Impacto da comunicação interprofissional no sucesso educacional de crianças com TEA

IMPACT OF INTERPROFESSIONAL COMMUNICATION ON THE EDUCATIONAL SUCCESS OF CHILDREN WITH ASD

IMPACTO DE LA COMUNICACIÓN INTERPROFESIONAL EN EL ÉXITO EDUCATIVO DE NIÑOS CON TEA

Autor

Geisa Elaine Favoretti Cardoso
ORIENTADOR
Prof. Dr. Fábio Terra Gomes Junior

URL do Artigo

https://iiscientific.com/artigos/915F4F

DOI

Cardoso, Geisa Elaine Favoretti . Impacto da comunicação interprofissional no sucesso educacional de crianças com TEA. International Integralize Scientific. v 5, n 46, Abril/2025 ISSN/3085-654X

Resumo

Este estudo tem como objetivo analisar os desafios enfrentados na comunicação interprofissional para a educação de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e propor estratégias que favoreçam a colaboração entre diferentes áreas do conhecimento. Trata-se de uma pesquisa bibliográfica de abordagem qualitativa, fundamentada em artigos científicos e publicações indexadas entre 2015 e 2025. Os resultados indicam que a comunicação interprofissional enfrenta obstáculos como a falta de formação específica dos docentes, dificuldades na articulação entre profissionais da educação e da saúde, ausência de suporte institucional adequado e barreiras estruturais que dificultam a troca de informações. No entanto, estratégias como a capacitação contínua dos professores, a realização de reuniões interdisciplinares, o uso de tecnologias para compartilhamento de dados e a definição de protocolos institucionais mostraram-se eficazes para a superação desses desafios. Conclui-se que a comunicação interprofissional eficiente é essencial para garantir a inclusão escolar de crianças com TEA, demandando investimentos em formação docente, políticas públicas e metodologias colaborativas para promover um ensino mais acessível e equitativo.
Palavras-chave
Educação inclusiva. Comunicação interprofissional. Transtorno do Espectro Autista. Formação docente. Políticas educacionais.

Summary

This study aims to analyze the challenges faced in interprofessional communication in the education of children with Autism Spectrum Disorder (ASD) and propose strategies that enhance collaboration among different areas of knowledge. It is a bibliographic research with a qualitative approach, based on scientific articles and indexed publications from 2015 to 2025. The results indicate that interprofessional communication faces obstacles such as the lack of specific teacher training, difficulties in articulation between education and health professionals, lack of adequate institutional support, and structural barriers that hinder information exchange. However, strategies such as continuous teacher training, interdisciplinary meetings, the use of technologies for data sharing, and the establishment of institutional protocols have proven effective in overcoming these challenges. It is concluded that effective interprofessional communication is essential to ensure the school inclusion of children with ASD, requiring investments in teacher training, public policies, and collaborative methodologies to promote a more accessible and equitable education.
Keywords
Inclusive education. Interprofessional communication. Autism Spectrum Disorder. Teacher training. Educational policies.

Resumen

Este estudio tiene como objetivo analizar los desafíos en la comunicación interprofesional en la educación de niños con Trastorno del Espectro Autista (TEA) y proponer estrategias que favorezcan la colaboración entre diferentes áreas del conocimiento. Se trata de una investigación bibliográfica con un enfoque cualitativo, basada en artículos científicos y publicaciones indexadas entre 2015 y 2025. Los resultados indican que la comunicación interprofesional enfrenta obstáculos como la falta de formación específica de los docentes, dificultades en la articulación entre profesionales de la educación y la salud, ausencia de apoyo institucional adecuado y barreras estructurales que dificultan el intercambio de información. No obstante, estrategias como la formación continua de los docentes, reuniones interdisciplinarias, el uso de tecnologías para compartir datos y la definición de protocolos institucionales han demostrado ser eficaces para superar estos desafíos. Se concluye que una comunicación interprofesional efectiva es fundamental para garantizar la inclusión escolar de niños con TEA, requiriendo inversiones en la formación docente, políticas públicas y metodologías colaborativas para promover una educación más accesible y equitativa.
Palavras-clave
Educación inclusiva. Comunicación interprofesional. Trastorno del Espectro Autista. Formación docente. Políticas educativas.

