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Resumo
INTRODUÇÃO
A relação de interdependência entre homem e tecnologia é histórica. Com o passar do tempo, percebemos a necessidade do homem de aprofundar seus conhecimentos através das tecnologias para continuar evoluindo, ao passo que as tecnologias dependem dos conhecimentos do homem para seguirem seu processo evolutivo e não se tornarem obsoletas com o tempo. A reconstrução das potencialidades tanto do homem quanto da tecnologia depende obrigatoriamente do estudo e da pesquisa.
Na sociedade de hoje, as tecnologias digitais invadem sem cerimônia as nossas vidas e a nossa convivência, resultando em adaptações, mudando as relações humanas, a cultura, os hábitos, a aproximação e o distanciamento. Essa relação evolui com desafios e fragilidades em todos os seus espaços sociais. É um movimento histórico com novos cursos e recursos, comportamentos individuais e coletivos, descobertas e redescobertas.
A educação também vive seu processo de transição próprio e transformador, alimentado pelas tecnologias digitais que liberam em mãos ágeis um acervo de possibilidades capaz de qualificar o processo de ensino e a aprendizagem, com a aplicação de novos conhecimentos e instrumentos mais sofisticados que agregam informações e saberes.
Dentro deste movimento contemporâneo da educação vive o professor, mentor e elo insubstituível entre o produto a ser conhecido e o conhecimento, agora desafiado a apropriar-se destas novas máquinas, novas estratégias, linguagens, processos e procedimentos, tecnologias e relações com o mundo virtual.
Este estudo traz algumas reflexões a respeito da importância das tecnologias digitais como instrumentos de apoio ao trabalho pedagógico do professor, com uma concepção voltada para o domínio e apropriação destes recursos com princípios de aceitação e utilização como ferramentas de aproximação entre o aluno e o conhecimento, priorizando a autonomia e protagonismo na sociedade como mediadores para a cidadania.
TECNOLOGIAS DIGITAIS NA EDUCAÇÃO: UM NOVO OLHAR SOBRE A PRÁTICA DOCENTE
Podemos entender a tecnologia como resultado de um processo que envolve a capacidade humana para produzir, através de seu conhecimento e de sua inteligência, instrumentos que facilitam a nossa vida – ao passo histórico, evolutivo e científico, permite redesenhar-se pela luminosidade da modernização. Neste viés, Gabriel (2023, p. 10), destaca que “(…) a evolução humana se confunde com a evolução tecnológica – desde a nossa origem, mantemos uma relação simbiótica com a tecnologia, de modo que criamos a tecnologia para ampliar as nossas capacidades humanas”. Para Kenski (2012, p. 15) “as tecnologias são tão antigas quanto a espécie humana. Na verdade, foi a engenhosidade humana, em todos os tempos, que deu origem às mais diferenciadas tecnologias”. Como visto, as tecnologias fazem parte da rotina das pessoas há muito tempo.
No campo educacional, indubitavelmente, as “conexões” paralelas criadas a partir dos avanços tecnológicos na sociedade já sinalizavam mudanças na mentalidade e nos padrões tradicionalistas e inertes outrora vivenciados nas escolas. Uma hora ou outra, o caminhar da evolução tecnológica coexistiria nos espaços escolares assim como em todas as relações sociais, com seu repertório instrutivo de linguagens e conceitos próprios.
A partir desta abordagem superficial da relação humana com as tecnologias, agora com uma nova proposta de socialização das informações movidas instantaneamente pela metamorfose dos instrumentos digitais e da internet, temos uma gama de recursos capazes de remodelar o olhar pedagógico sobre o processo de ensino e aprendizagem. Para Sant’Anna et al. (2019, p. 79), “entendemos que o docente deva tornar a aprendizagem de seus alunos uma meta para criar e sustentar novas culturas de aprendizagem nas salas de aula, e na modalidade online, valorizando a aprendizagem individual e em grupo”.
Face à realidade apresentada e discutida, temos em nossas mãos instrumentos que compõem um panorama de perspectivas capaz de influenciar positivamente e como ponte entre o objeto do conhecimento e o aprendiz. Esse novo e fascinante momento tecnológico define e determina um layout social que implica na rotina e na convivência entre as pessoas.
