A relevância da literatura na educação infantil.

A RELEVÂNCIA DA LITERATURA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

A RELEVÂNCIA DA LITERATURA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Autor

Kátia Cristina de Lima e Silva
ORIENTADOR
Prof. Dr. Rodger Roberto Alves de Sousa

URL do Artigo

https://iiscientific.com/artigos/D5B1DC

DOI

Silva, Kátia Cristina de Lima e . A relevância da literatura na educação infantil.. International Integralize Scientific. v 5, n 46, Abril/2025 ISSN/3085-654X

Resumo

Este artigo busca discutir a importância da literatura no ambiente escolar da educação infantil, analisando como a mediação literária, feita por educadores e com o apoio dos familiares, potencializa o processo de aprendizagem e estimula o prazer pela leitura desde os primeiros anos de vida. É essencial que as crianças na fase da educação infantil sejam introduzidas ao universo da literatura mesmo sem dominar a leitura formal, por meio de contos e recontos, para estimular habilidades como linguagem oral e corporal. É importante criar estratégias para tornar a leitura e a literatura atrativas às crianças, de modo a despertar nelas o gosto pela leitura desde cedo e incentivá-las a se tornarem leitoras críticas e criativas. Demonstrando assim como as crianças em fase inicial podem se beneficiar do contato com histórias e do reconto para desenvolver diversas habilidades, durante as atividades em sala de aula.
Palavras-chave
Literatura. Contação de história. Crianças. Educação Infantil.

Summary

This article seeks to discuss the importance of literature in the school environment of early childhood education, analyzing how literary mediation, carried out by educators and with the support of family members, enhances the learning process and stimulates the pleasure of reading from the first years of life. It is essential that children in early childhood education are introduced to the universe of literature even without mastering formal reading, through stories and retellings, to stimulate skills such as oral and body language. It is important to create strategies to make reading and literature attractive to children, in order to awaken in them a taste for reading from an early age and encourage them to become critical and creative readers. Thus demonstrating how children in the early stages can benefit from contact with stories and retellings to develop various skills, during classroom activities.
Keywords
Literature. Storytelling. Children. early Childhood education.

Resumen

Este artículo busca discutir la importancia de la literatura en el ámbito escolar de educación infantil, analizando cómo la mediación literaria, realizada por los educadores y con el apoyo de los familiares, potencia el proceso de aprendizaje y estimula el placer de la lectura desde los primeros años de vida. Es fundamental que los niños en educación infantil se introduzcan en el mundo de la literatura incluso sin dominar la lectura formal, a través de cuentos y narraciones, para estimular habilidades como el lenguaje oral y corporal. Es importante crear estrategias para hacer atractiva la lectura y la literatura a los niños, con el fin de despertar en ellos el amor por la lectura desde temprana edad y estimularlos a convertirse en lectores críticos y creativos. Demostrando así cómo los niños en una etapa temprana pueden beneficiarse del contacto con historias y volver a contarlas para desarrollar diversas habilidades durante las actividades en el aula.
Palavras-clave
Literatura. Narración de historias. Niños. Educación infantil.

INTRODUÇÃO

Ao considerar que a Educação Infantil é definida pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, Lei 9394/96 – art. 29) como a primeira etapa da educação básica, compreende-se que é nesse período que se inicia a interação da criança com o ambiente escolar. Nessa fase, o lúdico assume papel central no cotidiano da sala de aula, estando presente através de brincadeiras; jogos; faz de conta e fantasia. Elementos que integram naturalmente o imaginário infantil.

É nesse universo de imaginação que as histórias infantis se inserem, com o objetivo de despertar e desenvolver o gosto pela leitura. Assim, o incentivo à leitura desde os primeiros anos leva-nos a refletir sobre como a literatura infantil contribui para a formação de leitores, analisando de que maneira a família e a escola podem atuar em parceria nesse processo. De acordo com Bamberguerd (2000), “O desenvolvimento de interesses e hábitos permanentes de leitura é um processo constante, que principia no lar, aperfeiçoa-se sistematicamente na escola e continua pela vida afora.” Por esse motivo, a prática da contação de histórias se apresenta como uma das ferramentas fundamentais para mediar a leitura tanto em sala de aula quanto no ambiente familiar, com o apoio dos responsáveis pela criança.

