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Resumo
INTRODUÇÃO
A pandemia de COVID-19, causada pelo vírus SARS-CoV-2, emergiu no final de 2019 e rapidamente se espalhou por todo o mundo, provocando uma das maiores crises sanitárias do século XXI. Com milhões de vidas perdidas e impactos devastadores nos sistemas de saúde, economia e estruturas sociais, a pandemia revelou fragilidades históricas dos países no enfrentamento de emergências de saúde pública. Diante da necessidade urgente de conter o avanço do vírus, a ciência respondeu com uma mobilização sem precedentes para o desenvolvimento de vacinas seguras e eficazes, culminando em campanhas de vacinação em massa que tiveram início em 2021 em muitos países. A vacinação passou a ser considerada o principal instrumento de controle da pandemia, com o objetivo de reduzir as formas graves da doença e a mortalidade associada (Brito et al. 2024).
À medida que as vacinas foram disponibilizadas, observou-se uma diminuição significativa nos índices de hospitalização e óbito em regiões com ampla cobertura vacinal. No entanto, essas melhorias não foram distribuídas de forma equitativa em todas as partes do mundo, nem mesmo dentro de países de grande extensão territorial, como o Brasil. Fatores como desigualdade social, desinformação, limitações logísticas, resistência à vacinação e falhas na gestão pública contribuíram para disparidades nos índices de imunização e, consequentemente, nos desfechos relacionados à mortalidade. Esses elementos evidenciam a complexidade do processo de vacinação em massa e a necessidade de se compreender como a cobertura vacinal impacta os diferentes contextos regionais de forma concreta e mensurável (Couto, 2021).
Nesse contexto, a investigação sobre os efeitos da cobertura vacinal contra a COVID-19 na mortalidade regional é de extrema relevância para o campo da saúde coletiva, pois permite identificar não apenas a eficácia das vacinas, mas também a efetividade das políticas públicas e das estratégias de imunização adotadas. Ao analisar as diferentes taxas de mortalidade entre regiões com níveis distintos de vacinação, é possível levantar hipóteses sobre a influência de fatores estruturais, como infraestrutura hospitalar, grau de urbanização, renda per capita, escolaridade e acesso à informação. Tais variáveis podem interferir diretamente na aceitação da vacina, no acesso aos postos de vacinação e na própria capacidade de resposta do sistema de saúde local (Nunes, 2021).
Além disso, a compreensão das desigualdades regionais quanto à vacinação e seus impactos pode orientar futuras ações de enfrentamento a pandemias, reforçando a importância da equidade em saúde. O estudo também se justifica por sua contribuição à produção de dados empíricos que possam embasar decisões governamentais e estratégias de comunicação pública, especialmente em contextos onde há baixa adesão à vacinação ou resistência da população. Dessa forma, ao elucidar como diferentes realidades reagiram ao mesmo recurso sanitário — a vacina —, esta análise se propõe a fornecer ferramentas que auxiliem na construção de sistemas de saúde mais preparados, justos e eficazes (Maciel et al. 2022).
Apesar do avanço científico representado pelas vacinas contra a COVID-19 e do esforço global para promover a vacinação em massa, as taxas de mortalidade pela doença seguiram apresentando variações significativas entre regiões com diferentes níveis de cobertura vacinal. Essa constatação levanta questionamentos sobre a eficácia real da imunização em contextos diversos e sobre os fatores contextuais que influenciam seus resultados. Nesse sentido, a problemática central que guia este estudo é: de que maneira a cobertura vacinal contra a COVID-19 impactou as taxas de mortalidade em diferentes regiões e quais elementos explicam as variações observadas nesse impacto? (Cunha et al. 2024)
Desta forma, o presente estudo tem como objetivo geral analisar os efeitos da cobertura vacinal contra a COVID-19 nas taxas de mortalidade em diferentes regiões geográficas, considerando variáveis socioeconômicas, políticas e estruturais. Especificamente, busca-se: (1) comparar os índices de mortalidade entre regiões com distintas taxas de cobertura vacinal; (2) identificar os principais fatores que influenciaram a eficácia da vacinação em diferentes contextos; e (3) compreender o papel das políticas públicas e da comunicação na adesão à imunização.
