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Resumo
INTRODUÇÃO
A Educação Profissional e Tecnológica (EPT) tem se consolidado como uma ferramenta essencial para o desenvolvimento socioeconômico do Brasil, desempenhando um papel estratégico na formação de profissionais qualificados e na promoção da cidadania. Conforme Pacheco (2011), os Institutos Federais (IFs) são reconhecidos por sua capacidade de inovação e pela promoção de uma formação cidadã, contribuindo para uma sociedade mais democrática e equitativa. Nesse contexto, a EPT transcende a simples capacitação técnica, promovendo uma formação integral que engloba dimensões científicas, tecnológicas e humanísticas, conforme apontam Frigotto e Ciavatta (2012).
O Instituto Federal de Roraima (IFRR) exemplifica essa abordagem ao ajustar sua oferta educativa às demandas específicas da região, contribuindo para o desenvolvimento social e econômico local. O Curso Técnico em Informática (TSI), destaca-se como uma das principais iniciativas na formação de profissionais na área de tecnologia da informação, possibilitando a aplicação prática dos princípios da EPT ao integrar competências técnicas e humanísticas para promover a formação integral dos estudantes.
Este artigo está estruturado em três seções principais: inicialmente, discorre sobre os caminhos da formação técnica ressaltando os desafios e oportunidades dos técnicos em informática. Posteriormente, aborda a inserção dos egressos no mundo do trabalho, evidenciando as expectativas e realidades. Em sequência, contempla uma reflexão acerca das memórias coletivas dos egressos do curso TSI demonstrando como a educação profissional pode transformar realidades, consolidando o IFRR como um agente de mudança regional e social.
Assim, conforme defendem os autores utilizados nesta pesquisa, a valorização da memória dos egressos não apenas enriquece o entendimento do mundo do trabalho, mas também contribui para a evolução contínua da qualidade educacional no Brasil.
REVISÃO DA LITERATURA
CAMINHOS DA FORMAÇÃO TÉCNICA: DESAFIOS E OPORTUNIDADES
A Educação Profissional no Brasil tem passado por transformações significativas ao longo das décadas, consolidando-se como um pilar estratégico para o desenvolvimento social e econômico. Segundo Pacheco (2011), a criação dos IFs trouxe uma nova perspectiva para a formação cidadã e profissional, integrando aspectos técnicos e humanísticos. Essa abordagem visa tanto atender às demandas do mundo do trabalho, quanto promover o desenvolvimento integral dos estudantes, como enfatizam Frigotto e Ciavatta (2012).
O ensino técnico assume um papel estratégico no desenvolvimento socioeconômico brasileiro, ao oferecer formação prática diretamente conectada às necessidades do setor produtivo, respondendo às rápidas transformações do mercado. Sua crescente relevância transcende a qualificação profissional, ao ampliar oportunidades, reduzir desigualdades e contribuir para o fortalecimento social e econômico do país.
O curso TSI, ofertado pelo IFRR, reflete essa evolução ao oferecer um currículo abrangente que combina teoria e prática. Disciplinas como “Desenvolvimento de Sistemas” e “Segurança da Informação” preparam os estudantes para atuar em um mundo do trabalho dinâmico e em constante mudança (CEFET/RR, 2007). Entretanto, conforme destacado por Ciavatta (2012), a integração entre essas dimensões ainda enfrenta desafios estruturais, especialmente no que se refere à articulação entre formação técnica e inserção laboral.
Entre 2016 e 2020, o IFRR formou 25 técnicos em Informática, na modalidade subsequente, cuja inserção profissional é tema central deste estudo. Segundo Frigotto (2012), o trabalho, enquanto princípio educativo, promove o crescimento humano em suas múltiplas dimensões, sendo essencial para a emancipação individual e social. A formação oferecida pelo IFRR busca, portanto, atender às demandas de um mercado dinâmico e competitivo, equipando os estudantes com habilidades técnicas avançadas e competências socioemocionais.
