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Resumo
INTRODUÇÃO
A avaliação escolar, enquanto componente essencial do processo educativo, tem sido tradicionalmente associada à medição de conhecimentos por meio de provas e testes. No entanto, esse modelo de avaliação tem sido amplamente questionado por sua ênfase na memorização e no resultado quantitativo, em detrimento do desenvolvimento integral dos alunos e da promoção de um ensino crítico e reflexivo.
O presente artigo aborda uma análise crítica sobre os processos avaliativos na educação, com foco nas limitações do modelo tradicional e nas possibilidades de uma avaliação com viés reflexivo bem como inclusivo. Face ao exposto, três questões norteiam este estudo: (i)quais os principais tipos de avaliação utilizados no contexto educacional brasileiro? (ii)que limitações e impactos o modelo tradicional de avaliação possui no aprendizado dos alunos? (iii)que alternativas avaliativas podem contribuir para um ensino mais democrático, inclusivo e transformador?
O objetivo central do presente artigo é analisar os diferentes tipos de avaliação no contexto educacional, com ênfase na crítica ao modelo tradicional e na busca por práticas avaliativas que favoreçam uma aprendizagem significativa, a autonomia dos estudantes e a transformação da prática educativa.Os três objetivos específicos deste estudo são: (i) identificar e descrever os principais tipos de avaliação utilizados no ambiente escolar; (ii) investigar as limitações e os impactos da avaliação tradicional na formação dos estudantes; (iii)apontar alternativas e metodologias avaliativas que promovam um aprendizado mais dinâmico, reflexivo e emancipatório.
A relevância deste estudo reside na necessidade de repensar os processos avaliativos na educação, regularizando que a avaliação não deve se limitar a um instrumento classificatório, mas sim atuar enquanto ferramenta para potencializar a aprendizagem e promover a inclusão. O modelo tradicional, baseado na memorização e na mensuração de resultados por meio de provas, muitas vezes desconsidera as singularidades dos estudantes e pode estimular desigualdades educacionais.
Dessa forma, este estudo contribui para o debate sobre a importância de práticas avaliativas mais reflexivas, contínuas e formativas, que valorizam o desenvolvimento integral dos alunos. Ao apresentar alternativas como a autoavaliação, a avaliação por pares e o uso de portfólios, o artigo propõe caminhos para uma educação mais democrática, crítica e emancipadora, alinhada às necessidades da sociedade contemporânea.
O presente estudo se baseou em uma abordagem qualitativa, fundamentada na revisão de literatura, com o objetivo de analisar diferentes concepções de avaliação e suas implicações no ensino e na aprendizagem. Para isso, foram discutidos autores como Libâneo, Hoffmann, Perrenoud, Vasconcellos e Luckesi, além de documentos acadêmicos e pesquisas recentes que tratam da temática avaliativa. A pesquisa mapeou desafios, possibilidades e alternativas para transformar a prática avaliativa no contexto escolar.A revisão da literatura também possibilitou compreender que a avaliação educacional vai além da simples mensuração do desempenho dos alunos, sendo um instrumento fundamental para o desenvolvimento do ensino e da aprendizagem. Com isso, evidencia-se a necessidade de transformar a avaliação em um mecanismo de diálogo e construção do conhecimento, capaz de estimular a autonomia e a participação ativa dos alunos no próprio aprendizado.
REVISÃO DE LITERATURA
CONCEITO E FUNÇÃO DA AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO
Segundo Libâneo (2013), a avaliação é um dos pilares da prática pedagógica, sendo um processo contínuo que deve estar presente em todas as etapas do processo de ensino e aprendizagem. Sob esta ótica, Melo (2020, p. 10) advoga que “a avaliação não acontece em momentos isolados do trabalho pedagógico: ela o inicia, permeia todo o processo e o conclui”.Por meio dela, os resultados que serão obtidos no trabalho conjunto do professor e dos alunos são comparados com os objetivos propostos, permitindo identificar avanços, dificuldades e ajustar as estratégias educacionais conforme necessário. Em suma, Libâneo (2013, p. 216) acredita que “a avaliação é uma reflexão sobre o nível de qualidade do trabalho escolar tanto do professor como dos alunos”.