Nos últimos 20 anos, temos vivenciado alterações significativas nas diferenciadas esferas da sociedade: no trabalho, no lazer, nos cuidados com a saúde, nos relacionamentos, nas comunicações etc. Todas essas mudanças são impulsionadas pelo mesmo fato gerador, ou seja, elas decorrem das inovações tecnológicas digitais que se apresentam de forma cada vez mais veloz. A inserção social dessas novas tecnologias tem ocorrido com a mesma velocidade e intensidade com que elas se oferecem, são incorporadas e descartadas pouco tempo depois, substituídas por algo novo, mais poderoso e diferente, em múltiplos sentidos (Kenski, 2013, p. 61).
Geração após geração, as instituições escolares foram moldadas por uma cultura padronizada de rotinas fechadas e voltadas para o professor como expoente principal do processo, dentro de uma realidade que muitas vezes inibia a autonomia, a capacidade cognitiva e o protagonismo do aluno na construção do conhecimento. Essa condição de engessamento da autonomia é um desrespeito à condição aprendente do aluno e, principalmente, à sua dignidade. Freire (1996, p. 66), destaca que “o respeito à autonomia e à dignidade de cada um é um imperativo ético e não um favor que podemos ou não conceder uns aos outros”.
As tecnologias educacionais são importantes aliadas no soar emancipador que valoriza as potencialidades juvenis que integram os novos contextos interativos e o gosto em aprender, são ferramentas pedagógicas que colaboram com uma dinâmica diversificada e atual, com dispositivos capazes de explorar a criação de memórias visuais que sinalizam para a aprendizagem.
Claramente, plagiar os contextos tradicionalistas de ensino em plena era da sociedade da informação e do conhecimento é uma escolha desgastante e pouco atrativa, tanto para o aluno quanto para o professor. No entanto, desfazer os laços históricos do modelo conservador que fazia do aluno mero espectador de discursos e depósito de opiniões unilaterais não é simples, requer uma transição mental, de postura e atitudes gradativas do professor a partir de domínios sobre as novas tecnologias educacionais e estratégias inovadoras significativas, considerando o redirecionamento do processo para o aluno – real protagonista e corresponsável na produção do conhecimento, tendo no professor seu mediador e orientador da aprendizagem.
O desafio é o de inventar e descobrir usos criativos da tecnologia educacional que inspirem professores e alunos a gostar de aprender, para sempre. A proposta é ampliar o sentido de educar e reinventar a função da escola, abrindo-a para novos projetos e oportunidades, que ofereçam condições de ir além da formação para o consumo e a produção. As instituições escolares de todos os níveis, com a adoção dos pressupostos da cultura informática, já não se veem como sistemas isolados, fechados em suas próprias atividades de ensino (Kenski, 2012, p. 67-68).
É preciso fundamentar o processo e os objetivos escolares dentro de uma concepção transformadora das propostas curriculares, permitindo acesso à pluralidade de conhecimentos voltados para a atuação e apropriação do protagonismo social, sem acomodar-se nas práticas de ensino repetidas e pouco criativas, agora por vezes facilitadas e “aprontadas” pelo mundo da internet. Contudo, o cenário escolar precisa acompanhar as interfaces evolutivas e disseminadas desta cultura informática com a abertura geográfica de seus espaços de aprendizagem para além das limitações físicas da escola, ampliando as suas possibilidades de ensino, inspiradas pelo novo enredo tecnológico e digital que se apresenta inesgotável.
A apropriação das tecnologias digitais na educação não garante o sucesso da aula e muito menos do aprendizado, mas movimenta o papel docente em sintonia com a dinâmica social exigida para a qualidade de ensino ofertada pelas instituições escolares. Vale ressaltar que as possibilidades tecnológicas não substituem a sensibilidade humana e a capacidade interpretativa do professor sobre a realidade de vida e particularidades psicológicas de cada aprendiz, tampouco tira dele o entendimento e a compreensão das características individuais importantes para o processo de construção do conhecimento.