Os relatos dos egressos do TSI indicam que o curso é um marco importante na trajetória formativa, embora insuficiente para garantir uma inserção plena e estável no mundo do trabalho. Um dos principais entraves identificados é a pouca experiência prática, o que constitui uma lacuna que muitas vezes impede a transição eficaz para o ambiente profissional. Antunes (2020) aponta que a precarização das relações de trabalho também afeta diretamente os profissionais recém-formados, intensificando os desafios enfrentados por esses técnicos.
Adicionalmente, as rápidas inovações tecnológicas exigem dos egressos uma atualização constante de seus conhecimentos. Nesse sentido, programas de formação continuada são fundamentais para assegurar a competitividade e a relevância dos profissionais no mundo do trabalho. Le Goff (1990) ressalta que a formação deve responder às demandas contemporâneas sem negligenciar as necessidades históricas e culturais, criando uma base sólida para a atuação crítica e reflexiva.
Por outro lado, o curso tem proporcionado oportunidades significativas para seus egressos. Habilidades como trabalho em equipe, resolução de problemas e pensamento crítico são amplamente desenvolvidas, alinhando-se à visão de Saviani (2011) sobre a educação integral. Além disso, o resgate das memórias coletivas dos egressos, como argumentam Rodrigues e Ferrão (2024), contribui para o aprimoramento das práticas pedagógicas e para a adaptação dos currículos às necessidades do mundo do trabalho.
Embora os desafios sejam numerosos, a EPT continua sendo uma ferramenta indispensável para o desenvolvimento roraimense. Fortalecer as políticas educacionais e promover um diálogo mais estreito com o mundo do trabalho são passos fundamentais para potencializar os impactos positivos dessa formação. Conforme ressaltam os autores, o IFRR desempenha um papel essencial na construção de uma sociedade mais justa e equitativa, capacitando profissionais para enfrentar os desafios e explorar as oportunidades de um mercado em constante transformação.
INSERÇÃO PROFISSIONAL DOS EGRESSOS: REALIDADES E DESAFIOS
A inserção profissional dos egressos do curso TSI do IFRR reflete os desafios enfrentados por muitos técnicos formados no Brasil. Como observado por Antunes (2020), a acumulação flexível e a precarização do trabalho são obstáculos recorrentes, dificultando a estabilidade e o avanço na carreira desses profissionais. Essa realidade evidencia a necessidade de articulação mais eficaz entre a formação educacional e as demandas concretas do mercado de trabalho.
De acordo com os dados apresentados na pesquisa, apenas 41% dos egressos participantes conseguiram atuar em áreas diretamente relacionadas à formação técnica em Informática. Essa discrepância reflete, em parte, as lacunas existentes entre as competências desenvolvidas no ambiente acadêmico e as exigências práticas do mercado de trabalho. Nesse sentido, Ciavatta (2012) enfatiza que a desconexão entre a formação acadêmica e as demandas do mundo laboral permanece como um desafio crítico enfrentado pelas instituições de Educação Profissional e Tecnológica (EPT), evidenciando a necessidade de um alinhamento mais dinâmico e integrado.
Por outro lado, uma pesquisa realizada por Vernizzi (2024) sobre a Educação Técnica no Brasil apresenta um panorama mais otimista. Segundo dados do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), aproximadamente 72% dos egressos de cursos técnicos conseguem emprego em sua área de formação. Essa diferença nos índices de inserção profissional pode ser atribuída às disparidades regionais existentes no país, como sugere o próprio pesquisador ao referir que, apesar dos avanços na expansão do ensino técnico, o Brasil ainda enfrenta desafios significativos, especialmente no que diz respeito às desigualdades regionais.
Vernizzi (2024) destaca que “enquanto regiões como o Sudeste e o Sul dispõem de uma ampla rede de instituições e cursos técnicos, o Norte e o Nordeste continuam a enfrentar sérias lacunas, com acesso limitado a essas formações”. Essa realidade perpetua as desigualdades econômicas e restringe o potencial de desenvolvimento das regiões que mais necessitam de investimentos educacionais, reforçando a urgência de políticas públicas que promovam a equidade no acesso à educação técnica em todo o território nacional.
