A criança com deficiência física, o brincar e a terapia ocupacional.

CHILDREN WITH PHYSICAL DISABILITIES, PLAY AND OCCUPATIONAL THERAPY

NIÑOS CON DISCAPACIDAD FÍSICA, JUEGO Y TERAPIA OCUPACIONAL

Autor

Julia Fidelis
ORIENTADOR
Profa. Dra. Priscila Trudes Artêro

URL do Artigo

https://iiscientific.com/artigos/0264CF

DOI

Fidelis, Julia. A criança com deficiência física, o brincar e a terapia ocupacional.. International Integralize Scientific. v 5, n 47, Maio/2025 ISSN/3085-654X

Resumo

O brincar é a principal ocupação da criança, contudo, ele pode ser influenciado por diferentes fatores. A criança com deficiência deve ser incentivada a brincar e de se considerar capaz, conforme suas potencialidades e limitações, de explorar o mundo do brincar de maneira lúdica e enriquecida pela imaginação; entretanto, ela também irá enfrentar diferentes limitações – além das limitações do movimento, existem as barreiras físicas que muitas vezes a impedem de explorar e interagir de maneira efetiva com o meio. As limitações advindas da deficiência física podem impactar a capacidade de locomoção, de manipulação dos objetos e de exploração pela criança. O Terapeuta Ocupacional pode contribuir para a facilitação do brincar dessas crianças por meio de adaptações nos brinquedos ou na tarefa e no ambiente, como por exemplo, o uso de tecnologia assistiva é uma estratégia para favorecer a participação das crianças com deficiência física, seja por meio de um adaptador para preensão de brinquedos ou adaptação de mobiliários, bem como a utilização de softwares para computadores, tendo sempre em vista o sucesso na execução da atividade realizada pela criança. Neste sentido, compreende-se que promover o brincar facilita a interação social e aproxima a criança com deficiência do seu meio, contribuindo para que a criança não seja vista como incapaz, mas como um ser com potência e limitações.
Palavras-chave
deficiência física; terapia ocupacional; brincar; desenvolvimento infantil.

Summary

Playing is a child’s main occupation, but it can be influenced by different factors. Children with disabilities should be encouraged to play and consider themselves capable, according to their potential and limitations, of exploring the world of play in a playful way, enriched by imagination. However, they will also face different limitations – in addition to movement limitations, there are physical barriers that often prevent them from exploring and interacting effectively with the environment. Limitations arising from physical disabilities can impact the child’s ability to move, manipulate objects and explore. Occupational Therapists can help facilitate the play of these children by adapting toys or tasks/environments. For example, the use of assistive technology is a strategy to encourage the participation of children with physical disabilities, whether through an adapter for gripping toys or adapting furniture, as well as the use of computer software, always with a view to successfully executing the activity performed by the child. In this sense, it is understood that promoting play facilitates social interaction and brings children with disabilities closer to their environment, contributing to the child not being seen as incapable, but as a being with potential and limitations.
Keywords
physical disability; occupational therapy; play; child development.

Resumen

El juego es la principal ocupación del niño, sin embargo puede verse influenciado por diferentes factores. Se debe alentar a los niños con discapacidad a jugar y a considerarse capaces, según sus potencialidades y limitaciones, de explorar el mundo del juego de una manera lúdica, enriquecida por la imaginación; Sin embargo, también enfrentará diferentes limitaciones: además de las limitaciones de movimiento, existen barreras físicas que a menudo le impiden explorar e interactuar eficazmente con el entorno. Las limitaciones derivadas de discapacidades físicas pueden afectar la capacidad del niño para moverse, manipular objetos y explorar. El Terapeuta Ocupacional puede contribuir a facilitar el juego de estos niños a través de adaptaciones en los juguetes o en la tarea/ambiente, por ejemplo, el uso de tecnología de asistencia es una estrategia para favorecer la participación de niños con discapacidad física, ya sea a través de un adaptador para el agarre de los juguetes o la adaptación de mobiliario, así como el uso de software de computadora, teniendo siempre en mente el éxito en la realización de la actividad realizada por el niño. En este sentido, se entiende que promover el juego facilita la interacción social y acerca a los niños con discapacidad a su entorno, contribuyendo a que el niño no sea visto como un incapaz, sino como un ser con potencialidades y limitaciones.
Palavras-clave
discapacidad física; terapia ocupacional; para jugar; desarrollo infantil.

INTRODUÇÃO

É através do brincar que a criança se percebe e interage com o ambiente que a cerca, sendo possível desenvolver habilidades motoras, percepto-cognitivas e sensoriais, tornando-se um ser social e sendo capaz de utilizar as habilidades aprendidas em seu cotidiano.

O brincar é a principal ocupação da criança, contudo, ele pode ser influenciado por diferentes fatores. A criança com deficiência física enfrenta diferentes limitações – além das limitações do movimento, existem as barreiras físicas que muitas vezes a impedem de explorar e interagir de maneira efetiva com o meio.