As tecnologias são muito importantes e têm contribuído para algumas mudanças no ensino e na aprendizagem. Mas elas, por si só, não alterarão o nosso modelo de escola. Se perdermos o sentido humano da educação, perdemos tudo. Só um ser humano consegue educar outro ser humano. Por isso tenho insistido na importância das dimensões pessoais no exercício da profissão docente. Precisamos de professores interessantes e interessados. Precisamos de inspiradores, e não de repetidores. Pessoas que tenham vida, coisas para dizer, exemplos para dar. Educar é contar uma história, e inscrever cada criança, cada jovem, nessa história. É fazer uma viagem pela cultura, pelo conhecimento, pela criação (Nóvoa, 2010 apud Kenski, 2013, p. 98).
Outro importante ponto a ser considerado nesta discussão é a condição de professores interessantes e interessados dentro do processo. Comecemos pela habilidade de ser interessante do professor. O primeiro passo para alcançar esta habilidade é contemplar-se na missão de educar para a transformação social, valorizando cada momento da convivência escolar que concentra expectativas e futuros, conduzindo com autoria identificada e motivação inspiradora, com andar agradável e fascinante para as descobertas que ensinam.
Nos dias de hoje, os estudantes esperam do professor uma postura de facilitador da aprendizagem com pleno domínio das tecnologias digitais, capaz de apresentá-los à “magia” infinita das capacidades impressionantes da Inteligência Artificial (IA), por exemplo. Os recursos tecnológicos, quando utilizados pela escola, podem alimentar a busca pelo conhecimento sem descaracterizar a curiosidade aprendiz de crianças e jovens, podendo construir um contexto positivo e uma sintonia inteligente entre as estratégias de ensino e os conteúdos estudados.
Desse modo, Gabriel (2023, p. 36), afirma que “o professor deve deixar de ser um informador para ser um formador; caso contrário, o uso da tecnologia será apenas superficial e não transformador”, e ainda contribui dizendo que “percebe-se que o principal fator da equação da transformação digital da educação não é a tecnologia, mas sim as pessoas e como elas usam a tecnologia”.
A capacidade do professor de ser interessado em desenvolver um bom trabalho é uma característica marcante e necessária, princípio básico dentro do universo pedagógico. Contudo, uma de suas condicionantes é compreender-se investigador/pesquisador e construtor colaborativo de saberes inacabados – com o aluno sendo seu “pilar construtivo”.
A busca pelo conhecimento não admite vícios de passividade intelectual ou mesmo a reprodução do óbvio, potencializa a participação estimulando as habilidades cognitivas no repensar sobre a realidade com criticidade, com questionamentos balizados e pautados na aprendizagem significativa, na pesquisa e na contribuição ativa na sociedade.
Essa evolução tecnológica possibilitará diversas mudanças de paradigmas, com fortes implicações na sociedade e, consequentemente, nas escolas que formam os cidadãos que a constituem. As pressões por mudanças virão de várias formas. A primeira virá dos próprios alunos, que, vivendo em uma cultura conectada e interativa, não aceitarão padrões de ensino ultrapassados. Se a escola não levar tecnologias interativas e metodologias ativas para a sala de aula, serão – e já estão sendo – os próprios alunos que o farão. Outra pressão virá da sociedade conectada, automatizada e informatizada. Por fim, vem o desafio de formar, capacitar e atualizar professores com competência para atender com qualidade às demandas citadas (Tori, 2017, p. 167-168).
Ao analisarmos a amplitude do trabalho pedagógico, encontramos ainda alguma resistência à aceitação e apropriação das tecnologias digitais como instrumentos de ensino e aprendizagem, por parte de professores. Abrir mão de hábitos que vegetam no inconsciente da acomodação prática imposta pelo receio do novo, fortalecido pela desapropriação de conhecimentos teórico-práticos das TDIC – pode não ser tão simples. Em contrapartida, a imersão histórica do portfólio de informações e de conhecimentos fornecidos nos ciberespaços instantâneos da sociedade põe em evidência contínua os conceitos atuais de educar para a vida em sociedade, com traços dinâmicos de formação na totalidade e em todos os aspectos possíveis e indispensáveis.
