Impacto ambiental dos resíduos orgânicos e benefícios da compostagem

ENVIRONMENTAL IMPACT OF ORGANIC WASTE AND BENEFITS OF COMPOSTING

IMPACTO AMBIENTAL DE LOS RESIDUOS ORGÁNICOS Y BENEFICIOS DEL COMPOSTAJE

Autor

Renata Paniago Andrade Di Lucia
ORIENTADOR
 Profª Drª Ananda Almeida Santana Ribeiro

URL do Artigo

https://iiscientific.com/artigos/128D6C

DOI

Di Lucia, Renata Paniago Andrade . Impacto ambiental dos resíduos orgânicos e benefícios da compostagem. International Integralize Scientific. v 5, n 46, Abril/2025 ISSN/3085-654X

Resumo

O presente artigo investiga a compostagem como uma solução eficaz e sustentável para o crescente problema da gestão de resíduos sólidos urbanos (RSU) no Brasil, impulsionado pelo aumento populacional e padrões de consumo. Em um contexto onde a maior parte dos RSU é composta por matéria orgânica, cujo descarte inadequado gera graves impactos ambientais, a compostagem emerge como uma alternativa promissora para transformar esses resíduos em adubo orgânico de alta qualidade. O estudo aborda o impacto ambiental dos resíduos alimentares, destacando a produção de chorume e a emissão de gases de efeito estufa. Em contrapartida, explora os benefícios da compostagem, como a redução da poluição, a promoção da agricultura orgânica e a melhoria da saúde do solo. A análise inclui estudos de caso relevantes, como a utilização da compostagem por agricultores familiares em Santa Rosa (RS), a iniciativa do Ciclo Orgânico na coleta e compostagem de resíduos domiciliares, e o projeto da Tereos Açúcar & Energia Brasil no reaproveitamento de resíduos orgânicos para produção de adubo. Conclui-se que a compostagem possui um papel crucial na gestão sustentável de resíduos orgânicos, oferecendo uma alternativa economicamente viável e ecologicamente correta aos aterros sanitários e aos fertilizantes químicos. Para que a compostagem seja implementada de forma eficaz e em larga escala, é necessária a articulação entre governos, empresas e sociedade civil, promovendo a educação ambiental e a adoção de práticas sustentáveis em todas as etapas do ciclo de vida dos resíduos.
Palavras-chave
Compostagem. Sustentabilidade. Resíduos orgânicos. Adubo.

Summary

This article investigates composting as an effective and sustainable solution to the growing problem of urban solid waste (MSW) management in Brazil, driven by population growth and consumption patterns. In a context where most MSW is made up of organic matter, the improper disposal of which generates serious environmental impacts, composting is emerging as a promising alternative for transforming this waste into high-quality organic fertilizer. The study addresses the environmental impact of food waste, highlighting the production of leachate and the emission of greenhouse gases. On the other hand, it explores the benefits of composting, such as reducing pollution, promoting organic farming and improving soil health. The analysis includes relevant case studies, such as the use of composting by family farmers in Santa Rosa (RS), Ciclo Orgânico’s initiative to collect and compost household waste, and Tereos Açúcar & Energia Brasil’s project to reuse organic waste to produce fertilizer. It is concluded that composting plays a crucial role in the sustainable management of organic waste, offering an economically viable and ecologically correct alternative to landfills and chemical fertilizers. For composting to be implemented effectively and on a large scale, there needs to be coordination between governments, companies and civil society, promoting environmental education and the adoption of sustainable practices at all stages of the waste life cycle.
Keywords
Composting. Sustainability. Organic waste. Fertilizer.

