Autor
Resumo
INTRODUÇÃO
A cultura digital tem se caracterizado por seu potencial segregador, promovendo transformações significativas nas formas de comunicação, ensino e produção do conhecimento. É possível se observar a ascensão de dispositivos e recursos que possibilitam a reconfiguração de tempos e espaços educativos, sobretudo com a integração das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC), aliadas a metodologias inovadoras, em contraposição a abordagens pedagógicas mais tradicionais.
Embora o acesso às TDICs esteja cada vez mais democratizado, essa nova configuração também tem gerado desafios, especialmente quanto à adequação das práticas pedagógicas às exigências contemporâneas. Muitas vezes, emergem tendências rotuladas como inovações, que se disseminam no meio educacional sem respaldo teórico consistente, sem uma abordagem didática fundamentada, ou mesmo sem condições adequadas para sua implementação efetiva (Selwyn, 2021).
Ensinar e aprender em meio à cultura digital exige atenção cuidadosa, de modo que as práticas não se tornem superficiais ou desprovidas de embasamento, ao contrário, devem responder às necessidades emergentes do século XXI, contribuindo para a formação de sujeitos críticos e atuantes. Incentivando a criação de ambientes educacionais mais dinâmicos, flexíveis e contextualizados demanda uma atuação docente ativa e reflexiva, com mediações pedagógicas adequadas.
Dessa forma, compreende-se que a simples inserção de tecnologias não assegura, por si só, a qualidade dos processos educativos, a prática docente, por meio da mediação intencional e planejada, exerce papel central na construção de aprendizagens significativas. Isso suscita a seguinte indagação: de que maneira os conceitos de mediação pedagógica e mediação tecnológica podem dialogar com os processos de ensino na cultura digital?
A presente investigação propõe discutir essas noções, a partir de uma análise teórica que visa refletir sobre os impactos da cultura digital na prática docente. Trata-se de uma pesquisa de natureza qualitativa, ancorada em revisão bibliográfica (Flick, 2009; Minayo, 2022), cujo objetivo é conceituar e explorar criticamente os elementos que constituem as mediações no contexto educacional contemporâneo. Para tanto, parte-se de uma contextualização conceitual dos termos mediação, mediação pedagógica e mediação tecnológica, articulando essas definições ao papel do professor como mediador no cenário digital atual.
CONCEITUAÇÃO
No campo educacional, diversas discussões e investigações têm explorado os conceitos de mediação pedagógica e mediação tecnológica, que constituem os eixos centrais deste artigo. A compreensão desses conceitos é essencial para a atuação docente, especialmente em tempos de cultura digital, onde é necessário repensar as formas de ensinar e aprender, para iniciar esse debate, é imprescindível delimitar o significado do termo “mediação”.
Segundo Peixoto e Santos (2018, p. 422), o conceito de mediação pode assumir duas acepções fundamentais: “1) ação intermediária com o propósito de promover conciliação ou acordo entre duas partes; ou 2) relação contínua entre fatos, ações e experiências, cuja tensão impulsiona uma transformação do estado original”. Os autores ressaltam que essas definições servem de base para a aplicação do termo em distintas áreas do conhecimento, como educação, comunicação, antropologia, artes e cultura, agregando múltiplos sentidos ao seu uso.
Nesse contexto, a mediação pode ser compreendida como um processo que facilita a interação entre sujeitos e objetos diversos. Pode-se citar como exemplo a tecnologia digital, que intermedeia relações sociais nas redes, o docente que atua como facilitador em sala de aula, ou ainda o livro que serve como ponte para o acesso ao saber, assim, mais do que promover acordos, a mediação visa impulsionar mudanças e avanços, rompendo com o status quo (Carvalho; Silva; Mill, 2018).
A mediação, portanto, compreende tanto ações de conciliação quanto dinâmicas que provocam tensões e conflitos produtivos, capazes de gerar deslocamentos e transformações. Mediar implica atuar com intencionalidade, promovendo o desenvolvimento a partir do estágio atual do sujeito, buscando sempre o avanço do processo educativo. Como apontam Peixoto e Santos (2018), a construção do conceito de mediação é influenciada por pensadores como Hegel, Marx e Vygotsky, na perspectiva hegeliana, trata-se de um processo dialético que articula o imediato e o mediato, estabelecendo uma síntese a partir de elementos opostos.
Na abordagem marxista, a mediação é concebida como um processo histórico que resulta da práxis humana, já na visão sócio-histórica de Vygotsky, a mediação é essencial à aprendizagem, sendo operada por meio de instrumentos e signos historicamente construídos (Vygotsky, 2018; Rego, 2021).