Educar para a inovação e a mudança significa planejar e implantar propostas dinâmicas de aprendizagem, em que se possam exercer e desenvolver concepções sócio-históricas da educação – nos aspectos cognitivo, ético, político, científico, cultural, lúdico e estético – em toda a sua plenitude e, assim, garantir a formação de pessoas para o exercício da cidadania e do trabalho com liberdade e criatividade (Kenski, 2012, p. 67).
Todo aprendizado ocorre em etapas de construção até que cheguemos ao nível aceitável de domínio para a aplicação do conhecimento. Este é o caminho natural das coisas, considerando as capacidades individuais e o tempo de assimilação particulares. Para Leite et al. (2014, p. 15), “vivenciar novas formas de ensinar e aprender, incorporando as tecnologias, requer cuidado com a formação inicial e continuada do professor”, ainda complementam fazendo referência à integração da alfabetização tecnológica nesta preparação:
Nesse sentido trabalhamos com base no conceito de alfabetização tecnológica do professor, desenvolvido a partir da ideia de que é necessário o professor dominar a utilização pedagógica das tecnologias, de forma que elas facilitem a aprendizagem e que sejam objeto de conhecimento a ser democratizado e instrumento para a construção do conhecimento. Essa alfabetização tecnológica não pode ser compreendida apenas como o uso mecânico dos recursos tecnológicos, mas deve abranger também o domínio crítico da linguagem tecnológica (Leite et al. 2014, p. 15).
A imposição social dos avanços tecnológicos e digitais sobre a escola e mais especificamente sobre o trabalho do professor, traz expostamente o entendimento de que é preciso inovar e renovar os meios (planejamento metodológico, estratégias e os recursos empregados) e as percepções de seus atores principais a respeito dos novos contextos educacionais.
A abundância de instrumentos e possibilidades existente é capaz de contribuir bastante no processo ensino-aprendizagem, porém, o professor é o grande articulador e mediador da aprendizagem nas suas relações com a cultura digital. A capacidade docente de estender o desenvolvimento das aulas com certa fluência tecnológica pode definir o sucesso dos objetivos propostos. Do contrário, sua tentativa de utilização destas tecnologias sem a devida habilidade teórico-prática, pode segregar total ou parcialmente o sentido de sua utilização – um (des)vendar tecnológico.
Nesta perspectiva, Abreu & Santos (2020, p. 27-28), trazem uma conexão importante quando afirmam que “o letramento digital implica no desenvolvimento da fluência digital, tornando esse indivíduo competente para usufruir, ao máximo, das possibilidades de linguagem que os meios oferecem, de modo a ampliar a capacidade de interação social deste usuário”.
É interessante ser cauteloso e competente no aproveitamento dos dispositivos tecnológicos e digitais para esse reinventar educacional. Essa mobilidade no tempo e na diversidade de canais de aprendizagem evidencia as mudanças e a proporção da qualidade do ensino. O crescimento destas possibilidades não é garantia de apropriação e de sucesso, depende significativamente das capacidades, habilidades e competências individuais no trato das boas escolhas, do querer e do empenho profissional.
há que se construir alguma fluência tecnológica, para dar conta minimamente dos procedimentos virtuais. (…) em vez de copiar, reproduzir, plagiar, urge usar criativamente a Internet, caminhando rumo a textos multimodais não lineares, complexos, exigentes. Para tanto, temos de abandonar algumas bijuterias: aula instrucionista, transmissão a quilos de conteúdo, a disciplinarização dos ambientes, o diploma fechado (Demo, 2009, p. 14).
É possível perceber o contexto contemporâneo disseminando as TDIC em todos os ambientes de convivência social. A coletânea de informações sistematizadas traz para a escola uma responsabilidade agradável, adequar-se para harmonizar a relação aluno e escola/aprendizado. De acordo com Silva (2019, p. 38), “as TDIC são elementos referenciais definidores dos atuais discursos de ensino e aprendizagem”. Para esse fim, a educação é desafiada a implementar e ressignificar seus objetivos na construção do conhecimento com a inclusão de potenciais colaboradores tecnológicos, sincronizando inovação e conhecimento.