O pensamento de Hoffmann (2005, p.15) corrobora com o de Libâneo(2013) ao declarar que “a avaliação é essencial à educação, inerente e indissociável enquanto concebida como problematização, questionamento, reflexão sobre a ação”; ou seja, a avaliação representa a reflexão convertida em prática, uma prática que, por sua vez, nos leva a novas reflexões. Por este motivo, Lima (2019, p. 3) defende que “a avaliação de aprendizagem deve ser considerada em sua complexidade pela escola e em especial pelo professor atuante na sala de aula, enxergando a mesma como algo que possua um valor construtivo”. Trata-se, portanto, de um processo contínuo no qual o educador analisa sua realidade e acompanha, de forma gradual, sua própria caminhada. Nesse percurso, tanto docentes quanto estudantes exploram e compreendem a si mesmos e ao contexto escolar por meio do próprio ato avaliativo.
Nesta mesma perspectiva, Luckesi (2018) acredita que a principal finalidade da avaliação é analisar e investigar a qualidade de um desempenho específico. E as informações obtidas por meio desse processo podem servir de base para o ajuste das estratégias do docente, com o objetivo de garantir uma aprendizagem significativa e satisfatória dos estudantes. Desta forma, Luckesi (2018, p. 145) afirma que:
A avaliação é a parceira do professor, revelando-lhe se o estudante, que se fora ensinado, aprendera, ou não, os conteúdos e habilidades trabalhados. A aprendizagem é o único resultado proposto e desejado decorrente da ação do educador em sala de aula, e a avaliação é o recurso que oferece notícias da qualidade da aprendizagem por parte do estudante, fator que lhe garante a possibilidade de tomada de decisões, seja para assumir como encerrada uma atividade de ensino, desde que já atingira sua meta, seja para decidir por novos investimentos, desde que o resultado desejado ainda não tenha sido atingido.
Vasconcellos (2006)destaca que a função da avaliação na educação é múltipla: ela serve para diagnosticar, acompanhar e avaliar a aprendizagem ao longo do tempo, proporcionando uma visão abrangente do processo educativo. Além disso, o autor acredita que ela deve ser um processo que possibilite a tomada de decisões para superar obstáculos(Vasconcellos, 2003).Esse olhar reflexivo e abrangente deve considerar não apenas os aspectos cognitivos, mas também as dimensões afetivas e sociais do aluno, como proposto por Perrenoud (1999), que afirma que a avaliação deve ser um processo contínuo de dialogismo, em que o educador escuta e compreende o aluno, sem impor padrões rígidos de desempenho.
PRINCIPAIS TIPOS DE AVALIAÇÃO
A avaliação na educação pode ser abordada sob diferentes perspectivas, com variações nos tipos de avaliação. Cada tipo tem uma função específica no processo educativo e se adapta a diferentes contextos e objetivos pedagógicos. Nos estudos conduzidos por Bloom (1981), o autor propõe três modalidades de avaliação: diagnóstica, formativa e somativa.
A modalidade dignóstica ocorre no início do processo de ensino e aprendizagem e tem como objetivo identificar os conhecimentos prévios dos alunos, bem como suas dificuldades e potencialidades. Gonçalves et al.(2014, p. 89) sugere que “a avaliação diagnóstica é uma ação importante no planejamento do processo de ensino-aprendizagem, pois situa o aluno em relação aos conhecimentos e aptidões objetivados para o seu nível de ensino”. Desta forma, ela consiste na sondagem, projeção e retrospecção das situações de desenvolvimento do educando, permitindo também constatar as causas de repetidas dificuldades de aprendizagem. Melo (2020, p. 11) acredita que “assim, fica mais fácil detectar os erros e planejar as atividades que serão realizadas”.
Pinheiro e Rebouças (2018) defendem que a avaliação diagnóstica deve ser vista como um instrumento interventivo e não apenas de aferição de resultados. Ela também deve ser feita através de uma reflexão constante, crítica e participativa.
