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Resumo
INTRODUÇÃO
Como Deus é infinito, e nós, finitos e limitados, jamais poderemos compreendê-lo de forma tão absoluta. Nesse sentido, podemos dizer que Deus é incompreensível, ou seja, “que não pode ser plenamente compreendido”. Esse sentido precisa ser claramente distinguido do significado mais comum, “que não pode ser compreendido”.
Não é verdade dizer que Deus não pode ser compreendido, mas sim, dizer que ele não pode ser compreendido plena ou exaustivamente; embora não possamos conhecer exaustivamente a Deus, podemos conhecer coisas verdadeiras sobre ele, de fato, tudo o que as escrituras nos falam sobre Deus é verdadeiro. É verdade dizer que Deus é amor(1 João. 4.8), que Deus é luz(1 João. 1.5), que Deus é Espírito(João 4.24), que Deus é justo ou reto(Romanos 3.26), que Deus é bom(Salmos 100.5), que Deus é Fiel(1 Coríntios 10.13) e assim por diante.
Ainda mais significativo é perceber que conhecemos o próprio Deus, e não meramente fatos sobre ele ou atos que ele executa. Fazemos distinção entre conhecer fatos e conhecer pessoas no nosso uso corriqueiro da língua. Seria verdadeiro dizer que conhecemos muitos fatos do presidente dos Estados Unidos, mas não seria verdade se dissesse que conhecemos o presidente.
Dizer que conhecemos implicaria que já o encontramos e conversamos com ele, e que com ele tenhamos pelo menos algum grau de relacionamento pessoal.
O fato de conhecermos o próprio Deus é demonstrado ainda pela percepção de que a riqueza da vida cristã envolve um relacionamento pessoal com Deus e esse relacionamento é a maior de todas as bênçãos da vida cristã, pois através dos seus exemplos de bondade, amor, justiça, misericórdia, vai nos motivar a sermos melhores cidadãos numa sociedade que caminha cada dia pior com alto índice de assaltos, homicídios, latrocínios, corrupção, matricídio, patricídio, mentiras; aumentando mais a cada ano que passa.
É um Deus cujas paixões devemos imitar para toda a eternidade, como nosso Criador, temos que odiar o pecado e nos alegrar na sua justiça.
Muito se pode dizer de um ser tão grande como Deus, mas facilitaremos a nossa tarefa se classificarmos os seus atributos. Compreender a Deus em sua plenitude seria tão difícil como encerrar o Oceano Atlântico numa xícara; mas ele se tem revelado a si mesmo o suficiente para esgotar a nossa capacidade.
A classificação seguinte talvez nos facilite a compreensão:
Neste artigo vamos nos ater na primeira parte, ou seja: os Atributos Naturais.
DESENVOLVIMENTO
Espiritualidade. Deus é Espírito. (João 4.24). Deus é Espírito com personalidade; ele pensa, sente e fala; portanto, pode ter comunhão direta com suas criaturas feitas à sua imagem. Sendo Espírito, Deus não está sujeito às limitações às quais estão sujeitos os seres humanos dotados de corpo físico. Ele não possui partes corporais; sua pessoa não se compõe de nenhum elemento material, e não está sujeito às condições de existência natural. Portanto, não pode ser visto com os olhos naturais nem apreendido pelos sentidos naturais.
Isto não implica que Deus leve uma existência sombria e irreal, pois Jesus se referiu à “forma” de Deus. (João 5.37; vide Filipenses 2.6.)
Deus é uma pessoa real, mas de natureza tão infinita que não se pode apreendê-lo plenamente pelo conhecimento humano, nem tampouco satisfatoriamente descrevê-lo em linguagem humana.
Deus é incomensurável e Incomensurabilidade é o infinito quando aplicado ao espaço. Assim como é impossível imaginar a forma de Deus, também é impossível medir, pesar ou fazer algum cálculo a respeito de Deus.
Não existem números ou expressões que possam nos fazer compreender Deus(Salmos. 71.15; 40.5 e 139.6,17,18). Medida nenhuma pode dar uma idéia da sua grandeza(Jó. 11.9; 1 Reis 8.27).
Imutabilidade. Esse atributo de Deus é também chamado de inalterabilidade, e, Podemos definir a imutabilidade de Deus assim:
Deus é imutável no seu ser, nas suas perfeições, nos seus propósitos e nas suas promessas; porém, Deus age e sente emoções, e age e sente de modos diversos diante de situações diferentes. As quatro palavras-chave (ser, perfeições, propósitos, promessas), usadas como resumo dos aspectos nos quais Deus é imutável, foram tiradas de Louis Berkhof Systematic Theology(Grand Rapids: Eerdmans, 1939, 1941), p. 58.
No Salmo 102, encontramos um contraste entre coisas que podemos julgar permanentes, como a terra ou os céus, de um lado, e Deus, do outro.
