Estresse ocupacional em professores e intervenções da enfermagem na promoção do bem-estar docente

OCCUPATIONAL STRESS IN TEACHERS AND THE ROLE OF NURSING: EVIDENCE AND STRATEGIES FOR PROMOTING TEACHER WELL-BEING

ESTRÉS OCUPACIONAL EN DOCENTES Y EL ROL DE LA ENFERMERÍA: EVIDENCIAS Y ESTRATEGIAS PARA LA PROMOCIÓN DEL BIENESTAR DEL PROFESORADO

Autor

Ariany Brandão Guerrieri
ORIENTADOR
 Daniel Brito do Nascimento

URL do Artigo

https://iiscientific.com/artigos/363425

DOI

Guerrieri, Ariany Brandão . Estresse ocupacional em professores e intervenções da enfermagem na promoção do bem-estar docente. International Integralize Scientific. v 5, n 47, Maio/2025 ISSN/3085-654X

Resumo

Este artigo analisa as causas e os efeitos do estresse ocupacional entre professores da educação básica, bem como o papel estratégico da enfermagem na promoção do bem-estar docente. Fundamentado em uma revisão bibliográfica sistemática de estudos publicados entre 2022 e 2024, o trabalho identifica os principais fatores de risco, como sobrecarga, violência escolar e ausência de políticas de apoio psicossocial. Os resultados evidenciam a alta prevalência de burnout e transtornos mentais na categoria, além do impacto econômico das licenças médicas no sistema público. Por outro lado, estudos recentes demonstram a eficácia de intervenções da enfermagem, com destaque para programas presenciais e tecnologias de monitoramento da saúde. Conclui-se que estratégias interdisciplinares baseadas em evidências são essenciais para garantir ambientes escolares mais saudáveis e sustentáveis.
Palavras-chave
estresse ocupacional; saúde mental docente; enfermagem no trabalho; burnout; promoção da saúde.

Summary

This article analyzes the causes and effects of occupational stress among primary and secondary school teachers, as well as the strategic role of nursing in promoting teacher well-being. Based on a systematic literature review of studies published between 2022 and 2024, the research identifies key risk factors, including work overload, school violence, and lack of psychosocial support policies. Findings reveal high prevalence rates of burnout and mental disorders among teachers, along with the economic burden of medical leaves on public health systems. On the other hand, recent studies demonstrate the effectiveness of nursing interventions, especially face-to-face programs and digital health monitoring tools. The study concludes that evidence-based interdisciplinary strategies are essential to ensure healthier and more sustainable educational environments.
Keywords
occupational stress; teacher mental health; occupational nursing; burnout; health promotion.

Resumen

Este artículo analiza las causas y los efectos del estrés ocupacional entre docentes de la educación básica, así como el papel estratégico de la enfermería en la promoción del bienestar del profesorado. A partir de una revisión bibliográfica sistemática de estudios publicados entre 2022 y 2024, se identifican los principales factores de riesgo, como la sobrecarga laboral, la violencia escolar y la falta de políticas de apoyo psicosocial. Los resultados muestran una alta prevalencia de burnout y trastornos mentales, además del impacto económico de las licencias médicas en el sistema de salud pública. Por otro lado, estudios recientes evidencian la eficacia de las intervenciones de enfermería, destacando programas presenciales y tecnologías de monitoreo de la salud. Se concluye que las estrategias interdisciplinares basadas en evidencias son fundamentales para construir ambientes escolares más saludables y sostenibles.
Palavras-clave
estrés ocupacional; salud mental docente; enfermería laboral; burnout; promoción de la salud.

INTRODUÇÃO

O estresse ocupacional entre professores configura-se como um grave problema de saúde pública, com repercussões não apenas individuais, mas também no sistema educacional como um todo. A docência é frequentemente classificada como uma das profissões mais estressantes, devido à combinação de altas demandas emocionais, pressão por resultados e, muitas vezes, condições de trabalho inadequadas (Johnson et al., 2005). No Brasil, estudos apontam que mais de 70% dos professores da educação básica relatam níveis elevados de estresse, com cerca de 30% apresentando sintomas de burnout (Carlotto & Palazzo, 2016).

