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Resumo
INTRODUÇÃO
A educação infantil e os primeiros anos do ensino fundamental são marcos importantes para o desenvolvimento das habilidades cognitivas, sociais e emocionais das crianças. Entre as várias metodologias pedagógicas existentes, a música se destaca como uma ferramenta potencialmente eficaz para o desenvolvimento de habilidades acadêmicas, especialmente na aprendizagem de leitura e escrita. O uso da música no processo educativo, além de estimular a criatividade e a expressão emocional, pode ser um recurso valioso para facilitar a compreensão e o domínio da linguagem escrita (Fonseca, 2020).
A musicalidade está presente na vida das crianças desde os primeiros meses de vida, auxiliando no desenvolvimento da percepção auditiva e na construção das bases para a comunicação oral e escrita. Estudos indicam que a música pode atuar diretamente no desenvolvimento da consciência fonológica, um dos fatores fundamentais para a alfabetização. Dessa forma, é essencial que educadores explorem a música de maneira estratégica no ensino da leitura e escrita, tornando o aprendizado mais acessível e prazeroso para os alunos (Silva, 2018).
Neste artigo, exploramos como a música pode ser aplicada como uma ferramenta no ensino de leitura e escrita, especificamente no segundo ano do Ensino Fundamental I. A proposta é apresentar evidências de como a integração da música nas práticas pedagógicas pode melhorar a aquisição da leitura e escrita, promovendo uma aprendizagem mais lúdica, dinâmica e eficaz.
A RELAÇÃO ENTRE MÚSICA E LINGUAGEM
A música e a linguagem compartilham várias semelhanças estruturais e cognitivas. Ambas são formas de comunicação que dependem de padrões rítmicos, melódicos e fonológicos. Estudos demonstram que o processamento musical e linguístico no cérebro ocorre em áreas semelhantes, o que sugere que o aprendizado de uma pode beneficiar o outro. No contexto da leitura e da escrita, a música pode ser utilizada para aprimorar a consciência fonológica, que é essencial para a decodificação e compreensão de palavras (Sousa, 2017; Schmidt, 2021).
Além disso, a música pode estimular a oralidade e a construção do vocabulário infantil. Crianças expostas a canções educativas ampliam seu repertório linguístico de forma natural, o que contribui significativamente para a melhora na escrita e na construção textual. O ato de cantar possibilita que os alunos associem fonemas e grafemas, estabelecendo conexões fundamentais para o processo de alfabetização (Pereira, 2019).
A música desempenha um papel significativo e cognitivo especialmente em crianças em fase escolar. Sua estrutura rítmica, melódica e lírica estimula a memória, a concentração e a percepção auditiva, competências essenciais para o processo de alfabetização. De acordo com Fonterrada (2008), a música facilita a aprendizagem ao proporcionar experiências lúdicas e integradoras, favorecendo a relação entre o som, o significado das palavras e a construção textual. Assim, o uso da música como ferramenta educacional pode promover o desenvolvimento de habilidades de leitura e escrita de forma mais dinâmica e envolvente.
Além disso, a música potencializa o letramento ao trabalhar diferentes aspectos da linguagem oral e escrita. As letras das canções, por exemplo, podem ser utilizadas para expandir o vocabulário, aprimorar a interpretação textual e reforçar as regras gramaticais de maneira contextualizada. Conforme afirma Brito (2003), a musicalidade está intrinsecamente ligada à fala, já que o ritmo e a entonação presentes tanto na música quanto na linguagem oral são fundamentais para a aquisição de competências linguísticas. Assim, o ensino que integra música e linguagem proporciona não apenas a alfabetização técnica, mas também a compreensão crítica e criativa da comunicação
BENEFÍCIOS DA MÚSICA NO ENSINO DE LEITURA E ESCRITA
A utilização da música no ensino de leitura e escrita oferece uma série de benefícios para os estudantes. Entre os principais, destacam-se:
A música é uma poderosa aliada no processo de alfabetização, especialmente para crianças em fases pré-silábica, silábica e alfabética, conforme descritas por Emília Ferreiro e Ana Teberosky (1985). Em cada uma dessas etapas, a musicalidade contribui significativamente para o desenvolvimento das competências de leitura e escrita. No estágio pré-silábico, por exemplo, a criança ainda não compreende a correspondência entre letras e sons, mas pode ser estimulada a identificar padrões sonoros e rítmicos presentes nas músicas. Segundo Brito (2003), o contato com canções infantis favorece o reconhecimento de sons e a atenção auditiva, que são habilidades essenciais para o processo inicial de alfabetização.
Na fase silábica, em que a criança começa a estabelecer relações entre sons e letras, a música ajuda a reforçar essa consciência fonológica. As rimas, aliterações e repetição de versos nas canções auxiliam na percepção da segmentação das palavras em sílabas e na compreensão das regras de sonorização. Estudos em neurociência demonstram que o processamento musical e o processamento linguístico ativam áreas cerebrais semelhantes, como o córtex auditivo e o giro temporal superior, o que fortalece a capacidade de decodificação dos sons da fala. Como aponta Fonterrada (2008), o envolvimento com atividades musicais pode criar redes neurais mais eficientes, que facilitam o aprendizado de habilidades linguísticas.