METODOLOGIA
A presente pesquisa caracteriza-se como um estudo de natureza qualitativa, de caráter exploratório, com abordagem bibliográfica, tendo como objetivo compreender a relação entre a cobertura vacinal contra a COVID-19 e seus efeitos na mortalidade em diferentes regiões. Segundo Gil (2008), a pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de material já publicado, principalmente livros e artigos científicos, sendo apropriada para a formulação de referencial teórico e compreensão do estado da arte sobre determinado tema.
A seleção do material foi realizada por meio de buscas sistematizadas nas principais bases de dados científicas, incluindo SciELO (Scientific Electronic Library Online), BVS (Biblioteca Virtual em Saúde), Google Acadêmico, PubMed e CAPES Periódicos, com o intuito de garantir a variedade e a qualidade das fontes. Foram utilizadas as seguintes palavras-chave em português, combinadas por operadores booleanos: “cobertura vacinal” AND “COVID-19”, “vacinação contra a COVID-19” AND “mortalidade”, “impacto da vacinação” AND “disparidades regionais”.
O recorte temporal adotado para a seleção dos artigos foi de 2020 a 2025, período que abrange desde o início da pandemia e o desenvolvimento das primeiras vacinas até os anos mais recentes, nos quais os efeitos da vacinação sobre a mortalidade puderam ser observados com mais clareza.
O critério de inclusão adotado considerou estudos publicados em periódicos científicos revisados por pares, disponíveis em acesso completo e gratuito, que abordassem diretamente a temática da cobertura vacinal contra a COVID-19 e seus efeitos sobre a mortalidade, com recortes regionais ou comparativos. Foram excluídos trabalhos duplicados, resumos de eventos científicos, textos opinativos, dissertações e teses que não apresentassem dados empíricos ou análise científica consolidada.
A análise dos dados coletados foi realizada por meio da leitura crítica e interpretativa dos textos, com foco na identificação de padrões, resultados e discussões que evidenciem a relação entre os níveis de cobertura vacinal e os índices de mortalidade. Essa abordagem permitiu a construção de uma base teórica consistente e atualizada, contribuindo para a compreensão dos fatores que interferem na eficácia da vacinação em diferentes contextos regionais.
VACINAS E CAMPANHAS DE VACINAÇÃO EM MASSA: CONCEITO, DESENVOLVIMENTO E FUNCIONAMENTO
Para Couto (2021), as vacinas são intervenções biomédicas que têm como principal finalidade a indução de imunidade ativa e duradoura contra agentes infecciosos. Elas atuam estimulando o sistema imunológico a reconhecer e combater microrganismos patogênicos específicos, como vírus e bactérias, sem que o indivíduo desenvolva a doença em sua forma grave. Conforme a definição da Organização Mundial da Saúde, a vacinação é uma das práticas de saúde pública mais eficazes e custo-efetivas já desenvolvidas, sendo responsável pela erradicação ou controle de doenças como varíola, poliomielite e sarampo. Seu impacto transcende a esfera individual, contribuindo para a chamada imunidade coletiva, que ocorre quando uma grande parcela da população está protegida, reduzindo a circulação do agente infeccioso.
O funcionamento das vacinas está baseado em princípios da imunologia. Ao serem introduzidas no organismo, elas apresentam ao sistema imunológico um antígeno – que pode ser um vírus atenuado, inativado, fragmentado ou até mesmo uma proteína específica do patógeno. Essa exposição controlada não causa a doença, mas é suficiente para que o corpo desenvolva uma resposta imune, com produção de anticorpos e células de memória. Essas estruturas permitem que, em contato futuro com o patógeno real, o sistema imunológico responda de maneira rápida e eficaz, neutralizando a infecção ou reduzindo significativamente sua gravidade. Essa lógica se manteve nos imunizantes contra a COVID-19, ainda que com diferentes tecnologias aplicadas (Nunes, 2021).
Durante a pandemia da COVID-19, Maciel et al. (2022) citam que o mundo assistiu a um avanço notável na tecnologia de vacinas, com destaque para as vacinas de RNA mensageiro (mRNA), como as da Pfizer-BioNTech e da Moderna. Essas vacinas não utilizam o vírus vivo ou atenuado, mas sim uma sequência genética que instrui as células humanas a produzirem uma proteína específica do SARS-CoV-2 — geralmente a proteína Spike — desencadeando a resposta imune desejada. Essa plataforma, embora já em desenvolvimento há anos, foi empregada pela primeira vez em larga escala, demonstrando eficácia e segurança, além de permitir uma produção mais rápida e escalável.