Assim, a análise comparativa dos dados ressalta a importância de esforços coordenados para mitigar as disparidades regionais e garantir que a formação técnica seja acessível e efetiva em promover a inserção profissional em todas as regiões do país.
A pandemia de COVID-19 intensificou os desafios de empregabilidade, ao reduzir a demanda por profissionais em áreas específicas e agravar a instabilidade econômica que já afetava a empregabilidade dos egressos. Apesar dos desafios, o estudo também identificou aspectos positivos na formação oferecida pelo IFRR. Egressos que conseguiram se inserir no mundo do trabalho relataram que disciplinas como “Segurança da Informação” e “Desenvolvimento de Sistemas” foram cruciais para se destacarem em um mercado competitivo. Essa constatação reforça a relevância de currículos que combinem habilidades técnicas avançadas com competências socioemocionais e adaptabilidade, como sugere Le Goff (1990), ao defender uma educação que integre demandas contemporâneas com uma visão ampla e humanística.
Durante a pesquisa, os egressos também ressaltaram a importância de fortalecer a integração entre a instituição formadora e o mercado, apoiando iniciativas como programas de estágio e parcerias empresariais. Estratégias como a ampliação de parcerias com empresas locais e a criação de programas de estágio podem facilitar a transição dos estudantes para o ambiente profissional, promovendo experiências práticas que completem a formação acadêmica. Rodrigues e Ferrão (2024) ressaltam que o resgate das memórias coletivas dos egressos pode ser uma ferramenta valiosa para identificar lacunas e oportunidades na estrutura curricular, contribuindo para uma formação mais alinhada às exigências do mercado.
Portanto, a inserção profissional dos egressos do curso TSI é um processo que demanda esforços coordenados entre a instituição, o mercado de trabalho e os próprios estudantes. Investimentos em programas de acompanhamento de egressos e a implementação de uma educação continuada são passos cruciais para fortalecer os índices de empregabilidade e assegurar que a formação técnica cumpra seu papel transformador na vida dos alunos e no desenvolvimento regional.
MEMÓRIAS COLETIVAS DOS EGRESSOS
As memórias coletivas dos egressos são primordiais na compreensão das experiências formativas e profissionais, configurando-se como um recurso estratégico para o aprimoramento contínuo das práticas educacionais. De acordo com Le Goff (1990), a memória transcende a simples recordação do passado, sendo uma construção ativa que molda o presente e influencia o futuro. Essa perspectiva permite enxergar as narrativas dos egressos como elementos transformadores, capazes de evidenciar tanto os avanços quanto os desafios da EPT.
A pesquisa valoriza as memórias coletivas dos egressos como um recurso essencial para compreender os desafios e as oportunidades na inserção profissional. As memórias dos egressos permitem ajustar práticas pedagógicas e alinhar a formação às demandas tecnológicas e sociais contemporâneas. Nesse sentido, o IFRR adota uma abordagem que transcende a formação técnica, promovendo autonomia e qualificação contínua dos estudantes, como propõe o Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) do IFRR (2019).
Com base na ficha técnica do documentário produzido com os egressos do curso TSI foi possível captar depoimentos que destacam o impacto emocional e profissional da formação no IFRR, consolidando sua relevância como um agente de transformação. Uma técnica em Informática, por exemplo, relembrou como o curso ampliou suas possibilidades de aprendizado:
Quando eu vim para Boa Vista/RR, não sabia nem o que era rede social. Eu adquiri meu primeiro celular aqui e aprendi a usá-lo no curso. Mesmo não atuando diretamente como técnica, aplico o conhecimento em tecnologia e redes sociais no meu trabalho atual com vendas (Rodrigues e Ferrão, 2024).