Diversos elementos contribuem para a exaustão física e mental dos professores, incluindo sobrecarga de trabalho, salários baixos, falta de infraestrutura escolar, indisciplina dos alunos e cobranças excessivas por desempenho (Gasparini et al., 2005). Além disso, a falta de reconhecimento social da profissão e a escassez de políticas de apoio agravam o cenário, levando muitos docentes a desenvolverem transtornos como ansiedade, depressão e doenças musculoesqueléticas (Silva et al., 2020).

As consequências do estresse crônico na docência são amplamente documentadas. Pesquisas associam a profissão a maiores índices de hipertensão, distúrbios do sono, síndrome do intestino irritável e problemas vocais (Gomes et al., 2019). Psicologicamente, professores estressados apresentam maior risco de esgotamento emocional, despersonalização e redução da realização profissional, características centrais da síndrome de burnout (Maslach & Leiter, 2016).

Nesse contexto, a enfermagem ocupacional surge como uma área estratégica para a promoção da saúde docente. Profissionais de enfermagem podem atuar na identificação precoce de riscos psicossociais, implementação de programas de saúde laboral e acompanhamento individualizado (Pereira et al., 2022). Sua atuação multidisciplinar permite intervenções baseadas em evidências, alinhadas às diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS, 2022) para saúde mental no trabalho.

Diversas abordagens têm se mostrado eficazes na redução do estresse docente, como:

Programas de mindfulness e redução de estresse baseado em atenção plena (MBSR) (Martínez-Monteagudo et al., 2020).

Terapia cognitivo-comportamental (TCC) em grupo para manejo da ansiedade (Guerra et al., 2018).

Ginástica laboral e ergonomia para prevenção de lesões por esforço repetitivo (Souza & Lombardi Júnior, 2021).

Apesar dos avanços na compreensão do problema, muitas escolas ainda carecem de protocolos estruturados de saúde ocupacional. A implementação de Programas de Promoção à Saúde do Professor (PPSP), com envolvimento de equipes de enfermagem, psicologia e gestão escolar, é fundamental para mudar esse panorama (Santos et al., 2023).

Embora existam pesquisas sobre estresse docente, poucas focam no papel da enfermagem como agente transformador nesse cenário. Este estudo busca preencher essa lacuna, investigando como intervenções de enfermagem podem melhorar a qualidade de vida dos professores e quais estratégias são mais eficazes em diferentes contextos educacionais.

Este artigo tem como objetivo analisar as evidências científicas sobre intervenções de enfermagem no controle do estresse ocupacional docente e propor um modelo de atuação baseado em melhores práticas. A relevância do tema reside na urgência de ações preventivas que preservem a saúde dos educadores, assegurando um ambiente escolar mais saudável e sustentável.

REFERENCIAL TEÓRICO

ESTRESSE OCUPACIONAL E BURNOUT EM PROFESSORES: CONCEITOS E EPIDEMIOLOGIA ATUALIZADA

O estresse ocupacional na docência configura-se como fenômeno multidimensional, caracterizado pela interação entre demandas laborais exacerbadas e recursos insuficientes para enfrentá-las (Cooper; Travaglia, 2021). Estudo longitudinal realizado em 12 estados brasileiros (2020-2023) identificou que 82,7% dos professores da educação básica apresentam níveis clinicamente significativos de estresse, sendo que 43,1% preenchem critérios completos para Síndrome de Burnout segundo os parâmetros da OMS-2022 (Oliveira et al., 2023).

A análise comparativa internacional revela disparidades alarmantes: enquanto países como Finlândia registram prevalência de burnout em 11,2% dos docentes (OECD, 2022), no Brasil esse índice chega a 39,4% – o terceiro mais elevado entre 46 nações pesquisadas (Talis, 2023). Esse cenário reflete, conforme demonstra a pesquisa de Santana et al. (2022), a combinação perversa entre:

  • Jornadas médias de 58,3 horas semanais (contra 38,5h na média OECD)
  • Razão aluno/professor 27% superior à recomendada pela UNESCO
  • Investimento em saúde ocupacional 83% inferior ao de sistemas educacionais de alto desempenho

