Autor
Resumo
INTRODUÇÃO
A personalização do ensino tem sido um dos grandes avanços da tecnologia na educação, permitindo que estudantes com Transtorno do Espectro Autista (TEA) recebam um ensino mais adaptado às suas necessidades, contudo, forma-se algumas barreiras para a personalização do ensino, tais como, dificuldade na diversidade das manifestações do TEA para criação dos algoritmo, falta de interesse público, dificuldades na interação humana entre outras.
A Inteligência Artificial (IA) surge como uma ferramenta capaz de auxiliar nesse processo, fornecendo monitoramento constante e feedbacks personalizados, como apontado por Domeneghini (2022).
Outra preocupação de todos envolvidos no processo educacional é no tocante a interação social, não podendo esquecer que a IA é uma ferramenta para auxiliar e não para substituir o professor, tornando um grande desafio para as escolas e professores.
Na mesma linha de raciocínio a capacitação dos professores também é uma dificuldade, visto que a falta de investimento e a falta de conhecimento tecnológico, dificulta o acesso pelos professores, como também, nas escolas faltam estruturas físicas para poder executar as atividades com TEA no uso da IA.
Outro fator que não se pode deixar passar despercebido é sobre as questões éticas principalmente no tocante aos dados dos alunos na personalização do ensino, outras dificuldades poderão surgir, contudo deve sempre deixar transparente que a tecnologia vem para complementar.
Esse estudo busca demonstrar algumas dificuldades encontradas por todos os personagens da educação, que terão que lidar com tais dificuldades no ensino do TEA.
COMPLEXIDADE NA PERSONALIZAÇÃO DO ENSINO
A personalização do ensino é um grande avanço tecnológico que permite que os autistas tenham um ensino de qualidade e personalizado, permitindo ao professor uma maior eficiência no tocante ao aluno com TEA, assim, explicando melhor o que venha ser o ensino personalizado discorre Domeneghini:
Personalização do ensino: o estudante e a subjetividade; Algoritmos de aprendizagem: monitoração e feedbacks constantes e construtivos e Simulação interativa: linhas de pesquisa conexionista e simbólica. Da mesma forma, por se tratar de um sistema especialista que abrange o uso das novas tecnologias na educação, definir um programa que é capaz de incorporar técnicas de inteligência artificial para promover um ensino e aprendizagem dinâmicos, que objetive acompanhar as transformações culturais, sociais, políticas e tecnológicas, bem como capacitar o estudante para uma interpretação enérgica do movimento contemporâneo, poderá atender o contexto de uma sociedade movimentada em rede.(Domeneghini,p.57, 2022).
Embora a IA possa adaptar conteúdos educacionais, a diversidade das manifestações do TEA dificulta a criação de algoritmos que atendam efetivamente a todos os perfis de aprendizagem. A falta de dados abrangentes e representativos limita a capacidade dos sistemas de IA em oferecer soluções verdadeiramente personalizadas.
Nesse sentido é perfeitamente compreendido que o a tecnologia proporciona um ensino inclusivo e eficiente, por outro lado, é cediço que com a pluralidade de personalidades autistas, fica difícil construir algoritmos para todo o tipo de autista, tendo em vista que cada autista possui características distintas bem como dificuldades distintas.
Um dos obstáculos enfrentados é a implantação da IA, no sentido estrutural da tecnologia, por ser uma tecnologia nova, ainda existe uma barreira sobre a interação homem-IA, sendo assim, Vasconcelos et al. narra:
Apesar dos benefícios significativos da IA na personalização do ensino, os resultados também destacam vários desafios associados à sua implementação. Um dos principais obstáculos é a adequação pedagógica das tecnologias. Embora os algoritmos de IA sejam eficazes na personalização do conteúdo, muitos educadores relataram dificuldades em integrar essas tecnologias de maneira eficaz em suas práticas pedagógicas tradicionais (Santos, 2022). Professores e gestores educacionais expressaram preocupações sobre a falta de formação específica para o uso dessas ferramentas e sobre como equilibrar o uso da IA com o ensino baseado na interação humana e no desenvolvimento de habilidades socioemocionais.(Vasconcelos et al., p.6, 2024)
Outro fator que torna dificultoso o processo de educação e personalização do ensino é a falta de interesse público, por consequência a falta de investimentos do IA na educação para o TEA, impede que esse avanço possa chegar a maioria dos autistas, conforme pode explanar Santos:
Além disso, existe uma falta de investimentos e políticas públicas adequadas para promover o uso da IA na educação. Isso dificulta a sua adoção em larga escala e pode limitar o acesso das pessoas a essas tecnologias inovadoras. Outro ponto que é destacado é a resistência de alguns profissionais perante a adoção de novos paradigmas, como a IA. Algumas pessoas podem ter receio ou resistência em aceitar e utilizar essas tecnologias, o que também pode ser um obstáculo para a sua expansão na educação.(Santos, p.9, 2023)
Sendo assim, percebe-se que a personalização do ensino, pode ser um grande avanço, desde que os investimentos públicos, bem como incentivos à formação dos professores ao se adaptarem a tecnologia, possam contribuir de forma eficaz para o ensino do autista.
