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Resumo
INTRODUÇÃO
A efetivação da educação inclusiva na educação básica é fruto da sobreposição de vários fatores pedagógicos, organizacionais e curriculares. Nesse cenário, o Projeto Político e Pedagógico surge como uma diretriz importante a ser seguida, pois, embora frequentemente associado a um documento que a escola deve apresentar formalmente, na verdade, ele representa uma orientação fundamental para a realização das atividades docentes em colaboração com a comunidade escolar. É no PPP que se encontram muitas das metas e objetivos para tornar a educação inclusiva uma realidade, evidenciando o comprometimento da escola com a equidade no ensino e a promoção da autonomia dos alunos com deficiência em suas dependências.
Com base nessas questões supracitadas, optou-se por definir um problema de pesquisa que refletisse de maneira abrangente a realidade a ser investigada. Portanto, a questão central é estabelecida por meio do seguinte questionamento: quais são as contribuições do Projeto Político e Pedagógico (PPP) da escola pública para a implementação da educação inclusiva e até que ponto este documento tem conseguido superar as distinções entre teoria e prática nesses ambientes educacionais? Com o intuito de responder a essa questão e a outras questões secundárias que surgiram ao longo das análises, a pesquisa foi estruturada teoricamente e analiticamente.
Diante disso, estabeleceu-se como objetivo principal do estudo “analisar a importância do Projeto Político e Pedagógico para a efetivação da educação inclusiva na educação básica, através de uma revisão da bibliografia sobre o tema”. Esse objetivo geral foi subdividido em específicos, que incluem: compreender o conceito do Projeto Político e Pedagógico e sua importância para o desenvolvimento das práticas educativas no ensino básico; avaliar os efeitos positivos do Projeto Político e Pedagógico para a efetivação da educação inclusiva nos espaços públicos de ensino.
A metodologia utilizada foi baseada em uma abordagem qualitativa, descritiva e explicativa, visando compreender a importância do projeto pedagógico no contexto da inclusão. Para isso, foi realizada uma revisão da literatura, considerando autores como Cardoso (2018), Guedes (2019), Santana (2019), e Vasconcelos (2014). Tais autores foram selecionados a partir de referenciais como: livros, teses, dissertações, periódicos, dentre outras obras digitais e/ou impressas do acervo do pesquisador. As análises, contudo, não buscam esgotar a discussão do tema, mas sim, compreendê-lo a partir de uma perspectiva particular que é ressaltada ao longo do texto.
PERSPECTIVAS CONCEITUAIS SOBRE O PROJETO POLÍTICO E PEDAGÓGICO NA EDUCAÇÃO BÁSICA
Resumidamente, pode-se conceituar o Projeto Político e Pedagógico das instituições de ensino como um guia que estabelece objetivos, missão e compromissos em relação a diversas práticas e atitudes. Sabe-se que a sua elaboração se baseia em diretrizes normativas gerais, mas a escola tem a autonomia para ajustar seu conteúdo à realidade local, levando em conta as necessidades de educadores, alunos, famílias e da comunidade que estabelece influência sob aspectos políticos e sociais da escola. Em suma, é uma maneira de compartilhar com todos os envolvidos na educação os processos operacionais que serão implementados a partir da aprovação do PPP pela coletividade.
Em uma perspectiva conceitual mais abrangente, o Projeto Político-Pedagógico é concebido como uma diretriz sobre as estratégias educacionais que a escola almeja alcançar na área de ensino e aprendizado. Tem como objetivo reunir os anseios e necessidades de todas as partes envolvidas no processo formativo, incluindo alunos, comunidade e educadores. Este projeto é fruto da possibilidade de transformação e da necessidade de corrigir a trajetória que a escola deve seguir, em resposta às alterações no panorama educacional atual. Além disso, o PPP define os propósitos que orientam tanto a formação profissional quanto a humanística, sendo essencial revisá-lo regularmente, pois essas revisões podem levar a ajustes importantes no compromisso da instituição com a equidade e autonomia no processo educativo (VEIGA, 2008).
