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Resumo
INTRODUÇÃO
A rápida expansão do home office nos últimos anos é um reflexo das transformações impostas pela pandemia de COVID-19 e, mais amplamente, do avanço das tecnologias de comunicação e colaboração digital. Antes vistas como soluções de nicho ou aplicadas a contextos específicos, as práticas de trabalho remoto se tornam, de forma acelerada, a norma para milhões de trabalhadores em diferentes partes do mundo. O desempenho da tecnologia tem um papel central nessa mudança, permitindo a interação das atividades organizacionais durante períodos de restrição social e promovendo novos padrões de produtividade e interação. Ferramentas como plataformas de videoconferência, aplicativos de mensagens instantâneas, sistemas de gestão de tarefas e ambientes virtuais de trabalho colaborativo foram essenciais para a manutenção das operações empresariais, viabilizando novas formas de atuação e integração entre equipes geograficamente dispersas.
No entanto, as mudanças relacionadas ao home office não se restringem ao aspecto técnico ou à infraestrutura digital. Elas impactam diretamente o comportamento dos colaboradores, provocando alterações profundas na forma como se relacionam com o trabalho, gerenciam seu tempo e lidam com aspectos emocionais e sociais. Estudos apontam que, para muitos trabalhadores, o trabalho remoto oferece vantagens, como flexibilidade de horários e eliminação de deslocamentos, mas também gera desafios significativos, como o isolamento social, dificuldades de separação entre o ambiente doméstico e profissional, aumento da carga de trabalho e estresse decorrente da hiperconectividade. Tais mudanças tornam necessário um entendimento mais aprofundado do papel das tecnologias na vida dos trabalhadores e nas dinâmicas organizacionais que emergem nesse contexto.
Este estudo justifica-se pela importância crescente do home office e pela necessidade de compreender as transformações comportamentais desencadeadas pelas ferramentas tecnológicas. Investigar como a tecnologia molda as interações e práticas de trabalho no ambiente remoto pode oferecer insights importantes para organizações e profissionais específicos em maximizar os benefícios e mitigar os desafios dessa modalidade.
O objetivo geral deste artigo é analisar o papel da tecnologia na expansão do home office e os impactos comportamentais dos colaboradores. Especificamente, busca-se: (1) identificar as principais tecnologias que viabilizam e potencializam o trabalho remoto; (2) avaliar, com base na literatura, as principais mudanças comportamentais observadas entre os colaboradores que adotaram essa prática; e (3) discutir os desafios e os benefícios da adoção do trabalho remoto mediado pela tecnologia para os trabalhadores e para as organizações.
A metodologia utilizada para o desenvolvimento do artigo baseia-se em uma revisão bibliográfica. Serão analisados artigos acadêmicos, livros e relatórios de pesquisa publicados, a fim de mapear e sintetizar as principais contribuições teóricas e empíricas sobre o impacto das tecnologias digitais sobre os comportamentos dos colaboradores no contexto do home office. Com isso, espera-se apresentar uma visão abrangente e crítica sobre a transformação tecnológica e comportamental do trabalho remoto.
O PAPEL DA TECNOLOGIA NO HOME OFFICE E SUAS IMPLICAÇÕES COMPORTAMENTAIS PARA OS COLABORADORES
O conceito de home office, ou teletrabalho, remonta ao século XX, quando novas tecnologias surgiram para facilitar a descentralização do trabalho e a comunicação remota. Segundo Olson e Primps(1984), as práticas de teletrabalho surgiram como uma tentativa de diminuir os custos das empresas e melhorar a flexibilidade dos trabalhadores, inicialmente limitadas a funções específicas. Durante as décadas de 1970 e 1980, com o surgimento dos computadores pessoais e o desenvolvimento da internet, a ideia de trabalhar fora do escritório começou a se consolidar, mas ainda com restrições significativas. Conforme apontam Huws, Korte e Robinson(1990), nessa fase inicial, o home office era visto com certo ceticismo, devido à falta de infraestrutura tecnológica que permitisse uma comunicação ágil e segura entre os colaboradores.
