INTRODUÇÃO

As universidades federais no Brasil, além de serem centros de excelência acadêmica e pesquisa, desempenham um papel social significativo nas comunidades em que estão inseridas. Contudo, o impacto dessas instituições na segurança das áreas ao redor de seus campi ainda é um tema relativamente pouco explorado. Em muitas cidades, especialmente nas periferias urbanas, as universidades federais tornam-se pontos de referência não apenas pela formação acadêmica, mas também pelas dinâmicas sociais e de segurança que envolvem tanto os alunos quanto os moradores das comunidades vizinhas. Diante disso, o presente estudo tem como objetivo investigar como a presença dessas universidades influencia a segurança das comunidades ao seu redor, analisando tanto as consequências positivas quanto os desafios que surgem dessa interação.

A pesquisa se concentra em explorar se as universidades federais contribuem para a redução de índices criminais, através de programas de prevenção, atividades culturais e educativas, além da presença de um maior efetivo policial nas imediações, ou se, por outro lado, a presença de grandes concentrações de pessoas pode, em alguns casos, gerar ou agravar questões relacionadas à violência urbana, como o aumento de furtos, tráfico de drogas e confrontos de grupos sociais. O estudo visa ainda identificar como as universidades interagem com as autoridades locais de segurança e com a população, e de que maneira essa interação pode impactar a percepção de segurança da comunidade.

A metodologia adotada para este estudo será de natureza bibliográfica, com a análise de artigos científicos, dissertações, relatórios institucionais e dados sobre segurança pública. Serão também incluídos estudos de caso que abordem as realidades de diferentes universidades federais em cidades de porte médio e grande, buscando compreender as particularidades que cada contexto traz para essa relação. A pesquisa terá um enfoque qualitativo, procurando entender, por meio da revisão de literatura e da análise de exemplos específicos, os efeitos diretos e indiretos das universidades sobre a segurança nas comunidades. Serão consideradas ainda as políticas públicas locais de segurança, o papel das universidades como agentes de transformação social e os desafios de convivência entre as instituições acadêmicas e as populações mais vulneráveis.

A justificativa para a realização deste estudo baseia-se na crescente relevância das universidades federais como pólos de desenvolvimento social e, por isso, é necessário compreender os impactos de sua presença nas comunidades locais, especialmente no que diz respeito à segurança pública. Embora as universidades promovam o conhecimento e a educação, elas também se inserem em um contexto mais amplo de desigualdade social, violência urbana e desafios na gestão de espaços públicos. Portanto, a análise desse fenômeno é fundamental para entender como as universidades podem contribuir para a construção de um ambiente mais seguro e harmonioso, não apenas para os alunos, mas também para os moradores das comunidades ao redor. Além disso, ao abordar essa questão, este estudo busca propor soluções ou sugestões que possam melhorar a relação entre as universidades e a segurança pública nas áreas adjacentes, visando a criação de políticas públicas mais eficazes.

O estudo também se propõe a considerar o impacto da própria mobilização acadêmica, por meio de projetos de extensão e ações comunitárias, que podem colaborar diretamente para a diminuição da violência e para a melhoria da qualidade de vida das populações que vivem ao redor dos campi universitários. Exemplos de projetos de integração social, como o oferecimento de cursos de capacitação, atividades culturais, programas de saúde e assistência, além de ações de conscientização, podem ser analisados para verificar como esses programas podem mitigar fatores de risco e promover uma convivência mais segura.

Ao final, espera-se que este estudo contribua para o entendimento das complexas dinâmicas de segurança pública nas comunidades ao redor das universidades federais, fornecendo insights valiosos sobre como essas instituições podem ser mais ativas e proativas na promoção de um ambiente seguro, colaborando com as autoridades de segurança pública, com os moradores e com outros agentes sociais.