O desenvolvimento de vacinas, em condições normais, pode levar até uma década, devido à complexidade dos testes laboratoriais, pré-clínicos e clínicos (fases 1, 2 e 3), seguidos por etapas de licenciamento e produção em massa. No entanto, a emergência sanitária global causada pela COVID-19 exigiu uma mobilização científica sem precedentes, com investimentos bilionários e cooperação internacional para acelerar todas as etapas, sem comprometer os critérios éticos e de segurança. Assim, vacinas foram disponibilizadas à população em menos de um ano após a identificação do novo coronavírus — um marco histórico na medicina (Cunha et al. 2024).
Apesar do avanço científico, Gonçalves et al. (2024) citam que é importante ressaltar que a aceitação e eficácia de uma vacina não depende apenas da sua composição, mas também de aspectos sociais, políticos e culturais. Fatores como a confiança da população, campanhas de comunicação, políticas públicas e acesso equitativo influenciam diretamente a adesão aos programas de imunização. É nesse ponto que se evidencia a necessidade de estratégias organizadas e inclusivas, capazes de garantir a distribuição eficiente e a aplicação das vacinas em grande escala.
As campanhas de vacinação em massa representam esforços coordenados por governos e instituições de saúde com o objetivo de imunizar um grande número de pessoas em um curto intervalo de tempo. Essas ações são fundamentais para conter surtos, epidemias e pandemias, além de desempenharem papel essencial na manutenção da saúde pública. Durante a pandemia de COVID-19, tais campanhas foram implementadas em praticamente todos os países, com diferentes níveis de sucesso, dependendo de fatores como infraestrutura de saúde, logística de distribuição, apoio governamental e engajamento comunitário (Maciel et al. 2022).
No Brasil, por exemplo, o Programa Nacional de Imunizações (PNI), criado em 1973, serviu de base para a operacionalização das campanhas contra a COVID-19. Com uma estrutura consolidada, o PNI já havia demonstrado capacidade de realizar campanhas de grande escala, como nas imunizações contra a poliomielite e o sarampo. Contudo, a campanha contra a COVID-19 apresentou desafios adicionais, como a necessidade de armazenamento em temperaturas muito baixas (no caso das vacinas de mRNA), a escassez inicial de doses e a urgência de comunicação clara e baseada em evidências para combater a desinformação (Gonçalves et al. 2024).
Para Cunha et al. (2024), um dos principais desafios enfrentados nas campanhas de vacinação em massa foi a resistência por parte de determinados grupos populacionais, fenômeno conhecido como hesitação vacinal. Esse comportamento pode ser motivado por fatores variados, como desconfiança nas autoridades, crenças religiosas, fake news, e a rápida disseminação de informações falsas nas redes sociais. Segundo a OMS, a hesitação vacinal está entre as dez maiores ameaças à saúde global, especialmente em contextos de crise sanitária. Enfrentar esse desafio exigiu ações de comunicação assertiva, transparência nos dados e envolvimento de lideranças locais e influenciadores confiáveis.
Outro ponto crítico para Gonçalves et al. (2024) foi a desigualdade no acesso às vacinas. Regiões mais pobres, comunidades rurais e populações vulneráveis enfrentaram barreiras logísticas, econômicas e estruturais para obter imunização em tempo oportuno. Isso contribuiu para disparidades regionais na cobertura vacinal, impactando diretamente nos índices de morbimortalidade. Políticas públicas inclusivas, aliadas à descentralização da oferta e campanhas móveis, foram estratégias utilizadas para mitigar essas desigualdades, ainda que com resultados variáveis entre os territórios.
Por fim, as campanhas de vacinação contra a COVID-19 evidenciaram a importância da integração entre diferentes níveis de governo, setor privado, organizações internacionais e sociedade civil. A pandemia reforçou a necessidade de planos de ação articulados e baseados em dados científicos, com foco na equidade e eficiência. O sucesso dessas campanhas, embora relativo, salvou milhões de vidas, e servirá como referência para futuras crises sanitárias globais, destacando o papel central da vacinação como instrumento de saúde pública e justiça social (Maciel et al. 2022).
