemplo: quando alguém diz que está com dor de estômago e a pessoa fala para tomar um chá de boldo, que resolve, o objetivo dessa prática informal é que a pessoa que está com dor, restabeleça a sua saúde; sendo que essas práticas informais são adotadas em um primeiro momento e podem ser alteradas, dependendo da gravidade e do desenvolvimento da doença.

O importante do trabalho junto à população rural é saber escutar e respeitar cada pessoa, e nisto inclui-se as suas vontades; assim o profissional de saúde que trabalha com a população rural deve ter anseio pela escuta ativa do paciente, deve entender o meio em que ele vive, o que ele acredita e deve ganhar sua confiança, para que este possa entender a importância do cuidado de sua saúde.

Para isso, é necessária uma análise mais crítica e racional acerca de tudo aquilo que diz respeito a saúde da população rural, as dificuldades que essa população tem, devido às questões geográficas, para se evitar uma visão rasa e equivocada sobre a importância dos cuidados que eles desenvolvem em um primeiro momento.

Diante do exposto, o presente estudo pauta-se nas seguintes questões de pesquisa: Quais os tipos de cuidados familiares a população rural costuma realizar? Quais evidências científicas presentes na literatura demonstram a importância do enfermeiro junto à população rural e qual a relevância de motivar mais profissionais a trabalharem em áreas rurais? Para responder os referidos questionamentos, objetiva-se investigar os cuidados familiares realizados à população rural, a saúde rural e a importância do enfermeiro junto às comunidades rurais e como isso contribui com a ampliação do acesso à saúde da população rural.

METODOLOGIA

O presente trabalho trata-se de uma revisão bibliográfica qualitativa, onde busca-se abordar conceitos norteadores do sistema de cuidado familiar no contexto rural, bem como a saúde rural e o papel da enfermagem junto à comunidade rural e suas familiaridades; destacando-se pontos relevantes e que podem abrilhantar futuros estudos sobre o tema, impactando positivamente em novas ações e políticas públicas voltadas à saúde da população rural.

O trabalho tem como objetivo realizar uma revisão integrativa da literatura, onde esta foi realizada em etapas: primeiro foi elaborada a questão norteadora do trabalho, de maneira clara e relevante para a sociedade, em especial como melhorar a saúde da comunidade rural, onde foi realizada uma busca de artigos com os critérios de seleção; informações relevantes ao tema do trabalho; os resultados dos artigos analisados e a discussão dos artigos com temas semelhantes. 

 O levantamento bibliográfico foi realizado no segundo semestre de 2024 e nos meses de janeiro, fevereiro e março de 2025, através de busca online, onde a revisão bibliográfica focou em estudos dos últimos 5 (cinco) anos, consultando as bases de dados Scielo, Pubmed e Google Acadêmico, utilizando as palavras-chave: População rural, saúde da população rural, sistema de cuidado familiar rural, zona rural e enfermeiros na zona rural.

É relevante destacar que embora nem todas as sugestões de artigos se mostrassem alinhadas com esta temática principal da saúde da população rural e o papel da enfermagem na comunidade rural, foi possível identificar algumas produções cujo título ou resumo faziam referências a comunidade rural e saúde, perspectivas da enfermagem junto a população rural, desafios e motivações.

Foram considerados os critérios de inclusão de textos em português, no período de 2020 a 2025. Para o critério de exclusão foram considerados os estudos que não contemplaram os critérios de inclusão e que não apresentavam assuntos relacionados ao tema, que foram objeto do presente trabalho.

Por fim, após a realização desta pesquisa, procedeu-se com a análise dos trabalhos selecionados, que foram no total de 10 obras de estudos.

A SAÚDE RURAL 

A saúde sempre foi um dos temas centrais nas pautas de governo e nos clamores públicos, pois todo cidadão merece ter um atendimento de qualidade e com eficiência quando precisa. Isto porque a saúde é o bem mais precioso que possuímos, sem saúde não há trabalho, não há diversão, não há qualidade de vida e sim sofrimento.

Por isso é fundamental investir em infraestrutura, educação, tecnologia e valorização dos profissionais de saúde para garantir o acesso à saúde e a qualidade de vida da população, e em especial daqueles que devido à dispersão geográfica, possuem dificuldades de acesso e infraestrutura limitada, como no caso da população rural.

“No Brasil, o termo rural é frequentemente utilizado em contraposição ao urbano” (Miranda, 2022, p. 1520).

“A população rural brasileira embora pareça pequena, se comparada ao quantitativo de pessoas no meio urbano, do ponto de vista de direitos e dignidade humana, tratar sobre os indivíduos do meio rural é altamente relevante” (Magalhães, 2022, p. 10).

Todas as pessoas perante a lei são consideradas iguais, sendo considerado crime qualquer tipo de discriminação; nesse contexto é fundamental abordarmos os acessos à saúde das comunidades rurais, que ainda que sejam pequenas, proporcionadamente em relação a população urbana, possuem garantidos os mesmos direitos à saúde de qualquer outra pessoa.

Para Miranda (2022) quando se fala em populações rurais, não se fala apenas em um universo econômico da produção, mas em um circuito de relações sociais mais amplas, e diante desse contexto é propenso considerarmos a visão dos profissionais que atuam na área da saúde da população rural, pois devem  conhecer como essas populações se organizam, produzem e adoecem.