O presente artigo tem como tema a relevância da literatura na Educação Infantil, abordando os seguintes subtemas: o que é literatura; qual o primeiro contato da criança com ela; a importância da literatura na Educação Infantil; e o papel do professor como mediador literário.

A literatura infantil desempenha um papel essencial no processo de desenvolvimento das crianças. Além de ser fonte de entretenimento e encantamento, constitui uma poderosa ferramenta pedagógica, promovendo o desenvolvimento cognitivo, emocional e social. A inclusão da literatura no cotidiano da Educação Infantil contribui não apenas para a ampliação do vocabulário e da compreensão textual, mas também para o despertar do interesse pela leitura e a formação de leitores críticos e reflexivos.

Diante disso, este artigo busca refletir sobre a importância da literatura na Educação Infantil, destacando suas contribuições para o desenvolvimento global das crianças, bem como o papel da escola e do educador nesse processo. Nesse sentido, entende-se que a literatura é parte integrante do desenvolvimento escolar e da formação humana, pois, por meio do hábito da leitura, possibilita-se à criança desenvolver competências e aptidões fundamentais para enfrentar os desafios do mundo contemporâneo. 

REFERENCIAL TEÓRICO

O QUE É LITERATURA?

Desde antes do nascimento, o indivíduo já pode ser introduzido ao universo da literatura infantil. Ainda no ventre materno, ao ouvir sua mãe recitar um poema, cantar uma canção de ninar ou contar uma história, o bebê estabelece seu primeiro contato com o mundo das palavras, dos sons e das emoções. Essa vivência inicial marca o início de sua trajetória como futuro leitor. Segundo Santos Oliveira (2012, p. 8), “a criança começa a sua trajetória como um ser leitor ainda nos braços dos pais, ouvindo o que eles contam.” Essa escuta afetiva, permeada pela voz dos adultos que a cercam, proporciona as primeiras experiências com o imaginário e a linguagem.

Conforme Abramovich (1993, p. 16, apud Santos; Oliveira, 2012, p. 8), “o primeiro contato da criança com um texto é feito oralmente, através da voz da mãe, do pai ou dos avós, contando contos de fadas, trechos da Bíblia, histórias inventadas (tendo a criança ou os pais como personagens).” Essas narrativas, muitas vezes improvisadas, carregadas de emoção e significado, criam uma conexão entre o afeto e a palavra, fortalecendo laços familiares e construindo uma base sólida para o desenvolvimento da linguagem.

À medida que crescem, as crianças passam a se interessar não apenas pelos sons, mas também pelas imagens. As cores vibrantes, as ilustrações expressivas e os formatos diversos dos livros infantis despertam a curiosidade e promovem o encantamento. Esse contato frequente com os livros, desde os primeiros anos de vida, é essencial para a construção do hábito da leitura e o desenvolvimento da alfabetização visual e textual. Assim, os livros tornam-se instrumentos que, além de apresentarem a palavra escrita, estimulam a imaginação, o raciocínio e a sensibilidade.

O hábito do adulto em ler para a criança, seja em casa ou na escola, é um fator determinante nesse processo. A leitura compartilhada promove vínculos afetivos e oferece modelos de linguagem, ampliando o repertório linguístico e cultural da criança. Além disso, favorece a escuta ativa, a atenção e a capacidade de interpretar o mundo ao seu redor.

Por meio da literatura, a criança passa a identificar-se com os personagens, projetar-se em suas experiências e compreender a realidade a partir de diferentes perspectivas. A leitura literária possibilita que ela construa sentimentos, formule pensamentos, manifeste concordâncias ou discordâncias, e desenvolva sua autonomia interpretativa. Ao ouvir ou ler histórias, a criança descobre que sentimentos como dor, angústia, medo e perda são comuns a todas as pessoas — e, por meio desses relatos simbólicos, aprende a lidar com essas emoções de maneira mais saudável e reflexiva.