Desde a antiguidade fundaste a terra, e os céus são obra das tuas mãos. Eles perecerão, mas tu permanecerás; todos eles se envelhecerão como um vestido; como roupa as mudará, e ficarão mudados. Porém tu és o mesmo, e os teus anos nunca terão fim. (Salmos 102.25-27)(Bíblia de Estudo Indutivo. Edição Corrigida e Revisada, Fiel ao Texto Original. Ed. Vida. 1994).
Deus existia antes da criação dos céus e da terra e existirá muito depois da destruição dessas coisas. Deus faz mudar o universo, mas, contrastando com essa mudança, ele é “o mesmo”.
Referindo-se às suas próprias virtudes da paciência, da longanimidade e da misericórdia, diz Deus: “Porque Eu, o Senhor, não mudo; por isso, vós, ó filhos de Jacó, não sois consumidos” (Malaquias. 3.6).
Aqui Deus usa uma afirmação genérica da sua imutabilidade para se referir a alguns aspectos específicos nos quais ele não muda.
O grande teólogo holandês Herman Bavinck observa que o fato de Deus ser imutável no seu ser é de máxima importância para a manutenção da distinção Criador/criatura e para nossa adoração de Deus:
A doutrina de imutabilidade de Deus é da mais alta importância para a religião. O contraste entre ser e vir a ser assinada a diferença entre o Criador e a criatura. Toda criatura está continuamente vindo a ser. É mutável, vive em constante azáfama, busca repouso e satisfação, e encontra repouso em Deus, e só nele, pois só ele é puro ser e não vir a ser. Daí nas escrituras Deus ser muitas vezes chamado a Rocha(Herman Bavinck, The Doctrine od God , trad. Por William Hendriksen, Edimburgo: Banner of Truth, 1977, reimpressão da ed. De 1951, p. 149.)
Será que Deus às vezes muda de idéia? Se, porém, falamos que Deus é imutável nos seus propósitos, surpreendemo-nos intrigados diante de passagens bíblicas em que Deus diz que julgaria o seu povo, mas depois, por causa de orações ou do arrependimento do povo (ou ambas as coisas), acaba-se apiedando e não condena como dissera que o faria.
Entre os exemplos de recuo depois de ameaça de juízo estão a bem-sucedida intervenção de Moisés com oração para evitar a destruição do povo de Israel(Êxodo 32.9-14), o acréscimo de quinze anos à vida de Ezequias(Isaías 38.1-6) e o fato de Deus ter voltado atrás na decisão de julgar Nínive, diante do arrependimento do povo(Jonas 3.4,10). Não serão casos em que os propósitos de Deus de fato mudaram? Os propósitos de Deus afinal não mudaram nesses casos?
Esses exemplos devem todos ser entendidos como expressões verdadeiras da atitude ou intenção presente de Deus diante da situação que existe naquele momento. Se a situação muda, então é claro que a atitude ou expressão de intenção divina irá também mudar. Isso quer dizer somente que Deus reage de modos diversos a situações diferentes.
O exemplo da pregação de Jonas para proclamar: “ainda quarenta dias, e Nínive será subvertida” (Jonas 3.4). a possibilidade de que Deus sustasse o juízo se o povo se arrependesse não é explicitamente mencionada na proclamação de Jonas registrada nas Escrituras, mas está logicamente implícita na advertência: o propósito da proclamação da advertência é provocar o arrependimento. Uma vez havendo o povo se arrependido, a situação era diferente, e Deus reagiu de modo diverso a essa nova situação: “viu Deus o que fizeram, como se converteram do seu mau caminho; e Deus se arrependeu do mal que tinha dito lhes faria e não fez” (Jonas 3.10). Os casos de Ezequias e da intercessão de Moisés são semelhantes ao de Jonas citado anteriormente.
Eternidade. A eternidade de Deus pode ser definida assim: Deus não tem princípio nem fim nem sucessão no seu próprio ser, e percebe todo o tempo com igual realismo; ele, porém, percebe os acontecimentos no tempo e age no tempo.
Às vezes essa doutrina é chamada doutrina da infinitude de Deus com respeito ao tempo. Ser “infinito” é ser “ilimitado”, e a doutrina ensina que o tempo não impõe limites a Deus.
Essa doutrina está também associada à imutabilidade de Deus. Se é verdade que Deus não muda, então necessariamente devemos dizer que o tempo não muda a Deus: não tem efeito sobre seu ser, suas perfeições, seus propósitos e suas promessas. Então, isso significa que o tempo não exerce influência, por exemplo, sobre o conhecimento divino. Deus jamais aprende coisas novas nem nada esquece, pois isso significaria uma mudança no seu conhecimento perfeito. Isso implica também que a passagem do tempo nada acrescenta nem nada subtrai ao conhecimento de Deus: Ele conhece todas as coisas passadas, presentes e futuras, e as conhece com igual realismo.
