Descumprimento das condicionalidades no programa Bolsa Família

NONCOMPLIANCE WITH THE CONDITIONALITIES IN THE BOLSA FAMÍLIA PROGRAM

INCUMPLIMIENTO DE LAS CONDICIONALIDADES EN EL PROGRAMA BOLSA FAMILIA

Autor

Adriana Matos Marinho
ORIENTADOR
Profa. Dra. Erica Lamara Gomes Alves Grigorio

URL do Artigo

https://iiscientific.com/artigos/441606

DOI

Marinho, Adriana Matos . Descumprimento das condicionalidades no programa Bolsa Família. International Integralize Scientific. v 5, n 47, Maio/2025 ISSN/3085-654X

Resumo

O Bolsa Família é uma política pública de transferência direta de renda voltada à redução da pobreza e ao fortalecimento da cidadania. Este estudo investiga o descumprimento das condicionalidades do programa, como a frequência escolar mínima e o acompanhamento de saúde. Adota-se uma abordagem metodológica mista, com análise quantitativa de dados como idade, frequência escolar e cobertura vacinal, e abordagem qualitativa por meio de entrevistas com beneficiários, gestores e assistentes sociais. Os resultados revelam que, apesar dos avanços promovidos pelo programa, muitos beneficiários enfrentam barreiras como falta de acesso a serviços públicos e dificuldades socioeconômicas. O descumprimento gera penalidades, mas também evidencia fragilidades estruturais que limitam a efetividade das condicionalidades. Conclui-se que o sucesso do Bolsa Família depende de políticas públicas integradas e de maior investimento em serviços básicos de saúde e educação, garantindo a inclusão social plena.
Palavras-chave
condicionalidades. pobreza. políticas públicas. educação. saúde.

Summary

The Bolsa Família program is a public income transfer policy aimed at reducing poverty and strengthening citizenship. This study investigates noncompliance with program conditions, such as minimum school attendance and health monitoring. A mixed-methods approach was adopted, including quantitative analysis of age, school attendance, and vaccination coverage, along with qualitative interviews with beneficiaries, managers, and social workers. Results show that despite the program’s positive impacts, many families face barriers such as poor access to public services and socioeconomic challenges. Noncompliance leads to penalties but also reveals structural weaknesses that limit the effectiveness of the conditionalities. The study concludes that Bolsa Família’s success depends on integrated public policies and greater investment in health and education services to ensure full social inclusion.
Keywords
conditionalities. poverty. public policies. education. health.

Resumen

El programa Bolsa Familia es una política pública de transferencia directa de ingresos destinada a reducir la pobreza y fortalecer la ciudadanía. Este estudio investiga el incumplimiento de las condicionalidades del programa, como la asistencia escolar mínima y el seguimiento de salud. Se adoptó un enfoque metodológico mixto, con análisis cuantitativo de datos como edad, asistencia escolar y cobertura de vacunación, y entrevistas cualitativas con beneficiarios, gestores y trabajadores sociales. Los resultados muestran que, a pesar de los impactos positivos del programa, muchas familias enfrentan barreras como el acceso limitado a servicios públicos y desafíos socioeconómicos. El incumplimiento genera sanciones, pero también revela debilidades estructurales que limitan la eficacia de las condicionalidades. Se concluye que el éxito del programa depende de políticas públicas integradas y de una mayor inversión en servicios básicos de salud y educación para garantizar una inclusión social plena.
Palavras-clave
condicionalidades. pobreza. políticas públicas. educación. salud.

INTRODUÇÃO

O Programa Bolsa Família (PBF) é uma das mais relevantes iniciativas de transferência de renda no Brasil, voltada à redução das desigualdades sociais e à promoção da inclusão de famílias em situação de extrema pobreza. Criado em 2003, o programa consolidou-se como uma política pública essencial para assegurar o direito à proteção social, promovendo melhores condições de vida e ampliando o acesso aos direitos fundamentais. Estruturado com base em critérios socioeconômicos, o PBF estabelece como requisito o cumprimento de condicionalidades nas áreas da educação e saúde, assumindo o papel de catalisador de desenvolvimento humano e cidadania (Brasil, 2023).