Do mesmo modo, a literatura também apresenta sentimentos positivos, como o amor, a amizade, a alegria e a superação. Dessa forma, ela contribui para o entendimento de que, apesar dos conflitos e das tristezas, sempre há espaço para a esperança, para o alívio e para as soluções possíveis. Essa alternância de emoções oferece à criança uma compreensão mais ampla da vida e a prepara para os desafios da convivência e da construção de valores humanos.

A literatura infantil, portanto, vai muito além do entretenimento. Ela é uma poderosa ferramenta formadora que possibilita à criança vivenciar emoções, desenvolver empatia, expressar-se com liberdade e compreender o outro. É por meio dessas experiências simbólicas que a criança se forma como sujeito sensível, crítico e participativo no meio em que vive. 

A narrativa faz parte da vida da criança desde quando bebê, através da voz amada, dos acalantos e das canções de ninar, que mais tarde vão dando lugar às cantigas de roda, a narrativas curtas sobre crianças, animais ou natureza. Aqui, crianças bem pequenas, já demonstram seu interesse pelas histórias, batendo palmas, sorrindo, sentindo medo ou imitando algum personagem. Neste sentido, é fundamental para a formação da criança que ela ouça muitas histórias desde a mais tenra idade. (Bernardinelli; Carvalho, 2011, p. 3).

Outras possibilidades relevantes da literatura infantil se revelam na maneira como ela auxilia a criança a lidar com situações adversas e desafios do cotidiano. Por meio das narrativas literárias, a criança entra em contato com experiências simbólicas que refletem conflitos internos e externos, permitindo que ela compreenda e elabore suas próprias vivências. Nesse sentido, a literatura se apresenta não apenas como um espaço de fantasia, mas também como uma ferramenta para a construção do amadurecimento emocional e social. Como afirma Souza (2017, p. 76-77), “a literatura infantil, além da magia e do sonho, ajuda a criança a entender que o mundo tem obstáculos, mas que é possível superá-los. Ao mesmo tempo, permite a construção de valores como solidariedade, compaixão, amizade.”

A partir dessas vivências simbólicas, a criança pode se identificar com os personagens, refletir sobre as escolhas feitas nas histórias e internalizar valores que contribuirão para a sua formação como sujeito ético e social. As histórias oferecem repertórios emocionais, alternativas de resolução de conflitos e estímulo à empatia. Por isso, a presença da literatura no contexto escolar e familiar é essencial para o desenvolvimento integral da criança.

Mas, afinal, o que é literatura? Esta pergunta nos remete à sua origem e essência. Segundo Ana A. Arguelho de Souza (2017), em sua obra Literatura infantil na escola: a leitura em sala de aula, a literatura antecede a escrita, nascendo da oralidade. A autora destaca que a literatura surgiu “antes dos códigos escritos, através da oralidade, quando os homens só podiam se comunicar através dela e, após isso, foram surgindo os registros escritos.” (Souza, 2017). Ou seja, desde os tempos mais remotos, o ser humano se utilizou da palavra falada para narrar histórias, transmitir conhecimentos e preservar culturas. Somente mais tarde, com o surgimento da escrita, essas narrativas passaram a ser registradas e organizadas em formas textuais, permitindo que fossem acessadas por novas gerações.

A literatura, portanto, é uma manifestação cultural e artística que acompanha a humanidade desde seus primórdios. Quando adaptada ao universo infantil, ela adquire uma linguagem acessível e encantadora, sem perder seu potencial formativo. A literatura infantil é uma porta de entrada para o mundo da imaginação, da linguagem, das emoções e dos valores, contribuindo significativamente para a formação cognitiva, emocional, ética e estética da criança.