Ter uma deficiência física não se restringe à dificuldade motora e, portanto, a saúde não será só o restabelecimento do movimento alterado ou perdido, mas a possibilidade de realizar atividades, a partir de uma determinação interna, pessoal, e não apenas uma aproximação dos padrões sociais de normalidade (Takatori, 2003, p.91).

Na Terapia Ocupacional o foco de atuação volta-se para a desorganização dos fazeres cotidianos do sujeito, ou seja, a criança com deficiência física poderá ter limitações ou disfunções motoras que irão impactar em suas atividades diárias:

 

As condições motoras e funcionais podem ter um limite de recuperação, mas a possibilidade de fazer e participação social não se circunscrevem somente ao movimento ou à ação e, portanto, não dependem apenas das condições motoras e funcionais. Fazer no contexto social implica escolhas e significados, mais que o resultado de movimento e habilidades funcionais coordenados, são ações que resultam de um impulso para o fazer e levam a ocorrências de fatos físicos e psíquicos que tornam esse fazer uma experiência particular (Takatori, 2003, p.7).

 

O presente artigo vislumbra discorrer sobre a criança com deficiência física e sobre o seu brincar, bem como as contribuições da terapia ocupacional com essa população.

 

REFERENCIAL TEÓRICO

Elucidando o contexto da criança com deficiência física, Zaguini et al.  enfatizam que a construção do brincar deve ser de forma graduada, de maneira que a criança vivencie e exponha seus sentimentos através da experiência lúdica. Sendo assim, é de extrema importância dar oportunidades de participação, possibilitando o acesso e eliminando as barreiras para favorecer o desenvolvimento da criança.

Sendo assim, a criança com deficiência deve ser incentivada a brincar e de se considerar capaz, conforme suas potencialidades e limitações, de explorar o mundo do brincar de maneira lúdica e enriquecida pela imaginação. Contudo, as limitações advindas da deficiência física podem impactar a capacidade de locomoção, de manipulação dos objetos e de exploração pela criança. Martini exemplifica possibilidades de adaptações para que seja possível a participação da criança com deficiência, tais como o posicionamento correto, adequação de mobiliário, adaptação dos brinquedos para que seja possível que a criança execute o brincar e tenha sucesso na atividade, motivando-a a repetir a ação.

 

Entendo o brincar como um espaço e tempo nos quais acontecem atividades que possibilitam o sujeito estabelecer contato com a realidade interna e com a externa de forma criativa. São experiências que trazem aspectos da realidade interna do sujeito e da realidade externa, que ao serem reconhecidas possibilitam sua participação social (Takatori, 2003, p.9).

 

Brasileiro, Moreira & Jorge, pesquisaram a influência dos fatores ambientais no desempenho funcional de crianças com limitações físicas ou disfunções motoras, em suas atividades cotidianas e identificaram que o processo de aprendizagem motora consiste em solucionar uma tarefa, a partir da interação entre o indivíduo, tarefa e ambiente. Ou seja, se o ambiente apresenta muitas barreiras para que a criança execute a tarefa, serão mais frequentes os déficits motores e sensoriais. Muitas vezes, os pais ou responsáveis desempenham um papel de apoio, o qual ofertam para que a criança consiga ter participação ocupacional.

 

Os fatores ambientais podem ser tão ou até mais limitadores do que o próprio distúrbio. As barreiras sociais, que ocorrem como resultado da imposição dos valores e crenças dos outros, impossibilitam as crianças de estabelecerem interações sociais. Por outro lado, as barreiras físicas do ambiente diminuem ou impedem o acesso das crianças à recreação e ao lazer (Souza et al. 2018 p.268, apud Lorenzini, 2002). 

 

O Terapeuta Ocupacional pode contribuir para a facilitação do brincar dessas crianças por meio de adaptações nos brinquedos ou na tarefa e no ambiente, como por exemplo, o uso de tecnologia assistiva é uma estratégia para favorecer a participação das crianças com deficiência física, seja por meio de um adaptador para preensão de brinquedos ou adaptação de mobiliários, bem como a utilização de softwares para computadores, tendo sempre em vista o sucesso na execução da atividade realizada pela criança.

 O terapeuta ocupacional é o profissional que irá avaliar e observar detalhes sobre o sujeito e suas necessidades na realização das atividades no processo terapêutico¹, pois ao realizar as atividades a criança faz uso dos aspectos sensoriais, motores, cognitivos e perceptuais, possibilitando então a aprendizagem de novas habilidades. Sendo assim, para a terapia ocupacional, a brincadeira é a forma da criança estar no mundo e de se desenvolver:

Quando se trata da saúde, o brincar está presente no cotidiano tal qual outras atividades que acontecem no dia-a-dia da criança. Considero o brincar, na terapia ocupacional, como as atividades que se inserem no contexto da relação terapêutica, compreendido e observado na relação triádica, como experiência fundamental para o desenvolvimento e a saúde da criança, enquanto os brinquedos são os materiais do terapeuta ocupacional à disposição da criança e suas brincadeiras (Takatori, 2003, p.9).