Esse relato evidencia como a EPT pode ser um ponto de partida para transformações pessoais e profissionais significativas. Por outro lado, as memórias dos egressos também revelam os desafios enfrentados ao longo do percurso formativo. Outro técnico em informática relembrou as dificuldades iniciais que quase o levaram a desistir:
No início, era bem difícil. Eu saía do trabalho direto para o curso, com a roupa na bolsa, e muitas vezes pensei em desistir. Mas no decorrer do percurso, fui criando gosto pela área de informática e hoje aplico o que aprendi em minha rotina como gestor (Rodrigues e Ferrão, 2024).
Essa memória ilustra a importância da resiliência e da dedicação, características muitas vezes desenvolvidas ao longo da formação técnica. Entretanto, algumas críticas construtivas também emergem das memórias dos egressos. Outro técnico em Informática formado pelo IFRR, destacou a necessidade de melhorias nos laboratórios: “Na época, enfrentamos dificuldades com computadores sucateados. Isso exigiu que a turma se adaptasse e buscasse formas criativas de aprender, mas reforça a importância de investimentos em infraestrutura para cursos como o TSI” (Rodrigues e Ferrão, 2024). Esse apontamento sublinha a necessidade de políticas institucionais voltadas à melhoria contínua do ambiente de aprendizagem.
A relação entre a instituição e seus egressos emerge, portanto, como um elemento crucial para o desenvolvimento de estratégias que ampliem o impacto da formação técnica. A criação de uma plataforma digital, que permita o acompanhamento das trajetórias profissionais e ofereça oportunidades de formação continuada, foi identificada como uma estratégia potencial para fortalecer esse vínculo. Além de promover um diálogo contínuo entre egressos e instituição, permite à gestão educacional adaptar currículos e metodologias, alinhando a formação às necessidades do mercado de trabalho e às expectativas dos estudantes.
O senso de pertencimento e superação compartilhado nos relatos reforça a importância de uma educação que tanto capacita, quanto inspira confiança, resiliência e autonomia nos estudantes. Assim, as memórias dos egressos são registros do passado e, principalmente, instrumentos incontestáveis para o futuro da EPT, pois, fornecem subsídios para avaliar a qualidade do ensino, identificar áreas de melhoria e alinhar as ofertas formativas às demandas do mundo do trabalho.
Investir nesse diálogo entre egressos e instituição é fundamental para garantir que a EPT continue desempenhando seu papel transformador, promovendo o desenvolvimento socioeconômico e a emancipação social dos indivíduos, ao mesmo tempo que contribui para a construção de uma sociedade mais justa e equitativa.
METODOLOGIA
Este estudo adotou uma abordagem mista, combinando métodos qualitativos e quantitativos, com caráter descritivo e exploratório. A investigação foi conduzida a partir da análise da trajetória profissional dos egressos do Curso Técnico Subsequente em Informática (TSI) do Instituto Federal de Roraima (IFRR), abrangendo o período de 2016 a 2020. O objetivo foi compreender os impactos da formação técnica na empregabilidade dos egressos, bem como suas percepções sobre a relação entre a formação adquirida e as exigências do mundo do trabalho.
A pesquisa foi estruturada em duas frentes principais: pesquisa bibliográfica e pesquisa de campo realizada em 2023, durante a pesquisa de mestrado. A pesquisa bibliográfica baseou-se na análise de obras e artigos científicos que abordam a Educação Profissional e Tecnológica (EPT), a inserção profissional e os desafios enfrentados pelos egressos do ensino técnico. Essa revisão permitiu estabelecer um embasamento teórico sólido para a análise dos dados coletados.
A pesquisa de campo consistiu na aplicação de questionários semiestruturados e entrevistas com os egressos do curso, visando coletar informações sobre suas experiências acadêmicas e profissionais. A escolha por instrumentos mistos permitiu aprofundar a compreensão sobre os fatores que influenciam a empregabilidade e as percepções dos ex-alunos acerca da formação recebida.