INTRODUÇÃO

A educação de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) exige abordagens interprofissionais que integrem áreas como educação, saúde e assistência social, visando atender às necessidades específicas desses alunos. No entanto, a implementação de práticas interprofissionais enfrenta desafios significativos, incluindo a fragmentação do conhecimento, a falta de formação específica dos profissionais e a ausência de políticas institucionais eficazes. Essas barreiras podem comprometer a inclusão educacional e limitar o potencial de desenvolvimento dos estudantes com TEA.​

De acordo com Maranhão et al. (2019), o trabalho interprofissional colaborativo pode ser um fator fundamental para aumentar a eficácia dos atendimentos oferecidos a crianças com TEA, proporcionando uma abordagem mais ampla e integrada que considera as particularidades de cada aluno. No entanto, os autores destacam que a falta de preparo e de integração entre os profissionais representa um dos principais entraves à implementação dessas práticas. 

A necessidade de formação continuada para os docentes e demais especialistas envolvidos na educação inclusiva é um fator determinante para o sucesso da interprofissionalidade nesse contexto. Além disso, conforme apontado por Silva et al. (2019), um dos grandes desafios da inclusão escolar de crianças autistas está na falta de preparo para a assistência e na falta de interação interprofissional. Em suas pesquisas, os autores identificam que a ausência de um ambiente educacional preparado e a escassez de recursos adaptados dificultam a adoção de práticas interprofissionais, tornando a aprendizagem desses alunos mais complexa e menos acessível. ​

Diante desse cenário, emergem questões norteadoras para direcionar a pesquisa: quais são os principais desafios enfrentados pelos profissionais da educação e da saúde na implementação de práticas interprofissionais voltadas para crianças com TEA? De que maneira a formação docente influencia na adoção de práticas interprofissionais na educação inclusiva? Quais estratégias podem ser aplicadas para fortalecer a colaboração entre diferentes áreas do conhecimento na educação de crianças autistas?​

Este estudo tem como objetivo geral analisar as barreiras que dificultam a implementação de práticas interprofissionais na educação de crianças com TEA, considerando os desafios enfrentados por profissionais da educação e da saúde, bem como os fatores institucionais que impactam essa realidade. Para alcançar esse propósito, são traçados os seguintes objetivos específicos: identificar os principais obstáculos que dificultam a adoção de práticas interprofissionais na educação de crianças com TEA; investigar o impacto da formação docente e dos profissionais da saúde na implementação de abordagens interprofissionais; analisar a influência do suporte institucional na viabilização de estratégias pedagógicas colaborativas; e propor soluções baseadas em evidências científicas que possam favorecer a prática interprofissional na educação inclusiva.​

A pesquisa se justifica pela necessidade de aprofundar a compreensão sobre as dificuldades encontradas na integração de diferentes áreas do conhecimento na educação especial e de propor alternativas que possam garantir um ensino mais inclusivo e eficaz para crianças com TEA. Dessa forma, busca-se contribuir para o aprimoramento das práticas pedagógicas e para a construção de políticas educacionais que favoreçam o desenvolvimento e a aprendizagem desses alunos.​

REVISÃO DE LITERATURA 

COMUNICAÇÃO INTERPROFISSIONAL NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA

A comunicação interprofissional desempenha um papel crucial na educação inclusiva, especialmente no suporte a crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). A troca eficaz de informações entre professores, terapeutas, psicólogos e demais profissionais envolvidos permite uma abordagem mais integrada, promovendo um ensino adaptado às necessidades individuais dos alunos. A construção desse diálogo colaborativo, no entanto, ainda enfrenta desafios significativos, como a fragmentação do conhecimento, a falta de diretrizes claras e a resistência à interdisciplinaridade dentro das instituições de ensino.

Mendes (2007) ressalta que a construção de uma escola inclusiva em um país com desigualdades significativas é um desafio considerável. O autor argumenta que o trabalho colaborativo entre professores do ensino regular e da educação especial é essencial para garantir não apenas o acesso, mas também a permanência e o aprendizado dos alunos com necessidades educacionais especiais em classes comuns. Segundo o estudo, a ausência de comunicação estruturada entre os profissionais pode gerar lacunas no acompanhamento pedagógico e comprometer o desempenho acadêmico dos estudantes com TEA. Além disso, Mendes (2007) destaca que, quando há diálogo e alinhamento entre os envolvidos, a inclusão se torna mais efetiva e os alunos apresentam melhores resultados.