As condicionalidades previstas pelo programa consistem em compromissos assumidos pelas famílias beneficiárias, como manter a frequência escolar mínima de crianças e adolescentes entre 6 e 17 anos, realizar o acompanhamento nutricional de crianças até sete anos, seguir o calendário nacional de vacinação e garantir o pré-natal para gestantes (Brasil, 2025). Esses requisitos refletem a intenção de articular políticas de renda com políticas sociais, promovendo uma abordagem intersetorial e preventiva. A não observância dessas exigências, contudo, pode implicar em sanções que variam de advertências a bloqueios, suspensões temporárias e, em casos extremos, o desligamento do programa.

O descumprimento das condicionalidades, conforme evidenciam relatórios institucionais e estudos acadêmicos, pode ocorrer por múltiplos fatores. Entre eles destacam-se a precariedade da oferta de serviços públicos essenciais, especialmente em regiões periféricas e zonas rurais, a desinformação por parte das famílias, além de situações de vulnerabilidade social agravadas por desemprego, insegurança alimentar e desestruturação familiar. De acordo com o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, o acompanhamento sistemático das famílias e a atuação articulada entre União, estados e municípios são medidas imprescindíveis para mitigar esses entraves (Brasil, 2025).

Estudos como o de Silva (2023) alertam para a necessidade de políticas complementares que garantam a efetivação das condicionalidades sem penalizar as famílias por questões estruturais alheias à sua vontade. É nesse sentido que o presente estudo se insere, buscando aprofundar o debate sobre a efetividade das exigências do PBF e os impactos do seu descumprimento. Ao problematizar as condições que dificultam o cumprimento das exigências, pretende-se contribuir para o aprimoramento da política e para a construção de estratégias mais inclusivas e sensíveis às realidades locais. Justifica-se, portanto, esta pesquisa pelo seu caráter socialmente relevante, considerando que o Bolsa Família continua sendo uma das principais portas de entrada para a proteção social de milhares de brasileiros. Além disso, a análise das condicionalidades e dos fatores que impedem seu cumprimento permite avaliar a coerência entre a proposta normativa e sua implementação prática, oferecendo subsídios para ajustes na política pública.

O objetivo geral deste trabalho é analisar os fatores que contribuem para o descumprimento das condicionalidades do Programa Bolsa Família. Como objetivos específicos, propõe-se: (1) identificar os tipos de condicionalidades mais frequentemente descumpridas; (2) compreender as principais barreiras enfrentadas pelas famílias para o cumprimento das exigências; e (3) discutir as consequências das sanções aplicadas sobre o cotidiano e os direitos dos beneficiários.

A estrutura deste artigo contempla, além desta introdução, um referencial teórico que discute o histórico, os objetivos e os mecanismos do Bolsa Família; a seção de metodologia, com a descrição dos procedimentos utilizados na coleta e análise de dados; a apresentação e discussão dos resultados, com base em evidências empíricas e bibliográficas recentes; e, por fim, as considerações finais, que sintetizam as principais conclusões do estudo e propõem recomendações para o fortalecimento da política.

REFERENCIAL TEÓRICO 

DESCUMPRIMENTO DAS CONDICIONALIDADES NO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA

Em 9 de janeiro de 2004 a Lei nº 10.836, institui o programa de transferência de renda, com o objetivo de combater a pobreza e a desigualdade social no Brasil, por meio de uma assistência financeira às famílias em situação de vulnerabilidade social, (Brasil, 2004). Além da Lei nº 10.836/2004, o Programa Bolsa Família também foi regulamentado por outras normas, como o Decreto nº 5.209/2004, que detalha as condições de funcionamento do programa e as suas condicionalidades nas áreas de saúde e educação para que as famílias possam continuar recebendo o benefício, (Brasil, 2004). 

O Programa Bolsa Família passou a ser regulamentado e ampliado com o tempo por meio de novas legislações, entre elas: A Lei nº 13.982/2020, que criou o Auxílio Emergencial durante a pandemia de COVID-19, com modificações nos critérios de elegibilidade e valores do benefício, (Brasil, 2020). A Lei nº 14.256/2021, que trata de modificações no Programa e dá uma nova organização aos benefícios relacionados à assistência social, (Brasil, 2021).

