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Resumo
INTRODUÇÃO
A crescente presença da Inteligência Artificial (IA) na educação tem gerado debates sobre seus impactos no ensino e na aprendizagem, especialmente no desenvolvimento da escrita na Educação Básica. A escrita é um processo reflexivo e contínuo que permite a compreensão da realidade e a participação na sociedade letrada (Salino; Gomboeff, 2021). Enquanto prática social, conforme Salino e Gomboeff (2021), contribui para a ampliação do repertório linguístico, a organização das ideias e o desenvolvimento da consciência sobre a língua e seu papel. Além disso, garante o direito à palavra e ao pensamento crítico, tornando-se um meio essencial para a inserção social e a construção do sujeito. Nesse cenário, a IA surge como uma ferramenta capaz de apoiar o ensino da escrita por meio de feedback automatizado, personalização da aprendizagem e fortalecimento do letramento digital (Barbosa, 2023; Costa Junior et al., 2023; Tavares, Meira, Amaral, 2020). No entanto, seu uso também levanta desafios pedagógicos, éticos e metodológicos que precisam ser analisados com atenção.
Estudos recentes têm explorado o impacto da Inteligência Artificial (IA) na educação, abordando sua contribuição para a alfabetização, o desenvolvimento do letramento digital e a formação docente para lidar com novas tecnologias. Peixoto e Paiva (2024) discutem os desafios éticos da IA no ensino básico, destacando questões como privacidade dos dados dos alunos, possíveis vieses algorítmicos e a necessidade de regulamentação para evitar desigualdades no acesso a essas ferramentas. Segundo os autores, embora a IA tenha potencial para personalizar o ensino e oferecer suporte individualizado aos estudantes, sua implementação precisa ser acompanhada de diretrizes claras para evitar impactos negativos na autonomia dos alunos e no papel do professor na mediação do aprendizado.
Por sua vez, André, Azevedo e Andrade (2024) analisam como a IA pode promover a inclusão digital na educação, enfatizando que a eficácia dessas tecnologias depende da formação adequada dos professores e da disponibilidade de infraestrutura tecnológica nas escolas. Os autores argumentam que, sem uma capacitação específica para o uso pedagógico da IA, há o risco de que as ferramentas sejam subutilizadas ou reforcem desigualdades já existentes no sistema educacional. Além disso, ressaltam que a IA pode auxiliar na produção textual dos alunos, oferecendo feedback imediato sobre erros gramaticais e estruturais, incentivando a revisão e aprimoramento da escrita.
No entanto, ainda há lacunas na investigação sobre a efetividade dessas ferramentas em diferentes contextos escolares. Peixoto e Paiva (2024) apontam que poucos estudos analisam o impacto da IA no desenvolvimento da autonomia dos alunos no processo de escrita, ou seja, até que ponto essas ferramentas ajudam ou prejudicam a construção de habilidades críticas e autorais na produção textual. Já André, Azevedo e Andrade (2024) destacam a necessidade de políticas públicas e parcerias institucionais para viabilizar o uso sustentável da IA na educação básica, garantindo que seu potencial não seja limitado por barreiras tecnológicas ou falta de suporte pedagógico.
Além disso, um artigo recente publicado no El País (2025) ressalta que a adoção da IA na educação apresenta tanto oportunidades quanto desafios, sendo essencial uma formação contínua baseada em evidências para assegurar o sucesso dessa integração. A reportagem aponta que, enquanto a IA pode otimizar a aprendizagem e democratizar o acesso ao conhecimento, sua implementação sem uma abordagem pedagógica estruturada pode gerar dependência excessiva dos alunos em relação às ferramentas tecnológicas, reduzindo sua capacidade de reflexão crítica sobre os textos que produzem. Diante desse cenário, o problema de pesquisa que orienta este estudo é: como a inteligência artificial está sendo utilizada para apoiar o ensino da escrita na Educação Básica, e quais são seus impactos, desafios e perspectivas futuras?
