A violência psicológica contra crianças e adolescentes: Impactos, desafios e a necessidade de conscientização

PSYCHOLOGICAL VIOLENCE AGAINST CHILDREN AND ADOLESCENTS: IMPACTS, CHALLENGES, AND THE NEED FOR AWARENESS

VIOLENCIA PSICOLÓGICA CONTRA NIÑOS Y ADOLESCENTES: IMPACTOS, DESAFÍOS Y LA NECESIDAD DE CONCIENTIZACIÓN

Autor

Samantha Godoi
ORIENTADOR
Profa. Dra. Priscila Trudes Artêro

URL do Artigo

https://iiscientific.com/artigos/177668

DOI

, . A violência psicológica contra crianças e adolescentes: Impactos, desafios e a necessidade de conscientização. International Integralize Scientific. v 5, n 46, Abril/2025 ISSN/3085-654X

Resumo

A violência psicológica contra crianças e adolescentes é uma forma de abuso muitas vezes invisível, mas que pode causar danos profundos e duradouros no desenvolvimento emocional e mental das vítimas. Esse tipo de violência, que envolve ações como humilhações, críticas constantes, ameaças e manipulação emocional, afeta diretamente a saúde mental, podendo resultar em ansiedade, depressão, distúrbios de comportamento e, em casos extremos, pensamentos suicidas. O objetivo principal deste estudo é analisar e sintetizar o conhecimento atual sobre as causas e consequências da violência psicológica contra crianças e adolescentes, com o intuito de identificar lacunas e aprimorar as estratégias de prevenção e intervenção. Como objetivos específicos, busca-se: identificar os fatores de risco e as causas estruturais, contextuais e culturais relacionadas à ocorrência de violência psicológica; investigar as consequências psicológicas e sociais dessa violência, destacando seu impacto no desenvolvimento e na qualidade de vida das vítimas; e avaliar as políticas públicas, estratégias de prevenção e mecanismos de intervenção existentes, apontando desafios e propondo abordagens para reduzir os efeitos dessa violência. Para tanto, a metodologia de investigação foi, primeiramente, bibliográfica com abordagem qualitativa. Após, foi utilizada a pesquisa descritiva, de base documental e abordagem quantitativa, utilizando dados preexistentes da Fundação Abrinq, com foco nos casos de violência psicológica contra crianças e adolescentes em Uberlândia, MG, entre 2009 e 2023. Baseada na análise documental, a pesquisa coletou dados do Observatório da Criança e do Adolescente, sem tratamento analítico, e agrupou informações sobre faixa etária, sexo, raça, escolaridade das vítimas e local de ocorrência. A análise consistiu no cálculo da Taxa de Prevalência (TP) por cada 10 mil crianças. Nessa perspectiva, a conclusão é que a pesquisa aponta um aumento nas notificações, com destaque para a faixa etária de 15 a 19 anos e para o sexo feminino. As maiores ocorrências foram registradas em residências, evidenciando a importância de uma abordagem focada no ambiente familiar. Há a necessidade urgente de melhorar os processos de coleta de dados, garantindo registros completos e precisos para uma análise mais eficaz da situação. A implementação de políticas públicas eficazes, voltadas à prevenção e apoio psicossocial, é essencial para mitigar os danos causados pela violência psicológica e para promover o desenvolvimento saudável das vítimas.
Palavras-chave
Violência psicológica. Crianças. Adolescentes.