 O Bolsa Família tem como objetivo promover a inclusão social e reduzir a desigualdade por meio da transferência direta de recursos financeiros para famílias em situação de pobreza e extrema pobreza. As famílias beneficiárias devem cumprir condicionalidades nas áreas de saúde, como; vacinação, acompanhamento de gestantes e crianças e educação; matrícula e frequência escolar das crianças e adolescentes. (Brasil, 2005).  O programa prevê a concessão de benefícios financeiros variáveis, dependendo da situação da família, que são pagos mensalmente. O programa é gerido pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), com a colaboração dos municípios e estados para a implementação local das ações. (Brasil, 2005).

O Bolsa Família é um programa de transferência direta de renda que visa à redução da pobreza e à melhoria das condições de vida das famílias em situação de vulnerabilidade no Brasil. O programa consolidou-se como uma das principais políticas públicas de assistência social no país, articulando as questões de pobreza, desigualdade e cidadania. O programa foi concebido dentro de um contexto de desigualdade socioeconômica, sendo uma resposta do Estado brasileiro ao desafio de reduzir as disparidades entre as classes sociais. Nesse sentido, o Bolsa Família busca quebrar o ciclo da pobreza ao proporcionar uma rede de proteção social. O Bolsa Família reflete essa ideia ao transferir recursos financeiros para famílias em situação de vulnerabilidade, com o objetivo de proporcionar melhores condições de vida. 

CAUSAS DO DESCUMPRIMENTO DAS CONDICIONALIDADES

O descumprimento das condicionalidades do Programa Bolsa Família (PBF) pode ocorrer devido a diversos fatores, geralmente relacionados a desafios estruturais e sociais enfrentados pelas famílias beneficiárias. Segundo o Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), essas condicionalidades visam garantir o acesso a direitos básicos, como educação e saúde, porém, obstáculos diversos podem impedir seu cumprimento (Brasil, 2023).

Entre as principais causas do descumprimento, destacam-se: Dificuldade de acesso a serviços públicos, em muitas regiões, especialmente nas áreas rurais e periféricas, há escassez de escolas, postos de saúde e serviços de assistência social, dificultando o cumprimento das exigências do programa (Souza & Silva, 2019). Baixa escolaridade e falta de informação, algumas famílias não compreendem completamente as regras do programa ou não têm acesso a informações adequadas sobre as exigências e consequências do descumprimento (BRASIL, 2020). Problemas de transporte e deslocamento, a distância entre a residência das famílias e os serviços exigidos pode impedir a frequência escolar das crianças ou o comparecimento a consultas médicas, especialmente em áreas com infraestrutura precária (MDS, 2022). Situações de vulnerabilidade social extrema, problemas como insegurança alimentar, desemprego, violência doméstica e desestruturação familiar podem dificultar a organização da família para cumprir as condicionalidades (Costa & Ferreira, 2021). Falta de vagas em escolas ou unidades de saúde, em algumas regiões, a demanda por escolas e serviços de saúde supera a oferta disponível, impossibilitando que as crianças frequentem as aulas regularmente ou que as gestantes realizem o acompanhamento médico adequado (Brasil, 2020). 

Trabalho infantil e necessidade de complementar a renda, algumas famílias, em situação de extrema pobreza, acabam recorrendo ao trabalho infantil, prejudicando a frequência escolar das crianças e comprometendo o cumprimento das regras do programa (UNICEF, 2022). Fatores culturais e resistência social, em certas comunidades, pode haver resistência cultural quanto à vacinação, à escolarização formal ou ao acompanhamento médico, resultando no descumprimento das exigências do Bolsa Família (Santos & Pereira, 2018).

Essas barreiras evidenciam a necessidade de estratégias complementares para garantir o cumprimento das condicionalidades, como ampliação do acesso aos serviços públicos, campanhas de conscientização e acompanhamento familiar pelo Centro de Referência de Assistência Social (CRAS). O fortalecimento dessas ações é essencial para que o Bolsa Família continue promovendo a inclusão social e a melhoria das condições de vida das famílias beneficiárias.

CONSEQUÊNCIAS E ESTRATÉGIAS DE SOLUÇÃO

O Serviço de Atendimento Integral à Família (SAIF) desempenha um papel essencial no acompanhamento das famílias que não cumprem as condicionalidades do Programa Bolsa Família (PBF). Oferecido nos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS), o SAIF busca fortalecer a função protetiva das famílias, promovendo sua autonomia e acesso a direitos (Brasil, 2004).