Resumen

Este artículo investiga el compostaje como solución eficaz y sostenible al creciente problema de la gestión de los residuos sólidos urbanos (RSU) en Brasil, impulsado por el crecimiento demográfico y los patrones de consumo. En un contexto en el que la mayor parte de los RSU se compone de materia orgánica, cuya eliminación inadecuada genera graves impactos ambientales, el compostaje se perfila como una alternativa prometedora para transformar estos residuos en abono orgánico de alta calidad. El estudio aborda el impacto ambiental de los residuos alimentarios, destacando la producción de lixiviados y la emisión de gases de efecto invernadero. Por otro lado, explora los beneficios del compostaje, como la reducción de la contaminación, el fomento de la agricultura ecológica y la mejora de la salud del suelo. El análisis incluye estudios de casos relevantes, como el uso del compostaje por parte de agricultores familiares de Santa Rosa (RS), la iniciativa de Ciclo Orgânico de recogida y compostaje de residuos domésticos y el proyecto de Tereos Açúcar & Energia Brasil de reutilización de residuos orgánicos para producir abono. La conclusión es que el compostaje desempeña un papel crucial en la gestión sostenible de los residuos orgánicos, ofreciendo una alternativa económicamente viable y respetuosa con el medio ambiente a los vertederos y los fertilizantes químicos.
Palavras-clave
Compostaje. Sostenibilidad. Residuos orgánicos. Abono.

INTRODUÇÃO

O rápido crescimento das populações nas sociedades de consumo é o principal motor do aumento contínuo na produção de resíduos sólidos urbanos, o que resulta em impactos ambientais significativos. No Brasil, a alta densidade populacional é particularmente evidente, com mais de 61% da população, cerca de 124,1 milhões de pessoas, vivendo em áreas urbanas, conforme dados recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas de 2022 (Batalha; Freire; Maduro, 2023). 

O crescimento populacional desordenado, a urbanização acelerada, o avanço econômico e tecnológico têm transformado profundamente o estilo de vida, alterando significativamente os padrões de produção e consumo. Como resultado, a quantidade e a variedade de resíduos sólidos gerados têm aumentado consideravelmente. Dada a relação direta entre o crescimento populacional e o aumento da produção de resíduos, surge a necessidade urgente de garantir uma disposição final responsável desses resíduos. Quando descartados em locais inadequados, eles contaminam o solo, as águas e o ar, causando sérios danos à saúde humana e ao meio ambiente (Marchi; Gonçalves, 2020).

Os centros urbanos geram uma quantidade impressionante de resíduos orgânicos, aproximadamente 37 milhões de toneladas por ano, mas infelizmente, apenas uma pequena parcela, cerca de 1%, é efetivamente reaproveitada, de acordo com a Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento (ASSEMAE, 2019). Diante desse cenário, encontrar uma solução adequada para o destino desses resíduos é um desafio complexo que, embora seja um problema global, pode ser aliviado por meio de ações simples e cotidianas (Marchi; Gonçalves, 2020).

De acordo com Lima et al., (2018), ao se discutir a geração de recursos a partir dos resíduos sólidos, a atenção geralmente se concentra em materiais não biodegradáveis que podem ser reutilizados ou queimados, como metais, plásticos, papel e vidro. No entanto, no Brasil, mais da metade dos resíduos urbanos é composta por substâncias orgânicas. O descarte desses resíduos em aterros sanitários tem consequências devastadoras, incluindo a formação de líquidos tóxicos e a liberação de gases que intensificam o efeito estufa. Em contrapartida, existe uma demanda crescente por solos ricos e fertilizantes naturais, e a compostagem emerge como uma solução muito promissora. Ela não apenas proporciona um fim digno para uma grande quantidade de resíduos orgânicos, mas também estimula a produção ecológica de alimentos, fomentando um ciclo mais equilibrado.

No contexto da gestão de resíduos sólidos urbanos, é fundamental considerar as implicações ambientais decorrentes do crescimento populacional e do consumo. Como destacado por especialistas na área, Wagen e Freitas (2010, p.82): 

O aumento substancial da geração de resíduos sólidos urbanos, devido ao crescimento populacional das sociedades de consumo, tem constituído um grande problema ambiental. A coleta e a disposição final destes resíduos tornam-se um problema de difícil solução, com consequentes riscos de poluição do solo e das águas, superficiais e subterrâneas, com implicações na qualidade de vida da população. 

