Terra Preta uma História Cultural e Religiosa: Terra de Santos Milagreiros

TERRA PRETA A HISTORY CULTURAL AND RELIGIOUS: LAND OF MIRACLE-WORKING SAINTS

TERRA PRETA UNA HISTORIA CULTURAL Y RELIGIOSA: TIERRA DE SANTOS HACEDORES DE MILAGROS

Autor

Antonio Ailson Cavalcante de Amorim
ORIENTADOR
Prof. Dr. Esmeraldo Soares dos Santos Souza

URL do Artigo

https://iiscientific.com/artigos/48AD1A

DOI

Amorim, Antonio Ailson Cavalcante de . Terra Preta uma História Cultural e Religiosa: Terra de Santos Milagreiros. International Integralize Scientific. v 5, n 45, Março/2025 ISSN/3085-654X

Resumo

O presente artigo tem por finalidade, apresentar os processos históricos, culturais e religiosos de como se procede, as manifestações católicas popular e litúrgica, nos festejos e celebrações: a Santo Antônio e Santíssima Trindade santos católicos populares, celebrações essas que acontecem com o apoio do povo, e tem Santo Afonso e São Sebastião como santos litúrgicos que tem o apoio da Igreja, desta forma essa herança religiosa dos súditos da coroa portuguesa nos revela o poder político religioso da Igreja Católica seja ele popular ou litúrgico no bairro de Terra Preta, a partir disso, essas manifestações de cunho religioso, se professam, e se apresentam no meio urbano da Cidade de Manacapuru, por tanto nesse imbróglio histórico, cultural e religiosa, o desperta da fé, e a devoção dos caboclos terra pretenses, que perpassam de geração a geração, pelos meses de janeiro nos festejos de São Sebastião, maio as comemorações é a Santíssima Trindade, em junho os festejos é em honra a Santo Antônio o padroeiro popular do bairro, e no mês de agosto se celebra Santo Afonso, santo esse que a Igreja reconhece como santo padroeiro do bairro de Terra Preta, através de suas liturgias.
Palavras-chave
Terra preta. Religiosidade. Catolicismo popular. Catolicismo litúrgico. Santos.

Summary

This article aims to present the historical, cultural and religious processes of how popular and liturgical Catholic manifestations are carried out in the festivities and celebrations: Saint Anthony and the Holy Trinity, popular Catholic saints, celebrations that take place with the support of the people, and have Saint Alphonsus and Saint Sebastian as liturgical saints who have the support of the Church, in this way this religious heritage of the subjects of the Portuguese crown reveals to us the political and religious power of the Catholic Church, whether popular or liturgical, in the neighborhood of Terra Preta, from this, these manifestations of a religious nature are professed and presented in the urban environment of the City of Manacapuru, therefore in this historical, cultural and religious imbroglio, the awakening of faith and the devotion of the caboclos terra pretenses, which pass from generation to generation, during the months of January in the festivities of Saint Sebastian, in May the celebrations are of the Holy Trinity, in June the festivities are in honor of Saint Anthony. the popular patron saint of the neighborhood, and in the month of August, Saint Alphonsus is celebrated, a saint that the Church recognizes as the patron saint of the Terra Preta neighborhood, through its liturgies.
Keywords
Religiosity. Popular Catholicism. Liturgical Catholicism. Saints.

Resumen

Este artículo tiene como objetivo presentar los procesos históricos, culturales y religiosos de cómo se realizan las manifestaciones populares y litúrgicas católicas en las festividades y celebraciones: San Antonio y la Santísima Trinidad, santos populares católicos, celebraciones que se realizan con el apoyo del pueblo, y tienen a San Alfonso y San Sebastián como santos litúrgicos que tienen el apoyo de la Iglesia, de esta manera este patrimonio religioso de los súbditos de la corona portuguesa nos revela el poder político y religioso de la Iglesia Católica, ya sea popular o litúrgica, en el barrio de Terra Preta, a partir de esto, estas manifestaciones de carácter religioso son profesadas y presentadas en el entorno urbano de la Ciudad de Manacapuru, por tanto en este embrollo histórico, cultural y religioso, el despertar de la fe y la devoción de los caboclos terra pretenses, que pasan de generación en generación, durante los meses de enero en las festividades de San Sebastián, en mayo las celebraciones son de la Santísima Trinidad, en junio las festividades son en honor a San Antonio. el patrón popular del barrio, y en el mes de agosto se celebra San Alfonso, santo que la Iglesia reconoce como patrón del barrio Terra Preta, a través de sus liturgias.
Palavras-clave
Tierra negra. Religiosidad. Catolicismo popular. Catolicismo litúrgico. Santos.

INTRODUÇÃO

A Amazônia, no tempo de sua colonização, herdou da coroa lusitana sua religiosidade; religiosidade essa que influencia até nos dias de hoje as manifestações socioculturais de um povo, de uma nação ou de uma comunidade, como a do bairro da Terra Preta na cidade de Manacapuru. Na Amazônia, no seu contexto histórico, cultural, religioso tradicional, é de praxe que cada localidade, seja ela grande ou pequena, ou nos lugares mais longínquos, ter o seu santo como padroeiro. Essa tradição católica‑romana a Igreja faz questão que ela seja cumprida religiosamente, no decorrer do tempo e espaço, os anos comprovam os fatos.

Mas, no bairro da Terra Preta, que deu origem ao município de Manacapuru, há um diferencial; enquanto localidades, bairros e cidades têm um santo como referência religiosa para ser o padroeiro ou protetor desse ou daquele lugar, no bairro temos quatro santos. Por ordem cronológica de fundamento histórico, que aqui vamos cita‑los: Santo Antônio, Santíssima Trindade, Santo Afonso e São Sebastião. E pela complexidade religiosa que se manifesta de fato e de direito no bairro da Terra Preta, temos duas festas de Santo Antônio na mesma data e no mesmo lugar a distância geográfica entre a de “Santo Antônio de Cima” e a de “Santo Antônio de Baixo” é de poucos metros uma da outra. As festas e cultos aos santos se originaram no Velho Mundo em homenagem às prosperidades e ao bom êxito das colheitas, que até então eram manifestações pagãs.

