A História do Ensino Religioso nas Escolas Públicas No Brasil

THE HISTORY OF RELIGIOUS EDUCATION IN PUBLIC SCHOOLS IN BRAZIL

LA HISTORIA DE LA ENSEÑANZA RELIGIOSA EN LAS ESCUELAS PÚBLICAS DE BRASIL

Autor

Juliana Lopes Aragão

URL do Artigo

https://iiscientific.com/artigos/4BA9F7

DOI

Aragão, Juliana Lopes . A História do Ensino Religioso nas Escolas Públicas No Brasil. International Integralize Scientific. v 5, n 45, Março/2025 ISSN/3085-654X

Resumo

O ensino religioso nas escolas públicas brasileiras é um tema que desperta interesse e controvérsia, pois envolve questões complexas relacionadas à laicidade do Estado, à pluralidade religiosa e ao direito à educação. Ao longo da história do Brasil, o ensino religioso nas escolas públicas passou por diversas transformações, refletindo as mudanças políticas, sociais e culturais do país. No período colonial brasileiro, o ensino religioso estava fortemente associado à presença da Igreja Católica, que exercia grande influência na educação. Os jesuítas, por exemplo, eram encarregados do ensino nas escolas, sendo a catequese a principal atividade educativa. Portanto, o ensino religioso era um prolongamento da missão de evangelização da Igreja. Após a independência do Brasil e a instauração do Império, a educação religiosa manteve-se como predominante, assumindo agora uma natureza oficial. A Constituição de 1824 declarou o catolicismo como a fé oficial do Estado, tornando a instrução religiosa obrigatória nas escolas primárias e secundárias. Contudo, emergiram conflitos com o aumento do secularismo e com a variedade religiosa que começava a emergir na sociedade brasileira. Depois da Proclamação da República em 1889, o Brasil tornou-se um estado laico, o que significa que o governo deveria ser independente das entidades religiosas. Contudo, o ensino religioso persistiu nas escolas públicas, sobretudo como uma matéria opcional. A Constituição de 1891 oficializou a separação entre a Igreja e o Estado, porém o ensino religioso persistiu como parte integrante do sistema educacional.
Palavras-chave
História. Ensino religioso. Educação. Igreja. Governo.

Summary

Religious education in Brazilian public schools is a topic that arouses interest and controversy, as it involves complex issues related to the secularity of the state, religious plurality and the right to education. Throughout Brazil’s history, religious education in public schools has undergone various transformations, reflecting the country’s political, social and cultural changes. In Brazil’s colonial period, religious education was strongly associated with the presence of the Catholic Church, which exerted great influence on education. The Jesuits, for example, were in charge of teaching in schools, with catechesis being the main educational activity. Religious education was therefore an extension of the Church’s mission of evangelization. After Brazil’s independence and the establishment of the Empire, religious education remained predominant, now assuming an official nature. The Constitution of 1824 declared Catholicism to be the official faith of the state and made religious instruction compulsory in primary and secondary schools. However, conflicts arose with the rise of secularism and the religious variety that was beginning to emerge in Brazilian society. After the Proclamation of the Republic in 1889, Brazil became a secular state, meaning that the government should be independent of religious entities. However, religious education persisted in public schools, mainly as an optional subject. The Constitution of 1891 formalized the separation of church and state, but religious teaching persisted as an integral part of the education system.
Keywords
History. Religious education. Education. Church. Government.