Essa última abordagem destaca que os processos mentais superiores e a ação humana são mediados por artefatos diversos, sejam eles materiais, como ferramentas, ou simbólicos como a linguagem e os sistemas de signos. A mediação, nesse sentido, está presente em todas as dimensões da existência humana, e é por meio dela que o sujeito se apropria do conhecimento e se relaciona com o mundo. A partir dessa compreensão, o papel do professor como mediador ganha centralidade no processo educacional.
Como observa Silva (2020), a mediação se concretiza na prática pedagógica à medida que o educador mobiliza instrumentos culturais, como signos e tecnologias, para facilitar a apropriação do saber científico pelos estudantes. Discutir mediação no contexto educacional exige, portanto, compreender a dinâmica entre o sujeito e o objeto de conhecimento, atentando para os modos como o aprendiz interage, constrói sentido e internaliza o conteúdo, nessa perspectiva, a mediação estabelece interfaces com a didática, contribuindo para a formulação de estratégias pedagógicas mais eficazes (Peixoto; Santos, 2018).
De acordo com Peixoto (2016), a complexidade da mediação reside na articulação entre sujeito, objeto e as múltiplas instâncias que os conectam, como a linguagem, a tecnologia, o contexto sociocultural e histórico em que se inserem. A autora enfatiza: “[…] a mediação inclui a linguagem, a tecnologia, o professor, o aluno, o momento histórico. […] Essa abordagem exige pensar a mediação como relação e não como coisa ou objeto” (Peixoto, 2016, p. 373).
Nessa linha, Nunes e Silveira (2019) destacam que o ato de aprender está vinculado ao reconhecimento das potencialidades e singularidades dos estudantes, à sua ação frente aos desafios propostos e à mediação realizada por outrem. O conhecimento não se dá de forma isolada, mas emerge das interações, das trocas e das relações mediadas, nesse sentido, a mediação pedagógica exercida pelo professor, associada à mediação tecnológica proporcionada pelas Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDICs), assume papel crucial em um cenário educacional permeado pela cultura digital
AS TDIC E A MEDIAÇÃO TECNOLÓGICA NA CULTURA DIGITAL
No cenário educacional contemporâneo, marcado por intensas transformações tecnológicas, culturais e pedagógicas, cresce a necessidade de compreender criticamente o papel das Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDIC) no processo de ensino e aprendizagem. A cultura digital tem provocado uma reorganização dos tempos e espaços escolares, criando novas possibilidades, mas também gerando tensões, incertezas e desafios. Nesse contexto, o uso das TDIC não deve ser visto como uma cura para os problemas estruturais da educação, tampouco como ameaça à docência tradicional. A questão central está na forma como essas tecnologias são integradas ao cotidiano escolar, mediadas pelo olhar reflexivo e intencional do professor.
Em meio à profusão de discursos que exaltam, ou demonizam, as inovações educacionais, é urgente evitar a adoção ingênua ou deslumbrada das tecnologias, como bem ressalta Brito (2015), às tecnologias não são fins em si mesmas, mas extensões da relação do sujeito com a realidade, permitindo a construção e reconstrução de sentidos e conhecimentos. Elas devem ser compreendidas como artefatos culturais que, inseridos em práticas sociais, podem tanto reproduzir desigualdades quanto promover transformações emancipatórias, a depender da forma como são apropriadas nos contextos pedagógicos.
Ainda segundo Brito (2015), às tecnologias digitais podem atuar como dispositivos de controle, reforçando padrões hegemônicos de consumo e massificação, mas também podem ser utilizadas como ferramentas de emancipação e de produção colaborativa do conhecimento. Essa dualidade exige uma postura crítica, que vá além do determinismo tecnológico e considere os múltiplos fatores como os sociais, culturais, econômicos e pedagógicos, que atravessam o uso das TDIC na educação.
Para o autor Peixoto (2016), ao alertar para os riscos das idealizações extremas, de um lado, a idolatria tecnológica, manifesta na dependência quase simbiótica de dispositivos como celulares e plataformas digitais que pode comprometer a autonomia pedagógica; e de outro, a demonização das tecnologias, que lhes atribui a culpa pelos males da sociedade contemporânea, reduz a complexidade dos processos socioculturais. É preciso, portanto, encontrar um ponto de equilíbrio, que valorize o potencial pedagógico das TDIC sem ignorar suas limitações e implicações éticas, políticas e epistemológicas.