O avanço das tecnologias de comunicação nos anos 1990 e 2000, como e-mails, smartphones e sistemas de gerenciamento remoto, ampliou o escopo do home office. No entanto, foi com a popularização da internet de banda larga e a chegada da computação em nuvem que o trabalho remoto se tornou uma alternativa viável para funções variadas. Segundo Bauman(2000), a era digital possibilitou a fragmentação das rotinas de trabalho, contribuindo para uma maior flexibilidade e descentralização das atividades laborais. No contexto contemporâneo, especialmente durante a pandemia de COVID-19, a prática do home office foi acelerada, impulsionada pela necessidade de manter a continuidade das atividades empresariais em meio às restrições sanitárias. De acordo com Felstead e Henseke(2017), essa transição mostrou que, com o suporte tecnológico adequado, o home office pode ser eficiente e produtivo, desafiando paradigmas tradicionais de trabalho.
Além das mudanças estruturais, o home office trouxe novas demandas para os trabalhadores, como capacidade de autogerenciamento, disciplina e equilíbrio entre a vida pessoal e profissional. Para autores como Bakker e Demerouti(2007), a implementação do home office requer um ambiente de suporte que inclua não apenas tecnologia, mas também uma cultura organizacional que promova o bem-estar dos colaboradores e a adaptação às novas dinâmicas de trabalho.
O sucesso e a disseminação do home office estão intrinsecamente ligados ao desenvolvimento de tecnologias digitais. Segundo Messenger e Gschwind(2016), a tecnologia tem sido fundamental para criar condições que permitam o trabalho remoto em larga escala, promovendo conectividade e eficiência.
A comunicação é um dos pilares mais importantes do trabalho remoto. Com a impossibilidade de interações presenciais, ferramentas como Zoom, Microsoft Teams e Google Meet foram amplamente empregadas para manter a comunicação entre as equipes. Conforme Molla(2020) aponta, essas plataformas não só garantiram a continuidade das operações, mas também reduziram os efeitos do isolamento ao proporcionar espaços virtuais de interação social. Essas ferramentas permitem reuniões em tempo real, compartilhamento de documentos e troca de mensagens instantâneas, promovendo a colaboração e a cooperação entre colaboradores, mesmo em cenários geograficamente dispersos.
A computação em nuvem tem sido um dos principais facilitadores do home office, ao permitir acesso remoto a documentos, sistemas corporativos e ferramentas para o trabalho. Segundo Marston et al.(2011), a computação em nuvem oferece flexibilidade, escalabilidade e segurança, características fundamentais para que empresas de diferentes tamanhos adotem o trabalho remoto com eficiência. Serviços como Google Workspace e Microsoft 365 permitem que os colaboradores acessem suas ferramentas de trabalho a partir de qualquer dispositivo conectado à internet, eliminando a necessidade de armazenar informações em servidores locais.
O trabalho remoto trouxe novas preocupações relacionadas à segurança digital. Conforme enfatizam Siponen e Baskerville(2018), a proteção dos dados se tornou um desafio crucial para empresas que aderem ao home office, uma vez que os colaboradores acessam informações sensíveis fora do ambiente corporativo. Tecnologias como redes privadas virtuais (VPNs) e autenticação de múltiplos fatores(MFA) foram exigidas para proteger os dados empresariais contra acessos não autorizados, minimizando riscos e garantindo maior segurança para as operações remotas.
Plataformas como Trello, Asana e Monday.com têm sido amplamente utilizadas para a gestão de projetos no contexto do trabalho remoto. Segundo autores como Bélanger e Collins (2015), essas ferramentas são fundamentais para manter a organização e a transparência nos fluxos de trabalho. Eles permitem que os gerentes acompanhem prazos, deleguem responsabilidades e garantam que as tarefas sejam realizadas de maneira eficiente e colaborativa.
A automação e a personalização dos fluxos de trabalho são aspectos importantes da transformação digital no home office. De acordo com Davenport e Kirby (2015), a automação permite que as tarefas repetitivas sejam gerenciadas por softwares, liberando os colaboradores para focar em atividades mais estratégicas. Isso melhora a eficiência das operações, além de contribuir para um maior bem-estar no trabalho.