A justificativa para esta investigação reside na necessidade de compreender melhor as potencialidades e limitações do uso da IA no ensino da escrita, contribuindo para a elaboração de práticas pedagógicas mais eficazes e eticamente fundamentadas. O objetivo geral deste estudo é analisar, a partir de uma revisão bibliográfica, como a inteligência artificial está sendo utilizada para apoiar o ensino da escrita na Educação Básica, destacando seus impactos, desafios e perspectivas futuras. Para isso, pretende-se: (i) identificar as principais abordagens do uso da IA no ensino da escrita; (ii) examinar os efeitos dessas tecnologias na aprendizagem dos estudantes; e (iii) discutir os desafios enfrentados pelos docentes na integração da IA ao ensino da escrita. Metodologicamente, trata-se de uma pesquisa qualitativa de caráter bibliográfico, que se baseia na análise de produções acadêmicas recentes sobre o tema. As fontes utilizadas incluem artigos científicos, dissertações, teses e relatórios institucionais que investigam a relação entre IA e ensino da escrita na Educação Básica.
Este artigo está organizado em quatro seções, além desta introdução. A segunda seção apresenta uma revisão da literatura sobre o uso da IA à educação, com ênfase no ensino da escrita. Na terceira seção, discutem-se os impactos e desafios identificados na literatura, analisando suas implicações pedagógicas e éticas. A quarta seção propõe perspectivas futuras e caminhos para pesquisas adicionais. Por fim, nas considerações finais, sintetizam-se os principais achados e destaca-se a relevância do tema para o avanço das práticas educativas mediadas por inteligência artificial.
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL NA EDUCAÇÃO: CONCEITOS E APLICAÇÕES
A Inteligência Artificial (IA) tem revolucionado diversos setores da sociedade, e a educação não é exceção. Com o avanço das tecnologias digitais, a IA vem sendo incorporada ao ensino de maneira progressiva, possibilitando novas abordagens pedagógicas e oferecendo suporte tanto para alunos quanto para professores (Fernandes et al., 2024). No contexto educacional, a IA é utilizada para personalizar o ensino, automatizar processos de correção e avaliação, além de fornecer feedback imediato e adaptado às necessidades dos estudantes (Farias, 2024). Para De Sá et al. (2024), seu impacto no ensino de línguas e no desenvolvimento da escrita tem sido um dos campos mais promissores, trazendo benefícios significativos, mas também desafios a serem superados.
No contexto educacional, a IA pode ser definida como o uso de tecnologias que simulam processos cognitivos humanos, como aprendizado, raciocínio e tomada de decisão (Melo; Moreno, 2024; Gomes et al., 2024; Farias, 2024). Uma das principais características dessa tecnologia na educação é sua capacidade de aprendizagem adaptativa (adaptive learning), permitindo que plataformas educacionais ajustem o conteúdo e a metodologia de ensino de acordo com o desempenho do aluno (Luckin, 2018). Com isso, o ensino torna-se mais personalizado, possibilitando que os estudantes avancem no próprio ritmo e recebam suporte específico para suas dificuldades. Além disso, a IA pode auxiliar na análise de desempenho acadêmico, fornecendo insights para educadores e instituições sobre o progresso dos alunos e possíveis intervenções pedagógicas necessárias.
As aplicações da IA na educação são diversas e incluem desde sistemas de tutoria inteligente até assistentes virtuais que auxiliam no aprendizado. Softwares como Carnegie Learning e Squirrel AI, por exemplo, oferecem ensino personalizado ajustando exercícios conforme a evolução do estudante (VanLehn, 2011). Chatbots e assistentes virtuais, como ChatGPT e Siri, desempenham um papel relevante no suporte ao aprendizado, respondendo dúvidas, oferecendo sugestões de estudo e auxiliando na revisão textual (Woolf, 2020). Além disso, ferramentas como Grammarly e Turnitin possibilitam correção automatizada de textos, permitindo que os alunos aprimorem suas habilidades de escrita com feedback imediato (Burstein et al., 2018).
Outro campo de aplicação importante da IA na educação é o aprendizado adaptativo. Plataformas como Knewton e DreamBox utilizam algoritmos avançados para criar trajetórias de aprendizado personalizadas, analisando erros e acertos dos alunos e ajustando os conteúdos conforme suas necessidades (Kay, 2022). Além disso, a gamificação e a realidade aumentada vêm sendo incorporadas a sistemas de ensino, tornando a aprendizagem mais interativa e engajante. O aplicativo Duolingo, por exemplo, utiliza IA para ensinar idiomas por meio de exercícios dinâmicos e feedback instantâneo, adaptando o nível de dificuldade de acordo com o progresso do usuário (Von Ahn, 2013).
