Brincar e raciocinar: O uso da computação desplugada para estimular o pensamento computacional na educação infantil

PLAYING AND REASONING: THE USE OF UNPLUGGED COMPUTING TO STIMULATE COMPUTATIONAL THINKING IN EARLY CHILDHOOD EDUCATION

JUGAR Y RAZONAR: EL USO DE LA COMPUTACIÓN DESENCHUFADA PARA ESTIMULAR EL PENSAMIENTO COMPUTACIONAL EN LA EDUCACIÓN INFANTIL

Autor

Bruno Henrique de Souza
ORIENTADOR
 Vagda Gutemberg Gonçalves Rocha

URL do Artigo

https://iiscientific.com/artigos/9F4629

DOI

Souza, Bruno Henrique de . Brincar e raciocinar: O uso da computação desplugada para estimular o pensamento computacional na educação infantil. International Integralize Scientific. v 5, n 47, Maio/2025 ISSN/3085-654X

Resumo

Este artigo investiga como a computação desplugada pode contribuir para o desenvolvimento do pensamento computacional na educação infantil. O estudo tem como objetivo principal investigar como a computação desplugada pode contribuir para o desenvolvimento do pensamento computacional na educação infantil, estimulando habilidades de raciocínio lógico, criatividade e resolução de problemas. A pesquisa se caracteriza como sendo de natureza qualitativa de cunho descritivo. A metodologia adotada baseia-se em uma revisão bibliográfica e na análise de documentos normativos, como a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Os resultados apontam que a computação desplugada oferece uma abordagem acessível e inclusiva, promovendo um aprendizado significativo e alinhado às especificidades da infância. Conclui-se que a integração dessas práticas no contexto escolar pode contribuir para a formação de crianças mais preparadas para os desafios da era digital, respeitando seu desenvolvimento cognitivo e socioemocional.
Palavras-chave
computação desplugada; pensamento computacional; educação infantil; BNCC.

Summary

This article investigates how unplugged computing can contribute to the development of computational thinking in early childhood education. The primary objective of this research is to examine how unplugged computing fosters computational thinking by enhancing logical reasoning, creativity, and problem-solving skills. The study is qualitative in nature with a descriptive approach. The adopted methodology is based on a literature review and an analysis of regulatory documents, such as the Brazilian National Common Curricular Base (BNCC). The findings indicate that unplugged computing provides an accessible and inclusive approach, promoting meaningful learning aligned with the specific characteristics of childhood. It is concluded that integrating these practices into the school context can help prepare children for the challenges of the digital age while respecting their cognitive and socio-emotional development.
Keywords
unplugged computing; computational thinking; early childhood education; BNCC.

Resumen

Este artículo investiga cómo la computación desconectada puede contribuir al desarrollo del pensamiento computacional en la educación infantil. El objetivo principal de la investigación es analizar cómo la computación desconectada fomenta el pensamiento computacional, estimulando el razonamiento lógico, la creatividad y la resolución de problemas. El estudio tiene un enfoque cualitativo de carácter descriptivo. La metodología adoptada se basa en una revisión bibliográfica y en el análisis de documentos normativos, como la Base Nacional Común Curricular (BNCC). Los resultados indican que la computación desconectada ofrece un enfoque accesible e inclusivo, promoviendo un aprendizaje significativo y alineado con las características específicas de la infancia. Se concluye que la integración de estas prácticas en el contexto escolar puede contribuir a la formación de niños más preparados para los desafíos de la era digital, respetando su desarrollo cognitivo y socioemocional.
Palavras-clave
computación desconectada; pensamiento computacional; educación infantil; BNCC.

INTRODUÇÃO

O presente artigo oferece uma análise detalhada de uma seção da tese intitulada “Computação na Educação Básica: explorando o potencial do pensamento computacional para promover o aprendizado e desenvolvimento de habilidades em computação.” No decorrer da pesquisa, identificou-se a importância de examinar com mais rigor o efeito da computação desplugada na educação das crianças.