Mas, com a influência religiosa da Igreja, transformou‑se em algo cristão, tornando as festas ou quem participa delas mais próximo do Cosmo. Pois, os surgimentos das festas, se dá conforme aborda a professora e historiadora Del Priore.

Das formas de culto externo, tributado geralmente a uma divindade protetora das plantações, realizada em determinados tempos e locais. Mas com o advento do cristianismo, tais solenidades receberam nova roupagem: a Igreja determinou dias que fossem dedicados a culto divino, considerando os dias de festa, os quais formavam em seu conjunto o ano eclesiástico. Essas festas são distribuídas em dois grupos distintos: as de festas de Senhor (Paixão de Cristo e demais episódios da sua vida) e os dias comemorativos dos santos (apóstolos, pontífices, virgens, mártires, Virgem Maria e padroeiros), nos intervalos aos domingos, por isso são chamadas “Domingas”.(Del Priore, 2000, p. 13).

Nessa linha, o bairro da Terra Preta, por ser um lugar histórico e cultural, traz a sua complexidade religiosa dentro do próprio catolicismo, que se divide em duas vertentes: o Catolicismo Popular e o Catolicismo Litúrgico. O Catolicismo Popular congrega Santo Antônio e Santíssima Trindade, e o Catolicismo Litúrgico as comunidades de Santo Afonso e São Sebastião. 

O Catolicismo Popular, no bairro e na cidade, é preponderante por causa da popularidade de Santo Antônio, que tem a maior expressão nos contextos histórico, cultural, político, econômico e social no bairro, como no município de Manacapuru. Pois, no período das comemorações das festas a Santo Antonio, toda a cidade se volta para o bairro da Terra Preta, mostrando assim, o poder político da festa em torno das outras manifestações sociais, culturais e religiosas, se diga de passagem também a o poderio do império capitalista cultural em torno da festa.

SANTO ANTÔNIO: UM SANTO CATÓLICO POPULAR

A devoção do povo do bairro da Terra Preta em louvor a Santo Antônio, segundo os relatos dos moradores mais antigos e de membros dos grupos sociais que gerenciam os festejos do mesmo, se remontam da época da guerra da Cabanagem (1835 ‑1840), quando os caboclos do lugar fizeram uma promessa a Santo Antônio: se seus filhos e netos voltassem sãos e salvos da guerra, eles festejam o santo como padroeiro do lugar.

A partir dessa promessa, que se cumpriu, passaram a festejar o santo como o padroeiro do bairro até os dias de hoje. São quase dois séculos de história, cultura, religiosidade e tradição. Assim, os festejos do santo católico popular se tornaram a mais antiga expressão folclórica cultural e popular no meio urbano da cidade de Manacapuru.

E nos dias de hoje, seja talvez a maior festa católica popular do Estado do Amazonas e uma das maiores manifestações culturais nesse contexto. Através dos tempos, essa tradição vem sendo perpassada de geração a geração no bairro da Terra Preta pelas famílias Coelho e Vasconcelos. 

Por tanto, nos leva a crer, assim como na Amazônia, Terra Preta sofreu uma grande influência dos colonizadores da época não só na cultura como na religião. A religiosidade é constatada nos atos de fé dos caboclos do lugar. Conforme afirma a professora Isabel Vasconcelos (1985), esse ato de fé se comemora na primeira trezena do mês de junho:

O ritual da festa de Santo Antônio surgiu há mais de um século atrás, a partir de promessas feitas pela família Coelho de Manacapuru. A qual foi feita na época da guerra da Cabanagem. Tendo a família Coelho vários de seus filhos e netos convocados para a guerra e receosos do pior, apegaram ‑se a Santo Antônio pedindo‑lhe proteção para seus filhos e em troca prometeram ao Santo festejar o seu dia todos os anos, essa promessa passaria de pai para filho tornando‑se assim uma tradição em Manacapuru, foi criado o ritual dos festejos de Santo Antônio em Manacapuru(Amorim, 2013. p. 120-121 apud Vasconcelos, 2025).

A partir dos fatos históricos, as festas em comemoração à Santo Antônio iniciaram ‑se bem antes dos fundamentos geopolíticos do bairro da Terra Preta. Dessa forma, por meio de uma pesquisa histórica cultural, fizemos uma leitura da mais antiga manifestação católica popular do município de Manacapuru: “A festa de Santo Antônio do bairro da Terra Preta”. Mas, muito se tem perguntado em nossos dias, o que vem a ser uma festa de santo.

Uma produção do cotidiano, uma ação coletiva, que se dá num tempo e lugar definidos e especiais, implicando a concentração de afetos e emoções em torno de um objeto que é celebrado e comemorado cujo produto principal é a simbolização da unidade dos participantes na esfera de uma determinada identidade (Jancsó; Kantor, 2001. p. 972).

A festa a Santo Antônio se propaga no meio urbano da cidade de Manacapuru, e simboliza, para o caboclo do lugar, uma expressão que se entrelaça nas práticas e manifestações de cunho popular, ou o popular religioso no decorrer de suas permanências e transformações. E, se estamos falando de festa popular ou popular religiosa por meio de um olhar antropológico. O professor Sergio Ivan Gil Braga(2007), discorre que:

Para efeitos de análise antropológica, consideramos as festas amazônicas, tanto históricas como contemporâneas. Longe de uma procura das origens, busca ‑ se sugerir a comparação de diferentes festas com a finalidade de estabelecer aspectos comuns e prováveis peculiaridades existentes em tais manifestações(Braga, 2007. p. 64).