No que diz respeito ao ensino de línguas e ao desenvolvimento da escrita, a IA desempenha um papel fundamental. Tecnologias baseadas em Processamento de Linguagem Natural (PLN) têm permitido avanços significativos na aprendizagem de idiomas e na melhoria da competência escrita dos alunos. Plataformas como Duolingo e Babbel aplicam IA para adaptar exercícios de acordo com o desempenho do usuário, incorporando técnicas de reforço espaçado para aprimorar a retenção de vocabulário e a prática da pronúncia (Von Ahn, 2013). Paralelamente, ferramentas de correção ortográfica e gramatical, como Grammarly e LanguageTool, ajudam estudantes a identificar erros comuns e a melhorar sua escrita.
Além da correção ortográfica e gramatical, a IA também pode contribuir para o desenvolvimento do estilo e da coesão textual. Softwares como o Hemingway Editor analisam textos e destacam estruturas complexas, incentivando uma escrita mais clara e objetiva. Outras ferramentas, como o ChatGPT, auxiliam na construção de parágrafos, organização de argumentos e sugestão de referências, funcionando como suporte para a elaboração de redações e artigos acadêmicos. Essas tecnologias não apenas corrigem textos, mas também oferecem explicações detalhadas sobre os erros cometidos, permitindo que os alunos aprendam com as correções e desenvolvam maior autonomia na escrita (Shermis et al., 2018).
Apesar dos inúmeros benefícios, a incorporação da IA no ensino da escrita e das línguas apresenta desafios. Um dos principais riscos é a dependência excessiva dos alunos em relação às ferramentas automatizadas, o que pode prejudicar o desenvolvimento da autonomia na produção textual (Gomes et al., 2024; Farias, 2024). Além disso, a eficácia dessas tecnologias pode variar conforme o contexto escolar e o nível de letramento digital dos estudantes (Burstein et al., 2018; Russell; Norvig, 2021). Para que a IA seja efetivamente integrada ao ensino, é fundamental que professores sejam capacitados para utilizá-la de maneira crítica e estratégica, garantindo que sua implementação ocorra de forma equilibrada e complementar à instrução pedagógica tradicional (De Sá et al., 2024).
A Inteligência Artificial tem se consolidado como uma ferramenta poderosa no campo da educação, proporcionando novas possibilidades para a personalização do ensino e aprimoramento das competências linguísticas e escritas dos estudantes (Fernandes et al., 2024). No entanto, sua implementação exige um planejamento cuidadoso, levando em conta questões pedagógicas, éticas e estruturais. A integração da IA no ensino da escrita pode ser altamente benéfica se utilizada de forma equilibrada, complementando o papel do professor e incentivando a autonomia dos alunos no desenvolvimento de suas habilidades textuais (Farias, 2024). Pesquisas futuras devem aprofundar a investigação sobre a eficácia dessas tecnologias em diferentes contextos escolares, bem como os impactos de longo prazo na aprendizagem e no desenvolvimento crítico dos estudantes.
IMPACTOS DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL NO ENSINO DA ESCRITA
A integração da IA em processos pedagógicos tem levantado questionamentos sobre seus impactos na aprendizagem, na autonomia dos estudantes e na formação docente. Com o uso crescente de ferramentas baseadas em IA, é essencial analisar de que forma essas tecnologias contribuem para o desenvolvimento das habilidades escritas e em quais contextos seu uso pode ser mais adequado (Pires, 2024).
Uma das principais contribuições da IA para o ensino da escrita é seu uso como ferramenta pedagógica, especialmente no fornecimento de feedback automatizado. Softwares equipados com IA podem corrigir erros gramaticais, sugerir melhorias estilísticas e até oferecer sugestões de reescrita baseadas em coerência e clareza textual (Fernandes, 2024). Esse suporte contínuo permite que os alunos recebam orientações personalizadas em tempo real, promovendo um processo de aprendizagem mais dinâmico e eficiente (Fernandes, 2024). No entanto, é fundamental que esse suporte seja utilizado como complemento ao processo cognitivo do estudante, e não como um substituto da reflexão crítica. Estudos, como os de Luckin et al. (2018), destacam que a mediação pedagógica ainda é indispensável para garantir que os alunos compreendam e internalizem as sugestões fornecidas pela IA.