Diante dos apontamentos da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), podemos observar que o pensamento computacional assume um papel de destaque como competência a ser desenvolvida ao longo da educação básica. Considerando as profundas transformações decorrentes da era digital e suas implicações na sociedade contemporânea, o desenvolvimento dessa habilidade tem se consolidado como uma demanda essencial no contexto educacional, exigindo um olhar atento e intencional por parte dos profissionais da educação para sua efetiva integração às práticas pedagógicas.

O pensamento computacional (PC), segundo Brasil (2018), Sassi et al. (2023); Sassi, Maciel e Pereira (2023); Junior et al (2023); e Paiva (2022), é caracterizado como sendo um conjunto de processos que ajuda a resolver problemas de forma organizada e eficiente, e pode ser aplicado em várias áreas do conhecimento, não apenas na computação. Ademais, segundo os apontamentos dos autores, percebemos que, o PC pode ser trabalhada de duas formas: através de atividades que utilizam a computação plugada (atividades que utiliza recursos eletrônicos como tablets, computadores, celulares, etc) e computação desplugada (atividades realizadas sem recursos eletrônicos; como exemplo podemos citar a realização de atividade por meio do uso de lápis e papel).

O objetivo principal deste estudo é investigar como a computação desplugada pode contribuir para o desenvolvimento do pensamento computacional na educação infantil, estimulando habilidades de raciocínio lógico, criatividade e resolução de problemas. Os objetivos específicos são: explorar estratégias lúdicas segundo bibliografia selecionada que utilizem a computação desplugada para introduzir conceitos de pensamento computacional sem o uso de tecnologia digital. analisar o impacto das atividades desplugadas no desenvolvimento do raciocínio lógico, criatividade e resolução de problemas das crianças na educação infantil; identificar desafios e possibilidades na implementação da computação desplugada no cotidiano escolar da educação infantil.

Este artigo é fruto de uma pesquisa anterior e, por essa razão, adota a mesma metodologia utilizada na tese de origem. Mantivemos o mesmo banco de dados, o que dispensou a necessidade de realizar uma nova busca bibliográfica. Assim como na tese, este estudo fundamenta-se na abordagem construcionista proposta por Seymour Papert e caracteriza-se como uma pesquisa bibliográfica de natureza descritiva. Seu objetivo é responder às questões levantadas por meio da análise crítica das referências selecionadas na etapa de coleta de dados.

Para tanto, foram utilizadas as mesmas fontes e estratégias de busca da pesquisa original. As plataformas consultadas incluíram a Scientific Electronic Library Online (SciELO)- foi inserida a palavra-chave “pensamento computacional”-, a Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD)- foram utilizadas as palavras-chaves “pensamento computacional, carreira e tecnologia”-, e o Google Acadêmico- utilizamos como palavra-chave “pensamento computacional”. 

Ademais, foram utilizados, também, fontes primárias como livros e artigos como “Computação na Educação Básica: Fundamentos e Experiências” , organização de André Raabe, Avelino F. Zorzo, Paulo Blikstein; “Pensamento Computacional e o Desenvolvimento de Competências para a Resolução de Problemas no Ensino- de acordo com a BNCC” de autoria de Severino Ramo Paiva, “Tecnologias digitais, robótica e pensamento computacional: formação, pesquisa e práticas colaborativas na educação básica” organizado por Adriana Aparecida de Lima Terçariol, Daniela Melaré Vieira Barros, Elisangela, Aparecida Bulla Ikeshoji, et al., o livro “ Computação na educação básica: fundamentos e experiências, organizado por André Raabe, Avelino F. Zorzo, Paulo Blinkstein e o livro Tecnologia, Educação e Docência: Desafios e oportunidades da Tecnologia na Educação.

Considerando que a pesquisa bibliográfica “[…] é desenvolvida mediante o concurso de conhecimentos disponíveis e a utilização cuidadosa de métodos, técnicas e outros procedimentos científicos […] (Gil, 2007 apud, Rocha; Bernardo, p. 88)” O estudo será conduzido de modo que passe pelas seguintes etapas, conforme sugerido por Rocha e Bernardo (2011, p. 97-98):

  • levantamento minucioso de bibliografia;
  • seleção do que será utilizado no âmbito da bibliografia levantada;
  • realização de leituras que propiciem o conhecimento do autor e do tema;
  • fichamento e organização das leituras;
  • registro e arquivamento das informações;
  • redação do texto final;
  • planejamento da comunicação dos resultados.