COBERTURA VACINAL E FATORES QUE INFLUENCIAM
Segundo Leal et al. (2023), a cobertura vacinal é um indicador essencial de saúde pública que representa a proporção de indivíduos imunizados em relação ao total da população-alvo para determinada vacina ou esquema vacinal. Esse índice permite avaliar o alcance das estratégias de imunização e verificar se os objetivos de proteção coletiva estão sendo atingidos. De acordo com o Ministério da Saúde, para que haja efetiva imunidade de rebanho e controle da disseminação de doenças, é necessário alcançar coberturas vacinais superiores a 80% ou 90%, a depender do agente infeccioso e da transmissibilidade da doença.
A mensuração da cobertura vacinal baseia-se em registros oficiais de doses administradas e estimativas populacionais da faixa etária ou grupo prioritário correspondente. No caso da COVID-19, a definição da população-alvo foi atualizada continuamente conforme a aprovação das vacinas para diferentes faixas etárias, gestantes, imunocomprometidos e trabalhadores da saúde. Assim, os indicadores de cobertura vacinal tornaram-se dinâmicos, exigindo monitoramento constante e adaptação nas estratégias de vacinação conforme a evolução da pandemia e a disponibilidade de doses (Borges et al. 2024).
Além da cobertura geral, Leal et al. (2023) citam que outros indicadores importantes incluem a cobertura vacinal por dose (primeira, segunda, reforço), a taxa de abandono (quando a pessoa inicia o esquema vacinal, mas não o completa), e a cobertura por região geográfica, que evidencia desigualdades territoriais. Esses dados são fundamentais para o planejamento de ações corretivas, alocação de recursos e identificação de áreas de risco. A análise detalhada desses indicadores permite compreender não apenas o desempenho dos programas de imunização, mas também os contextos sociais e estruturais que influenciam sua efetividade.
Portanto, ainda segundo Leal et al. (2023), a cobertura vacinal não deve ser interpretada apenas como um número, mas como um reflexo do grau de acesso, adesão e confiança da população no sistema de saúde. Monitorar esses dados é essencial para garantir a proteção coletiva, principalmente em situações de emergência sanitária, como a pandemia de COVID-19, na qual a alta cobertura vacinal esteve diretamente relacionada à queda nos índices de hospitalização e mortalidade. A vigilância contínua, aliada a políticas públicas eficazes, é determinante para garantir resultados duradouros.
Para Dantas (2023), a cobertura vacinal é influenciada por uma ampla gama de fatores que transcendem a mera disponibilidade de vacinas. Entre os determinantes sociais, destacam-se as condições de moradia, escolaridade, acesso a serviços de saúde, infraestrutura urbana e transporte. Indivíduos que residem em áreas remotas ou periféricas frequentemente enfrentam barreiras geográficas e logísticas para comparecer aos postos de vacinação, o que compromete a equidade no acesso e, por consequência, os índices de imunização nessas regiões.
Do ponto de vista econômico, Brito et al. (2024) citam que a vulnerabilidade financeira das famílias também interfere significativamente na adesão às campanhas de vacinação. Embora as vacinas contra a COVID-19 tenham sido disponibilizadas gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS), custos indiretos como transporte, ausência no trabalho, cuidado com filhos ou idosos, entre outros, ainda representam obstáculos reais. A insegurança alimentar e a instabilidade econômica, agravadas pela pandemia, afetaram especialmente os grupos mais pobres, reduzindo sua prioridade ou disponibilidade para aderir à vacinação.
Além dos aspectos estruturais, os fatores culturais e comportamentais têm papel determinante nos níveis de cobertura vacinal. A desinformação e a propagação de fake news, amplificadas pelas redes sociais, alimentaram a hesitação vacinal e geraram desconfiança em relação à segurança e eficácia dos imunizantes. Questões religiosas, ideológicas e políticas também contribuíram para a polarização em torno da vacinação, especialmente em contextos onde lideranças comunitárias ou figuras públicas promoveram discursos negacionistas. Esse cenário exigiu ações intensivas de educação em saúde, baseadas em evidências científicas e diálogo respeitoso com as comunidades (Vasconcelos et al. 2024)
Finalmente, é imprescindível reconhecer que o sucesso das campanhas de imunização depende não apenas da logística, mas da capacidade do sistema de saúde em estabelecer vínculos de confiança com a população. Estratégias como busca ativa, vacinação domiciliar, campanhas com linguagem acessível e envolvimento de agentes comunitários de saúde mostraram-se eficazes em diversas localidades. A análise dos fatores sociais, econômicos e culturais que impactam a cobertura vacinal oferece subsídios valiosos para a formulação de políticas mais inclusivas e adaptadas à realidade de diferentes grupos populacionais (Borges et al. 2024).