Assim, a inserção da literatura na vida das crianças não deve ser vista apenas como um momento recreativo, mas como um ato pedagógico e cultural de grande relevância. Ela promove o letramento literário, amplia o repertório cultural e linguístico, desenvolve o pensamento crítico e estimula a sensibilidade estética. Através das histórias, os pequenos leitores constroem sua visão de mundo, interpretam a realidade e desenvolvem competências fundamentais para a convivência em sociedade. De acordo com a autora:

A arte primitiva de colher e narrar acontecimentos de forma fantasiosa adquiriu, ao longo da história, diversas formas, como fábulas, lendas, […] e um sem fim de relatos orais. Todas essas oralidades, com o decorrer dos tempos, acabaram sendo registradas na forma escrita, compondo o acervo da grande literatura ocidental […] (Souza, 2017, p. 16)

Como complemento, Borges (2010) defende que a literatura é formada a partir da cultura na qual se insere e que ela é a leitura da realidade a qual pertence; é a leitura do modo de vida e comportamento de uma sociedade.“[…] Ela é constituída a partir do mundo social e cultural e, também, constituinte deste; é testemunha efetuada pelo filtro de um olhar, de uma percepção e leitura da realidade, sendo inscrição, instrumento e proposição de caminhos, de projetos, de valores, de regras, de atitudes, de formas de sentir…” (Borges,2010, p. 98).

A IMPORTANCIA DA LITERATURA PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL

É notório que trabalhar com a literatura e a arte de contar histórias configura-se como uma metodologia desafiadora, porém extremamente prazerosa, capaz de evidenciar situações que interferem diretamente no processo de ensino-aprendizagem. Essa prática, especialmente na Educação Infantil, foca no estímulo ao gosto pela leitura desde os primeiros anos escolares, promovendo um contato sensível e significativo com o universo literário. Nesse contexto, a literatura infantil cumpre uma importante função social, conquistando cada vez mais seu espaço e relevância na formação e transformação do sujeito. Como afirmam Matias et al. (2016), a literatura infantil tem uma função social que ganha seu espaço e importância para a transformação do sujeito.

A prática da contação de histórias, nesse cenário, mostra-se uma ferramenta compatível com essa concepção formativa e encantadora. A escritora e contadora de histórias Rosane Volpatto Busatto (2012) reforça essa ideia ao afirmar:

“Particularmente compactuo com essas ideias, acrescentando que o conto de tradição oral, seja ele contos de fada, mito, lenda, fábula ou mito de ensinamento, encanta ou alimenta o nosso imaginário e dá mais brilho ao nosso mundo interior. Ao narrar um conto, se concede ao ouvinte a possibilidade de criar o seu cenário, a sua música e as suas cores. O conto é mesmo uma das formas de expressão artísticas mais democráticas, pois, através dele, cada pessoa constrói a sua história, de comum acordo com seus referenciais e o que eles podem significar para si.” (Busatto, 2012).

Nota-se, então, que a contação de histórias é uma arte que estimula a imaginação e se estabelece como elo entre o mundo real e o universo simbólico. Ao mergulhar no enredo de uma narrativa, a criança vivencia as experiências dos personagens, apropriando-se delas como se fossem suas. Essa imersão amplia sua visão de mundo e fortalece sua experiência emocional. Apesar de o contexto ser fictício, os sentimentos e emoções mobilizados pelas histórias transcendem a ficção e se materializam na vivência real da criança. Nesse sentido, Rodrigues (2005) pontua que os sentimentos e emoções evocados pelas histórias ultrapassam o plano imaginário, tornando-se experiências concretas e impactantes para o desenvolvimento infantil.

Mesmo em contextos com crianças não alfabetizadas, observa-se que o ato de contar e recontar histórias favorece a interação com o texto literário e promove uma vivência estética e simbólica importante para a formação leitora. O envolvimento precoce com livros e com o hábito de ouvir histórias proporciona experiências prazerosas e fundamentais para o desenvolvimento do gosto pela leitura. Para que essa formação seja eficaz, é imprescindível que os livros estejam presentes na rotina diária da criança, conforme destaca Kaercher (2001, apud Cesar et al., 2014): o contato constante com obras literárias e com a prática da escuta de histórias constitui o primeiro passo para a formação de leitores. No entanto, essa tarefa, ainda que essencial, é um grande desafio para os professores, especialmente quando se trata de alunos muito pequenos, cuja atenção e vínculo com a leitura ainda estão em processo de construção.