Portanto, se o PPP funciona como um guia orientador, suas diretrizes necessitam ser fruto de um trabalho em conjunto. Isso se deve ao fato de que o conteúdo político e pedagógico visa contemplar não apenas um grupo específico dos indivíduos envolvidos na educação escolar. Além disso, as demandas por transformação e atualização também são componentes essenciais do processo colaborativo do projeto, sendo cruciais para que todos consigam orientar suas ações em etapas futuras. A citação a seguir apresenta outros aspectos relevantes sobre o que é e qual a significância do projeto para as instituições de ensino atuais:
Tendo em vista que a escola é uma instituição social ativa e única como um espaço de troca, de interação, o PPP é um instrumento de planejamento capaz de indicar as intenções político-pedagógicas fundamentadas na realidade individual de cada escola, portanto, esse elemento trabalha diretamente com o exercício da gestão democrática. Isso significa que o Projeto Político Pedagógico é uma ferramenta de planejamento própria desse tipo de gestão, pois nele estão inseridos seus princípios ao mesmo tempo em que se constitui elemento essencial para o planejamento participativo. O Projeto Político Pedagógico parte de uma construção coletiva que traduz os interesses e as intenções desse coletivo, interpretando a partir de um diagnóstico a realidade vivenciada e construída dia a dia e, portanto, mutável (Guedes, 2019, p. 5-6).
A citação anterior evidencia que o Projeto Político-Pedagógico desempenha um papel crucial nas práticas das instituições educacionais. Seu objetivo principal é delinear um caminho para alcançar resultados específicos, que se traduzam em autonomia na formação dos alunos. Para que o projeto funcione como um vetor de transformação na escola, é fundamental que estejam claros os compromissos, os valores educacionais, as demandas do público atendido, a identidade da instituição, bem como diversos outros aspectos que fazem parte do processo de criação e atualização do PPP. Ao mesmo tempo, cada membro da comunidade escolar deve assumir a responsabilidade por colaborar e supervisionar a execução das ações delineadas no projeto.
Conforme cita Cardoso (2018) a elaboração do projeto deve se fundamentar em diretrizes gerais, mas levar em consideração as especificidades da realidade escolar. Isso implica reconhecer que nenhum Projeto Político Pedagógico será igual a outro, especialmente considerando que cada instituição de ensino possui suas particularidades, com desafios, demandas e necessidades que não se replicam da mesma forma em nenhum outro contexto. A partir desta compreensão, é fundamental que os gestores e profissionais da educação assumam a responsabilidade nesse processo, identificando eventuais alterações necessárias para se adequar a novas circunstâncias que possam surgir no processo educativo.
A criação do projeto político e pedagógico possui diversas finalidades, mesmo que seu conteúdo represente os objetivos que a escola deseja alcançar em termos educacionais. De acordo com Santana (2019), o PPP é fundamental para planejar as atividades do ano letivo, reformular as condições de implementação do currículo, guiar o processo avaliativo e evidenciar a capacidade da escola de se adaptar às necessidades da comunidade. Além disso, a implementação desse projeto serve como base para lidar com diversas dificuldades que surgem no ambiente escolar, influenciando de maneira estratégica os índices de repetência, indisciplina e evasão. Assim, promove melhorias significativas ao permitir o desenvolvimento de novas práticas que atendam às demandas pedagógicas e políticas da instituição.
Ao considerar o fator tempo, o Projeto Político e Pedagógico deve ser encarado como uma maneira de concretizar no presente os ideais do futuro. Isso implica superar práticas tradicionais que afetam diretamente a autonomia dos indivíduos na escola. Essa superação deve ser perseguida incansavelmente, pois é nesse contexto de incerteza que muitas conquistas poderão ser alcançadas a médio e longo prazos. O projeto político e pedagógico também atua como um meio de transformação, pois cada superação representa a adoção de uma nova maneira de compreender e refletir sobre os desafios do ensino e aprendizagem. Contudo, as mudanças não ocorrerão de maneira abrupta, mas serão influenciadas pela atuação colaborativa de todos os membros da comunidade escolar (Cunha, et al. 2021).