Com esse conhecimento o profissional da saúde poderá contribuir no restabelecimento da saúde dessa comunidade, entendendo suas tradições e costumes e adequando as práticas de saúde de acordo com cada caso. Muitas vezes o profissional de saúde irá se deparar com comunidades rurais, que não possuem acesso a saneamento básico, água potável e energia elétrica, e isto afeta diretamente a saúde dessa comunidade, e com base nesse conhecimento, o profissional poderá proporcionar o melhor tratamento possível a essa população. Cada pessoa é única, e na população rural o profissional irá se deparar com situação atípicas, onde cada detalhe, deve ser considerado cuidadosamente, para que cada cidadão consiga ter o melhor tratamento possível.

Segundo Diehl (2021) a insuficiência de recursos físicos e as barreiras de deslocamento dos usuários para outros serviços de saúde, acabam comprometendo a integralidade e acesso do cuidado e também da garantia de direitos emanadas pela Constituição Federal. 

Importante destacarmos que a Constituição Federal do Brasil, que disciplina diversos direitos, estabelece acesso à saúde para todos, assegura que a saúde é um direito de todos os cidadãos e um dever do Estado, que deve garantir o acesso universal e igualitário aos serviços de saúde a todos, bem como deve promover políticas públicas para a prevenção de doenças e a promoção da saúde, mas quando consideramos as promoções voltadas para a saúde da população urbana e da população rural, podemos identificar que a população rural carece dos mesmos benefícios e acessos aos serviços de saúde, proporcionados à população urbana, que devido as suas características acaba usufruindo de mais acessos a equipamentos de saúde, clínicas e profissionais de saúde.

“As ações em educação em saúde são importantes para guiar os cidadãos ao bem-estar, principalmente nos ambientes rurais, em que o acesso à saúde é mais limitado, quando comparado ao ambiente urbano” (Magalhães, 2022, p. 10).

 “Quanto ao deslocamento e acesso aos serviços de saúde, foi evidenciada a dificuldade dos usuários em se locomover até as unidades, por falta de veículo próprio, ou acessibilidade a um meio de transporte público próximo a sua residência ou do serviço de saúde” (Diehl, 2021, p. 6).

“O primeiro obstáculo para acessar os serviços de saúde, na zona rural, (seja indo até a unidade, ou recebendo visitas dos profissionais) consiste em falta de algo essencial, o transporte oportuno” (Magalhães, 2022, p. 8).

Sem dúvidas uma das maiores dificuldades para a população rural, concentra-se na distância, no deslocamento, na falta de transporte que inviabiliza muitas vezes a locomoção e a busca preventiva por atendimentos e cuidados de saúde, dificultando ou impossibilitando muitas vezes até o restabelecimento de sua saúde, que se encontra acometida por alguma doença.

“No entanto, apesar dos avanços com a ampliação do acesso aos cuidados, as pessoas que vivem no meio rural ainda enfrentam dificuldades de acesso a serviços de saúde resolutivos, principalmente quando apresentam situações de saúde complexas” (Oliveira, 2020, p. 2).

Oliveira (2020) menciona em seu trabalho que a Unidade de Saúde da Família é o único serviço de saúde que a população rural procura em caso de necessidade, e que diferentemente das unidades urbanas, as unidades rurais não estão abertas todos os dias da semana, pois a equipe de saúde tem um cronograma de trabalho peculiar e se desloca semanalmente para várias unidades que estão distribuídas em lugares diferentes do território rural, visando atender as pessoas que se encontram distantes, em locais de difícil acesso e áreas isoladas, no intuito de cobrir a maior área possível e atender a toda essa população.

Devido à distância dos centros urbanos, associado à falta de transporte adequado e à falta de acesso aos serviços especializados de saúde, que dificultam o acesso dos moradores de áreas rurais a Unidades Básicas de Saúde, Clinicas de Especialidades, Pronto Atendimento e UPA´s, muitas famílias rurais acabam desenvolvendo habilidades para lidar com diversas situações de saúde, como realizar curativos, administrar medicamentos e cuidar de doentes em casa, para driblar com a situação da doença existente e restabelecer a saúde do familiar ou do vizinho.

As Unidades de Saúde da Família desempenham um papel essencial nas comunidades rurais, através da conjugação de vários profissionais de saúde, como médicos, enfermeiros, agentes comunitários de saúde, agentes comunitários de endemias, técnicos de enfermagem, farmacêuticos; o trabalho é desenvolvido próximo a essa população, onde através de visitas domiciliares, programas semanais ou quinzenais, aproximam e reforçam a importância preventiva de se buscar atendimentos e de se preservar a vida, em caso de doenças.

“Um dos caminhos para se chegar a uma aproximação entre os homens trabalhadores rurais e os cuidados à saúde pode ser a escuta dos próprios usuários masculinos” (Miranda, 2022, p. 1521).

Outro ponto a ser destacado é a importância da escuta ativa, onde o profissional de saúde pode entender o que o paciente está passando, suas queixas, suas demandas, suas crenças, vontades, demonstrando um atendimento humanizado, onde o paciente se sentirá seguro para procurar ajuda quando precisar e se sentirá acolhido e disposto a relatar suas queixas.