A esse respeito, estudos recentes como o de Alves, Silva e Melo (2022) reforçam a importância de se pensar as tecnologias de forma contextualizada, evitando tanto os extremos de ambos os lados. Para os autores, a mediação pedagógica não pode prescindir da mediação tecnológica, sobretudo em tempos de educação híbrida e flexibilização curricular, eles defendem uma abordagem que valorize a curadoria docente, a intencionalidade pedagógica e a promoção da autoria discente como elementos centrais na integração das TDIC.
Nesse sentido, surge o conceito de mediação tecnológica, que se refere à utilização consciente e planejada das tecnologias, digitais ou analógicas, como parte do processo de ensino, articulando objetivos didático-pedagógicos à prática docente. De acordo com Carvalho, Silva e Mill (2018), esse conceito é fruto de uma aproximação entre os campos da pedagogia, da didática e da tecnologia educacional, a mediação tecnológica, assim, não é sinônimo de uso superficial de mídias ou ferramentas digitais, mas um processo complexo de planejamento, reflexão e apropriação crítica por parte do professor.
A mediação tecnológica se constitui como uma extensão da mediação pedagógica, sendo orientada por critérios que vão além da funcionalidade técnica, pois ela exige que o professor compreenda os contextos em que atua, selecione recursos adequados aos objetivos educacionais e desenvolva práticas que integrem o uso das TDIC de forma significativa e transformadora. Essa perspectiva é corroborada por autores como Moran (2020), que destaca a necessidade de o educador atuar como designer de experiências de aprendizagem, promovendo a articulação entre conteúdos, metodologias e tecnologias de maneira intencional e criativa.
Ainda nesse contexto, Sabota (2017) reforça que as tecnologias não devem ocupar o papel central no processo de ensino, mas atuar como instrumentos que apoiam a mediação docente e contribuem para a construção da aprendizagem significativa. A centralidade deve permanecer no sujeito que aprende, em interação com o professor e os diferentes recursos disponíveis, assim, as TDIC não devem ser vistas como protagonistas, mas como aliadas estratégicas em práticas educativas que visem à transformação social e à emancipação dos sujeitos.
Para evitar o risco de práticas superficiais ou modismos pedagógicos, é essencial que a incorporação das TDIC esteja fundamentada em projetos educacionais coerentes, teoricamente embasados e voltados à promoção de aprendizagens significativas. Os pesquisadores Sgoti e Mill (2020) argumentam que, diante da obsolescência de modelos tradicionais de ensino, ganha força a adoção de práticas pedagógicas híbridas, flexíveis e inovadoras, que dialoguem com a cultura digital e com as demandas de uma sociedade em constante transformação.
O contexto da pandemia de Covid-19 também acelerou esse processo de reconfiguração educacional, revelando tanto a potência quanto os limites das tecnologias digitais. De acordo com Oliveira e Gomes (2023), o ensino remoto emergencial escancarou desigualdades estruturais, mas também impulsionou novas formas de ensinar e aprender, que podem ser aproveitadas para a construção de uma educação mais inclusiva e conectada com a realidade dos estudantes.
Por fim, a mediação tecnológica deve ser compreendida como um campo de práticas e saberes em constante construção, que exige formação continuada dos professores, investimentos em infraestrutura e, sobretudo, uma postura crítica diante das tecnologias. O desafio está em garantir que o uso das TDIC esteja alinhado a projetos pedagógicos emancipatórios, voltados ao desenvolvimento integral dos sujeitos e à democratização do acesso ao conhecimento.
INOVAÇÃO E O USO DE TDIC
Inovar tornou-se uma necessidade constante na educação, sobretudo diante das mudanças aceleradas que caracterizam a contemporaneidade, para estudiosos da área educacional, como Camargo e Daros (2018), a inovação representa uma alternativa importante para transformar os processos de ensino e aprendizagem. Essa inovação pode assumir diferentes formas, como a introdução de novas mídias e dispositivos que modificam as relações entre os sujeitos e o conhecimento, ou por meio da adoção de métodos e estratégias pedagógicas mais eficazes e atuais.
Ao longo das últimas duas décadas, a sociedade vivenciou profundas transformações impulsionadas, sobretudo, pelas inovações tecnológicas digitais, que surgem de forma acelerada (Kenski, 2023). Tais transformações impactam não apenas o aspecto social, político e econômico, mas também a forma como o conhecimento é acessado, mediado e produzido, influenciando diretamente o cotidiano escolar e a prática docente (Libâneo, 2020; Sabota, 2022), além de todo esse cenário, a tecnologia tornou-se mais compacta, ágil e acessível, integrando-se ao cotidiano das pessoas de maneira quase imperceptível.