Como apresentado por diversos autores abordados neste estudo, a tecnologia vem se adentrando cada vez mais em diversas áreas, como saúde, educação, lazer, comunicação, entre outros. Sendo assim, a tecnologia desempenha um papel essencial em nosso dia a dia. Considerando as necessidades da sociedade atual, Miguel (2023) e Salgado et al. (2023) defendem que é fundamental incluir as crianças na cultura digital, enfatizando que, além dos letramentos tradicionais, é crucial promover o letramento digital desde a educação infantil.

Este artigo tem como objetivo geral investigar como a computação desplugada pode contribuir para o desenvolvimento do pensamento computacional na educação infantil, estimulando habilidades de raciocínio lógico, criatividade e resolução de problemas. Os objetivos específicos incluem: explorar estratégias lúdicas que utilizem a computação desplugada, analisar o impacto dessas atividades no desenvolvimento das crianças e identificar os desafios e as possibilidades da sua implementação na educação infantil.

Deste modo, as informações apresentadas mobilizaram a formulação do problema de pesquisa sistematizado na seguinte sentença: De que forma a computação desplugada pode contribuir para o desenvolvimento do pensamento computacional na educação infantil, promovendo habilidades de raciocínio lógico, criatividade e resolução de problemas?

A partir dos estudos iniciais sobre o tema, compreendemos que as aulas de pensamento computacional têm um impacto significativo no desenvolvimento da linguagem computacional. Elas ajudam os alunos a compreenderem conceitos fundamentais da computação, como sequenciamento, repetição, algoritmos e abstração, além de desenvolverem habilidades essenciais, como pensamento lógico, criatividade, resolução de problemas e colaboração.

Com base nisso, nossa hipótese é que a introdução estruturada e sistematizada do pensamento computacional, por meio de atividades de computação desplugada, potencializa o desenvolvimento dessas competências na educação infantil. Acreditamos que, ao integrar esses conceitos de forma lúdica e acessível, é possível promover um avanço significativo nas habilidades cognitivas das crianças, preparando-as para enfrentar os desafios da sociedade digital e do século XXI.

A EDUCAÇÃO INFANTIL E SUAS ESPECIFICIDADES SEGUNDO A BNCC

A Base Nacional Comum Curricular (Brasil, 2018) estabelece a Educação Infantil como a primeira etapa da Educação Básica, abrangendo crianças de 0 a 5 anos. Seu principal objetivo é garantir direitos de aprendizagem e desenvolvimento por meio de experiências significativas e interações, respeitando as especificidades dessa fase.

A BNCC estrutura a Educação Infantil em cinco Campos de Experiência, os quais propõem que as crianças explorem o mundo ao seu redor por meio de brincadeiras, interações e vivências significativas, sempre considerando as diferentes dimensões do seu desenvolvimento integral. Esses campos são: O eu, o outro e o nós (que tem como foco abordar relações interpessoais e identidade); Corpo, gestos e movimentos (visa trabalhar com a expressão corporal e motricidade; Traços, sons, cores e formas – (aborda a Exploração artística e criatividade); Escuta, fala, pensamento e imaginação – (tem como objetivo trabalhar com a Linguagem e comunicação). Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações – (aborda as Noções matemáticas e exploração do ambiente).

Para garantir que as crianças vivenciam e experiências fundamentais para sua formação integral, a BNCC define seis direitos de aprendizagem e desenvolvimento. Esses direitos são essenciais para assegurar que a infância seja respeitada e valorizada, promovendo um ambiente rico em interações, brincadeiras e descobertas. Em especial, a BNCC enfatiza a importância do brincar como eixo estruturante das práticas pedagógicas, promovendo aprendizagens essenciais de forma lúdica e contextualizada.