Outro ponto central desse debate é a relação entre a IA e o desenvolvimento da autonomia e do pensamento crítico dos alunos (Silva; Rottava, 2024). Se, por um lado, a IA pode ser um suporte valioso, ajudando na estruturação de ideias e na organização textual, por outro, é necessário considerar a importância do esforço cognitivo envolvido no processo de escrita (Fernandes, 2024). Segundo Levy (2021), o aprendizado significativo ocorre quando há engajamento ativo do estudante na produção textual. Assim, a IA deve ser utilizada como uma ferramenta de apoio, e não como uma solução automática, para que o aluno desenvolva suas próprias habilidades de argumentação e expressão.
Além disso, a IA apresenta um potencial significativo para promover a inclusão digital e a acessibilidade no ensino da escrita. Ferramentas de conversão de fala em texto, assistentes virtuais e softwares de adaptação textual podem beneficiar alunos com dificuldades de aprendizado, transtornos como dislexia ou deficiências motoras que dificultam a escrita convencional (Silva; Rottava, 2024). Estudos como os de Rose e Meyer (2002), no campo do Design Universal para a Aprendizagem (DUA), ressaltam a importância de tecnologias adaptativas para tornar o ensino mais inclusivo. Dessa forma, a IA pode ser um recurso poderoso para ampliar oportunidades educacionais, desde que seja implementada de maneira equitativa e atenta às necessidades individuais dos alunos.
Os impactos da IA também se estendem à formação docente, trazendo desafios e oportunidades para os professores. A introdução dessas tecnologias exige que os educadores desenvolvam novas competências para integrar ferramentas de IA ao ensino de maneira crítica e eficaz (Carvalho, 2024; Fernandes, 2024). Além disso, o papel do professor se reconfigura: em vez de apenas corrigir textos, ele passa a atuar como mediador do processo de escrita, ajudando os alunos a interpretar o feedback automatizado e aprimorar suas habilidades de forma consciente. Conforme apontam Selwyn (2019) e Passey (2020), a IA não deve ser vista como um substituto do trabalho docente, mas como um elemento que pode otimizar a prática pedagógica, desde que acompanhada de formação contínua e infraestrutura adequada.
Dessa forma, a IA se apresenta como uma aliada poderosa no ensino da escrita, desde que utilizada com intencionalidade pedagógica e equilíbrio (Da Silva et al., 2024). Para Fernandes (2024), seu impacto dependerá da maneira como for integrada ao processo educativo, garantindo que a tecnologia potencialize a aprendizagem sem comprometer o desenvolvimento da autonomia e do pensamento crítico dos estudantes. Como destacam pesquisadores da área, a exemplo de Silva; Rottava (2024), a reflexão sobre seu uso deve ser contínua, assegurando que os avanços tecnológicos sejam incorporados de forma ética e inclusiva ao ambiente educacional, sempre em diálogo com a prática docente e o aprendizado significativo dos alunos.
DESAFIOS DA IMPLEMENTAÇÃO DA IA NA EDUCAÇÃO BÁSICA
A implementação da Inteligência Artificial (IA) na Educação Básica representa uma transformação significativa nos processos de ensino e aprendizagem (Gomes et al., 2024). No entanto, esse avanço também enfrenta diversos desafios que precisam ser analisados criticamente. Entre as principais dificuldades estão as barreiras tecnológicas e a desigualdade no acesso, as questões éticas relacionadas à privacidade e ao viés algorítmico, a resistência de professores e alunos ao uso da IA no ensino da escrita, bem como as limitações das ferramentas atuais e a necessidade de adaptação ao contexto escolar (Melo; Moreno, 2024).