Apesar dos avanços, existem desafios associados ao uso da tecnologia no home office. Segundo Purvanova e Kenda (2018), nem todos os colaboradores se adaptaram facilmente ao uso intensivo de ferramentas digitais, e a dependência excessiva de tecnologias pode levar ao chamado “burnout digital”. A sobrecarga de videoconferências e a necessidade de estar constantemente disponível para comunicação são fatores que diminuem para o estresse e a exaustão.
As mudanças comportamentais dos colaboradores no contexto do home office têm sido amplamente discutidas na literatura. Um dos principais benefícios do trabalho remoto é a flexibilidade de horários, que pode proporcionar maior equilíbrio entre a vida pessoal e profissional. Muitos trabalhadores relatam melhorias na qualidade de vida, devido à redução do tempo gasto com deslocamento e à possibilidade de ajustar suas rotinas de acordo com suas necessidades pessoais. No entanto, há também desafios importantes. Pesquisas indicam que muitos colaboradores enfrentaram dificuldades para estabelecer limites claros entre as atividades pessoais e profissionais, resultando em aumento do estresse e da sensação de “hiperconexão”. A ausência de interação física com colegas e supervisores pode levar ao isolamento social, afetando o senso de pertencimento e a comunicação dentro das equipes (Felstead & Henseke, 2017).
Além disso, a produtividade no home office tem sido um ponto de debate. Alguns estudos sugerem que, em ambientes bem estruturados e com uso adequado de tecnologias, os colaboradores podem ser mais produtivos. Por outro lado, a falta de supervisão direta e a necessidade de autogestão podem ser exigidas para alguns profissionais, exigindo novas habilidades, como disciplina, organização e habilidades digitais.
As ferramentas tecnológicas desempenham um papel central na viabilização do home office, fornecendo os recursos necessários para que os colaboradores mantenham a comunicação, a produtividade e a eficiência no trabalho remoto. A seguir, destacamos algumas das principais tecnologias que moldaram a experiência de trabalho fora do ambiente tradicional de escritório.
Um dos principais desafios do home office é a comunicação eficiente entre colaboradores. Ferramentas de comunicação síncrona, como Zoom, Microsoft Teams e Google Meet, permitem reuniões em tempo real, promovendo interações dinâmicas entre os membros das equipes, mesmo à distância. Segundo Molla (2020), essas plataformas ajudam a diminuir a sensação de isolamento ao criar espaços virtuais de colaboração e interação social. Por outro lado, ferramentas de comunicação assíncrona, como e-mails e mensagens via Slack, permitem que os colaboradores mantenham o fluxo de informações sem a necessidade de interrupções constantes, aumentando a flexibilidade do trabalho e evitando a sobrecarga de reuniões.
Para manter o controle e a organização das atividades no home office, as empresas têm investido em plataformas de gestão de tarefas e projetos, como Trello, Asana, Monday.com e ClickUp. Essas ferramentas permitem que os gestores acompanhem o andamento das tarefas, deleguem responsabilidades e visualizem prazos, promovendo maior transparência e colaboração entre as equipes. Segundo Bélanger e Collins(2015), o uso dessas plataformas aumenta a eficiência, ajudando no gerenciamento de atividades de forma mais produtiva e organizada em um ambiente remoto.
A computação em nuvem revolucionou a forma como os documentos e dados são acessados e compartilhados no ambiente de trabalho remoto. Serviços como Google Workspace, Microsoft 365 e Dropbox permitem que os colaboradores acessem arquivos, colaborem em tempo real e armazenem informações com segurança. Marston et al.(2011) destacam que a computação em nuvem promove uma flexibilidade e escalabilidade que seria difícil de alcançar com sistemas locais tradicionais. Além disso, as empresas podem gerenciar controles de acesso e criar ambientes de trabalho mais seguros e controlados.
No home office, muitas atividades repetitivas são gerenciadas por softwares de automação, que liberam os colaboradores para focarem em tarefas mais complexas e estratégicas. Ferramentas como Zapier e Integromat são exemplos de plataformas que permitem automatizar processos e integrar diferentes sistemas, diminuindo erros humanos e aumentando a produtividade(Davenport & Kirby, 2015).