Sob este prisma, Luckesi (2003, p.82) alerta que esta modalidade de avaliação:
[…]deve estar comprometida com uma proposta pedagógica histórico-crítica, uma vez que esta concepção está preocupada com a perspectiva de que o educando deverá apropriar-se criticamente de conhecimentos e habilidades necessárias à sua realização como sujeito crítico dentro desta sociedade que se caracteriza pelo modo capitalista de produção.
Nessa perspectiva de que o educando deve se apropriar com criticidade dos conhecimentos, a avaliação diagnóstica surge como um recurso capaz de contribuir para mensurar a qualidade de assimilação do seu conhecimento, permitindo ao professor compreender em que nível o aluno se encontra em seu processo de aprendizagem.
Em suma, a avaliação diagnóstica consiste em uma ferramenta essencial para o processo de ensino, pois permite ao professor compreender o nível de conhecimento dos alunos e identificar dificuldades que podem comprometer a aprendizagem. Mais do que medir resultados, essa avaliação deve servir como um ponto de partida para a adaptação das estratégias pedagógicas, garantindo que todos tenham oportunidades reais de desenvolvimento. Quando bem aplicada, possibilita um ensino mais inclusivo e eficiente, auxiliando na construção de um aprendizado significativo e no fortalecimento da autonomia dos estudantes.
A modalidade formativa (Bloom, 1981)é caracterizada pela sua continuidade, pois visa informar o educador e o educando sobre resultados da aprendizagem no desenvolvimento das atividades escolares ao longo do processo de aprendizagem.Nos estudos conduzidos por Melo (2020, p. 11), o autor afirma que a avaliação formativa “tem esse nome por indicar como os alunos estão se modificando em direção aos objetivos”. Desta forma, o educador deverá utilizá-la durante o decorrer do ano letivo.
Segundo Fernandes (2021, p.4) “a avaliação formativa é um processo intrínseco ao ensino, tendencialmente contínuo, que pressupõe a participação ativa dos alunos nas tarefas propostas pelos professores”. Neste sentido, ela tem de ser um processo criterioso,a fim de possibilitar a obtenção de dados precisos sobre o conhecimento e as habilidades que os alunos possuem em determinado momento. Vale ressaltar que este tipo de avaliação também “informa que os estudantes possuem ritmos e processos de aprendizagem diferentes”. (Vicente, Dias e Paula, 2018, p. 166).
Perrenoud (2000) acredita que a avaliação formativa deve realizar balanços periódicos de competências, de maneira a tomar decisões de progressão, rumo aos ciclos de aprendizagem. Somente assim, os professores poderão fornecer “feedbacks” (Perrenoud et al., 2002; Fernandes, 2021) que auxiliem os estudantes a superarem possíveis desafios.
Sob esta ótica, Araújo e Diniz (2015) advogam que a avaliação formativa possui um duplo propósito sob o ponto de vista do docente:proporcionar feedback ao estudante para aprimorar sua aprendizagem e ajustá-la continuamente, como também coletar dados que auxiliam na orientação do ensino, considerando as reais necessidades dos alunos.
Do ponto de vista do estudante,a avaliação formativa (Araújo e Diniz, 2015) fornece dados sobre seu processo de aprendizagem, incentivando a auto-observação, o controle sobre o próprio aprendizado e, como resultado, a independência na gestão do conhecimento. Nesse cenário, o desenvolvimento da capacidade de autoavaliação configura-se como um elemento essencial da avaliação formativa, possibilitando uma análise reflexiva sobre si mesmo e sobre os avanços alcançados no aprendizado.
Em síntese, a avaliação formativa é um processo contínuo e dinâmico que busca acompanhar o desenvolvimento do estudante ao longo da aprendizagem, permitindo ajustes no ensino de acordo com suas necessidades. Além de medir resultados, ela fornece feedbacks constantes, incentivando a participação ativa do aluno e promovendo a autorreflexão sobre seu próprio progresso. Dessa forma, torna-se um instrumento importante para a construção do conhecimento, garantindo uma aprendizagem adaptada aos diferentes ritmos dos estudantes.
A modalidade somativa (Bloom, 1981) costuma ser aplicada ao final de um processo educacional com o objetivo de mensurar os resultados da aprendizagem. Kraemer(2005, p. 142) ressalta que “corresponde a um balanço final, a uma visão de conjunto relativamente a um todo sobre o qual, até aí, só haviam sido feitos juízos parcelares”.