Na Educação Infantil, a BNCC define seis Direitos de Aprendizagem e Desenvolvimento, que garantem que as crianças vivenciem experiências fundamentais para sua formação integral. Esses direitos são essenciais para assegurar que a infância seja respeitada e valorizada, promovendo um ambiente rico em interações, brincadeiras e descobertas. São eles:

    • Conviver com outras crianças e adultos, em pequenos e grandes grupos, utilizando diferentes linguagens, ampliando o conhecimento de si e do outro, o respeito em relação à cultura e às diferenças entre as pessoas.
    • Brincar cotidianamente de diversas formas, em diferentes espaços e tempos, com diferentes parceiros (crianças e adultos), ampliando e diversificando seu acesso a produções culturais, seus conhecimentos, sua imaginação, sua criatividade, suas experiências emocionais, corporais, sensoriais, expressivas, cognitivas, sociais e relacionais.
    • Participar ativamente, com adultos e outras crianças, tanto do planejamento da gestão da escola e das atividades propostas pelo educador quanto da realização das atividades da vida cotidiana, tais como a escolha das brincadeiras, dos materiais e dos ambientes, desenvolvendo diferentes linguagens e elaborando conhecimentos, decidindo e se posicionando.
    • Explorar movimentos, gestos, sons, formas, texturas, cores, palavras, emoções, transformações, relacionamentos, histórias, objetos, elementos da natureza, na escola e fora dela, ampliando seus saberes sobre a cultura, em suas diversas modalidades: as artes, a escrita, a ciência e a tecnologia.
    • Expressar, como sujeito dialógico, criativo e sensível, suas necessidades, emoções, sentimentos, dúvidas, hipóteses, descobertas, opiniões, questionamentos, por meio de diferentes linguagens.
    • Conhecer-se e construir sua identidade pessoal, social e cultural, constituindo uma imagem positiva de si e de seus grupos de pertencimento, nas diversas experiências de cuidados, interações, brincadeiras e linguagens vivenciadas na instituição escolar e em seu contexto familiar e comunitário (Brasil, 2018, p. 38, grifo do autor).

Esses direitos orientam as práticas pedagógicas na Educação Infantil, garantindo que o aprendizado aconteça de forma lúdica, afetiva e respeitosa, garantindo que as práticas educativas respeitem as necessidades, potencialidades e direitos das crianças. Dessa forma, a BNCC reforça a importância de uma educação que valoriza a infância como uma fase singular e fundamental no desenvolvimento humano.

PENSAMENTO COMPUTACIONAL

O pensamento computacional (PC) é uma habilidade essencial no currículo escolar, alinhada às demandas da sociedade digital. Ele envolve processos cognitivos sistemáticos para resolver problemas e se aplica a diversas áreas do conhecimento.

Na Sociedade contemporânea a necessidade de os indivíduos conhecerem e interagirem com as tecnologias é crescente, devido ao uso constante de diversos aparatos tecnológicos em nosso cotidiano. Pois, de acordo com a BNCC e com diversos outros autores abordados em nosso estudo, a tecnologia está presente em diferentes áreas da nossa vida, como: saúde, educação, transporte, lazer, etc. Alusivo a isto, o pensamento computacional se apresenta como uma ferramenta essencial para apresentar as tecnologias aos indivíduos de modo que possam usar e refletir sobre seu impacto no dia a dia. Como ressaltado por Wing (apud Klering; Trarbach; Kersch, 2023, p.10)

[…]o pensamento computacional é, sem dúvidas, uma habilidade necessária a todos, e não deve ser utilizada e procurada somente pelos cientistas da área da computação. Esse tipo de pensamento envolve o entendimento, o comportamento humano, a solução de problemas, e a criação de sistemas utilizando de ferramentas mentais que refletem a complexidade da área computacional.

O conceito “pensamento computacional”, conforme Guimarães (2022), surgiu em 1980 com Papert e ganhou visibilidade em 2006 com Jeannette Wing, sendo definido como uma competência fundamental para todos, e não apenas para profissionais da computação. O pensamento computacional envolve habilidades como abstração, decomposição, reconhecimento de padrões e desenvolvimento de algoritmos.

