Avaliação das práticas colaborativas na educação de crianças Com TEA: Uma revisão sistemática

EVALUATION OF COLLABORATIVE PRACTICES IN THE EDUCATION OF CHILDREN WITH ASD: A SYSTEMATIC REVIEW

EVALUACIÓN DE PRÁCTICAS COLABORATIVAS EN LA EDUCACIÓN DE NIÑOS CON TEA: UNA REVISIÓN SISTEMÁTICA

Autor

Geisa Elaine Favoretti Cardoso
ORIENTADOR
Prof. Dr. Fábio Terra Gomes Junior

URL do Artigo

https://iiscientific.com/artigos/D953C5

DOI

Cardoso, Geisa Elaine Favoretti . Avaliação das práticas colaborativas na educação de crianças Com TEA: Uma revisão sistemática. International Integralize Scientific. v 5, n 46, Abril/2025 ISSN/3085-654X

Resumo

Este estudo, de caráter bibliográfico, analisa as práticas colaborativas entre professores, psicopedagogos e terapeutas ocupacionais na educação de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). A pesquisa revisou publicações acadêmicas dos últimos dez anos para identificar estratégias colaborativas, avaliar sua eficácia e mapear desafios na implementação. Os resultados indicam que o Plano Educacional Individualizado (PEI) é uma das principais ferramentas para adaptar o ensino às necessidades dos alunos com TEA, enquanto a formação continuada dos professores e a integração de abordagens terapêuticas no ambiente escolar favorecem o aprendizado e a socialização. No entanto, obstáculos como a falta de formação docente específica, dificuldades na comunicação interprofissional e limitações estruturais comprometem a eficácia dessas práticas. Conclui-se que, apesar dos avanços, a implementação da colaboração interprofissional ainda enfrenta desafios, exigindo investimentos em políticas públicas e novas investigações que fortaleçam essas práticas no contexto escolar inclusivo.
Palavras-chave
Educação Inclusiva. Transtorno do Espectro Autista. Colaboração Interprofissional. Plano Educacional Individualizado. Ensino Adaptado.

Summary

This bibliographic study analyzes collaborative practices among teachers, psycho-pedagogues, and occupational therapists in the education of children with Autism Spectrum Disorder (ASD). The research reviewed academic publications from the past ten years to identify collaborative strategies, assess their effectiveness, and map implementation challenges. The findings indicate that the Individualized Educational Plan (IEP) is one of the main tools for adapting teaching to the needs of ASD students, while continuous teacher training and the integration of therapeutic approaches in the school environment enhance learning and socialization. However, obstacles such as the lack of specific teacher training, difficulties in interprofessional communication, and structural limitations compromise the effectiveness of these practices. It is concluded that, despite progress, the implementation of interprofessional collaboration still faces challenges, requiring investments in public policies and further research to strengthen these practices in inclusive education.
Keywords
Inclusive Education. Autism Spectrum Disorder. Interprofessional Collaboration. Individualized Educational Plan. Adapted Teaching.

Resumen

Este estudio, de carácter bibliográfico, analiza las prácticas colaborativas entre profesores, psicopedagogos y terapeutas ocupacionales en la educación de niños con Trastorno del Espectro Autista (TEA). La investigación revisó publicaciones académicas de los últimos diez años para identificar estrategias colaborativas, evaluar su eficacia y mapear los desafíos en su implementación. Los resultados indican que el Plan Educativo Individualizado (PEI) es una de las principales herramientas para adaptar la enseñanza a las necesidades de los alumnos con TEA, mientras que la formación continua de los docentes y la integración de enfoques terapéuticos en el entorno escolar favorecen el aprendizaje y la socialización. Sin embargo, obstáculos como la falta de formación específica de los docentes, las dificultades en la comunicación interprofesional y las limitaciones estructurales comprometen la efectividad de estas prácticas. Se concluye que, a pesar de los avances, la implementación de la colaboración interprofesional sigue enfrentando desafíos, requiriendo inversiones en políticas públicas y nuevas investigaciones que fortalezcan estas prácticas en el contexto educativo inclusivo.
Palavras-clave
Educação Inclusiva. Trastorno del Espectro Autista. Colaboração Interprofessional. Plan Educativo Individualizado. Enseñanza Adaptada.