Para a coleta de dados, utilizou-se um questionário online, composto por questões objetivas e abertas, enviado aos egressos do curso TSI do IFRR. O questionário abordou aspectos como trajetória acadêmica, experiências no mercado de trabalho, dificuldades enfrentadas na inserção profissional e sugestões para melhorias no curso. Além disso, foram realizadas entrevistas semiestruturadas com um grupo selecionado de ex-alunos, permitindo captar suas percepções de forma mais aprofundada. Essas entrevistas possibilitaram compreender as expectativas dos egressos em relação ao curso e os desafios encontrados na transição para o mercado de trabalho.
A população da pesquisa correspondeu aos 25 egressos do Curso Técnico Subsequente em Informática do IFRR, formados entre 2016 e 2020. Como critério de seleção da amostra, adotou-se a amostragem intencional, convidando todos os ex-alunos a participarem da pesquisa. No entanto, a adesão foi voluntária, resultando em um total de 17 participantes. Esse método foi escolhido para garantir que as respostas refletissem a diversidade de experiências e percepções dos egressos.
Os dados coletados foram analisados por meio de técnicas qualitativas e quantitativas. As respostas do questionário foram submetidas a análises estatísticas descritivas, permitindo a organização e interpretação dos resultados de forma objetiva. Já os dados qualitativos, provenientes das entrevistas, foram examinados à luz da análise de conteúdo de Bardin (2022), possibilitando a identificação de categorias temáticas recorrentes entre os relatos dos egressos.
Essa triangulação metodológica garantiu uma visão abrangente do impacto da formação técnica na inserção profissional dos egressos, permitindo uma análise mais precisa sobre os desafios enfrentados e as oportunidades proporcionadas pelo ensino técnico no contexto roraimense.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A análise dos dados coletados revelou aspectos significativos sobre a inserção profissional dos egressos do Curso Técnico em Informática do IFRR. Durante a pesquisa, dos 25 egressos formados entre 2016 e 2020, 41,1% (7) declararam estar empregados em áreas diretamente relacionadas à sua formação técnica.
Figura 1- Inserção profissional dos egressos do curso TSI (2016 – 2020)
Fonte: Elaboração da autora (2024)
Os principais desafios identificados para a empregabilidade dos egressos incluem a falta de experiência profissional, falta de habilidades específicas e a escassez de oportunidades de emprego. No que se refere às dificuldades enfrentadas na transição para o mundo do trabalho, apenas 6% (1) dos entrevistados mencionou que a ausência de uma experiência prática estruturada dificultou sua inserção no mercado.
Os resultados obtidos indicam que a formação técnica oferecida pelo IFRR desempenha um papel relevante na qualificação profissional dos egressos, mas que existem desafios a serem superados para garantir uma inserção mais consistente no mercado de trabalho. Os dados corroboram as discussões de Ciavatta (2012), que enfatiza a importância da integração entre a formação acadêmica e as exigências do mundo do trabalho, destacando que a desconexão entre teoria e prática ainda é um entrave significativo.
Além disso, os achados desta pesquisa convergem com os resultados apresentados por Vernizzi (2024), que apontam disparidades regionais na empregabilidade dos egressos da educação técnica no Brasil. Enquanto no Sudeste e Sul há uma maior absorção de profissionais formados, no Norte e Nordeste ainda persistem desafios estruturais, o que impacta diretamente na empregabilidade dos egressos do IFRR.
Por outro lado, as narrativas dos egressos reforçam a importância das memórias coletivas como elemento fundamental para a avaliação da qualidade do ensino técnico. Como destaca Le Goff (1990), a memória dos egressos não apenas registra as experiências passadas, mas também influencia a percepção sobre a eficácia da formação recebida, permitindo ajustes e melhorias nos cursos ofertados.
Os resultados encontrados podem ser explicados por diferentes fatores. Primeiramente, a rápida evolução tecnológica exige que os profissionais da área de informática estejam constantemente atualizados, o que pode dificultar a empregabilidade de técnicos recém-formados que não tenham continuidade formativa. Isso reforça a necessidade de um programa de educação continuada voltado para os egressos, possibilitando a atualização de conhecimentos e o aprimoramento de competências técnicas.
