Cultura digital e práticas de letramento em rede: A produção de memes por alunos do ensino fundamental no contraturno escolar

DIGITAL CULTURE AND NETWORKED LITERACY PRACTICES: THE PRODUCTION OF MEMES BY ELEMENTARY STUDENTS DURING EXTENDED SCHOOL HOURS

CULTURA DIGITAL Y PRÁCTICAS DE ALFABETIZACIÓN EN RED: LA PRODUCCIÓN DE MEMES POR ALUMNOS DE LA EDUCACIÓN BÁSICA EN EL CONTRATURNO ESCOLAR

Autor

Lucimário Augusto da Silva
ORIENTADOR
Prof. Dr. Rodger Roberto Alves de Sousa

URL do Artigo

https://iiscientific.com/artigos/003B3B

DOI

Silva, Lucimário Augusto da . Cultura digital e práticas de letramento em rede: A produção de memes por alunos do ensino fundamental no contraturno escolar. International Integralize Scientific. v 5, n 47, Maio/2025 ISSN/3085-654X

Resumo

Este artigo apresenta um trabalho sobre a produção de memes da internet como prática pedagógica, sustentada pelos pressupostos de multiletramentos e letramento crítico dentro de uma escola pública do município de São Miguel de Taipu-PB. Com uma metodologia qualitativa inspirada na pesquisa etnográfica, a pesquisa atentou para como as oficinas realizadas fora da escola com os celulares dos alunos ajudam os alunos a perceber sua autoria, identidade cultural e a desenvolver um espírito crítico. As descobertas são consistentes com o modelo de canalizar memes em gêneros expressivos online da cibercultura, nos quais o nível de linguagem, representação e engajamento social se intersectam. De acordo com autores como o New London Group (1996), Street (1984), Rojo (2012), Jenkins (2009) e Kleiman (2005), destaca-se que os letramentos múltiplos estão na fronteira da inclusão e da educação cívica.
Palavras-chave
memes; multiletramentos; letramento digital; cibercultura; juventudes periféricas.

Summary

This article presents a study on the production of internet memes as a pedagogical practice, grounded in the principles of multiliteracies and critical literacy within a public school in the municipality of São Miguel de Taipu, Paraíba, Brazil. Using a qualitative methodology inspired by ethnographic research, the study focused on how workshops conducted outside the school environment, using students’ own mobile phones, helped them recognize their authorship, cultural identity, and develop a critical consciousness. The findings align with the model of channeling memes as expressive online genres of cyberculture, where language, representation, and social engagement intersect. Based on authors such as the New London Group (1996), Street (1984), Rojo (2012), Jenkins (2009), and Kleiman (2005), the study emphasizes that multiliteracies are at the frontier of inclusion and civic education.
Keywords
memes; multiliteracies; digital literacy; cyberculture; marginalized youth.

Resumen

Este artículo presenta un estudio sobre la producción de memes de internet como práctica pedagógica, fundamentado en los principios de los multialfabetismos y de la alfabetización crítica, en una escuela pública del municipio de São Miguel de Taipu, en el estado de Paraíba, Brasil. A partir de una metodología cualitativa inspirada en la investigación etnográfica, el estudio analizó cómo los talleres realizados fuera del entorno escolar, utilizando los teléfonos móviles de los propios estudiantes, contribuyeron a que reconocieran su autoría, identidad cultural y desarrollaran una conciencia crítica. Los hallazgos coinciden con el modelo que canaliza los memes como géneros expresivos en línea de la cibercultura, en los que se cruzan lenguaje, representación y participación social. Basándose en autores como el New London Group (1996), Street (1984), Rojo (2012), Jenkins (2009) y Kleiman (2005), se destaca que los multialfabetismos se sitúan en la frontera de la inclusión y la educación cívica.
Palavras-clave
memes; multialfabetismos; alfabetización digital; cibercultura; juventudes periféricas.

INTRODUÇÃO 

A incorporação das linguagens digitais ao contexto escolar é um desafio urgente para a educação brasileira, sobretudo em escolas públicas localizadas em regiões periféricas. A escola tradicional, ainda pautada por práticas monomodais de leitura e escrita, muitas vezes desconsidera os saberes culturais e digitais que compõem o repertório dos estudantes (Rojo, 2012). No entanto, os jovens, especialmente aqueles em situação de vulnerabilidade social, são sujeitos ativos na produção de conteúdo nas redes, utilizando-se de gêneros digitais como memes, vídeos e postagens como forma de expressão, humor, crítica e identidade.