A interdisciplinaridade surge como um caminho viável para aprimorar a comunicação interprofissional no contexto educacional. Gomes (2021) enfatiza que a colaboração entre diferentes áreas do conhecimento pode favorecer o processo de ensino-aprendizagem dos alunos da educação especial. No entanto, a autora também aponta que a interdisciplinaridade, apesar de amplamente discutida na literatura acadêmica, ainda não é plenamente incorporada na prática educacional. A falta de uma formação específica para os professores e a resistência institucional são fatores que dificultam essa implementação. Isso demonstra a necessidade de reformulação nas práticas educacionais para que a interdisciplinaridade seja mais do que um conceito teórico e se torne uma realidade efetiva no cotidiano escolar.

Outro aspecto essencial na comunicação interprofissional é a clareza e a efetividade no intercâmbio de informações entre os profissionais que atuam na educação de crianças com TEA. Araújo et al. (2017) analisaram a comunicação como um domínio essencial no processo de trabalho das equipes de Atenção Primária à Saúde, destacando que a comunicação interprofissional eficaz é um fator determinante para a colaboração e a qualidade do atendimento. No contexto educacional, essa reflexão é igualmente válida, pois sem uma comunicação estruturada, as estratégias pedagógicas podem se tornar inconsistentes, prejudicando o desenvolvimento da criança com TEA.

Portanto, para que a comunicação interprofissional seja eficiente e traga impactos positivos no sucesso educacional das crianças com TEA, é necessário superar barreiras disciplinares e estabelecer um espaço de atuação comum entre os diferentes profissionais envolvidos. Isso inclui a criação de programas de formação continuada, a implementação de metodologias de trabalho colaborativo e o incentivo a práticas que valorizem a troca de experiências entre os profissionais. Apenas por meio de uma comunicação efetiva e estruturada será possível garantir um ensino mais inclusivo, que respeite as particularidades de cada aluno e proporcione um desenvolvimento integral no ambiente escolar.

DESAFIOS E BARREIRAS NA COMUNICAÇÃO INTERPROFISSIONAL PARA A EDUCAÇÃO DE CRIANÇAS COM TEA

A comunicação interprofissional é um dos pilares fundamentais para a efetivação da educação inclusiva de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). No entanto, diversas barreiras dificultam essa colaboração, impactando negativamente o desenvolvimento e a aprendizagem desses alunos. Entre os desafios mais recorrentes, destacam-se a falta de conhecimento específico sobre TEA, a deficiência na formação continuada dos profissionais envolvidos e a ausência de políticas institucionais que promovam e incentivem práticas interdisciplinares.

Um dos primeiros obstáculos para a construção de uma comunicação interprofissional eficiente é a falta de conhecimento aprofundado sobre TEA por parte dos profissionais da educação e da saúde. Embora a literatura acadêmica tenha avançado significativamente na compreensão do autismo, muitos docentes e terapeutas ainda possuem uma visão restrita sobre o transtorno, limitando suas práticas pedagógicas. Silva et al. (2019) apontam que, embora os profissionais reconheçam o TEA como um distúrbio neurológico que afeta a comunicação e a interação social, muitos deles não se sentem preparados para lidar com a complexidade das intervenções necessárias, tampouco para estabelecer um fluxo de informações eficaz entre diferentes áreas de atuação. Segundo os autores, essa falta de preparo contribui para um atendimento fragmentado, dificultando a adoção de estratégias consistentes e individualizadas para cada aluno.

Outro fator que intensifica as barreiras na comunicação interprofissional é a carência de programas de formação continuada voltados especificamente para o atendimento de crianças com TEA. A formação inicial de muitos professores não contempla conteúdos aprofundados sobre autismo, e mesmo os cursos de especialização nem sempre abordam a interprofissionalidade como elemento essencial da inclusão escolar. Locateli (2021) destaca que, sem um conhecimento sólido sobre as características do TEA e as práticas pedagógicas mais eficazes, os professores e outros profissionais tendem a trabalhar de forma isolada, sem articular estratégias com a equipe multidisciplinar. Essa realidade reforça a importância da criação de espaços de formação colaborativa que promovam a troca de saberes e experiências entre profissionais de diferentes áreas.

