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Resumo
INTRODUÇÃO
O envelhecimento humano é um processo biológico inevitável, caracterizado por um declínio progressivo das funções fisiológicas e pela diminuição da capacidade do organismo de manter a homeostase diante de desafios internos e externos. Esse fenômeno é influenciado por uma combinação de fatores genéticos, ambientais e epigenéticos, que modulam tanto a longevidade quanto a predisposição a doenças relacionadas à idade. Entre os diversos mecanismos envolvidos nesse processo, a inflamação crônica de baixo grau, denominada “inflammaging”, tem sido amplamente estudada devido ao seu papel central na deterioração celular e no surgimento de patologias associadas ao envelhecimento, como doenças cardiovasculares, neurodegenerativas, câncer e desordens metabólicas (Costa D’avila et al., 2020).
O termo “inflammaging” refere-se a um estado inflamatório sistêmico persistente que se desenvolve ao longo da vida, mesmo na ausência de infecções ou agressões externas evidentes. Esse estado inflamatório é impulsionado por diversos fatores, incluindo o acúmulo de células senescentes, a ativação desregulada do sistema imunológico inato e a liberação exacerbada de mediadores inflamatórios (Costa D’avila et al., 2020). Um aspecto fundamental desse processo é a participação dos inflamassomas, que são complexos proteicos intracelulares responsáveis pelo reconhecimento de padrões moleculares associados a patógenos ou a danos celulares, desencadeando respostas inflamatórias intensificadas com o avanço da idade (Guerra, 2024).
Indivíduos centenários, por exemplo, parecem apresentar um controle mais eficiente dos processos inflamatórios, o que lhes confere maior proteção contra doenças crônicas associadas ao envelhecimento. Esse equilíbrio na resposta inflamatória pode estar relacionado a fatores genéticos, como a expressão modulada de genes envolvidos na resposta imune, e a fatores ambientais, como hábitos alimentares saudáveis e um estilo de vida ativo, que influenciam a ativação dos inflamassomas e a produção de citocinas pró-inflamatórias (Costa D’avila et al., 2020).
Diante do exposto o estudo tem como objetivo geral investigar a regulação da resposta inflamatória em centenários, com foco na atividade dos inflamassomas e sua relação com o processo de inflammaging.
Este estudo justifica-se pela necessidade de compreender os mecanismos inflamatórios que influenciam o processo de envelhecimento, especialmente no contexto da inflamação crônica de baixo grau, conhecida como inflammaging, e da ativação desregulada dos inflamassomas. Com o aumento da expectativa de vida e o crescimento da população idosa, torna-se essencial investigar como a resposta inflamatória pode impactar a longevidade e a predisposição a doenças crônicas, a fim de identificar possíveis estratégias para um envelhecimento mais saudável. Estudos indicam que indivíduos centenários apresentam uma regulação mais equilibrada da inflamação, o que pode estar diretamente relacionado à menor incidência de doenças degenerativas e ao aumento da longevidade.
REVISÃO DE LITERATURA
INFLAMASSOMAS E SUAS FUNÇÕES NO SISTEMA IMUNOLÓGICO
Os inflamassomas são complexos proteicos essenciais para a resposta imunológica inata, desempenhando um papel fundamental na detecção de ameaças ao organismo e na ativação de processos inflamatórios (Nogueira, 2017). Esses complexos atuam como sensores intracelulares, identificando padrões moleculares associados a patógenos (PAMPs) e padrões moleculares associados a danos (DAMPs), promovendo a ativação da caspase-1, que desencadeia a liberação de citocinas inflamatórias, como a interleucina-1β (IL-1β) e a interleucina-18 (IL-18), além da indução da piroptose, um tipo específico de morte celular programada (Ribeiro, 2017).
A estrutura dos inflamassomas é composta, principalmente, por um receptor sensor, uma proteína adaptadora conhecida como ASC (Apoptosis-associated Speck-like Protein Containing a CARD) e a caspase-1, que é responsável pela ativação das citocinas inflamatórias (Dutra et al., 2024). Existem diferentes tipos de inflamassomas, sendo os mais estudados o NLRP3, NLRC4 e AIM2, cada um com funções específicas e distintos mecanismos de ativação. O inflamassoma NLRP3, por exemplo, pode ser ativado por uma ampla variedade de estímulos, como cristais de ácido úrico, toxinas bacterianas e alterações no fluxo iônico celular (Guerra, 2024). O AIM2, por sua vez, é ativado pela presença de DNA de dupla fita no citoplasma, enquanto o NLRC4 responde a componentes bacterianos, como proteínas flageladas e proteínas do sistema de secreção do tipo III (Tessaro, 2023).