Neste contexto, o presente artigo apresenta uma experiência pedagógica realizada com estudantes do Ensino Fundamental II de uma escola pública de São Miguel de Taipu-PB. A proposta consistiu na realização de oficinas de produção de memes no contraturno escolar, com o objetivo de promover o letramento crítico por meio das linguagens da cibercultura. A investigação busca compreender de que maneira a produção de memes pode funcionar como prática de multiletramento e de fortalecimento da identidade cultural dos estudantes.

REFERENCIAL TEÓRICO

A internet tornou-se um dos pilares da realidade social moderna, mudando a maneira como as pessoas se comunicam, aprendem e produzem significado. Essas mudanças implicam na capacidade das escolas de lidar com novas linguagens e modos expressivos que são implementados em atividades pedagógicas e, assim, superar os modelos tradicionais baseados na oralidade e na escrita alfabética (Rojo, 2012).

Nesse contexto, a elaboração pelo Grupo de Nova Londres (1996) do conceito de práticas letradas diversas surge como fundamental. Tal perspectiva baseia-se no pressuposto de que a pluralidade de línguas e formas semióticas é um dos aspectos mais centrais da comunicação contemporânea. Enquanto isso, o letramento crítico, como proposto por Freire (1987) e desenvolvido por Street (1984), sugere uma leitura do mundo que vai além do código da escrita e se torna um instrumento de emancipação social e cívica.

MULTILETRAMENTOS E DIVERSIDADE SEMIÓTICA

A teoria dos letramentos múltiplos é uma resposta às necessidades comunicacionais em evolução trazidas pela globalização e cibercultura. Segundo o Grupo de Nova Londres (1996), hoje, o ensino e a aprendizagem não podem mais estar fixados a um padrão linguístico e cultural único, mas precisam considerar a profusão de modos de expressão que aparecem nas práticas sociais. Cope e Kalantzis (2009) elaboram ainda mais esse conceito propondo o conceito de “designs disponíveis”, que se refere aos recursos semióticos que os sujeitos mobilizam em suas produções discursivas.

No contexto escolar, essa visão abre o campo de letramento para linguagens visuais, auditivas, gestuais e digitais. Roxane Rojo (2012) fala de práticas educativas que consideram os vários letramentos no mundo, elucidando o currículo para as experiências culturais da juventude, quando ela fala da pedagogia dos letramentos múltiplos. Gêneros adaptados, como memes, vídeos e postagens digitais, possibilitam tanto a melhoria das habilidades comunicacionais quanto a ressignificação da escola como um ambiente de criação e conversa.

Dessa forma, a diversidade semiótica torna-se um elemento integral da educação ao longo da vida. Os alunos precisam das habilidades críticas para ler e criar textos multimodais para que possam engajar-se com o ambiente digital e com os discursos nele existentes.

LETRAMENTO COMO PRÁTICA SOCIAL E POLÍTICA

Brian Street (1984) diferencia entre dois modelos de letramento: o modelo autônomo, onde o letramento é visto como uma habilidade técnica; e o modelo ideológico, que vê a leitura e a escrita como práticas sociais situadas. Esta segunda abordagem, a que sigo aqui, tem como base a noção de que todos os atos de letramento estão imbuídos de relações de poder, valores culturais e lutas simbólicas.

Paulo Freire (1987) apoia essa ideia quando afirma que os atos de leitura e escrita devem começar a partir de uma leitura crítica do mundo, tornando os sujeitos conscientes e livres. De acordo com esse raciocínio, o letramento escolar deve estar conectado à vida social dos alunos, permitindo-lhes ler e interferir na realidade.

Kleiman (2005) enfatiza que a linguagem deve ser vista como uma prática de vida, em constante troca com o entorno sociocultural em que os alunos estão inseridos. “Chi ECE peg – 4” As práticas escolares que excluem os multiletramentos irão finalmente deixar de lado aqueles cuja expressão de si já está situada em outro lugar e, em particular, os jovens e outros das periferias que já encontram que seus modos de comunicação muitas vezes não são apenas não apoiados nas escolas, mas não ecoam nada.

Com base nesse aporte teórico, sabemos que o letramento crítico é, antes de tudo, um ato de cidadania. Quando a escola reconhece a validade do conhecimento popular e midiático, a escola se transforma em um espaço acolhedor onde o conhecimento é construído coletivamente.

A INTERNET, JUVENTUDE E POLÍTICA PARTICIPATIVA

A cibercultura, como apontado por Lemos (2007), estabelece um novo regime de comunicação marcado pela hipertextualidade, interatividade e multilocalidade da produção de símbolos. Nesse ecossistema digital, os jovens se tornam agentes de criação de sentido usando plataformas de compartilhamento de conteúdo online para articular subjetividades, afirmar direitos e contestar narrativas hegemônicas.