Resumen

La enseñanza religiosa en las escuelas públicas de Brasil es un tema que despierta interés y controversia, ya que implica cuestiones complejas relacionadas con la laicidad del Estado, la pluralidad religiosa y el derecho a la educación. A lo largo de la historia de Brasil, la enseñanza religiosa en las escuelas públicas ha sufrido diversas transformaciones, reflejo de los cambios políticos, sociales y culturales del país. En el período colonial de Brasil, la educación religiosa estaba fuertemente asociada a la presencia de la Iglesia Católica, que ejercía una gran influencia en la educación. Los jesuitas, por ejemplo, se encargaban de la enseñanza en las escuelas, siendo la catequesis la principal actividad educativa. La enseñanza religiosa era, pues, una prolongación de la misión evangelizadora de la Iglesia. Tras la independencia de Brasil y la instauración del Imperio, la enseñanza religiosa siguió siendo predominante, asumiendo ahora un carácter oficial. La Constitución de 1824 declaró el catolicismo fe oficial del Estado e hizo obligatoria la enseñanza religiosa en las escuelas primarias y secundarias. Sin embargo, surgieron conflictos con el auge del laicismo y la variedad religiosa que empezaba a surgir en la sociedad brasileña. Tras la Proclamación de la República en 1889, Brasil se convirtió en un Estado laico, lo que significaba que el gobierno debía ser independiente de las organizaciones religiosas. Sin embargo, la enseñanza religiosa persistía en las escuelas públicas, principalmente como asignatura optativa. La Constitución de 1891 formalizó la separación de Iglesia y Estado, pero la enseñanza religiosa persistió como parte integrante del sistema educativo.Traducción realizada con la versión gratuita del traductor DeepL.comTranslated with DeepL.com (free version)
Palavras-clave
Historia. Enseñanza religiosa. Educación. Iglesia. Gobierno.

INTRODUÇÃO

O ensino religioso no Brasil tem suas origens na colonização portuguesa, quando a Igreja Católica tinha forte influência sobre a educação. Durante o período colonial, as escolas eram predominantemente administradas por ordens religiosas, como os jesuítas. A educação tinha uma clara finalidade evangelizadora, e o ensino religioso estava integrado aos currículos escolares. Com a chegada da Independência, em 1822, e a criação do Império do Brasil, o sistema educacional continuou a ser fortemente vinculado à Igreja Católica.

No Brasil, o ensino religioso durante os séculos XIX e XX foi fortemente influenciado pela Igreja Católica, inicialmente durante o Império, e posteriormente com a separação entre a Igreja e o Estado da República. Apesar de ser opcional após a República, a educação religiosa persistiu como um elemento crucial na formação educacional, sempre tendo a Igreja Católica como figura central. Ao longo desse período, a questão da laicidade do Estado tornou-se cada vez mais relevante, mesmo que a efetivação completa dessa separação ainda esteja em andamento. Portanto, a educação religiosa fez parte da estrutura educacional do Brasil durante esse período, espelhando as tensões entre a neutralidade do Estado e a presença marcante de uma religião predominante na sociedade.

No período do Império(1822-1889), a fé católica desempenhou um papel fundamental na sociedade do Brasil. Isso ocorreu por causa da conexão entre a Igreja e o Estado, com o Catolicismo se tornando a religião oficial do Brasil desde a sua independência em 1822. A Constituição Imperial de 1824 assegurou a preponderância da Igreja Católica, tornando o ensino religioso um componente fundamental da educação escolar.

O CONTEXTO HISTÓRICO INICIAL (SÉCULOS XIX E XX)

Através das ordens religiosas, sobretudo os jesuítas, a Igreja Católica desempenhou um papel crucial na educação, particularmente nas primeiras décadas após a independência. Portanto, as escolas públicas proporcionavam uma educação fortemente religiosa.  O ensino religioso nas instituições de ensino estava em consonância com os princípios católicos e a tarefa de evangelizar a comunidade. Nas instituições de ensino primário e secundário, a educação religiosa era uma matéria obrigatória e a catequese também era incluída no programa.

A obra de Selma Garrido Pimenta, A Educação no Brasil: História e Desafios (2005), aborda a complexa trajetória da educação no Brasil, com foco em suas transformações e desafios ao longo dos anos. Enfatiza a necessidade de entender a educação brasileira não como um fenômeno isolado, mas como parte integrante de um processo histórico que abarca transformações políticas, sociais e culturais. Desde o período colonial, a educação no Brasil foi profundamente influenciada pela estrutura social e política vigente. A chegada dos colonizadores portugueses e a imposição do catolicismo como religião oficial moldaram o ensino religioso nas primeiras escolas do país, voltado principalmente para a catequização dos nativos e da população escravizada. 

