Autor
Resumo
INTRODUÇÃO
O envelhecimento da população é um fenômeno de amplitude mundial, a OMS (Organização Mundial da Saúde) prevê que em 2025 existirão 1,2 bilhões de pessoas com mais de 60 anos, sendo que os muito idosos (com mais de 80 ou mais) constituem o grupo de maior crescimento (OMS, 2001).
A busca pela qualidade de vida tem se tornado um dos principais objetivos individuais e coletivos na sociedade atual, sobretudo diante do aumento das doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs), como obesidade, hipertensão e diabetes, que são frequentemente associadas ao sedentarismo e aos maus hábitos de vida. Nesse cenário, a atividade física é crucial, tanto para a promoção da saúde quanto para a prevenção de doenças.
A modalidade, Ginástica Geral ou Ginástica Para Todos (GPT), garante diversos benefícios aos praticantes. Por não possuir nenhum segregamento, ou seja, não há discernimento em relação a gênero, faixa etária ou qualquer outra direção, esta prática, como o próprio nome informa, é literalmente para todos. Não competitiva, visando somente o bem-estar social, físico e mental de quem a pratica, portanto uma prática distinta do habitual.
A Ginástica Geral ou Ginástica para Todos (GPT) se destaca como uma modalidade acessível e versátil, capaz de abranger diferentes níveis de exclusão física, além de proporcionar diversos benefícios.
Uma de suas características que, de maneira geral, é entendida como um fundamento para a prática da GPT é o seu caráter coletivo. Ao tomar contato com a literatura, foi possível notar, com grande frequência, apontamentos sobre os benefícios do trabalho em grupo e como essa característica ressalta a importância da cooperação, da socialização e da promoção da interação social entre os praticantes da GPT (Menegaldo; Bortoleto, 2018).
Este trabalho procurou contextualizar a Ginástica Geral no cenário da busca da melhoria na qualidade de vida e hábitos saudáveis, focando na prevenção de futuras patologias. A ginástica geral, também conhecida como ginástica para todos (GPT), é uma modalidade não competitiva, voltada para o lazer, visando o prazer pela prática, estimulando a criatividade e a liberdade de expressão corporal. A ginástica geral tem relação com o componente lúdico, psicológico e sociológico da cultura corporal principalmente para pessoas idosas.
O corpo é a expressão material/espiritual do ser humano na sua relação com a natureza e a cultura (Batista, 2013) e a Ginástica Para Todos (GPT) é uma forma de manifestação da cultura corporal que pode potencializar a relação de cada ser humano com a natureza, consigo e com as pessoas ao seu redor.
A Ginástica para Todos (GPT) é uma modalidade não competitiva reconhecida pela Federação Internacional de Ginástica (FIG). No Brasil, a proposta de Perez Gallardo e Souza (1996) tem sido difundida e vários grupos têm utilizado esse referencial como base para suas proposições: uma proposta democrática, onde qualquer pessoa pode participar.
Conforme (Costa, 2024), o objetivo da ginástica geral é promover o lazer saudável, proporcionando bem-estar físico, psíquico e social aos praticantes, favorecendo a performance coletiva, porém, respeitando as individualidades, em busca da autossuperação pessoal, seja quanto às possibilidades de execução, sexo ou idade, ou ainda quanto a utilização de elementos materiais, musicais e coreógrafos, sempre sem fins competitivos.
Amplamente reconhecida pela sua vertente não competitiva, a GPT se manifesta prioritariamente por meio de apresentações de composições coreográficas, que permitem seu desenvolvimento em diferentes contextos, tornando-a em geral acessível e flexível na medida em que se mostra heterogênea quanto ao perfil de seus praticantes, quanto aos níveis de habilidade e conhecimento gímnico e corporal (Paoliello et al, 2014).
Nas últimas duas décadas do século XX e nesse princípio de XXI, o discurso médico voltou a pautar o debate em torno da ginástica, embora enfocado no bem-estar e na qualidade de vida, projetando diferentes métodos de condicionamento físico, estético e terapêutico, inclusive no âmbito laboral, e tornando-a um fenômeno de massa, e ocupando definitivamente as academias, clubes, spas, hoteis e outros tantos espaços, entre eles a Universidade (Cabinatto, 2016).
METODOLOGIA
Este estudo de caso de caráter explicativo foi desenvolvido com um grupo composto por 8 mulheres, com idades entre 67 e 70 anos, residentes na cidade de Cachoeira do Sul/RS. A pesquisa foi realizada ao longo de 4 semanas, com encontros de 60 minutos, três vezes por semana, em um espaço cedido por uma igreja local. Inicialmente, foram estabelecidos contatos com a secretaria da igreja para formalizar a cessão do local, onde foi apresentada a proposta da Ginástica Geral ou Ginástica para Todos, os objetivos do estudo e os procedimentos que seriam realizados.
Os participantes já possuíam alguma experiência em atividades físicas, adquirida durante dois meses de acompanhamento com um educador físico, o que facilitou a compreensão e execução das atividades propostas. A coleta de dados foi iniciada com uma investigação de patologia previamente relatada pelos participantes, seguida de uma análise individual para planejar os exercícios mais adequados a cada caso.