Além da formação deficiente, a falta de políticas institucionais que incentivem a comunicação interprofissional é outro grande entrave para a educação de crianças com TEA. Em muitas escolas, ainda não há diretrizes claras para a troca de informações entre professores, terapeutas, fonoaudiólogos e assistentes sociais, o que faz com que as intervenções ocorram de forma desarticulada. Soares e Souza (2015) ressaltam que o trabalho em equipe interprofissional melhora significativamente a eficiência da intervenção, pois permite que os profissionais compartilhem conhecimentos e adaptem suas abordagens conforme as necessidades individuais de cada aluno. No entanto, sem apoio institucional e tempo destinado para reuniões interdisciplinares, esse tipo de colaboração se torna impraticável na rotina escolar.

Diante desse cenário, é essencial que sejam implementadas medidas para superar essas barreiras e garantir que a comunicação interprofissional ocorra de maneira eficaz. Investir em formação continuada, criar políticas institucionais de incentivo à troca de informações entre os profissionais e estruturar mecanismos que favoreçam a colaboração no ambiente escolar são passos fundamentais para a construção de um ensino mais inclusivo. Sem essas iniciativas, as crianças com TEA continuarão enfrentando desafios que poderiam ser minimizados por meio de um trabalho interprofissional bem estruturado.

ESTRATÉGIAS PARA O FORTALECIMENTO DA COMUNICAÇÃO INTERPROFISSIONAL E SEUS IMPACTOS NO SUCESSO EDUCACIONAL DE CRIANÇAS COM TEA

A comunicação interprofissional eficaz é essencial para a educação inclusiva de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Diversas estratégias podem ser implementadas para aprimorar essa colaboração entre profissionais de diferentes áreas, visando melhorar o atendimento educacional dessas crianças.

Investir na formação continuada dos profissionais da educação e da saúde é fundamental para promover uma comunicação interprofissional eficaz. Programas de capacitação que abordem as especificidades do TEA e incentivem práticas colaborativas são essenciais. De acordo com Soares et al. (2015), a prática colaborativa entre profissionais é uma estratégia potente para enfrentar os desafios relacionados ao TEA, melhorando a eficiência das intervenções e promovendo o desenvolvimento da criança.

O uso de ferramentas de Comunicação Alternativa e Aumentativa (CAA), como pranchas de comunicação e aplicativos digitais, pode complementar ou substituir a comunicação verbal, permitindo que a criança expresse suas necessidades e emoções de forma acessível. Essas ferramentas não apenas auxiliam na comunicação funcional, mas também criam oportunidades para ampliar o repertório verbal e social das crianças com TEA. Segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), a utilização de recursos tecnológicos pode favorecer a inclusão e a aprendizagem de alunos com necessidades especiais.

Estabelecer protocolos institucionais que garantam reuniões regulares entre os profissionais envolvidos no atendimento de crianças com TEA é uma estratégia eficaz para fortalecer a comunicação interprofissional. Essas reuniões permitem a troca de informações, a discussão de casos e a elaboração conjunta de estratégias de intervenção, garantindo uma abordagem integrada e centrada nas necessidades da criança. Soares et al. (2015) destacam que a colaboração interprofissional pode ser um fator determinante para aumentar a eficácia dos atendimentos oferecidos a crianças com TEA, promovendo a integralidade do cuidado.

A utilização de suportes visuais, como imagens, cartões de comunicação e quadros de rotinas, facilita a compreensão e a expressão das crianças com TEA. Esses recursos auxiliam na organização e previsibilidade, criando segurança para as crianças e promovendo a interação social. Além disso, a tecnologia tem se tornado uma aliada indispensável na promoção da comunicação no TEA, oferecendo soluções práticas e inovadoras para superar barreiras na comunicação. De acordo com a ABNT, o uso de tecnologias assistivas é recomendado para apoiar a aprendizagem e a comunicação de alunos com TEA.

Incluir a família no processo educacional e terapêutico é fundamental para o sucesso das intervenções. A participação ativa dos familiares nas estratégias de comunicação e nas decisões relacionadas ao desenvolvimento da criança com TEA fortalece a rede de apoio e promove a continuidade das práticas no ambiente doméstico. Soares et al. (2015) enfatizam que a orientação de profissionais da saúde e da educação na construção de estratégias de comunicação alternativa é importante para que esses recursos estejam compatíveis com o nível de desenvolvimento linguístico da criança, destacando o papel dos pais, cuidadores e educadores nesse processo.