Já na fase alfabética, em que a criança domina a correspondência entre fonemas e grafemas e começa a ler com maior fluência, a música continua sendo um recurso relevante. As letras das canções podem ser usadas para trabalhar a interpretação textual, ampliar o vocabulário e desenvolver a fluência leitora. Além disso, a música atua como um estímulo emocional, o que, segundo Damásio (2004), é fundamental para a consolidação de memórias e a motivação no aprendizado. Assim, ao unir práticas musicais e pedagógicas, os educadores não apenas favorecem o desenvolvimento cognitivo, mas também proporcionam uma experiência de aprendizagem mais prazerosa e significativa para os alunos.
Outro ponto relevante é a inclusão da música como um recurso de acessibilidade. Crianças com dificuldades de aprendizagem, como dislexia, podem se beneficiar de abordagens musicais, pois a repetição e o ritmo das canções ajudam a consolidar a associação entre som e símbolo gráfico (Mello, 2022).
A música tem se mostrado uma ferramenta eficaz no auxílio ao aprendizado de crianças com dislexia, contribuindo para melhorias significativas em habilidades de leitura e escrita. Pesquisas apontam que a educação musical pode aprimorar a consciência fonológica e a percepção rítmica, aspectos fundamentais para o desenvolvimento da linguagem. Segundo Assis (2016), “a música pode reorganizar padrões neurológicos em crianças disléxicas, contribuindo para uma maior precisão na decodificação de sons e símbolos”. A pesquisa “Música e Dislexia: uma revisão integrativa” ressalta que a musicalização melhora o desenvolvimento motor, fonológico e psicológico de indivíduos com dislexia, promovendo, assim, uma melhor qualidade de vida e facilitando o aprendizado.
Um estudo realizado pela Universidade Federal do Pará investigou adaptações metodológicas no ensino musical para crianças e adolescentes disléxicos, com idades entre 9 e 14 anos. Os participantes foram submetidos a avaliações teóricas e práticas de música, e os resultados demonstraram avanços significativos em leitura e escrita musical. De acordo com Santos e Araújo (2018), “a educação musical, quando aplicada de forma adaptada, permite um desenvolvimento expressivo das habilidades linguísticas e motoras das crianças com dificuldades de aprendizagem”. Esses resultados sugerem que a música pode ser uma ferramenta pedagógica essencial no processo educacional de indivíduos com dislexia.
Além disso, um estudo apresentado à Associação Americana de Psicologia acompanhou mais de 100 crianças de regiões pobres de Chicago e Los Angeles ao longo de dois anos. Os resultados mostraram que “aulas regulares de música impediram o declínio nas habilidades de leitura, comumente observado em áreas mais vulneráveis” (Kraus & Slater, 2015). Outro grupo de adolescentes que participou de ensaios de banda ou aulas de canto diariamente apresentou respostas cerebrais mais rápidas e precisas na distinção de sons da fala em ambientes ruidosos, em comparação a alunos que não tiveram contato com a música. Isso reforça a ideia de que o ensino musical pode ter impacto direto no desenvolvimento cognitivo e nas habilidades auditivas relacionadas à leitura e compreensão.
A música pode ser especialmente eficiente no auxílio ao desenvolvimento de crianças com Transtorno Opositivo Desafiador (TOD). A utilização de canções e ritmos no processo de ensino e gestão de comportamento tem demonstrado resultados positivos, conforme estudos de Oliveira (2021), que afirmam que “a música tem um efeito terapêutico na redução de comportamentos agressivos e na promoção de uma atmosfera de calma e concentração em crianças com TOD”. As melodias e os ritmos ajudam na regulação emocional, oferecendo uma ferramenta eficaz para acalmar as crianças, facilitando o processo de aprendizagem e promovendo uma maior integração social e escolar. Ao combinar música com estratégias comportamentais, é possível criar um ambiente mais receptivo e favorável à aprendizagem.
APLICAÇÕES PRÁTICAS DA MÚSICA NO ENSINO DE LEITURA E ESCRITA
No segundo ano do Ensino Fundamental I, a integração de atividades musicais pode ocorrer por meio de estratégias como:
A música , enquanto recurso pedagógico, tem se mostrado uma ferramenta poderosa no processo de aprendizagem da leitura e escrita, especialmente no contexto educacional de crianças. Como destaca Silva (2020), “a música proporciona uma experiência sensorial e cognitiva que facilita a compreensão e memorização de conteúdos”. As canções, ao serem utilizadas como estratégia no ensino, ativam diferentes áreas do cérebro, o que contribui para a maior retenção e entendimento das palavras. Quando associada à leitura, a música potencializa a memorização de vocabulários, reforçando a relação entre o som e o significado das palavras (Santos, 2018). A utilização de ritmos e melodias no aprendizado de letras e fonemas pode transformar um processo muitas vezes complexo em uma experiência prazerosa e estimulante para os alunos.