Henry Jenkins (2009) levanta a questão da cultura participativa e observa que os jovens remixam materiais e redesenham narrativas e mobilizam suas histórias de maneiras criativas e políticas. Fazer memes, em outras palavras, é mais do que uma piada: é um ato de autoria e crítica social. Memes são mecanismos para reflexão e contestação, na medida em que justapõem a visualidade e a verbalidade do humor e da ridicularização.

Valorizar essas práticas juvenis na educação é reconhecer que os alunos já estão envolvidos na produção cultural; mesmo (ou talvez principalmente) se for fora das estruturas da escola como tradicionalmente a concebemos. Incluir essas manifestações no currículo não é ceder a uma moda, mas sim adotar uma posição dialógica em consonância com uma pedagogia que respeita os modos legítimos dos sujeitos de se expressarem.

No entanto, como nota Rojo (2012), a mediação pedagógica é uma condição necessária para alcançar tais práticas digitais como experiências formativas. “Crevola, 2017” O desafio é traduzir o uso não planejado da mídia em ocasiões de aprendizagem posicional sem desvalorizar a criatividade e autonomia juvenil.

As mudanças induzidas pela cultura digital requerem uma ressignificação profunda da escola, do que entendemos sobre o currículo e sobre a prática docente. Reconhecer as competências de leitura e escrita multimodais como eixo estruturante da educação nos tempos atuais é um pré-requisito para que as escolas assumam seu papel na formação de cidadãos livres críticos que possam lidar com os múltiplos discursos da sociedade.

A interseção de multiletramentos, letramento crítico e cibercultura abre uma rica perspectiva sobre a qual fincar as bases de uma educação democrática e inclusiva. As escolas assim se aproximam das realidades de seus alunos ao se conectarem com algumas das práticas comunicacionais dos jovens e promoverem o diálogo entre diferentes formas de conhecimento, ajudando assim na luta contra as desigualdades educacionais.

Nesse sentido, é uma questão urgente que as políticas públicas educacionais considerem a formação de professores voltada para as questões e desafios relacionados à cultura digital, infraestrutura e ao acesso democrático às tecnologias. Somente por meio de ações estruturais e intencionalidade pedagógica as práticas digitais poderão se tornar ferramentas eficazes para a emancipação social e para a construção de uma cidadania que seja ativa e crítica.

METODOLOGIA

Esta pesquisa qualitativa adota uma abordagem etnográfica de inspiração crítica, articulada à perspectiva da pesquisa-ação. O objetivo foi compreender, de forma situada, os sentidos atribuídos pelos estudantes à produção de memes no contexto das oficinas escolares e os impactos dessa prática em seus processos de letramento.

CONTEXTO E PARTICIPANTES

O estudo foi desenvolvido em uma escola pública da rede municipal de ensino de São Miguel de Taipu, no interior da Paraíba. Participaram da investigação dez alunos do Ensino Fundamental II, com idades entre 12 e 15 anos, inseridas em uma proposta educativa desenvolvida no contraturno escolar. Os estudantes foram convidados a participar voluntariamente das oficinas de produção de memes, utilizando seus próprios aparelhos celulares, conforme a proposta pedagógica BYOD (Bring Your Own Device).

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

As transformações geradas pela cultura digital questionam os paradigmas tradicionais das escolas e demandam uma redefinição completa, ampla e profunda, não apenas das estruturas organizacionais da escola, mas, principalmente, do que entendemos como currículo, sala de aula e prática pedagógica.

Nesse contexto de intenso fluxo de informações, de imediatismo da comunicação e do uso de linguagem multimodal, o modelo escolar fundado em métodos de leitura e escrita monopolares revela-se insuficiente. 

Desta forma, a leitura e produção de texto nas várias linguagens (visual, auditiva, falada, digital) são um alicerce inegociável da aprendizagem do século XXI. Essas competências, que fazem parte do que se chama de multiletramento, devem deixar de ser colaterais: elas precisam constituir a espinha dorsal do sistema de ensino, pois, ao adquiri-las, é possível transitar criticamente pelos diversos discursos que circulam nos eventos sociais.

Ao combinar os pressupostos dos letramentos múltiplos, letramento crítico e cibercultura a partir de uma perspectiva educativa de diversidade, escuta e participação; temos uma visão diferente do que a educação pode ser. Essa conjunção entre teórico e prático permite que a escola não apenas se modernize em relação às formas atuais de produção e circulação de significados, mas também se aproxime; pelo menos em teoria, da vida dos alunos, especialmente daqueles que vêm de condições periféricas.