Summary

Psychological violence against children and adolescents is a form of abuse that is often invisible but can cause deep and lasting damage to the emotional and mental development of the victims. This type of violence, which involves actions such as humiliation, constant criticism, threats, and emotional manipulation, directly affects mental health, potentially leading to anxiety, depression, behavioral disorders, and, in extreme cases, suicidal thoughts. The primary objective of this study is to analyze and synthesize current knowledge about the causes and consequences of psychological violence against children and adolescents, with the aim of identifying gaps and improving prevention and intervention strategies. Specific objectives include: identifying risk factors and the structural, contextual, and cultural causes related to the occurrence of psychological violence; investigating the psychological and social consequences of this violence, highlighting its impact on the development and quality of life of victims; and evaluating existing public policies, prevention strategies, and intervention mechanisms, pointing out challenges and proposing approaches to reduce the effects of this violence.To this end, the research methodology was initially bibliographical with a qualitative approach. Later, descriptive research, based on documentary analysis, and a quantitative approach used pre-existing data from the Fundação Abrinq, focusing on cases of psychological violence against children and adolescents in Uberlândia, MG, between 2009 and 2023. Based on documentary analysis, the research collected data from the Child and Adolescent Observatory, without analytical treatment, and grouped information regarding the age group, gender, race, education level of the victims, and location of occurrence. The analysis involved calculating the Prevalence Rate (PR) per 10,000 children. In this perspective, the conclusion is that the research indicates an increase in notifications, with a focus on the age group of 15 to 19 years and on females. The highest occurrences were recorded in households, highlighting the importance of a family-oriented approach. There is an urgent need to improve data collection processes, ensuring complete and accurate records for a more effective analysis of the situation. The implementation of effective public policies focused on prevention and psychosocial support is essential to mitigate the damage caused by psychological violence and to promote the healthy development of the victims.
Keywords
Psychological violence. Children. Adolescents.

Resumen

La violencia psicológica contra niños y adolescentes es una forma de abuso a menudo invisible, pero que puede causar daños profundos y duraderos en el desarrollo emocional y mental de las víctimas. Este tipo de violencia, que involucra acciones como humillaciones, críticas constantes, amenazas y manipulación emocional, afecta directamente la salud mental, pudiendo resultar en ansiedad, depresión, trastornos de comportamiento y, en casos extremos, pensamientos suicidas. El objetivo principal de este estudio es analizar y sintetizar el conocimiento actual sobre las causas y consecuencias de la violencia psicológica contra niños y adolescentes, con el fin de identificar lagunas y mejorar las estrategias de prevención e intervención. Los objetivos específicos son: identificar los factores de riesgo y las causas estructurales, contextuales y culturales relacionadas con la ocurrencia de violencia psicológica; investigar las consecuencias psicológicas y sociales de esta violencia, destacando su impacto en el desarrollo y la calidad de vida de las víctimas; y evaluar las políticas públicas, estrategias de prevención y mecanismos de intervención existentes, señalando desafíos y proponiendo enfoques para reducir los efectos de esta violencia.Para ello, la metodología de investigación fue, en primer lugar, bibliográfica con un enfoque cualitativo. Luego, se utilizó una investigación descriptiva, de base documental, y un enfoque cuantitativo que utilizó datos preexistentes de la Fundación Abrinq, con foco en los casos de violencia psicológica contra niños y adolescentes en Uberlândia, MG, entre 2009 y 2023. Basada en el análisis documental, la investigación recopiló datos del Observatorio de la Niñez y Adolescencia, sin tratamiento analítico, y agrupó información sobre el grupo de edad, sexo, raza, escolaridad de las víctimas y lugar de ocurrencia. El análisis consistió en el cálculo de la Tasa de Prevalencia (TP) por cada 10,000 niños. En esta perspectiva, la conclusión es que la investigación señala un aumento en las notificaciones, con énfasis en el grupo de edad de 15 a 19 años y en el sexo femenino. Las mayores ocurrencias fueron registradas en residencias, lo que destaca la importancia de un enfoque centrado en el ambiente familiar. Existe una necesidad urgente de mejorar los procesos de recolección de datos, garantizando registros completos y precisos para un análisis más eficaz de la situación. La implementación de políticas públicas eficaces, orientadas a la prevención y al apoyo psicosocial, es esencial para mitigar los daños causados por la violencia psicológica y para promover el desarrollo saludable de las víctimas.
Palavras-clave
Violencia psicológica. Niños. Adolescentes.