A partir desse contexto, a educação no Brasil era, em grande parte, voltada para o controle social e a manutenção das estruturas de poder da época. Com o passar dos séculos, a educação no Brasil passou a refletir os diferentes períodos históricos, especialmente com as mudanças políticas e as lutas sociais. A abolição da escravidão, a Proclamação da República e a Constituição de 1934, por exemplo, foram marcos que impulsionaram discussões sobre o direito à educação para todas as camadas da sociedade. Durante o século XX, a educação no Brasil experimentou diversas reformas, que tinham como objetivo expandir o acesso à escolarização e, ao mesmo tempo, enfrentar as desigualdades educacionais históricas.

Entretanto, como Pimenta (2005) destaca, os desafios permanecem, especialmente no que diz respeito à inclusão e à qualidade do ensino em um país marcado por profundas desigualdades sociais e econômicas. As reformas educacionais, embora tenham buscado ampliar o acesso à educação, muitas vezes falharam em garantir a qualidade do ensino, resultando em disparidades regionais, socioeconômicas e culturais no país. Além disso, o sistema educacional brasileiro continua enfrentando questões como a falta de recursos, a formação inadequada dos professores e a precarização das condições de trabalho nas escolas públicas. Pimenta argumenta que é necessário repensar as políticas educacionais, levando em consideração o contexto social e as necessidades reais da população, a fim de superar os obstáculos que ainda limitam o pleno acesso e a qualidade da educação para todos os brasileiros.

Portanto, a educação no Brasil, como enfatizado por Pimenta, é um reflexo das transformações políticas e sociais do país, e para superar seus desafios é necessário um esforço contínuo para tornar a educação não apenas acessível, mas também eficaz e inclusiva. Isso envolve a articulação entre governo, sociedade civil e instituições educacionais para criar um sistema educacional que verdadeiramente atenda às demandas de uma sociedade plural e democrática.

Apesar da educação ser majoritariamente controlada pela Igreja, o governo imperial também formulava políticas para expandir o ensino, como a fundação de escolas e universidades, sempre enfatizando a predominância da fé católica no conteúdo escolar. A declaração da República em 1889 marcou uma significativa alteração no panorama político e religioso do Brasil. O novo sistema republicano instituiu a separação entre a Igreja e o Estado, uma ação destinada a assegurar a neutralidade do governo em questões religiosas e promover a liberdade de crença. Contudo, essa transformação não ocorreu de forma instantânea ou drástica no que diz respeito à educação religiosa.

A Constituição Republicana de 1891 representou o marco jurídico que desvinculou oficialmente a Igreja Católica do Estado, consolidando o Brasil como uma nação de caráter laico. Isso implicava que o governo não poderia mais subsidiar a Igreja nem obrigar a população a seguir o catolicismo. Contudo, essa divisão não implicava o fim do ensino religioso. Apesar do princípio da laicidade do Estado, as instituições públicas de ensino ainda disponibilizam o ensino religioso, geralmente como uma matéria opcional. A matéria permanecia focada no Catolicismo, apesar de existir algum esforço para levar em conta outras religiões. O processo de laicização ocorreu de forma progressiva, tornando o ensino religioso opcional nas escolas primárias e secundárias, apesar da oposição das autoridades.

A Constituição atualizada manteve a laicidade do Estado, porém permitiu a inclusão do ensino religioso nas escolas públicas, de maneira voluntária, mas ainda mantendo uma forte ligação com a Igreja Católica. Na realidade, isso significava que o ensino religioso persistia nas escolas públicas, porém sem a necessidade de obrigatoriedade para os estudantes.

Durante o governo de Vargas, tentou-se modernizar e centralizar a educação. Apesar de o ensino religioso ainda ser visto como um componente crucial na formação moral dos alunos, a ênfase na educação secular e na educação cívica ganhava destaque.