Compreende-se, assim, que crianças reagem de maneira positiva e ampliam suas experiências de vida quando são expostas a narrativas adequadas, selecionadas conforme sua faixa etária e nível de desenvolvimento. Conforme Dohne (2000, p. 20), ao narrar uma história, o contador brinca com as palavras, conduzindo a criança a múltiplas aprendizagens. A interpretação dos personagens, a entonação da voz e os gestos utilizados despertam sentimentos profundos como alegria, medo, tristeza, espanto ou raiva, favorecendo a formação de uma consciência emocional mais humanizada e empática. Dessa maneira, as histórias se tornam mecanismos interdisciplinares valiosos, pois conectam os pequenos leitores a diferentes épocas, lugares e culturas.

Mesmo as crianças que ainda não dominam a leitura formal demonstram grande curiosidade, interesse e vontade de compreender o mundo ao seu redor. Essa característica natural reforça a importância de proporcionar a elas, constantemente, o acesso à contação de histórias, pois, como destacam Faria et al. (2017, p. 36), essa prática vincula “divertimento, ludicidade e estímulo”, despertando o interesse pelos livros, pela linguagem e pelo processo de aprendizagem como um todo.

Diante disso, os estudiosos da Educação reconhecem e validam a eficácia dessa metodologia, especialmente no contexto da Educação Infantil. A contação de histórias representa uma ponte entre o conhecimento e o afeto, entre a linguagem e a imaginação. Ao ouvir ou contar histórias, o professor não apenas insere os alunos no universo da leitura e da socialização, como também os ajuda a lidar com os múltiplos sentimentos presentes nas narrativas, promovendo, assim, o amadurecimento psicológico e social de cada criança. Nesse sentido, Busatto convida a seguinte reflexão:

 

Que tal estimular os alunos a contar histórias? Além de ser um exercício de socialização, a criança estará desenvolvendo aptidões importantes, como se expressar perante um grupo de pessoas com desenvoltura e domínio de espaço. Ao mesmo tempo estará entrando em contato com os seus afetos, pois ao da forma e expressão aos sentimentos contidos no texto ela aprenderá a lidar com seus, e tudo isso leva, consequentemente, há uma ampliação dos seus recursos internos e há um amadurecimento psicológico (Bussatto,2012, p.40).

 

Sendo assim entende-se que o diálogo entre o professor e alunos, entre alunos e entre alunos de família pressupõem leituras históricas e se constitui em momentos de encontro de indivíduos. Visto que é através da comunicação e do contato com as palavras que sejam orais ou escritas que os indivíduos se transformam e transformam o mundo bem como o seu significado como pessoa humana. A perspectiva da metodologia dialógica busca, dessa forma, atender uma necessidade existencial do diálogo (Freire,1980).

O PROFESSOR COMO MEDIADOR DA LITERATURA

De acordo com o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, no Brasil, a educação infantil corresponde à primeira etapa da educação básica. Este documento orientador foi elaborado com o intuito de oferecer subsídios teórico-metodológicos aos profissionais da educação, especialmente àqueles que atuam diretamente com crianças de zero a seis anos. Assim, “o Referencial foi concebido de maneira a servir como um guia de reflexão de cunho educacional sobre objetivos, conteúdos e orientações didáticas para os profissionais que atuam diretamente com crianças de zero a seis anos, […]” (Brasil, 1998, p. 7).