A ativação dos inflamassomas resulta na formação de um complexo multiproteico que promove a clivagem da caspase-1, que, além de ativar as citocinas IL-1β e IL-18, promove a clivagem da gasdermina D, uma proteína que forma poros na membrana plasmática, levando à piropoptose (Costa D’Avila et al., 2020). Esse processo é essencial para eliminar células infectadas e modular a resposta imunológica, contribuindo para a defesa do organismo contra infecções (Nogueira, 2017).
Contudo, a ativação desregulada dos inflamassomas pode ter consequências patológicas severas. O inflamassoma NLRP3 tem sido associado a diversas doenças inflamatórias crônicas, como aterosclerose, diabetes tipo 2 e doenças autoimunes (Ribeiro, 2017). Além disso, na infecção por COVID-19, observou-se que a ativação exacerbada desse inflamassoma contribui para a chamada “tempestade de citocinas”, um fenômeno inflamatório descontrolado que pode causar danos severos aos tecidos e falência de órgãos (Dutra et al., 2024). Esse quadro evidencia a importância de uma regulação precisa da ativação dos inflamassomas para evitar respostas inflamatórias excessivas que possam comprometer a homeostase do organismo (Guerra, 2024).
A imunossenescência, que ocorre com o envelhecimento, também está fortemente relacionada à ativação dos inflamassomas, uma vez que o sistema imunológico tende a responder de forma mais exacerbada a determinados estímulos, contribuindo para um estado inflamatório crônico (Nogueira, 2017). Esse fenômeno, denominado inflammaging, está associado a diversas doenças degenerativas, como Alzheimer, Parkinson e osteoartrite (Ribeiro, 2017).
No contexto das infecções bacterianas, os inflamassomas desempenham um papel crucial na contenção da replicação de patógenos intracelulares. Por exemplo, na infecção por Legionella longbeachae, um dos mecanismos de defesa do organismo envolve a ativação dos inflamassomas AIM2 e NLRP3, que promovem a eliminação da bactéria por meio da resposta inflamatória e da indução da morte celular programada (Dutra et al., 2024).
Além do impacto nas doenças crônicas, os inflamassomas também exercem um papel relevante no sistema nervoso central. Evidências sugerem que a ativação do inflamassoma NLRP3 em células da microglia pode estar associada à neurodegeneração em doenças como Alzheimer e Parkinson (Nogueira, 2017). A presença de depósitos de β-amilóide no cérebro, característicos do Alzheimer, pode estimular a ativação desse inflamassoma, contribuindo para a progressão da doença (Ribeiro, 2017).
RELAÇÃO ENTRE INFLAMAÇÃO CRÔNICA E DOENÇAS RELACIONADAS AO ENVELHECIMENTO
A inflamação crônica de baixo grau, também conhecida como “inflammaging”, tem sido amplamente estudada devido ao seu impacto significativo no desenvolvimento de doenças associadas ao envelhecimento. Esse processo inflamatório contínuo, embora de intensidade reduzida, exerce influência na homeostase do organismo e está diretamente relacionado à progressão de patologias como doenças cardiovasculares, neurodegenerativas e metabólicas (Dutra et al., 2024). O envelhecimento não é apenas um reflexo do tempo, mas também de um acúmulo progressivo de alterações no funcionamento celular e tecidual, que tornam o organismo mais vulnerável a processos inflamatórios persistentes (Cochar-Soares; Delinocente; Dati, 2021). A compreensão da relação entre inflamação crônica e doenças associadas ao envelhecimento é essencial para o desenvolvimento de estratégias terapêuticas que possam retardar a progressão dessas condições e melhorar a qualidade de vida da população idosa.