Com base nos argumentos expostos, o propósito desta investigação é explorar a compostagem como uma solução eficaz para o gerenciamento desses resíduos, enfatizando o seu papel crucial na criação de fertilizantes orgânicos. A presente pesquisa tem como objetivos secundários: 1) Analisar o impacto ambiental dos resíduos alimentares; 2) Conhecer os benefícios da compostagem; 3) Explorar estudos que possuem como foco a compostagem.

ANÁLISE DO IMPACTO AMBIENTAL DOS RESÍDUOS ALIMENTARES

Em conformidade com Dias (2023), a produção crescente de resíduos sólidos no Brasil e em todo o mundo tem despertado preocupação e alerta em diferentes segmentos da sociedade, evidenciando a necessidade urgente de mudanças na forma como esses resíduos são gerenciados. Isso inclui a participação ativa da comunidade em práticas essenciais como a redução da geração de resíduos, tratamento adequado, destinação responsável, gerenciamento eficaz, reciclagem e reaproveitamento.

O manejo inadequado dos resíduos sólidos tem consequências profundas e multifacetadas. Além de gerar desperdícios significativos, essa prática intensifica as desigualdades sociais, representa uma ameaça contínua à saúde pública e agrava a degradação ambiental. Em especial, nos centros urbanos de médio e grande porte, a qualidade de vida das populações é severamente comprometida. A falta de gestão eficaz dos resíduos não apenas polui o solo, a água e o ar, mas também perpetua condições insalubres que afetam diretamente a saúde e o bem-estar das comunidades (Marchi; Gonçalves, 2020).

O autor Lira (2017), discorre sobre o assunto enfatizando que quando a matéria orgânica é descartada aleatoriamente em lixões, ela acaba gerando uma série de problemas ambientais graves. A decomposição dessa matéria produz chorume, um líquido tóxico que não apenas reduz a vida útil dos lixões e aterros sanitários, mas também contamina o solo e as águas subterrâneas. Além disso, esse processo libera gases como o dióxido de carbono (CO2) e o metano (CH4), que são potentes contribuintes para o efeito estufa. A ocupação de grandes espaços por esses resíduos orgânicos também é um problema significativo, já que eles poderiam ser transformados em recursos valiosos através da compostagem, em vez de se tornarem uma fonte de poluição.

Durante o período de pandemia da COVID-19, entre 2020 e 2021, observou-se um aumento expressivo na quantidade de resíduos sólidos gerados em residências brasileiras. Esse incremento foi de aproximadamente 4%, chegando a uma média diária de 1,07 kg por pessoa, conforme dados da ABRELPE de 2021. As mudanças nos padrões de vida, com a transferência de atividades como educação e trabalho para o lar, foram responsáveis por esse aumento na produção de resíduos, que atingiu um total de 82,5 milhões de toneladas por ano (Dias, 2023). 

Essas alterações nos hábitos sociais, que passaram a se concentrar mais em casa, também levaram a uma mudança significativa nos padrões de consumo. Em vez de frequentar restaurantes, as pessoas começaram a optar por pedidos de entrega via aplicativos, o que contribuiu para um aumento na geração de resíduos. Esse crescimento foi notável, superando 1% em relação ao período anterior, e reflete como a pandemia impactou profundamente nossos hábitos de consumo e descarte (Dias, 2023). 