INTRODUÇÃO

A educação inclusiva tem se consolidado como um campo de interesse crescente na pesquisa acadêmica, especialmente no que se refere ao ensino de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Entre as abordagens que visam promover um aprendizado mais eficaz, destacam-se as práticas colaborativas entre psicopedagogos, terapeutas ocupacionais e professores. A colaboração interdisciplinar permite a troca de conhecimentos entre diferentes profissionais, resultando no desenvolvimento de estratégias pedagógicas mais adaptadas às necessidades das crianças com TEA. No entanto, essas práticas não são uniformes e podem variar de acordo com o nível de suporte necessário para cada estudante, conforme estabelecido pelo DSM-5 (níveis 1, 2 e 3). Essa diferenciação impacta diretamente a escolha das estratégias educacionais e terapêuticas, bem como a intensidade da colaboração entre os profissionais envolvidos.

Apesar da relevância dessas abordagens, ainda há desafios significativos a serem superados, como a falta de formação docente para o trabalho colaborativo, dificuldades de comunicação entre profissionais e limitações estruturais dentro das escolas. Ademais, a literatura ainda carece de estudos que analisem como essas práticas se adaptam às diferentes necessidades dos alunos com TEA, considerando os distintos níveis de suporte. Diante desse contexto, torna-se fundamental a realização de uma revisão sistemática da literatura que permita analisar criticamente os estudos existentes sobre práticas colaborativas na educação de crianças com TEA em seus diferentes níveis de suporte. A sistematização do conhecimento disponível possibilita a identificação de padrões, a avaliação da eficácia dessas práticas e o mapeamento das lacunas ainda presentes na pesquisa, contribuindo para a construção de estratégias mais bem fundamentadas e para a ampliação do debate sobre a inclusão escolar.

Para guiar essa investigação, algumas questões se tornam essenciais. Quais são as principais práticas colaborativas documentadas na literatura para a educação de crianças com TEA? Como a interação entre psicopedagogos, terapeutas ocupacionais e professores influencia o processo de ensino-aprendizagem desses estudantes? De que maneira essas práticas variam conforme o nível de suporte necessário para o aluno? Quais são os desafios e lacunas identificadas nas pesquisas sobre práticas colaborativas para crianças com TEA? Essas perguntas orientam a pesquisa e sustentam a necessidade de aprofundamento teórico sobre a temática.

Diante disso, o objetivo geral desta pesquisa é analisar, por meio de uma revisão sistemática da literatura, as práticas colaborativas desenvolvidas entre psicopedagogos, terapeutas ocupacionais e professores na educação de crianças com TEA, considerando os diferentes níveis de suporte necessários. Para alcançar esse propósito, busca-se, especificamente, identificar e categorizar as principais práticas colaborativas descritas na literatura acadêmica sobre a educação de crianças com TEA, avaliar sua eficácia no desenvolvimento educacional e social desses estudantes e mapear os desafios e lacunas na implementação dessas práticas, sugerindo caminhos para futuras pesquisas e intervenções pedagógicas.

O estudo foi conduzido por meio de uma revisão sistemática da literatura, seguindo critérios metodológicos rigorosos para garantir a qualidade e relevância dos estudos analisados. Foram consultadas bases de dados acadêmicas reconhecidas, com critérios bem definidos de inclusão e exclusão de publicações, priorizando aquelas que abordam práticas colaborativas entre psicopedagogos, terapeutas ocupacionais e professores no contexto da educação de crianças com TEA. A análise dos dados seguiu um enfoque qualitativo, permitindo a identificação de padrões e lacunas na literatura existente. A relevância dessa pesquisa está em sua capacidade de subsidiar futuras investigações e contribuir para o aprimoramento das políticas e práticas educacionais voltadas à inclusão escolar, promovendo um ambiente mais acessível e eficiente para crianças com TEA, independentemente do nível de suporte necessário.