Ao analisarmos o panorama atual do estresse ocupacional entre professores, torna-se evidente o caráter crônico e multifatorial desse fenômeno. Os dados apresentados por Oliveira et al. (2023), que indicam que 82,7% dos docentes da educação básica sofrem de níveis clinicamente relevantes de estresse, e que 43,1% preenchem os critérios da Síndrome de Burnout segundo a OMS (2022), revelam uma realidade alarmante. Tais números refletem o adoecimento silencioso que permeia a profissão docente, muitas vezes invisibilizado no cotidiano escolar e negligenciado pelas políticas públicas.

A comparação com países como a Finlândia, cujo índice de burnout entre professores é de apenas 11,2% (OECD, 2022), evidencia uma disparidade preocupante. No Brasil, a prevalência chega a 39,4% (Talis, 2023), número que o coloca entre os três piores desempenhos globais. Esses dados escancaram a urgência de repensar a gestão educacional, sobretudo no que se refere às condições de trabalho e ao suporte à saúde mental dos educadores.

A pesquisa de Santana et al. (2022) traz elementos objetivos que agravam esse cenário: jornadas de trabalho excessivas (média de 58,3 horas semanais), número de alunos por professor superior ao recomendado e investimento em saúde ocupacional notoriamente inferior ao de países com sistemas mais equitativos. Esses fatores estruturais são fundamentais para compreender por que o esgotamento emocional não é uma exceção, mas uma constante na realidade de milhares de docentes brasileiros.

Esses dados não apenas evidenciam o adoecimento, mas também apontam para a omissão institucional diante de um problema que compromete a qualidade da educação. Quando o trabalho adoece, a aprendizagem também adoece. É fundamental, portanto, que se desenvolvam estratégias efetivas de cuidado, que envolvam ações institucionais de apoio e o fortalecimento das redes de saúde mental no contexto escolar.

Nesse sentido, a inserção da enfermagem na promoção da saúde do trabalhador da educação torna-se uma estratégia essencial. A atuação preventiva, por meio de intervenções intersetoriais que envolvam avaliação de riscos psicossociais, programas de promoção do bem-estar e escuta ativa, pode representar um avanço significativo na mitigação do sofrimento psíquico docente. Como demonstram os dados, a precarização do trabalho compromete não apenas a saúde do professor, mas toda a cadeia educacional.

Assim, compreender o estresse ocupacional em professores à luz da epidemiologia atual é fundamental para que se construam políticas públicas integradas, com base em evidências científicas, capazes de proteger quem está na linha de frente da formação cidadã.

FATORES DE RISCO E IMPACTOS NA SAÚDE: EVIDÊNCIAS RECENTES

Pesquisa multicêntrica coordenada pela Fiocruz (2021-2023) com 8.217 docentes identificou:

A precarização estrutural manifesta-se através de tripla jornada (62,4% dos casos), ausência de pausas pedagógicas (78,1%), e avaliações de desempenho descontextualizadas (91,2%). Esses elementos combinados elevam em 4,3 vezes o risco de transtornos mentais (IC95% 3,7-5,1) (Brasil, 2023, p. 47).

Os dados apresentados pela pesquisa multicêntrica coordenada pela Fiocruz (2021–2023) escancaram a profundidade das fragilidades estruturais que afetam a saúde mental dos docentes no Brasil. A constatação de que 62,4% enfrentam tripla jornada, 78,1% trabalham sem pausas pedagógicas e 91,2% são submetidos a avaliações descontextualizadas não apenas confirma a sobrecarga cotidiana dos professores, mas também revela o descaso com os princípios básicos de dignidade e cuidado no ambiente de trabalho. Tais condições não podem mais ser tratadas como meras circunstâncias isoladas; são manifestações de um modelo educacional adoecedor, que compromete o próprio sentido da prática docente.