Mas, o que importa para a sociedade é o significado da festa no contexto histórico, cultural, político, econômico, social e religioso, e o que essas festas de santos representam para seus participantes, e para todos que estão inseridos direta ou indiretamente no processo das práticas e representações culturais que ocorrem no meio urbano da cidade por meio dos festejos de Santo Antônio do bairro de Terra Preta. O mesmo Braga (2007) define que:

As práticas culturais de populações urbanas mestiças ou “caboclas”, com suposta influência cultural indígena, de afro ‑descendentes e da colonização europeia, registradas na literatura de época e vivenciadas hoje no âmbito da região amazônica, com destaque para as festas correspondentes ao Estado do Amazonas(Braga, 2007. p. 64).

E, se estamos falando de festa de santo, quem foi Santo Antônio, e qual o propósito de suas manifestações litúrgicas na Igreja, e da crença para seus devotos no decorrer da história? Como descreve Jesus e Grillo (2008), que:

Alguns dizem que o nome verdadeiro desse santo não é Antônio, mas Fernando de Bulhões, segundo estes, ele nasceu em Portugal em 15 de agosto de 1195 e faleceu em 13 de junho de 1223. Outros, porém, afirmam que Fernando Bulhões foi a cidade onde nasceu. Aos 24 anos, já na Escola Monástica de Santa Cruz de Coimbra, foi ordenado sacerdote. Dizem que era famoso por conhecer a Bíblia de cor. Ao tomar conhecimento de que quatro missionários foram mortos pelos sarracenos, decidiu mudar ‑se para o Marrocos. Ao retornar para Portugal, a embarcação que o trazia desviou ‑se da rota por causa de uma tempestade, e ele foi parar na Itália. Lá foi nomeado pregador da ordem Geral. Depois de um encontro com os discípulos de Francisco de Assis, entrou para a ordem dos franciscanos e foi rebatizado de Antônio. Viveu tratando dos enfermos e ajudando a encontrar coisas perdidas. Dedicava-se a arranjar maridos para as moças solteiras(Amorim, 2013. p. 122-123. Apud Jesus; Grillo, 2008).

Daí por diante, com o decorrer do tempo e do espaço surgiram as primeiras manifestações religiosas no Brasil a Santo Antônio? Desta forma, foram criadas as celebrações, novenas, arraias promessas e devoções a Santo Antônio no Nordeste brasileiro pelos franciscanos:

Que fizeram erigir em Olinda – PE a primeira igreja dedicada a ele. Faz parte da tradição que as moças casadouras recorram a Santo Antônio, às vésperas do dia 13 de junho, formulando promessas em troca de desejado matrimônio. “Esse fato acabou curiosamente transformando 12 de junho no Dia dos Namorados”. A fama de casamenteiro surgiu mesmo depois de sua morte, no século XVI. Diz a lenda que uma moça pobre pediu ajuda ao Santo Antônio e conseguiu o dote que precisava para poder casar. A história se espalhou e hoje é o Santo que homens e mulheres recorrem quando o objetivo é encontrar sua metade(Amorim, 2013. p. 123 apud Jesus; Grillo, 2008).

Por tanto, a partir da crença e da fé em Santo Antônio, o caboclo do bairro da Terra Preta passou a cumprir a promessa religiosamente todos os anos, por meio das festas e, principalmente, dos rituais que sustentam a tradição da história oral, folclórica e cultural do bairro da Terra Preta. Isso se observa nos momentos da alvorada, Levantação e Derrubação de Mastro, Canoa de Alumiação e o Sela – cavalo. Esses ritos ou ladainhas, se discutem muito se são de cunho profano ou sagrado, o tradicional religioso conduz a vontade dessa geração do lugar, e sem fazer juízo de valor. É bom lembrar Mário de Andrade:

Aliás, a verdade mais fundamental, a meu ver, é que nenhum dos dramas cantado pelo nosso povo tem origem profana. “O drama popular é de origem religiosa”. Generaliza Haggety Krape(1, p. 308), o que implica aliás todo o teatro erudito. Porque se existe fenômeno típico de desnivelamento dum gênero artístico, é o teatro folclórico. Ele nasce como imposição de grupos dominantes que, na celebração, ensinam por meio de mimetismo dramático a vida imperante dos espíritos, dos deuses. Assim não é a profundidade do heroísmo, da coragem dos feitos históricos. Tradições e costumes raciais que provocam a fundação das nossas danças dramáticas, todas são de fundo religioso. Ou melhor, dizendo: O tema, o assunto de cada bailado é conjuntamente profano e religioso, nisso de representar ao mesmo tempo um fator prático, imediatamente condicionado a uma transfiguração religiosa(Andrade, 1982, p. 23 ‑24).

Assim, a importância dos festejos de Santo Antônio do bairro de Terra Preta no município de Manacapuru, não é só histórica, cultural e religiosa. Há também uma política, socioeconômica, voltada para as treze noites de festa que acontece no âmbito do bairro no mês de junho. Dessa forma, há uma reprocidade desse capital de giro em torno do bairro, bem como para a cidade e principalmente para os grupos gerenciadores, e para os demais que participam direta ou indiretamente dos festejos como: Os barraqueiros, parquinhos, as barracas de pescarias e tacacas e muitos outros, essa festa não é diferente das grandes festas populares que acontecem nos grandes centros urbanos, e nas médias e pequenas cidades do resto do país. 

SANTÍSSIMA TRINDADE: O MILAGRE

A Trindade ou Santíssima Trindade é a doutrina acolhida pela maioria das igrejas cristãs que professa a Deus único preconizado em três pessoas distintas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Para os seus defensores, é um dos dogmas centrais da fé cristã, e considerado um mistério. Tais denominações consideram‑se monoteístas(Amorim, 2013. p. 134 apud Trindade Cristianismo, 2009).

Talvez seja, para esse mistério em forma de milagre pela cura dos seus entes da Febre Amarela no século passado, que até os dias de hoje a família Vasconcelos celebra em sua residência as manifestações católicas popular em honra a Santíssima Trindade, por meio de mais um ato de fé e religiosidade no catolicismo popular preconizado a cada ano no bairro de Terra Preta no município de Manacapuru. Gabriel Ferreira afirma que a fé de populares na Santíssima Trindade gera o milagre.