INTERAÇÃO HUMANA E DESENVOLVIMENTO SOCIOEMOCIONAL
Uma grande preocupação dos estudiosos, permeia na desumanização, ou seja, na diminuição da interação humana em decorrência da utilização da IA de forma incoerente, não se pode deixar perder de vista a importância que possui o educador na educação, como também compreender que a IA é apena um coadjuvante, um auxílio ao Professor, conforme aduz Farias quando cita Nguizare
Além disso, é preciso estar atento ao viés nos algoritmos, que pode refletir e amplificar preconceitos presentes nos dados de treinamento, resultando em discriminação ou desigualdade no tratamento dos alunos. A introdução de IA na educação também pode alterar o papel tradicional do professor. Embora a tecnologia possa oferecer suporte e automação, é importante assegurar que a interação humana e o papel do educador como mentor e facilitador não sejam comprometidos (Nguizare, apud. Farias,p.4,2024).
Na mesma linha de raciocínio a mesma preocupação é enfrentada pelos professores, e gestores educacionais que além de não possuírem uma formação específica para atuar com a IA, possui o cuidado de interagir com os alunos para não tornar um ensino mecanizado, segundo expõe Vasconcelos:
Entretanto, enquanto a IA facilita a personalização, a interação humana continua a ser um fator central no processo educacional. Como observado nos resultados, embora os sistemas de IA possam automatizar muitos aspectos do ensino, como a entrega de conteúdo e a correção de provas, eles não podem substituir completamente o papel dos professores.(Vasconcelos et al., p.8, 2024)
A capacitação dos professores gera uma preocupação, tendo em vista que o papel do professor vai sendo ressignificado, adquirindo uma posição de mediador, tendo em vista que utilizam dados da IA, e aplicam nos alunos de forma personalizada, conforme discorre Vasconcelos citando o pensamento de Silva:
Outra questão importante relacionada à capacitação dos educadores é o papel cada vez mais mediador que os professores terão que assumir. À medida que as tarefas administrativas e repetitivas são automatizadas, o foco dos professores deverá se concentrar no apoio ao desenvolvimento cognitivo e socioemocional dos alunos. Isso requer uma abordagem mais holística do ensino, onde os professores utilizam os dados fornecidos pela IA para oferecer suporte individualizado e para promover um ambiente de aprendizado mais colaborativo e inclusivo (Silva, 2022). A redefinição do papel do professor na era da IA exige, portanto, uma mudança de mentalidade e a adoção de novas competências por parte dos educadores.(Silva apud. Vasconcelos et al., p.9, 2024).