Para Vasconcelos (2002), o projeto define não apenas os objetivos e as ações a serem implementadas pela instituição de ensino, mas também estabelece ligações significativas com aspectos políticos e pedagógicos. No aspecto político, pode-se afirmar que o PPP está associado ao compromisso com a transformação social promovida por meio da educação. Ele adquire uma dimensão política na medida em que o processo de ensino e aprendizagem é moldado por múltiplas interações realizadas coletivamente. Ademais, a execução das atividades educacionais ocorre em função da interação com a comunidade, além de órgãos reguladores da educação e diretrizes gerais e específicas que contêm uma essência política fundamental.
No âmbito pedagógico, o PPP está intrinsicamente ligado à orientação dos processos de ensino e aprendizagem. Através da pedagogia institucional, a escola visa atender às necessidades da comunidade. Ao afirmar que o projeto contém um conteúdo pedagógico, implica reconhecer que as iniciativas educativas resultam de práticas que promovem reflexão e transformação no processo de ensino, enfocando atividades que propiciem o desenvolvimento integral dos estudantes e realcem a importância da profissão docente, oferecendo as condições necessárias para que se alcance os objetivos contidos no documento. A citação a seguir apresenta mais detalhes sobre os aspectos políticos e pedagógicos do PPP:
O PPP considera a escola como um espaço de formação de cidadãos conscientes, responsáveis e críticos, que atuarão individual e coletivamente na sociedade, modificando os rumos que ela vai seguir. Pode ser entendido como a sistematização, nunca definitiva, de um processo de Planejamento Participativo, que se aperfeiçoa e se concretiza na caminhada, que define claramente o tipo de ação educativa que se quer realizar. É um instrumento teórico-metodológico para a intervenção e mudança da realidade. É um elemento de organização e integração da atividade prática da instituição neste processo de transformação (Vasconcellos, 2014, p.169).
Se o Projeto Político e Pedagógico representa um instrumento de intervenção política e pedagógica, é fundamental que apresente a trajetória da instituição de ensino, os desafios cotidianos enfrentados e a dinâmica específica que conecta educadores, alunos e a comunidade. Essa descrição detalhada permitirá que diversas ações futuras sejam planejadas e organizadas, favorecendo uma integração que se compromete com o progresso e autonomia escolar. A elaboração desse panorama da realidade escolar para o planejamento das atividades pedagógicas demonstra que a simples reprodução de modelos de projetos políticos de outras instituições pode ser um obstáculo para que a escola atinja pleno desenvolvimento. Mesmo porque, a melhoria das práticas educativas requer uma reflexão clara sobre a direção a ser seguida.
Partindo da perspectiva de que o Projeto Político-Pedagógico é fruto de uma construção coletiva, Oliveira (2016) destaca que esse documento possui os seguintes objetivos: facilitar e sistematizar as atividades curriculares; intermediar as decisões tomadas durante o planejamento escolar; garantir o monitoramento dos processos de avaliação; oferecer autonomia aos estudantes; e reconhecer a importância do trabalho dos profissionais da educação. A autora ainda ressalta que o projeto orienta as ações da escola, direcionando os planos futuros com base em transformações que ocorrem no presente. O PPP contempla ações de curto, médio e longo prazo ao sugerir modificações nas práticas escolares em diferentes aspectos, como currículo, conteúdos disciplinares e nas funções desempenhadas por cada indivíduo. A concepção de uma escola futura desejada por educadores e pela comunidade geralmente determina as diretrizes presentes no projeto.
