Conhecimento Popular e Científico: Algum prevalece?

POPULAR AND SCIENTIFIC KNOWLEDGE: DOES ANY PREVEL?

CONOCIMIENTO POPULAR Y CIENTÍFICO: ¿POR QUÉ PREVALECE?

Autor

Ricardo Gaiotto
ORIENTADOR
 Avelino Thiago dos Santo Moreira

URL do Artigo

https://iiscientific.com/artigos/3C1406

DOI

Gaiotto, Ricardo . Conhecimento Popular e Científico: Algum prevalece?. International Integralize Scientific. v 5, n 47, Maio/2025 ISSN/3085-654X

Resumo

O presente estudo teve como objetivo dimensionar o conhecimento popular e o conhecimento científico, de modo a avaliar se um se sobressai sobre o outro. Ficou concebido que o saber popular se refere à sabedoria acumulada através das gerações, baseada em vivências, tradições e práticas cotidianas, sem qualquer base científica. Já, o saber científico é obtido através de técnicas sistemáticas de pesquisa, com o objetivo de elucidar fenômenos tanto naturais quanto sociais. É fundamentada na observação, experiência e avaliação crítica. O conhecimento popular pode oferecer perspectivas valiosas para a pesquisa científica, especialmente em áreas como a medicina tradicional, a ecologia e a antropologia. Por outro lado, o conhecimento científico pode contribuir para a validação ou revisão de práticas tradicionais, contribuindo para a compreensão e possível aprimoramento de saberes populares. Portanto, ambos têm seu mérito e importância em diversos contextos, portanto, não há preponderância de um sobre o outro, uma vez que os dois se complementam.
Palavras-chave
conhecimento popular; conhecimento científico; algum prevalece?

Summary

The present study aimed to measure popular knowledge and scientific knowledge, in order to assess whether one stands out over the other. It was conceived that popular knowledge refers to wisdom accumulated over generations, based on everyday experiences, traditions and practices, without any scientific basis. Now, scientific knowledge is obtained through systematic research techniques, with the aim of elucidating both natural and social phenomena. It is based on observation, experience and critical evaluation. Popular knowledge can offer valuable perspectives for scientific research, especially in areas such as traditional medicine, ecology and anthropology. On the other hand, scientific knowledge can contribute to the validation or review of traditional practices, contributing to the understanding and possible improvement of popular knowledge. Therefore, both have their merit and importance in different contexts, therefore, there is no preponderance of one over the other, since the two complement each other.
Keywords
popular knowledge; scientific knowledge; does anyone prevail?

Resumen

El presente estudio tuvo como objetivo medir el conocimiento popular y el conocimiento científico, con el fin de evaluar si uno destaca sobre el otro. Se concibió que el conocimiento popular se refiere a la sabiduría acumulada a lo largo de generaciones, basada en experiencias, tradiciones y prácticas cotidianas, sin base científica alguna. Ahora bien, el conocimiento científico se obtiene mediante técnicas de investigación sistemática, con el objetivo de dilucidar fenómenos tanto naturales como sociales. Se basa en la observación, la experiencia y la evaluación crítica. El conocimiento popular puede ofrecer perspectivas valiosas para la investigación científica, especialmente en áreas como la medicina tradicional, la ecología y la antropología. Por otro lado, el conocimiento científico puede contribuir a la validación o revisión de prácticas tradicionales, contribuyendo a la comprensión y posible mejora del conocimiento popular. Por tanto, ambos tienen su mérito e importancia en contextos diferentes, por tanto, no existe preponderancia de uno sobre el otro, ya que los dos se complementan.
Palavras-clave
saber popular; conocimiento científico; ¿Alguien prevalece?

INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como objeto analisar o conhecimento popular e científico e se entre ambos há  prevalência sobre o outro.

O saber popular e o saber científico são duas maneiras distintas de entender e interpretar a realidade, cada qual com suas particularidades e técnicas específicas.

O conhecimento popular se refere ao conhecimento acumulado ao longo das gerações, fundamentado em experiências, tradições e práticas diárias sem qualquer fundamento científico, isto é, sem verificação.

Pode ser entendido como o saber acumulado desde os tempos pré-históricos, transmitido de geração em geração e, de certa forma, fornecendo suporte para outros tipos de conhecimento.

De outra parte, o conhecimento científico é o adquirido por meio de métodos sistemáticos de investigação, visando esclarecer fenômenos naturais e sociais. Baseia-se na observação, vivência e análise crítica.