Considerando que a evolução tecnológica é uma ordem natural da sociedade moderna e a educação parte imprescindível e preponderante nesta evolução, a escola deve mover-se com aspirações discursivas e práticas para a inserção-imersão das tecnologias digitais na rotina do espaço escolar.
A educação parece buscar a inserção de novas Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC) em ambientes de ensino-aprendizagem, privilegiando a construção do conhecimento e possibilitando ao sujeito uma visão global do mundo. O uso de sistemas de informação computadorizados possibilita apoio às operações administrativas e à pesquisa acadêmica, valorizando a inovação e a descoberta como etapas fundamentais do processo de aprendizagem (Gambarra, 2019, p. 29).
Uma das características importantes para o professor no exercício da sua prática pedagógica é ter a capacidade/habilidade de criar instrumentos e estratégias capazes de estimular o aprendizado dos alunos, aproveitando todo o cenário encontrado, seja ele digital ou não, é saber encontrar as melhores possibilidades, flexibilizando suas ideias, redirecionando sempre que necessário as etapas do processo com resiliência e autocrítica.
Conduzir um projeto tão importante como é o de construir o conhecimento, dirigindo olhares movidos por muitas perspectivas, é um sentimento sublime e ao mesmo tempo um compromisso pessoal do professor e da sociedade. O conhecimento é vivo e onipresente, com características adaptadas aos diferentes momentos e contextos sociais, insistentemente aprimorado pela inteligência humana, pela pesquisa e pela ciência.
Para Soares (2021, p. 81), “os docentes têm a função de orquestrar todos esses elementos, o mundo digital, presencial, a relação aluno-aluno e aluno-professor, ampliando os horizontes da escola”, e continua dizendo que:
Os estudantes, agora nativos digitais, passam a ter voz em sala de aula quando o assunto é tecnologia, os papéis começam a se inverter. Os professores aprendem com os alunos e, muitas vezes, sentem-se desconfortáveis ao demonstrar inabilidade com recursos tecnológicos, mas aos poucos entendem que esse processo é progressivo e sem volta (Soares, 2021, p. 50).
É sabido que as novas gerações vivenciam e dialogam com as novas tecnologias digitais desde muito cedo, com liberdade e naturalidade acentuadas, pela experimentação, curiosidade e agilidade no manuseio dos aparelhos e aplicativos, podendo o professor adaptar-se e utilizar-se destas habilidades no tratamento agradável e na boa relação com seus alunos, agora nativos digitais.
Investir tempo na diversificação de elementos capazes de potencializar os objetivos escolares é farol que aponta para dimensões cognitivas superiores, com sofisticação na calibragem e no sincronismo com a Era Digital. Limitar a educação de seu processo natural evolutivo é tentar negligenciar o futuro da sociedade.
O conhecimento sobre as novas tecnologias pode ampliar a identificação docente com o contexto das experiências digitais, contemplando roteiros de aulas diferenciadas e um repertório dinâmico de propostas de ensino e aprendizagem. Esta apreciação à didática inovadora com a aplicação de metodologias ativas pode integrar a atenção dos alunos às aulas, transformando este movimento em parâmetro de socialização e de aprendizado.
As tecnologias adentram as escolas como mais uma ferramenta de trabalho inserida no processo de aprendizagem que os professores têm à disposição para desenvolverem atividades integradas com as disciplinas e os conteúdos curriculares, assim como o quadro-negro, o giz, os cadernos, os livros, a caneta, o lápis, entre outros. O diferencial concentra-se nas estratégias inovadoras que favorecem ao ensino, uma vez que os recursos multimídias, com gráficos, animações e sons, criam um ambiente lúdico à criança e ao adolescente, fator que o professor não conseguiria apenas utilizando as ferramentas tradicionais (Cursino, 2019, p. 30-31).
A criação de espaços escolares que estimulem as capacidades estudantis e as possibilidades teórico-práticas do professor com expectativas de aprimoramento do processo, indicando a promoção da autonomia na construção da aprendizagem e condições que capacitem para o protagonismo social, devem ser subsídios edificados neste novo conceito de educação.