Considerando tudo o que foi apresentado até agora, o PPP pode ser compreendido de diversas maneiras. No entanto, há um aspecto que une essas diferentes definições: o PPP é visto como um documento que estabelece modificações atuais visando uma reestruturação política e pedagógica no futuro. Diante disso, é possível afirmar que suas contribuições para a formação e desenvolvimento da instituição escolar são diversas e, portanto, essenciais para garantir a autonomia, como no caso da educação inclusiva. E é justamente sobre essa questão que a próxima seção do texto se debruça.
IMPACTOS POSITIVOS DO PROJETO POLÍTICO E PEDAGÓGICO PARA A FORMAÇÃO DO ALUNO COM DEFICIÊNCIA
Apesar dos diversos obstáculos, o Projeto Político-Pedagógico é essencial para guiar as práticas da educação inclusiva nas instituições de ensino, a partir da colaboração de todos os membros da comunidade escolar. Um de seus objetivos importantes é garantir que alunos com deficiência tenham acesso a políticas e abordagens pedagógicas que favoreçam a formação de indivíduos autônomos, cientes de seus direitos à igualdade, que devem ser exercidos tanto no ambiente escolar quanto fora dele, por meio da convivência social. Nesse contexto, é responsabilidade do PPP materializar uma nova cultura na escola, que valorize a liberdade de pensamento, rejeitando qualquer forma de segregação e preconceito entre os integrantes da educação regular e especial. Contudo, essa mudança de atitude não ocorre de forma simples, pois exige a superação de certas resistências enraizadas no cotidiano das instituições de ensino.
Para que se possa promover a educação inclusiva e reforçar a autonomia dos alunos com deficiência, é necessário que o PPP seja desenvolvido e implementado com base em esforços conjuntos e no comprometimento da comunidade escolar. Entre os aspectos que precisam ser considerados em sua elaboração, destacam-se: a estrutura organizacional da escola, a infraestrutura disponível e a acessibilidade; a proposta de práticas educativas que favoreçam o progresso do aluno, integrando a educação especial e a regular; os princípios, valores e metas da ação docente inclusiva; a disponibilidade de recursos e metodologias empregadas no processo de aprendizagem; além da criação de uma estratégia de ensino e aprendizagem específica que atenda às particularidades do público atendido pela educação inclusiva (Padilha, 2002).
A implementação da educação inclusiva fundamenta-se na compreensão de que o projeto político pedagógico (PPP) desempenha um papel essencial ao direcionar as ações institucionais voltadas para pessoas com deficiência, incluindo propostas específicas, metodologias e abordagens curriculares que atendam às suas necessidades. Para que isso ocorra, o PPP deve ir além de simplesmente explicar o conceito de educação inclusiva e seu significado para esse grupo. Na verdade, é fundamental que o projeto político se transforme em ações práticas, orientando tanto educadores da educação especial quanto do ensino regular sobre como promover o pleno desenvolvimento e a autonomia dos estudantes envolvidos na educação escolar. Isso significa superar a percepção do PPP como mero documento formal:
O PPP não pode ser visto apenas como um documento formal a ser encaminhado às autoridades, mas como um instrumento, cuja função seria promover reflexão, movimento e uma nova postura da escola rumo a uma educação inclusiva que preconize a aprendizagem de todos. Precisa atender às políticas inclusivas vigentes de modo a permear todos os espaços educativos. Apesar de as escolas ainda não contemplarem, na íntegra, todas as proposições legais atuais, é preciso considerar que este é um processo histórico e que, gradativamente, o contexto escolar e social irá solicitar ações inclusivas não só em seus registros, mas também nas ações específicas (Cunha et al. 2021, p. 14).