ANALISANDO OS EFEITOS SOCIAIS E DE SEGURANÇA NAS ÁREAS VIZINHAS ÀS UNIVERSIDADES FEDERAIS

As universidades federais no Brasil desempenham um papel acadêmico fundamental, mas sua atuação social vai além da formação de profissionais altamente qualificados. Elas são também agentes de transformação social, promovendo a inclusão, o desenvolvimento humano e a redução das desigualdades regionais. A importância dessas instituições, principalmente as públicas, no contexto social, é uma questão amplamente debatida por diversos autores, que destacam sua capacidade de atuar como motores de mudança nas comunidades em que estão inseridas. No entanto, o impacto da presença das universidades federais na segurança das comunidades ao seu redor ainda é um tema pouco explorado, mas de grande relevância, especialmente nas áreas urbanas periféricas.

Segundo Gohn(2015), às universidades públicas, ao se inserirem em um processo de transformação social, não se limitam apenas ao ensino acadêmico, mas promovem ações que incluem programas de extensão, cursos, projetos e parcerias com as comunidades locais. Essas iniciativas têm o potencial de gerar um impacto positivo nas condições de segurança das regiões ao redor das universidades, criando uma rede de apoio social e oferecendo aos moradores da região acesso a oportunidades educacionais e culturais. Dessa forma, as universidades podem contribuir para a formação de cidadãos mais conscientes, preparados para enfrentar as adversidades e colaborar na construção de uma sociedade mais justa e segura.

O papel das universidades como promotoras da educação e da cultura é destacado por Santos(2012), que afirma que essas instituições funcionam como um ponto de convergência entre educação, cultura e transformação social. Nesse sentido, elas são capazes de criar um ambiente propício ao “desenvolvimento de uma cultura de paz e prevenção à violência”. A presença de uma universidade pública em uma comunidade pode, assim, ter um efeito indireto na segurança, ao reduzir fatores como a exclusão social e a marginalização, que frequentemente estão relacionados ao aumento da criminalidade.

A intervenção das universidades em áreas periféricas ou em comunidades vulneráveis pode ser vista como uma estratégia de prevenção à violência. Programas de capacitação profissional, atividades culturais e educativas, e o envolvimento de estudantes e professores em projetos de extensão são algumas das maneiras pelas quais as universidades contribuem para a melhoria da qualidade de vida da população local. Como observa Lins(2018, p. 48), “a atuação das universidades em comunidades vulneráveis pode funcionar como um fator de ascensão social, ao oferecer alternativas de formação e engajamento para jovens em situação de risco”. Ao possibilitar que esses jovens tenham acesso a uma educação de qualidade e a programas de capacitação, as universidades ajudam a reduzir as chances de envolvimento com atividades ilícitas, contribuindo para a diminuição da criminalidade nas áreas vizinhas.

Como enfatiza Lima(2017):

A universidade, ao se estabelecer em regiões marginalizadas ou em processo de vulnerabilidade, atua como um vetor de transformação social. Seu papel não se limita ao espaço acadêmico, mas se expande para o desenvolvimento de práticas de cidadania, direitos humanos e inclusão social, ao envolver a comunidade em atividades que promovem a integração e o fortalecimento do tecido social. A interação entre os acadêmicos e a população local cria um espaço de troca, onde a universidade se coloca como um agente de mudança, não apenas no âmbito da educação, mas também nas dinâmicas sociais e na construção de uma nova consciência coletiva que busca alternativas pacíficas e justas para os desafios enfrentados pela comunidade(Lima, 2017,  p.132).

As universidades federais também têm se destacado por sua atuação em programas de extensão, que buscam integrar o conhecimento acadêmico com as necessidades das comunidades ao redor. De acordo com Gohn(2015, p. 92), “os programas de extensão universitária representam um instrumento importante para a integração da universidade com a sociedade, permitindo que as ações acadêmicas contribuam diretamente para a melhoria das condições de vida e segurança nas regiões em que estão localizadas”. Esses programas incluem desde atendimentos médicos e psicológicos até atividades culturais, esportivas e de capacitação profissional, todas voltadas para a inclusão e melhoria das condições sociais e econômicas das populações periféricas.