Para Diehl (2021) ocorreram diversos avanços com relação à saúde voltada para a população rural,  porém o cenário indica que ainda se faz necessário discutir estratégias que possam facilitar o acesso da população rural às equipes de saúde, assim como é necessário estabelecer dispositivos que tenham a potência de garantir relações horizontais e baseadas no cuidado.

É relevante destacarmos que para aproximar a população rural das equipes de saúde, temos alguns programas desenvolvidos especialmente para à saúde da população rural, com foco na prevenção de doenças e na promoção da qualidade de vida e bem-estar dessa população, que é algo intrinsicamente valioso, como o Programa Saúde da Família (PSF), que além de desenvolvido na área urbana, também alcança a área rural, com visitas domiciliares, acompanhamento de doenças crônicas e ações de prevenção, que são desenvolvidas pelas equipes que compõem o PSF; a Telessaúde que é uma medida moderna desenvolvida para atendimentos da população rural, principalmente para os que residem em área remotas e de difícil acesso, onde através da internet, telefones, computadores o morador rural pode sem se deslocar de sua residência realizar uma consulta médica ou mesmo solicitar algum exame, agendar consultas, procedimentos, facilitando a vida da população rural; as Unidades Básicas de Saúde (UBS) Fluviais, que são utilizadas para atender comunidades ribeirinhas, com embarcações flutuantes; o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Superior (Pronatec) que é voltado para a formação de profissionais de saúde em áreas rurais; o Programa Saúde Preventiva, que visa atendimento preventivo para a Saúde do Homem Rural e da Saúde da Mulher Rural e o Programa Saúde Rural, que visa promover ações de saúde a população rural.

Todas essas medidas visam fortalecer as ações de saúde voltadas à comunidade rural, com práticas de prevenção e atendimentos visando o restabelecimento da saúde de toda essa população, que merece uma saúde de qualidade e com eficiência.

Magalhães (2022) destaca que foram atingidas várias melhorias no sistema de saúde rural, como a descentralização da saúde, mas ainda há muito a se fazer para levar saúde equânime para a população rural, já que essa população enfrenta dificuldades organizacionais dos serviços de saúde, adversidades socioeconômicas intrínsecas, que acabam extrapolando a abrangência do setor da saúde à essa população, que também carece de intervenções de outros setores e seguimentos sociais, tão necessários a população rural. 

Realmente todo cidadão merece cuidado e atendimento adequado, e com a população rural a busca pela saúde de qualidade, ainda padece de muitos desafios, mas com políticas públicas voltadas para o bem comum da população, teremos uma saúde equânime para a comunidade rural.

O SISTEMA DE CUIDADO FAMILIAR NO MEIO RURAL

O cuidar é um ato de amor e dedicação ao próximo e dentro de um grupo familiar, de uma comunidade familiar, podemos identificar várias maneiras de cuidados.

Para alguns, quando algum membro da família adoece, o primeiro ato é procurar uma Unidade Básica de Saúde ou um Pronto Atendimento, já para outros dependendo da gravidade da doença ou da dor, ocorre uma automedicação, que pode ser através de plantas medicinais, de produtos naturais ou caseiros, que a família costuma utilizar a décadas, ou até mesmo de medicamentos comprados diretamente nas farmácias, sem prescrição médica.

Cada grupo familiar tende a se respaldar em uma prática costumeira em casos de adoecimento, e muitas vezes procuram um médico somente em casos extremos.

“Entendem-se por práticas de cuidado à saúde as ações realizadas por indivíduos e grupos, visando à recuperação, à manutenção das condições de saúde e à cura, oriundas de diferentes saberes (sistema formal e sistema informal)” (Ceolin, 2021, p. 15).

Com relação às comunidades rurais, o sistema de cuidado familiar costuma se basear em uma rede de apoio informal, onde os membros da família e também os vizinhos, que muitas vezes são considerados como membros da família, se unem para prover assistência em diversas áreas, como na área da saúde, no bem-estar diário das pessoas e nas mais diversas atividades cotidianas.

“O sistema familiar de cuidado apresenta peculiaridades culturais diversas no espaço rural, interfaces que valorizam a sociabilidade e também recursos vegetais do bioma, de modo que seu resgate é parte fundamental da aproximação e fundamentação com os saberes” (Sousa, 2021, p. 273).

“O sistema de cuidado familiar é uma importante estratégia de vida adotada no contexto da agricultura familiar, o qual está associado a diferentes práticas que possuem interfaces no contexto dos diferentes grupos sociais” (Ceolin, 2021, p. 15).

Sousa (2021) em seu trabalho destacou que existem diferentes sistemas de cuidado, os quais buscam produzir ações que resultem no bem-estar e na recuperação da saúde das pessoas, sendo que o sistema familiar de cuidado, historicamente praticado no meio rural é um, entre tantos outros desenvolvidos pela humanidade, de modo que o seu resgate é parte fundamental da aproximação com os saberes e práticas técnico-científicas.