REVISÃO DE LITERATURA 

A EDUCAÇÃO DE CRIANÇAS COM TEA E O PAPEL DA COLABORAÇÃO INTERPROFISSIONAL

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição neurodesenvolvimental caracterizada por desafios na comunicação, interação social e padrões comportamentais repetitivos, manifestando-se em diferentes níveis de suporte (DSM-5, 2013). Essa heterogeneidade exige abordagens educacionais que contemplem tanto alunos que necessitam de suporte leve (nível 1) quanto aqueles que demandam apoio substancial (níveis 2 e 3). A colaboração interprofissional entre educadores e especialistas da saúde tem sido amplamente estudada como um fator essencial para a inclusão escolar desses alunos.

Pesquisadores como Lucelmo Lacerda (2023, p. 47) enfatizam que “a educação de crianças com TEA precisa ser fundamentada em práticas baseadas em evidências, pois apenas intervenções estruturadas podem garantir avanços efetivos no desenvolvimento acadêmico e social desses estudantes”. Nesse sentido, a integração entre professores, psicopedagogos e terapeutas ocupacionais possibilita a criação de estratégias pedagógicas mais eficazes, adaptadas às particularidades de cada criança no espectro.

Estudos recentes indicam que a colaboração interprofissional impacta diretamente a qualidade do ensino para alunos com TEA. Romeu e Rossit (2022) identificaram que o envolvimento de diferentes profissionais no planejamento pedagógico não apenas aprimora as práticas educacionais, mas também promove um suporte mais individualizado:

O trabalho colaborativo entre profissionais da educação e da saúde permite a construção de um ambiente escolar mais acessível, favorecendo a adaptação curricular e a implementação de metodologias que atendam às especificidades de cada estudante com TEA (Romeu & Rossit, 2022, p. 112).

Além do impacto direto na aprendizagem, a legislação brasileira reforça a necessidade desse trabalho conjunto. A Lei nº 12.764/2012, conhecida como Lei Berenice Piana, estabelece os direitos das pessoas com TEA, garantindo o acesso à educação e ao atendimento especializado. Segundo essa legislação, cabe ao poder público assegurar a formação continuada dos profissionais envolvidos na educação de crianças autistas, promovendo a articulação entre professores, terapeutas e demais especialistas.

No entanto, a implementação dessas práticas ainda enfrenta desafios significativos. A falta de formação específica sobre TEA para professores da educação básica e as barreiras institucionais dificultam a efetivação da colaboração interprofissional. Segundo Souza e Almeida (2021, p.89), “o desconhecimento das estratégias de ensino para alunos com TEA por parte dos docentes compromete a inclusão plena desses estudantes, reforçando a necessidade de formação continuada e suporte técnico especializado”.

Dessa forma, a colaboração interprofissional se configura como um eixo central para garantir a inclusão de crianças com TEA nos diferentes níveis de suporte. A adoção de práticas colaborativas bem estruturadas pode contribuir significativamente para o sucesso do ensino-aprendizagem, promovendo não apenas avanços acadêmicos, mas também o desenvolvimento social e emocional desses alunos, assegurando-lhes maior autonomia e qualidade de vida.

PRÁTICAS COLABORATIVAS NO CONTEXTO ESCOLAR: ESTRATÉGIAS, BENEFÍCIOS E DESAFIOS

​As práticas colaborativas no contexto escolar são essenciais para a inclusão e o desenvolvimento de estudantes com Transtorno do Espectro Autista (TEA). No entanto, considerando a heterogeneidade do transtorno, as estratégias adotadas devem levar em conta os diferentes níveis de suporte necessários para cada aluno. Enquanto crianças com TEA nível 1 podem se beneficiar de adaptações curriculares e estratégias de mediação social, aquelas nos níveis 2 e 3 frequentemente demandam suporte mais intensivo, incluindo terapias específicas e um acompanhamento mais próximo por parte dos profissionais da educação e da saúde.

Uma das estratégias mais eficazes no contexto escolar é a elaboração do Plano Educacional Individualizado (PEI). Segundo Lacerda (2023, p. 65), “o PEI constitui um documento essencial para orientar a prática pedagógica dos professores, assegurando que as necessidades individuais dos alunos com TEA sejam contempladas no planejamento escolar”. Esse plano é construído de forma colaborativa, envolvendo professores, pais e uma equipe multiprofissional, o que permite um atendimento educacional especializado e alinhado às particularidades de cada estudante. Além disso, o PEI favorece a definição de metas realistas e estratégias de ensino adaptadas, promovendo uma abordagem mais inclusiva.