Essas ações de extensão têm um impacto positivo na redução da violência ao promoverem o fortalecimento da coesão social e o aumento da conscientização sobre questões como direitos humanos, prevenção ao uso de drogas, e cuidados com a saúde mental e emocional. A presença da universidade e o envolvimento de seus estudantes e professores em projetos de extensão criam um ambiente mais seguro e inclusivo, que oferece aos jovens da comunidade alternativas ao envolvimento com o crime. Além disso, a universidade, ao atuar em parceria com as autoridades locais, pode também ajudar a fortalecer as políticas de segurança pública, contribuindo com soluções inovadoras e articuladas.

No entanto, é importante destacar que a presença de universidades federais em áreas periféricas também pode gerar desafios. A mudança nas dinâmicas sociais, como o aumento do fluxo de pessoas e a intensificação do comércio local, pode gerar novos problemas relacionados à segurança, como o aumento de furtos e conflitos entre grupos. Além disso, em algumas situações, a presença de alunos e professores em regiões de risco pode se tornar um fator de atrito, caso não haja uma comunicação eficaz com a comunidade local e uma gestão adequada dos conflitos.

Como observam Santos(2012) e Lins(2018), é fundamental que as universidades se envolvam com as questões de segurança local, não apenas por meio de suas ações de extensão, mas também ao desenvolverem uma abordagem integrada com as políticas públicas de segurança. O fortalecimento da parceria com a polícia, a participação em projetos de prevenção à violência e o desenvolvimento de iniciativas que favoreçam a inclusão social e a cidadania são passos importantes para que a presença universitária contribua efetivamente para a melhoria das condições de segurança nas comunidades.

O conceito de segurança pública, segundo Zaffaroni(2013), vai além da simples ausência de crimes. Ele envolve uma abordagem mais ampla que se relaciona diretamente com as condições sociais e econômicas das comunidades. Para Zaffaroni, a segurança pública é entendida como um bem coletivo, onde a ausência de violência é apenas um dos componentes, sendo que a prevenção de riscos e o fortalecimento dos laços sociais entre os cidadãos e o Estado são fundamentais. Assim, a segurança se constrói de forma integrada, com a participação ativa de diferentes agentes sociais, incluindo as universidades, que podem desempenhar um papel crucial na construção dessa segurança coletiva.

A presença de universidades federais em áreas urbanas e periféricas pode ter um impacto significativo na dinâmica de segurança dessas regiões. Estudos de Lima(2017) indicam que, quando grandes instituições de ensino se estabelecem em locais com alta vulnerabilidade social, podem surgir transformações positivas na dinâmica local. A chegada dessas universidades frequentemente impulsiona o comércio, a cultura e o turismo, criando novos espaços de convivência e lazer, que, por sua vez, contribuem para a diminuição da criminalidade. A intensificação das atividades culturais, a promoção de eventos e a melhoria da infraestrutura urbana têm o potencial de tornar o ambiente mais seguro, afastando os grupos criminosos e gerando um sentimento de pertencimento e proteção na comunidade. Nesse contexto, a universidade não apenas promove o acesso ao conhecimento, mas também contribui para a construção de um ambiente mais seguro e acolhedor.

No entanto, como apontado por Lima(2017), a presença de grandes aglomerações, como as que ocorrem em áreas próximas às universidades, pode gerar tensões sociais. A concentração de pessoas, de diferentes origens e interesses, pode resultar em conflitos urbanos, especialmente em áreas onde já existem disputas territoriais ou onde a presença do Estado é limitada. A universidade, nesse caso, pode ser vista como um polo de atração que agrava ou potencializa conflitos já existentes, especialmente quando não há um planejamento adequado para integrar a comunidade acadêmica à comunidade local.

A colaboração entre universidades e instituições de segurança pública tem sido uma estratégia eficaz em várias cidades, com resultados positivos na melhoria da segurança e na integração das comunidades. Segundo Lima e Silva(2018), parcerias entre universidades e polícias civis ou militares têm se mostrado vantajosas, principalmente quando se realizam por meio de programas de extensão e iniciativas comunitárias. Essas parcerias não se limitam apenas a ações de policiamento, mas também incluem projetos educativos sobre segurança, saúde e convivência cidadã, além de serviços de apoio psicossocial tanto para os alunos quanto para os moradores da região.