O início do conhecimento científico ocorre quando a ciência é descoberta. As justificativas vão além do âmbito da opinião pessoal (eu acredito) e entram no domínio do método científico (eu tenho certeza).

Com efeito, dentro dessa perspectiva, será desenvolvido o referido estudo com o objetivo de disseminar tanto o conhecimento popular quanto o científico, suas características, bem como se há pontos em comuns e distinções entre ambos e, ainda, se algum tem maior preponderância sobre o outro.

Será muito interessante, pode apostar!

CONHECIMENTO POPULAR 

O conhecimento popular e o conhecimento científico são duas formas discrepantes de compreender e interpretar a realidade, cada qual com suas próprias características e métodos.

O conhecimento popular refere-se ao saber acumulado ao longo de gerações, lastreado em experiências, tradições e práticas cotidianas. É como praxe transmitido de forma oral e se relaciona com a vivência comum das pessoas. 

O senso comum ou saber popular consiste em um conjunto de conhecimentos não estruturados que adquirimos através de processos formais, informais e, ocasionalmente, inconscientes, e que engloba um conjunto de valores. Na maioria das vezes, essas informações são fragmentadas e podem abranger fatos históricos autênticos, crenças religiosas, mitos ou partes deles, princípios ideológicos frequentemente em conflito, informações científicas divulgadas pelos meios de comunicação de massa, além da experiência pessoal adquirida. (Matallo Jr., 1995, pp.16-17).

Pode ser compreendido como o conhecimento existente desde a época das cavernas, passado de geração em geração e, de certo modo, servindo de suporte aos demais tipos de conhecimento. A grande maioria dos fatos tiveram origem do conhecimento popular ou senso comum, muitas vezes por mero acaso (Santos, p. 2).

Dentro desse contexto, o mero acaso pode ser o responsável pela descoberta da metalurgia:

 

Por volta de 4000 a.C., o homem usava metais. Inicialmente usava o ouro e o cobre apenas no fabrico de objetos de adorno, por serem esses metais encontrados livres na natureza. A disponibilidade de cobre aumentou muito quando foi descoberto que se podia obtê-lo, sem muita dificuldade, a partir do aquecimento de pedras azuladas. Foi talvez um acontecimento acidental que deu origem à metalurgia, quando humanos surpreenderam-se ao ver bolas brilhantes de cobre, quando faziam fogo em um terreno onde havia malaquita ou azurita (minérios de cobre) (Chassot, 2004, p. 18).

 

Para tanto, o conhecimento popular (vulgar) ou também denominado senso comum, pode ter como exemplo a parteira leiga: que é um conhecimento transmitido de geração a geração por meio da educação informal e baseado na imitação e experiência pessoal. O que se constitui como um saber empírico e desprovido de conhecimentos teóricos sobre as condições da placenta, do desenvolvimento do feto, das condições intrauterinas, entre tantas outras. No caso do fogo, seu uso foi dominado e passou a fazer parte do nosso cotidiano, sem que sequer questionamos a sua existência, apenas aproveitamos os seus benefícios. Um exemplo bem conhecido é do filme náufrago, no qual o ator Ton Hanks precisou aprender coisas básicas como pressionando duas hastes secas em rápida fricção para o fogo (Curso Especialização em linhas e cuidados da enfermagem, s/d., p. 2-3).

Podemos, ainda, citar diversos exemplos de sabedoria popular. Certos deles estabelecem relações causais (nem sempre verdadeiras), enquanto outros se referem a valores sociais. A realidade é que o saber popular ganha validade através da repetição. Observamos um indivíduo que experimenta algum tipo de dor óssea crônica. Esta pessoa notou que, quando a dor se tornava mais intensa, caía uma chuva ou o tempo era invadido por uma frente fria. Não existe uma relação causal obrigatória nem evidências científicas que vinculem a dor à chegada da chuva ou de uma frente fria, porém, devido à repetição de experiências, essa pessoa começa a afirmar que “quando a dor surge, indica que a chuva está a caminho ou que uma frente fria está a caminho”. Outra ilustração pode ser encontrada nas ervas medicinais. Por milênios, a humanidade tem tentado curar suas enfermidades através do uso de plantas e outros componentes da natureza. Ao perceberem que o peumus boldus (popularmente conhecido como boldo) possui características que favorecem a digestão e desintoxicam o sistema digestivo, através da observação e repetição, começaram a utilizá-lo como planta medicinal. Na sabedoria popular, apenas o senso comum confirma essa conexão. No entanto, pesquisas farmacêuticas já comprovaram a efetividade do boldo no tratamento de indigestões e intoxicações, levando ao desenvolvimento de medicamentos derivados da planta (Porfírio, s/d., p. 5).