Outro fator que pode justificar os desafios de inserção no mercado é a falta de articulação entre a instituição formadora e o setor produtivo. Como apontam Frigotto e Ciavatta (2012), a construção de uma relação sólida entre escolas técnicas e empresas pode facilitar a absorção dos profissionais recém-formados e reduzir os impactos da falta de experiência profissional.
Além disso, a pandemia de COVID-19 pode ter contribuído para as dificuldades enfrentadas pelos egressos, uma vez que impactou significativamente o setor tecnológico e reduziu as oportunidades de emprego para profissionais em início de carreira. Esse aspecto reforça a necessidade de um plano institucional de acompanhamento dos egressos, de modo a fornecer suporte e orientação profissional mesmo após a conclusão do curso.
Apesar das contribuições da pesquisa, algumas limitações devem ser consideradas. O número de respondentes, por exemplo, pode influenciar a representatividade dos resultados, especialmente em análises quantitativas. Sugere-se, para estudos futuros, a ampliação da amostra e a realização de pesquisas longitudinais, que possam acompanhar a trajetória dos egressos ao longo do tempo.
Outro aspecto que merece investigação futura é a avaliação do impacto das novas tecnologias digitais na formação e na empregabilidade dos técnicos em informática. Com o crescimento da inteligência artificial e da automação, novos desafios e oportunidades surgem para os profissionais da área, o que exige uma adaptação contínua dos currículos dos cursos técnicos.
Por fim, recomenda-se que futuras pesquisas analisem a efetividade de programas institucionais de acompanhamento dos egressos, investigando se medidas como mentoria profissional e cursos de atualização impactam positivamente a empregabilidade dos formandos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A EPT configura-se como uma ferramenta estratégica para a formação de profissionais qualificados e para o desenvolvimento socioeconômico brasileiro. O curso TSI destaca-se como um exemplo significativo desse modelo educacional, impactando positivamente a trajetória pessoal e profissional de seus egressos. Contudo, o estudo evidencia que desafios importantes ainda precisam ser enfrentados para que essa modalidade de ensino alcance todo o seu potencial transformador.
A integração efetiva entre teoria e prática continua sendo um dos pontos mais sensíveis no contexto da EPT. Como destacado por Ciavatta (2012) e Frigotto (2012), é essencial alinhar a formação acadêmica às exigências do mundo do trabalho promovendo uma formação integral. Além disso, a implementação de políticas mais robustas de acompanhamento de egressos pode fortalecer a transição para o mundo profissional, promovendo uma relação mais dinâmica e produtiva entre a instituição formadora e seus egressos.
Uma prioridade fundamental é o fortalecimento do vínculo institucional com os egressos, utilizando ações inovadoras como plataformas digitais para monitoramento de trajetórias e eventos de integração visando a troca de experiências. Essas iniciativas facilitariam o monitoramento das trajetórias profissionais e contribuiriam para identificar lacunas na formação e para o desenvolvimento de soluções mais alinhadas às demandas locais e regionais. Tais ações reforçam a relevância do diálogo contínuo entre a instituição e egressos, contribuindo para a adaptação curricular e para a inovação pedagógica.
A pesquisa também sublinha a importância de documentar as memórias e experiências dos egressos como um recurso valioso para compreender a complexidade da inserção no mundo do trabalho e o papel transformador da EPT. Como argumenta Le Goff (1990), a memória não é apenas um registro do passado, mas um elemento ativo na construção de identidades e na promoção de avanços sociais. Nesse sentido, o resgate das memórias coletivas revela-se como uma prática que enriquece a formação e fortalece a conexão entre educação, trabalho e cidadania.
Por fim, espera-se que este estudo inspire novas pesquisas e ações voltadas ao fortalecimento da EPT, contribuindo para a construção de uma sociedade mais justa, equitativa e capaz de enfrentar os desafios do futuro com competência e ética. Assim, recomenda-se que futuras pesquisas explorem o impacto das novas tecnologias digitais na formação técnica, ampliando a inserção profissional em setores emergentes.
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