A falta de prática e de domínio das novas tecnologias não pode enraizar o pensamento que predisponha o desencorajamento sem a busca individual e consciente do professor. Assim como o mundo, a educação está em plena evolução, com abordagens interacionistas que enriquecem e facilitam o fazer pedagógico, com dinâmicas interessantes e atrativas que podem intensificar a apropriação do conhecimento.
As tecnologias trazem aspectos que colaboram para a reconstrução de mentalidades que inspiram mudanças no trato da arte de professorar, com concepções alimentadas pelos novos paradigmas que moldam o caminhar educacional baseado na atualização dos recursos materiais e das estratégias de ensino. A necessidade da sincronicidade do processo ensino-aprendizagem com o mundo tecnológico constrói um novo ciclo que marca a evolução da educação. Este sincronismo impacta nas relações e nas capacidades humanas desenvolvidas no ambiente escolar e desconstrói os limites da sala de aula, explorando a navegação pelas potencialidades dos estudantes e das dimensões tecnológicas.
Elas são pontes que abrem a sala de aula para o mundo, que representam e medeiam o nosso conhecimento do mundo. São diferentes formas de representação da realidade, mais abstratas ou concretas, mais estáticas ou dinâmicas, mais lineares ou paralelas, mas todas elas, combinadas, integradas, possibilitam uma melhor apreensão da realidade e o desenvolvimento de todas as potencialidades do educando, dos diferentes tipos de inteligência, habilidades e atitudes (Moran, 2012, p. 52).
Não cabe ao professor promover movimentos e/ou discursos que desaprovem a contribuição das tecnologias digitais na educação por não as dominar, pelo contrário, ele tem todas as características necessárias para incorporá-las, não apenas por sua preparação profissional ao longo de sua história acadêmica, mas também por toda a experiência de vida e convivência com os recursos digitais.
A profissão docente constitui-se e adapta-se no tempo e no espaço de acordo com as transformações da sociedade. Na medida em que estas transformações acontecem, o professor é influenciado por um reservatório de saberes que o fazem capaz de direcionar seu alunado na transição entre o objeto de estudo e o conhecimento.
O panorama das competências e habilidades do docente na era das tecnologias digitais traz especificidades que conjecturam novas estratégias adaptadas a esse momento, com clara diferenciação didática na sua execução e com uma profundidade de possibilidades capazes de envolver ainda mais os aprendizes na construção do aprendizado. Esse cenário colaborativo emerge para um cotidiano escolar sem rupturas entre as práticas pedagógicas do professor e os saberes atuais da sociedade moderna.
Com isso o conhecimento tecnológico provoca desafios no plano da ação docente, a função tradicional do professor é questionada com o avanço da tecnologia e com a inclusão delas no ambiente escolar. Isso vem exigindo do professor uma nova postura profissional, inclusive atrelada a melhoria dos padrões de qualidade na educação (Carrara, 2020, p. 40).
O professor é convidado pela era digital a (re)contextualizar o gerenciamento do processo de ensino e suas relações com o aluno, assim como o aluno vê nos recursos digitais ferramentas prontas para complementar os conteúdos estudados na escola e para a consolidação da sua autonomia de pesquisa e busca pelo conhecimento. Diante disso, com a inegável influência do meio social e tecnológico sobre os atores e o processo escolar, cabe ao professor naturalizar essa convivência com resiliência nas adversidades e habilidade para conduzir sistemicamente o ensino e a aprendizagem.
O docente é criador e criatura ao mesmo tempo: sofre as influências do meio em que vive e por meio delas deve se construir. Quando se fala em prática pedagógica, o professor é aquele que, tendo adquirido o nível de cultura necessário para o desempenho de sua atividade, dá direção ao ensino e à aprendizagem (Brito & Purificação, 2015, p. 43).
Assim, o (re)pensar tecnológico evidencia a necessidade de apreciação participativa de todos nós no aproveitamento destes meios e das informações recebidas, considerando a filtragem do que realmente pode contribuir e de que forma pode ser feita. Esse preâmbulo analítico aponta para as boas expectativas de aprendizagem, com atenção às condições e individualidades tanto do aluno quanto do professor.