Ainda que a Inteligência Artificial tenha facilitado algumas funções do professor, por outro lado, não substitui um professor que possui o papel crucial com seu julgamento humano no processo educacional, é certo que a IA, consegue ajudar, levando dados importantes inclusive para o processo cognitivo, contudo não possui capacidades suficientes para substituir o papel do praticado pelo docente, narra Vasconcelos et.al.:
Essa lacuna de competências exige que as instituições de ensino invistam em programas de capacitação e formação contínua, para garantir que os professores sejam capazes de utilizar a IA de maneira pedagógica, otimizando o processo de ensino sem comprometer a interação humana e o desenvolvimento socioemocional dos alunos.(Vasconcelos et al., p.10, 2024)
Assim, a dependência excessiva de tecnologias de IA pode reduzir as oportunidades de interações humanas autênticas, essenciais para o desenvolvimento dessas competências. A substituição de educadores por sistemas automatizados pode comprometer a qualidade do ensino e o desenvolvimento socioemocional dos alunos
INFRAESTRUTURA E ACESSIBILIDADE
A implementação eficaz da IA requer infraestrutura tecnológica adequada, o que pode não estar disponível em todas as instituições de ensino. Essa disparidade pode aumentar as desigualdades educacionais, limitando o acesso de alguns alunos às tecnologias assistivas baseadas em IA, assim contribui Santos:
Infraestrutura tecnológica: A disponibilidade de infraestrutura tecnológica é essencial para a implementação da IA no ensino básico. Escolas com recursos limitados podem enfrentar dificuldades em adquirir e manter a tecnologia necessária para a utilização da IA, como dispositivos, conexão à internet e softwares especializados.(Santos, p.11, 2023)
Conforme demonstrado é necessário uma estrutura escolar adequada para a implantação do IA, nesse sentido é notório que a maioria das escolas no Brasil não possuem infraestrutura adequada para a implantação da tecnologia IA, não somente na estrutura escolar, como a infraestrutura em um todo, como por exemplo a formação de professores, dessa forma discorre Santos:
Por fim, a incorporação da IA no ensino básico apresenta desafios complexos que envolvem infraestrutura, formação de professores, equidade, acesso, privacidade, currículo e aceitação. Superar esses desafios requer um esforço conjunto de educadores, gestores, comunidades e governos para garantir que a IA seja utilizada de forma ética, inclusiva e com foco no aprimoramento da aprendizagem e desenvolvimento dos alunos. (Santos, p.15, 2023)
QUESTÕES ÉTICAS E PRIVACIDADE
Outra grande dificuldade, encontra-se no campo da Ética, pois o uso de IA na educação levanta preocupações éticas, especialmente relacionadas à privacidade e ao consentimento informado. A coleta e o armazenamento de dados sensíveis exigem medidas rigorosas de segurança para proteger os direitos dos estudantes e suas famílias, nesses termos declara Santos:
Apesar das promessas da IA na educação, sua implementação enfrenta alguns desafios. Questões éticas, como a privacidade e segurança dos dados dos alunos, são de extrema importância e requerem atenção cuidadosa. Também é essencial abordar o viés algorítmico, para garantir que a IA não perpetue preconceitos e desigualdades existentes na sociedade.( Santos, p.7, 2023)
Conforme já comentado, a IA contribui para a personalização do ensino, contudo essa personalização pode gerar alguns desafios no tocante a ética na coleta de cada aluno, devendo haver um respeito na coleta desses dados, segundo expõe Santos:
Personalização e adaptação: A IA tem o potencial de oferecer experiências de aprendizagem personalizadas, mas isso requer a coleta e análise de dados dos alunos. O desafio é garantir que essas práticas de coleta de dados sejam éticas e respeitem a privacidade dos estudantes, bem como evitem o reforço de vieses e estereótipos.( Santos, p.14, 2023)
A questão ética traz um desafio importante e deve ser bem avaliado, visto que, segundo o que já foi mencionado muitos estudiosos narram tal preocupação consoante o que Figueredo et al. cita o pensamento de Garcia:
Além disso, a evolução da IA levanta questões éticas, incluindo preocupações com a utilização de dados pessoais e a presença de vieses sociais nos sistemas e algoritmos de aprendizado de máquina. A coleta e análise de dados éticos e a necessidade de mitigar preconceitos presentes nos dados de treinamento tornam-se temas cruciais na integração responsável da IA na sociedade.( Garcia, 2020 apud Figueredo et al. P. 6, 2023).
Nesse aspecto, outros estudiosos coadunam com o pensamento exposto, sobre a preocupação para com o comportamento das crianças que ficam muito tempo exposto à tecnologia, tendo em vista que o contato em demasia com a tecnologia pode trazer consequências sociais drásticas, afetando a criança com TEA, em determinadas áreas da vida, inclusive e principalmente na interação entre os seus pares, assim explica Ferreira citando Costa Junior:
No entanto, o uso crescente de IA na educação também levanta questões éticas significativas, especialmente em relação ao papel dos professores e à preservação dos valores fundamentais da prática docente. A introdução de tecnologias de IA desafia o equilíbrio tradicional entre o julgamento humano e a automação, exigindo uma reflexão crítica sobre como essas ferramentas podem ser utilizadas de maneira responsável e ética. Dentre as principais preocupações éticas estão a transparência e a aplicabilidade dos algoritmos, o respeito à privacidade e à proteção de dados dos estudantes, a equidade no acesso a essas tecnologias e o impacto potencial sobre o emprego e a autonomia dos professores (Costa JunioR et al., 2023, apud. Ferreira, p.2, 2023).