Nesse sentido,Haydt (2011, p. 221) declara que “este tipo de avaliação tem função classificatória, pois consiste em classificar os resultados obtidos pelos alunos ao final de um semestre, ano ou curso, tendo por base os níveis de aproveitamento preestabelecidos”. Sendo assim, sua finalidade é tanto informativa quanto verificadora, proporcionando uma análise sobre o desempenho do aluno, da turma e da própria instituição de ensino, ao indicar as competências e habilidades adquiridas ao final de uma determinada etapa de ensino. Por este motivo, Melo (2020, p. 11) acredita que “assim, esse tipo de avaliação seria a junção de uma ou mais avaliações trabalhadas pelo professor, buscando valorizar as diferentes etapas de ensino-aprendizagem dos alunos”.
Embora seja uma prática comum nas escolas, Perrenoud (1999) argumenta que a avaliação somativa, quando isolada, pode ser redutora, pois se concentra apenas nos resultados finais, sem considerar o processo de aprendizagem.
Sob tal prospectiva, Queiroz et al. (2019, p. 5) advoga que
Podemos inferir que a avaliação somativa é executada muito mais como um instrumento de mensuração, do que como um aparato de construção do conhecimento. Construindo um processo segregativo dentro do espaço escolar e gerando assim uma exclusão, pois aqueles alunos que não conseguem atingir os objetivos propostos são excluídos e ficam à margem do processo de ensino-aprendizagem.
Como a principal finalidade da educação é promover a democratização do ensino e a inclusão, é fundamental que a avaliação não se restrinja apenas à modalidade somativa como única forma de mensurar o desempenho do estudante (Queiroz et al., 2019).Ademais, Magnago et al. (2024, p. 3) critica este tipo de avaliação ao afirmar que “essa abordagem é limitada ao não permitir ajustes durante o processo de aprendizagem, fornecendo um diagnóstico muitas vezes tardio das dificuldades enfrentadas pelos estudantes”.
Em contrapartida, Fernandes (2018) destaca a sua relevância, pois a mesma assegura a padronização dos resultados e possibilita a comparação entre instituições em exames de abrangência nacional e internacional.
Sucintamente, é notório que a avaliação somativa desempenha um papel fundamental na verificação do desempenho dos alunos ao final de um período letivo, permitindo a mensuração dos resultados alcançados. No entanto, a sua aplicação isolada pode limitar a compreensão do processo de aprendizagem, uma vez que enfoca apenas os produtos finais, sem considerar as dificuldades e evoluções individuais ao longo do percurso educativo. Além disso, essa abordagem pode acentuar desigualdades ao não fornecer oportunidades de intervenção e adaptação durante o aprendizado. Assim, embora tenha sua importância na padronização e na comparação de resultados, é essencial que seja complementada por práticas avaliativas mais formativas e inclusivas, que valorizem o desenvolvimento contínuo dos estudantes.
O MODELO TRADICIONAL DE AVALIAÇÃO E SUAS LIMITAÇÕES
O modelo tradicional de avaliação tem como foco a quantificação do conhecimento do aluno, geralmente por meio de provas e exames. Segundo Moura Filho (2023, p. 1), “essa prática é vista como limitada e muitas vezes injusta, uma vez que não leva em consideração as diferentes necessidades e estilos de aprendizagem dos alunos”.
O pensamento de Lopes (2019, p. 138) corrobora com o de Moura Filho (2023) ao alegar que “é unilateral no sentido de que avalia somente o aluno, e este, não pode avaliar o ensino ministrado pelos professores; (…) e nem sempre colabora para o surgimento de novas ações e novas práticas pedagógicas voltadas para o atendimento das heterogeneidades”.
Em muitas escolas temos, fundamentalmente, uma avaliação classificatória, que vai se realizar através de instrumentos diversos e de procedimentos diferenciados, muitas vezes em modalidades diferentes, mas que têm como eixo fundamental a produção de uma hierarquia de estudantes, a partir de determinados padrões previamente estabelecidos.