Educação como ferramenta de controle social: Em períodos de instabilidade política, o Estado recorreu à educação, incluindo a instrução religiosa, para consolidar normas e valores tradicionais.

A Constituição de 1824, promulgada durante o Império, manteve a Igreja Católica como religião oficial do Estado, e o ensino religioso nas escolas públicas continuava a ser confessional e católico. Contudo, a educação pública ainda era escassa e voltada para a elite. No final do século XIX, com a Proclamação da República, em 1889, houve uma mudança significativa na estrutura política e social do Brasil, que teve reflexos diretos no campo da educação. 

 “O Ensino Religioso, no Brasil, passou por diversas transformações ao longo dos séculos, refletindo as mudanças políticas e sociais do país” (ALMEIDA, 2004, p. 45) aborda um aspecto fundamental da história da educação no Brasil, evidenciando como o Ensino Religioso foi moldado por transformações tanto políticas quanto sociais ao longo do tempo.

O Ensino Religioso, como componente curricular, não permaneceu imune às mudanças que ocorreram no cenário político e social do Brasil. Durante o período colonial, por exemplo, a educação religiosa estava diretamente associada à Igreja Católica, refletindo o contexto político e social da época, que era marcado pela colonização e pela forte influência da religião católica. Essa ligação entre a Igreja e o Estado perdurou até o século XIX, quando começaram a surgir discussões sobre a laicidade do Estado e a separação entre a Igreja e o poder governamental. No entanto, ao longo dos séculos, com a evolução política do país, o Ensino Religioso passou a ser repensado em relação à sua função na escola pública. A Constituição de 1891 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1961, por exemplo, refletiram tentativas de separar a educação religiosa do Estado, enquanto ainda se reconhecia a importância do ensino religioso para as tradições culturais brasileiras.

Assim,  Almeida (2004) sugere que as transformações no Ensino Religioso no Brasil são uma resposta direta às mudanças políticas e sociais, com o objetivo de garantir que o ensino desse conteúdo estivesse alinhado com os novos valores e estruturas de poder que surgiram ao longo da história do país. Esse processo de adaptação e redefinição reflete a busca por um equilíbrio entre a tradição religiosa e a necessidade de uma educação que respeitasse a diversidade religiosa e promovesse a convivência plural no contexto social brasileiro.

A REPÚBLICA E A LAICIZAÇÃO DO ESTADO (1889-1930)

No Brasil, durante o período republicano de 1889 a 1930, ocorreu um processo de secularização das instituições governamentais e de afastamento da Igreja Católica das esferas de poder do Estado. Este procedimento se deu em um cenário de significativas transformações políticas, sociais e culturais, desde a Proclamação da República até o término da Primeira República. Vamos aprofundar nosso entendimento sobre o que ocorreu durante este período.

A proclamação da República em 15 de novembro de 1889 marcou o fim da monarquia, fortemente ligada à Igreja Católica. No período imperial, o Brasil era uma nação confessional, com a Igreja Católica desempenhando um papel crucial na sociedade e no governo, graças à Lei do Patronato, que dava ao imperador o direito de designar bispos e exercer influência direta nas decisões da Igreja. A Igreja também gozava de vários privilégios, incluindo a isenção de impostos e a prerrogativa de efetuar matrículas e realizar matrimônios em seu nome. Com a instauração da República, a relação entre a Igreja e o Estado começou a ser questionada, já que muitos republicanos consideravam o catolicismo um entrave para a modernização e o avanço.

A educação desempenhou um papel crucial na laicização. A partir de 1890, a República intensificou o conceito de que o ensino nas escolas públicas deveria ser isento de qualquer influência religiosa. Essa transformação foi mais evidente nos mandatos de Campos Sales(1898-1902), que estabeleceu a política de laicização do ensino. A presença de religiosos e padres em escolas públicas foi sendo progressivamente substituída por docentes laicos, e o ensino religioso foi gradualmente removido do programa escolar.