Dessa forma, o testemunho de Maria Cleide reforça a relação da expressão de devoção e agradecimento ao milagre concedido pela Santíssima Trindade. Eu tive um milagre na minha vida que aos 43 anos eu dei à luz a minha filha que hoje tem 24 anos. Então colocar as fitas sobre a minha filha significa, o meu agradecimento, o meu louvor, é exaltar a Santíssima Trindade pela graça que eu recebi, […].(Fragata, 2023. p. 56).

Muito embora, a Santíssima Trindade seja um mistério para ser revelado apenas quando estivermos diante do trono da graça, ainda assim podemos ter certeza da sua existência pelas informações dadas nas Sagradas Escrituras. Alguns versículos são bastante explícitos a esse respeito, não permitindo nenhuma dúvida da sua realidade. “O exemplo mais claro e evidente da manifestação da Santíssima Trindade foi exatamente no batismo do Senhor Jesus, realizado por João Batista”, conforme documentou Mateus (Macedo, 2002, p. 13 ‑14).

Muitos teólogos no mundo inteiro, que estudam a Santíssima Trindade, afirmam que esse versículo no evangelho de Mateus é uma das raras passagens bíblicas em que a Santíssima Trindade se manifesta pelo poder do Pai, do Filho, e pelo Espírito Santo através do batismo nas águas. E a Santíssima Trindade só se manifesta no ser humano quando ele se redime de seus pecados e desce às águas, aceitando o Senhor Jesus como seu único salvador:

Por esse tempo, dirigiu ‑se Jesus da Galiléia para o Jordão, a fim de que João o batizasse. Ele, porém, o dissuadiu, dizendo: Eu é que preciso ser batizado “por ti, e vens a mim?” Mas Jesus lhe respondeu: Deixa por enquanto, porque, assim, nos convém cumprir toda a justiça. Então, ele o admitiu. Batizado Jesus saiu logo da água, e eis que lhe abriram os céus, e viu o Espírito de Deus descendo como pomba, vindo sobre ele. E eis uma voz dos céus, que dizia: Este é o meu Filho amado em quem me comprazo (Mateus 3. 13 ‑17).

A Santíssima Trindade, de acordo com a Palavra de Deus, se manifesta numa tri unidade, que são elas: o Deus Pai, o Deus Filho e o Deus Espírito Santo:

Deus Pai: A primeira pessoa da Santíssima Trindade. O Deus Pai criou os Céus e a Terra por meio do poder de sua Santa Palavra, e onde também o próprio Deus se manifestava para se dirigir aos Profetas, Sacerdotes, Reis e Juízes no Antigo Testamento por meio do poder de sua palavra. O exemplo foi quando Moisés subiu ao Monte Sinai para buscar as tábuas dos Dez Mandamentos para ser dirigida especificamente ao povo de Israel, quando se libertou das garras de faraó no Egito Antigo.

Deus Filho: A segunda pessoa da Santíssima Trindade O Deus Filho é o que deu o sangue e a vida por todos nós. O Rei dos reis. O Senhor dos senhores, o Santo dos santos, é único que salva, cura, liberta de tudo e todos, como afirma a Palavra de Deus, “[para] aquele que Nele crer que não pereça, mas que tenha a vida eterna” (João: 3.15). Foi a partir do sacrifício do Senhor Jesus na Cruz do Calvário que a salvação chegou até nós (os gentios). Deus Espírito Santo: A terceira pessoa da Santíssima Trindade.(Amorim, 2013. p. 137).

O Deus Espírito Santo é o que sustenta e conduz a Igreja em nossos dias para a segunda vinda do Filho do Homem, e nos convence de todos os nossos pecados quando nós o permitimos que Ele atue em nossas vidas. O Espírito Santo, para aqueles que creem e praticam a Santa Palavra de Deus e exercem a fé no Senhor e Salvador Jesus Cristo, e que nunca se corromperam nas suas vidas espirituais, conjugais e morais, neste mundo em que vivemos. É o Espírito Santo que nos afirma que teremos paz com Cristo na Eternidade.

SANTÍSSIMA TRINDADE NO BAIRRO DA TERRA PRETA

Organizado na base do pequeno grupo local, o povoado, o sítio ou a “freguesia”, o catolicismo do caboclo amazônico é marcado por acentuada devoção aos santos padroeiros da localidade e a um pequeno número de santos de devoção identificados à comunidade(Fragata, 2023. p.39 apud Galvão, 1995, p. 4).

Portanto, no bairro da Terra Preta, a herança católica herdada dos súditos da coroa portuguesa, a Santíssima Trindade se manifesta em forma de um milagre para os antigos membros da família Vasconcelos. Um dos grupos sociais nos dias de hoje gerenciadores da festa, a Santíssima, que:

A partir disso, compreende-se como a devoção em honra a Santíssima Trindade expressada através de ritos no Distrito da Barreira do Andirá, no interior do Amazonas, pois o modo de vida das pessoas naquela localidade moldada o ser católico dos devotos, bem como, sempre houve essa profissão de fé a demais santos e santas padroeiras. E como prova, há presença de representações de santos dentro do festejo católico popular, atualmente realizado em Manaus, e que mesmo assim mantém a devoção como algo importante(Fragata, 2023. p.39).

Os Vasconcelos, opositores históricos dos Coelhos, para quem gerenciam os festejos de Santo Antônio, não satisfeitos com a bênção de Santo Antônio que livrou seus filhos e netos da guerra (Cabanagem). Pegaram‑se à Santíssima Trindade, devido a uma epidemia de malária e mazelas que levaram muitas caboclas em épocas atrás até a morte, assim também fizeram uma promessa à Santíssima Trindade.