PANORAMA DA COBERTURA VACINAL CONTRA COVID-19 EM DIFERENTES REGIÕES
De acordo com Castelfranchi (2025), a análise da cobertura vacinal contra a COVID-19 no Brasil evidencia profundas desigualdades regionais, que refletem as históricas disparidades socioeconômicas e estruturais entre os estados e municípios. Regiões como o Sudeste e o Sul apresentaram os mais altos índices de vacinação, impulsionadas por maior densidade de unidades básicas de saúde, logística mais eficiente, urbanização mais ampla e presença mais marcante do Estado. Esses fatores favoreceram uma distribuição mais rápida dos imunizantes e maior adesão da população aos calendários vacinais propostos.
Em contraposição, Viana et al. (2024) citam que, estados das regiões Norte e Nordeste enfrentaram desafios significativos no processo de imunização em massa. A dificuldade de acesso a áreas remotas, especialmente em comunidades indígenas, quilombolas e ribeirinhas, somada à carência de profissionais de saúde e infraestrutura precária, comprometeu a efetividade das campanhas. Nessas regiões, muitos municípios não conseguiram garantir a aplicação tempestiva das doses, o que resultou em uma cobertura vacinal abaixo da média nacional, principalmente nos reforços.
Além das barreiras logísticas, fatores como escolaridade da população, acesso à informação e confiança nas instituições públicas também influenciaram diretamente os índices de vacinação. A hesitação vacinal, estimulada pela disseminação de fake news e pela politização da pandemia, foi mais evidente em localidades onde a atuação do poder público foi limitada ou onde líderes locais promoveram discursos negacionistas. Isso contribuiu para uma adesão vacilante às campanhas, especialmente a partir da aplicação das doses de reforço (Castelfranchi, 2025).
Gontijo et al. (2024) pontuam que, é importante destacar que a dinâmica da cobertura vacinal variou ao longo do tempo e foi impactada por fatores como a escassez inicial de imunizantes, a priorização de grupos específicos, e a aprovação progressiva de vacinas para faixas etárias mais jovens. Mesmo em regiões com boa infraestrutura, a adesão aos reforços foi menor do que a esperada, revelando a necessidade de estratégias sustentadas de comunicação e mobilização social para manter a proteção coletiva.
Portanto, ainda segundo Gontijo et al. (2024), compreender o panorama da cobertura vacinal no Brasil exige não apenas uma análise quantitativa dos dados, mas uma leitura crítica das condições sociais, culturais e políticas que moldaram as respostas regionais à pandemia. A heterogeneidade do território brasileiro impõe desafios específicos a cada contexto, o que reforça a importância de políticas públicas flexíveis, descentralizadas e sensíveis às realidades locais.
Para Castro-Nunes (2023), a mortalidade por COVID-19 também apresentou padrões distintos entre as regiões brasileiras, sendo influenciada por múltiplos fatores além da vacinação, como acesso a serviços hospitalares, prevalência de comorbidades, densidade populacional e características demográficas. Dados do Ministério da Saúde revelam que, nos momentos mais críticos da pandemia, estados do Norte e do Centro-Oeste concentraram elevadas taxas de letalidade, muitas vezes associadas ao colapso do sistema de saúde e à baixa cobertura vacinal inicial.
Regiões como o Sudeste e o Sul, embora tenham registrado grande número absoluto de óbitos devido à maior população, conseguiram reduzir significativamente a mortalidade após a ampliação da vacinação, especialmente entre os grupos mais vulneráveis, como idosos e imunossuprimidos. O avanço da cobertura vacinal nessas regiões coincidiu com uma queda expressiva nas internações e mortes por COVID-19, demonstrando a eficácia das vacinas em prevenir casos graves e fatais (Rodovalho et al. 2023).