O conhecimento de semear e cultivar alguns cereais pelos camponeses também pode ser um exemplo de conhecimento popular, na medida em que mesmos desprovidos de qualquer base científica, sabiam o momento da semeadura, da colheita e os adubos para os diferentes tipos de solos (Marconi e Lakatos, 2008).

Define Prodanov (2013, p. 21):

 

Não deixa de ser conhecimento aquele que foi observado ou passado de geração em geração através da educação informal ou baseado em imitação ou experiência pessoal. Esse tipo de conhecimento, dito popular, diferencia-se do conhecimento científico por lhe faltar o embasamento teórico necessário à ciência.

Hatchwell (2022) esclarece de modo mais detalhado:

 

[…] o conhecimento popular é intuitivo, espontâneo, com forte inclinação para erros, pois não é estudado, analisado e comprovado, por exemplo: quando olhamos para o céu e afirmamos que irá chover, não se teve estudo algum em relação a esta afirmação, mas se sabe que provavelmente choverá, pelo simples fato de o céu estar coberto de nuvens.A ciência tem uma explicação para este fenômeno. Para isso, primeiramente o fenômeno foi estudado, as informações foram recolhidas para serem analisadas e depois confirmadas.O mesmo não acontece com o conhecimento popular. As informações que são transmitidas não têm embasamento teórico. Mas existe algo de semelhante entre os dois tipos de conhecimentos, a forma em que é narrado o fenômeno, muitas vezes é o mesmo.O fenômeno do céu nublado, por exemplo, o cientista tem todo um estudo comprovado que após ficar nublado provavelmente choverá. No conhecimento popular não se tem comprovação de que choverá, mas geralmente chove após o céu ficar nublado, então isto se torna uma verdade popular, que será passado para outras gerações.

 

O conhecimento popular, além de ser espontâneo, acumulativo e fragmentado, tem uma natureza dinâmica, anônima, uma vez que não fornece esclarecimentos sobre quem pode ser responsabilizado pela autoria. Refere-se a um produto. Um conjunto de conhecimentos que são transmitidos a várias camadas sociais e gerações diferentes, formando um patrimônio cultural. Um autêntico patrimônio cultural do senso comum, representando dessa forma a sabedoria popular de uma comunidade do povo. Portanto, nota-se que as pessoas e civilizações têm sobrevivido e continuam sobrevivendo às custas de outros. Saberes práticos e tradições acumulados ao longo dos anos, sem uma fundamentação formalmente científica (Oliveira, s/d, 01-02).

O senso comum é um conjunto de informações não-sistematizadas que aprendemos por processos formais, informais e, às vezes, inconscientes, e que inclui um conjunto de valorações. Essas informações são, no mais das vezes, fragmentárias e podem incluir fatos históricos verdadeiros, doutrinas religiosas, lendas ou parte delas, princípios ideológicos às vezes conflitantes, informações científicas popularizadas pelos meios de comunicação de massa, bem como a experiência pessoal acumulada (Matallo Jr., 1995, p.16).

Segundo Trujillo (1974 apud Marconi e Lakatos, 2008. 77-78), o conhecimento popular possui as seguintes características:

– Valorativo: influenciado pelo ânimo e emoções do observador;

– Reflexivo: a familiaridade com o objeto não desperta formação de padrões;

– Assistemático: pois se fundamenta em uma estrutura particular (subjetiva), que está atrelada ao indivíduo;

– Verificável: passível de verificação, mas somente em relação ao que pode ser observado no cotidiano, dentro do contexto do observador, ou seja, a verificabilidade é subjetiva;

– Falível: defectível, pois se contenta apenas com o que se vê ou se ouviu falar, sem dedicar a procurar a realidade;

– Inexato: impreciso, pois a falibilidade impede a criação de hipóteses que possam ser comprovadas do ponto de vista filosófico ou científico.

Em síntese, o conhecimento popular simboliza um tipo de conhecimento não sistematizado e sem a preocupação de sua verificabilidade, o obtido sem saber o porquê de sua efetividade (Santos, p. 3).

CONHECIMENTO CIENTÍFICO

O conhecimento científico se refere ao saber obtido através de métodos sistemáticos de pesquisa, com o objetivo de elucidar fenômenos naturais e sociais. É fundamentado na observação, experiência e avaliação crítica.