As diferentes práticas de cuidado figuram-se como uma união entre os saberes, as tradições, as práticas e a ciência, onde o vasto conhecimento sobre medicina tradicional, ervas medicinais e práticas de cuidado transmitidas de geração em geração pelas famílias rurais, se complementa ou substitui os serviços de saúde formais ofertados à população, em geral.

Schek (2021, p. 343) em seu estudo revelou importante escolha adotada, em casos de problemas de saúde:

O relato dos participantes da pesquisa colocou em evidência que a escolha das ações adotadas frente aos problemas de saúde depende  exclusivamente da classificação que é dada  a  doença, ou seja, ele pode ser compreendido  como um problema grave e não grave de saúde, de acordo com o  conhecimento das pessoas que compõem o núcleo familiar (Schek, 2021, p. 343).

Outro ponto a se considerar sobre as práticas de cuidado, são as destacadas no trabalho de Schek (2021), onde a autora identificou-se que no contexto das famílias rurais, são as  mulheres que decidem que práticas de cuidado  vão  adotar, sendo que esta decisão geralmente é tomada a  partir de um pré-julgamento referente ao estado de saúde da pessoa que necessita  de cuidados e também leva-se em consideração o conhecimento fundamentado nas experiências e vivências repassadas através das gerações que essa mulher possui.

Schek (2021) ainda menciona que além de práticas de cuidado adotadas de forma pontual, ou seja, de acordo com cada doença que se apresenta, às famílias rurais dentro do seu  sistema de cuidado promovem práticas visando o restabelecimento da saúde desse membro da comunidade rural, como o consumo de alimentos saudáveis e o cuidado com o consumo de agrotóxicos usados nas lavouras.

O cuidar dos familiares é um aspecto primordial das famílias rurais, onde em um primeiro momento é realizada uma avaliação do estado clínico do familiar, a dor que este esta sentindo, a gravidade da doença, e em seguida é tomada uma decisão, que irá depender de cada situação e da gravidade da doença.

“No cuidado da saúde, a alimentação é um aspecto fundamental para a promoção da saúde” (Miranda, 2022, p. 1525).

Um diferencial adotado pelas famílias rurais é a própria produção dos seus alimentos, isto garante alimentos mais saudáveis e maiores cuidados com a saúde, pois a pessoa sabe como foi produzido aquele alimento, coisa que na cidade é diferente, pois não sabe ao certo, como determinado alimento foi produzido, aumentando-se o risco de consumir alimentos contaminados ou com falta de higienização na hora do preparo, ou o uso de agrotóxicos nos alimentos, o cozimento inadequado; fatores que podem causar doenças como por exemplo: a intoxicação alimentar e diarreia, cujos sintomas podem ser vômitos, náuseas e perda de líquidos.

“O alimento está diretamente relacionado com a terra na qual é produzido, o que garante sua procedência e resulta em saúde, por meio de uma alimentação saudável” (Ceolin, 2021, p. 17).

Nas comunidades rurais é imprescindível entender o ponto de vista, as experiências e a base que levam as famílias rurais a desenvolverem o cuidado de doenças, da maneira que acreditam, é importante compreender o espaço e o território ao qual o indivíduo encontra-se investido, para entender as formas de cura que podem ser ministradas.

“Alguns homens relacionaram práticas de cuidar da saúde com hábitos e estilo de vida saudável, como alimentação, hidratação, evitar o consumo de álcool e/ou tabaco e o desenvolvimento de algum tipo de atividade física” (Miranda, 2022, p. 1526).

Soares (2020) assevera que é importante observar que muitos dos esforços empreendidos para a organização do cuidado à população rural, possuem centralidade na ampliação do acesso às consultas e a determinados procedimentos assistenciais, como no caso de curativos,  e embora o acesso a esses serviços seja fundamental, pode-se observar que a ações centralizam nos atendimento individuais e curativo.

Para Ceolin (2021, p. 15) o sistema de saúde consiste:

Considera-se sistema formal de saúde todos os serviços ofertados pelo sistema oficial de saúde brasileiro (modelo biomédico hegemônico), tanto público como privado. O sistema informal caracteriza- se pelas diferentes práticas de cuidado através de plantas medicinais, religiosidade, rede de relações, grupos de autoajuda e as demais práticas utilizadas para o cuidado em saúde nos diferentes espaços e que não estão incluídas no sistema formal de saúde. As práticas de cuidado à saúde, tanto as do sistema formal quanto as do informal, constituem o sistema de cuidado à saúde (Ceolin, 2021, p. 15).

Conforme apontado o sistema de cuidado possui duas vertentes; o sistema formal de saúde, que é todo o sistema de saúde existente, tanto no âmbito privado, quanto no público e o sistema informal, que é associado às práticas caseiras, as tradições, e nas comunidades rurais, o primeiro sistema a ser adotado costuma ser o informal, onde o paciente é tratado com remédios caseiros, chás, plantas medicinais, sendo adotado o sistema formal normalmente quando observa-se a gravidade da doença, aí sim nesses casos busca-se ajuda de um profissional da saúde.

Não há que se julgar qual forma é melhor, ou que o sistema de cuidado informal não zela pelo restabelecimento da saúde daquele paciente, na verdade são práticas adotadas muitas vezes há décadas e são práticas relevantes, que também merecem atenção e respeito, ou seja o ponto crucial é saber quando utilizar cada tipo de cuidado, pois todos possuem o mesmo objetivo restabelecer a saúde do paciente.