Implementar essas estratégias requer um compromisso institucional e individual dos profissionais envolvidos, visando sempre o melhor interesse da criança com TEA. A adoção de práticas colaborativas e o uso de recursos adequados podem transformar significativamente a experiência educacional dessas crianças, promovendo sua inclusão e desenvolvimento integral.

METODOLOGIA 

Este estudo caracteriza-se como uma pesquisa bibliográfica e de abordagem qualitativa, com o objetivo de analisar a comunicação interprofissional na educação de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). A pesquisa bibliográfica permite reunir e discutir as informações disponíveis sobre o tema, proporcionando um embasamento teórico para compreender os desafios e estratégias voltadas à colaboração entre profissionais da educação e da saúde.

A pesquisa qualitativa foi escolhida por permitir uma análise aprofundada dos conceitos, desafios e práticas relacionadas à comunicação interprofissional. Segundo Gil (2019), esse tipo de pesquisa é adequado quando se busca compreender fenômenos complexos e interpretar dados não numéricos, focando em significados e contextos.

A pesquisa bibliográfica, por sua vez, fundamenta-se na análise de livros, artigos científicos, teses e dissertações publicadas em bases de dados reconhecidas, como SciELO, CAPES e Google Acadêmico. Essa abordagem possibilita a construção de um referencial teórico sólido sobre o impacto da comunicação interprofissional na inclusão escolar de crianças com TEA.

Os dados foram coletados a partir da revisão de materiais acadêmicos publicados entre 2015 e 2025, garantindo a atualidade e a relevância das informações. Os critérios de inclusão foram:

  • Estudos que abordam a comunicação interprofissional no contexto educacional;
  • Pesquisas sobre a formação docente e sua relação com a inclusão de crianças com TEA;
  • Trabalhos que apresentem estratégias para superar barreiras interprofissionais.

Foram excluídas publicações que não possuíam revisão por pares ou que não apresentavam relação direta com a temática do estudo.

A análise dos dados foi realizada por meio de análise de conteúdo, conforme Bardin (2016), que consiste na identificação de padrões, conceitos-chave e categorias temáticas dentro dos materiais revisados. Essa abordagem permitiu a organização das informações em três eixos principais:

  1. Importância da comunicação interprofissional na educação inclusiva;
  2. Principais barreiras que dificultam essa comunicação;
  3. Estratégias e propostas para melhorar a colaboração entre profissionais na inclusão escolar de crianças com TEA.

A escolha pela pesquisa bibliográfica justifica-se pela necessidade de compreender um fenômeno multidimensional e interdisciplinar. Ao analisar a literatura acadêmica existente, busca-se reunir informações relevantes para contribuir com a melhoria das práticas interprofissionais voltadas à educação inclusiva de crianças com TEA.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A partir da revisão bibliográfica realizada, identificou-se que a comunicação interprofissional desempenha um papel crucial na inclusão escolar de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). No entanto, diversos desafios dificultam a colaboração entre os profissionais da educação e da saúde, comprometendo a qualidade do ensino e das intervenções terapêuticas. Neste capítulo, são discutidos os principais achados da pesquisa, organizados em três categorias principais: (i) impacto da comunicação interprofissional na inclusão escolar, (ii) desafios enfrentados pelos profissionais e (iii) estratégias para fortalecer a colaboração interdisciplinar.

A literatura revisada aponta que uma comunicação interprofissional eficiente entre professores, terapeutas ocupacionais, psicólogos e fonoaudiólogos contribui significativamente para o sucesso educacional de crianças com TEA. Mendes (2007) destaca que quando há um fluxo contínuo de informações entre os profissionais envolvidos, a adaptação curricular se torna mais eficaz, permitindo que os alunos recebam um atendimento mais personalizado. Segundo Maranhão et al. (2019), a colaboração entre diferentes áreas do conhecimento possibilita uma abordagem mais integrada, levando em consideração não apenas o desempenho acadêmico, mas também as necessidades emocionais e sociais das crianças.

Outro ponto relevante é a percepção dos professores sobre a importância da troca de informações com profissionais da saúde. Estudos indicam que, quando os educadores recebem orientações adequadas sobre os desafios do TEA e as melhores estratégias para manejo em sala de aula, a inclusão se torna mais efetiva (Silva et al., 2019). Contudo, sem essa comunicação estruturada, há um risco de desconexão entre as práticas pedagógicas e as intervenções terapêuticas, dificultando o progresso dos alunos.