Como se destaca, o PPP deve prever as demandas dos estudantes da educação especial para facilitar a atuação profissional das diversas equipes escolares, incluindo gestão, ensino e suporte. Para isso, é fundamental que os profissionais do ensino, na função de agentes transformadores da educação, assumam a responsabilidade de debater coletivamente quais são as necessidades dos alunos com deficiência e como elas devem ser detalhadas no documento. É importante ressaltar que o Projeto Político Pedagógico possui limitações em sua abordagem, tornando inviável abranger todas as questões que permeiam a escola. Por isso, é essencial que sejam considerados os aspectos mais fundamentais para a construção de uma educação inclusiva que esteja refletida nesse documento.
De acordo com Nascimento (2022), a criação do PPP apresenta-se como um desafio significativo para as escolas, pois modificar o seu conteúdo demanda uma colaboração complexa que, muitas das vezes, implica em romper com práticas tradicionais ainda presentes nas instituições de ensino. Diante disso, pode-se afirmar que desenvolver estratégias para atender o público da educação especial é essencial para alinhar as discussões e, a partir disso, estabelecer diretrizes que guiarão as reformas no projeto. É crucial que os profissionais encarregados da revisão do PPP busquem absorver a ideia de que um projeto inclusivo não se limita a discutir conceitos, mas sim aquele que transforma essas ideias em uma realidade cotidiana. Apenas dessa forma o projeto poderá proporcionar benefícios tanto para os alunos com deficiência quanto para a comunidade escolar diretamente envolvida nas questões pedagógicas e políticas.
Dentro da estrutura do PPP, é essencial incluir a estratégia a ser aplicada junto às crianças com deficiência, contemplando as metodologias, as práticas educativas, as adaptações no currículo e as articulações entre os profissionais da gestão, os docentes e as famílias. Não se deve, contudo, limitar essas estratégias apenas aos estudantes desse grupo específico. Isso porque a inclusão escolar é um processo que visa atender a todas as necessidades dos que compartilham a escola, e não apenas às exigências dos alunos com deficiência. Aspectos como a superação de obstáculos, a luta contra preconceitos e a eliminação da segregação devem ser parte integrante do projeto de educação inclusiva exposto no PPP, sem se restringir exclusivamente aos alunos com deficiência:
Entende-se que no PPP devem estar descritas as atividades e ações de aprendizagem que levem em consideração as diferenças individuais sem assumirem uma abordagem homogeneizadora. É necessário respeitar a singularidade de cada criança e visualizá-la ao mesmo tempo de forma holística, procurando desenvolver espaços acessíveis a todas de forma a promover a aprendizagem com a construção de ambientes planejados intencionalmente que favoreçam a autonomia. Diante disso, a construção do projeto deve ser feita, desenvolvida e avaliada de forma conjunta, abordando as práticas que promovam a equidade entre todas as crianças e oportunizando crescimento e desenvolvimento para aqueles educandos com deficiência (Santos et al., 2022, p. 1195).
A educação inclusiva se manifesta nas metodologias, estratégias de ensino e adaptações pedagógicas que a instituição escolar considera essenciais para o aluno com deficiência, as quais devem ser detalhadas no Projeto Político Pedagógico (PPP). Portanto, é fundamental que as escolas ofereçam acesso a diferentes formas de inclusão, com o objetivo de promover a autonomia e a aquisição de conhecimentos que possam impulsionar o desenvolvimento dos alunos com deficiência. Refletir sobre essas transformações e integrá-las ao projeto não é uma tarefa simples, pois exige uma participação política abrangente. Entretanto, essa iniciativa é prioritária considerando os benefícios a serem alcançados por todos os indivíduos que utilizam a escola e suas práticas educativas cotidianas.
A inserção cada vez mais abrangente da educação inclusiva na escola regular impôs novas responsabilidades aos educadores no que diz respeito a estabelecer as orientações pedagógicas no Projeto Político e Pedagógico. Esse fenômeno se deve, em parte, à complexidade com que o assunto da inclusão é abordado nas escolas públicas. As orientações contidas nesse documento vão além de meros conceitos, devendo enfatizar o compromisso da escola com essa temática, promovendo uma visão coletiva entre todos os participantes da comunidade. A educação inclusiva deve estar não apenas mencionada no documento, mas também ser acompanhada por ações que tragam benefícios ao público atendido.