BENEFÍCIOS DA COMPOSTAGEM

A compostagem é uma abordagem econômica e ecológica para dar novo uso aos resíduos orgânicos. Trata-se de um processo natural de decomposição controlada, que ocorre no ar livre, graças à ação de pequenos organismos vivos. Esses micro-organismos utilizam os resíduos orgânicos como fonte de energia e nutrientes, desmontando-os gradualmente e produzindo dióxido de carbono, água, calor e um composto rico chamado húmus. Esse processo envolve a transformação dos resíduos em formas mais simples e estáveis, através de etapas de mineralização e humificação, resultando em um produto valioso para o solo (Batalha; Freire; Maduro, 2023). 

Lira (2017), define a compostagem como uma técnica que se encaixa perfeitamente no conceito de adubo natural, pois envolve a reciclagem de materiais orgânicos presentes nos resíduos urbanos. Trata-se de um processo que aproveita ao máximo os componentes orgânicos para criar um fertilizante valioso. Basicamente, a compostagem consiste em transformar restos de alimentos, papel, madeira e resíduos de jardinagem em um adubo natural, que é rico em nutrientes e benéfico para o solo. 

Uma solução prática e sustentável para lidar com a enorme quantidade de resíduos orgânicos, que chega a mais de 94 mil toneladas por dia, conforme o IBGE (2010), é transformá-los em adubo por meio da compostagem e utilizá-los na agricultura urbana e rural. No entanto, apenas uma pequena fração, cerca de 1,6%, é aproveitada dessa forma no Brasil. 

Em ambientes naturais, esses resíduos se decompõem naturalmente, reciclando nutrientes e mantendo o ciclo da matéria orgânica em equilíbrio. Mas quando descartados em grandes quantidades e de maneira inadequada, eles podem se tornar uma ameaça ambiental significativa, produzindo chorume e liberando gases na atmosfera. Portanto, é fundamental adotar métodos adequados de gestão e tratamento desses resíduos para manter o equilíbrio da matéria orgânica e proteger o meio ambiente (Marchi; Gonçalves, 2020).

De acordo com o Ministério do Meio Ambiente (2017), a compostagem é uma prática ancestral, intuitiva e simples, que a humanidade vem utilizando há milênios para lidar com resíduos. No entanto, sua introdução no cotidiano da sociedade moderna ganha relevância por oferecer uma alternativa ambientalmente correta e acessível para o manejo de resíduos orgânicos. Essa prática é de baixo custo e fácil de ser compreendida pela população, o que facilita sua adoção. Além disso, a compostagem desempenha um papel crucial em promover a biodiversidade, a segurança alimentar e o desenvolvimento de cidades mais saudáveis. Ao produzir um composto orgânico de alta qualidade, que pode ser usado como fertilizante, essa prática contribui para o aumento das áreas verdes e para a melhoria da saúde do solo. Isso, por sua vez, ajuda a criar ambientes urbanos mais sustentáveis e equilibrados. 

No contexto da gestão eficaz dos resíduos, é fundamental considerar a importância da compostagem como uma ferramenta para o manejo sustentável dos resíduos orgânicos. Como destacado por Marchi e Gonçalves (2020, p.1):

[…] sugestões para prática da compostagem são importantes para o planejamento das ações para o adequado gerenciamento dos resíduos, que deverão ter como ordem de prioridade a não geração, redução, reutilização, reciclagem, tratamento e disposição final dos rejeitos. O gerenciamento adequado é de responsabilidade de entes governamentais e não governamentais e devem garantir a participação de todos os envolvidos nas etapas de formulação, implementação e operacionalização.

Nesse contexto, os autores citados referem que há um consenso entre os autores mencionados de que a compostagem se destaca como uma solução econômica e ecológica para o manejo de resíduos orgânicos, transformando-os em um valioso adubo natural. Embora apenas uma pequena fração dos resíduos seja aproveitada dessa forma no Brasil, a compostagem tem o potencial de promover a biodiversidade, a segurança alimentar e o desenvolvimento de cidades mais saudáveis. 