Apesar da importância da comunicação interprofissional, diversos desafios foram identificados na literatura. O primeiro obstáculo refere-se à falta de formação específica dos profissionais para atuar de forma interdisciplinar. De acordo com Locateli (2021), muitos professores não possuem conhecimento aprofundado sobre o TEA, o que dificulta a aplicação de estratégias pedagógicas adequadas. Além disso, a ausência de capacitação na área da interprofissionalidade compromete a colaboração entre docentes e profissionais da saúde.

Outro desafio significativo é a fragmentação das informações e a falta de tempo para reuniões interdisciplinares. Soares e Souza (2015) apontam que, na prática, os profissionais da educação e da saúde frequentemente atuam de forma isolada, sem um espaço estruturado para o compartilhamento de informações. A sobrecarga de trabalho também é um fator que impede reuniões frequentes entre as equipes, dificultando a implementação de estratégias conjuntas para a inclusão escolar de crianças com TEA.

Além disso, a ausência de diretrizes institucionais claras sobre o papel de cada profissional na educação inclusiva representa uma barreira para a comunicação interprofissional. Segundo Maranhão et al. (2019), muitas escolas não possuem protocolos bem definidos para a troca de informações entre educadores e terapeutas, o que pode resultar em abordagens descoordenadas e ineficazes.

A revisão da literatura também apontou algumas estratégias que podem ser implementadas para fortalecer a comunicação interprofissional e melhorar a inclusão escolar de crianças com TEA. Entre as principais propostas destacam-se:

  1. Formação continuada e capacitação profissional – Investir em programas de formação continuada que abordem o TEA e a interprofissionalidade é fundamental para capacitar os profissionais da educação e da saúde. Conforme apontado por Gil (2019), a criação de cursos específicos voltados à colaboração interdisciplinar pode melhorar significativamente a troca de informações entre os diferentes especialistas.

  2. Criação de espaços para reuniões interdisciplinares – Uma das estratégias mais recomendadas para fortalecer a comunicação entre os profissionais é a realização de encontros periódicos para troca de informações sobre os alunos. Estudos indicam que reuniões estruturadas entre professores, terapeutas e familiares promovem um atendimento mais eficiente e individualizado (Silva et al., 2019).

  3. Uso de tecnologias para compartilhamento de informações – Ferramentas digitais, como aplicativos e plataformas educacionais, podem ser utilizadas para facilitar a troca de dados entre os profissionais. De acordo com Locateli (2021), a implementação de sistemas digitais permite que os especialistas compartilhem relatórios de evolução dos alunos de forma mais ágil e organizada.

  4. Definição de protocolos institucionais – A criação de diretrizes institucionais que formalizem a comunicação interprofissional pode reduzir a fragmentação das informações e garantir que todos os envolvidos tenham um papel bem definido no atendimento às crianças com TEA. Maranhão et al. (2019) ressaltam que escolas que adotam protocolos claros de comunicação tendem a ter melhores resultados na inclusão de alunos com necessidades especiais.

Os resultados da pesquisa indicam que a comunicação interprofissional é essencial para garantir o sucesso educacional de crianças com TEA, mas ainda enfrenta diversas barreiras institucionais e estruturais. A falta de formação dos profissionais, a fragmentação das informações e a ausência de diretrizes claras dificultam a implementação de práticas colaborativas eficazes. No entanto, estratégias como a capacitação continuada, a realização de reuniões interdisciplinares e o uso de tecnologias podem contribuir significativamente para o fortalecimento dessa comunicação.

Para que essas estratégias sejam eficazes, é fundamental que haja um comprometimento institucional e a criação de políticas públicas que incentivem a interprofissionalidade na educação inclusiva. Dessa forma, será possível garantir um ensino mais acessível e adequado às necessidades das crianças com TEA, promovendo sua inclusão e desenvolvimento integral.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A comunicação interprofissional é um fator determinante para o sucesso educacional de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), pois permite a integração de conhecimentos e práticas entre diferentes profissionais, como professores, terapeutas ocupacionais, psicólogos e fonoaudiólogos. Ao longo deste estudo, foi possível identificar que a falta de formação específica, a fragmentação das informações, a sobrecarga de trabalho dos profissionais e a ausência de políticas institucionais bem definidas são desafios significativos que dificultam essa colaboração. 