Além disso, a música também auxilia na alfabetização ao promover a consciência fonológica, que é essencial para o desenvolvimento da leitura e escrita. Segundo Souza (2017), “o aprendizado de fonemas e suas relações sonoras com as letras pode ser facilitado através da musicalidade, pois o ritmo e a repetição musical favorecem a percepção auditiva das palavras”. Através de canções que trabalham com rimas, aliterações e padrões sonoros, a criança consegue associar os sons às letras de forma mais eficaz. Nesse sentido, a prática de cantar junto com os educadores ajuda os alunos a internalizar de maneira divertida e eficaz os conceitos de leitura e escrita, desenvolvendo habilidades linguísticas essenciais.
O uso de histórias cantadas e dramatizações também pode tornar o aprendizado mais significativo e prazeroso.
As histórias cantadas, outra prática importante, também desempenham um papel fundamental no desenvolvimento da leitura e escrita. Estas narrativas, que mesclam palavras e melodias, oferecem uma experiência de imersão que facilita a compreensão textual. De acordo com Andrade (2019), “ao ouvir uma história cantada, a criança não só é estimulada a aprender novas palavras, mas também a compreender a estrutura narrativa, o que contribui para o aprimoramento da leitura e escrita”. A musicalidade da história cria um ambiente mais atrativo e envolvente, facilitando a assimilação do conteúdo. As crianças, por meio da interação com os elementos da música, passam a compreender melhor as sequências e a lógica das palavras, o que favorece sua evolução literária.
As dramatizações também são um recurso poderoso no ensino da leitura e escrita. Ao criar e representar histórias, as crianças têm a oportunidade de expressar o conteúdo de forma ativa, o que ajuda a fixar o aprendizado de vocabulários e frases. Como argumenta Souza (2020), “ao dramatizar, a criança envolve-se emocionalmente com o texto, o que facilita a internalização das estruturas linguísticas”. Essa prática não só desenvolve habilidades de leitura e escrita, mas também melhora a expressão oral e a compreensão auditiva, permitindo que os alunos se conectem com a narrativa de uma maneira mais profunda e significativa. O uso de histórias cantadas e dramatizações também pode tornar o aprendizado mais significativo e prazeroso.
RESULTADOS DE PESQUISAS E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS
O resultado da pesquisa revelou à comunidade científica e literária a importância da música como ferramenta pedagógica no processo de aprendizagem da leitura e escrita. De acordo com os achados, a integração de recursos musicais no ensino de crianças não só favorece o desenvolvimento de habilidades linguísticas, como também potencializa a memorização, a consciência fonológica e a compreensão textual.
A pesquisa demonstrou que a música, por meio de ritmos, melodias e histórias cantadas, pode melhorar a retenção de vocabulários e facilitar a associação entre sons e letras. Além disso, evidenciou que práticas como dramatizações e a utilização de música com fins terapêuticos apresentam benefícios significativos, especialmente em crianças com Transtorno Opositivo Desafiador (TOD), mostrando que a música pode ser uma ferramenta eficaz para lidar com comportamentos disruptivos e promover um ambiente de aprendizado mais equilibrado e envolvente.
Esse estudo, portanto, contribui para a ampliação do entendimento sobre as múltiplas aplicabilidades da música no contexto educacional, destacando sua relevância tanto no aspecto cognitivo quanto emocional da aprendizagem. Pesquisas mostram que alunos expostos a atividades musicais apresentam um desempenho superior em leitura e escrita quando comparados a alunos que não tiveram essa experiência (Silva, 2018; Oliveira, 2021). Além disso, observa-se um aumento no interesse e na participação dos estudantes, sugerindo que a música pode ser um elemento motivador no processo de alfabetização.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A música se apresenta como uma ferramenta valiosa para o ensino de leitura e escrita, oferecendo benefícios significativos no desenvolvimento da consciência fonológica, da memória auditiva e da criatividade dos alunos. Portanto, a integração da música no currículo escolar pode ser uma estratégia poderosa para promover a aprendizagem significativa e de qualidade. Em conclusão, a utilização da música como ferramenta de aprendizagem no 2º ano das séries iniciais do Ensino Fundamental demonstrou ser uma abordagem eficaz no desenvolvimento de crianças com dislexia e Transtorno de Déficit de Atenção (TOD).
A integração de elementos musicais no processo pedagógico facilita a absorção de conteúdos, ao estimular a memória, a atenção e a organização cognitiva, promovendo uma aprendizagem mais significativa e inclusiva. Os resultados obtidos reforçam a importância de métodos inovadores que respeitam as necessidades individuais dos alunos, contribuindo não apenas para o aprimoramento acadêmico, mas também para o fortalecimento de suas habilidades socioemocionais. Dessa forma, a música se mostra uma aliada valiosa no combate aos desafios enfrentados por essas crianças, promovendo um ambiente escolar mais acessível e motivador.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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