Um dos desafios centrais para a integração da IA na Educação Básica é a desigualdade no acesso à tecnologia. Muitas escolas, especialmente as situadas em regiões periféricas ou rurais, ainda enfrentam dificuldades estruturais, como a falta de conexão adequada à internet, a escassez de dispositivos tecnológicos e a carência de formação adequada para docentes e estudantes no uso de ferramentas digitais (De Sá et al., 2024). A introdução da IA pode, portanto, acentuar a exclusão digital, criando um abismo ainda maior entre alunos de diferentes classes sociais (Russell; Norvig, 2021). Para mitigar esses efeitos, é essencial que governos e instituições invistam em infraestrutura tecnológica e capacitação docente, garantindo que a IA seja um recurso acessível a todos.
As questões éticas também representam um obstáculo relevante. O uso de IA na educação levanta preocupações quanto à privacidade dos dados dos alunos, que podem ser coletados e armazenados por sistemas automatizados sem transparência suficiente. Além disso, o viés algorítmico pode perpetuar desigualdades, uma vez que muitos sistemas de IA são treinados com bases de dados que refletem preconceitos sociais e culturais (Fernandes et al., 2024; De Sá et al., 2024). A dependência excessiva dessas tecnologias também pode comprometer a capacidade dos alunos de desenvolver pensamento crítico e autonomia na escrita, reforçando uma postura passiva diante da aprendizagem (Russell; Norvig, 2021). Dessa forma, a implementação da IA deve ser acompanhada por políticas públicas rigorosas que assegurem a segurança e a equidade no ambiente escolar.
Outro fator que pode dificultar a adoção da IA na educação é a resistência de professores e alunos ao uso dessas ferramentas. Muitos docentes temem que a IA substitua seu papel na sala de aula ou sintam-se despreparados para utilizá-la de maneira eficaz. Além disso, alunos podem demonstrar desconfiança quanto à precisão das sugestões geradas por algoritmos e à real contribuição da tecnologia para o aprimoramento da escrita (Russell; Norvig, 2021). Para superar essa barreira, é necessário promover formação docente continuada, enfatizando que a IA deve ser vista como um suporte ao ensino, e não como uma substituição do professor (Fernandes et al., 2024; De Sá et al., 2024).
Por esse ângulo, as limitações das ferramentas atuais e a necessidade de adaptação ao contexto escolar constituem desafios adicionais. Muitas soluções de IA ainda são voltadas para contextos corporativos ou para níveis mais avançados de educação, carecendo de adaptações para o ensino básico (Farias, 2024). Além disso, os sistemas existentes podem apresentar dificuldades para compreender nuances linguísticas e contextuais, limitando sua eficácia na correção de textos e no fornecimento de feedback pedagógico personalizado (Fernandes et al., 2024). Assim, é essencial que o desenvolvimento de ferramentas de IA voltadas para a educação básica considere as especificidades desse nível de ensino e conte com a colaboração de educadores para garantir sua pertinência e eficiência.
Nesse sentido, embora a Inteligência Artificial tenha potencial para revolucionar o ensino da escrita na Educação Básica, sua implementação enfrenta desafios que exigem soluções integradas e reflexivas (Gomes et al., 2024; Farias, 2024). A superação das barreiras tecnológicas, a atenção às questões éticas, a formação de professores e a adaptação das ferramentas ao contexto escolar são fatores essenciais para que a IA possa ser utilizada de maneira efetiva e inclusiva na educação.
PERSPECTIVAS FUTURAS PARA O ENSINO DA ESCRITA COM IA
A inteligência artificial (IA) tem revolucionado diversas áreas do conhecimento, e sua inserção no ensino da escrita apresenta perspectivas promissoras (Russell; Norvig, 2021). Com os avanços tecnológicos e a crescente digitalização da educação, a IA surge como uma ferramenta capaz de personalizar o aprendizado, otimizar a correção de textos e auxiliar na formação de competências linguísticas (Fernandes et al., 2024). No entanto, sua implementação eficaz exige um olhar atento para tendências tecnológicas, políticas educacionais, aprimoramento das ferramentas e a redefinição do papel do professor nesse novo cenário.
Os avanços tecnológicos indicam que a IA será cada vez mais integrada ao ensino, tornando-se um suporte essencial para o desenvolvimento da escrita (Melo; Moreno, 2024). Algoritmos avançados de processamento de linguagem natural já são capazes de oferecer feedback imediato, detectar padrões de erro e sugerir reescritas, promovendo um aprendizado mais dinâmico e eficiente (Gomes et al., 2024). Além disso, o desenvolvimento de sistemas adaptativos permitirá que a IA ajuste suas sugestões conforme o nível de proficiência do aluno, proporcionando um ensino mais inclusivo e acessível (Farias, 2024). Por esse ângulo, o crescimento da IA generativa, por sua vez, levanta desafios quanto à autenticidade dos textos produzidos, exigindo novas abordagens pedagógicas para incentivar a autoria e o pensamento crítico.