A integração de diferentes abordagens terapêuticas ao currículo escolar também tem demonstrado impacto positivo. Romeu e Rossit (2022) destacam que a parceria entre professores e terapeutas possibilita ajustes pedagógicos eficazes, garantindo que as atividades escolares estejam alinhadas ao perfil sensorial e cognitivo dos alunos com TEA. Os autores ressaltam ainda que:

A colaboração entre educadores e terapeutas ocupa um papel central na personalização do ensino para alunos autistas, tornando possível a implementação de estratégias que respeitem suas singularidades e favoreçam sua participação ativa no ambiente escolar(Romeu & Rossit, 2022, p. 118).

Os benefícios das práticas colaborativas são amplamente documentados. Além de potencializar o desenvolvimento acadêmico, essa abordagem favorece a socialização e a autonomia dos estudantes com TEA. Segundo Lacerda (2023), o trabalho conjunto entre professores e especialistas permite a formulação de metodologias mais adequadas, que facilitam a aprendizagem e promovem o desenvolvimento socioemocional dos alunos. Essa articulação não apenas fortalece o desempenho acadêmico, mas também amplia a capacidade das crianças de interagir com seus pares e lidar com desafios do cotidiano.

Contudo, a implementação dessas práticas enfrenta desafios significativos. Um dos principais obstáculos é a falta de formação específica dos professores para atuar de forma colaborativa com outros profissionais. Muitos docentes relatam dificuldades para integrar abordagens terapêuticas ao contexto escolar devido à ausência de capacitação adequada. Romeu e Rossit (2022, p. 124) apontam que “a formação inicial dos professores raramente inclui disciplinas que abordem estratégias educacionais para alunos com TEA, tornando a formação continuada uma necessidade urgente”.

Outro desafio crucial é a dificuldade de comunicação entre os profissionais envolvidos. A ausência de uma linguagem comum e a falta de espaços estruturados para troca de informações podem comprometer a eficácia das práticas colaborativas. Segundo Lacerda (2023), a comunicação fragmentada entre educadores, terapeutas e familiares frequentemente resulta em estratégias desalinhadas, reduzindo a efetividade das intervenções no ambiente escolar. Além disso, limitações estruturais, como a escassez de recursos materiais e humanos, representam um entrave significativo para a adoção plena dessas práticas.

Apesar desses desafios, as práticas colaborativas continuam sendo um dos pilares para a inclusão escolar de crianças com TEA. Estratégias como a elaboração do PEI e a integração de abordagens terapêuticas ao currículo demonstram resultados positivos na adaptação do ensino às necessidades dos alunos autistas. Para consolidar essas práticas, é fundamental investir na formação continuada dos professores e promover um fluxo de comunicação mais eficiente entre os profissionais envolvidos. Somente com uma abordagem integrada e bem estruturada será possível garantir uma educação verdadeiramente inclusiva e de qualidade para todos os estudantes.

AVANÇOS E LACUNAS NA PESQUISA SOBRE PRÁTICAS COLABORATIVAS NA EDUCAÇÃO INCLUSIVA

As práticas colaborativas na educação inclusiva têm sido amplamente estudadas no Brasil, evidenciando avanços significativos, mas também lacunas que demandam atenção. Embora a implementação de políticas públicas tenha fortalecido a inclusão escolar, a efetivação dessas práticas ainda enfrenta desafios, especialmente quando se considera a diversidade do Transtorno do Espectro Autista (TEA) e suas diferentes necessidades de suporte. Assim, esta seção sintetiza as principais evidências encontradas em estudos recentes, destacando padrões, eficácia, desafios e sugestões para futuras investigações.