A inflamação crônica característica do envelhecimento é resultado de uma ativação constante do sistema imunológico, mesmo na ausência de infecções ou lesões evidentes (Franco, 2021). Esse estado inflamatório é impulsionado por fatores como a disfunção mitocondrial, o acúmulo de proteínas danificadas, a senescência celular e a ativação persistente de vias pró-inflamatórias (Turra et al., 2023). O inflamassoma, um complexo proteico envolvido na resposta imune inata, tem papel central nesse processo, sendo responsável pela ativação de caspases inflamatórias e pela liberação de citocinas como IL-1β e IL-18 (Dutra et al., 2024). A ativação desregulada desses mediadores inflamatórios pode contribuir para danos teciduais progressivos, favorecendo o aparecimento de doenças como a aterosclerose, a osteoartrite e o Alzheimer (Cochar-Soares; Delinocente; Dati, 2021).
Dentre as doenças associadas ao processo inflamatório crônico no envelhecimento, as doenças cardiovasculares estão entre as mais prevalentes. A inflamação tem papel fundamental na disfunção endotelial e na formação de placas ateroscleróticas, processos que levam ao desenvolvimento de doenças como infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral (Turra et al., 2023). O aumento da expressão de marcadores inflamatórios no envelhecimento contribui para o estresse oxidativo e para a degradação das células endoteliais, tornando as artérias mais rígidas e suscetíveis a lesões (Franco, 2021).
No âmbito das doenças neurodegenerativas, a inflamação crônica também desempenha um papel crucial na patogênese de enfermidades como Alzheimer e Parkinson. O acúmulo de proteínas beta-amiloide no cérebro desencadeia a ativação da microglia, células imunológicas do sistema nervoso central, levando à liberação exacerbada de citocinas inflamatórias que promovem danos neuronais (Cochar-Soares; Delinocente; Dati, 2021). Estudos demonstram que níveis elevados de IL-1β e IL-6 no tecido cerebral aceleram a neurodegeneração e comprometem a função cognitiva (Turra et al., 2023).
A relação entre inflamação crônica e doenças metabólicas também é amplamente documentada. A resistência à insulina, característica central do diabetes tipo 2, tem sido associada à presença persistente de citocinas inflamatórias no tecido adiposo (Dutra et al., 2024). O excesso de tecido adiposo, comum em indivíduos idosos, favorece a ativação de macrófagos e a liberação de mediadores pró-inflamatórios que interferem na sinalização da insulina, levando ao descontrole glicêmico e ao aumento do risco de complicações metabólicas (Cochar-Soares; Delinocente; Dati, 2021).
O impacto da inflamação crônica no envelhecimento não se limita apenas ao desenvolvimento de doenças específicas, mas afeta todo o organismo de maneira sistêmica. A interação entre diferentes órgãos e sistemas sob influência do estado inflamatório contínuo leva a um declínio generalizado da função fisiológica, aumentando a fragilidade e reduzindo a expectativa de vida saudável (Turra et al., 2023). Estratégias para modular essa inflamação, como o uso de agentes anti-inflamatórios, a prática de exercícios físicos e a adoção de uma alimentação rica em antioxidantes, têm sido investigadas como formas de minimizar os efeitos deletérios da inflamação no envelhecimento (Dutra et al., 2024).
METODOLOGIA
Este estudo caracteriza-se como uma pesquisa bibliográfica, fundamentada na análise de fontes secundárias previamente publicadas em bases de dados científicas reconhecidas, como PubMed, Scielo, Web of Science e Google Scholar. A seleção do material foi realizada por meio da definição de palavras-chave baseadas nos descritores em ciências da saúde (DeCS/MeSH), garantindo maior precisão na busca dos artigos. Foram considerados estudos publicados nos últimos dez anos, priorizando pesquisas revisadas por pares que abordassem aspectos centrais do tema proposto.
Para garantir a qualidade e a relevância das informações analisadas, foram estabelecidos critérios rigorosos de inclusão e exclusão. Foram incluídos apenas estudos publicados em periódicos científicos de credibilidade, revisados por pares e que apresentassem relação direta ou indireta com os objetivos da pesquisa. Além disso, foram considerados artigos disponíveis em português, inglês ou espanhol, com publicações compreendidas no período entre 2015 e 2025. Em contrapartida, foram excluídos trabalhos não revisados por pares, como artigos de opinião e resumos de congressos, bem como publicações que apresentassem dados inconclusivos ou inconsistentes. Estudos duplicados entre diferentes bases de dados e artigos que, após leitura criteriosa, não demonstrassem relevância direta para a investigação também foram descartados.