A fase de 1889 a 1930 foi fundamental para estabelecer um Estado laico no Brasil. Desde a proclamação da República e a promulgação da Constituição de 1891, o Brasil passou a seguir um modelo de separação entre Igreja e Estado, incentivando a secularização das entidades públicas. Apesar de ter ocorrido de forma gradual e encontrar obstáculos, sobretudo no interior do país, o processo foi crucial para a modernização política e social do Brasil.

No entanto, a fé persistiu como um papel crucial na sociedade brasileira, particularmente nos setores mais tradicionais e conservadores, e a Igreja Católica manteve uma significativa influência cultural até o final do século XX. A secularização do Estado não implicou o término da influência religiosa, mas sim a reformulação das interações entre o Estado e a religião.

A Proclamação da República e a adoção de uma nova Constituição em 1891 representaram um marco importante para o processo de laicização do Estado brasileiro. A Constituição de 1891 estabeleceu a separação entre Igreja e Estado, o que implicava, entre outras coisas, na não imposição do ensino religioso nas escolas públicas. A partir de então, o ensino religioso começou a ser visto com mais cautela dentro do sistema educacional público.

No entanto, o Estado Republicano não abandonou completamente o ensino religioso. Em várias regiões do país, especialmente em escolas públicas de cidades pequenas e no interior, o ensino de religião continuava sendo oferecido de forma opcional. Durante o governo de Rui Barbosa(1915-1918), a educação passou a ser mais secularizada, mas, em algumas esferas, o ensino religioso continuava a ser parte da cultura escolar.

A CONSTITUIÇÃO DE 1934 E O ENSINO RELIGIOSO

Em 1934, com a promulgação de uma nova constituição, o Brasil enfrentou um momento de intensas transformações políticas e sociais. A Constituição de 1934 reconheceu a liberdade de crença e, embora tenha afirmado a laicidade do Estado, permitiu que o ensino religioso fosse ministrado nas escolas públicas de forma facultativa. A nova Constituição de 1934 abria espaço para a diversidade religiosa, mas continuava permitindo que o ensino religioso fosse, em parte, católico nas escolas.

O contexto político da época, com a ascensão do Estado Novo (1937-1945), liderado por Getúlio Vargas, trouxe um reforço da intervenção estatal em diversos setores da vida social, inclusive na educação. A Igreja Católica ainda tinha uma forte presença na sociedade brasileira, e muitas escolas continuaram a oferecer o ensino religioso, principalmente com foco nas doutrinas católicas.

A CONSTITUIÇÃO DE 1946 E A EVOLUÇÃO DO ENSINO RELIGIOSO

A Constituição de 1946, promulgada após a queda do Estado Novo, trouxe uma maior ênfase na laicidade do Estado. Entretanto, o ensino religioso continuou a ser permitido nas escolas públicas, mas a grande mudança foi a introdução de um ensino religioso que deveria respeitar a diversidade religiosa e a liberdade de crença dos alunos. A Constituição de 1946 afirmou a separação entre Igreja e Estado e garantiu a liberdade religiosa, permitindo, assim, a pluralidade de práticas religiosas nas escolas públicas.

No entanto, o ensino religioso nas escolas públicas continuou a ser uma realidade majoritariamente católica, já que a Igreja Católica ainda era a principal instituição religiosa do país. A oferta do ensino religioso nas escolas públicas, portanto, ainda estava longe de ser plural, apesar das garantias constitucionais de liberdade religiosa.

O ENSINO RELIGIOSO NA DITADURA MILITAR (1964-1985)

Durante o regime militar (1964-1985), o ensino religioso continuou a ser oferecido nas escolas públicas, mas com maior intervenção do Estado. A Constituição de 1967, elaborada durante o regime, reafirmou a laicidade do Estado, mas também permitiu a oferta de ensino religioso nas escolas, embora em caráter facultativo. A presença de um regime autoritário na política brasileira não favoreceu uma discussão ampla sobre a laicidade do Estado e a pluralidade religiosa no ensino público.