A eternidade de Deus é também afirmada por passagens que abordam o fato de que Deus sempre é ou existe. “Eu sou o Alfa e o Ômega, diz o Senhor Deus, aquele que é, que era e que há de vir, o Todo Poderoso” (Apocalipse 1.8; cf. 4.8).
Também está indicada no ousado uso por parte de Jesus, quando de uma resposta aos seus adversários judeus, de um verbo no tempo presente que sugere contínua existência presente: “Antes que Abraão existisse, EU SOU” (João 8.58). Essa afirmação é em si mesma uma explícita afirmação do nome de Deus, “EU SOU O QUE SOU”, de Êxodo 3.14, nome que também implica contínua existência presente: Deus é o eterno “EU SOU”, aquele que existe eternamente.
Independência. A independência de Deus é definida assim: Deus não precisa de nós nem do restante da criação para nada; porém, tanto nós quanto o restante da criação podemos glorificá-lo e dar-lhe alegria. Esse atributo de Deus é às vezes chamado existência autônoma ou ansiedade(das palavras latinas a se, que significam “de si mesmo”).
As Escrituras, em várias passagens, ensinam que Deus não precisa de parte nenhuma da criação para existir ou para qualquer outra coisa. Deus é absolutamente independente e autossuficiente. Paulo proclama aos homens de Atenas: “O Deus que fez o mundo e tudo o que nele existe, sendo ele Senhor do céu e da terra, não habita em santuários feitos por mãos humanas. Nem é servido por mãos humanas, como se de alguma coisa precisasse, pois ele mesmo é quem a todos dá vida, respiração e tudo mais” (Atos 17.24-25). A implicação é que Deus não precisa de nada da humanidade.
Com respeito à existência de Deus, essa doutrina também nos lembra que só um Deus existe em virtude da sua própria natureza, e que ele jamais foi criado e jamais nasceu. Sempre existiu. Isso se depreende do fato de que todas as coisas que existem foram criadas por ele “Porque todas as coisas tu criaste, sim, por causa da tua vontade” (Apocalipse 4.1); a mesma afirmação se encontra em João 1.3; Romanos 11.35-36; I Coríntios 8.6).
Moisés nos diz que Deus existia antes que houvesse qualquer criação: “Antes que os montes nascessem e se formassem a terra e o mundo, de eternidade a eternidade, tu és Deus” (Salmos 90.2). Também se vê a independência de Deus na sua autodesignação em Êxodo 3.14: “Disse Deus a Moisés: Eu Sou o que Sou”. É também possível traduzir assim essa declaração: “Eu serei o que serei”, mas em ambos os casos subentende-se que a existência e o caráter de Deus são determinados somente por ele, não dependendo de ninguém nem de coisa nenhuma. Isso significa que o ser divino sempre foi e sempre será exatamente o que é. Sem a criação, Deus ainda seria infinitamente amoroso, infinitamente justo, eterno, onisciente, trinitário e assim por diante.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Há uma impossibilidade de se conhecer um Deus que é Infinito, porém, através daquilo que é próprio do Ser (Atributos), Ele se dá a conhecer, mediante a revelação compreensível das Escrituras os vários aspectos do seu caráter, para todos nós seria desesperador não conhecer, não ter contato com aquele em quem acreditamos.
Conhecendo os atributos pertinentes a Deus, não podemos dizer que temos experiências com Ele, contudo, a partir de um mínimo de informações sobre este Deus, nos sentimos confortáveis de entender um pouco mais da essência do Todo-poderoso e de podermos aprender a sermos pessoas melhores num mundo que os valores estão sendo distorcidos em quase tudo que vemos e ouvimos.
O caminho é retornar ao Criador, buscando aperfeiçoar nos atributos de relacionamento (Misericórdia, perdão, bondade, amor, etc.), para que o ser humano passe a ser mais humano, dando fim a tanta crueldade que presenciamos.
Assim como disse o profeta Oséias “Conheçamos e prossigamos em conhecer ao Senhor” (Oséias 6.3), a nossa jornada pela busca incessante ao conhecimento de Deus, só findará quando estivermos com ele na eternidade, por ora, fiquemos com o apóstolo Paulo que disse: “Visto que o que de Deus se pode conhecer, neles se manifesta, porque Deus lhes manifestou”.
A nossa mente é finita e limitada, talvez por isso a dificuldade de entender a Deus como um todo e perfeito em seus atributos. Tudo o mais pode morrer num instante; Deus necessariamente existe para sempre.
ANEXO
Abreviaturas
cf Confira (conforme) KJV King James Version
ARA Almeida Revista e Atualizada NVI Nova Versão Internacional
ACF Almeida Corrigida, Fiel STB Sociedade Trinitariana do Brasil
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