As atividades iniciaram com alongamentos para promoção do relaxamento muscular e alívio de pontos de tensão. Em seguida, foram realizados exercícios de fortalecimento de tronco, membros superiores e inferiores, utilizando caneleiras e halteres de 2 kg, além de faixas elásticas para resistência. As atividades sempre foram finalizadas com dança coreografada, promovendo a integração entre as participantes.
Para análise dos resultados, foi utilizado o software Excel, com tabulação de dados em tabelas que permitiram identificar os percentuais de evolução individual em aspectos como mobilidade, força e flexibilidade. Os resultados tabulados fornecem uma visão clara do impacto positivo da prática regular da GPT na saúde e qualidade de vida das participantes.
RESULTADOS
De acordo com o estudo, os resultados alcançados através do método aplicado foram informados nos quadros que seguem:
Quadro 1 – Primeira semana (datas dos encontros): 16, 18 e 20 de setembro de 2024.
A – Aumentou D – Diminuiu M – Melhorou MM – Melhorou Muito NM – Não Melhorou NA – Não Aumentou ND – Não diminuiu SMP – Sente Muito Pouco
Fonte: Elaboração do autor (2025)
Conforme o quadro comparativo, 50% das alunas informaram que ao final da primeira semana, as dores (algias) diminuíram e que a flexibilidade, que já era razoável, aumentou; houve evolução na postura e na resistência física da maioria das alunas que realmente se dedicaram aos exercícios ofertados, a grande maioria relatou que a sensação de bem-estar após os exercícios também aumentou, pois a dança as deixavam mais relaxadas.
Quadro 2 – Segunda semana (datas dos encontros): 23, 25 e 27 de setembro de 2024.
A – Aumentou D – Diminuiu M – Melhorou MM – Melhorou Muito NM – Não Melhorou NA – Não Aumentou ND – Não diminuiu SMP – Sente Muito Pouco
Fonte: Elaboração do autor (2025)
Em relação aos dados comparativos aos da semana anterior, houve evolução na flexibilidade e, a amplitude de movimentos ganhou mais força devido a essa evolução, por já obterem um pouco de flexibilidade e amplitude de movimentos, houve a conscientização acentuada referente ao posicionamento postural e resistência muscular. Devido à dedicação das alunas, os exercícios que anteriormente elas apresentavam pouca facilidade, atualmente já apresentam domínio gradativamente. Nessa semana os exercícios foram voltados para o fortalecimento muscular.
Quadro 3 – Terceira semana (datas dos encontros): 30 de setembro, 02 e 04 de outubro de 2024.
A – Aumentou D – Diminuiu M – Melhorou MM – Melhorou Muito NM – Não Melhorou NA – Não Aumentou ND – Não diminuiu SMP – Sente Muito Pouco
Fonte: Elaboração do autor (2025)
Nesta semana, o empenho mostrado pelas alunas foi maior que nas semanas anteriores. A concentração nos exercícios executados foi bastante perceptível. Devido a essa concentração, a flexibilidade se manteve. Mais da metade das participantes, que anteriormente referiam alguma algia, relatou que, ou sente pouca ou não sentem mais dores. Em relação à postura, 50% das participantes mostraram melhora significativa na força muscular que sustenta a coluna vertebral.
Quadro 4 – Quarta semana (datas dos encontros): 07, 09 e 11 de outubro 2024.
A – Aumentou D – Diminuiu M – Melhorou MM – Melhorou Muito NM – Não Melhorou NA – Não Aumentou ND – Não diminuiu SMP – Sente Muito Pouco
Fonte: Elaboração do autor (2025)
Na última semana, o empenho mostrado pelas alunas foi muito maior que nas semanas anteriores. A concentração, a flexibilidade e a interatividade foram naturais e evidentes. A semana foi alcançada com 90% das participantes relatando diminuição de algias, facilidade em realizar exercícios que exigiam flexibilidade e resistência. Em relação à postura, as participantes constataram uma melhora acentuada pois ao realizarem a dança ao final de cada sessão, era natural utilizar uma postura mais confiante, pois não sentiam dor. A autoestima e interatividade foram marcantes, pois através destes encontros a amizade entre o grupo foi reafirmada.
DISCUSSÃO
Os resultados apresentados demonstram a eficácia da Ginástica Geral ou Ginástica para Todos (GPT) como estratégia para a promoção de qualidade de vida, hábitos saudáveis e prevenção de doenças em um grupo de mulheres idosas. Ao longo das quatro semanas, verificou-se uma evolução progressiva em diversos aspectos avaliados, com destaque para a redução de algias, aumento da flexibilidade, conscientização da postura e elevação da autoestima, confirmando a eficácia da metodologia aplicada.
Na primeira semana, 50% das participantes relataram ter sentido a redução das dores e aumento na flexibilidade, o que sugere que os exercícios iniciais, combinando alongamentos e fortalecimento leve, foram bem aceitos e adequados às necessidades do grupo. A dança coreografada, além de relaxar, contribuiu para a interação social, reforçando o caráter inclusivo e prazeroso da GPT. Esses resultados corroboram estudos que apontam o papel da atividade física em grupo na redução do estresse e na melhoria do bem-estar psicológico.