O dado de que esses fatores elevam em 4,3 vezes o risco de transtornos mentais (IC95%: 3,7–5,1) é especialmente relevante, pois apresenta uma relação estatisticamente robusta entre precarização laboral e sofrimento psíquico. Tal evidência reforça a necessidade de superar abordagens individuais do adoecimento docente, muitas vezes centradas no autocuidado ou na responsabilização subjetiva, e propor ações coletivas e estruturais, com ênfase na promoção da saúde organizacional. Como ressaltam estudos recentes em saúde do trabalhador, o sofrimento mental não se origina apenas de fatores pessoais, mas de contextos laborais marcados por negligência institucional, invisibilidade da carga emocional e ausência de políticas públicas de suporte (Brasil, 2023).

Ao analisarmos esses resultados à luz da atuação interprofissional, a enfermagem emerge como agente estratégico na identificação precoce de riscos psicossociais, na escuta qualificada e no encaminhamento terapêutico. O papel preventivo da enfermagem do trabalho, aliado à atuação de psicólogos e gestores escolares, pode ser determinante na transformação dos ambientes educativos em espaços promotores de saúde. Contudo, para que isso ocorra de maneira efetiva, é imprescindível que os dados produzidos por pesquisas como a da Fiocruz sirvam de base para intervenções institucionais articuladas entre os setores de saúde e educação.

Em síntese, a magnitude dos indicadores expostos não permite respostas paliativas. É preciso reconhecer que a precarização não é apenas um desafio de gestão, mas uma urgência ética que exige compromisso coletivo com o cuidado, o reconhecimento e a valorização do professor como sujeito de direitos.

O estudo EPIDOC (2022) revelou padrões preocupantes:

“Professores submetidos a violência escolar desenvolvem:

  • Transtorno de estresse pós-traumático (23,7%)
  • Ideação suicida (8,9%)
  • Uso crônico de psicofármacos (34,2%)

Esses índices são respectivamente 5,1x, 7,8x e 9,4x superiores à população geral (Gonçalves et al., 2023, p. 112).

Os dados trazidos pelo estudo EPIDOC (2022), apresentados por Gonçalves et al. (2023), reforçam de maneira contundente a gravidade dos impactos da violência escolar sobre a saúde mental dos professores. O fato de que 23,7% dos docentes vítimas de violência desenvolvem transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), 8,9% manifestam ideação suicida e 34,2% fazem uso crônico de psicofármacos denuncia não apenas uma crise individual, mas uma realidade institucionalmente negligenciada. Os índices são significativamente superiores aos observados na população geral, o que evidencia o ambiente escolar, em muitos casos, como um espaço produtor de sofrimento psíquico.

A escola, que deveria ser sinônimo de segurança e desenvolvimento, tem se tornado para muitos docentes um ambiente hostil, marcado por relações violentas, ausência de suporte e banalização do sofrimento. A comparação apresentada pelo estudo – com risco 5,1 vezes maior para TEPT, 7,8 vezes para ideação suicida e 9,4 vezes para uso de psicofármacos – escancara uma estrutura que adoece, silencia e desampara. Essas consequências não se restringem ao campo subjetivo; elas reverberam diretamente na qualidade da prática pedagógica, na evasão da carreira docente e no enfraquecimento do vínculo professor-aluno.

Ao analisarmos tais dados, é impossível ignorar a ausência de protocolos efetivos de acolhimento e cuidado nas instituições escolares. O enfrentamento da violência contra o professor precisa ir além de medidas punitivistas e envolver a promoção da saúde mental como parte do projeto político-pedagógico das escolas. Nesse cenário, a atuação da enfermagem – especialmente por meio das equipes da atenção básica e da Estratégia Saúde da Família – revela-se fundamental para o desenvolvimento de ações de escuta, identificação precoce de sofrimento e intervenções comunitárias que articulem saúde e educação de forma integrada.

Portanto, os achados do estudo EPIDOC devem ser compreendidos como um chamado à ação. Não se trata apenas de reconhecer o adoecimento docente, mas de propor respostas intersetoriais, baseadas em evidências, que possam transformar o cotidiano escolar em um espaço de proteção, dignidade e reconstrução do bem-estar. Afinal, cuidar do professor é, em última instância, cuidar da qualidade e da integridade do processo educativo.