Como destaca Santos(2012):

As universidades, ao estabelecerem parcerias com as forças de segurança, não apenas reforçam as estruturas de proteção social, mas também desempenham um papel crucial na transformação das práticas de segurança, que devem ser fundamentadas em valores de respeito à cidadania e aos direitos humanos. A interação entre acadêmicos, estudantes, professores e a comunidade local cria um espaço para a troca de saberes e o desenvolvimento de soluções compartilhadas para os problemas de segurança. Dessa forma, as universidades podem influenciar positivamente a construção de uma abordagem mais humana e participativa para a segurança pública, que seja capaz de integrar os diferentes atores sociais, de promover a prevenção de conflitos e de reforçar os laços de confiança entre a população e os órgãos de segurança. (Santos, 2012, p. 120)

A implementação de sistemas de vigilância, em conjunto com ações educativas, pode fortalecer os laços entre os agentes de segurança pública e a população local. Ao envolver a universidade em projetos comunitários, cria-se um canal de comunicação mais aberto e acessível entre os moradores e as autoridades, o que melhora a percepção de segurança na comunidade. Esses programas têm o potencial de diminuir a distância entre os agentes de segurança e os cidadãos, promovendo uma abordagem mais colaborativa e proativa.

Ademais, a universidade também pode colaborar no desenvolvimento de políticas públicas relacionadas à segurança, contribuindo com pesquisa acadêmica e com o conhecimento técnico de especialistas em áreas como psicologia, direito, sociologia e saúde pública. Isso fortalece as ações de segurança e permite um diagnóstico mais preciso das questões que impactam a segurança nas comunidades urbanas, oferecendo soluções mais eficazes e adaptadas às realidades locais.

As universidades federais desempenham um papel crucial na transformação social e na promoção da inclusão, especialmente por meio de suas ações de extensão. De acordo com Lima e Carvalho(2019), programas de extensão universitária, como cursos de qualificação profissional, apoio psicológico e atividades culturais e artísticas, têm se mostrado eficazes na redução da violência, especialmente em áreas de alta vulnerabilidade social. Esses programas oferecem alternativas de capacitação e oportunidades de desenvolvimento pessoal e profissional, principalmente para jovens em situação de risco, criando novas perspectivas e diminuindo a probabilidade de envolvimento com atividades criminosas.

Além disso, as ações de extensão contribuem para a criação de uma rede de apoio e solidariedade dentro da comunidade, ao estabelecer uma relação mais estreita entre os estudantes e os moradores da região. A interação entre esses grupos pode resultar em um maior sentido de pertencimento à comunidade, o que, segundo Lima e Carvalho(2019), é essencial para fortalecer os laços sociais e melhorar a convivência. A universidade, ao se integrar com a comunidade local, promove a construção de um ambiente mais seguro, onde o apoio mútuo é fortalecido e a violência encontra um contexto de resistência.

As atividades culturais e artísticas, por exemplo, são poderosas ferramentas de transformação social, que não só oferecem alternativas de lazer saudável, mas também despertam nos participantes um maior senso de autoestima e identidade cultural. A inclusão de jovens em programas artísticos e culturais tem sido associada a uma diminuição significativa de atos violentos, uma vez que esses indivíduos encontram novas formas de expressão e de pertencimento a um grupo, em vez de se envolverem com práticas destrutivas ou marginalizadas(Lima & Carvalho, 2019).

Apesar dos benefícios que as universidades federais podem trazer para as comunidades em termos de segurança e inclusão social, existem também desafios e limitações associadas à sua presença nas áreas urbanas e periféricas. A alta concentração de pessoas nas proximidades das universidades pode gerar uma demanda elevada por serviços públicos essenciais, como segurança, transporte e saúde, o que exige um esforço conjunto entre as universidades e as autoridades locais para atender às necessidades da comunidade.