O conhecimento científico é um conjunto de saberes comprovado, sistematizado e adquirido de maneira sistemática e metódica por meio da observação, experimentação e análise de fatos ou fenômenos. O conhecimento científico é universal, coerente, objetivo e preciso. Seu principal objetivo é explicar e compreender os fenômenos da natureza. Para realizar estes saberes, utiliza-se o método científico, que engloba procedimentos e regras que regem o trabalho dos cientistas na investigação e no estudo. O conhecimento científico tem como objetivo chegar a conclusões cuja validade seja universal. Além disso, visa compreender as leis ou os processos que regem a natureza e explicá-los de forma rigorosa e precisa (Equipo Editorial, Etecé, 2024, p. 1).

O saber popular ou vulgar, também conhecido como senso comum, se diferencia do saber científico pelo método e instrumentos de conhecimento, que se manifestam por meio da observação, experimentação e mensuração, estando intimamente ligado aos princípios do método científico em sua versão experimental. A principal finalidade da investigação científica é entender o funcionamento dos objetos para melhor controlá-los, além de fazer previsões mais precisas com base nas novas descobertas. Portanto, podemos esclarecer o motivo e a relação entre esses fenômenos, com uma perspectiva mais abrangente do que simplesmente relacioná-los como um evento isolado ou inerente a uma cultura particular. A ciência não é a única via para alcançar o saber e a verdade. Um objeto ou fenômeno específico pode ser objeto de observação. (Curso Especialização em linhas e cuidados da enfermagem, s/d., p. 2-3).

Conforme Matallo Júnior (1989), o conhecimento científico se inicia no momento em que a ciência é descoberta. As explicações transcendem a esfera da opinião pessoal (eu acredito) e adentram o universo do método científico (eu tenho certeza). O senso comum consiste em um agrupamento de informações não estruturadas, dispersas. Desde que essas informações começam a ser justificadas através de argumentos, essas informações começam a ser justificadas. Em níveis aceitáveis, o senso comum inicia sua evolução rumo à ciência. O senso comum lida com o julgamento de valor, com o que é subjetivo. Destarte, é impraticável avaliar se uma situação é ou não perigosa. A opinião pode ser considerada boa ou ruim, verdadeira ou falsa. O progresso científico conduz a esses comportamentos informais a um formalismo, um padrão considerado verdadeiro pela maioria. 

Para tal, formula hipóteses que serão examinadas através de experimentos de experiências ou da observação do mundo natural. Estes exames nos fornecerão as respostas mais adequadas disponíveis no momento para as questões que foram formuladas (Mari, 2022, p. 5).

Nos dizeres de Alves (1981, p. 70): “Usualmente chamamos de hipóteses as perguntas que os cientistas propõem à natureza. A experimentação é a tortura a que submetemos a natureza para obrigá-la a manifestar-se sobre a pergunta”.

Menezes (s/d, p. 03-04) discorre:

O conhecimento científico está relacionado com a lógica e o pensamento crítico e analítico. É o conhecimento que temos sobre fatos analisados e comprovados cientificamente, de modo que sua veracidade ou falsidade podem ser comprovadas.É um conhecimento factual e está baseado em experiências comprovadas. Por isso, também é falível e aproximadamente exato, pois novas ideias podem modificar teorias antes aceitas. Também é verificável, pois surge através de resultados científicos.Exemplo: A descoberta de outros planetas, por meio da observação com telescópios super desenvolvidos.

 

Na visão de Nascibem; Viveiro (2015, p. 04):

 

O conhecimento científico é definido na literatura a partir de diferentes perspectivas. São considerados científicos os conhecimentos produzidos por instituições científicas, de pesquisa, e que seguem rígidos métodos para lhe atribuir confiabilidade e lhe diferir dos conhecimentos não científicos. Têm como objetivo explicar os fenômenos da natureza, da sociedade, etc., e baseia-se em problemas de pesquisa muito bem definidos e que são esmiuçados seguindo metodologias e processos na busca de resultados para o problema inicial.

 

Diversos são os exemplos do conhecimento científico, podendo ser mencionados os seguintes: As leis do movimento de Newton – as leis de Newton são três princípios que explicam boa parte das propostas da mecânica clássica, sobretudo as ligadas ao movimento dos corpos; A Tabela Periódica dos elementos – dispõe os elementos químicos em uma tabela, organizados de acordo com seu número de prótons (“número atômico”), suas propriedades químicas e a configuração de elétrons. 