O trabalho remoto amplia os riscos relacionados à segurança digital, exigindo investimentos em tecnologias que protejam os dados empresariais. As empresas têm soluções adotadas como redes privadas virtuais(VPNs), autenticação de múltiplos fatores(MFA) e softwares de monitoramento para garantir a segurança das informações compartilhadas remotamente. Siponen e Baskerville (2018) destacam que a segurança cibernética se tornou um dos pilares fundamentais para o sucesso do home office, pois o aumento da conectividade traz também maiores riscos de ataques e vazamentos de dados.
Em algumas indústrias, o uso de tecnologias avançadas, como ambientes virtuais imersivos de realidade aumentada(RA), tem permitido treinamentos e simulações em ambientes remotos. Essas tecnologias ajudam a manter a experiência colaborativa e a qualidade do trabalho, mesmo à distância, conforme indicado por Gupta e Jain(2020).
O home office apresenta uma série de desafios e benefícios para as organizações e seus colaboradores, que podem afetar a produtividade, o bem-estar e a cultura organizacional. Embora os avanços tecnológicos viabilizem o trabalho remoto, a adaptação desse modelo exige uma compreensão profunda dos fatores que impactam com certeza e qualidades o ambiente de trabalho remoto.
Um dos principais benefícios do home office é a flexibilidade proporcionada aos trabalhadores, permitindo que eles gerenciem melhor seu tempo e, muitas vezes, aumentem sua satisfação no trabalho. Pesquisas apontam que a eliminação do tempo de deslocamento resulta em maior qualidade de vida e redução do estresse (Felstead & Henseke, 2017). Além disso, a possibilidade de trabalhar remotamente aumenta a capacidade das empresas de contratar talentos em uma escala global, sem limitações geográficas, o que pode ser uma vantagem competitiva significativa (Messenger & Gschwind, 2016).
As organizações também relatam uma redução de custos com infraestrutura, como despesas relacionadas a escritórios físicos e despesas de manutenção. No entanto, esses benefícios só são alcançados quando o home office é implementado com uma estratégia adequada e com ferramentas tecnológicas que garantem a produtividade dos colaboradores.
O isolamento social é um dos desafios mais relatados em estudos sobre o home office. A falta de interação presencial com colegas pode levar ao sentimento de solidão e afetar a saúde mental dos colaboradores(Purvanova & Kenda, 2018). Além disso, manter uma cultura organizacional forte em um ambiente predominantemente remoto exige esforços intencionais por parte das lideranças. Segundo Kaufman (2020), as empresas precisam desenvolver práticas que promovam a coesão e o sentimento de pertencimento, como eventos virtuais e estratégias de comunicação mais próximas.
Outro desafio importante é a sobrecarga de trabalho e a sensação de “hiperconexão”. Muitos trabalhadores se relacionam que, devido ao home office, têm uma expectativa de estar sempre disponíveis, o que pode resultar em longas jornadas de trabalho e falta de separação entre a vida profissional e pessoal(Demerouti et al., 2009). Essas características, conhecidas como “burnout digital”, podem prejudicar o bem-estar e a produtividade dos colaboradores, exigindo políticas claras de desconexão e gestão de tempo.
Embora a tecnologia tenha possibilitado o trabalho remoto, nem todos os trabalhadores têm acesso igual às ferramentas e à infraestrutura permitida para selecionar suas funções. Diferenças no acesso à internet de qualidade e à tecnologia podem criar disparidades entre os colaboradores(Messenger & Gschwind, 2016). Além disso, a adaptação às novas ferramentas digitais pode ser um obstáculo para alguns trabalhadores, especialmente para aqueles com menos familiaridade com a tecnologia.
A avaliação de desempenho em um ambiente remoto também apresenta desafios. Os gestores precisam encontrar formas de monitorar e avaliar o trabalho dos colaboradores sem recorrer a práticas que possam ser percebidas como intrusivas ou geradoras de ansiedade. Estudos demonstram que a confiança e a clareza nas expectativas são fundamentais para que o home office funcione de maneira produtiva(Bailey & Kurland, 2002).
Líderes desempenham um papel essencial na adaptação ao trabalho remoto. Segundo Parker et al. (2020), líderes eficazes são aqueles que promovem a comunicação aberta, incentivam o engajamento dos colaboradores e estabelecem expectativas claras. O suporte das lideranças é fundamental para enfrentar os desafios e maximizar os benefícios do home office.