Os festejos da Santíssima Trindade remontam a muitos anos atrás. Contam as pessoas mais antigas da família, que tudo começou devido a uma epidemia de Malária, que levou muitas pessoas à morte. Como não havia na época acesso aos médicos, os cristãos da família Vasconcelos fizeram uma promessa para com a Santíssima Trindade, que se fossem concedidas seus pedidos, eles iriam comemorar este fato, com o almoço para as crianças e outros, rituais que ele ofereceu juntos e que existe até hoje, os quais são levantação do mastro, procissão fluvial, ornamento de um castelo, festa dançante para o povo, alvorada às vésperas das festas e sela‑cavalo. (Amorim, 2013. p. 138 apud Vasconcelos, 1985).

A Santíssima Trindade do bairro da Terra Preta, se manifestou em forma de um milagre na vida dos descendentes da família Vasconcelos, livrando os seus entes queridos das pragas e doenças que assolavam a família na época em que aconteceu o fato. 

Dona Dica, como é chamada no bairro da Terra Preta uma das descendentes dos Vasconcelos, celebra em sua residência a Santíssima como eles professam até hoje, e é mais um ato de fé e religiosidade no Catolicismo Popular que se preconiza a cada ano no bairro da Terra Preta.

SANTO AFONSO: O PADROEIRO LITÚRGICO

A pergunta é: Quem foi de fato e de verdade Santo Afonso, na liturgia da Igreja Católica. 

Santo Afonso Maria de Ligório, bispo, escritor, poeta, musicista, Doutor da Igreja, foi fundador de uma das mais ativas e numerosas congregações religiosas: os Padres Redentoristas. Nasceu perto de Nápoles, Itália, em 1696, ilho de uma das mais antigas e nobres famílias de Nápoles. Do pai herdara uma vontade férrea, inteligência viva e perspicaz, enquanto a mãe plasmou seu coração para a fé e a bondade. Ainda pequeno, recebeu do Santo São Francisco de Jerônimo da Companhia de Jesus, a seguinte profecia: “Esta criança não morrerá antes dos 90 anos; será bispo e realizará maravilhas na Igreja de Deus”(Amorim, 2013. p. 143 apud Wikipedia de Santo Afonso, 2009).

Segundo a orientação litúrgica da Paróquia de Manacapuru, Santo Afonso é o verdadeiro padroeiro do bairro da Terra Preta. Seria talvez, uma oposição ou excomungarão da Igreja Católica para com a comunidade de Santo Antônio do bairro da Terra Preta, ou estamos voltando em épocas da bendita Santa Inquisição, quando quem não obedecesse a catequese da Igreja, pagaria um preço muito alto? Não vamos entrar no mérito da questão, e nem esquecer que Santo Antônio é um santo católico.

A Igreja de Santo Afonso, no bairro, está localizada na rua Pedro Moura, no antigo bar Pau ‑Dentro, porque ali havia uma árvore de jatobá no centro do galpão. A comunidade de Santo Afonso está em análise de estudos preliminares para ser transformada em paróquia. Segundo seus comunitários, a ansiedade é muito grande por parte dos membros da Igreja de Santo Afonso no bairro da Terra Preta. Seria uma honra muito grande para a comunidade, afirmam seus coordenadores.

Segundo os que estudam as religiões do mundo, as comemorações a santos surgem sempre a partir de um milagre, e segundo também os moradores mais antigos do bairro da Terra Preta, foi a partir desses milagres que se comemoram os festejos de Santo Antônio e da Santíssima Trindade no bairro da Terra Preta até hoje, milagres esses que aconteceram com pessoas das famílias Coelho e Vasconcelos(Amorim, 2013. p. 141).

E, o que levou a implantação da Igreja de Santo Afonso no bairro da Terra Preta, seria mais um milagre ou simplesmente mais um santo católico para ser adorado no bairro da Terra Preta ou, como dizem os que professam a fé católica, é uma forma de respeito aos exemplos por eles deixados, ou seja, talvez uma oposição da Paróquia de Manacapuru às comemorações aos festejos de Santo Antônio, a mais antiga e maior manifestação católica popular da cidade de Manacapuru. 

Nas pesquisas de campo apurada não a relatos históricos, de milagres ou promessas que se materializaram na vida de pessoas que professam a fé católica e a devoção a Santo Afonso no bairro da Terra Preta, em nossos dias, ou seja, seria talvez, mais um capricho da Santa Madre Igreja.

FEITOS E RELATOS DE SANTO AFONSO

Afonso foi um hábil escritor. Deixou mais de cem obras para ajudar o povo cristão. Em sua época, havia uma mentalidade rigorista e muitos pregavam uma religião elitista, sem lugar para o sentimento e a devoção popular. Afonso vai contra a corrente e quer mostrar o rosto verdadeiro de Deus. Por isso escreve e coloca seus livros nas mãos do povo.

Para os sacerdotes escreveu sua Teologia Moral, inaugurando um novo método de fazer moral: a moral do amor e da misericórdia. Mostrou ao povo a beleza de Maria, em seu livro “Glórias de Maria”. Deixou ‑nós o livro “Prática de Amar a Jesus Cristo”,as “Visitas ao Santíssimo Sacramento”.(Amorim, 2013. p. 144 apud Wikipedia de Santo Afonso, 2009).

É, célebre sua frase: “quem reza se salva, quem não reza se condena!”. escreveu sobre os mistérios de cristo, sobre sua encarnação, paixão ‑morte. escreveu para as religiosas, para os leigos… Afonso colocou todos os seus dons a serviço da evangelização dos empobrecidos; revela ‑nós uma vida totalmente consagrada a uma missão; formou a consciência religiosa de sua época; é considerado o melhor prosador religioso do século 18 na Itália.

SANTO AFONSO EM MANACAPURU

Segundo os relatos, de uma das fundadoras da comunidade de Santo Afonso no bairro da Terra Preta comenta que: 

Eu, Nila Coelho, com a Maria de Fátima, Antonieta do Valdir, professora Arlete e dona Dica, juntas com os Padres Miguel e José Patrício fundamos a comunidade de Santo Afonso, tudo começou no Beco Santo Antônio, em frente à minha casa em 8 de junho de 1980, no dia do nascimento do meu filho Rosivaldo, conhecidíssimo no bairro como o popular Cabeça. A paróquia só participava das comemorações aos festejos de Santo Antônio se os comunitários acabassem com os rituais em homenagem ao Santo. Como os comunitários não deram ouvido a ordem dos padres, foi criada a comunidade de Santo Afonso em oposição aos festejos de Santo Antônio(Amorim, 2013. p. 145. Apud Coelho, 2011).