Através desta organização podem-se elucidar tendências periódicas. Por exemplo, os elementos com comportamento equivalente estão localizados na mesma coluna; O teorema de Pitágoras – determina que, em qualquer triângulo retângulo, o comprimento da hipotenusa é igual à raiz quadrada da soma da área dos quadrados dos respectivos comprimentos dos catetos. O ciclo da água. Descreve o processo de transformação e circulação da água no planeta Terra. De acordo com este ciclo, a água muda de estado físico (sólido, líquido e gasoso) de acordo com as condições ambientais; O teorema de Tales – estabelece que se duas retas são cortadas por retas paralelas, os segmentos que determinam em uma das retas são proporcionais aos segmentos correspondentes da outra. Por meio deste teorema é possível calcular o comprimento de um segmento se conhece o seu correspondente na outra reta e a proporção entre os dois  (Equipo Editorial, Etecé  2024, p. 3-4).

Segundo a Equipo Editorial, Etecé (2024, p. 5), a teoria científica deve ter o seguinte formato:

    • Precisa. Suas deduções devem estar de acordo com as experiências e observações efetuadas.

    • Fecunda. Produz novos resultados de pesquisa.

    • Simples. Ordena ideias que de forma isolada gerariam confusão.

    • Ampla. Suas consequências ultrapassam as leis e observações particulares.

 

Consoante Trujillo (1974 apud Marconi e Lakatos, 2008, p, 77-78), o conhecimento científico possui as seguintes características:

– Real (factual): verídico, pois trata de acontecimentos e fatos. É variável, uma vez que as circunstâncias podem alterar;

– Contingente: as hipóteses podem ser confirmadas ou descartadas através da experimentação, e não somente através da intuição;

– Sistemático: procura formular conceitos correlacionados que englobam a totalidade do objeto;

– Verificável: as hipóteses que não forem confirmadas podem ser descartadas, ou seja, deixam de ser parte integrante do campo científico

– Falível: enganoso, pois nenhuma verdade é inquestionável e absoluta;

– Aproximadamente exato: quase preciso, uma vez que novas ideias e avanços tecnológicos podem reestruturar o cenário no sentido de aprimoramento.

Permanentemente as pessoas estão transformando o mundo, e a ciência é considerada na atualidade como o motor principal dessas transformações. O início do triunfo da ciência se deu em paralelo com a Revolução Industrial, precisamente no momento em que o desenvolvimento do ser humano no mundo começou sua explosão: é difícil ter uma noção de onde chegará no mundo em que vivemos. Por enquanto, pode-se dizer que os avanços no marco de pesquisa em medicina permitiram ao ser humano multiplicar várias vezes sua esperança de vida em um lapso de poucos anos. Ao mesmo tempo, os avanços em comunicações permitiram encurtar a segundos distâncias que tempos atrás podiam levar meses e até anos a serem percorridas (Equipo Editorial, Etecé, 2024, p. 5).

PONTOS DIVERGENTES

O conhecimento popular é formado a partir de experiências pessoais, sem qualquer rigor ou método, ao passo que, o conhecimento científico é construído sistematicamente através de metodologias e protocolos, visando a sua testagem, questionamento, reprodução e disseminação (Mari, 2022, p. 5).

Para uma compreensão de melhor qualidade, detalha Mari (2022, p. 5-6):

 

Enquanto o conhecimento popular é gerado a partir de experiências individuais, sem qualquer rigor ou método, o conhecimento científico é produzido sistematicamente a partir de metodologias e protocolos, com o objetivo de que ele possa ser testado, questionado, reproduzido e generalizado. Não faz sentido questionar um conhecimento popular, afinal e pessoa que o detém o experimentou diretamente em sua vida e, naquela situação, aquele conhecimento é útil e verdadeiro.Já o conhecimento científico é feito para ser questionado. Quanto mais o questionamos, mais ele é testado e mais exato ele se torna e mais se aproxima da realidade.

 

Desse modo, não é válido contestar um saber popular, pois quem o detém o vivenciou diretamente em sua vida e, naquela circunstância, aquele saber é útil e autêntico.

Logo, a ciência é concebida para ser questionada. Quanto mais o questionamos, mas ele é provado e mais próximo da realidade ele se torna. 

 

PONTOS CONVERGENTES

Apesar dos pontos divergentes, podem apresentar interações sob vários enfoques.

O saber popular pode proporcionar visões de compreensão importantes para a investigação científica, particularmente em campos como a medicina tradicional, a ecologia e a antropologia.