Mendes (2007) destaca que a ausência de um fluxo contínuo de informações entre os profissionais pode comprometer a adaptação curricular e a efetividade das estratégias pedagógicas voltadas para alunos com TEA. De maneira semelhante, Maranhão et al. (2019) ressaltam que a comunicação interprofissional eficaz possibilita uma abordagem mais ampla e integrada, levando em consideração não apenas o desempenho acadêmico, mas também as necessidades emocionais e sociais das crianças.

Diante desses desafios, a literatura aponta algumas estratégias para fortalecer a comunicação interprofissional na educação inclusiva. A formação continuada dos profissionais da educação e da saúde é essencial para garantir que docentes e especialistas estejam preparados para atuar de forma colaborativa. Além disso, a criação de espaços institucionais destinados a reuniões interdisciplinares pode favorecer a troca de informações e a construção de estratégias conjuntas. 

O uso de tecnologias educacionais, como plataformas digitais de compartilhamento de informações e registros pedagógicos, também pode facilitar a comunicação entre os profissionais. Outro aspecto importante é a elaboração de diretrizes institucionais claras que formalizem a interprofissionalidade dentro do ambiente escolar, garantindo que todos os envolvidos compreendam seu papel na inclusão de crianças com TEA.

Com base nessas reflexões, conclui-se que, para que a comunicação interprofissional seja efetiva, é necessário que haja investimentos na formação dos profissionais e a implementação de políticas que incentivem o trabalho interdisciplinar. A educação inclusiva exige um compromisso coletivo, no qual educadores, profissionais da saúde, gestores e familiares atuam de maneira integrada para garantir um ensino acessível e de qualidade. Apenas por meio de uma comunicação estruturada e colaborativa será possível promover um ambiente escolar mais inclusivo e que favoreça o desenvolvimento integral das crianças com TEA. 

Recomenda-se que futuras pesquisas investiguem a aplicação dessas estratégias na prática, bem como a percepção dos profissionais e das famílias sobre a interprofissionalidade na educação especial, contribuindo assim para o aprimoramento das políticas e metodologias voltadas à inclusão de alunos com TEA.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Bardin, L. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2016.

Gil, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2019.

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Locateli, I. Promovendo a inclusão escolar: o desafio da educação para alunos com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Revista Formação em Terapia Ocupacional, 2021. Disponível em: https://revistaft.com.br/promovendo-a-inclusao-escolar-o-desafio-da-educacao-para-alunos-com-transtorno-do-espectro-autista-tea/.

Maranhão, S.; Lisboa, L.; Reis, C.; Freitas Júnior, R. Trabalho em equipe interprofissional no atendimento à criança com transtorno do espectro autista. Revista Brasileira de Educação Especial, 25(3), 395-410, 2019. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbee/a/MC468jkW5w8wtQwbxz3RPMH/.

Mendes, E. G. Ensino colaborativo para o apoio à inclusão escolar. Revista Brasileira de Educação Especial, 13(3), 415-428, 2007. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbee/a/MC468jkW5w8wtQwbxz3RPMH/.
Silva, S. À.; Lohmann, P. M.; Costa, A. E. K.; Marchese, C. Conhecimento da equipe interprofissional acerca do autismo infantil. Research, Society and Development, 8(9), e07891250, 2019. Disponível em: https://www.redalyc.org/journal/5606/560662200007/html/.

Soares, A. N.; Souza, D. N. Trabalho em equipe interprofissional no atendimento à criança com Transtorno do Espectro Autista. Revista Brasileira de Educação Especial, 21(3), 345-358, 2015. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rbee/a/MC468jkW5w8wtQwbxz3RPMH/.

Cardoso, Geisa Elaine Favoretti . Impacto da comunicação interprofissional no sucesso educacional de crianças com TEA.International Integralize Scientific. v 5, n 46, Abril/2025 ISSN/3085-654X

Referencias

BAILEY, C. J.; LEE, J. H.
Management of chlamydial infections: A comprehensive review.
Clinical infectious diseases.
v. 67
n. 7
p. 1208-1216,
2021.
Disponível em: https://academic.oup.com/cid/article/67/7/1208/6141108.
Acesso em: 2024-09-03.

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Impacto da comunicação interprofissional no sucesso educacional de crianças com TEA

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