Se começarmos a valorizar, por exemplo, as formas de comunicação juvenil — memes, vídeos curtos, narrativas digitais e formas de expressão cultural — quer dizer, os jovens já produzem conhecimento, se não além dos parâmetros institucionais formais. Quando a escola assume essas manifestações e as conecta com o conhecimento sistematizado, abre-se espaço para o encontro entre os saberes e colabora na luta contra as desigualdades educacionais.

Nesse sentido, torna-se urgente que as políticas públicas educacionais invistam em uma formação contínua de professores direcionada aos desafios que a cultura digital apresenta. Isso quer dizer que não se trata de preparar os professores para lidar tecnicamente com as tecnologias, mas sim formar sujeitos capazes de pensar sobre sua inserção no mundo digital e suas dimensões éticas, políticas e culturais. E também porque é necessário contar com condições materiais e acesso democrático às ferramentas tecnológicas, se tentativas de inovação pedagógica não quiserem bater em um muro.

Apenas por meio de ações estruturadas pela intencionalidade pedagógica essa práxis pode se tornar uma aliada da emancipação social e da construção de uma cidadania ativa, reflexiva e comprometida com a justiça social. A educação, nesse novo cenário, deve ser pensada como um ambiente de mediação entre os diversos mundos e vozes que integram a cena contemporânea, assumindo o desafio de produzir leitores e produtores de discursos plurais e reflexivos inseridos nas transformações da sociedade.

ESTRATÉGIAS DE ANÁLISE

A análise dos dados foi orientada por dois eixos metodológicos complementares:

-A teoria dos eventos de letramento (Heath, 1982; Barton e Hamilton, 1998), que permite compreender as práticas de linguagem como ações socialmente situadas;

-A Análise Crítica do Discurso (Fairclough, 2001), com ênfase nos processos de construção de sentido, na negociação discursiva entre os sujeitos e na dimensão ideológica das práticas textuais.

-Essas abordagens possibilitaram identificar, nas produções dos alunos, marcas de autoria, engajamento crítico e articulações entre cultura digital e experiências locais.

ANÁLISE DOS DADOS

As oficinas de produção de memes revelaram-se espaços fecundos de elaboração simbólica, nos quais os estudantes mobilizaram elementos discursivos, visuais e culturais para expressar suas experiências escolares e sociais. A análise do corpus evidenciou que os alunos articularam imagens, textos e recursos gráficos como emojis e molduras, numa composição multimodal carregada de intencionalidade e criatividade.

As temáticas recorrentes nos memes produzidos abordaram situações cotidianas vividas no ambiente escolar, como relações entre colegas, dificuldades com determinadas disciplinas, ausências estruturais (como falta de merenda ou material didático) e interações com professores. Tais conteúdos foram tratados com humor, ironia e crítica, configurando-se como formas de resistência simbólica e tomada de posição diante de situações adversas.

Um exemplo emblemático foi o meme criado por um grupo de alunos que, ao ironizar a falta recorrente da merenda escolar, utilizou uma imagem amplamente conhecida nas redes (o personagem “Chaves” faminto) acompanhada da legenda: “Merenda chegou? Só se for à imaginação”. A produção provocou intensa discussão no grupo, com relatos de experiências semelhantes e reflexões sobre o direito à alimentação escolar.

Esse episódio ilustra como os memes funcionam como artefatos semióticos que condensam saberes sociais e experiências subjetivas, além de favorecerem o exercício da autoria e o desenvolvimento de uma consciência crítica. Observou-se, ainda, uma preocupação dos estudantes com a escolha das imagens, o ajuste do tom humorístico e a adequação da linguagem – indícios de uma metalinguagem emergente e de uma postura discursiva responsável.

A interação entre os pares, tanto presencialmente nas oficinas quanto posteriormente nas redes sociais escolares, contribuiu para práticas colaborativas de construção de sentido. A circulação dos memes estimulou comentários, debates e reelaborações, fortalecendo vínculos identitários e promovendo aprendizagens que extrapolam os limites curriculares convencionais.

Portanto, os dados apontam que a prática de produção de memes, quando mediada pedagogicamente, atua como catalisador de processos de letramento crítico, integrando as dimensões linguística, cultural e social da formação discente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As transformações geradas pela cultura digital questionam os paradigmas tradicionais das escolas e demandam uma redefinição completa, ampla e profunda, não apenas das estruturas organizacionais da escola, mas, principalmente, do que entendemos como currículo, sala de aula e prática pedagógica.