INTRODUÇÃO

A violência psicológica contra crianças e adolescentes é uma forma de abuso que, embora frequentemente invisível, pode causar danos profundos e duradouros no desenvolvimento emocional e mental das vítimas. Esse tipo de violência ocorre quando adultos sistematicamente depreciam, intimidam ou manipulam emocionalmente a criança, minando sua autoestima e criando um ambiente de medo, ameaça ou abandono (Macedo, 2019). A violência psicológica inclui atitudes como críticas constantes, humilhações, isolamento social forçado e ameaças de punições severas, que afetam diretamente a saúde mental das vítimas, podendo gerar problemas como ansiedade, depressão, distúrbios de comportamento e, em casos extremos, pensamentos suicidas.

Embora amplamente reconhecida por suas consequências devastadoras, a violência psicológica contra menores de idade é muitas vezes subnotificada devido à sua natureza intangível. Estudos apontam que, em muitos casos, esse tipo de violência ocorre dentro do ambiente familiar, perpetuado por pais, responsáveis ou outros membros próximos da vítima, dificultando a identificação e intervenção (Figueira, 2016). Além disso, a falta de conscientização sobre a gravidade e os sinais desse abuso contribui para a dificuldade de notificação e, consequentemente, para a escassez de dados confiáveis sobre sua prevalência (Silva, 2020).

A literatura científica e as políticas públicas sobre violência infantil, como a Lei nº 13.431/2017, que estabelece normas para o atendimento de crianças e adolescentes vítimas de violência, têm enfatizado a necessidade de um sistema de notificação eficiente e de programas de apoio psicossocial para as vítimas (Brasil, 2017). No entanto, ainda existem muitos desafios a serem superados, especialmente no que se refere à formação de profissionais da saúde, educação e assistência social para reconhecer os sinais da violência psicológica e agir adequadamente. Portanto, é fundamental que o combate à violência psicológica contra crianças e adolescentes seja integrado a uma abordagem mais ampla de proteção e promoção da saúde mental infantojuvenil.

A violência psicológica contra crianças e adolescentes é uma forma de abuso caracterizada por agressões que afetam a saúde mental e emocional da vítima, sem que haja necessariamente o uso de força física. Esse tipo de violência é muitas vezes difícil de identificar, pois seus sinais são sutis e, frequentemente, invisíveis. Contudo, seus impactos podem ser tão prejudiciais quanto os da violência física, levando a sérios transtornos psicológicos, como ansiedade, depressão, distúrbios de comportamento e dificuldades no desenvolvimento da autoestima e das habilidades sociais (Macedo, 2019).

Crianças e adolescentes que sofrem violência psicológica podem enfrentar consequências graves ao longo de sua vida.  Entre os efeitos mais evidentes estão o isolamento social, dificuldade no desempenho escolar (ex.:baixas notas, bullying), aumento da vulnerabilidade à ansiedade e depressão, problemas de autoestima, dificuldades nos    relacionamentos interpessoais, ingestão abusiva de álcool e o desenvolvimento de transtorno   de estresse pós-traumático (Macedo, 2025).

O objetivo principal deste estudo é analisar e sintetizar o conhecimento atual sobre as causas e consequências da violência psicológica contra crianças e adolescentes, com o intuito de identificar lacunas e aprimorar as estratégias de prevenção e intervenção. 

Como objetivos específicos, busca-se: identificar os fatores de risco e as causas estruturais, contextuais e culturais relacionadas à ocorrência de violência psicológica; investigar as consequências psicológicas e sociais dessa violência, destacando seu impacto no desenvolvimento e na qualidade de vida das vítimas; e avaliar as políticas públicas, estratégias de prevenção e mecanismos de intervenção existentes, apontando desafios e propondo abordagens para reduzir os efeitos dessa violência.