Entre os diversos eixos que compõem a prática educativa na educação infantil, destaca-se a importância do ensino da literatura infantil. O contato com os livros e com o universo narrativo desde os primeiros anos de vida proporciona à criança não apenas prazer estético, mas também experiências cognitivas, afetivas e sociais significativas. Bernardinelli e Carvalho (2011, p. 6) destacam que “a literatura infantil é um amplo campo de estudos que exige do professor conhecimento para saber adequar os livros às crianças, gerando um momento propício de prazer e estimulação para a leitura”. Ensinar literatura infantil de forma sensível e intencional possibilita a construção de vínculos com a leitura, desenvolvendo habilidades que vão além da linguagem escrita, como a criatividade, a empatia e o senso crítico.

A criança, em sua fase pré-escolar, é naturalmente atraída pela emoção e pelo encantamento. Por isso, ao contar uma história, é essencial que o educador estimule sua imaginação, tornando o momento interativo e mágico. De acordo com o RCNEI, a contação de histórias é fundamental para o desenvolvimento infantil, pois contribui para que a criança compreenda melhor o mundo ao seu redor. Ainda conforme o documento, o contato com os livros desde muito cedo deve ser incentivado no ambiente familiar, pois “além de os pais contarem histórias dos livros infantis, proporciona também aquele aconchego, carinho, afeto e atenção que se dá e se desenvolve nessa hora, é aí onde criança desenvolve seu mundo mágico da imaginação”.

Essas vivências também podem ser exploradas em sala de aula por meio de atividades significativas que estimulem a criança a resgatar memórias e a compartilhar experiências. Questões como “Quem contou a história para você?”, “Foi o papai, a mamãe, a vovó?”, “Onde vocês estavam?”, “Qual foi o dia?” e “Quem mais estava com vocês?” ajudam a criança a conectar a narrativa com seu cotidiano, fortalecendo sua identidade e sua expressão oral. Como afirma Bamberger (2002, p. 24), “[…] na idade pré-escolar e nos primeiros anos de escola, contar e ler história em voz alta e falar sobre livros de gravuras é importantíssimo para o desenvolvimento do vocabulário, e mais importante ainda para a motivação da leitura”.

A prática da leitura mediada pelo professor também cumpre uma função essencial no processo de socialização e construção de sentido. Ao ouvir histórias, a criança começa a desenvolver um repertório simbólico que a ajudará, futuramente, na apropriação da linguagem escrita. Nesse sentido, o ambiente escolar assume um papel determinante. A leitura, quando inserida de maneira lúdica e afetiva no cotidiano escolar, contribui para formar indivíduos mais preparados para lidar com as diversas dimensões da vida social. Conforme salienta Ferreira (2001, p. 57), “neste espaço que instaura a ação pedagógica do professor como alguém que promove situações capazes de revitalizar o desejo de ler”.

Assim, é imprescindível que o professor assuma uma postura mediadora e sensível, proporcionando experiências de leitura que respeitem as especificidades da infância e despertem nas crianças o gosto pela literatura. A formação de leitores começa, portanto, muito antes da alfabetização formal: inicia-se nos momentos em que a criança se encanta com as palavras, com os personagens e com os mundos possíveis que os livros oferecem.

O professor deverá ser o mediador e incentivador planejando ações de como despertar o interesse das crianças para a leitura, organizando espaços lúdicos que promovam o prazer de ler. Durante a leitura pode-se trabalhar a hora certa de falar e ouvir, permitindo que o aluno compreenda a importância dos limites em determinadas situações. (Busatto, 2003)

Estimular o hábito da leitura através dessas simples estratégias lúdicas e desafiadoras permite possibilitar o desenvolvimento deste hábito, de maneira saudável e leve e significativa, sem que o aluno se sinta pressionado ou obrigado a ler.

E assim por mais que os educadores já conheçam e façam uso do reconto como prática esporádica ou apenas de lazer podem redescobrir novas formas de estimular seus educandos no dia a dia de sala de aula. Pois tem grandes vantagens Como baixo custo, fácil adaptação para diferentes contextos e a capacidade de interação dinâmica com as crianças e familiares pode ser extremamente atrativo para que se inclua a proposta da maleta viajante nos ambientes escolares a fim de fomentar o processo de leitura e escrita.