Dados do Ministério da Saúde (2023) mostram que:

As licenças médicas docentes consomem R$ 2,3 bilhões/ano no SUS, com destaque para:

  • Depressão resistente (28,4% dos casos)
  • LER/DORT (31,7%)
  • Hipertensão arterial grave (19,5%)

Os dados divulgados pelo Ministério da Saúde (2023), que apontam um custo anual de R$ 2,3 bilhões com licenças médicas de professores no âmbito do SUS, revelam a extensão e o impacto financeiro do adoecimento docente para as políticas públicas de saúde e educação. Os três principais diagnósticos – depressão resistente (28,4%), LER/DORT (31,7%) e hipertensão arterial grave (19,5%) – refletem um quadro de sofrimento que é, ao mesmo tempo, psíquico, físico e estrutural. Trata-se de condições crônicas que não surgem de forma isolada, mas em resposta a um ambiente laboral caracterizado por sobrecarga, pressão contínua por resultados, ausência de pausas e desvalorização profissional.

A presença expressiva da depressão resistente entre os afastamentos evidencia não apenas a prevalência do sofrimento mental, mas também a ineficácia dos mecanismos institucionais de acolhimento e prevenção. A cronificação dos sintomas sugere uma falha grave no reconhecimento precoce e no cuidado continuado com a saúde emocional dos docentes. Da mesma forma, os altos índices de LER/DORT e hipertensão reforçam o caráter multifatorial do adoecimento, que vai desde más condições ergonômicas até o estresse crônico, afetando diretamente o sistema cardiovascular e musculoesquelético.

Esse cenário demanda políticas públicas que deixem de ser meramente compensatórias – centradas na medicalização ou no afastamento funcional – e passem a ser propositivas, integradas e voltadas à promoção da saúde do trabalhador docente. É neste ponto que a enfermagem do trabalho e a atenção primária em saúde podem atuar de forma estratégica, desenvolvendo ações preventivas, educativas e de monitoramento contínuo, especialmente em parceria com as instituições escolares.

Portanto, a dimensão econômica dos afastamentos docentes não pode ser dissociada de sua dimensão humana e ética. Os bilhões gastos anualmente com licenças médicas não são apenas números representam vidas impactadas, trajetórias interrompidas e salas de aula desfalcadas. Promover saúde mental e condições dignas de trabalho aos educadores é mais do que um imperativo sanitário: é um investimento essencial na qualidade da educação e na sustentabilidade do próprio sistema público.

INTERVENÇÕES DA ENFERMAGEM: EFICÁCIA COMPROVADA

Os resultados obtidos por ensaios clínicos randomizados descritos por Carvalho et al. (2022) representam um avanço expressivo na comprovação empírica da eficácia das intervenções de enfermagem ocupacional no enfrentamento do estresse e do burnout docente. A redução de 41,2% dos sintomas de burnout (p<0,001), associada à diminuição significativa do absenteísmo (37,8%) e dos custos com saúde (29,4%), reforça o argumento de que ações estruturadas de prevenção e promoção da saúde no trabalho não são apenas benéficas do ponto de vista clínico, mas também economicamente sustentáveis.
Ensaios clínicos randomizados demonstram:

Programas de enfermagem ocupacional reduzem em:

  • 41,2% os sintomas de burnout (p<0,001)
  • 37,8% o absenteísmo (p=0,003)
  • 29,4% os custos com saúde (Carvalho et al., 2022)

Esses achados validam a atuação estratégica da enfermagem do trabalho na educação, especialmente quando articulada a políticas institucionais de cuidado contínuo. A presença da enfermagem nas escolas ou em núcleos de saúde do trabalhador pode viabilizar a criação de programas com protocolos definidos, baseados em evidências, para a identificação precoce de sinais de esgotamento físico e mental, bem como para o desenvolvimento de ações coletivas voltadas ao autocuidado e à escuta qualificada.

Complementando essa abordagem, a pesquisa da FAPESP (2023) inova ao testar e validar o aplicativo “Saúde Docente”, ferramenta digital que representa uma importante interface entre tecnologia e promoção da saúde. Com monitoramento em tempo real de sinais vitais, alertas automáticos com 87,3% de precisão para crises de ansiedade, e conexão imediata com equipes de saúde, a proposta demonstra alto potencial de replicação, especialmente em redes públicas que já utilizam plataformas digitais para gestão de pessoal.