O home office, impulsionado pelo avanço da tecnologia e pela necessidade de adaptação a eventos globais, como a pandemia de COVID-19, representa uma mudança paradigmática no ambiente de trabalho. A discussão em torno desse tema tem mobilizado diversos autores e especialistas, que analisam tanto as potencialidades quanto os desafios associados ao trabalho remoto. Nesta seção, discutiremos as principais perspectivas dos autores, destacando convergências, divergências e lacunas na literatura.
De acordo com Felstead e Henseke(2017), a tecnologia foi um estudo fundamental para a transformação do trabalho remoto, possibilitando a continuidade das operações em tempos de crise e abrindo novas possibilidades para a flexibilidade no trabalho. Eles destacam que, quando bem gerenciado, o home office pode aumentar a satisfação dos colaboradores, reduzir custos operacionais e ampliar o alcance das organizações, permitindo a contratação de talentos globais. A conectividade fornecida por ferramentas de comunicação, plataformas de gerenciamento de tarefas e tecnologias baseadas em nuvem foi apontada como um elemento que elimina barreiras físicas e temporais, criando novas oportunidades para o desempenho e a colaboração.
Por outro lado, autores como Messenger e Gschwind (2016) reconhecem os avanços proporcionados pela tecnologia, mas enfatizam que ela também pode aprofundar desigualdades no local de trabalho. Enquanto alguns colaboradores se beneficiam das vantagens oferecidas pelo home office, outros enfrentam dificuldades relacionadas à falta de acesso adequado a tecnologias ou à infraestrutura digital. Essa disparidade pode impactar os níveis de experiência dos trabalhadores e gerar um ambiente de trabalho remoto desigual.
Bakker e Demerouti (2007) argumentam que o home office, ao oferecer flexibilidade de horário, pode aumentar a satisfação e o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional dos colaboradores. Eles sugerem que o uso adequado das tecnologias digitais permite que os trabalhadores se adaptem às suas rotinas, resultando em maior bem-estar. No entanto, a flexibilidade excessiva pode ter um lado negativo, especialmente se não for acompanhada de limites claros. Autores como Purvanova e Kenda (2018) destacam que muitos trabalhadores enfrentam a expectativa de estarem constantemente conectados, o que leva ao “burnout digital” e à dificuldade de estabelecer fronteiras claras entre o trabalho e a vida pessoal.
A perspectiva de Bailey e Kurland (2002) reforça que a produtividade no home office é influenciada pela disciplina e autogestão dos colaboradores, mas aponta que o sucesso desse modelo depende do suporte organizacional. Eles sugerem que os líderes e precisam de gestores que ofereçam ferramentas adequadas, promovam uma cultura de confiança e estabeleçam políticas que evitem o excesso de trabalho.
A literatura também aponta para os desafios relacionados à manutenção de uma cultura organizacional coesa em um ambiente de trabalho predominantemente remoto. Kaufman (2020) observa que a ausência de interações presenciais pode enfraquecer o senso de pertencimento dos colaboradores e dificultar a disseminação de valores e normas organizacionais. Ele propõe que as empresas desenvolvam práticas específicas para engajar os trabalhadores de forma remota, como encontros virtuais regulares, programas de integração e rituais que reforçam a identidade da equipe.
Autores como Molla(2020) destacam que a comunicação em ambientes remotos pode ser fragmentada, especialmente quando há uma dependência excessiva de ferramentas digitais. Embora as tecnologias de videoconferências e plataformas de mensagens instantâneas tenham melhorada a conectividade, elas também podem resultar em sobrecarga de informações e “fadiga de reuniões virtuais”. Assim, os gestores precisam equilibrar a comunicação síncrona e assíncrona para manter o engajamento sem gerar estresse adicional.
A questão da segurança digital é um ponto de convergência entre muitos autores. Siponen e Baskerville(2018) enfatizam que o trabalho remoto amplia os riscos de segurança cibernética, exigindo medidas rigorosas para proteger dados sensíveis. A necessidade de redes privadas virtuais(VPNs), autenticação de múltiplos fatores(MFA) e protocolos de segurança robustos são considerados essenciais para garantir a segurança das operações remotas. No entanto, esses mesmos autores alertam que as políticas de segurança não devem ser vistas apenas como medidas técnicas, mas como um elemento cultural dentro da organização.