Nas várias fontes que integram esta pesquisa, encontramos diversos conceitos relacionados ao pensamento computacional, sendo este uma competência fundamental para todos, e não apenas para aqueles que atuam na área de tecnologia da informação. Essa habilidade é percebida de maneira mais ampla, englobando múltiplas capacidades necessárias para o dia a dia, como o raciocínio lógico e a solução de problemas complexos. Conforme destacado por Barcellos e Silvera (2012, apud Guimarães, 2022, p. 11), o pensamento computacional nos leva a “pensar de forma abstrata e em múltiplos níveis, e não a mera aplicação de técnicas de programação”.

De acordo com Fleer (2016, apud por Miguel, 2023, p. 61), o pensamento computacional é uma ferramenta que nos ajuda a “[…] investigar e definir; gerar e desenvolver; produzir e implementar; avaliando; e colaboração e gerenciamento de soluções[…]”. Por outro lado, Brackmann, citado por Sassi, Maciel, Pereira (2023) define o pensamento computacional como uma habilidade criativa, crítica e estratégica que nos permite usar os princípios da Computação em várias áreas do conhecimento, com o objetivo de identificar e resolver problemas.

Além disso, de acordo com Guimarães (2022), o pensamento computacional é compreendido através de seus quatro pilares: decomposição (consiste em fragmentar um problema complexo em partes menores, para que facilita a sua resolução), reconhecimento de padrões (processo de identificação de características em comum que se repetem nas diversas situações), abstração (função identificar se as informações são pertinentes ou não para a resolução de um problema, ou seja, seleciona elementos para manter ou eliminar) e algoritmos(processo é composto por várias etapas que têm o objetivo de alcançar um padrão que ajude a resolver um problema, seguindo um conjunto definido de regras. Em outras palavras, essa abordagem utiliza táticas, regras e estratégias com a finalidade de encontrar uma solução para a questão apresentada).

Ao vivenciar atividades ligadas ao PC, os estudantes podem desenvolver competências essenciais, como:

  • Capacidade de reflexão;
  • Raciocínio algorítmico e matemático;
  • Visão generalista;
  • Reconhecimento da importância da análise de dados;
  • Capacidade de trabalhar em equipe;
  • Enfim, a habilidade de resolver problemas. (Paiva, 2022, p. 10).

É importante destacar que o PC não se limita ao uso de dispositivos eletrônicos. Ele pode ser trabalhado tanto de forma plugada (com a utilização de aparatos tecnológicos como computador, tablet, celulares, aplicativos, sistemas, entre outros), quanto de maneira desplugada (pode ser realizada com o uso de papel e lápis, atividades impressas, criação de maquetes, contação de histórias, brincadeiras, etc), por meio de atividades que exploram conceitos computacionais sem a necessidade de equipamentos eletrônicos.

COMPUTAÇÃO DESPLUGADA

O ensino de Computação na Educação Infantil, segundo a BNCC, deve ocorrer de forma lúdica, exploratória e integrada aos Campos de Experiência e Direitos de Aprendizagem. Como a BNCC não trata diretamente da Computação nessa etapa, sua abordagem deve respeitar as especificidades da infância, priorizando a interação, o brincar e a experimentação, sem a necessidade de conteúdos formais ou uso excessivo de tecnologia.

Compreende-se, portanto, que é plenamente possível desenvolver atividades relacionadas ao pensamento computacional (PC) por meio de diversas abordagens pedagógicas, como brincadeiras, práticas cotidianas, experimentação, contação de histórias e o uso consciente e significativo da tecnologia. Essas estratégias, além de promoverem o aprendizado de maneira lúdica e envolvente, permitem que o PC seja integrado de forma contextualizada no ambiente educacional.