Em nossos dias, o arraial e novenário a Santo Afonso acontece na quadra em frente da Igreja do Padroeiro do bairro da Terra Preta. Segunda a Igreja Católica, as comemorações têm seu início no dia 24 de julho e seu término se dá em 1º de agosto. Nesses dias de novenário, temos: novenas, o arraial, bingos e leilões e apresentações de grupos folclóricos, entre eles, a Ciranda Tradicional. O folclorista Cleber Sanches descreve que:

Grandes partes dos festejos tradicionais no Brasil tiveram origem em datas comemorativas da Igreja Católica que ganharam dimensões populares. A Igreja Católica no Brasil, é, portanto, precursora ou, de alguma forma o elemento influenciador, por agregação, de outros festejos eminentemente populares. Assim, um festejo paroquial dá origem à construção de pequenas barracas, geralmente na área da igreja festejante, para venda de comidas e bebida, onde um percentual é destinado às obras da daquela igreja.(Sanches, 2012. p. 229). 

E, já é tradição nas festas em comemoração à Santo Afonso no bairro de Terra Preta: o Bingo Gigante, e os brindes desse bingo vêm de doações dos comunitários, comerciantes e empresários do bairro da Terra Preta, como da cidade de Manacapuru, entre esses brindes temos fogão, geladeira, ventiladores, ferro elétrico e alguns brindes, exóticos como tartarugas, carneiros etc.

Na igreja de Santo Afonso há uma particularidade: no período natalino temos a Cantata de Natal, que é uma espécie de coral representado pelo grupo de jovens e adolescentes da Igreja, cantando as canções natalinas ou interpretando e atuando na morte e ressurreição de Cristo. E a Procissão de Corpus Christi.

SÃO SEBASTIÃO: O NOVIÇO

O que contam os santos nas igrejas, de cima de seus altares? Testemunham impassíveis à romaria incessante de fiéis e pedintes; ouvem os sussurros entrecortados das preces e o clamor sincopado das ladainhas; sentem o calor das velas e o fumo dos incensos(Nobre, 2021. p. 171). 

Desta forma, sobre o contexto litúrgico da Igreja Católica no município de Manacapuru, bem como no bairro de Terra Preta, se funda mais uma comunidade católica litúrgica no bairro a Comunidade de São Sebastião. Talvez seja, os seus fundamentos estejam ligados, também a uma oposição, a mais uma comunidade católica popular em comemoração à Santíssima Trindade também no bairro, lembrando que até apresente data  não temos relatos de milagre. Daí por diante, se celebra as novenas, procissões e arraias no mês de janeiro em louvor a São Sebastião. Por tanto, se pergunta quem foi e qual a origem de São Sebastião. 

De acordo com Actos apócrifos, atribuídos a Santo Ambrósio de Milão, Sebastião era um soldado que teria se alistado no exército romano por volta de 283 (depois da Era Comum) com a única intenção de afirmar o coração dos cristãos, enfraquecido diante das torturas. Era querido dos imperadores Diocleciano e Maximiliano, que o queriam sempre próximo, ignorando tratar‑se de um cristão e, por isso, o designaram capitão da sua guarda pessoal – a Guarda Pretoriana. Por volta de 286, a sua conduta branda para com os prisioneiros cristãos levou o imperador a julgá ‑lo sumariamente como traidor, tendo ordenado a sua execução por meio de flechas (que se tornaram símbolo constante na sua iconografia). Foi dado como morto e atirado no rio, porém Sebastião não havia falecido. Encontrado e socorrido por Irene (Santa Irene) foi depois levado novamente diante de Diocleciano, que ordenou então que fosse espancado até a morte. Mesmo assim, ele não teria morrido. Acabou sendo morto transpassado por uma lança (Amorim, 2013. p. 147 apud A Vida de São Sebastião, 2009).

OS PRINCIPAIS FESTEJOS EM HOMENAGEM A SÃO SEBASTIÃO 

Em Portugal, há comemorações semelhantes em Santa Maria da Feira, na conhecida Festa das Fogaceiras, a maior festa do Conselho, a cargo da Câmara Municipal. Comemora ‑se, ainda, em várias localidades do Conselho de Mirandela, entre outras, no bairro de S. Sebastião (no segundo domingo de setembro), em Cabanelas (no dia 20 de janeiro), em Vale de Prados (no terceiro domingo de janeiro). É Santo Padroeiro de Vale de Juncal, do mesmo Conselho, cujas festividades seculares ocorriam no primeiro domingo de fevereiro de cada ano

São Sebastião no Brasil, ele é celebrado com festas e feriados no dia 20 de janeiro como padroeiro de várias cidades. O seu maior destaque no Brasil está no Rio de Janeiro, como padroeiro da Cidade Maravilhosa, a capital do Estado. No Estado do Amazonas, São Sebastião ganha destaque na cidade de Manaus com a Paróquia de São Sebastião, no bairro da Praça 14. E na região do médio Solimões o seu maior destaque que já ouvimos falar e presenciamos é no município de Caapiranga, como padroeiro daquele município(Amorim, 2013. p. 151).

Ainda, mas sobre São Sebastião no Rio de Janeiro Sebastião, “no entanto, também sempre esteve conectado à história do Rio de Janeiro. Prova disso é que se festejava o aniversário da cidade no dia São Sebastião até 1956, mesmo sabendo-se que a data da fundação era outra. Em 1957 […]”. (Nobre, 2021. p. 174).

E, como descreve em seus cadernos o Diário Carioca, sobre as comemorações do Aniversário do Rio de Janeiro, e as celebrações a São Sebastião.