DESENVOLVIMENTO

REFERENCIAL TEÓRICO

A violência psicológica pode ser entendida como o uso de palavras, atitudes ou comportamentos que causam danos à saúde mental da criança ou adolescente, resultando em sofrimento emocional, angústia e prejudicando o desenvolvimento psicológico (Figueira, 2016). De acordo com a literatura, a violência psicológica inclui humilhações constantes, chantagens emocionais, insultos, isolamento social, ameaças de abandono ou castigos severos, e manipulação emocional (Macedo, 2019; Silva, 2020).

Para Lipp (2017), esse tipo de violência é tão devastador quanto as agressões físicas, pois pode gerar uma sensação duradoura de insegurança e desamparo nas vítimas, além de dificultar o desenvolvimento da criança e do adolescente. Estudos indicam que essas práticas podem resultar em transtornos psicológicos duradouros, como transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), transtornos de ansiedade e depressão (Cunha & Souza, 2018).

Na infância, a exposição a maus-tratos tem sido associada a injúrias físicas e desfechos adversos em saúde mental, incluindo perturbações cognitivas, além de desenvolvimento e presença de sintomas psiquiátricos internalizantes e externalizantes. Entre adolescentes e adultos, estudos demonstraram que a exposição a maus-tratos na infância estaria associada à adoção de comportamentos de risco, como tabagismo, consumo nocivo de álcool e de drogas ilícitas, além de múltiplos desfechos crônicos em saúde física e mental, como doença cardiovascular isquêmica, doenças gastrointestinais e depressão ( SARTORI, 2023).

Os efeitos da violência psicológica no desenvolvimento infantil e juvenil são amplos e graves. Crianças e adolescentes expostos a esse tipo de violência frequentemente apresentam dificuldades de relacionamento, problemas de confiança, baixa autoestima e dificuldades de aprendizagem. Além disso, esses indivíduos estão mais propensos a desenvolver comportamentos autodestrutivos, como abuso de substâncias, e a replicar ciclos de abuso em suas próprias relações no futuro (Figueira, 2016; Silva, 2020).

Estudos de Macedo (2019) revelam que as consequências da violência psicológica podem ser ainda mais intensas quando combinadas com outros tipos de abuso, como o físico e o sexual. Nesse contexto, os impactos no desenvolvimento social e emocional podem ser irreversíveis, afetando a capacidade da criança de estabelecer vínculos afetivos saudáveis ao longo da vida (Lipp, 2017).

A violência psicológica contra crianças e adolescentes ocorre, predominantemente, dentro do ambiente familiar, onde figuras de autoridade, como pais ou responsáveis, utilizam práticas abusivas para controlar ou manipular emocionalmente a criança (Cunha & Souza, 2018). Esse contexto é favorecido pela vulnerabilidade das crianças, que dependem dos cuidados de seus responsáveis para garantir seu bem-estar físico e emocional. A literatura aponta que muitos casos de violência psicológica são silenciados, devido à falta de compreensão sobre sua gravidade e à dificuldade em identificar os sinais (Macedo, 2019).

A legislação brasileira reconhece a violência psicológica como uma violação dos direitos das crianças e adolescentes, sendo amparada pela Lei nº 13.431/2017, que estabelece normas para o atendimento de crianças e adolescentes vítimas ou testemunhas de violência. A lei busca garantir a proteção dessas vítimas e promover um atendimento especializado e interprofissional (Brasil, 2017).

Contudo, especialistas apontam que o combate à violência psicológica enfrenta desafios significativos, como a subnotificação dos casos, a falta de treinamento adequado para profissionais da saúde e da educação, e a escassez de serviços de apoio psicológico que atendam às necessidades das vítimas. O desenvolvimento de programas educativos para pais, responsáveis e profissionais da área da saúde é essencial para a prevenção e identificação precoce desses casos (Cunha & Souza, 2018).