De acordo com Júnior et al. (2023), a pesquisa realizada destaca várias atividades que ilustram essas práticas no contexto do ensino de conceitos computacionais. Os autores enfatizam que tais atividades devem ser escolhidas e adaptadas conforme o público-alvo, a faixa etária dos participantes, os recursos disponíveis no ambiente de ensino e o tempo destinado à realização das mesmas. Entre as estratégias sugeridas pelos autores, destaca-se a utilização de peças teatrais e histórias em quadrinhos para introduzir conceitos de tecnologia de forma acessível e divertida.

Um exemplo pontuado por Junior et al. (2023), de atividade proposta é a peça teatral intitulada “Sofia no mundo dos computadores”, que narra a aventura da protagonista dentro de um computador gigante. Essa atividade é voltada especialmente para o público infantil e visa despertar o interesse das crianças pelo universo da computação, de uma maneira divertida e interativa. Outra atividade mencionada por Junior et al. (2023) é a contação da história em quadrinhos “Sofia e o HD”, destinada a crianças de 4 e 5 anos, cujo objetivo é apresentar o conceito de HD (hard disk) e aproximar as crianças dos fundamentos do pensamento computacional. Essas atividades, como ressaltado pelos autores, podem ser ajustadas conforme as necessidades do contexto educacional, garantindo que o aprendizado seja significativo e acessível para os alunos.

Dessa forma, o ensino de Computação na Educação Infantil deve respeitar as etapas e especificidades do desenvolvimento das crianças, promovendo um aprendizado natural e significativo, sem forçar a antecipação de conteúdos escolares. O foco deve estar no pensamento computacional, e não na programação formal, garantindo que as crianças construam bases cognitivas sólidas para futuros aprendizados.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Embora a BNCC não aborde diretamente o termo “pensamento computacional” no contexto da Educação Infantil, é possível compreender que o contato com a tecnologia, desde cedo, deve ser ofertado de forma a desenvolver competências relacionadas ao uso crítico e reflexivo das ferramentas digitais. No documento, em suas competências gerais da Educação Básica, destaca que as aprendizagens devem incluir a capacidade dos alunos de

Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva (Brasil, 2018, p. 9).

Nesse sentido, as práticas pedagógicas voltadas ao pensamento computacional contribuem para o desenvolvimento dessas competências, ao permitir que as crianças interajam com a tecnologia de forma significativa e integrada às suas experiências cotidianas, estimulando sua criatividade e capacidade de resolução de problemas.

Com base nos princípios da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que preveem o desenvolvimento integral das crianças por meio de práticas pedagógicas significativas e contextualizadas, é possível integrar o pensamento computacional ao cotidiano de forma natural e acessível. As atividades lúdicas, como brincadeiras, jogos e desafios, são um meio eficaz de explorar conceitos básicos de computação, como sequenciamento, reconhecimento de padrões, abstração e algoritmos, alinhando-se aos objetivos de aprendizagem da BNCC.

Ao envolver as crianças em atividades que estimulam a imaginação e a criatividade, além de promover o uso consciente e significativo da tecnologia, garantimos a construção de saberes essenciais para o desenvolvimento cognitivo e social dos alunos. Assim, o pensamento computacional deixa de ser uma habilidade técnica isolada e passa a ser um recurso para a aprendizagem de diversas áreas do conhecimento, preparando as crianças para os desafios da sociedade digital de maneira lúdica e adaptada à sua realidade, conforme orienta a BNCC.

Os resultados evidenciam que a implementação dessas práticas no cotidiano escolar pode contribuir para a construção de bases sólidas para o desenvolvimento futuro das crianças, preparando-as para os desafios do século XXI. Entretanto, desafios como a formação de professores e a adaptação curricular ainda precisam ser superados para garantir a efetividade da computação desplugada na educação infantil. Assim, recomenda-se que políticas educacionais e programas de capacitação sejam fortalecidos, visando ampliar a adoção dessa abordagem no ensino básico.

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Souza, Bruno Henrique de . Brincar e raciocinar: O uso da computação desplugada para estimular o pensamento computacional na educação infantil.International Integralize Scientific. v 5, n 47, Maio/2025 ISSN/3085-654X

Referencias

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Acesso em: 2024-09-03.

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