Ainda são eles quem afirmam que, além disso, é essencial adotar práticas de gestão sustentável, envolvendo a não geração, redução, reutilização, reciclagem e tratamento adequado dos resíduos, garantindo a participação de todos os envolvidos. A implementação eficaz da compostagem pode contribuir significativamente para a criação de ambientes urbanos mais sustentáveis e equilibrados.

ESTUDOS RELACIONADOS A COMPOSTAGEM 

Um estudo realizado por Ferreira, Borba e Wizniewsky (2013), teve como objetivo explorar e descrever as práticas agrícolas adotadas pelos agricultores do município de Santa Rosa, no Rio Grande do Sul. Para isso, foi estabelecido um convênio entre a Prefeitura local e a Universidade Federal de Santa Maria, com o intuito de diagnosticar a realidade rural da região. A metodologia utilizada envolveu entrevistas semiestruturadas com 283 agricultores, fornecendo uma visão detalhada das práticas locais. 

Os resultados mostraram que cerca de 75% dos agricultores utilizam a compostagem para adubar suas pequenas hortas organicamente. Essa prática é valiosa, mas precisa ser mais bem compreendida para que se possam oferecer orientações precisas aos agricultores. Os autores concluíram que com dedicação e esforço, é possível que a produção orgânica evolua de uma escala doméstica para uma comercial em um futuro próximo. Isso poderia proporcionar aos agricultores uma fonte adicional de renda, pois seus produtos orgânicos teriam um valor agregado por não conterem agroquímicos, que são prejudiciais à saúde. Ao optar por práticas agrícolas mais sustentáveis, os agricultores podem não apenas melhorar a qualidade de seus produtos, mas também contribuir para um ambiente mais saudável.

Benides et al. (2004), descreve um estudo em que foi possível explorar a viabilidade da compostagem de aparas de grama geradas durante a manutenção dos gramados do Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro. O processo foi realizado em um ambiente controlado, utilizando exclusivamente as aparas de grama como fonte de matéria orgânica. Para otimizar a decomposição, foram adicionados ureia, fosfato natural e ácido pirolenhoso. Durante todo o processo, parâmetros como umidade, temperatura, pH e condutividade elétrica foram cuidadosamente monitorados. Após 82 dias, o composto foi considerado maduro, e amostras foram coletadas para análise química e física. Os resultados mostraram que é possível produzir fertilizantes orgânicos de alta qualidade a partir dessas aparas. Essa prática oferece uma perspectiva promissora para o desenvolvimento da agricultura urbana, especialmente em grandes cidades, onde esses resíduos são abundantes.

Chiabi (2017), realizou um estudo com o objetivo de caracterizar a atuação do Ciclo Orgânico, um empreendimento social que nasceu das atividades do Projeto de Extensão Mutirão de Agroecologia da UFRJ. Essa iniciativa oferece um serviço inovador de coleta domiciliar e compostagem de resíduos orgânicos, onde os assinantes pagam uma mensalidade para ter seus resíduos coletados semanalmente e encaminhados a um pátio de compostagem local. Ao final do mês, eles recebem o composto resultante, uma muda de tempero ou podem doar o composto para uma horta comunitária. 

Segundo o autor, o Ciclo Orgânico atua de forma descentralizada e local, visando gerar impactos sociais e ambientais positivos como um modelo de gestão descentralizada de resíduos e avaliar sua eficiência e aplicabilidade na gestão de resíduos orgânicos. Para isso, foi realizada uma análise detalhada do modelo de gestão utilizado, um levantamento do volume compostado, análise do composto produzido e estimativa das emissões evitadas. Além disso, foi feita uma análise comparativa entre diferentes escalas de compostagem. Como resultado, é apresentada uma descrição aprofundada da operação do negócio, bem como os impactos gerados pelas atuais 4.500 famílias participantes em mais de 25 bairros, que destinam resíduos à compostagem, geram empregos e contribuem para a construção de um modelo inovador de gestão de resíduos. 