A coleta de dados ocorreu em etapas, iniciando-se pela busca sistemática nas bases selecionadas, utilizando operadores booleanos para refinar os resultados e garantir a precisão da pesquisa. Após a triagem inicial, foi realizada a análise dos títulos e resumos para verificar a adequação aos critérios estabelecidos, e, posteriormente, os artigos selecionados foram submetidos a uma leitura integral para classificação conforme sua relevância e contribuição científica.
RESULTADOS
Os inflamassomas são complexos protéicos intracelulares essenciais para a imunidade inata, pois detectam sinais de perigo e ativam a caspase-1, responsável pela maturação das citocinas pró-inflamatórias IL-1β e IL-18 (Dutra et al., 2024). No entanto, a ativação desregulada desses complexos pode levar a uma inflamação crônica persistente, característica do processo de envelhecimento, que favorece o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, neurodegenerativas e metabólicas (Cochar-Soares; Delinocente; Dati, 2021). Em contrapartida, centenários demonstram uma modulação mais equilibrada da resposta inflamatória, o que pode estar relacionado a fatores genéticos e epigenéticos que regulam a resposta imunológica de forma mais eficaz (Franco, 2021).
A inflamação crônica de baixo grau, denominada “inflammaging”, caracteriza-se por níveis elevados de citocinas pró-inflamatórias e está associada a um maior risco de fragilidade e morbidade em idosos (Turra et al., 2023). No entanto, foi observado que centenários, apesar da idade avançada, apresentam um perfil inflamatório distinto, com menor ativação dos inflamassomas e níveis reduzidos de mediadores inflamatórios como IL-6 e TNF-α (Dutra et al., 2024). Essa regulação eficiente pode estar ligada à presença de mecanismos adaptativos que compensam a hiperativação do sistema imune, reduzindo os danos celulares associados ao envelhecimento (Franco, 2021).
No contexto das doenças associadas ao envelhecimento, a modulação da ativação dos inflamassomas desempenha um papel essencial na preservação da função orgânica. A regulação mais eficiente desses complexos em centenários pode estar associada a uma menor incidência de doenças neurodegenerativas, visto que a neuroinflamação é um dos principais fatores envolvidos na progressão do Alzheimer e do Parkinson (Turra et al., 2023). O equilíbrio na ativação do inflamassoma também pode explicar a menor prevalência de doenças cardiovasculares nesses indivíduos, uma vez que a inflamação exacerbada está diretamente relacionada ao desenvolvimento de aterosclerose e disfunção endotelial (Dutra et al., 2024).
Outro fator relevante é a menor produção de espécies reativas de oxigênio (ROS) e a ativação mais eficiente dos mecanismos antioxidantes em centenários. O estresse oxidativo é um dos principais gatilhos para a ativação dos inflamassomas, e sua redução pode estar diretamente ligada à menor inflamação crônica observada nesses indivíduos (Franco, 2021). Além disso, a presença de níveis mais elevados de células T reguladoras (Tregs) e de citocinas anti-inflamatórias, como IL-10, contribui para o controle da resposta inflamatória e para a preservação da homeostase imunológica (Cochar-Soares; Delinocente; Dati, 2021).
A menor ativação dos inflamassomas em centenários sugere que a modulação da inflamação crônica pode ser um fator determinante para a longevidade saudável. A compreensão dos mecanismos que permitem essa regulação mais eficiente pode abrir caminho para novas abordagens terapêuticas voltadas para a redução da inflamação crônica e para a promoção de um envelhecimento mais equilibrado (Turra et al., 2023). Estudos futuros devem explorar estratégias que favoreçam a regulação dos inflamassomas, seja por meio de intervenções nutricionais, farmacológicas ou epigenéticas, a fim de ampliar a qualidade de vida da população idosa (Dutra et al., 2024).
DISCUSSÃO
Indivíduos que alcançam idades extremas frequentemente apresentam uma modulação mais equilibrada da inflamação, o que os protege de doenças crônicas associadas ao envelhecimento, como doenças cardiovasculares, neurodegenerativas e metabólicas (Dutra et al., 2024). Essa regulação ocorre devido a uma combinação de fatores genéticos, epigenéticos e ambientais que modulam a ativação do sistema imune, reduzindo os efeitos deletérios da inflamação crônica de baixo grau, conhecida como “inflammaging” (Cochar-Soares; Delinocente; Dati, 2021).