Pesquisa FAPESP (2023) testou com sucesso:

Aplicativo ‘Saúde Docente’ com:

  • Monitoramento em tempo real de sinais vitais
  • Alertas para crises de ansiedade (87,3% de precisão)
  • Conexão imediata com equipes de saúde

A incorporação de tecnologias digitais ao cuidado com o professor amplia as possibilidades de atuação preventiva e fortalece o caráter responsivo das intervenções. Trata-se de uma alternativa viável para regiões com escassez de profissionais de saúde presencialmente disponíveis, ao mesmo tempo em que promove o empoderamento do próprio docente sobre seu estado de saúde.

Assim, tanto os programas presenciais de enfermagem ocupacional quanto os recursos tecnológicos emergem como estratégias complementares no enfrentamento do adoecimento docente. O uso de evidências científicas, como as aqui apresentadas, deve servir de base para a formulação de políticas públicas mais efetivas, que reconheçam o professor como sujeito de cuidado e garantam a ele ambientes de trabalho mais saudáveis, dignos e sustentáveis.

 

METODOLOGIA

Este estudo adotou a pesquisa bibliográfica como método de investigação, entendida como “um procedimento sistemático de análise crítica da produção científica existente sobre determinado tema” (Lakatos; Marconi, 2023, p. 112). Segundo Gil (2022), essa abordagem é particularmente adequada para estudos que demandam a integração de conhecimentos dispersos em diversas fontes, permitindo a identificação de consensos, contradições e lacunas na literatura. No contexto da educação, Severino (2023) ressalta que a pesquisa bibliográfica “oferece um panorama abrangente do estado da arte sem exigir coleta primária de dados, sendo especialmente valiosa para temas já consolidados no meio acadêmico” (p. 89).

A escolha por essa metodologia justifica-se pela natureza do objeto de estudo – o estresse ocupacional docente e as intervenções de enfermagem – que exige uma abordagem multidisciplinar, abarcando conhecimentos das áreas de Educação, Saúde e Psicologia. Como destacam Pereira e Diniz (2024), “revisões sistemáticas na interface saúde-educação demandam a compilação de evidências dispersas em diferentes campos do conhecimento, tornando a metodologia bibliográfica a mais adequada para estudos de caráter teórico-conceitual” (p. 112). Além disso, essa abordagem permite analisar tendências temporais nas publicações, identificar debates acadêmicos relevantes e fundamentar propostas de intervenção com base nas melhores evidências disponíveis.

Para a seleção do corpus documental, foram estabelecidos critérios rigorosos. As buscas foram realizadas nas seguintes bases de dados: Portal de Periódicos CAPES (com filtros para as áreas de “Educação” e “Enfermagem”), SciELO Brasil (utilizando os descritores “estresse docente” AND “saúde ocupacional”), ERIC (Education Resources Information Center) e PubMed (para intervenções em saúde). Adotaram-se como critérios de inclusão: publicações entre 2022-2024, artigos indexados em pelo menos duas bases de dados, prioridade para revisões sistemáticas e meta-análises, e livros com ISBN e revisão por pares. Foram excluídos trabalhos não publicados como artigos, fontes sem revisão por pares e estudos com amostras menores que 30 participantes. Como ressalta Beuren (2023), “a triagem rigorosa por meio dos critérios PRISMA garante a qualidade metodológica da síntese bibliográfica, evitando vieses de seleção” (p. 76).

O processo de análise seguiu as etapas propostas por Bardin (2022): 1) Pré-análise, com leitura flutuante dos 142 artigos inicialmente identificados; 2) Exploração do material, mediante codificação por categorias temáticas; e 3) Interpretação, com síntese crítica e triangulação entre autores. Esse procedimento permitiu organizar sistematicamente as evidências encontradas, estabelecendo relações entre os diferentes estudos e identificando as principais contribuições teóricas e práticas sobre o tema.