No entanto, o período militar também foi marcado por uma intensificação das práticas de doutrinação ideológica em várias esferas da sociedade, e isso se refletiu, em certa medida, no campo educacional. O ensino religioso nas escolas públicas continuou a ser predominantemente voltado para o catolicismo, sem considerar de forma adequada as outras crenças religiosas presentes no Brasil.

A CONSTITUIÇÃO DE 1988 E A QUESTÃO DA LAICIDADE

A Constituição de 1988, conhecida como Constituição Cidadã, trouxe uma mudança significativa ao reconhecer explicitamente a laicidade do Estado e garantir a liberdade religiosa. O Artigo 210 da Constituição de 1988 estabeleceu que “a educação básica será ministrada com base nos princípios de liberdade e respeito à diversidade”, incluindo a possibilidade de ensino religioso nas escolas públicas, mas com a condição de ser de forma “não confessional”, ou seja, sem vinculação a uma religião específica.

Essa mudança representou um avanço importante, pois o ensino religioso passou a ser mais inclusivo e voltado para o respeito às diversas crenças e religiões presentes no Brasil. Contudo, a implementação dessa diretriz foi desigual, com muitos estados e municípios ainda mantendo práticas confessionais, em especial o ensino do catolicismo, em detrimento das demais religiões.

O ENSINO RELIGIOSO NA ATUALIDADE

Nos últimos anos, a discussão sobre o ensino religioso nas escolas públicas tem sido intensificada, especialmente no contexto da pluralidade religiosa do Brasil. A Constituição de 1988 possibilitou que as escolas públicas oferecessem ensino religioso, mas sem um vínculo com uma fé específica. No entanto, a realidade nas escolas públicas varia de acordo com a região e a gestão local, com algumas escolas ainda oferecendo aulas de ensino religioso de maneira confessional, enquanto outras tentam seguir os princípios da laicidade e da pluralidade religiosa.

Decisões judiciais também têm influenciado a maneira como o ensino religioso é oferecido. Em 2017, por exemplo, o Supremo Tribunal Federal (STF) deliberou que o ensino religioso nas escolas públicas deve ser de caráter não confessional e garantir o direito dos alunos a escolher se querem ou não participar. A presença de diversas correntes religiosas no Brasil, além do crescente número de adeptos de religiões afro-brasileiras e de grupos sem religião, exige que o ensino religioso nas escolas se adapte a essa pluralidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A história do ensino religioso nas escolas públicas brasileiras reflete a complexa relação entre a laicidade do Estado, a liberdade religiosa e a diversidade cultural do país. Através de diferentes períodos históricos, o ensino religioso passou por diversas transformações, desde uma prática confessional voltada para o catolicismo, até um modelo mais plural e respeitador das diferentes crenças. No entanto, ainda existem desafios para garantir que o ensino religioso seja verdadeiramente inclusivo e respeite a diversidade religiosa dos alunos, sem violar os princípios constitucionais da laicidade do Estado e liberdade religiosa.

Ainda que as reformas educacionais do século XX tenham buscado tornar o ensino religioso mais plural, respeitando as diferentes manifestações religiosas, o debate sobre a laicidade e a liberdade religiosa nas escolas continua sendo uma questão em aberto. O modelo atual, que permite o ensino religioso nas escolas públicas, precisa ser cuidadosamente pensado para que não haja imposição de uma crença sobre outra, garantindo que as aulas sejam ministradas de maneira inclusiva e não discriminatória. Isso implica na necessidade de profissionais qualificados, um currículo que aborde as diferentes religiões de maneira imparcial e, acima de tudo, no respeito aos princípios constitucionais que asseguram a liberdade religiosa e a laicidade do Estado.