A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (2008) impulsionou a adoção de práticas colaborativas nas escolas brasileiras. Essa política incentiva a criação de redes de apoio e a atuação conjunta de professores do ensino regular e da educação especial, buscando uma inclusão efetiva dos alunos com necessidades educacionais especiais (NEE). Segundo Souza e Santos (2024, p. 87), “a colaboração entre educadores da educação comum e do atendimento educacional especializado favorece um ambiente escolar mais dinâmico e participativo, promovendo melhorias no desempenho acadêmico e social dos estudantes com TEA”. Além disso, estudos indicam que a atuação interdisciplinar contribui para a adaptação curricular e o desenvolvimento de estratégias pedagógicas mais eficazes para alunos com diferentes níveis do espectro (Souza; Santos, 2024).

Entretanto, apesar desses avanços, desafios persistem na implementação eficaz das práticas colaborativas. A formação inicial e continuada dos professores frequentemente não aborda de maneira aprofundada a educação inclusiva, o que resulta em profissionais despreparados para atuar em salas de aula diversas. Giroto e Castro (2011, p.102) alertam que “a ausência de conteúdos específicos sobre inclusão na formação docente compromete a qualidade das práticas colaborativas e limita as possibilidades de ensino efetivo para alunos com TEA”. Além disso, a falta de recursos materiais e humanos, bem como a ausência de uma cultura escolar que valorize a inclusão, continua sendo um obstáculo para a concretização dessas práticas (Martins; Bezerra, 2024).

Outro aspecto pouco explorado na literatura é o impacto das políticas públicas na inclusão de crianças com TEA. Segundo Mendes, Zerbato e Amaral (2017), ainda há uma carência de estudos que analisem, de forma sistemática, a efetividade das diretrizes educacionais voltadas ao ensino inclusivo, especialmente no que diz respeito ao desenvolvimento de estratégias interdisciplinares e ao suporte oferecido aos professores. Para suprir essa lacuna, é necessário que futuras pesquisas investiguem quais metodologias são mais eficazes na formação docente para o trabalho colaborativo, garantindo a integração entre teoria e prática no contexto educacional.

Além disso, o desenvolvimento de instrumentos de avaliação que permitam medir com precisão os resultados das práticas colaborativas é uma área de pesquisa ainda incipiente. Fontenele e Cantero (2024) destacam que:

Embora existam evidências qualitativas sobre os benefícios da colaboração interprofissional na inclusão de alunos com TEA, a ausência de métricas padronizadas dificulta a avaliação objetiva da eficácia dessas práticas(Fontenele & Cantero, 2024, p. 76).

Portanto, há uma demanda urgente por estudos que elaborem protocolos de avaliação mais robustos, permitindo que gestores e educadores possam tomar decisões baseadas em dados concretos.

Embora progressos tenham sido registrados na adoção de práticas colaborativas na educação inclusiva, a necessidade de investimentos contínuos em formação docente, recursos adequados e pesquisas que orientem políticas públicas eficazes é evidente. Apenas por meio de um esforço conjunto entre pesquisadores, educadores e gestores será possível superar as lacunas existentes e garantir uma educação de qualidade para todos os estudantes, independentemente de suas necessidades específicas.

METODOLOGIA 

A presente pesquisa tem caráter bibliográfico e busca compreender as práticas colaborativas entre psicopedagogos, terapeutas ocupacionais e professores na educação de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). O estudo se fundamenta na análise de materiais acadêmicos previamente publicados, permitindo a sistematização do conhecimento existente sobre o tema e a identificação de padrões, desafios e lacunas na literatura. A pesquisa bibliográfica é essencial para compreender a evolução das discussões sobre a colaboração interprofissional no ensino inclusivo, fornecendo subsídios teóricos para a reflexão e para a construção de estratégias educacionais mais eficazes.

A seleção dos materiais foi realizada em bases de dados acadêmicas reconhecidas, como Scielo, Periódicos CAPES, Web of Science e Google Acadêmico, abrangendo artigos científicos, dissertações e teses publicadas nos últimos dez anos (2014-2024). Foram priorizados estudos que abordam práticas colaborativas na educação de crianças com TEA, com ênfase na interação entre professores, psicopedagogos e terapeutas ocupacionais. Os critérios de inclusão consideraram publicações revisadas por pares e que apresentassem análises fundamentadas teoricamente. Estudos que não tratavam diretamente da colaboração interprofissional na educação de crianças com TEA, relatos anedóticos ou sem rigor metodológico, além de pesquisas voltadas exclusivamente para aspectos clínicos do TEA, foram excluídos.