São igualmente importantes as relações e as mediações entre professores, alunos, informações e tecnologias, para que possam discernir, em meio à profusão de ofertas de informações, o que é realmente importante para um aprendizado e o que precisa permanecer para toda a vida; o que é pontualmente importante para o desenvolvimento de habilidades e atitudes que vão auxiliar no desempenho de ações e na realização de atividades em determinadas áreas de atuação; como explorar as nuanças e especificidades das bases e meios em que as informações são disponibilizadas – textos, imagens, vídeos, sons etc. – com vistas a oferecer condições favoráveis que respeitem seus diferentes estilos de aprendizagem e os dos alunos também (Kenski, 2013, p. 89).
Diante de tudo isso, é preciso ter lucidez diante do contexto global e das obrigações individuais e coletivas de professores, pais, alunos e sociedade. Saber alcançar os objetivos educacionais passa, excepcionalmente e obrigatoriamente, pela formação humana para a cidadania, com expressiva clareza sobre o mundo globalizado, seu ritmo e suas exigências.
A transição pela qual passa o processo ensino-aprendizagem com a inclusão das transformações tecnológicas convive ainda com concepções e paradigmas predefinidos. No entanto, personalizar uma educação de qualidade depende da sensibilidade do olhar do professor mediante os objetivos pretendidos, sem desalinhar-se da atenção e do respeito para com a pessoa humana.
O maior desafio nessas relações é garantir a aprendizagem de todos como pessoas melhores, para que possam convergir suas atenções e interesses em aprender a lidar com as informações e com as demais pessoas com respeito, civilidade, atenção, cortesia, postura crítica e colaboração (Idem, 2013, p. 89).
As tecnologias digitais permitem um desenho escolar inovador que direciona para a realidade a partir das experiências que emergem e desafiam a prática docente e estimulam a criatividade do aluno e do professor. É nesse contexto que a escola deve trabalhar suas possibilidades pedagógicas e suas estratégias para a inserção do cidadão na sociedade. Neste viés, Leite (2014, p. 14) afirma que “a grande questão para a escola é a construção de um projeto pedagógico que permita a formação de cidadãos plenos”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com o passar do tempo, percebemos movimentos naturais do mundo globalizado na educação que contextualizam a diversificação de possibilidades de ensino e aprendizagem. Essa apropriação de tecnologias modernas permite universalizar o campo das descobertas desde que o propósito seja inovador, bem elaborado e significativo – o uso “frio e solitário” das tecnologias digitais por si só não é suficiente. O professor deve ser criativo e com estratégias inteligentes e envolventes.
Idealizamos os espaços educacionais voltados para uma boa relação com as tecnologias digitais, onde o conhecimento seja (re)construído e adaptado às complexidades sociais, com autonomia e protagonismo do aluno, considerando suas características individuais, com o direcionamento bem traçado e estratégico do professor.
É papel do professor saber interiorizar as potencialidades do mundo tecnológico no sentido de legitimar suas práticas, convergindo para um ambiente mais agradável de aprender juntos, sem as narrativas repetidas e enfadonhas de outrora, incentivando a liberdade criativa, a boa relação humana e o intercâmbio de experiências.
O avanço das tecnologias digitais oferece ao professor conectores dinâmicos e uma linguagem didática com entretenimento, capaz de fazer viajar no espaço das descobertas significativas e articuladas, sem dispersar a qualidade planejada, com instrumentos de interação e partilha de informações.
O domínio das tecnologias digitais no fazer pedagógico permite ao docente o manuseio de uma diversidade de meios capazes de desenvolver a capacidade de aprender a aprender do aluno, com propriedade interpretativa e diagnóstica da produção do conhecimento como suporte ao processo avaliativo.
A dimensão do universo cultural das tecnologias digitais na vida das pessoas é uma estrada sem volta, que exige o desenvolvimento de habilidades e competências para o aproveitamento nas instituições escolares baseada nas experiências e na convivência diária com estes instrumentos. Portanto, a educação no século XXI vislumbra ressignificar o ensino e aprendizagem em tons de “modernidade para a modernidade”, importando-se com a projeção do aluno na sociedade com protagonismo e com princípios de cidadania.
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