Segundo Ceolin (2021, p. 18) as famílias investigadas em seu estudo, primeiro avaliam os sintomas e a evolução da doença, para depois decidirem as práticas de cuidado que serão adotadas:

É possível perceber que as famílias investigadas neste estudo primeiro avaliam os sintomas e a evolução da doença, decidindo quais práticas de cuidado serão utilizadas, de acordo a necessidade identificada. 

As práticas de cuidado à saúde, para essas famílias, envolvem diferentes saberes, tanto os oriundos do sistema formal, ou seja, do modelo biomédico hegemônico (público e privado) quanto do sistema informal de saúde – relação com o ambiente/terra; plantas medicinais; pastoral da saúde; alimentação, desde o cultivo até o consumo; lazer; e a rede de relações, composta pela família, vizinhos, comunidade religiosa –, integrando o sistema de cuidado à saúde, o qual é permeado pela religiosidade (Ceolin, 2021, p. 18).

De acordo com Ceolin (2021) as famílias rurais possuem uma pluralidade de práticas de cuidado, inseridas no sistema de cuidado, perpassando ações de promoção de saúde, prevenção e tratamento de doenças, possuindo diferentes práticas de cuidado que são influenciadas pela religiosidade, fator esse extremamente relevante para a comunidade.

Observa-se desta forma, a existência de várias práticas de cuidado, que visam restabelecer a saúde dos pacientes inseridos nas comunidades rurais; onde os vizinhos, a pastoral, a igreja, os pastores, os familiares, associações, os costumes, as plantas medicinais são primeiramente consultadas, para depois de acordo com a evolução da doença, sejam tomadas outras medidas, como a busca de um médico ou de um atendimento em uma unidade de saúde, podendo ser pública ou privada.

Essas pessoas que são inseridas no grupo familiar, muitas vezes são consideradas como integrantes da própria família, mesmo sem possuir qualquer relação de parentesco, pois como a convivência entre ambos são diárias, a confiança entre os mesmos, torna-se um fator relevante na hora de decidir a medida a ser adotada, para restabelecer a saúde do membro da comunidade rural acometido por uma doença.

Lima (2020) destaca que na perspectiva rural, deve-se considerar a compreensão das crenças e valores das famílias, devido aos complexos arranjos encontrados em cada família, considerando que esses valores são atribuídos da interação com o ambiente, animais e plantas.

Considerar cada ser humano como único e especial, transmite segurança e confiança ao paciente, e nas comunidades rurais, a confiança é um fator muito importante e que merece todo zelo pelo profissional de saúde que atua junto a essa comunidade, sendo vital a sua participação na vida do paciente e no restabelecimento da saúde do paciente.

BREVE PANORAMA SOBRE A ATUAÇÃO DA ENFERMAGEM NA ÁREA RURAL

Quando se trata da população rural, observamos que essas pessoas muitas vezes, não possuem um círculo social abrangente, como as pessoas que vivem na zona urbana, que costumam ser cercadas de pessoas em todos os lugares, nas ruas, nas praças, nos mercados, nos hospitais; ao contrário dos moradores da zona rural, que muitas vezes para se encontrar com outra pessoa, precisam caminhar quilômetros de distância, dificultando o convívio social.

Por isso, muitas vezes a confiança acaba se restringindo aos membros da família e aos vizinhos próximos, pois são aqueles do convívio diário e para que o profissional de saúde consiga se aproximar e ter a confiança desse morador rural, é imprescindível uma abordagem diferente das práticas habituai adotadas na área urbana, sendo relevante destacarmos o papel dos enfermeiros, junto a população rural, pois são o elo mais próximo ligado à saúde.

Pois bem, todo profissional de saúde é uma pessoa iluminada, diferenciada e que merece profunda admiração e respeito por todos, pois trata-se de uma pessoa que busca cuidar do outro, tratar e zelar pela vida da outra pessoa e essa é uma tarefa muito difícil e desafiadora, e entre tantos profissionais da saúde, o enfermeiro possui um contato direto com os usuários e pacientes, que buscam atendimento em estabelecimentos de saúde.

E com a população rural não é diferente, são os enfermeiros, que muitas vezes são o elo direto com o paciente, que precisa de cuidados, o enfermeiro desempenha um papel fundamental na comunidade rural, pois o seu trabalho envolve a busca pelo bem-estar e a qualidade de vida e o acesso à saúde das comunidades que vivem em regiões remotas e de difícil acesso e que precisam e merecem atendimento integral na área da saúde.

O desenvolvimento de estudos sobre as populações rurais no âmbito da Enfermagem do Brasil ainda é pouco expressivo (Silva, 2021, p. 7).

Realmente podemos observar que a maioria dos estudos quando se trata da população rural, estão envolvidos em políticas públicas de saúde e não especificamente ao valoroso trabalho da enfermagem junto a essa comunidade.

“Assegurar às pessoas, que vivem em áreas rurais e remotas, acesso a profissionais de saúde qualificados, em número suficiente, no lugar certo e no momento certo, é um dos desafios mais complexos da atualidade” (Lima, 2020, p. 3).