Quando há descumprimento das condicionalidades, como frequência escolar, vacinação ou acompanhamento de saúde, a família é identificada e encaminhada ao CRAS para suporte. A equipe técnica realiza busca ativa, visitas domiciliares e escutas individuais e coletivas, visando compreender as dificuldades enfrentadas (MDS, 2023). Com base na avaliação, são planejadas intervenções, como inserção no Serviço de Atendimento Integral à Família (SAIF), encaminhamentos para serviços de saúde e educação, inclusão em grupos de convivência e monitoramento contínuo (Brasil, 2020).

As escutas individuais e coletivas são fundamentais nesse processo, pois permitem que as famílias expressem suas dificuldades, promovendo um ambiente de confiança e possibilitando a identificação de padrões comuns de desafios, como falta de transporte, desinformação e dificuldades financeiras. A partir dessas informações, estratégias mais eficazes podem ser desenvolvidas, como melhorias no acesso a serviços públicos e ações de conscientização (Silva & Souza, 2018).

O acompanhamento realizado pelo SAIF transcende o mero cumprimento das condicionalidades, configurando-se como um instrumento essencial para a prevenção de penalidades severas, incluindo o cancelamento do benefício. Além disso, contribui para o fortalecimento dos vínculos entre as famílias e os serviços sociais, promovendo a inclusão e o desenvolvimento social de forma sustentável (MDS, 2022).

METODOLOGIA

O propósito da metodologia deste estudo foi realizar uma análise aprofundada e minuciosa sobre o não cumprimento das condicionalidades, integrando tanto métodos qualitativos quanto quantitativos.

A escolha pela abordagem metodológica mista justifica-se pela necessidade de integrar evidências numéricas com interpretações contextuais, possibilitando uma compreensão mais ampla e aprofundada do tema em estudo. Os dados quantitativos oferecem informações objetivas sobre a efetividade das condicionalidades do programa, enquanto os dados qualitativos permitem captar as percepções, desafios e impactos reais dessas exigências no cotidiano das famílias beneficiárias. Dessa forma, a pesquisa mista proporciona uma análise mais robusta, fundamentada e alinhada à complexidade dos fenômenos sociais relacionados ao Bolsa Família, conforme defendem, (Creswell e Plano Clark, 2013), ao destacarem a relevância da combinação entre métodos quantitativos e qualitativos para o aprofundamento da análise em pesquisas sociais.

Por outro lado, a abordagem qualitativa busca compreender os aspectos subjetivos do fenômeno estudado, investigando as razões e impactos sociais das condicionalidades do Bolsa Família por meio de entrevistas, relatos e observações. Essa metodologia permite captar as percepções das famílias beneficiárias, dos gestores do programa e de assistentes sociais envolvidos na execução das políticas públicas.

A escolha da pesquisa bibliográfica se justifica pela necessidade de embasamento teórico e documental sobre o Bolsa Família. Segundo Gil (2008), esse tipo de pesquisa é fundamental para analisar contribuições já publicadas, permitindo o aprofundamento conceitual e a compreensão crítica do objeto de estudo. Já a abordagem mista permite ampliar a análise por meio da integração de dados estatísticos e entrevistas, oferecendo uma visão mais completa sobre os desafios e impactos das condicionalidades do programa (Creswell; Plano Clark, 2013).

A realização de entrevistas com beneficiários do Bolsa Família possibilita compreender os desafios enfrentados no cumprimento das condicionalidades do programa, revelando aspectos que nem sempre são captados por dados quantitativos. Além disso, os relatos de assistentes sociais ou gestores do programa contribuem para identificar as principais dificuldades no processo de acompanhamento das famílias, bem como as estratégias adotadas para promover o acesso e a permanência dos beneficiários. Conforme Minayo (2010), a escuta qualificada por meio de entrevistas é essencial para captar a complexidade das vivências sociais e as múltiplas dimensões da realidade estudada.