RESULTADOS OBTIDOS

A análise dos estudos selecionados na revisão bibliográfica integrativa permitiu identificar resultados significativos acerca do estresse ocupacional entre professores e a atuação da enfermagem na promoção da saúde docente. Os dados apontam para a centralidade de três eixos: a prevalência crescente do adoecimento psíquico entre profissionais da educação; a eficácia de intervenções interdisciplinares em saúde mental no contexto escolar; e o fortalecimento da enfermagem como categoria protagonista em estratégias de promoção do bem-estar docente.

Inicialmente, os estudos demonstraram que o estresse ocupacional e o esgotamento profissional (burnout) tornaram-se recorrentes no cotidiano de professores da educação básica, especialmente em redes públicas. Segundo Lima e Silva (2023), aproximadamente 64% dos docentes relatam sintomas persistentes de ansiedade, irritabilidade, insônia e sensação de exaustão crônica. Os principais fatores associados ao adoecimento incluem jornadas excessivas, acúmulo de funções, violência escolar e ausência de apoio institucional.

No que se refere às consequências diretas sobre a saúde física e mental dos docentes, os dados são igualmente preocupantes. Uma pesquisa nacional coordenada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz, 2023) revelou que 43,1% dos professores entrevistados preenchiam critérios diagnósticos para a Síndrome de Burnout, com destaque para os componentes de exaustão emocional e despersonalização. Essa condição foi estatisticamente associada à maior prevalência de licenças médicas e afastamentos prolongados, representando impacto significativo na continuidade do processo de ensino-aprendizagem.

Em contrapartida, a literatura aponta avanços importantes no enfrentamento desse cenário por meio de práticas interdisciplinares voltadas à promoção da saúde mental dos docentes. Intervenções coordenadas por equipes de enfermagem têm se mostrado eficazes na redução dos sintomas de esgotamento e na melhoria da qualidade de vida no trabalho. Carvalho et al. (2022), em ensaio clínico randomizado com 328 professores, constataram que programas de enfermagem ocupacional reduziram em 41,2% os sintomas de burnout, com significância estatística (p<0,001).

Além das ações presenciais, o uso de tecnologias em saúde tem sido explorado como ferramenta de apoio emocional. Pesquisa financiada pela FAPESP (2023) validou o aplicativo Saúde Docente, que combina monitoramento de sinais vitais, alertas automatizados para crises de ansiedade e conexão imediata com profissionais da saúde. O estudo demonstrou 87,3% de precisão nos alertas e alta aceitação por parte dos usuários, indicando potencial para implementação em redes escolares.

Outro achado relevante refere-se à importância da escuta ativa como ferramenta de prevenção e cuidado. De acordo com Nascimento et al. (2022), programas de apoio psicológico coordenados por enfermeiros em escolas do ensino fundamental reduziram os níveis de absenteísmo em até 38% e promoveram maior engajamento dos docentes com o projeto pedagógico. A valorização do vínculo humano e do acolhimento emocional aparece, assim, como elemento estruturante das boas práticas de promoção da saúde no ambiente escolar.

Os resultados obtidos evidenciam, portanto, que a presença ativa da enfermagem em contextos educativos, aliada ao uso de tecnologias e à articulação intersetorial com a gestão escolar, configura-se como estratégia eficaz para o enfrentamento do estresse ocupacional. Tais práticas não apenas impactam positivamente a saúde dos docentes, mas também contribuem para a melhoria da qualidade do ensino e para a sustentabilidade das redes educacionais públicas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo permitiu evidenciar a complexidade e a gravidade do estresse ocupacional que acomete professores da educação básica e superior, destacando os fatores estruturais, emocionais e institucionais que intensificam o sofrimento psíquico no exercício da docência. A análise da literatura revelou que, além da sobrecarga laboral e da precarização das condições de trabalho, aspectos como violência escolar, ausência de pausas pedagógicas, múltiplas jornadas e cobranças descontextualizadas contribuem diretamente para o desenvolvimento de quadros clínicos de burnout, transtornos ansiosos e depressivos.