Parker et al.(2020) destacam que o papel da liderança é crucial para o sucesso do home office. Os líderes eficazes devem ser capazes de estabelecer confiança, promover a transparência e adaptar suas estratégias de gestão ao contexto remoto. A liderança no trabalho remoto envolve não apenas a supervisão das atividades, mas também o apoio emocional e social aos colaboradores, algo que pode ser difícil de implementar, mas é essencial para manter o engajamento e a produtividade.
Embora haja consenso entre os autores sobre o papel transformador da tecnologia no home office, existem divergências significativas quanto ao impacto no longo prazo dessa modalidade. Enquanto alguns autores defendem que o trabalho remoto pode ser uma solução permanente, com grandes benefícios para as organizações e os colaboradores, outros alertam para os riscos de isolamento, desigualdade e dependência excessiva de tecnologias digitais. Essas perspectivas ressaltam a necessidade de um equilíbrio cuidadoso entre flexibilidade, suporte tecnológico e políticas organizacionais que promovam a saúde e o bem-estar dos trabalhadores.
Apesar dos avanços na compreensão do trabalho remoto, há lacunas na literatura que merecem maior atenção. A maioria dos estudos existentes concentra-se em setores específicos ou em contextos de crise, como a pandemia de COVID-19. Estudos futuros podem explorar o impacto de longo prazo do home office em diferentes setores, bem como as implicações para a diversidade e inclusão no ambiente de trabalho remoto. Além disso, pesquisas empíricas podem aprofundar a análise de práticas de liderança, comunicação e cultura organizacional para identificar estratégias que maximizem os benefícios e minimizem os desafios dessa nova realidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo analisa o papel da tecnologia na expansão do home office e as mudanças comportamentais associadas aos colaboradores nesse contexto. O home office, que ganhou grande relevância durante a pandemia de COVID-19, trouxe profundas transformações no ambiente de trabalho e nas práticas organizacionais. As tecnologias digitais, como plataformas de comunicação, ferramentas de colaboração, computação em nuvem e sistemas de segurança cibernética, desempenharam um papel fundamental para viabilizar o trabalho remoto e permitir a continuidade das operações empresariais em um cenário de crise.
Apesar dos benefícios associados ao home office, como flexibilidade, redução de custos operacionais e maior alcance na contratação de talentos, os desafios também são significativos. O isolamento social, a falta de separação entre a vida pessoal e profissional, o risco de “burnout digital” e as dificuldades de adaptação às tecnologias digitais são problemas destacados na literatura. O estudo mostrou que o equilíbrio entre os benefícios oferecidos pelo home office e os desafios enfrentados pelos colaboradores dependem de uma gestão eficaz, de políticas organizacionais adequadas e de suporte contínuo para o bem-estar dos trabalhadores.
Além disso, ficou claro que a tecnologia, apesar de ser uma facilitadora, não resolve todos os desafios do trabalho remoto. A construção de uma cultura organizacional forte, o fortalecimento das práticas de liderança e a promoção de um ambiente de trabalho saudável são elementos essenciais para que o home office seja sustentável a longo prazo.
O tema continua a evoluir com a introdução de novas tecnologias e práticas que moldam o futuro do trabalho remoto. Portanto, são permitidas novas pesquisas para explorar as consequências do longo prazo do home office, especialmente no que diz respeito à cultura organizacional, liderança, saúde mental dos colaboradores e inclusão digital. Apenas através de uma compreensão holística será possível maximizar os benefícios e mitigar os impactos negativos dessa nova modalidade de trabalho.
Conclui-se que, para que o home office atinja seu potencial máximo, é preciso um esforço conjunto de organizações, trabalhadores e líderes para equilibrar as demandas tecnológicas com as necessidades humanas. As transformações comportamentais planejadas apontam para um futuro no qual flexibilidade e inovação serão fundamentais, mas onde o cuidado com o bem-estar e a integração social dos colaboradores permanece uma prioridade.
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