RESULTADOS E DISCUSSÃO 

O Programa Bolsa Família (PBF) tem sido uma das principais ferramentas de transferência de renda no Brasil, visando reduzir a pobreza e a desigualdade social. Desde a sua criação, o programa apresentou impactos significativos, principalmente na melhoria dos indicadores de saúde e educação. No entanto, seu sucesso também é acompanhado por críticas, principalmente no que diz respeito à eficácia de longo prazo e à dependência que pode gerar nas famílias beneficiárias (Silva, 2023).

Um dos principais resultados do Bolsa Família foi a redução da pobreza extrema no Brasil. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o programa contribuiu para a diminuição da desigualdade social, com uma redução da pobreza entre as famílias beneficiárias. Em 2019, mais de 13 milhões de famílias estavam inscritas no programa, o que representava uma significativa parcela da população em situação de vulnerabilidade (IBGE, 2019).

No campo da educação, o Bolsa Família tem mostrado resultados expressivos, com um aumento da taxa de matrícula e da frequência escolar de crianças e adolescentes de famílias beneficiárias. A condicionalidade de manutenção da frequência escolar, com exigências de 85% de presença para crianças de 6 a 15 anos e 75% para adolescentes de 16 a 17 anos, tem levado muitas famílias a priorizarem a educação de seus filhos. Isso contribuiu para a redução da evasão escolar e a promoção da inclusão educacional (Brasil, 2022).

Em relação à saúde, o programa também obteve resultados positivos. A exigência de acompanhamento da saúde das crianças e gestantes, com vacinação e exames regulares, tem contribuído para melhorias nos índices de saúde infantil e redução da mortalidade infantil. Dados do Ministério da Saúde indicam que a cobertura vacinal aumentou nas famílias atendidas pelo programa, o que representa um avanço nas políticas públicas de saúde (Ministério Da Saúde, 2020).

Apesar dos avanços, o Bolsa Família não está isento de críticas. Uma das principais questões levantadas por especialistas e gestores públicos é a dependência do benefício. Embora o programa tenha contribuído para a diminuição da pobreza, muitos argumentam que ele ainda não oferece uma saída sustentável para as famílias, uma vez que o valor do benefício não é suficiente para promover a inclusão econômica de forma autossuficiente. Em muitos casos, as famílias continuam dependendo do programa por anos, o que levanta discussões sobre a necessidade de políticas complementares para a inclusão no mercado de trabalho (Almeida, 2021).

Outro ponto de crítica está relacionado à qualidade do atendimento e acesso aos serviços públicos nas áreas de saúde e educação. A condicionalidade do programa exige que as famílias cumpram certas metas, mas a falta de infraestrutura e a ineficiência de serviços públicos em algumas regiões dificultam o cumprimento dessas exigências. Além disso, o acesso à educação de qualidade ainda é desigual, com muitas escolas em áreas remotas carecendo de recursos adequados (Silva, 2023).

A falta de acompanhamento individualizado de cada família também é uma limitação do programa. Embora haja esforços para garantir a universalização dos benefícios, muitas famílias podem ter dificuldades em acessar os serviços exigidos pela condicionalidade, como vacinas e exames médicos, devido à dificuldade de deslocamento ou à falta de profissionais de saúde qualificados nas localidades em que vivem (Almeida, 2021).

Especialistas destacam a necessidade de políticas complementares ao Bolsa Família para garantir que as famílias não se tornem dependentes do programa por tempo indeterminado. A criação de programas de qualificação profissional, apoio ao empreendedorismo e incentivo à geração de empregos formais são essenciais para que as famílias beneficiárias possam alcançar a autossuficiência e uma melhoria duradoura em suas condições de vida. Além disso, é necessário que as políticas públicas sejam integradas, oferecendo não apenas a transferência de renda, mas também acesso a serviços de educação de qualidade, saúde, e habitação adequados (Costa, 2022).

O Programa Bolsa Família tem se mostrado eficaz em diversos aspectos, principalmente na redução da pobreza, melhoria nos indicadores de educação e saúde, e promoção da inclusão social. Contudo, para que o programa cumpra seu papel de forma mais efetiva e sustentável, é fundamental que sejam desenvolvidas estratégias complementares que permitam a transição das famílias para a autossuficiência, além de um fortalecimento das redes de serviços públicos para garantir a plena execução das condicionalidades exigidas. O programa é, portanto, um passo importante, mas deve ser constantemente aprimorado para atender às reais necessidades da população em situação de vulnerabilidade (Brasil, 2022).