A revisão dos materiais foi conduzida a partir da leitura exploratória e seletiva dos textos, buscando identificar elementos recorrentes e divergências nas abordagens sobre o tema. A análise seguiu um enfoque qualitativo, utilizando a técnica de análise de conteúdo conforme Bardin (2011), permitindo a categorização das informações em três eixos principais: estratégias de colaboração interprofissional, impacto das práticas colaborativas na aprendizagem e no desenvolvimento social das crianças com TEA e desafios enfrentados na implementação dessas práticas. Essa abordagem possibilitou uma leitura crítica dos estudos selecionados, evidenciando contribuições relevantes da literatura acadêmica e apontando caminhos para futuras investigações sobre o trabalho colaborativo no contexto da educação inclusiva.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A revisão da literatura revelou um conjunto significativo de estudos que abordam práticas colaborativas na educação de crianças com TEA. Os achados foram organizados em três eixos principais: (1) Estratégias de colaboração, (2) Impacto das práticas colaborativas e (3) Desafios na implementação.

Os estudos analisados destacam diversas estratégias de colaboração entre professores, psicopedagogos e terapeutas ocupacionais. A construção do Plano Educacional Individualizado (PEI) foi uma das práticas mais mencionadas (Lacerda, 2023), sendo descrita como essencial para garantir um ensino adaptado às necessidades dos alunos com TEA. A elaboração do PEI envolve reuniões frequentes entre os profissionais da educação e da saúde, possibilitando um planejamento pedagógico mais alinhado ao perfil de cada estudante.

Outra estratégia amplamente documentada refere-se à capacitação contínua dos professores para atuar em conjunto com profissionais de outras áreas (Romeu & Rossit, 2022). Estudos indicam que formações em serviço e workshops sobre ensino inclusivo favorecem uma melhor comunicação entre os membros da equipe interdisciplinar, permitindo maior integração das abordagens terapêuticas ao currículo escolar.

Além disso, a implementação de ambientes de aprendizagem estruturados com suporte de terapeutas ocupacionais tem sido eficaz na melhoria do comportamento e da socialização dos estudantes com TEA. Práticas como o uso de rotinas visuais e atividades sensoriais adaptadas foram mencionadas como facilitadoras do aprendizado e da interação social (Silva & Pereira, 2024).

Os estudos revisados evidenciam impactos positivos das práticas colaborativas na aprendizagem e no desenvolvimento social dos alunos com TEA. Souza e Santos (2024) apontam que a atuação conjunta de educadores e terapeutas resulta em um ensino mais individualizado, proporcionando ganhos na comunicação, interação social e aquisição de habilidades acadêmicas.

Além disso, pesquisas demonstram que a colaboração interprofissional aumenta a autonomia dos estudantes com TEA, permitindo que eles desenvolvam habilidades socioemocionais essenciais para a inclusão escolar (Mendes, Zerbato & Amaral, 2017). A presença de diferentes profissionais na rotina escolar possibilita ajustes pedagógicos mais precisos, promovendo um ensino mais responsivo às necessidades do aluno.

Outro aspecto relevante é o impacto na redução de comportamentos desafiadores em sala de aula. Romeu e Rossit (2022) indicam que, quando professores recebem suporte de terapeutas ocupacionais e psicopedagogos, conseguem implementar estratégias para minimizar crises sensoriais e dificuldades de regulação emocional nos alunos com TEA.

Apesar dos benefícios das práticas colaborativas, a revisão revelou desafios significativos. O principal obstáculo identificado é a falta de formação específica dos professores para atuar em equipes interprofissionais (Giroto & Castro, 2011). Muitos docentes relatam dificuldades em integrar abordagens terapêuticas às suas práticas pedagógicas, evidenciando a necessidade de capacitações mais robustas e contínuas.

Outro desafio crítico é a comunicação entre os diferentes profissionais envolvidos. A ausência de uma linguagem comum e a falta de tempo para reuniões periódicas dificultam a implementação eficaz das práticas colaborativas (Lacerda, 2023). Estudos sugerem que a criação de protocolos de comunicação entre professores e terapeutas pode minimizar esses entraves.