Lima (2019, p. 4) afirma que
A realidade que vemos na escola com relação a sua prática é bem diferente (…) a preocupação estabelecida é depositada em uma avaliação classificatória, do aluno passar de um ano para outro, reduzindo a avaliação a um exame classificatório e uma formação baseada apenas em conteúdos visando a aprovação ou reprovação.
Sob esta ótica, Lopes (2019, p. 144) faz uma crítica ao modelo tradicional de avaliação ao afirmar que “a preocupação em emitir notas dá ênfase à somatória de acertos e de erros das questões ou atividades elaboradas, e não aos caminhos (processos) percorridos por professores e alunos”.
Desta forma, a avaliação vai estar muita articulada a uma pedagogia que Luckesi (2011) chama de “pedagogia do exame”, que prioriza a realização de provas e exames em detrimento do processo de aprendizagem; ou seja, todos os procedimentos pedagógicos vão estar atravessados por práticas que visam ao controle e à classificação. Além disso, à luz de Contreras e Lima (2024, p.1),a avaliação tradicional “compara os alunos entre si, resultando em um processo hierárquico, elaborando um processo competitivo”.
Segundo Souza (2022, p. 2):
O modelo de avaliação classificatória utiliza-se de números que são transformados em médias. Esta por sua vez classifica os indivíduos em inferiores, médios, superiores, aptos ou inaptos, reprovam ou aprovam esses mesmos indivíduos, não auxiliando em nada o crescimento ou avanço desses mesmos.
Nesse contexto, Contreras e Lima (2024)alegam que esse processo é percebido como um fator intimidador, enquanto a nota assume o papel de um recado. O estudante se dedica ao aprendizado movido pelo aviso de que, caso não alcance o esperado, será reprovado e precisará refazer o ano letivo, o que pode levá-lo à marginalização entre seus colegas e ao constrangimento diante de sua família.
Moura Filho (2023) acredita que desta forma o aluno acaba sendo culpabilizado, pois é comum que lhe seja atribuído o desempenho insatisfatório, sob a alegação de falta de comprometimento e desinteresse pelos estudos. Todavia, essa perspectiva acaba por ocultar outros elementos que igualmente influenciam os baixos desempenhos na aprendizagem, tais como a fragilidade das políticas públicas e educacionais, a precariedade das condições de ensino e a remuneração insuficiente dos professores.
Libâneo (2013)crítica que esse modelo tende a ser rígido e mecanicista, limitando-se a medir a capacidade do aluno de memorizar e reproduzir informações. Desta forma, o autor explica que essa abordagem é centrada no ensino transmissivo, em que o aluno é visto como um receptor passivo de informações.
À luz deFreire (2018), o modelo tradicional de avaliação reflete uma visão bancária de educação, onde o aluno é tratado como um “depósito” de conhecimentos. Nesse sentido, a avaliação tradicional tem como função apenas verificar se o aluno conseguiu reter as informações transmitidas, sem levar em consideração o desenvolvimento da capacidade crítica ou a autonomia do estudante.Entretanto, o autor acredita que é através do diálogo que educandos e educadores podem refletir juntos sobre o que sabem e o que não sabem, buscando meios que levem a uma atuação crítica transformadora da realidade.
ALTERNATIVAS AVALIATIVAS E PROPOSTAS PARA UMA AVALIAÇÃO TRANSFORMADORA
Diante das limitações da avaliação tradicional, diversas alternativas têm sido propostas para uma avaliação mais inclusiva, reflexiva e transformadora.Segundo Abreu e Rodrigues (2018, p. 1), a avaliação deve ser compreendida “como uma ação reflexiva do processo da aprendizagem, pois é um instrumento essencial no desenvolvimento social, afetivo e cognitivo”. Logo, a avaliação precisa ser inclusiva, levando em consideração as diversas formas de aprendizagem e as diferentes realidades dos alunos. Isto significa que, além de considerar os aspectos cognitivos, a avaliação deve também avaliar aspectos afetivos e sociais do aluno, promovendo uma educação mais holística e transformadora.
Vicente et al. (2018, p. 165)defende que “para uma avaliação de qualidade, se faz necessário atribuir significado às aprendizagens dos alunos. Para que estes, através de tarefas diversas, alcançam diferentes níveis na construção do conhecimento”.