Estudos sobre a efetividade do programa apontam que o Bolsa Família tem contribuído para a redução das desigualdades e para o aumento do acesso a serviços sociais, como saúde e educação. Pois, ao melhorar as condições básicas de vida, o programa pode ajudar no processo de inclusão social, possibilitando o aumento do capital humano e econômico das famílias beneficiadas. Por outro lado, também existem críticas relacionadas ao caráter assistencialista do programa, com algumas visões que defendem que ele não resolve as causas estruturais da pobreza, mas apenas a mitiga de forma pontual. Nesse sentido, a teoria do estruturalismo social sugere que as políticas públicas de transferência de renda devem ser acompanhadas de reformas estruturais que atuem diretamente nas desigualdades sistêmicas, como o acesso a trabalho, educação de qualidade e mobilidade social (Santos, 2020).   

        

CONSIDERAÇÕES FINAIS 

O Bolsa Família é um programa essencial para a redução da pobreza e da desigualdade no Brasil, proporcionando assistência financeira a famílias em situação de vulnerabilidade econômica. No entanto, para garantir que os beneficiários tenham acesso a direitos fundamentais, o programa impõe algumas condicionalidades, como a frequência escolar das crianças, a atualização do calendário de vacinação e o acompanhamento pré-natal para gestantes.

O descumprimento dessas condicionalidades pode levar a penalidades, como advertências, suspensão ou até o cancelamento do benefício, pois elas são fundamentais para assegurar que os beneficiários tenham acesso à educação e à saúde, promovendo uma melhora real e sustentável em suas condições de vida. Dessa forma, o cumprimento das exigências do Bolsa Família não apenas protege o auxílio financeiro das famílias, mas também fortalece políticas públicas voltadas para o desenvolvimento social e a erradicação da pobreza no país.

O Bolsa Família representa um marco na implementação de políticas de transferência de renda no Brasil, sendo uma ferramenta significativa no combate à pobreza. No entanto, sua efetividade depende da constante adaptação às necessidades sociais e da integração com outras políticas públicas que promovam o desenvolvimento social sustentável e a emancipação dos cidadãos em situação de vulnerabilidade.

As escutas coletivas das famílias com descumprimento das condicionalidades são fundamentais para compreender as barreiras que essas famílias enfrentam e para promover mudanças que possam efetivamente melhorar a implementação das políticas públicas de assistência social. Ao permitir um diálogo aberto, respeitoso e atento às necessidades das famílias, essas escutas possibilitam uma abordagem mais eficaz, e busca uma verdadeira inclusão social. O fortalecimento dessas práticas é essencial para garantir que as políticas de transferência de renda e assistência social cumpram seu papel de melhorar as condições de vida da população em situação de insegurança alimentar.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 

BRASIL. (2022). Impactos do Programa Bolsa Família: Indicadores sociais e avanços. Ministério da Cidadania.  COSTA, M. R. (2022). Políticas complementares ao Bolsa Família: Rumo à autossuficiência. Editora ABC.

BRASIL. Bolsa Família e as Condicionalidades: Diretrizes e Implementação. Brasília: MDS, 2023.

BRASIL. Caderno de Orientações Técnicas do PAIF. Brasília: Ministério da Cidadania, 2020.

BRASIL. Lei nº 10.836, de 9 de janeiro de 2004. Institui o Programa Bolsa Família e dá outras providências. Brasília, 2004.

BRASIL. Lei nº 10.836, de 9 de janeiro de 2004. Institui o Programa Bolsa Família e dá outras providências. Brasília, 2004.

BRASIL. Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome. Programa Bolsa Família. Disponível em: https://www.gov.br/mds. Acesso em: 31 mar. 2025.  ALMEIDA, J. P. (2021). A dependência do Bolsa Família: Desafios e oportunidades para a inclusão social. Editora XYZ.

BRASIL. Política Nacional de Assistência Social – PNAS. Brasília: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, 2004.

COSTA, M. R.; FERREIRA, L. A. A Assistência Social e o Programa Bolsa Família: Desafios e Perspectivas. Revista Brasileira de Políticas Públicas, v. 14, n. 2, p. 120-135, 2021.