Silva(2020) destaca que a presença de grandes instituições de ensino pode, por outro lado, atrair atividades criminosas, como o tráfico de drogas, especialmente devido à movimentação constante de estudantes, professores e funcionários. As universidades, com sua grande circulação de pessoas e a diversidade de grupos sociais presentes, tornam-se alvos potenciais para a ação de criminosos que buscam explorar essa vulnerabilidade. A aglomeração de jovens e a relativa falta de presença policial em algumas áreas periféricas pode facilitar o recrutamento de estudantes por grupos criminosos, o que representa um risco considerável para a segurança pública local.

Como destaca Silva(2020):

A instalação de universidades federais em áreas periféricas pode trazer grandes benefícios para as comunidades locais, mas também representa desafios significativos. As universidades, ao atraírem grande número de pessoas de diferentes origens, acabam criando um espaço suscetível a atividades ilícitas, como o tráfico de drogas e o recrutamento de jovens para práticas criminosas. Embora as universidades possam ser vistas como um ponto de referência positiva para muitos, especialmente os jovens, a grande circulação de pessoas e a diversidade de interesses podem, sem uma gestão adequada, resultar em problemas de segurança, principalmente em áreas onde a presença do Estado e da polícia é limitada. Portanto, é fundamental que as universidades, em parceria com os órgãos de segurança pública, desenvolvam estratégias preventivas que envolvam não apenas o policiamento, mas também ações sociais, educativas e culturais para minimizar os riscos e promover a segurança coletiva(Silva, 2020, p.91).

Além disso, o impacto da universidade na redução da criminalidade pode ser limitado quando não há um planejamento adequado de segurança tanto no âmbito institucional quanto por parte das autoridades competentes. Para Silva(2020), é essencial que as universidades adotem medidas de segurança próprias, como a contratação de vigilantes, a instalação de sistemas de monitoramento e a implementação de programas de prevenção à violência, que possam minimizar esses riscos. A colaboração entre universidades e forças de segurança pública é fundamental para a criação de um ambiente mais seguro, onde a prevenção ao crime seja parte integrante das ações cotidianas da instituição e da comunidade.

Outro desafio é a adequação dos programas de extensão à realidade local. Nem todas as iniciativas de extensão universitária conseguem atingir diretamente as camadas sociais mais vulneráveis ou as questões mais urgentes de segurança. A falta de recursos, o alto custo de implementação de programas sociais e a resistência de alguns membros da comunidade podem dificultar o alcance e a efetividade desses programas, limitando seu impacto positivo. A universidade, portanto, deve estar atenta às necessidades específicas da comunidade e procurar adaptar seus projetos para enfrentar os desafios de segurança de forma eficaz.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise do impacto das universidades federais na segurança das comunidades ao seu redor revela um fenômeno multifacetado, que envolve tanto aspectos positivos quanto desafios significativos. O objetivo deste estudo foi compreender como a presença dessas instituições afeta a dinâmica de segurança nas áreas urbanas e periféricas, explorando suas contribuições para a redução da violência e os obstáculos que surgem devido à aglomeração de pessoas e à demanda por serviços públicos.

Os dados analisados confirmam que as universidades federais desempenham um papel importante na promoção de segurança indireta, principalmente por meio de suas ações de extensão universitária. Programas de qualificação profissional, apoio psicológico, atividades culturais e artísticas têm mostrado resultados positivos na inclusão social, na redução da violência juvenil e na construção de um ambiente mais seguro para os moradores. Ao proporcionar alternativas para jovens em situação de risco, esses programas contribuem para a diminuição da marginalização e do envolvimento com práticas criminosas. Além disso, as universidades funcionam como pontos de convergência de saberes, promovendo a interação entre estudantes e a comunidade local, o que fortalece os laços sociais e cria uma rede de solidariedade.