[…]pela primeira vez, as comemorações do aniversário da fundação da Cidade do Rio de Janeiro, que neste ano completa 390 anos, serão realizadas na data mesmo da fundação: 1º de março. Isto, no entanto, em nada irá alterar, nos anos vindouros, os festejos do dia 20 de janeiro pois que a data é consagrada a São Sebastião, o padroeiro da cidade(Nobre, 2021. p. 175. Apud Diário Carioca, 1964).

E, se propaga os efeitos de São Sebastião no Rio Janeiro, como salvador protetor daquela cidade, como discorre o jornalista Carlos Augusto Nobre.

Por sua miraculosa intervenção bélica na Batalha das Canoas (13/07/1566) ou porque os portugueses, em sinal de fé no glorioso mártir, optaram pelo seu dia para realização do combate decisivo de Uruçumirim que concretizou a expulsão definitiva dos franceses (20/01/1567) ou ainda por ser este o nome do rei português à época da fundação da urbe carioca, o Rio de Janeiro será sempre a cidade de São Sebastião(Nobre, 2021. p. 175).

SÃO SEBASTIÃO NAS TERRAS DE MANACÁ

Assim,  diferentemente da comunidade de Santo Afonso que teve uma eleição para a escolha do padroeiro pelos seus comunitários, a comunidade de São Sebastião no bairro da Terra Preta foi criada pelo pároco da época, Padre Zenildo, um dos maiores opositores quando pároco da Paróquia de Nossa Senhora de Nazaré, a ponto de gravar vinhetas na televisão local conclamando a sociedade católica manacapuruense para não prestigiarem o evento dos festejos de Santo Antônio do bairro da Terra Preta, a maior e mais antiga expressão cultural católica popular do município de Manacapuru. Mas se estamos falando de São Sebastião da Cidade Nova do bairro da Terra Preta, sua fundação se deu conforme está descrito na Ata de Fundação (2004):

A Comunidade de São Sebastião foi fundada no dia 18 de junho de 2004, com a celebração da Eucaristia, presidida pelo pároco Pe. Zenildo Luiz Pereira, com a participação de vinte pessoas e o grupo de Apostolado de Oração, na Saudosa Maloca, onde funcionou a comunidade por um ano. A igreja foi construída no terreno próximo, tivemos a ajuda de uma família dos Estados Unidos, por intermédio do pároco Pe. Zenildo e a Paróquia de Nossa Senhora de Nazaré que ajudou na Construção da Igreja. Foi inaugurada no dia 26 de junho de 2005, com procissão e missa presidida pelo pároco Pe. zenildo. A comunidade foi coordenada por um ano por um grupo de pessoas Maria Francisca, Vanderleia, Jucelino, Vanuza e Sr. Zileide Almeida que teve uma participação muito grande na Comunidade. Após um ano, tivemos a primeira eleição na Comunidade, foram eleitos como coordenador: Jucelino, vice: Maria Francisca, Secretária: Vanderleia, Tesoureiro: Miriam, em 18 de agosto de 2005(Ata de Fundação da Comunidade de São Sebastião, 2004. p. 1).

E, nas terras de Manacá, o seu maior destaque é no bairro da Terra Preta, no lado sul do bairro onde se localiza a Cidade Nova. A sua Igreja está localizada na travessa Maria Volcacea, segundo os relatos, onde mora a elite do bairro, seria São Sebastião o padroeiro da elite terra ‑pretense. Ou seria mais um santo milagreiro do lugar, ou mais uma forma de a Santa Madre Igreja mostrar a sua força e seu poder aos comunitários dos festejos de Santo Antônio, para dizer que quem dá as cartas no catolicismo do bairro da Terra Preta é a Igreja Mãe por meio de sua religiosidade. O professor e historiador Ailson Amorim descreve, mas que:

As comemorações a São Sebastião se manifestam tradicionalmente igual as outras festas de santos no bairro da Terra Preta, como na cidade de Manacapuru, com arraiais, leilões e apresentações de vários grupos folclóricos do município, ao lado da igreja numa quadra de concreto. Para encerrar as comemorações litúrgicas, a tradicional procissão com os devotos carregando, em seus ombros, o andor enfeitado do santo padroeiro em forma de devoção ou promessas adquiridas pelas ruas do bairro (Amorim, 2013. p. 152). 

Há, uma particularidade nas celebrações da comunidade de São Sebastião. Segundo os comunitários, são sete dias de novenários e dois dias de arraiais, há uma variação de datas para o início do novenário no mês de janeiro. Mas as celebrações se enceram com a procissão. É o único santo que celebra a procissão no término de suas manifestações litúrgicas no bairro da Terra Preta.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Religião, pois, é uma categoria de análise histórica e social que pode ser definida como um conjunto de crenças, preceitos e valores que compõem artigo de fé de determinado grupo em um contexto histórico e cultural específico, lembrando que a religião é sempre coletiva(Silva; Silva, 2009. p. 354).

Desta forma, a pesquisa deste artigo nos revela o poder política religioso da Igreja Católica desde a chegada dos jesuítas no Brasil Colônia junto com as esquadras de Cabral, lá pelas bandas do litoral nordestino. Por tanto a religiosidade dos súditos da Coroa Portuguesa, está impregnada na essência do homem amazônico, bem como nos munícipes do bairro de Terra Preta, como da cidade de Manacapuru. 

Daí por diante, vimos uma certa animosidade entre a parte litúrgica da Igreja, com os gerenciadores dessas comunidades Católica Popular. Lembramos, que as manifestações Católica Popular ela se dá a partir de um milagre, milagre esse que é feito ou concedido a alguém do povo, ou morador daquela comunidade, assim como aconteceu com os entes queridos da Família Coelho, que Santo Antônio livrou os seus filhos e netos de serem recrutados no período da Guerra da Cabanagem (1835-1840). E, não tão diferente, o milagre aconteceu com os entes queridos da família Vasconcelos, pois a Santíssima Trindade os livrou das doenças que assolam os homens amazônicos como a Febre Amarela e outras. Com a falta de políticas públicas, nesse período do século XIX, o homem amazônico nas suas lamúrias, aflições e doenças se pegam aos santos para resolver o problema e a cura das doenças através do milagre.  