Nesse contexto de intenso fluxo de informações, de imediatismo da comunicação e do uso de linguagem multimodal, o modelo escolar fundado em métodos de leitura e escrita monopolares revela-se insuficiente. 

Nesse contexto, a leitura e produção de texto nas várias linguagens (visual, auditiva, falada, digital) são um alicerce inegociável da aprendizagem do século XXI. Essas competências, que fazem parte do que se chama de multiletramento, devem deixar de ser colaterais: elas precisam constituir a espinha dorsal do sistema de ensino, pois, ao adquiri-las, é possível transitar criticamente pelos diversos discursos que circulam nos eventos sociais.

Ao combinar os pressupostos dos letramentos múltiplos, letramento crítico e cibercultura a partir de uma perspectiva educativa de diversidade, escuta e participação; temos uma visão diferente do que a educação pode ser. Essa conjunção entre teórico e prático permite que a escola não apenas se modernize em relação às formas atuais de produção e circulação de significados, mas também se aproxime, pelo menos em teoria, da vida dos alunos, especialmente daqueles que vêm de condições periféricas.

Se começarmos a valorizar, por exemplo, as formas de comunicação juvenil — memes, vídeos curtos, narrativas digitais e formas de expressão cultural — quer dizer, os jovens já produzem conhecimento, se não além dos parâmetros institucionais formais. Quando a escola assume essas manifestações e as conecta com o conhecimento sistematizado, abre-se espaço para o encontro entre os saberes e colabora na luta contra as desigualdades educacionais.

Nesse sentido, torna-se urgente que as políticas públicas educacionais invistam em uma formação contínua de professores direcionada aos desafios que a cultura digital apresenta. Isso quer dizer que não se trata de preparar os professores para lidar tecnicamente com as tecnologias, mas sim formar sujeitos capazes de pensar sobre sua inserção no mundo digital e suas dimensões éticas, políticas e culturais. E também porque é necessário contar com condições materiais e acesso democrático às ferramentas tecnológicas, se tentativas de inovação pedagógica não quiserem bater em um muro.

Apenas por meio de ações estruturadas pela intencionalidade pedagógica essa práxis pode se tornar uma aliada da emancipação social e da construção de uma cidadania ativa, reflexiva e comprometida com a justiça social. A educação, nesse novo cenário, deve ser pensada como um ambiente de mediação entre os diversos mundos e vozes que integram a cena contemporânea, assumindo o desafio de produzir leitores e produtores de discursos plurais e reflexivos inseridos nas transformações da sociedade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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BARTON, D.; HAMILTON, M. Práticas de Letramento. São Paulo: Mercado De Letras, 1998.

COPE, B.; KALANTZIS, M. Multiliteracies. Pedagogies, V. 4, P. 164–195, 2009.

FAIRCLOUGH, N. Discurso e Mudança Social. Brasília: Editora Da Unb, 2001.

FREIRE, P. A Importância do Ato De Ler. São Paulo: Cortez, 1987.

HEATH, S. B. Ways With Words. Cambridge: Cambridge University Press, 1982.

INSTITUTO OI FUTURO. Projeto Oi Kabum!. Rio de Janeiro, 2015.

JENKINS, H. Cultura da Convergência. São Paulo: Aleph, 2009.

KLEIMAN, A. Letramento e Políticas Públicas. Campinas: Mercado De Letras, 2005.

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NEW LONDON GROUP. A Pedagogy of Multiliteracies: Designing Social Futures. Harvard Educational Review, V. 66, N. 1, P. 60–92, 1996.

ROJO, R. Letramentos Múltiplos, Escola e Inclusão Social. São Paulo: Parábola, 2012.

STREET, B. Literacy in Theory and Practice. Cambridge: Cambridge University Press, 1984.THIOLLENT, M. Metodologia da Pesquisa-Ação. São Paulo: Cortez, 2011.

Silva, Lucimário Augusto da . Cultura digital e práticas de letramento em rede: A produção de memes por alunos do ensino fundamental no contraturno escolar.International Integralize Scientific. v 5, n 47, Maio/2025 ISSN/3085-654X

Referencias

BAILEY, C. J.; LEE, J. H.
Management of chlamydial infections: A comprehensive review.
Clinical infectious diseases.
v. 67
n. 7
p. 1208-1216,
2021.
Disponível em: https://academic.oup.com/cid/article/67/7/1208/6141108.
Acesso em: 2024-09-03.

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