Realmente para se proporcionar atendimentos qualificados e em número suficientes de profissionais de saúde em áreas rurais não é uma tarefa fácil, pois existe uma precariedade nas estruturas físicas de atendimento na zona rural, falta de insumos, falta de medicamentos, falta de aparelhos, falta de equipamentos básicos, que dificultam o desempenho adequado do trabalho, ainda muitas vezes é necessário percorrer longas distâncias para se conseguir chegar até o morador, o clima é desfavorável, algumas vezes calor intenso, outras vezes frio, insetos e bichos diversos no trajeto, falta de comunicação, como o acesso inoperante de internet, dificultando e desmotivando os profissionais de trabalharem na zona rural.

Lima (2020, p. 3) apresenta relevante consideração sobre o trabalho da enfermagem nas áreas rurais:

Esses territórios apresentam diversos desafios aos profissionais de saúde, em específico a enfermagem: a distância geográfica, dificuldade de transporte e de acesso aos recursos de saúde, fatores associados à necessidade de prestar cuidados às pessoas que desenvolvem atividades laborais com predominância do trabalho braçal e insalubre. O trabalho é realizado em condições climáticas adversas, com a utilização de produtos químicos, muitas vezes nocivos, como agrotóxicos e adubos. Essa interação impacta diretamente no processo saúde-doença e no sistema de cuidado dessas famílias (Lima, 2020, p. 3).

“A atuação no território rural demanda à enfermeira enfrentar particularidades como isolamento, dificuldade de acesso, condições socioeconômicas diversas e perfis epidemiológicos específicos, que influenciam a prática profissional, o que a torna um desafio” (Lima, 2020, p. 1).

Ainda Lima (2020) destaca que um dos maiores desafios a longo e médio prazo é formar enfermeiras que desempenhem atendimento de qualidade, respeitando as especificidades das comunidades rurais, nas áreas geográficas onde são necessárias, pois o fator relacionado à distância dificulta a contratação de enfermeiros e dificulta o acesso integral à saúde dessa população.

Mas ainda com tantos desafios a serem superados, temos excelentes e dedicados profissionais, como enfermeiros, que não se abalam diante das dificuldades e vão com afinco desenvolverem seu labor em locais de difícil acesso.

Menciona Diehl (2021) que as equipes atuam em um espaço geográfico fisicamente extenso, o que implica na necessidade de uma logística de organização administrativa diferente daquilo que é pensado para as áreas urbanas, tendo em vista que isto dificulta o estabelecimento de rotinas de atendimento domiciliar.

Com realidades diferentes, o enfermeiro que atua na área rural deve se concentrar em práticas de atendimentos e acessos diferenciadas das usualmente realidades na área urbana, podendo utilizar pontos específicos de encontros com os moradores, como por exemplo em pontos de ônibus, capelas, centros comunitários, locais onde são realizadas outras atividades e que ocorram concentração de pessoas, para que ações de prevenções possam ser mais eficazes e alcancem o maior número de pessoas.

Ceolin (2021) menciona que às contribuições para a enfermagem, devem se ater a necessidade da enfermeira, que possui sua formação acadêmica pautada no modelo biomédico, onde está deve ampliar seu olhar para o contexto sociocultural das pessoas, atentando para as diferentes práticas de cuidado utilizadas pelos indivíduos e microgrupos sociais, valorizando e incluindo essas práticas por meio de um cuidado integral e dialógico, não bastando somente a utilização do conteúdo acadêmico, mas sim um olhar diferenciado, humanizado, para valorizar o saber dessas pessoas que lidam com a terra e possuem particularidades que devem ser consideradas.

Segundo Diehl (2021) a enfermagem possui um papel central na coordenação do cuidado no âmbito da Atenção Primária à Saúde no âmbito rural, pois trabalham diretamente com as demandas desses usuários e no cuidado direto e diário desses pacientes, executando o exercício profissional em suas diferentes modalidades assistenciais como a consulta de enfermagem, visitas domiciliárias, acolhimento e ações educativas em grupos e individuais.

A equipe da enfermagem é essencial nos trabalhos rurais, pois realiza o contato direto com o morador, realizando visitas domiciliares, atendimentos das demandas, cuidado diário aos pacientes e com dedicação e persistência amoldam-se à realidade daquela população, que é carente e desprovida de diversos serviços, não só na área da saúde.

Oliveira (2020, p. 7) destaca importantes considerações sobre o trabalho do enfermeiro na comunidade rural e que merecem atenção:

Os enfermeiros percebem a população rural como sendo desfavorecida de recursos e acesso a serviços de saúde, decorrentes das características específicas de seu contexto de vida e das condições impostas do meio rural a esses habitantes. O contexto de vida e saúde da população rural impõe ao enfermeiro a necessidade de aprimoramento profissional para atuação em áreas específicas da APS de forma a ampliar os cuidados em saúde da população com ênfase na integralidade do cuidado. 

Este estudo revela a importância das instituições de ensino na formação dos enfermeiros em inserir em seus planos de cursos conteúdos que abordem as especificidades rurais e que influenciam no modus operandi dos profissionais que atuam em áreas rurais. 