Entretanto, apesar   dos   avanços   das   políticas públicas     na     proteção     integral     de crianças e adolescentes, um dos grandes desafios ainda reside na fragmentação da rede de proteção. Embora haja diversos atores e serviços envolvidos, como Conselhos Tutelares, serviços de saúde, assistência social e o sistema   judiciário, a   articulação   entre   eles   muitas vezes    se    mostra    frágil    e    descoordenada.    Essa fragilidade   se   manifesta   na   falta   de   comunicação entre os serviços, na dificuldade de acesso e na baixa efetividade das intervenções na vida das vítimas (Macedo, 2025).

METODOLOGIA

A pesquisa caracteriza-se como descritiva, de base documental e com abordagem quantitativa, utilizando dados preexistentes da Fundação Abrinq, registrada em 1990. Segundo Gil (2008), a análise documental envolve a classificação e indexação de dados, sendo uma técnica central na análise de conteúdo.

Os dados primários foram obtidos a partir dos registros de casos de violência psicológica contra crianças e adolescentes em Uberlândia, MG, disponibilizados pelo Observatório da Criança e do Adolescente, sem análise prévia. A pesquisa considerou casos de violência psicológica contra vítimas de 0 a 19 anos, com notificações ocorridas entre 2009 e 2023.

Foram coletadas informações sobre a incidência de casos por ano, faixa etária, sexo, raça, nível de escolaridade e local de ocorrência. Os dados foram organizados no software Excel® e agrupados conforme as variáveis mencionadas. A análise foi realizada por meio do cálculo da Taxa de Prevalência (TP), que foi calculada considerando o número de casos a cada 10 mil crianças e adolescentes, de acordo com a faixa etária.

RESULTADOS

O gráfico apresentado reflete apenas o número absoluto de notificações de casos de violência psicológica. Os dados relativos a cor/raça, escolaridade, sexo e local de ocorrência, também estão disponíveis no site do Observatório da Criança e Adolescente, em formato gráfico. No entanto, para essas variáveis, incluímos apenas a análise desses dados.

A violência psicológica, ou tortura psicológica, ocorre quando adultos sistematicamente depreciam as crianças, bloqueiam seus esforços de autoestima e realização, ou as ameaçam com abandono e crueldade. Embora seja um tipo de abuso pouco estudado, seus efeitos no desenvolvimento infantojuvenil são extremamente prejudiciais (MACEDO, 2019).

Os dados a seguir identificam o número total de ocorrências notificadas aos sistemas de saúde sobre casos de violência psicológica contra crianças e adolescentes de até 19 anos. Na categoria de violência psicológica, o Observatório analisa os seguintes indicadores: notificações de violência psicológica contra crianças e adolescentes de até 19 anos, classificados por cor/raça, escolaridade, sexo e local de ocorrência.

Gráfico 1 – Notificação de violência física contra crianças e adolescentes de até 19 anos de idade, Uberlândia – MG

Fonte: Ministério da Saúde/SVS – Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN).

Ao analisar o Gráfico 1, observamos que não houve registros de notificações nos anos de 2008 e 2009, e no site do Observatório não encontramos explicações relacionadas a essa ausência de dados. Entre 2010 e 2023, foram registrados 4.883 casos de violência psicológica, com uma média anual de 348 notificações. A análise revela uma tendência crescente nos casos, com algumas variações: uma ligeira diminuição foi observada nos anos de 2016, 2018 e 2021. Contudo, em 2022 e 2023, houve um aumento significativo nos registros, o que pode estar relacionado aos efeitos da pandemia de COVID-19. Em 2024, ainda não havia registros, possivelmente devido à falta de conclusão do ano no momento da redação deste estudo.

Em relação ao sexo, as mulheres continuam sendo as mais afetadas pela violência psicológica, com 1.411 casos registrados durante o período estudado, o que resulta em uma média anual de 100 casos. Comparativamente, o sexo masculino registrou 595 casos. Nos últimos seis anos, houve um aumento notável no número de casos, especialmente em 2020, quando os registros atingiram o pico de 187 casos.