Em contraste, Castro-Nunes (2023), estados com menor cobertura vacinal continuaram a apresentar altas taxas de mortalidade mesmo após a introdução dos imunizantes, o que reforça a hipótese de que a vacinação em larga escala é uma ferramenta indispensável para o controle da pandemia. A falta de acesso, associada à hesitação vacinal, impediu que a imunidade coletiva fosse atingida de forma homogênea, prolongando os impactos negativos da doença em determinadas populações.
Outro fator que contribuiu para as diferenças nos desfechos entre as regiões foi a capacidade hospitalar instalada conforme apontam Silva Filho et al. (2021). Municípios com leitos de UTI escassos, baixa disponibilidade de oxigênio medicinal e profissionais exaustos registraram mortalidade superior, mesmo entre pacientes com sintomas moderados. Esse cenário foi especialmente dramático em localidades interioranas e em regiões amazônicas, onde o deslocamento até um centro de referência exigia viagens de horas ou até dias.
Assim, a comparação das taxas de mortalidade entre diferentes contextos regionais permite não apenas constatar desigualdades, mas também refletir sobre a urgência de fortalecer o sistema de saúde pública de forma equitativa, com ênfase na Atenção Primária e na expansão da infraestrutura em áreas historicamente negligenciadas. A vacinação, embora essencial, deve ser articulada a políticas abrangentes de saúde para surtir efeitos duradouros na redução da mortalidade (Rodovalho et al. 2023).
Segundo Gonçalves et al. (2024), diversos estudos nacionais e internacionais têm apontado uma forte correlação entre os níveis de cobertura vacinal e a redução das taxas de mortalidade por COVID-19. Com a introdução dos imunizantes, especialmente aqueles de tecnologia mRNA e vetor viral, houve uma queda significativa nos casos graves e nos óbitos em populações amplamente vacinadas. No Brasil, essa tendência tornou-se evidente a partir do segundo semestre de 2021, quando a vacinação alcançou maior abrangência entre os grupos prioritários.
As análises estatísticas de correlação demonstraram que municípios com maior percentual de cobertura vacinal apresentaram menor letalidade, mesmo em contextos de alta transmissão comunitária. Isso se deve à capacidade das vacinas de prevenir a progressão para formas graves da doença, além de reduzir a carga viral e, consequentemente, a transmissibilidade. Os dados sugerem que, mesmo diante de variantes mais agressivas, como a Gama e a Delta, a vacinação foi determinante para controlar a mortalidade (Gontijo et al. 2024).
Por outro lado, ainda segundo Gontijo et al. (2024), localidades com baixa cobertura vacinal continuaram a registrar surtos, internações e mortes, evidenciando a relação direta entre a adesão à vacinação e os desfechos clínicos da população. Em alguns municípios, foi possível observar uma “segunda onda” de casos graves justamente em áreas onde a vacinação estagnou ou avançou lentamente, apontando para a importância de estratégias contínuas de imunização e combate à desinformação.
Cabe destacar que a eficácia das vacinas também está relacionada à manutenção dos esquemas completos, incluindo as doses de reforço. Estudos clínicos e dados de vida real mostraram que a proteção conferida pelas duas primeiras doses diminui com o tempo, sendo fundamental a aplicação periódica de reforços, especialmente em populações vulneráveis. Portanto, a correlação entre vacinação e redução de óbitos não é apenas quantitativa, mas qualitativa, exigindo campanhas que assegurem esquemas vacinais completos (Viana et al. 2024).
Dessa forma, estabelecer a correlação entre os níveis de vacinação e a redução de óbitos por COVID-19 não só confirma a eficácia das vacinas, mas também destaca sua centralidade como ferramenta de saúde pública. É necessário manter a vigilância epidemiológica e o engajamento da população, garantindo que os benefícios da vacinação sejam sustentados a longo prazo, sobretudo diante da possibilidade de novas variantes (Gontijo et al. 2024).
A partir da análise dos dados de cobertura vacinal e mortalidade, Castelfranchi (2025) cita que, é possível identificar padrões regionais que refletem não apenas questões logísticas, mas também fatores históricos, sociais e políticos. As regiões Sul e Sudeste, por exemplo, apresentaram um padrão de resposta mais consistente, com campanhas bem estruturadas, maior adesão da população e resultados positivos na contenção da mortalidade. Esses padrões indicam que o investimento prévio em infraestrutura de saúde contribuiu diretamente para os bons resultados na pandemia.