Entretanto, conforme destaca Loredo (2011), a avaliação de muitos projetos pedagógicos de escolas públicas indica que, apesar de ser um documento em constante evolução, a maioria delas não realiza atualizações regularmente devido às questões ligadas à dinâmica do processo de ensino e aprendizagem e as resistências dos próprios educadores. Assim, no que tange às partes que compõem o projeto político e pedagógico, verifica-se que tais instituições ainda falham em detalhar os objetivos e compromissos com relação a educação inclusiva e as demandas que precisam ser atendidas pelas escolas para que o aluno com deficiência seja escolarizado de forma plena, não apenas na teoria, mas numa perspectiva holística.
Portanto, diante de todas as questões apresentadas, ressalta-se a importância de integrar o processo de inclusão às ações estratégicas, políticas e pedagógicas da instituição de ensino. Embora se reconheça a existência de diversas barreiras que afetam essa construção cotidiana, é essencial que o projeto alcance um alto nível de eficácia, refletindo-se na oferta de serviços educacionais que promovam a autonomia e o desenvolvimento total da pessoa com deficiência. Além disso, é fundamental desenvolver práticas educativas que possibilitem a elaboração de um Projeto Político Pedagógico (PPP) dinâmico, que possa ser ajustado conforme as necessidades desse público. Somente por meio dessa abordagem o direito a uma educação igualitária poderá ser efetivado.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao concluir a pesquisa, ficou evidente que a criação do Projeto Político e Pedagógico resulta da integração de múltiplos fatores e práticas educacionais que são materializadas nas instituições de ensino. Para promover a autonomia e o desenvolvimento integral de professores e alunos, é crucial que as iniciativas da escola estejam direcionadas a um enfoque político e pedagógico. Assim, no que diz respeito aos alunos com deficiência, essa implementação se torna ainda mais significativa, considerando as diversas questões ligadas à inclusão no ensino regular. Mesmo porque, é vital garantir a efetivação de um documento que servirá de base para o fortalecimento das práticas inclusivas, atuando como um contrapeso a eventuais desigualdades que possam surgir no ambiente escolar.
Observou-se, também, que apesar das dificuldades enfrentadas nas instituições de ensino, o Projeto Político-Pedagógico é fundamental para direcionar os objetivos e as práticas da educação inclusiva nas escolas, envolvendo todos os integrantes da comunidade escolar. Uma de suas funções é assegurar que alunos com deficiência tenham acesso a políticas educacionais que favoreçam a formação de indivíduos autônomos, cientes de seus direitos à igualdade, que devem ser exercidos tanto na escola quanto na sociedade. Nesse contexto, é dever dos educadores implantar um PPP na escola sob a perspectiva de uma nova cultura fundamentada na igualdade, eliminando qualquer forma de segregação e preconceito entre os membros da comunidade escolar. Porém, verificou-se que essa transformação não ocorre de maneira simples, pois exige a superação de resistências históricas que estão estabelecidas no ensino público.
As análises realizadas permitiram entender que o Projeto Político e Pedagógico deve ser efetivado com a participação de toda a comunidade escolar. Entre os aspectos a serem atendidos, destacam-se: a criação de uma instituição bem organizada, que ofereça infraestrutura e acessibilidade; a execução de práticas educativas que promovam o desenvolvimento dos alunos, integrando a educação especial à educação regular; a adoção de valores, princípios e objetivos da prática docente inclusiva; a disposição de recursos e metodologias no processo de construção do conhecimento escolar; além da criação de uma abordagem de ensino e aprendizagem específica para atender às necessidades singulares do público da educação inclusiva. Assim, espera-se que as discussões tenham possibilitado uma ampliação dos conhecimentos sobre o tema, o qual poderá ser retomado em outras reflexões posteriores.
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