Mouraes e Brito (2012) sugerem que o docente utilize a avaliação como um instrumento de incentivo ao aprendizado, buscando implementar um novo paradigma avaliativo, valorizando os saberes dos alunos e identificando suas dificuldades. Dessa forma, torna-se possível desenvolver um método ou sistema de avaliação que ofereça suporte ao estudante, em vez de apenas classificá-lo, evitando a rotulação de níveis de inteligência e priorizando estratégias que facilitem o processo de aprendizagem.
Freire (2018), em sua pedagogia crítica, propõe uma avaliação dialógica, onde o educador e o educando constroem o conhecimento de forma conjunta, em um processo contínuo de reflexão e revisão. Desta forma, a avaliação passa a ser um meio para o desenvolvimento da autonomia e da consciência crítica do aluno, e não um simples instrumento de verificação.
É fundamental que se coloque a escola, como um todo, num processo dialógico, por meio das quais as diversas esferas escolares possam estar dialogando entre elas e dentro delas, e que essa prática dialógica se torne uma prática que vá alimentando a reflexão sobre o processo educacional que se realiza naquele espaço. Nós podemos ir criando mecanismos cotidianos que possam favorecer esse movimento de reflexão sobre o trabalho que estamos realizando, porque aí nós só podemos fazer essa reflexão considerando todos os sujeitos envolvidos nesse processo, as condições de trabalho, as circunstâncias em que esse trabalho é realizado.
Neste contexto, para que a avaliação escolar cumpra seu papel como um meio dialógico de análise voltado ao desenvolvimento dos estudantes, ela deve estar alinhada a “uma pedagogia comprometida com a mudança social” (Souza, 2022, p. 4). Por este motivo, Vasconcelos (2006, p.68) advoga que “não se pode conceber uma avaliação reflexiva, crítica, emancipatória, num processo de ensino passivo, repetitivo e alienante”. Diante deste cenário, o docente precisará reformular sua abordagem pedagógica, direcionando-a para uma prática transformadora; isto é, o professor deverá: “abrir mão do uso autoritário da avaliação; rever a metodologia de trabalho em sala de aula; redimensionar o uso da avaliação, forma e conteúdo; mudar de postura diante dos resultados da avaliação e criar uma nova mentalidade junto aos alunos, aos colegas (…) e aos pais” (Souza, 2022, p. 4).
Perrenoud (2000) sugere que a avaliação deve ser contínua e integrada ao processo educativo, com enfoque formativo e no feedback constante. Ele defende que, em vez de avaliar apenas os resultados finais, os educadores devem observar e avaliar o progresso dos alunos ao longo do tempo, permitindo-lhes corrigir suas falhas e aprimorar suas habilidades.
Uma proposta importante é a avaliação baseada em portfólios, como sugere Vilarinho et al. (2017). O portfólio permite que o aluno acompanhe seu próprio processo de aprendizagem, refletindo sobre seus avanços e desafios. Além disso, ele proporciona um espaço de valorização da diversidade de formas de aprendizagem, pois o aluno pode demonstrar seu conhecimento de diferentes maneiras, seja por meio de textos, desenhos, apresentações ou outros formatos.
Outra proposta significativa é a autoavaliação. Ela deve estar presente em todos os momentos, uma vez que é o ato de julgar o próprio desempenho de educandos e educadores. Queiroz et al. (2019, p. 6) reitera que “a autoavaliação induz o aluno à reflexão sobre o próprio aprendizado, considerando seus avanços e suas dificuldades. De modo similar, ocorre com o professor, pois imputa sobre ele a responsabilidade de refletir a sua própria prática”. Sob este prisma, Melo (2020) acredita que, por meio dela, os estudantes desenvolvem progressivamente a habilidade de examinar suas próprias competências, atitudes, condutas, qualidades, necessidades e conquistas. Entretanto, para que a autoavaliação tenha êxito, Melo (2020, p. 11) ressalta que “é preciso que o professor acredite no aluno e ofereça condições para a aprendizagem, pois assim o aluno se sentirá seguro para manifestar autenticidade em sua avaliação”.