Já o padrão observado nas regiões Norte e Centro-Oeste foi marcado por desigualdades acentuadas, tanto no acesso às vacinas quanto na capacidade de resposta hospitalar. A dispersão geográfica, a ausência de campanhas educativas direcionadas e a baixa presença do Estado dificultaram o alcance de níveis satisfatórios de cobertura. Nessas regiões, a mortalidade permaneceu elevada por mais tempo, sugerindo que a ausência de coordenação e planejamento estratégico foi um fator agravante (Viana et al. 2024).
Ainda segundo Viana et al. (2024), padrões diferenciados também foram observados dentro das próprias regiões, entre capitais e municípios do interior. Cidades maiores, com melhor estrutura de saúde e redes de comunicação mais efetivas, conseguiram atingir rapidamente a meta de vacinação. Em contrapartida, pequenas cidades enfrentaram mais resistência da população e dificuldades logísticas, o que se refletiu na manutenção de taxas elevadas de óbitos, mesmo após a chegada das vacinas.
A heterogeneidade dos padrões regionais evidencia a necessidade de abordagens diferenciadas nas políticas públicas de imunização. Estratégias de sucesso em determinadas regiões podem servir de modelo para outras, desde que adaptadas às realidades locais. A descentralização das decisões, o uso de dados em tempo real e a articulação entre esferas de governo foram elementos decisivos para bons resultados em vários contextos (Rodovalho et al. 2023).
Portanto, a identificação de padrões regionais não apenas permite uma leitura mais precisa dos efeitos da vacinação no Brasil, como também orienta a formulação de estratégias futuras. Entender as particularidades de cada região é essencial para planejar respostas eficazes em futuras emergências sanitárias, garantindo que nenhuma população fique desassistida (Castelfranchi, 2025).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo evidenciou a relação crucial entre a cobertura vacinal contra a COVID-19 e a redução das taxas de mortalidade em diferentes regiões do Brasil. As disparidades regionais observadas ao longo da pandemia foram impactadas por múltiplos fatores, como infraestrutura de saúde, condições socioeconômicas e acesso à informação. Regiões como o Sudeste e o Sul, que apresentaram maior cobertura vacinal, também demonstraram uma significativa queda na mortalidade, confirmando a eficácia das vacinas como uma ferramenta vital no controle da pandemia. A comparação entre as regiões revela que a vacinação é um fator determinante para mitigar a letalidade da doença, especialmente em cenários de alta transmissão comunitária.
No entanto, as desigualdades observadas nas regiões Norte e Nordeste destacam a necessidade urgente de políticas públicas mais robustas e inclusivas. A baixa cobertura vacinal, aliada a fatores estruturais como a escassez de profissionais de saúde e a dificuldade de acesso a áreas remotas, contribuiu para taxas de mortalidade mais altas. Isso reforça a importância de um planejamento estratégico mais eficiente para atender as particularidades dessas regiões, priorizando a descentralização das ações de vacinação e a implementação de campanhas de conscientização adaptadas às realidades locais. A experiência da pandemia mostrou que as desigualdades no acesso à saúde impactam diretamente nos desfechos sanitários, o que exige um olhar atento para as regiões mais vulneráveis.
A correlação entre níveis de vacinação e a redução de óbitos é clara, mas também revela a necessidade de fortalecer as estratégias de vacinação ao longo do tempo. A adesão às doses de reforço, por exemplo, foi um desafio em várias localidades, o que indicou que, apesar da importância da imunização inicial, a vacinação contínua é essencial para garantir a proteção coletiva. Esse cenário aponta para a importância de campanhas educativas, que vão além da aplicação das vacinas, e que incentivem a população a manter o calendário vacinal completo, especialmente em face das variantes emergentes do vírus.
Por fim, a identificação de padrões regionais no impacto da vacinação e da mortalidade sublinha a complexidade da resposta à pandemia no Brasil. As diferenças observadas entre as regiões, entre capitais e municípios do interior, e entre áreas mais e menos favorecidas socialmente, reforçam a necessidade de um sistema de saúde pública que seja ágil, adaptável e capaz de responder de forma eficaz às diversas realidades do país. As lições aprendidas com o enfrentamento da COVID-19 devem servir como base para futuras crises sanitárias, permitindo a construção de um sistema de saúde mais equitativo, eficiente e preparado para promover a saúde pública de forma universal e acessível.
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