Um dos fatores mais relevantes para essa regulação eficaz da inflamação é a produção equilibrada de citocinas anti-inflamatórias, como a interleucina-10 (IL-10), que desempenha um papel essencial na inibição da síntese de mediadores inflamatórios e na atenuação da resposta imune exacerbada (Franco, 2021). Estudos demonstram que centenários apresentam níveis elevados de IL-10 em comparação com idosos mais jovens, o que pode contribuir para a manutenção da homeostase imunológica e a prevenção de processos inflamatórios patológicos (Turra et al., 2023).
Outro mecanismo importante para a regulação da inflamação em centenários está relacionado à atividade das células B regulatórias (B-regs). Essas células desempenham um papel crucial na modulação da resposta inflamatória por meio da produção de IL-10 e de outros mediadores imunossupressores (Cochar-Soares; Delinocente; Dati, 2021). A presença e funcionalidade dessas células podem ser determinantes para o envelhecimento saudável, uma vez que sua ação inibe a ativação excessiva de inflamassomas e previne respostas imunológicas descontroladas que poderiam levar a doenças inflamatórias crônicas (Franco, 2021).
Além da regulação imunológica direta, a integridade da barreira intestinal e a composição da microbiota também desempenham um papel relevante na modulação da inflamação. A microbiota intestinal equilibrada auxilia na produção de metabólitos anti-inflamatórios, como os ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), que promovem uma resposta imunológica mais regulada e reduzem a ativação de inflamassomas (Turra et al., 2023). Estudos demonstram que centenários apresentam uma microbiota intestinal mais diversificada, com maior presença de bactérias benéficas que favorecem a produção de AGCC e reduzem a inflamação sistêmica (Dutra et al., 2024). Essa característica pode estar associada a fatores dietéticos e ao estilo de vida, que contribuem para a manutenção da integridade da mucosa intestinal e para a regulação eficiente do sistema imunológico (Franco, 2021).
As descobertas sobre a menor ativação inflamatória em centenários têm implicações significativas para o desenvolvimento de novas terapias anti-inflamatórias. Compreender os mecanismos que permitem essa regulação eficiente pode levar ao desenvolvimento de estratégias terapêuticas inovadoras que mimetizem esses processos naturais, reduzindo a inflamação crônica e prevenindo doenças associadas ao envelhecimento (Cochar-Soares; Delinocente; Dati, 2021). Uma dessas estratégias envolve o uso de imunomoduladores, como inibidores seletivos de inflamassomas, que podem reduzir a ativação descontrolada da resposta inflamatória sem comprometer a defesa do organismo contra patógenos (Turra et al., 2023).
Outra abordagem promissora é a modulação da microbiota intestinal por meio da administração de prebióticos e probióticos, que auxiliam na restauração do equilíbrio imunológico e reduzem a ativação de vias inflamatórias prejudiciais (Dutra et al., 2024). Além disso, intervenções nutricionais focadas no aumento do consumo de compostos anti-inflamatórios naturais, como polifenóis e antioxidantes, têm demonstrado efeitos benéficos na redução da inflamação crônica e na promoção da longevidade saudável (Franco, 2021).
Portanto, os mecanismos de controle da inflamação observados em centenários fornecem um modelo valioso para o desenvolvimento de novas abordagens terapêuticas voltadas para a regulação da resposta inflamatória. Ao aprofundar o conhecimento sobre esses processos, torna-se possível identificar estratégias eficazes para reduzir a inflamação crônica associada ao envelhecimento e melhorar a qualidade de vida da população idosa (Turra et al., 2023). A contínua pesquisa sobre essas interações entre imunidade, microbiota e envelhecimento é essencial para o avanço das terapias anti-inflamatórias e para o desenvolvimento de intervenções que promovam um envelhecimento mais saudável e equilibrado (Dutra et al., 2024).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados deste estudo demonstram que centenários possuem uma regulação mais eficiente da inflamação crônica, refletindo uma menor ativação dos inflamassomas e uma resposta imunológica mais equilibrada. Esse controle aprimorado da inflamação pode estar relacionado a fatores genéticos, epigenéticos e ambientais, que favorecem a produção de citocinas anti-inflamatórias, a modulação da microbiota intestinal e a redução do estresse oxidativo. A inflamação crônica de baixo grau, característica do envelhecimento, é um dos principais fatores que contribuem para o desenvolvimento de doenças como enfermidades cardiovasculares, neurodegenerativas e metabólicas.