Em contrapartida, o saber científico pode auxiliar na validação ou revisão de práticas tradicionais, auxiliando na compreensão e possível melhoria de conhecimentos populares.

Com base nessas considerações, defendemos a concepção de que a escola deve ser um ambiente de aprendizagem que promova a conversa entre docentes e estudantes sobre os saberes que possuem. É um componente da nossa cultura. Na escola, não apenas se aprendem conhecimentos científicos, mas também se aprendem valores científicos precisa interagir com outros tipos de conhecimento, como o tradicional/popular, o cotidiano entre outras coisas. Porque acreditamos que através do diálogo podemos investigar melhor e apreciar os saberes prévios dos estudantes, visando a construção de conhecimentos mais avançados – o saber científico (Kovalski; Obara; Figueiredo, s.d, p. 5).

Portanto, partindo dos aspectos ora tratados, enquanto o saber popular demonstra ser essencial para a vida diária e cultural dos indivíduos, o saber científico nos proporciona instrumentos para compreender e modificar o mundo de forma mais estruturada e fundamentada em evidências. 

Assim, ambos possuem seu valor e relevância em variados contextos, daí não havendo como afirmar nesses termos a prevalência de um sobre o outro, haja vista que se complementam.

REVISÃO DA LITERATURA

O assunto teve como paradigma a consulta de várias fontes bibliográficas contidas no tópico de Referências, não descartando outras da mesma relevância e importância no cenário acadêmico. 

O presente tema é bastante explorado e possui satisfatório material para pesquisa e, não obstante a isso, de forma natural e gradativa poderão surgir novas linhas de pensamentos pelos estudiosos e pesquisadores da área.

Mesmo com uma diversidade de pesquisas e estudos, a análise em epígrafe almejou dentro de um processo de cautela e parcimônia, respeitando sobremaneira o material de qualidade disponibilizado para consulta, abordar a temática e traçar uma linha de compreensão norteando a matéria em exame.

METODOLOGIA

A pesquisa em questão tem característica de ser um estudo de natureza descritiva e de abordagem qualitativa. Pesquisas deste tipo buscam descrever as características de uma determinada população, explicar um fenômeno e até mesmo, estabelecer uma relação ou associação entre as variáveis existentes (Gil, 2008).

A natureza descritiva teve o condão de externar as variáveis dos tipos de conhecimento popular e científico e no confronto de ambos disseminar sobre a existência de predominância de algum deles. 

Conforme o Blog do UNASP (2019, p. 03):

 

A pesquisa descritiva tem como característica principal, fazer uma análise minuciosa e descritiva do objeto de estudo. Ou seja, a finalidade dela é analisar os dados coletados sem que haja a interferência do pesquisador.Sendo assim, a maioria das pesquisas descritivas são de temas já conhecidas. No entanto, a pesquisa é feita para recolher novas amostras, dados e detalhar os resultados para se conseguir uma visão mais estatística.Então, se comparada à pesquisa exploratória, dá-se por ser um tema conhecido, estudado, porém estará proporcionando uma nova visão e aprofundamento do assunto.

Já a técnica de pesquisa deste estudo é de abordagem qualitativa em virtude de colimar a observância, significados, descobertas sobre o tema, sem preocupar-se com critérios aritméticos. Os pesquisadores que adotam uma abordagem qualitativa se opõem ao pressuposto de que defendem um único modelo de pesquisa para todas as ciências, visto que as ciências sociais possuem suas especificidades, o que pressupõe uma metodologia própria. Pesquisas deste tipo buscam compreender a explicação de algum fenômeno, isto é, existem aspectos subjetivos e controversos que não se coadunam com a quantificação (Coelho, 2019).

Nos dizeres de Denzin e Lincoln (2006, p. 37): 

 

[…] a pesquisa qualitativa é infinitamente criativa e interpretativa. A tarefa do pesquisador não se resume a deixar o campo levando pilhas de materiais empíricos e então redigir facilmente suas descobertas. As interpretações qualitativas são construídas.

 

Para o desenvolvimento dos procedimentos técnicos foi realizada uma série de pesquisas bibliográficas, ou seja, pesquisas que foram embasadas em fontes científicas previamente aprovadas, como é o caso de: artigos de periódicos, artigos científicos de eventos, monografias, dissertações de mestrado, teses de doutorado, livros, relatórios técnicos, entre outros. Ou seja, o instrumento de coleta de dados para este estudo foi a coleta bibliográfica.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O propósito deste estudo foi avaliar aspectos relacionados ao conhecimento popular e ao conhecimento científico. 