No âmbito das políticas educacionais, a integração da IA nas escolas requer diretrizes claras que garantam seu uso ético e equitativo (Russell; Norvig, 2021). Governos e instituições de ensino precisam formular regulamentações que assegurem a proteção de dados dos alunos, evitem vieses algorítmicos e incentivem a capacitação docente para lidar com essas ferramentas. Políticas públicas voltadas à democratização do acesso às tecnologias de IA são fundamentais para evitar a ampliação de desigualdades educacionais, promovendo uma implementação equitativa que beneficie diferentes contextos socioeconômicos.
Uma das maiores promessas da IA no ensino da escrita é sua capacidade de personalização (Gomes et al., 2024). Ferramentas baseadas em IA podem analisar o desempenho individual dos alunos e oferecer planos de estudo ajustados às suas necessidades específicas. Essa abordagem personalizada pode ser especialmente útil para estudantes com dificuldades de aprendizado, permitindo um acompanhamento mais preciso e intervenções pedagógicas mais eficazes (Fernandes et al., 2024). Contudo, a eficácia dessa personalização dependerá do contínuo aprimoramento dos algoritmos, garantindo que os feedbacks gerados sejam coerentes, relevantes e pedagogicamente adequados.
O papel do professor no futuro da educação não será substituído pela IA, mas sim ressignificado (Melo; Moreno, 2024). A IA pode automatizar tarefas mecânicas, como correção gramatical e sugestões de reescrita, liberando tempo para que os docentes se concentrem em aspectos mais complexos da escrita, como argumentação, criatividade e originalidade. Além disso, os professores desempenham um papel essencial na orientação crítica dos alunos sobre o uso da IA, ajudando-os a compreender suas limitações e possibilidades (Farias, 2024). O letramento em IA, que envolve a habilidade de compreender, avaliar e utilizar inteligências artificiais de forma crítica, será uma competência fundamental tanto para docentes quanto para estudantes.
Para que essa revolução tecnológica ocorra de maneira equitativa, é essencial que as políticas educacionais acompanhem o ritmo dos avanços da IA (De Sá et al., 2024). Governos e instituições educacionais devem estabelecer diretrizes claras para a incorporação dessas tecnologias no ensino, garantindo que seu uso seja feito de forma ética, segura e acessível a todos os estudantes. Questões como privacidade de dados, capacitação de professores e equidade no acesso à tecnologia devem ser centrais nas discussões sobre a implementação da IA nas escolas (Gomes et al., 2024). Além disso, é necessário que as políticas públicas incentivem a pesquisa e o desenvolvimento de soluções educacionais baseadas em IA que sejam sensíveis às necessidades pedagógicas e culturais dos diferentes contextos escolares.
Uma das maiores promessas da IA no ensino da escrita é a possibilidade de personalização do aprendizado (Farias, 2024). Com algoritmos cada vez mais avançados, as ferramentas de IA poderão identificar padrões na escrita dos alunos e oferecer feedback adaptado ao seu nível de desenvolvimento. Essa abordagem pode beneficiar especialmente alunos com dificuldades de aprendizado, permitindo que recebam suporte específico para superar suas limitações. No entanto, para que essa personalização seja eficaz, é essencial que a IA seja constantemente aprimorada, reduzindo viés algorítmicos e garantindo que suas sugestões não substituam a criatividade e a autonomia dos estudantes, mas sim as estimulem.
Nesse contexto, o letramento em IA emerge como um elemento essencial para garantir que estudantes e professores possam utilizar essas tecnologias de maneira crítica e produtiva (Fernandes et al., 2024). O letramento em IA refere-se à capacidade de compreender como os sistemas de inteligência artificial funcionam, suas limitações e impactos, permitindo que os usuários avaliem e interpretem os conteúdos gerados por essas ferramentas. Ele se caracteriza pelo desenvolvimento de habilidades analíticas e reflexivas que possibilitam um uso consciente da IA evitando a dependência excessiva e incentivando o pensamento crítico na interação com a tecnologia.