A empresa Tereos Açúcar & Energia Brasil, emitiu um comunicado a imprensa em 4 de agosto de 2020. A instituição, líder mundial na produção de açúcar e etanol, implementou um projeto inovador de gestão de resíduos em suas sete unidades no noroeste de São Paulo. O objetivo foi reaproveitar resíduos orgânicos, como sobras de alimentos dos restaurantes, transformando-os em adubo orgânico por meio de compostagem. A iniciativa, realizada em parceria com especialistas em compostagem, resultou na redução de 40% do descarte de resíduos para aterros sanitários. Anteriormente, a empresa encaminhava cerca de 455.116 toneladas de resíduos por ano, com 182.046 toneladas sendo orgânicas, gerando um custo anual de aproximadamente R$ 125 mil. Com o projeto, a Tereos economizou R$ 125 mil em transporte para aterros e produzirá quatro toneladas de adubo orgânico por mês, que serão utilizadas em jardins e áreas verdes da empresa. Além disso, o projeto promove a recuperação de nutrientes do solo e reduz a emissão de gás metano, contribuindo para a sustentabilidade ambiental e econômica da empresa. 

Os estudos sobre compostagem apresentados compartilham o objetivo comum de promover práticas sustentáveis para o manejo de resíduos orgânicos. No entanto, cada estudo possui características únicas em termos de escala, contexto e abordagem.

O estudo de Ferreira, Borba e Wizniewsky (2013) no município de Santa Rosa, RS, foca na compostagem como prática agrícola disseminada entre agricultores familiares, com cerca de 75% deles utilizando essa técnica para adubação orgânica. A compostagem é vista como uma ferramenta para melhorar a qualidade dos produtos e promover a sustentabilidade ambiental, além de oferecer potencial para a geração de renda adicional através da produção orgânica em escala comercial.

Já o estudo sobre a compostagem de aparas de grama no Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro destaca a viabilidade de transformar resíduos urbanos em fertilizantes orgânicos de alta qualidade. Esse processo é controlado e monitorado, utilizando aditivos como ureia e fosfato natural para otimizar a decomposição. A prática oferece uma perspectiva promissora para a agricultura urbana, aproveitando a abundância desses resíduos em gravidades (Benides et al., 2004).

O Ciclo Orgânico, por outro lado, representa um modelo de gestão descentralizada de resíduos, oferecendo serviços de coleta e compostagem para famílias em mais de 25 bairros. Essa iniciativa não apenas gera empregos, mas também contribui para a construção de um modelo inovador de gestão de resíduos, promovendo impactos sociais e ambientais positivos (Chiabi, 2017).

Por fim, a Tereos Açúcar & Energia Brasil (2020), implementou um projeto de compostagem em suas unidades no noroeste de São Paulo, resultando na redução de 40% do descarte de resíduos para aterros sanitários. A empresa economizou significativamente com o transporte para aterros e produzirá adubos orgânicos para uso em suas áreas verdes.

Em comum, todos esses estudos destacam a compostagem como uma ferramenta eficaz para a gestão sustentável de resíduos orgânicos, promovendo benefícios ambientais e econômicos. No entanto, diferem em escala, desde a agricultura familiar até a gestão corporativa de resíduos, e em contexto, variando de ambientes urbanos a rurais. Essa comparação ressalta as diversas aplicações e benefícios da compostagem, desde a escala doméstica até a industrial, e destaca sua importância para a sustentabilidade ambiental e econômica.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base nos estudos analisados, a compostagem se destaca como uma solução multifacetada para os desafios impostos pela gestão de resíduos orgânicos. A prática não apenas minimiza o volume de resíduos destinados a aterros sanitários, reduzindo a contaminação do solo e da água, mas também contribui significativamente para a redução das emissões de gases de efeito estufa, como metano e dióxido de carbono. Além disso, a compostagem se revela uma ferramenta valiosa para a educação ambiental e o engajamento da comunidade, promovendo a conscientização sobre a importância da gestão sustentável de resíduos.