 

Dessa forma, a partir de uma avaliação estruturada e de suas observações clínicas acerca da criança e de seu contexto, o terapeuta ocupacional poderá utilizar do brincar para potencializar o desenvolvimento do sujeito; muitas vezes serão necessárias ações para adaptar o ambiente ou a atividade em si, mas com as estratégias adequadas será possível o sucesso na atividade e participação efetiva da criança.

METODOLOGIA 

Este estudo adotou uma abordagem qualitativa, de caráter exploratório, com  análise de obras e artigos científicos sobre o tema.

Para a produção deste artigo, foi lida na íntegra a obra de Marisa Takatori,  “O brincar no cotidiano da criança com deficiência física. Reflexões sobre a Clínica da Terapia Ocupacional”, publicado em São Paulo pela Editora Atheneu, em 2003.

Também foram estudadas fontes bibliográficas brasileiras e estrangeiras, avaliadas a partir da leitura dos títulos e resumos, identificando a temática e ressaltando a relação com a ideia central deste artigo.

O objetivo do presente artigo é explicar sobre a importância do brincar para o desenvolvimento infantil, principalmente em casos de limitações ou disfunções físicas e as contribuições da Terapia Ocupacional.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste sentido, compreende-se que promover o brincar facilita a interação social e aproxima a criança com deficiência do seu meio, contribuindo para que a criança não seja vista como incapaz, mas como um ser com potência e limitações. Através do brincar será possível que a criança desenvolva conhecimento do mundo ao seu redor:

 

Afirmo que através das brincadeiras a criança adquire experiências e se conecta com a cultura; a capacidade de brincar é um sintoma de saúde no desenvolvimento. Ao lado da preocupação com o desenvolvimento físico e emocional do indivíduo, esperamos auxiliá-lo na busca de seu espaço na sociedade como cidadão, como sujeito social (Takatori, 2003, p.94).

 

Desta forma, considera-se de extrema importância as discussões que estão sendo cada vez mais realizadas acerca da pessoa com deficiência na sociedade, bem como sua relação com o sistema público de saúde e os direitos da pessoa com deficiência. Outro ponto muito importante, é sobre a potência do brincar no desenvolvimento infantil. Este, que muitas vezes é subestimado pela comunidade, é uma ferramenta valiosa que contribui não apenas para o desenvolvimento de habilidades, mas para o desenvolvimento do sujeito como um todo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, C. C; TAVARES, H. M. O brincar e a criança com deficiência. Rev. Católica. 2009;1(2):159-68.

BRASILEIRO, I. C; MOREIRA, T. M. M; JORGE, M. S. B. Interveniência dos fatores ambientais na vida de crianças com paralisia cerebral. Acta Fisiatr. 2009;16(3):132-7.

FERLAND, F. O modelo lúdico: o brincar, a criança com deficiência física e a terapia ocupacional; [tradução Maria Madalena Moraes]. São Paulo: Roca, 2006.

FIGUEIREDO, B. A; SOUZA, D. S; SILVA, A. C. D. O brincar de crianças com deficiência física: contribuição da terapia ocupacional. Rev Ter Ocup Univ São Paulo. 2016 jan.-abr.;27(1):29-35.

LORENZINI, M. V. Brincando a brincadeira com a criança deficiente: novos rumos terapêuticos. São Paulo: Manole, 2002.

MARTINI, G. O brincar na Clínica de Terapia Ocupacional com crianças com deficiência física: relato de um caso. Revista CETO, São Paulo, n. 12, p. 27-31, 2010. 

PEDROSO, M. C. S. A Função do Brincar para a Criança com Deficiência. Revista Científica da FHO UNIARARAS, Araras, v. 1, n. 2, p. 82-925, 2013. 

SOUZA, D. da S., de FIGUEIREDO, B. A., & DA SILVA, Ângela C. D. (2017). O brincar de crianças com deficiência física sob a perspectiva dos pais/The play of children with disabilities from the perspective of parents. Cadernos Brasileiros De Terapia Ocupacional, 25(2), 267–274. https://doi.org/10.4322/0104-4931.ctoAO0794

TAKATORI, M. O brincar no cotidiano da criança com deficiência física: reflexões sobre a clínica da Terapia Ocupacional. São Paulo: Atheneu, 2003.

ZAGUINI, C. G. S. Et al. Avaliação do comportamento lúdico da criança com paralisia cerebral e da percepção de seus cuidadores. Acta Fisiatrica, São Paulo, v. 8, n. 4, p. 187-191, 2012. Disponível em: . Acesso em: 29 de abril de 2025.

Fidelis, Julia. A criança com deficiência física, o brincar e a terapia ocupacional..International Integralize Scientific. v 5, n 47, Maio/2025 ISSN/3085-654X

Referencias

BAILEY, C. J.; LEE, J. H.
Management of chlamydial infections: A comprehensive review.
Clinical infectious diseases.
v. 67
n. 7
p. 1208-1216,
2021.
Disponível em: https://academic.oup.com/cid/article/67/7/1208/6141108.
Acesso em: 2024-09-03.

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v. 5
n. 47
A criança com deficiência física, o brincar e a terapia ocupacional.

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