Nessa realidade de cultura digital, surgem dispositivos cada vez mais potentes e funcionais e como afirmam Berribili et al. (2021), os avanços tecnológicos ocorrem de forma tão rápida que muitas vezes não percebemos o ritmo com que novos recursos surgem, são incorporados e rapidamente substituídos. A efemeridade das tecnologias digitais impacta diretamente a forma como vivemos e aprendemos, moldando novos padrões de comportamento, consumo e aprendizagem.
A cultura digital, conforme aponta Kenski (2023), é predominantemente virtual, permitindo que os usuários interajam em tempos e espaços distintos de sua presença física e a ruptura com a linearidade de tempo e espaço cria novas possibilidades para o ensino, favorecendo a ubiquidade e a mobilidade que são características fundamentais no processo de construção do conhecimento no século XXI. Essas transformações, embora cheguem lentamente à educação formal, já impulsionam mudanças nas práticas pedagógicas, exigindo dos professores o desenvolvimento de novas competências para lidar com a mediação tecnológica no processo educacional (Kenski, 2023; Sabota, 2022).
Nesse contexto, destaca-se a importância do letramento digital docente, Sgoti e Mill (2021) enfatizam que é necessário desenvolver habilidades que permitam acompanhar as mudanças nos modos de comunicação e informação, o professor deve estar preparado para integrar de forma crítica e eficaz as TDIC no ambiente escolar, promovendo uma aprendizagem mais significativa e alinhada com a realidade dos estudantes.
No entanto, o uso das tecnologias digitais não está isento de desafios, Moran (2023) alerta para as tensões decorrentes da velocidade com que surgem novos recursos, bem como para a resistência por parte de alguns docentes e discentes quanto à adoção dessas tecnologias. Situações como o ensino remoto emergencial durante a pandemia de Covid-19 escancararam a necessidade urgente de repensar as práticas educativas e o papel da tecnologia nesse processo.
Segundo o autor Sabota (2022), a cultura digital demanda mudanças substanciais na forma de ensinar e aprender, para isso é essencial que os professores tenham acesso à formação continuada e à atualização constante, com espaço em sua jornada de trabalho para se dedicarem ao aprimoramento profissional. Autonomia e fluência digital tornam-se fundamentais para que os docentes possam explorar o potencial pedagógico das TDIC. Libâneo (2020) reforça que professores e alunos precisam aprender a interpretar e produzir sentidos por meio de múltiplos códigos, sendo eles verbais, visuais, sonoros e gestuais.
Compreender essas linguagens permite uma maior conexão entre os educadores e os educandos, facilitando a mediação tecnológica e fortalecendo os vínculos na aprendizagem, Sabota (2022) ressalta que, para isso, o professor deve ser capaz de selecionar, refletir e se apropriar criticamente das ferramentas digitais utilizadas em sua prática.
Ademais, o uso consciente das TDIC amplia as formas de interação pedagógica, permitindo novas dinâmicas no processo de ensino-aprendizagem, já Kenski (2023) destaca que essas tecnologias possibilitam experiências educacionais mais dinâmicas e contextualizadas, alinhadas com as demandas de uma sociedade em constante transformação, inovar, portanto, é essencial para que a educação responda aos desafios do presente e do futuro.
Moran (2023) observa que as tecnologias digitais ampliam as oportunidades de autoria, compartilhamento e monitoramento da aprendizagem, elas também contribuem para a integração entre espaços formais e informais de aprendizagem, promovendo uma abordagem mais aberta, colaborativa e interativa, com isso, surgem novas expectativas por parte dos estudantes em relação à utilização das TDIC em sala de aula, demandando práticas mais envolventes e personalizadas.
Sobre o assunto, Sabota (2022) destaca a importância de explorar as ferramentas digitais para encurtar distâncias e flexibilizar os tempos e espaços de aprendizagem. A grande quantidade de conteúdos disponíveis exige do professor uma atuação crítica, capaz de diferenciar o que de fato contribui para o aprendizado dos estudantes. Nesse sentido, Lima e Moura (2023) ressaltam que não é necessário ser um especialista em tecnologia, mas sim compreender como os recursos digitais podem enriquecer o processo educativo.
A curadoria de conteúdos digitais, aplicativos e plataformas deve ser feita com base em objetivos pedagógicos claros, Berribili et al. (2021) alertam que muitos conteúdos disponíveis online são produzidos com fins lucrativos, o que pode comprometer sua qualidade e intencionalidade educativa. Por isso, é fundamental que o professor analise criticamente o material que utiliza e ensine os estudantes a fazerem o mesmo, promovendo uma educação mais consciente e reflexiva.