A faixa etária mais acometida pela violência psicológica foi a de 15 a 19 anos, com 720 casos, apresentando um aumento constante ao longo dos anos, e um pico significativo em 2022.

Quanto à cor/raça, os dados mostram que a maior parte das vítimas de violência psicológica era branca, com 932 casos registrados, seguida por vítimas de cor parda (820 casos) e preta (161 casos). Casos envolvendo pessoas amarelas e indígenas foram muito baixos, com 8 e 2 casos, respectivamente. Importante ressaltar que 84 casos foram classificados como “ignorados” quanto à cor.

Analisando a série escolar, os maiores índices de violência psicológica ocorreram entre crianças e adolescentes com o ensino fundamental de 5º a 8º ano, com 206 casos registrados. Contudo, um número expressivo de casos não especificados ou classificados como “não se aplica” foi observado: 920 e 520, respectivamente. Isso sugere uma possível falha no processo de notificação e a necessidade de aprimoramento na coleta de dados.

Por fim, o local de ocorrência da violência psicológica predominou nas residências, com 1.118 dos 1.490 casos notificados ocorrendo dentro da casa das vítimas. Além disso, 95 casos aconteceram em via pública, e 63 casos foram registrados em escolas.

Esses resultados destacam a importância de melhorar os processos de notificação e a investigação dos casos de violência psicológica, a fim de garantir a proteção e o suporte adequados às vítimas.

DISCUSSÃO

Os dados apresentados demonstram algumas lacunas e tendências importantes no contexto da violência psicológica contra crianças e adolescentes, evidenciando tanto a evolução do número de casos quanto desafios relacionados à coleta e notificação de informações.

Primeiramente, a ausência de registros nos anos de 2008 e 2009 é um ponto significativo, especialmente porque não foram encontradas explicações no site do Observatório para essas lacunas. Essa falha pode indicar problemas na coleta de dados, que impactam negativamente a continuidade da análise e o acompanhamento dos casos de violência ao longo do tempo. A ausência de dados completos pode limitar a compreensão precisa da evolução da violência psicológica, prejudicando a formulação de políticas públicas efetivas. É necessário investigar as razões dessa falta de registros para evitar que situações semelhantes ocorram em anos subsequentes.

Entre 2010 e 2023, a notificação de 4.883 casos, com uma média anual de 348 registros, reflete uma tendência crescente de violência psicológica, com exceção das ligeiras quedas nos anos de 2016 e 2018. Essa variação pode estar relacionada a fatores diversos, como mudanças na conscientização sobre o tema ou a eficácia de programas de prevenção e de intervenção. No entanto, é importante destacar o aumento significativo dos registros em 2020, possivelmente associado à pandemia da COVID-19. A crise sanitária gerou uma série de mudanças no comportamento social, aumentando o tempo de convivência no ambiente doméstico e expondo mais crianças e adolescentes a situações de violência. 

A faixa etária mais afetada, com ênfase em crianças e adolescentes de 15 a 19 anos, destaca a necessidade de direcionar esforços específicos para esse grupo, que, muitas vezes, enfrenta um período de transição com maior vulnerabilidade. Esta faixa etária é caracterizada por mudanças significativas no desenvolvimento físico e emocional, o que pode torná-la um período crítico para a experiência de abusos.

No que tange à distribuição racial, os dados revelam uma predominância de casos entre crianças e adolescentes brancos (932 casos), seguidos por pardos (820) e negros (161). Este padrão levanta questões sobre desigualdades raciais na exposição à violência, o que é consistente com outras pesquisas que apontam a maior vulnerabilidade de crianças e adolescentes negros a formas de violência (Silva et al., 2018). A presença de 84 casos classificados como “ignorados” quanto à cor/raça, por outro lado, é preocupante, pois sugere falhas no processo de coleta de dados e um possível encobrimento de informações essenciais para análises mais precisas.