À luz de Lopes (2019, p. 143):
O professor deve agir como provocador, mobilizador e mediador da aprendizagem e não como mero examinador que utiliza a avaliação como mecanismo de controle e poder sobre os alunos, cuja preocupação maior é com a emissão de notas no final dos bimestres, já que estas nem sempre representam de fato se houve ou não aprendizagem e ensino.
Sob esta ótica, Lima e Vasconcelos (2022, p. 1946) defendem a “metodologia avaliação por pares”. Segundo os autores, esse tipo de avaliação“coloca os alunos como atores e protagonistas do processo avaliativo, uma vez que assumem o papel de avaliadores do trabalho de seus colegas, ou pares, tornando-se responsáveis por estabelecer critérios para desenvolver esse processo”. Assim, esse procedimento favorece a aquisição de competências como a criticidade, a reflexão e a autorreflexão, o que, por sua vez, fortalece o processo de aprendizagem. Além disso, Lima e Vasconcelos (2022) acreditam que a avaliação por pares também possibilita desenvolver outros elementos essenciais, como a interação, a cooperação, o cuidado e a ponderação ao avaliar o desempenho do colega. Desta forma, esse processo promove nos estudantes um senso genuíno de responsabilidade, permitindo-lhes exercer autonomia na tomada de decisões de forma consciente, o que favorece a construção do próprio conhecimento.
Em suma, compreender o caráter múltiplo e dinâmico da prática avaliativa e adotar novas abordagens permitirá que o ensino se torne um processo mais justo, eficaz, democrático e, acima de tudo, voltado para a transformação da prática educativa.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente documento buscou investigar a avaliação no contexto educacional, analisando suas funções, desafios e possibilidades como instrumento de ensino e aprendizagem. A avaliação desempenha um papel crucial no acompanhamento do progresso dos alunos, na orientação das práticas pedagógicas e na validação dos resultados realizados. No entanto, ao longo dos anos, o modelo tradicional de avaliação tem demonstrado limitações significativas, especialmente no que diz respeito à formação integral dos alunos e ao estímulo ao pensamento crítico. A centralização em provas e testes formais, muitas vezes com enfoque apenas no conteúdo factual, acaba por negligenciar outros aspectos fundamentais do desenvolvimento educacional, como a criatividade, a autonomia e as competências sociais.
A reflexão sobre os diferentes tipos de avaliação, suas funções e finalidades, é fundamental para promover uma mudança significativa nas práticas pedagógicas. A avaliação formativa, por exemplo, se destaca como uma alternativa mais alinhada a uma visão pedagógica crítica e transformadora, permitindo uma avaliação contínua e participativa, que envolve o aluno em seu processo de aprendizagem. Ela possibilita uma abordagem mais flexível, onde o erro é visto como parte do aprendizado e não como um fracasso.
Além disso, a busca por alternativas avaliativas que considerem a diversidade dos alunos e que respeitem suas trajetórias individuais é essencial para a criação de um ambiente educacional inclusivo. A avaliação deve ser uma ferramenta que apoie o desenvolvimento de competências cognitivas, sociais e emocionais, contribuindo para a formação de cidadãos mais críticos e conscientes de seu papel na sociedade.
As alternativas avaliativas apresentadas ao longo desta revisão, como o uso de portfólios, autoavaliação e avaliação por pares, demonstram o potencial da avaliação como um instrumento de empoderamento e de reflexão sobre a própria aprendizagem. Tais práticas permitem que os alunos se tornem agentes de seu próprio processo de avaliação, promovendo um ambiente de maior colaboração e de construção coletiva do conhecimento.
Portanto, é necessário que as políticas educacionais e as práticas docentes estejam alinhadas à necessidade de transformar o processo avaliativo, adotando uma perspectiva mais ampla e humanizada. A avaliação deve ir além da mera mensuração de resultados acadêmicos, tornando-se uma ferramenta que estimula a autonomia, o pensamento crítico e a participação efetiva dos estudantes.
Em suma, as considerações finais aqui apresentadas ressaltam a necessidade de repensar as práticas avaliativas na educação, a fim de construir uma avaliação que realmente contribua para a formação de indivíduos críticos, criativos e preparados para os desafios do mundo contemporâneo.
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