Foi estabelecido que o saber popular se refere ao conhecimento acumulado ao longo das gerações, fundamentado em experiências, tradições e práticas diárias, sem qualquer fundamento científico, ou seja, sem comprovação científica.

 Isso pode ser visto como o saber acumulado desde a era pré-histórica, transmitido de geração em geração e, de certa forma, estabelecendo a fundação para outras formas de saber. 

Em contrapartida, o conhecimento científico é adquirido por meio de métodos sistemáticos de pesquisa, visando esclarecer fenômenos tanto naturais quanto sociais. Baseia-se na observação, vivência e análise crítica. A ciência inicia-se quando é descoberta. As razões vão além da esfera da opinião individual (eu acredito) e entram no domínio do método científico (estou seguro).

A partir do momento em que essas informações começam a ser justificadas por meio de argumentos, elas começam a se justificar. Em graus toleráveis, o senso comum começa sua jornada em direção à ciência. O senso comum trata do juízo de valor, do que é pessoal. Assim, é inviável determinar se uma situação é ou não arriscada. A opinião pode ser avaliada como positiva ou negativa, verdadeira ou inverídica. O avanço científico leva a essas atitudes informais a um formalismo, um padrão aceito pela maioria como verdadeiro.

As características do conhecimento popular incluem: valorativo, reflexivo, assistemático, verificável, falível e impreciso. 

Por outro lado, o conhecimento científico é definido como: real, contingente, sistemático, verificável, falível e quase preciso. 

O conhecimento popular surge de experiências pessoais, sem qualquer rigor ou método, ao passo que o conhecimento científico é construído de forma organizada através de metodologias e protocolos, com a finalidade de ser testado, questionado, replicado e disseminado. 

O saber popular pode proporcionar pontos de vista importantes para a investigação científica, particularmente em campos como a medicina tradicional, a ecologia e a antropologia.

Em contrapartida, o saber científico pode auxiliar na validação ou revisão de práticas tradicionais, auxiliando na promoção da inovação para entender e possivelmente melhorar os conhecimentos populares. 

Logo, ambos possuem seu valor e relevância em vários contextos, portanto, não existe predomínio de um sobre o outro, pois ambos se complementam.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALVES. Rubem. Filosofia da ciência: introdução ao jogo e suas regras. São Paulo: Brasiliense, 1981.

Blog do UNASP. Pesquisa científica: a diferença entre exploratória, descritiva e explicativa. 2019. Disponível em: https://unasp.br/blog/pesquisa-cientifica-diferencas/. Acesso em: 15 de março de 2025.

CHASSOT, Attico. A ciência através dos tempos. 2. ed. São Paulo: Moderna, 2004.

COELHO, Beatriz. Um guia completo sobre todos os tipos de pesquisa: abordagem, natureza, objetivos e procedimentos. 2019. Disponível em: https://blog.mettzer.com/tipos-de-pesquisa/ Acesso em 15 de março de 2025.

CURSO ESPECIALIZAÇÃO EM LINHAS E CUIDADOS DA ENFERMAGEM. Módulo 4: Metodologia do Trabalho Científico. Unidade 1: O processo de investigação científica e sua relação com os tipos de conhecimento. Disponível em: https://unasus2.moodle.ufsc.br/pluginfile.php/6944/mod_resource/content/2/unidade1/p02.html. Acesso em: 15 de março de 2025.

DENZIN, N. K.; LINCOLN, Y. S. O planejamento da pesquisa qualitativa: teorias e abordagens. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2006.

Equipo Editorial, Etecé. Traduzido por: Cristina Zambra. Conhecimento Científico. [2024]. Disponível em: https://www.ejemplos.co/br/conhecimento-cientifico/. Acesso em: 18 de março de 2025.

GIL, A. C. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. São Paulo – SP: Atlas, 2008.

HATCHWELL, Regiane Vieira. Conhecimento científico versus conhecimento popular.  Disponível em: https://meuartigo.brasilescola.uol.com.br/psicologia/conhecimento-cientifico-versus-conhecimento-popular.htm Acesso em: 10 dez. 2024.

KOVALSKI, Mara Luciane; OBARA, Ana Tiyomi; FIGUEIREDO, Marcia Camilo. Diálogo dos saberes: o conhecimento científico e popular das plantas medicinais na escola. Disponível em: https://abrapec.com/atas_enpec/viiienpec/resumos/R1647-1.pdf . Acesso em: 15 de março de 2025.

MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de metodologia científica. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008.

MARI, Sérgio. O que é conhecimento científico? Disponível em: https://infonauta.com.br/pesquisa-em-comunicacao/o-conhecimento-cientifico Acesso em: 09 de dezembro de 2024.

MATALLO JÚNIOR, Heitor. A problemática do conhecimento. In: CARVALHO, Maria Cecília Maringoni de (Org.). Construindo o saber – metodologia científica: fundamentos e técnicas. 2. ed. Campinas, SP: Papirus, 1989. cap. I. p. 13-28.

MENEZES, Pedro. Conhecimento empírico, científico, filosófico e teológico: Qual a diferença entre conhecimento empírico, científico, filosófico e teológico? https://www.diferenca.com/conhecimento-empirico-cientifico-filosofico-e-teologico/. Acesso em: 14 de março de 2025.

NASCIBEM, Fábio Gabriel; VIVEIRO, Alessandra Aparecida. Para além dos saberes populares para o ensino de ciências. 2015. Disponível em: file:///C:/Users/Ricardo/Downloads/8738-Texto%20do%20Trabalho-24718-1-10-20160305.pdf. Acesso em: 14 de março de 2025.

OLIVEIRA, Patrícia Severiano de. SABER POPULAR E PERPECTIVAS PARA O CONHECIMENTO CIENTÍFICO. Disponível em: https://www.editorarealize.com.br/editora/anais/conedu/2015/TRABALHO_EV045_MD1_SA13_ID2246_11082015091801.pdf. Acesso em: 14 de março de 2025.

PORFÍRIO, Francisco. “Senso comum”; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/filosofia/senso-comum.htm. Acesso em 15 de março de 2025.

PRODANOV, Cleber Cristiano. Metodologia do trabalho científico [recurso eletrônico]: métodos e técnicas da pesquisa e do trabalho acadêmico / Cleber Cristiano Prodanov, Ernani Cesar de Freitas. – 2. ed. – Novo Hamburgo: Feevale, 2013, p. 21.

SANTOS, Carlos José Giudice dos. Tipos de Conhecimento: Conhecimento Popular ou senso comum. Disponível em:https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4264412/mod_resource/content/0/TIPOS%20DE%20CONHECIMENTO.PDF Acesso em: 10 de dezembro de 2024.

Gaiotto, Ricardo . Conhecimento Popular e Científico: Algum prevalece?.International Integralize Scientific. v 5, n 47, Maio/2025 ISSN/3085-654X

Referencias

BAILEY, C. J.; LEE, J. H.
Management of chlamydial infections: A comprehensive review.
Clinical infectious diseases.
v. 67
n. 7
p. 1208-1216,
2021.
Disponível em: https://academic.oup.com/cid/article/67/7/1208/6141108.
Acesso em: 2024-09-03.

Share this :

Edição

v. 5
n. 47

Área do Conhecimento

Licenciatura em química, do início da formação à evasão do curso, fatores e barreiras encontradas.
formação de professores; licenciatura em química; evasão.
Agora sou professor! Desafios e obstáculos no início da carreira docente
docência; início; sucessos; frustrações; resiliência.
A escravidão em Roma: A escravidão dentro do contexto da sociedade romana.
escravidão romana; escravidão moderna; escravos; império romano.
Habilidades socioemocionais na educação: Teorias, desafios e perspectivas.
habilidades socioemocionais; educação infantil; desenvolvimento integral; interações sociais.
Educação de jovens e adultos no Brasil: Avanços, desafios e perspectivas
educação de jovens e adultos; direito à cidade; cidadania; território; educação popular.
Jogos psicopedagógicos e lúdicos na alfabetização.
jogos; psicopedagogia; comportamento; formação.

Últimas Edições

Confira as últimas edições da International Integralize Scientific

feature-abri-2025

Vol.

5

46

Abril/2025
MARCO

Vol.

5

45

Março/2025
FEVEREIRO (1)

Vol.

5

44

Fevereiro/2025
feature-43

Vol.

5

43

Janeiro/2025
DEZEMBRO

Vol.

4

42

Dezembro/2024
NOVEMBRO

Vol.

4

41

Novembro/2024
OUT-CAPA

Vol.

4

40

Outubro/2024
setembro-capa

Vol.

4

39

Setembro/2024

Fale com um com um consultor acadêmico!

O profissional mais capacitado a orientá-lo e sanar todas as suas dúvidas referentes ao processo de mestrado/doutorado.