No entanto a função do professor não é unicamente de ensinar, mas o de incentivar é estimular de despertar a curiosidade e o interesse, e nesse aspecto, seria interessante pensar em como se tornamos agentes de grande encantamento Junto aos educandos nas salas de aulas da vida.

Portanto, acredita-se que, para conseguir formar bons leitores, é necessário que primeiramente tenha-se esse hábito em família, seguidamente dos professores nas escolas, e consequentemente que a criança frequente a biblioteca, e que tenha experiências diferentes, contatos com livros diferentes, e que lhe proporcionem novas descobertas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Compreende-se que a literatura infantil deve estar constantemente presente no cotidiano da criança, tanto no ambiente familiar quanto no escolar. Em casa, o incentivo dos pais é essencial — seja por meio da leitura em voz alta, seja ao permitir que a criança explore os livros livremente, interpretando as imagens e reconstruindo as histórias com sua própria linguagem. Na escola, práticas como a contação de histórias, visitas regulares à biblioteca, rodas de leitura, leituras individuais e coletivas contribuem significativamente para a formação do hábito e do gosto pela leitura.

Essas vivências literárias, quando bem conduzidas, não apenas despertam o prazer pela leitura, mas também favorecem o desenvolvimento de diversas habilidades cognitivas, emocionais e sociais. Durante atividades de leitura, é possível observar nas crianças o fortalecimento da autoestima, a escuta atenta nas narrativas compartilhadas por professores e colegas, além do desenvolvimento do cuidado e respeito com os livros. Mesmo sem saber ler de forma convencional, muitas crianças já reconhecem os títulos, os personagens e demonstram entusiasmo ao manusear os livros, o que revela um processo inicial de letramento e construção de sentido.

Portanto, conclui-se que os momentos de leitura são de fundamental importância para o desenvolvimento integral das crianças desde a primeira infância. É por meio de práticas pedagógicas intencionais, que valorizem a literatura como ferramenta de formação humana e não apenas como recurso didático, que se formarão leitores críticos, sensíveis e criativos. O trabalho com livros infantis precisa ser constante, afetivo e significativo, respeitando os interesses e os tempos de cada criança, promovendo o encantamento com as palavras e com os mundos possíveis que os textos oferecem.

SUGESTÕES DE LEITURAS FUTURAS

Para aprofundar a compreensão sobre o papel da literatura infantil na formação leitora e no desenvolvimento infantil, recomenda-se as seguintes obras:

  • Cunha, Maria Isabel da. O saber da experiência (1997) – aborda a importância das experiências significativas no processo educativo.
  • Coelho, Nelly Novaes. Literatura infantil: teorias, análises e didática (2000) – obra fundamental para quem deseja entender os fundamentos teóricos da literatura infantil.
  • Zilberman, Regina; Magalhães, Isabel Veiga. A formação do leitor literário (2001) – discute estratégias e caminhos para a mediação eficaz da leitura na escola.
  • Aguiar, Vera Teixeira de. Literatura Infantil: gostosuras e bobices (1993) – um olhar afetivo e reflexivo sobre o universo infantil e a leitura.
  • Corsino, Patrícia. Leitura na Educação Infantil: caminhos possíveis (2011) – oferece sugestões práticas e teóricas para professores da educação infantil.
  • Ferreira, Nélida. Ler e contar histórias: a formação do leitor desde a infância (2003) – explora o papel do adulto mediador no processo de leitura e imaginação.

Essas leituras complementares poderão enriquecer ainda mais a prática pedagógica e subsidiar novas reflexões sobre o uso da literatura como instrumento formador de sujeitos leitores, protagonistas e participativos em sua realidade social.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Silva, Kátia Cristina de Lima e . A relevância da literatura na educação infantil..International Integralize Scientific. v 5, n 46, Abril/2025 ISSN/3085-654X

Referencias

BAILEY, C. J.; LEE, J. H.
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v. 67
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2021.
Disponível em: https://academic.oup.com/cid/article/67/7/1208/6141108.
Acesso em: 2024-09-03.

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A relevância da literatura na educação infantil.

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