Além disso, a escassez de recursos materiais e humanos representa um entrave à efetivação das práticas colaborativas no contexto escolar. Martins e Bezerra (2024) apontam que muitas escolas não possuem estrutura adequada para receber profissionais externos, limitando a realização de atendimentos multidisciplinares.

Por fim, um aspecto frequentemente mencionado na literatura é a necessidade de políticas públicas mais robustas para garantir que as práticas colaborativas sejam implementadas de forma sustentável. A inclusão de disciplinas sobre trabalho interprofissional nos cursos de formação docente e a ampliação de investimentos em suporte especializado são apontadas como estratégias essenciais para superar as barreiras existentes. A revisão sistemática evidenciou que as práticas colaborativas entre professores, psicopedagogos e terapeutas ocupacionais desempenham um papel fundamental na educação de crianças com TEA. O uso do PEI, a capacitação contínua dos docentes e a integração de abordagens terapêuticas ao currículo são estratégias eficazes para promover a inclusão e o desenvolvimento dos alunos. No entanto, desafios como a falta de formação docente, dificuldades na comunicação entre profissionais e limitações estruturais nas escolas ainda precisam ser superados.

Diante das lacunas identificadas, recomenda-se a ampliação de estudos sobre formação docente para o trabalho colaborativo e a implementação de políticas educacionais que incentivem a cooperação interprofissional no contexto escolar. Somente por meio do fortalecimento dessas práticas será possível garantir uma educação inclusiva e de qualidade para crianças com TEA.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa evidenciou a relevância das práticas colaborativas entre professores, psicopedagogos e terapeutas ocupacionais na educação de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). A literatura analisada demonstrou que essa interação entre profissionais contribui para a construção de estratégias pedagógicas mais eficazes e adaptadas às necessidades individuais dos alunos, favorecendo tanto o desenvolvimento acadêmico quanto a socialização. 

O Plano Educacional Individualizado (PEI) surge como um dos principais instrumentos dessa colaboração, permitindo um acompanhamento mais estruturado do processo de ensino e aprendizado. Além disso, a formação continuada dos professores e a incorporação de abordagens terapêuticas ao ambiente escolar mostram-se fundamentais para potencializar os benefícios da inclusão.

No entanto, os desafios ainda são significativos. A falta de formação específica dos professores para atuar em conjunto com outros profissionais e as dificuldades de comunicação entre as equipes são entraves que precisam ser superados. A escassez de recursos e a ausência de uma cultura escolar que valorize o trabalho interprofissional também são fatores que limitam a implementação dessas práticas. A literatura analisada aponta para a necessidade de políticas públicas mais efetivas que incentivem e sustentem essa colaboração no contexto escolar, garantindo apoio técnico e formação adequada aos profissionais envolvidos.

Além de reforçar a importância dessas práticas, o estudo indicou lacunas que precisam ser aprofundadas em futuras pesquisas. A avaliação sistemática dos impactos das práticas colaborativas no longo prazo ainda é pouco explorada, assim como o papel das políticas educacionais na promoção da inclusão de crianças com TEA. 

A continuidade dessas investigações é essencial para aprimorar as estratégias de ensino e consolidar um modelo educacional mais acessível e eficaz. Diante disso, este estudo busca contribuir para o debate sobre a colaboração interprofissional na educação inclusiva, fornecendo subsídios teóricos para fortalecer a atuação conjunta de profissionais e promover um ensino de qualidade para todos os alunos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Lacerda, Lucelmo. Crítica à pseudociência em educação especial: trilhas de uma educação inclusiva baseada em evidências. São Paulo: CRV, 2023.

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Cardoso, Geisa Elaine Favoretti . Avaliação das práticas colaborativas na educação de crianças Com TEA: Uma revisão sistemática.International Integralize Scientific. v 5, n 46, Abril/2025 ISSN/3085-654X

Referencias

BAILEY, C. J.; LEE, J. H.
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Clinical infectious diseases.
v. 67
n. 7
p. 1208-1216,
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Disponível em: https://academic.oup.com/cid/article/67/7/1208/6141108.
Acesso em: 2024-09-03.

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Avaliação das práticas colaborativas na educação de crianças Com TEA: Uma revisão sistemática

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