Na educação, o letramento em IA pode atuar como um mediador fundamental na relação entre os estudantes e as ferramentas de escrita baseadas em inteligência artificial (Russell; Norvig, 2021). Ao promover o entendimento sobre os algoritmos utilizados, suas funções e limitações, os alunos são capacitados a utilizar essas ferramentas não apenas como suporte para correção automática, mas também como meios de potencialização de suas próprias habilidades. Professores, por sua vez, ao se apropriarem desses conhecimentos, podem orientar os estudantes para um uso mais estratégico da IA ajudando-os a desenvolver um olhar crítico e criativo sobre a escrita.
Diante dessas inovações, o papel do professor também passará por transformações significativas (Melo; Moreno, 2024). Em vez de ser substituído pela IA, o docente deverá atuar como mediador do aprendizado, utilizando a tecnologia como ferramenta para potencializar o desenvolvimento dos alunos. A capacidade crítica, a criatividade e a empatia continuarão sendo elementos insubstituíveis no processo educativo, e o professor desempenhará um papel essencial na orientação dos estudantes para um uso consciente e produtivo da IA. Dessa forma, é fundamental investir na formação docente, capacitando os professores para integrar as novas tecnologias à sua prática pedagógica de maneira inovadora e reflexiva.
Nesse sentido, as perspectivas futuras para o ensino da escrita com IA são promissoras, mas também demandam uma abordagem cautelosa e bem planejada (Silva, Rottava, 2024). O avanço das tecnologias educacionais, a formulação de políticas públicas adequadas, o aprimoramento da personalização do ensino e a redefinição do papel docente são fatores fundamentais para que a IA contribua efetivamente para o desenvolvimento das habilidades de escrita dos estudantes. Dessa forma, a implementação da IA na educação deve ser acompanhada por uma reflexão contínua sobre seus impactos, garantindo que a tecnologia sirva como um meio de potencialização do aprendizado, e não como um fim em si mesma.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As transformações promovidas pela Inteligência Artificial no ensino da escrita na Educação Básica demonstram tanto seu potencial quanto os desafios que precisam ser enfrentados. A revisão bibliográfica realizada nesta pesquisa evidenciou que as ferramentas baseadas em IA oferecem suporte relevante no desenvolvimento da escrita, auxiliando na correção gramatical, na organização textual e no aprimoramento do estilo. Além disso, a capacidade dessas tecnologias de fornecer feedback imediato favorece a aprendizagem autônoma e contínua dos estudantes, tornando o processo de ensino mais dinâmico e acessível.
No entanto, os desafios relacionados à adoção da IA à educação não podem ser ignorados. Questões como a dependência excessiva das ferramentas digitais, a necessidade de formação docente para o uso adequado dessas tecnologias e as implicações éticas do emprego da IA ao ensino são aspectos que ainda carecem de maior investigação. Além disso, há lacunas no entendimento sobre o impacto dessas tecnologias na autonomia dos estudantes e na construção de um pensamento crítico em relação à produção textual.
Diante dessas reflexões, torna-se essencial aprofundar as investigações sobre a efetividade das ferramentas de IA em diferentes contextos escolares, considerando variáveis como idade dos estudantes, nível de proficiência em escrita e condições socioeconômicas. Pesquisas futuras podem explorar a interseção entre IA e metodologias ativas de ensino, investigando como essas tecnologias podem ser integradas a práticas pedagógicas inovadoras sem comprometer o protagonismo dos alunos no processo de aprendizagem. Além disso, estudos que analisem os impactos da IA à formação docente podem contribuir para o desenvolvimento de estratégias mais eficazes de capacitação de professores.
Assim, embora a Inteligência Artificial represente um avanço significativo para o ensino da escrita, sua implementação requer um olhar crítico e multidisciplinar, que contemple tanto seus benefícios quanto seus desafios. A continuidade das pesquisas sobre o tema permitirá uma melhor compreensão do papel da IA na educação, possibilitando que essa tecnologia seja utilizada de maneira ética, eficiente e alinhada aos princípios de uma educação inclusiva e de qualidade.
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