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Resumo
INTRODUÇÃO
É através do brincar que a criança se percebe e interage com o ambiente que a cerca, sendo possível desenvolver habilidades motoras, percepto-cognitivas e sensoriais, tornando-se um ser social e sendo capaz de utilizar as habilidades aprendidas em seu cotidiano.
O brincar é a principal ocupação da criança, contudo, ele pode ser influenciado por diferentes fatores. A criança com deficiência física enfrenta diferentes limitações – além das limitações do movimento, existem as barreiras físicas que muitas vezes a impedem de explorar e interagir de maneira efetiva com o meio.
Ter uma deficiência física não se restringe à dificuldade motora e, portanto, a saúde não será só o restabelecimento do movimento alterado ou perdido, mas a possibilidade de realizar atividades, a partir de uma determinação interna, pessoal, e não apenas uma aproximação dos padrões sociais de normalidade (Takatori, 2003, p.91).
Na Terapia Ocupacional o foco de atuação volta-se para a desorganização dos fazeres cotidianos do sujeito, ou seja, a criança com deficiência física poderá ter limitações ou disfunções motoras que irão impactar em suas atividades diárias:
As condições motoras e funcionais podem ter um limite de recuperação, mas a possibilidade de fazer e participação social não se circunscrevem somente ao movimento ou à ação e, portanto, não dependem apenas das condições motoras e funcionais. Fazer no contexto social implica escolhas e significados, mais que o resultado de movimento e habilidades funcionais coordenados, são ações que resultam de um impulso para o fazer e levam a ocorrências de fatos físicos e psíquicos que tornam esse fazer uma experiência particular (Takatori, 2003, p.7).
O presente artigo vislumbra discorrer sobre a criança com deficiência física e sobre o seu brincar, bem como as contribuições da terapia ocupacional com essa população.
REFERENCIAL TEÓRICO
Elucidando o contexto da criança com deficiência física, Zaguini et al. enfatizam que a construção do brincar deve ser de forma graduada, de maneira que a criança vivencie e exponha seus sentimentos através da experiência lúdica. Sendo assim, é de extrema importância dar oportunidades de participação, possibilitando o acesso e eliminando as barreiras para favorecer o desenvolvimento da criança.
Sendo assim, a criança com deficiência deve ser incentivada a brincar e de se considerar capaz, conforme suas potencialidades e limitações, de explorar o mundo do brincar de maneira lúdica e enriquecida pela imaginação. Contudo, as limitações advindas da deficiência física podem impactar a capacidade de locomoção, de manipulação dos objetos e de exploração pela criança. Martini exemplifica possibilidades de adaptações para que seja possível a participação da criança com deficiência, tais como o posicionamento correto, adequação de mobiliário, adaptação dos brinquedos para que seja possível que a criança execute o brincar e tenha sucesso na atividade, motivando-a a repetir a ação.
Entendo o brincar como um espaço e tempo nos quais acontecem atividades que possibilitam o sujeito estabelecer contato com a realidade interna e com a externa de forma criativa. São experiências que trazem aspectos da realidade interna do sujeito e da realidade externa, que ao serem reconhecidas possibilitam sua participação social (Takatori, 2003, p.9).
Brasileiro, Moreira & Jorge, pesquisaram a influência dos fatores ambientais no desempenho funcional de crianças com limitações físicas ou disfunções motoras, em suas atividades cotidianas e identificaram que o processo de aprendizagem motora consiste em solucionar uma tarefa, a partir da interação entre o indivíduo, tarefa e ambiente. Ou seja, se o ambiente apresenta muitas barreiras para que a criança execute a tarefa, serão mais frequentes os déficits motores e sensoriais. Muitas vezes, os pais ou responsáveis desempenham um papel de apoio, o qual ofertam para que a criança consiga ter participação ocupacional.
Os fatores ambientais podem ser tão ou até mais limitadores do que o próprio distúrbio. As barreiras sociais, que ocorrem como resultado da imposição dos valores e crenças dos outros, impossibilitam as crianças de estabelecerem interações sociais. Por outro lado, as barreiras físicas do ambiente diminuem ou impedem o acesso das crianças à recreação e ao lazer (Souza et al. 2018 p.268, apud Lorenzini, 2002).
O Terapeuta Ocupacional pode contribuir para a facilitação do brincar dessas crianças por meio de adaptações nos brinquedos ou na tarefa e no ambiente, como por exemplo, o uso de tecnologia assistiva é uma estratégia para favorecer a participação das crianças com deficiência física, seja por meio de um adaptador para preensão de brinquedos ou adaptação de mobiliários, bem como a utilização de softwares para computadores, tendo sempre em vista o sucesso na execução da atividade realizada pela criança.