O uso das TDIC pode contribuir significativamente para a personalização da aprendizagem, rompendo com modelos tradicionais e favorecendo o desenvolvimento de competências de forma mais individualizada. Conforme apontam Sunaga e Carvalho (2022), as tecnologias permitem que os estudantes aprendam de forma ativa, por meio da construção e reconstrução de saberes, nesse cenário, o papel do professor é orientar os estudantes para que usem a tecnologia de maneira crítica, ética e produtiva (Lima; Moura, 2023).
Diante dessas possibilidades, é indispensável o planejamento pedagógico cuidadoso, que considere a intencionalidade educativa e as especificidades de cada contexto. A inserção das TDIC na prática docente deve ir além do modismo tecnológico, sendo parte de uma proposta pedagógica coerente com os desafios da educação na cultura digital. Essa perspectiva amplia horizontes e aponta caminhos para práticas mais flexíveis, híbridas e adaptadas às novas realidades escolares.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Vivemos atualmente em uma sociedade marcada por intensas transformações nos modos de viver, aprender e ensinar, em que as noções tradicionais de tempo e espaço vêm sendo continuamente ressignificadas e nesse novo cenário, a educação inserida na cultura digital passa por profundas mudanças que incidem diretamente na forma como ocorre a atuação docente e no modo como os processos de ensino e aprendizagem são concebidos.
Diante desse panorama dinâmico se observa a coexistência de potencialidades inovadoras e desafios complexos, exigindo dos profissionais da educação uma postura crítica, reflexiva e propositiva, a prática pedagógica no contexto digital não pode ser entendida como uma ação simplista ou meramente instrumental, em que o uso das Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDIC) ocorre de forma acrítica e descontextualizada.
A atuação docente vai muito além do simples encontro entre professor e aluno, ou da exposição direta de conteúdos, ela envolve processos complexos de mediação, que exigem planejamento, intencionalidade e fundamentação teórica. Nesse sentido, torna-se indispensável compreender que a mediação não se resume à inserção de recursos tecnológicos, mas sim à construção de um ambiente de aprendizagem significativo, onde o professor atua como facilitador e articulador do conhecimento.
A mediação pedagógica, nesse contexto, deve ser compreendida como uma prática intencional, estruturada e ancorada em objetivos educacionais bem definidos, trata-se de uma ação que se expressa no modo como o professor organiza os conteúdos, conduz as interações, promove a participação ativa dos estudantes e favorece a construção coletiva do conhecimento. Essa mediação é, portanto, uma dimensão essencial do trabalho docente, sendo o elo entre os saberes escolares e os sujeitos que os constroem.
Paralelamente, a mediação tecnológica surge como uma extensão da mediação pedagógica, tendo como alicerce o planejamento didático, a clareza dos objetivos educacionais e a seleção criteriosa de tecnologias, sejam digitais ou analógicas, que possam potencializar o processo de ensino-aprendizagem. A tecnologia, nesse sentido, não é um fim em si mesma, mas um meio a ser apropriado criticamente, de forma a dialogar com as necessidades do contexto educativo, com os interesses dos estudantes e com os objetivos formativos de cada etapa e modalidade de ensino.
Diante das reflexões propostas ao longo deste trabalho, espera-se fomentar um debate qualificado e instigante sobre os processos de mediação no contexto da cultura digital, a intenção é contribuir com a fundamentação de práticas educativas mais conscientes, responsáveis e alinhadas às demandas da contemporaneidade, que respeitem a complexidade do fazer docente e as especificidades de cada realidade escolar. Além disso, almeja-se promover ações que levem à (re)organização de práticas pedagógicas a partir de novos olhares sobre o tempo e o espaço escolares, valorizando abordagens híbridas, flexíveis, significativas e contextualizadas.
Conclui-se, portanto, que a compreensão ampla e crítica dos conceitos de mediação pedagógica e tecnológica constitui um passo fundamental para o fortalecimento do trabalho docente no contexto da cultura digital. Com intencionalidade, planejamento e condições estruturais adequadas, torna-se possível imaginar e construir caminhos mais promissores para o ensino, capazes de integrar inovação, inclusão e qualidade educacional, dessa forma, a educação pode cumprir de maneira mais plena seu papel transformador, abrindo horizontes para novas possibilidades de aprendizagem e formação cidadã.
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