Em um país caracterizado por sua diversidade cultural e religiosa, o ensino religioso nas escolas públicas deve ser um espaço de aprendizado e respeito mútuo, onde os alunos possam conhecer e compreender as várias tradições religiosas que coexistem na sociedade brasileira. Para tanto, é fundamental que o ensino religioso seja visto como uma ferramenta para a promoção do diálogo inter-religioso, a construção de uma convivência harmônica e o fortalecimento dos direitos humanos, fundamentais para a formação de cidadãos críticos e respeitosos em um contexto democrático.

Portanto, os desafios para garantir um ensino religioso verdadeiramente inclusivo e respeitador da diversidade religiosa permanecem, exigindo um equilíbrio constante entre o respeito às tradições religiosas e a manutenção da laicidade do Estado. A busca por esse equilíbrio será decisiva para que o ensino religioso, de fato, cumpra seu papel educacional, social e ético, contribuindo para uma sociedade mais justa, plural e democrática.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, Ana Paula F. de. Ensino Religioso: Aspectos Históricos e Políticos no Brasil. São Paulo: Editora da UNESP, 2004.

BATISTA, Maria Regina de Carvalho. O Ensino Religioso nas Escolas Públicas: Uma Análise de suas Implicações Jurídicas e Sociais. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006.

CAVALCANTI, Maria José. Laicidade e Ensino Religioso: Uma Reflexão sobre a Educação Pública no Brasil. Recife: Editora UFPE, 2011.

PIMENTA, Selma Garrido. A Educação no Brasil: História e Desafios. Campinas: Papirus, 2005.

SANTOS, José Geraldo de. Religião e Escola: A Laicidade do Estado e os Desafios para o Ensino Religioso no Brasil. Brasília: Editora UnB, 2013.

Aragão, Juliana Lopes . A História do Ensino Religioso nas Escolas Públicas No Brasil.International Integralize Scientific. v 5, n 45, Março/2025 ISSN/3085-654X

Referencias

BAILEY, C. J.; LEE, J. H.
Management of chlamydial infections: A comprehensive review.
Clinical infectious diseases.
v. 67
n. 7
p. 1208-1216,
2021.
Disponível em: https://academic.oup.com/cid/article/67/7/1208/6141108.
Acesso em: 2024-09-03.

Share this :

Edição

v. 5
n. 45
A História do Ensino Religioso nas Escolas Públicas No Brasil

Área do Conhecimento

O Impacto de Santo Agostinho na Educação: Reflexões Filosóficas e Pedagógicas
Santo Agostinho. Educação. Pedagogia. Filosofia. Aprendizagem.
A Influência do Ensino Religioso na Educação Brasileira: Impactos e Desafios
Ensino Religioso. Educação Brasileira. Laicidade. Formação Moral. Estado e Igreja.
Como os Jesuítas Influenciaram a Educação Brasileira
Educação. Jesuitas. Cultura. Indígenas. Ratio Studiorum.
Terra Preta uma História Cultural e Religiosa: Terra de Santos Milagreiros
Terra preta. Religiosidade. Catolicismo popular. Catolicismo litúrgico. Santos.
A Manifestação dos Atributos Divinos Naturais na Visão Bíblica Das Religiões Cristãs No Brasil
Atributos. Deus. Bíblia Sagrada. Religião. Valores morais. Ser humano.

Últimas Edições

Confira as últimas edições da International Integralize Scientific

MARCO

Vol.

5

45

Março/2025
FEVEREIRO (1)

Vol.

5

44

Fevereiro/2025
feature-43

Vol.

5

43

Janeiro/2025
DEZEMBRO

Vol.

4

42

Dezembro/2024
NOVEMBRO

Vol.

4

41

Novembro/2024
OUT-CAPA

Vol.

4

40

Outubro/2024
setembro-capa

Vol.

4

39

Setembro/2024
AGOSTO-CAPA

Vol.

4

38

Agosto/2024

Fale com um com um consultor acadêmico!

O profissional mais capacitado a orientá-lo e sanar todas as suas dúvidas referentes ao processo de mestrado/doutorado.