Apesar dos desafios impostos ao trabalho do enfermeiro em áreas rurais existe satisfação por parte do profissional em atuar com essa população, refletida na identificação com o contexto da saúde no meio rural e no vínculo estabelecido com a população, além da aprendizagem e crescimento adquiridos com o trabalho nesse contexto, que exige perfis específicos do profissional, estratégias e habilidades para desempenho do trabalho (Oliveira, 2020, p. 7).

Destaca Oliveira (2020) que o trabalho de enfermeiros nas áreas rurais da APS, possuem uma dinâmica de trabalho diferenciada, a qual é condicionada pelas características próprias da ruralidade e também pelas dificuldades inerentes às condições de vida e de saúde da população que demanda cuidados em saúde.

Esse ponto nos pressupõe delicada atenção, pois o papel dos enfermeiros na área rural, vai além da prática acadêmica, pois estes profissionais precisam entender também as particularidades da comunidade, as tradições, as características dessa população, para que possam transmitir segurança e confiança e consigam desenvolver seu trabalho com maestria.

Para Sousa (2021, p. 277 e 278):

[…] identificar o cuidado em saúde no meio rural como multifacetado, fundamentado em práticas que se sobrepõem ao sistema oficial de saúde, sendo portanto necessário que os profissionais de enfermagem se envolvam nos processos desenvolvidos no seu território, a fim de realizar trocas e criar vínculos que viabilizem o diálogo entre o sistema oficial de saúde e o popular no território, na perspectiva de fortalecer a qualidade de vida da população. 

É importante que o profissional enfermeiro se aproprie das normativas referentes ao contexto da saúde rural, assim como busque se atualizar sobre possibilidades terapêuticas que já são cientificamente reconhecidas, a fim de interagir com a identidade do território com que trabalham, ocupando um espaço de referência e diálogo entre os saberes existentes (Sousa, 2021, p. 277 e 278).

Segundo Silva (2021) deve-se atentar ao cuidado cultural no contexto das famílias rurais, que é desenvolvido pela enfermagem, pois deve englobar a capacidade do enfermeiro de incorporar a cultura dos sujeitos rurais no desenvolvimento da sua prática, alinhando saberes populares e científicos, o que é permeado por entraves, que se relacionam à deficiência no processo formativo do enfermeiro para a atuação em âmbitos rurais.

“Os desafios de prestar cuidados de enfermagem qualificados, de forma oportuna e humanizada, aos indivíduos, famílias e comunidades que vivem em áreas rurais são complexas em sintonia com as formas de vida da contemporaneidade” (Lima, 2020, p. 10).

Adequar as realidades de muitas comunidades rurais, que vivem exatamente como há 50 anos atrás, é um desafio a ser superado; pois olhamos o hoje, como se já fosse o amanhã, e alinhar práticas passadas com práticas atuais e que encontram-se em constante mudanças não é um trabalho fácil, por isso os enfermeiros que trabalham na área rural, são diferenciados, são profissionais voltados a necessidade do paciente, cultivando seus saberes, suas crenças, espiritualidades, associados à ciência atual e em constante atualização.

Assevera Silva (2021, p. 9) que:

No entanto, ressalta-se a importância do desenvolvimento, pela Enfermagem, de estudos que abordem a saúde da população rural, tanto devido à lacuna existente sobre a sua atuação nesses contextos quanto devido às suas particularidades e vulnerabilidades requererem atenção, o que aponta para um leque de possibilidades de investigação para os pesquisadores devido à necessidade de ampliação do conhecimento nesse campo de estudos. Destaca-se, ainda, a necessidade desses estudos para a prática profissional da Enfermagem em âmbito rural, pois explorar os estudos que a Enfermagem desenvolve sobre essa temática, bem como as práticas de cuidado que os enfermeiros rurais realizam, contribui para nortear as ações dos enfermeiros, bem como para aumentar o corpo de conhecimentos da ciência da Enfermagem (Silva, 2021, p. 9).

Conclui-se na necessidade de mais enfermeiros trabalhando na área rural e desempenhando com expertise seu labor, para que essas pessoas que já são geograficamente desprovidas de muitos outros serviços necessários e essenciais, possam usufruir de qualidade de vida e bem-estar e possam viver e envelhecer com dignidade e acolhimento.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise realizada neste trabalho pode contribuir para que a saúde da população rural seja tratada de maneira adequada e eficiente, onde todas as pessoas possam ter os mesmos acessos à saúde e deixem de ser desprovidas de serviços públicos básicos e tenham a garantia igualitária de saúde.

Neste trabalho destacamos a importância do trabalho desenvolvido pelo profissional de saúde junto a população rural, onde este deve realizar uma escuta ativa junto ao morador rural, deve se atentar para as suas tradições, seus costumes, suas crenças, para que juntos possam considerar os fatores relevantes para realizar um tratamento adequado, mostrando respeito pelo paciente e demonstrando como a ciência pode ajudar no restabelecimento da saúde do paciente, corroborando na junção de fatores capazes de tornar a saúde rural cada vez acessível e digna, com acolhimento voltado de forma integral e central nas demandas do paciente, que por meio da implementação de novos modelos busca entregar resultados que atendam aos anseios da comunidade rural. 