A menor ativação dos inflamassomas em centenários está associada a uma maior produção de citocinas reguladoras, ao equilíbrio na resposta imune inata e adaptativa, à manutenção da integridade da microbiota intestinal e a um metabolismo celular mais eficiente. Esses fatores atuam conjuntamente para minimizar os efeitos prejudiciais da inflamação persistente, preservando a função dos tecidos e reduzindo o risco de doenças associadas à idade. A compreensão desses mecanismos possibilita a formulação de estratégias terapêuticas que busquem modular a resposta inflamatória, prevenindo o agravamento de patologias crônicas e promovendo a longevidade saudável.
Diante dos achados do estudo, algumas estratégias podem ser recomendadas para promover a regulação da inflamação e favorecer um envelhecimento mais equilibrado. A alimentação exerce um papel fundamental na modulação da inflamação, sendo essencial a incorporação de alimentos ricos em antioxidantes, ácidos graxos ômega-3 e compostos bioativos que auxiliam na redução do estresse oxidativo e na modulação da resposta inflamatória. O consumo regular de frutas, vegetais, oleaginosas, azeite de oliva, cúrcuma e peixes gordurosos pode contribuir para a prevenção de processos inflamatórios exacerbados, enquanto a redução da ingestão de açúcares refinados, gorduras saturadas e alimentos ultraprocessados minimiza a ativação de vias inflamatórias prejudiciais.
O exercício físico tem um impacto significativo na regulação da inflamação, promovendo a liberação de substâncias anti-inflamatórias pelo músculo esquelético. Atividades como caminhada, corrida, musculação e yoga auxiliam na redução da inflamação sistêmica, melhoram a função mitocondrial e contribuem para a manutenção da massa muscular, prevenindo a sarcopenia e outras complicações associadas ao envelhecimento. Além disso, a microbiota intestinal desempenha um papel essencial no equilíbrio do sistema imunológico, sendo recomendada a adoção de uma dieta rica em fibras, prebióticos e probióticos para favorecer o crescimento de bactérias benéficas e reduzir a ativação de respostas inflamatórias sistêmicas. O consumo de alimentos fermentados, como iogurte natural, kefir e kombucha, bem como fontes de fibras solúveis como aveia e leguminosas, contribui para um ambiente intestinal equilibrado e anti-inflamatório.
A pesquisa sobre compostos bioativos naturais e fármacos inibidores de inflamassomas tem se mostrado promissora na redução da inflamação crônica associada ao envelhecimento. Substâncias como cúrcuma, resveratrol e quercetina apresentam propriedades anti-inflamatórias que podem auxiliar na modulação da resposta imunológica.
A inflamação crônica é um dos principais fatores que aceleram o processo de envelhecimento e favorecem o desenvolvimento de doenças degenerativas. No entanto, os mecanismos de controle da inflamação observados em centenários demonstram que a modulação eficiente da resposta inflamatória pode favorecer a longevidade e reduzir a incidência de patologias crônicas. Estratégias como dietas anti-inflamatórias, prática regular de atividades físicas, equilíbrio da microbiota intestinal, redução do estresse e uso de compostos bioativos naturais representam abordagens promissoras para a regulação da inflamação.
O aprofundamento das pesquisas sobre os fatores que permitem essa regulação eficiente em centenários é essencial para o desenvolvimento de novas terapias e intervenções que beneficiem a população idosa.
REFERÊNCIAS
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FRANCO, Filipe Nogueira. 13. Inflamação crônica subclínica e envelhecimento: uma proposta de aula para o curso de Gerontologia. IMUNOLOGIA, p. 156.
GUERRA, Rhanica Oliveira. Avaliação da participação de diferentes inflamassomas no reconhecimento e no controle da infecção experimental por Legionella longbeachae. 2024. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo.
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RIBEIRO, Dalila Juliana Silva. O papel do sistema de secreção do tipo VI (TSS6) bacteriano na ativação dos inflamassomas durante a resposta imunológica inata. 2017.
TESSARO, Helena Mendonça. O papel da imunidade inata no envelhecimento renal. 2023. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo.
TURRA, Bárbara Osmarin et al. Explorando a tríade molecular: Danos ao DNA, envelhecimento humano e desenvolvimento do câncer. Revista Amazonense de Geriatria e Gerontologia, v. 14, n. 1, p. 57-68, 2023.
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