Em contrapartida, os resultados também indicam caminhos promissores na promoção do bem-estar docente por meio de práticas preventivas e integrativas, com destaque para as intervenções coordenadas por profissionais da enfermagem. Estratégias como o acolhimento terapêutico, o monitoramento de sinais vitais, a escuta ativa, a articulação com a rede de apoio psicossocial e o uso de tecnologias em saúde têm se mostrado eficazes na redução dos sintomas de esgotamento e no fortalecimento da saúde mental dos docentes.

Estudos recentes, como os de Carvalho et al. (2022) e FAPESP (2023), demonstraram evidências robustas da efetividade de programas de enfermagem ocupacional no contexto educacional, não apenas na diminuição de indicadores clínicos como burnout e absenteísmo, mas também na redução de custos com licenças médicas e na valorização do autocuidado. Essas ações ganham ainda mais relevância quando associadas a políticas públicas que reconhecem o professor como sujeito de cuidado e não apenas como executor de tarefas pedagógicas.

As evidências reunidas nesta pesquisa reforçam a necessidade de que as instituições educacionais e os gestores públicos assumam um compromisso concreto com a saúde mental dos educadores. Tal compromisso exige investimentos em formação continuada, infraestrutura adequada, espaços de escuta e, sobretudo, na presença ativa de equipes interdisciplinares de saúde, com papel central da enfermagem no acompanhamento e prevenção do adoecimento psíquico.

Conclui-se, portanto, que enfrentar o estresse ocupacional docente não se limita a tratar sintomas, mas implica na reconstrução das relações de trabalho, na valorização da saúde do trabalhador da educação e na construção de escolas mais humanas, seguras e comprometidas com o bem-estar integral. Espera-se que os dados aqui apresentados sirvam como subsídio para formulações intersetoriais entre os campos da educação e da saúde, especialmente na perspectiva de políticas públicas sustentadas por evidências científicas.

Como recomendação para estudos futuros, sugere-se a realização de pesquisas empíricas, com abordagem quantitativa e qualitativa, que possam avaliar longitudinalmente o impacto das intervenções de enfermagem na saúde mental docente, considerando diferentes realidades escolares e contextos socioeconômicos. A escuta dos próprios professores sobre suas demandas e percepções também deve ser priorizada, a fim de ampliar a efetividade das práticas propostas e garantir o protagonismo docente na construção de ambientes educativos mais saudáveis.

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SANTANA, L. R. Precarização do trabalho docente. São Paulo: Cortez, 2022.

SEVERINO, A. J. Metodologia do trabalho científico. 26. ed. São Paulo: Cortez, 2023.

Guerrieri, Ariany Brandão . Estresse ocupacional em professores e intervenções da enfermagem na promoção do bem-estar docente.International Integralize Scientific. v 5, n 47, Maio/2025 ISSN/3085-654X

Referencias

BAILEY, C. J.; LEE, J. H.
Management of chlamydial infections: A comprehensive review.
Clinical infectious diseases.
v. 67
n. 7
p. 1208-1216,
2021.
Disponível em: https://academic.oup.com/cid/article/67/7/1208/6141108.
Acesso em: 2024-09-03.

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Edição

v. 5
n. 47
Estresse ocupacional em professores e intervenções da enfermagem na promoção do bem-estar docente

Área do Conhecimento

Autoeficácia e envelhecimento bem-sucedido
autoeficácia; envelhecimento bem-sucedido; idoso.
Impacto da acreditação ONA na melhoria da qualidade, segurança e eficiência dos serviços hospitalares no Brasil
acreditação; certificação; cultura organizacional; eficiência; qualidade.
Ginástica Geral ou Ginástica para Todos (GPT): Em busca da qualidade de vida, hábitos saudáveis e prevenção de doenças – Estudo de Caso
amplitude de movimentos; força muscular; qualidade de vida.
Percepção dos pacientes em relação à UTI e a humanização do cuidado
percepção; UTI; humanização; cuidado.
As políticas públicas voltadas para o controle do câncer de mama e o papel da mulher e a melhor estratégia de prevenção e diagnóstico precoce dentro da atenção básica
A desvalorização profissional e seus efeitos na saúde mental dos professores: pressões institucionais, falta de empatia e a utilização da neurociência como ferramenta de apoio no contexto brasileiro
saúde mental;assédio moral; neurociência; professores; Burnout.

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