Nesta esteira, é perceptível que existem alguns desafios a serem superados na implantação da IA na educação de crianças com TEA, bem como, outros desafios poderão surgir na caminhada educacional com o auxílio da inteligência artificial.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A implementação da Inteligência Artificial na educação de estudantes com Transtorno do Espectro Autista demonstra tantas oportunidades quanto desafios. A personalização do ensino, promovida por tecnologias de IA, pode melhorar significativamente a qualidade da aprendizagem tornando o ensino eficaz ao adaptar os conteúdos às necessidades individuais dos alunos. No entanto, a diversidade das manifestações do TEA torna difícil a criação de algoritmos que atendam plenamente a todos os perfis, além de questões estruturais, como a falta de investimentos e a capacitação insuficiente dos professores, que dificultam a aplicação efetiva da tecnologia no ambiente educacional.
A interação humana deve ser o fator principal no ensino, e a IA deve ser vista como uma ferramenta de auxílio, e não como uma substituição do papel do professor, para que o uso dessa tecnologia não seja excessivo e por consequência venha trazer a desumanização do ensino e a privacidade dos dados dos alunos são preocupações éticas que precisam ser abordadas com seriedade para garantir o uso responsável e inclusivo da tecnologia.
Sendo assim, a implementação da IA no ensino do TEA deve ser feita de forma cautelosa e planejada, com investimentos em infraestrutura, formação docente e políticas públicas que assegurem a equidade e a acessibilidade. Somente com uma abordagem equilibrada entre tecnologia e interação humana será possível garantir uma educação mais eficiente, inclusiva e ética para estudantes com TEA.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Costa Junior, J., & Almeida, S. (2023). O uso de Inteligência Artificial na educação e as suas implicações éticas. IOSR Journal of Humanities and Social Science, 29(9), 31-35.
Domeneghini, Daiana. A inteligência artificial como prática mediadora para o ensino e aprendizagem na educação. 2022. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade de Caxias do Sul, Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa, Programa de Pós-Graduação em Educação, Nova Prata, 2022.
Figueiredo, Leonardo de Oliveira; Lopes, Aparecida Maria Zem; Validório, Valéria Cristiane; Mussio, Simone Cristina. Desafios e impactos do uso da Inteligência Artificial na educação. Revista Educação Online , Rio de Janeiro, v. 18, n. 44, p. 1-22, set.-dez. 2023.
Ferreira, Rogério dos Santos; Farias, Sidinei; Oliveira, Angelita Antonia Santos; Furriel, Rúbia;; Alves, João Paulo Costa; Batista, Rodrigo Henrique; Souza, Edilene Tavares de; Silva, Fábio Rogério Kruger Araújo da. O uso de Inteligência Artificial (IA) na educação e as suas implicações sobre a ética docente. IOSR Journal of Humanities and Social Science (IOSR-JHSS) , [S.l.], v. 29, n. 9, p. 31-35, set. 2024. ISSN 2279-0837 (e-ISSN), 2279-0845 (p-ISSN). DOI: https://doi.org/10.9790/0837-2909013135 . Disponível em: www.iosrjournals.org . Acesso em: 07 de fevereiro de 2025.
Pestana dos Santos, Douglas Manoel Antonio De Abreu. Inteligência artificial na educação: potencialidades e desafios. Scias Edu., Com., Tec. , Belo Horizonte, v. 5, n. 2, p. 74-89, jul./dez. 2023.
Vasconcelos, Eduardo Silva; Silva Filho, Roberto Lopes da; Castro, Raimundo Santos de; Almeida, Luzardo Dias de; Silva, Marcelo José da; Coelho, Olsymara Cavalcanti; Alves, Jacqueline Vaz D’emery; Teixeira, Mirian Vieira; Alves, Edilton Costa; Ramos, Vanessa Magalhães; Coelho, Naura Letícia Nascimento; Rodrigues, Charllyngton Fábio da Silva; Carballo, Fábio Peron; Santana, Thiago Coelho de; Souza, Cirlene Benvindo de; Santos, Leandro dos; Santos, Rômulo Ferreira dos; Lima, Odaize do Socorro Ferreira Cavalcante; Lima, Agnaldo Braga. O impacto da inteligência artificial na personalização do ensino: desafios e oportunidades para a educação teórica e prática. IOSR Journal of Business and Management (IOSR-JBM) , [S.l.], v. 26, n. 10, p. 40-50, out. 2024. ISSN 2278-487X (e-ISSN), 2319-7668 (p-ISSN). DOI: https://doi.org/10.9790/487X-2610054050 . Disponível em: www.iosrjournals.org . Acesso em: 12 de fevereiro de 2025.
Área do Conhecimento
Submeta seu artigo e amplie o impacto de suas pesquisas com visibilidade internacional e reconhecimento acadêmico garantidos.