Em relação ao grau de escolaridade, a prevalência de violência psicológica entre aqueles com ensino médio incompleto reflete, talvez, uma interseção de fatores sociais e educacionais que influenciam a exposição à violência. A alta incidência de casos classificados como “ignorados” e “não se aplica” também é um dado alarmante. O fato de 920 casos terem sido ignorados quanto ao grau de escolaridade e de 520 casos estarem classificados como “não se aplica” sugere um comprometimento na qualidade dos dados coletados, o que pode ser atribuído a falhas na investigação e na documentação dos casos. Esse tipo de dado, se não corrigido, limita a análise de contextos mais profundos e a implementação de estratégias direcionadas para grupos específicos.

A predominância de casos de violência psicológica entre o sexo feminino (1.411 casos) é uma constante, o que reforça a necessidade de políticas de proteção e intervenções focadas nas meninas e mulheres jovens. A notável variação nos casos de violência psicológica entre os sexos em 2019 e 2020 pode ser interpretada de várias maneiras, mas indica um aumento da violência em ambos os gêneros, o que implica uma atenção crescente para a questão de gênero na violência contra crianças e adolescentes. A análise de dados específicos sobre as características de gênero pode ser importante para a formulação de programas de intervenção que atendam de forma mais eficiente às necessidades de cada grupo.

Por fim, os termos “ignorados” e “não se aplica” nas fichas de notificação apontam para uma preocupação fundamental na qualidade da coleta de dados. Esses campos, quando preenchidos erroneamente ou de maneira incompleta, comprometem a integridade e a utilidade das informações. A falta de investigação aprofundada pode resultar em um sub-registro das características reais das vítimas, dificultando a identificação de padrões e a implementação de políticas públicas adequadas.

Em suma, os resultados destacam uma tendência crescente na notificação de casos de violência psicológica contra crianças e adolescentes, com variações significativas entre anos e grupos demográficos. No entanto, as falhas no processo de notificação e coleta de dados precisam ser abordadas para garantir que todas as informações necessárias sejam adequadamente registradas e analisadas. A conscientização sobre a violência, junto com um aprimoramento nas práticas de coleta de dados, é crucial para a efetiva prevenção e intervenção.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A conclusão dos dados analisados destaca a gravidade e a complexidade da violência psicológica contra crianças e adolescentes, evidenciando um aumento preocupante nos casos notificados ao longo dos últimos anos, especialmente em 2020, possivelmente em decorrência da pandemia de COVID-19. A violência afeta de forma desproporcional mulheres e adolescentes na faixa etária de 15 a 19 anos, o que ressalta a necessidade de uma abordagem mais focada nesses grupos vulneráveis. Além disso, os dados sobre cor/raça e escolaridade apontam para desigualdades importantes, com a maior parte das vítimas sendo brancas e pardas, e um número significativo de casos com lacunas na coleta de dados, o que dificulta uma análise precisa da realidade. A alta incidência de violência no ambiente doméstico revela a relevância de considerar o contexto familiar ao tratar dessa questão.

A pesquisa demonstra que é fundamental aprimorar os processos de notificação, investigação e coleta de dados, para garantir informações completas e precisas. A implementação de políticas públicas eficazes e a conscientização sobre os impactos da violência psicológica são essenciais para a proteção e o apoio adequado às vítimas. Somente com um sistema de monitoramento eficiente será possível prevenir e minimizar os danos causados por essa forma de violência, promovendo a recuperação e o desenvolvimento saudável das crianças e adolescentes afetados.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. (2017). Lei nº 13.431, de 4 de abril de 2017. Dispõe sobre o sistema de garantia de direitos da criança e do adolescente vítima ou testemunha de violência. Diário Oficial da União.

CUNHA, F., & SOUZA, L. (2018). Violência psicológica e seus efeitos no desenvolvimento emocional de crianças e adolescentes. Psicologia e Sociedade, 30(1), 58-71.

FIGUEIRA, A. (2016). Violência doméstica e seus reflexos no comportamento infantil. Psicologia Hoje, 20(3), 45-56.