O milagre, no catolicismo popular, atua como meio de proteção contra forças da natureza cujo desencadeamento é visto como irracional e incompreensível o que gera uma reação que busca na esfera divina e é vista como superior à esfera da natureza e os meios válidos para atenuar ou anular as consequências da ação destas forças. Da mesma forma, […] ritos cristãos atuam diretamente junto à natureza, como um meio de atenuar a insegurança gerada por estas forças. E quando forças divinas agem neste sentido, surge o milagre. (Souza, 2013. p. 107-108).

Por isso, o bairro de Terra Preta na cidade de Manacapuru, preconiza -se até os dias de hoje, como o bairro onde se encontra dois santos padroeiros, Santo Antonio como santo padroeiro católico popular, e Santo Afonso como santo padroeiro litúrgico. Desta forma, cabe citar ainda, que o bairro de Terra Preta está enraizado na sua essência a religiosidade Católica, seja ela de cunho popular ou litúrgica. 

Citamos ainda que cabe pesquisa, pela problemática que se arrasta a quase um século, de como surgiu essa divisão de Santo Antonio, entre: Santo Antônio de Cima e Santo Antônio de Baixo, manifestações católicas populares, onde em Santo Antônio de Cima temos toda a tradição e religiosidade, e em Santo Antônio de Baixo temos toda a pomposidade e uma parafernália cultural capitalista como shows regionais e nacionais no período da festa. Essa problemática ainda requer pesquisa.

Embora nenhuma teoria explique tudo, elas nos ajudam tanto a interpretar as sociedades e suas histórias, e nos propõe ações práticas diante de nossas relações com o mundo e com as outras pessoas. “Teorizar é, em si, um ato de inquietação”. (Silva; Silva, 2009. p. 393 – 394). Essa problemática de divisão entre Santo Antonio de Cima e Santo Antônio de Baixo, no bairro de Terra Preta no meio urbano da Cidade de Manacapuru, ainda cabe estudos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 

AMORIM, Antonio ailson Cavalcante de Amorim. Terra Preta: a origem. – Manaus: Editora Valer 2013.

ANDRADE, Mário de (1893 ‑1945). Danças Dramáticas do Brasil. Edição organizada por Oneida Alvarenga. 2.ª ed. Belo Horizonte: Ed. Itatiaia; Brasília: Fundação Nacional Pró ‑Memória, 1982.

BÍBLIA, Português. Bíblia Sagrada. 2.ª ed. Traduzida em português por João Ferreira Almeida. Barueri ‑SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993.

BRAGA, Sérgio Ivan Gil (Org.). Cultura Popular, Patrimônio Imaterial e Cidades. Manaus: Editora da Universidade Federal do Amazonas, 2007.

COELHO, Nila Pinto. Fundação da Comunidade de Santo Afonso. Manacapuru ‑AM, 16 de outubro de 2011. Entrevista concedida a Antônio Ailson Cavalcante de Amorim.

COMUNIDADE SÃO SEBASTIÃO – CIDADE NOVA. Manacapuru. Ata n.º 1. Reunião de Fundação da Comunidade de São Sebastião, 2004, p. 1.

DEL PRIORE, Mary Lucy. Festas e Utopias no Brasil Colonial. São Paulo: Brasiliense, 2000.

DIÁRIO CARIOCA (1930, 1960, 1962, 1964).

FRAGATA, Gabriel Ferreira. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo: as manifestações da Santíssima Trindade em Manaus. Dissertação de Mestrado, Instituto de Filosofia, Ciências Humanas e sociais – IFCHS.  Universidade Federal do Amazonas. – Manaus. 160 Págs., 2023.

JANCSÓ, Istiván; KANTOR Íris (Orgs.). Festa, Cultura & Sociabilidade na América Português. Volume II. São Paulo: Hucitec/Editora da Universidade de São Paulo/Fapesp/ Imprensa Oficial, 2001(coleção Estante USP – Brasil 500 anos; v. 3).

JESUS, Leandro Martins de; GRILLO, Marcos Monteiro. Apostolado Veritates Splendor: Refutação a artigo protestante que condena as festas juninas. Disponível em http:// www.veritatis.combr/article/5264. desde13/6/2006. Acesso em: 6 de dez. de 2006.

MACEDO, Edir (1945). Aliança com Deus. 3.ª ed. Rio de Janeiro: Gráfica Universal, 2005.

SANCHES. Cleber, A cultura popular no Brasil. – Manaus: Editora Valer, 2012.

NOBRE, Carlos Augusto. O monumento-altar de São Sebastião:  a saga cívico-religiosa de uma devoção. Revista do Instituto Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro. – Rio de Janeiro. a. 28, n. 28, p. 171-216 – 2021.

SILVA, Kalina Vanderlei; SILVA Maciel Henrique. Dicionário de conceitos históricos. –

2.ed., 2ª reimpressão. – São Paulo: Contexto, 2009.

SOUZA, Ricardo Luiz de.  Festas, procissões, romarias, milagres: aspectos do catolicismo

popular. – Natal: IFRN, 2013.

WIKIPÉDIA de Santo Afonso. Disponível em <http// pt.wikipedia.org/wiki/afonso_de_lig%C3%.B3rio> Acesso em: 25 de novembro de 2009.

Amorim, Antonio Ailson Cavalcante de . Terra Preta uma História Cultural e Religiosa: Terra de Santos Milagreiros.International Integralize Scientific. v 5, n 45, Março/2025 ISSN/3085-654X

Referencias

BAILEY, C. J.; LEE, J. H.
Management of chlamydial infections: A comprehensive review.
Clinical infectious diseases.
v. 67
n. 7
p. 1208-1216,
2021.
Disponível em: https://academic.oup.com/cid/article/67/7/1208/6141108.
Acesso em: 2024-09-03.

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