Outro ponto relevante abordado no trabalho foi a baixa participação de profissionais de saúde, em especial abordamos o enfermeiro, nos trabalhos nas áreas rurais, os desafios da profissional devido as condições geográficas, falta de matérias básicos, falta de auxílios e capacitações constantes, que motivem os profissionais a procurarem trabalho nas comunidades rurais; e essa participação é um fator decisivo para que as demandas necessárias sejam implementadas pelos Governos, para que a população receba um atendimento com qualidade e com eficiência e cada vez mais enfermeiros possam trabalharem na zona rural.   

Os resultados evidenciaram diferenças no acesso da população rural a ações ofertadas na área da saúde, os quais devem ser ampliados de forma crescente, para que essa população tenha um atendimento equânime.

Nessa revisão da produção científica sobre o sistema de cuidado familiar rural e o trabalho da enfermagem junto à comunidade rural, constatou-se uma carência de estudos nessa perspectiva, e este trabalho insere-se nessa lacuna e visa contribuir nessas discussões, para que os impactos positivos dos cuidados da saúde à população rural, possam ser ampliados com equivalência e a efetividade que todo cidadão merece, de modo que esse tema tão importante seja executado plenamente, tornando-se imprescindível que novos estudos sejam realizados sobre a população rural, a fim de levantar dados que subsidiem políticas  públicas  de  melhoria  de acesso à saúde da população rural.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CEOLIN, Teila et al. Sistema de cuidado à saúde de famílias rurais. 2021. Disponível em: https://guaiaca.ufpel.edu.br/bitstream/handle/prefix/13308/Sistema%20de%20cuidado%20%C3%A0%20sa%C3%BAde%20de%20fam%C3%ADlias%20rurais.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 5 mar. 2025.

DIEHL, Tamires Viviane Aparecida et al. Gestão do cuidado às condições crônicas no rural sob a coordenação de enfermeiras. Revista Gaúcha de Enfermagem, v. 42, p. e20200298, 2021. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rgenf/a/GKdbK6x5BVmfmB5f8pm956h/?lang=pt. Acesso em: 5 mar. 2025.

LIMA, Ângela Roberta Alves et al. Interfaces da Enfermagem no cuidado rural: Revisão Integrativa. Texto & Contexto-Enfermagem, v. 29, p. e20180426, 2020. Disponível em: https://www.scielo.br/j/tce/a/yCKRvttWhbPdT9kp5rNXvdn/?lang=pt&format=html. Acesso em: 5 mar. 2025.

MAGALHÃES, Denise Lima et al. Acesso à saúde e qualidade de vida na zona rural. Research, Society and Development, v. 11, n. 3, p. e50411326906-e50411326906, 2022. Disponível em: https://rsdjournal.org/index.php/rsd/article/view/26906. Acesso em: 8 mar. 2025.

MIRANDA, Sérgio Vinícius Cardoso de; Duraes, Pamela Scarlatt; Vasconcellos, Luiz Carlos Fadel de. A visão do homem trabalhador rural norte-mineiro sobre o cuidado em saúde no contexto da atenção primária à saúde. Ciência & Saúde Coletiva, v. 25, p. 1519-1528, 2020. Disponível em: https://www.scielosp.org/article/csc/2020.v25n4/1519-1528/pt/. Acesso em: 8 mar. 2025.

OLIVEIRA, Arleusson Ricarte de et al. A Atenção Primária à Saúde no contexto rural: visão de enfermeiros. Revista Gaúcha de Enfermagem, v. 41, p. e20190328, 2020. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rgenf/a/SjnTdGKKdDnLsh8CzNVB8nM/?lang=pt. Acesso em: 8 mar. 2025.

SILVA, Bruno Neves da et al. Estado da arte da produção stricto sensu da enfermagem brasileira sobre saúde da população rural. Escola Anna Nery, v. 25, n. 4, p. e20200487, 2021. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ean/a/4Hq8Nfc8Wr5ZFyjn546mXnq/?lang=pt. Acesso em: 5 mar. 2025.

SOARES, Amanda Nathale et al. Cuidado em saúde às populações rurais: perspectivas e práticas de agentes comunitários de saúde. Physis: Revista de Saúde Coletiva, v. 30, n. 03, p. e300332, 2020. Disponível em: https://www.scielo.br/j/physis/a/HmLCdCPxhqRMT4RX3kwf6Xt/?lang=pt. Acesso em: 8 mar. 2025.

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SCHEK, Gabriele; Mix, Pulo Roberto; Kochhann, Daniele. O sistema de cuidado familiar no contexto rural: contribuições para a enfermagem. Revista Recien-Revista Científica de Enfermagem, v. 11, n. 35, p. 340-346, 2021. Disponível em: https://www.recien.com.br/index.php/Recien/article/view/462. Acesso em: 4 mar. 2025.

Abbas, Amira. Considerações sobre o sistema de cuidado familiar rural e a atuação da enfermagem no contexto rural.International Integralize Scientific. v 5, n 46, Abril/2025 ISSN/3085-654X

Referencias

BAILEY, C. J.; LEE, J. H.
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Clinical infectious diseases.
v. 67
n. 7
p. 1208-1216,
2021.
Disponível em: https://academic.oup.com/cid/article/67/7/1208/6141108.
Acesso em: 2024-09-03.

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