GIL, Antônio Carlos. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. 6 ed. São Paulo: Atlas, 2008.

LIPP, M. (2017). Psicologia do desenvolvimento e suas implicações na violência contra crianças e adolescentes. Editora Psique.

MACEDO, Davi Manzini et al. Revisão sistemática de estudos sobre registros de violência contra crianças e adolescentes no Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, v. 24, p. 487-496, 2019.

MACEDO, M. (2019). A violência psicológica na infância: impactos e consequências no desenvolvimento emocional. Editora Psique.

MACEDO, Rania Thalia Barros et al. Reflexos da violência na infância que exacerbam na vida adulta. Revista Recien-Revista Científica de Enfermagem, v. 15, n. 43, p. 59-67, 2025.

FIGUEIRA, A. (2016). Violência doméstica e seus reflexos no comportamento infantil. Psicologia Hoje, 20(3), 45-56.

SARTORI, Letícia Regina Morello et al. Notificações de violência física, violência sexual, violência psicológica e negligência praticadas contra crianças no Brasil, 2011-2019: estudo ecológico de série temporal. Epidemiologia e Serviços de Saúde, v. 32, p. e2023246, 2023.

SILVA, R. (2020). Subnotificação da violência psicológica contra crianças: uma análise crítica. Revista Brasileira de Psicologia Infantil, 34(2), 123-139.

, . A violência psicológica contra crianças e adolescentes: Impactos, desafios e a necessidade de conscientização.International Integralize Scientific. v 5, n 46, Abril/2025 ISSN/3085-654X

Referencias

BAILEY, C. J.; LEE, J. H.
Management of chlamydial infections: A comprehensive review.
Clinical infectious diseases.
v. 67
n. 7
p. 1208-1216,
2021.
Disponível em: https://academic.oup.com/cid/article/67/7/1208/6141108.
Acesso em: 2024-09-03.

Share this :

Edição

v. 5
n. 46
A violência psicológica contra crianças e adolescentes: Impactos, desafios e a necessidade de conscientização

Área do Conhecimento

Violência nas escolas: Tipos de violência e a prática do bullying
Violência. Bullying. Escola. Diversidade. Pedagógico.
Educação restaurativa: A responsabilização civil dos alunos pela prática de indisciplina e atos infracionais e o colegiado escolar como espaço de mediação e resolução de conflitos na escola da rede pública do estado da Bahia
Responsabilização civil. Alunos e pais ou responsáveis. Colegiado escolar. Mediação e resolução de conflitos. Responsabilidade solidária.
Violência contra o professor
Violência. Professor. Escola. Aluno. Agressão.
A proteção do direito do trabalhador em face do advento da inteligência artificial
Inteligência artificial. Direito do trabalho. Dignidade humana. Relações do trabalho.
O termo circunstanciado de ocorrência como novidade na polícia militar do estado de Roraima
Termo circunstanciado. Polícia Militar de Roraima. Possibilidade jurídica da lavratura do TCO.
A justiça social na previdência: Reflexões sobre a equidade e a sustentabilidade das normas de seguridade
Reforma da previdência. Sustentabilidade. Justiça social. Segurança social. Inclusão social.

Últimas Edições

Confira as últimas edições da International Integralize Scientific

feature-abri-2025

Vol.

5

46

Abril/2025
MARCO

Vol.

5

45

Março/2025
FEVEREIRO (1)

Vol.

5

44

Fevereiro/2025
feature-43

Vol.

5

43

Janeiro/2025
DEZEMBRO

Vol.

4

42

Dezembro/2024
NOVEMBRO

Vol.

4

41

Novembro/2024
OUT-CAPA

Vol.

4

40

Outubro/2024
setembro-capa

Vol.

4

39

Setembro/2024

Fale com um com um consultor acadêmico!

O profissional mais capacitado a orientá-lo e sanar todas as suas dúvidas referentes ao processo de mestrado/doutorado.