O terapeuta ocupacional é o profissional que irá avaliar e observar detalhes sobre o sujeito e suas necessidades na realização das atividades no processo terapêutico¹, pois ao realizar as atividades a criança faz uso dos aspectos sensoriais, motores, cognitivos e perceptuais, possibilitando então a aprendizagem de novas habilidades. Sendo assim, para a terapia ocupacional, a brincadeira é a forma da criança estar no mundo e de se desenvolver:
Quando se trata da saúde, o brincar está presente no cotidiano tal qual outras atividades que acontecem no dia-a-dia da criança. Considero o brincar, na terapia ocupacional, como as atividades que se inserem no contexto da relação terapêutica, compreendido e observado na relação triádica, como experiência fundamental para o desenvolvimento e a saúde da criança, enquanto os brinquedos são os materiais do terapeuta ocupacional à disposição da criança e suas brincadeiras (Takatori, 2003, p.9).
Dessa forma, a partir de uma avaliação estruturada e de suas observações clínicas acerca da criança e de seu contexto, o terapeuta ocupacional poderá utilizar do brincar para potencializar o desenvolvimento do sujeito; muitas vezes serão necessárias ações para adaptar o ambiente ou a atividade em si, mas com as estratégias adequadas será possível o sucesso na atividade e participação efetiva da criança.
METODOLOGIA
Este estudo adotou uma abordagem qualitativa, de caráter exploratório, com análise de obras e artigos científicos sobre o tema.
Para a produção deste artigo, foi lida na íntegra a obra de Marisa Takatori, “O brincar no cotidiano da criança com deficiência física. Reflexões sobre a Clínica da Terapia Ocupacional”, publicado em São Paulo pela Editora Atheneu, em 2003.
Também foram estudadas fontes bibliográficas brasileiras e estrangeiras, avaliadas a partir da leitura dos títulos e resumos, identificando a temática e ressaltando a relação com a ideia central deste artigo.
O objetivo do presente artigo é explicar sobre a importância do brincar para o desenvolvimento infantil, principalmente em casos de limitações ou disfunções físicas e as contribuições da Terapia Ocupacional.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste sentido, compreende-se que promover o brincar facilita a interação social e aproxima a criança com deficiência do seu meio, contribuindo para que a criança não seja vista como incapaz, mas como um ser com potência e limitações. Através do brincar será possível que a criança desenvolva conhecimento do mundo ao seu redor:
Afirmo que através das brincadeiras a criança adquire experiências e se conecta com a cultura; a capacidade de brincar é um sintoma de saúde no desenvolvimento. Ao lado da preocupação com o desenvolvimento físico e emocional do indivíduo, esperamos auxiliá-lo na busca de seu espaço na sociedade como cidadão, como sujeito social (Takatori, 2003, p.94).
Desta forma, considera-se de extrema importância as discussões que estão sendo cada vez mais realizadas acerca da pessoa com deficiência na sociedade, bem como sua relação com o sistema público de saúde e os direitos da pessoa com deficiência. Outro ponto muito importante, é sobre a potência do brincar no desenvolvimento infantil. Este, que muitas vezes é subestimado pela comunidade, é uma ferramenta valiosa que contribui não apenas para o desenvolvimento de habilidades, mas para o desenvolvimento do sujeito como um todo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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FERLAND, F. O modelo lúdico: o brincar, a criança com deficiência física e a terapia ocupacional; [tradução Maria Madalena Moraes]. São Paulo: Roca, 2006.
FIGUEIREDO, B. A; SOUZA, D. S; SILVA, A. C. D. O brincar de crianças com deficiência física: contribuição da terapia ocupacional. Rev Ter Ocup Univ São Paulo. 2016 jan.-abr.;27(1):29-35.
LORENZINI, M. V. Brincando a brincadeira com a criança deficiente: novos rumos terapêuticos. São Paulo: Manole, 2002.
MARTINI, G. O brincar na Clínica de Terapia Ocupacional com crianças com deficiência física: relato de um caso. Revista CETO, São Paulo, n. 12, p. 27-31, 2010.
PEDROSO, M. C. S. A Função do Brincar para a Criança com Deficiência. Revista Científica da FHO UNIARARAS, Araras, v. 1, n. 2, p. 82-925, 2013.
SOUZA, D. da S., de FIGUEIREDO, B. A., & DA SILVA, Ângela C. D. (2017). O brincar de crianças com deficiência física sob a perspectiva dos pais/The play of children with disabilities from the perspective of parents. Cadernos Brasileiros De Terapia Ocupacional, 25(2), 267–274. https://doi.org/10.4322/0104-4931.ctoAO0794
TAKATORI, M. O brincar no cotidiano da criança com deficiência física: reflexões sobre a clínica da Terapia Ocupacional. São Paulo: Atheneu, 2003.
ZAGUINI, C. G. S. Et al. Avaliação do comportamento lúdico da criança com paralisia cerebral e da percepção de seus cuidadores. Acta Fisiatrica, São Paulo, v. 8, n. 4, p. 187-191, 2012. Disponível em: . Acesso em: 29 de abril de 2025.
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