CRESWELL, John W.; PLANO CLARK, Vicki L. Pesquisa de métodos mistos. 2. ed. Porto Alegre: Penso, 2013.

GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008.

IBGE. (2019). Pesquisa de orçamentos familiares: Efeitos do Bolsa Família na redução da pobreza. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

MDS – Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome. Bolsa Família e as Condicionalidades: Diretrizes e Implementação. Brasília, 2023.

MDS – Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome. Orientações para o Acompanhamento de Famílias no Descumprimento das Condicionalidades. Brasília, 2022.

MDS. Orientações para o Acompanhamento de Famílias no Descumprimento das Condicionalidades. Brasília, 2022.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. (2020). Relatório de acompanhamento da cobertura vacinal nas famílias beneficiárias do Bolsa Família. Ministério da Saúde.

SANTOS, J. P.; PEREIRA, A. C. A resistência cultural no cumprimento das condicionalidades do Bolsa Família. Revista de Estudos Sociais, v. 20, n. 4, p. 89-104, 2018.

SANTOS, L. F. (2020). Estruturalismo social e transferências de renda: Reformas para reduzir as desigualdades. Editora DEF.

SILVA, A. L. (2023). O impacto do Bolsa Família na redução das desigualdades sociais no Brasil. Revista Brasileira de Política Social.

SILVA, A. R.; SOUZA, M. T. O Papel do CRAS no Acompanhamento de Famílias do Bolsa Família. Revista Brasileira de Assistência Social, v. 12, n. 3, p. 45-67, 2018.

SOUZA, T. R.; SILVA, D. F. O impacto das barreiras sociais no cumprimento das condicionalidades do Bolsa Família. Revista de Políticas Sociais, v. 7, n. 3, p. 45-61, 2019.

UNICEF. Relatório sobre Trabalho Infantil e Educação no Brasil. Brasília, 2022.

Marinho, Adriana Matos . Descumprimento das condicionalidades no programa Bolsa Família.International Integralize Scientific. v 5, n 47, Maio/2025 ISSN/3085-654X

Referencias

BAILEY, C. J.; LEE, J. H.
Management of chlamydial infections: A comprehensive review.
Clinical infectious diseases.
v. 67
n. 7
p. 1208-1216,
2021.
Disponível em: https://academic.oup.com/cid/article/67/7/1208/6141108.
Acesso em: 2024-09-03.

Share this :

Edição

v. 5
n. 47
Descumprimento das condicionalidades no programa Bolsa Família

Área do Conhecimento

Os desafios da concessão do benefício de prestação continuada às pessoas com deficiência e idosa: Burocracia, avaliação e inclusão social
vulnerabilidade social; acesso ao benefício; pessoas idosas; deficiência; cidadania.
Bullying: Desafios e dificuldades na aprendizagem de vítimas no ambiente escolar
bullying; violência; escola.
Violência institucional e interseccionalidade: Quando o estado também violenta
violência institucional; racismo estrutural; exclusão social.
Violência contra a mulher como expressão histórica das relações de poder: Genealogia, estrutura e permanências
Justiça de gênero; Violência institucional; Patriarcado.
Políticas públicas e resistência feminina: enfrentamentos, limites e potencialidades
solidariedade feminina; resistência coletiva; violência de gênero.
A naturalização da violência: Cultura, mídia e o imaginário coletivo sobre a mulher
violência simbólica; mídia; gênero.

Últimas Edições

Confira as últimas edições da International Integralize Scientific

maio

Vol.

5

47

Maio/2025
feature-abri-2025

Vol.

5

46

Abril/2025
MARCO

Vol.

5

45

Março/2025
FEVEREIRO (1)

Vol.

5

44

Fevereiro/2025
feature-43

Vol.

5

43

Janeiro/2025
DEZEMBRO

Vol.

4

42

Dezembro/2024
NOVEMBRO

Vol.

4

41

Novembro/2024
OUT-CAPA

Vol.

4

40

Outubro/2024

Fale com um com um consultor acadêmico!

O profissional mais capacitado a orientá-lo e sanar todas as suas dúvidas referentes ao processo de mestrado/doutorado.