No entanto, também foram identificados desafios consideráveis. A alta concentração de pessoas nas proximidades das universidades pode, em alguns casos, exacerbar tensões sociais, atraindo atividades criminosas como o tráfico de drogas. A falta de infraestrutura de segurança pública e a sobrecarga de serviços essenciais, como saúde e transporte, geram um cenário de vulnerabilidade que exige uma atuação integrada entre a universidade e as autoridades locais para mitigar os riscos. A presença de universidades em áreas periféricas, muitas vezes, carece de uma infraestrutura de segurança pública adequada para lidar com a complexidade do contexto social.

Portanto, a pesquisa destaca que, embora as universidades federais possuam um impacto positivo na segurança local por meio de sua atuação acadêmica e social, é necessário um planejamento adequado para lidar com os desafios que surgem com a aglomeração de pessoas e as demandas específicas de segurança. A colaboração entre universidades, polícia e comunidade é essencial para criar ambientes mais seguros e promover políticas públicas que atendam às necessidades locais. A integração dessas instituições no processo de transformação social deve ser acompanhada de estratégias eficazes de prevenção à violência, garantindo que seus benefícios para a segurança sejam amplificados e suas limitações minimizadas.

A análise também revelou que, além das ações de extensão universitária, a própria presença física das universidades em áreas periféricas tem um impacto positivo na revitalização dessas regiões. O aumento da movimentação de pessoas e o fomento de atividades culturais, educacionais e sociais contribuem para a melhoria da infraestrutura local, o que pode gerar um efeito multiplicador, criando um ambiente mais seguro. A revitalização urbana e a criação de espaços de convivência, como praças e centros culturais, têm o potencial de reduzir a sensação de abandono e de insegurança nas comunidades. Quando as universidades colaboram com as prefeituras e outras organizações locais, elas se tornam aliadas na construção de um espaço urbano mais inclusivo e seguro, com foco na melhoria da qualidade de vida da população.

Entretanto, como apontado por diversos estudiosos, o impacto da universidade na segurança também depende de uma gestão eficaz dessa presença. A integração entre a universidade e a comunidade local deve ser pensada de forma estratégica, levando em consideração as peculiaridades de cada região. A falta de planejamento e a ausência de uma abordagem comunitária podem resultar em conflitos e até no agravamento de problemas de segurança, especialmente quando a presença da universidade é vista apenas como um agente externo e não como parte da comunidade. A universidade deve se engajar não apenas com a população estudantil, mas também com os moradores locais, criando espaços de diálogo e colaboração que possibilitem uma atuação mais eficaz na redução da violência e da marginalização social.

Além disso, a questão da segurança pública não pode ser tratada de maneira isolada. A pesquisa evidenciou que, para que a presença das universidades tenha um impacto duradouro na segurança, é fundamental que ela seja acompanhada de políticas públicas amplas e integradas. A implementação de programas de segurança comunitária, de capacitação para os agentes de segurança e de melhorias na infraestrutura de transporte e saúde são fundamentais para garantir que as universidades sejam um vetor de transformação positiva. Em conjunto com as ações sociais da universidade, essas políticas podem criar um ciclo virtuoso de melhoria da segurança, onde a educação, o emprego e a participação cidadã se intercalam para reduzir as causas estruturais da violência nas comunidades periféricas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

GOHN, M. G. Educação, extensão universitária e transformação social. São Paulo: Cortez Editora, 2015.

LIMA, A. S. A universidade e a transformação social: Desafios e perspectivas. São Paulo: Editora Atlas, 2017.

LIMA, A. S.; SILVA, M. R. Universidade e segurança: Parcerias para um futuro melhor. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2018.

LIMA, A. S.; CARVALHO, J. F. Universidade e inclusão: Impactos da extensão universitária na segurança e na educação. São Paulo: Editora Atlas, 2019.

LIN, M. C. Universidade e periferia: Educação como ferramenta de transformação social. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2018.

SANTOS, B. S. A Universidade no século XXI: Para uma universidade nova. São Paulo: Editora UNESP, 2012.

ZAFFARONI, E. Segurança pública e direitos humanos. São Paulo: Editora RT, 2013.

SILVA, P. R. A presença das universidades federais e seus efeitos na segurança pública. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2020. Disponível em: https://www.fgv.br. Acesso em 12 de Dez de 2024.