A transformação dos resíduos orgânicos em composto orgânico de alta qualidade oferece uma alternativa economicamente viável e ecologicamente correta aos fertilizantes químicos, promovendo a saúde do solo e a produção de alimentos mais saudáveis. Empresas como a Tereos e iniciativas como o Ciclo Orgânico demonstram que a compostagem pode ser implementada em diversas escalas, desde a gestão de resíduos corporativos até a coleta domiciliar e a produção de adubo para uso em áreas verdes urbanas. A implementação efetiva da compostagem requer o envolvimento de todos os setores da sociedade, desde os governos e empresas até os cidadãos, para garantir a sustentabilidade ambiental e o desenvolvimento de cidades mais resilientes e saudáveis.

O crescente reconhecimento da compostagem como uma prática sustentável está impulsionando a inovação e a busca por soluções mais eficientes e acessíveis. A combinação de diferentes tecnologias e abordagens, como a compostagem tradicional, a vermicompostagem e a biodigestão, oferece a flexibilidade necessária para adaptar a gestão de resíduos orgânicos às necessidades específicas de cada comunidade. Além disso, a educação ambiental e a conscientização pública desempenham um papel fundamental na promoção da compostagem como uma prática diária, incentivando a separação adequada dos resíduos orgânicos e a participação ativa na transformação desses resíduos em recursos valiosos.

Em um futuro onde a sustentabilidade se torna cada vez mais essencial, a compostagem se apresenta como uma ferramenta poderosa para construir um mundo mais equilibrado e resiliente. Ao adotar a compostagem como uma prática padrão, as comunidades podem reduzir sua pegada ambiental, melhorar a saúde do solo, promover a biodiversidade e garantir um futuro mais próspero para as gerações futuras. A compostagem não é apenas uma solução para o gerenciamento de resíduos, mas um investimento no futuro do planeta.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Benites, V. de M.; et al. Produção de adubos orgânicos a partir da compostagem dos resíduos da manutenção da área gramada do Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro. (Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento, n. 50).

Rio de Janeiro: Embrapa Solos, 2004. 21 p. 

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Chiabi, L. Ciclo Orgânico: um empreendimento social, de compostagem comunitária e gestão de resíduos. Rio de Janeiro: UFRJ, Escola Politécnica, 2017. Trabalho de Graduação (Graduação em Engenharia Ambiental) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2017.

Dias, M. V. B. Avaliação da compostagem doméstica com uso de diferentes proporções de resíduos alimentares e serragem. Vitória: Instituto Federal do Espírito Santo, 2023.

Ferreira, A. G.; Borba, S. N. S.; Wizniewsky, J. G. A prática da compostagem para a adubação orgânica pelos agricultores familiares de Santa Rosa/RS. In: Congresso Internacional De Direito Ambiental E Economia Política.  UFSM; Seminário Ecologia Política E Direito Na América Latina, 2013, Santa Maria. Revista Eletrônica do Curso de Direito da UFSM, Santa Maria, 2013.

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Lima, T. de A.; MOTTA, L. S. M. da; FIRMO, H. T.; HESTER, W. J.; BRITO, P. F. de; PERTEL, M. Compostagem experimental de resíduos orgânicos do restaurante universitário na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Cadernos de Agroecologia, v. 13, n. 1, jul. 2018. ISSN 2236-7934.

Lira, D. L. Compostagem de resíduos alimentares: uma abordagem em um ambiente escolar. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco, Ipojuca, 2017.

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Di Lucia, Renata Paniago Andrade . Impacto ambiental dos resíduos orgânicos e benefícios da compostagem.International Integralize Scientific. v 5, n 46, Abril/2025 ISSN/3085-654X

Referencias

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v. 67
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Disponível em: https://academic.oup.com/cid/article/67/7/1208/6141108.
Acesso em: 2024-09-03.

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