Durante a segunda semana, a evolução na flexibilidade e na amplitude de movimentos foi notável. As participantes tiveram maior facilidade na execução dos exercícios e relataram avanços na resistência muscular e postura. Essa fase ilustra a importância da progressão gradual das atividades, conforme preconizado por abordagens pedagógicas voltadas ao público idoso.
Na terceira semana, a redução das algias e a melhora da postura foi relatada por mais da metade das participantes. Esses resultados indicam que a consistência na prática da GPT começa a gerar impactos musculoesqueléticos perceptíveis, especialmente na sustentação da coluna vertebral e na redução de estresse mecânico. Além disso, a elevação da autoestima foi marcante, evidenciando os benefícios psicológicos da atividade física regular associados a um ambiente acolhedor e interativo.
Na quarta semana, o progresso atingiu um ápice, com 90% das participantes relatando diminuição das dores e maior facilidade na execução de exercícios que concentravam flexibilidade e resistência. A postura foi um dos aspectos mais destacados, refletindo o fortalecimento muscular e a confiança adquirida ao longo do programa. Além disso, a interatividade e a autoestima atingiram níveis elevados, reforçando o impacto positivo das dinâmicas grupais e da socialização no contexto das atividades físicas para idosos. Esses resultados são consistentes com a literatura, que aponta a GPT como uma modalidade eficaz para o público idoso, promovendo benefícios físicos, sociais e emocionais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa evidenciou que a prática da Ginástica Geral ou Ginástica para Todos (GPT) é uma estratégia eficaz para promover qualidade de vida, hábitos saudáveis e prevenção de doenças em mulheres idosas, proporcionando benefícios físicos, emocionais e sociais.
Ao longo de quatro semanas, observou-se uma redução significativa de dores, aumento da flexibilidade, melhoria da postura e elevação da autoestima das participantes, além de um fortalecimento dos laços sociais. Esses resultados destacam a importância de atividades físicas regulares e adaptadas às necessidades do público idoso, reforçando a necessidade de iniciativas comunitárias que incentivem a adoção de práticas como a GPT para promover a saúde e o bem-estar na terceira idade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BAPTISTA, Tadeu João Ribeiro. O corpo na sociedade do capital. Curitiba, PR: Appris, 2013.
BASSO BOLPATO, M.; COSTA NETO, Benício da; FÉLIX SOUZA, I. Qualidade de vida e bem-estar subjetivo de idosos no programa de academia de saúde. Saúde Coletiva (Barueri), [S. l.], v. 11, n. 62, p. 5212–5223, 2021. DOI: 10.36489/saudecoletiva.2021v11i62p5212-5223. Disponível em: https://revistasaudecoletiva.com.br/index.php/saudecoletiva/article/view/1342. Acesso em: 1 de março de 2025.
CARBINATTO, Michele Viviene; Bortoleto, Marco Antônio Coelho. Ginástica para todos: princípios para a prática. In: Pereira da Silva, Júnior Vagner; Gonçalves-Silva, Luiza Lana; MOREIRA, Wagner Wey. Educação Física e seus Diversos Olhares. 1. ed. Campo Grande: Editora UFMS, 2016. 1 Capítulo. P. 99-100.
COSTA, Márcio. Objetivo da Ginástica Geral. Disponível em: http://www.dicaseducacaofisica.info/objetivo-da-ginastica-geral/. Acesso em: 14 de novembro de 2024.
GOMES, Lohany Cristina do Nascimento e colaboradores. O corpo a partir da ginástica para todos: primeiros debates com o Grupo Cignus. Corpoconsciência, v. 24, n. 01, p. 83-94, jan./ abr., 2020.
MENEGALDO, Fernanda Raffi; BORTOLETO, Marco Antônio Coelho. Ginástica para todos: primeiras reflexões sobre uma prática coletiva. Revista da Alesde, v. 2, p. 300-312, 2019.
MENEGALDO, Fernanda Raffi Menegaldo; BORTOLETO, Marco Antonio Coelho. Ginástica para Todos: primeiras reflexões sobre uma prática coletiva. Revista ALESDE, v. 9, n. 4, dez/2018.
MORENO, Natália Lopes; TSUKAMOTO, Mariana Harumi Cruz. Influências da prática da Ginástica Para Todos para a saúde na velhice: percepções dos praticantes. Conexões, v. 16, n. 4, p. 468-487, out./dez. 2018.
MOTA, J; RIBEIRO, J. L; CARVALHO, J. Atividade física e qualidade de vida associada à saúde em idosos participantes em programas regulares de atividade física. Ver. Bras. Educ. Fís. Esp., São Paulo, v. 20, n. 3, p.219-25, jul./set. 2006.
OLIVEIRA, Nara Rejane Cruz de. Ginástica para todos: perspectivas no contexto do lazer. Revista Mackenzie de educação física e esporte, v. 6, n. 1, p. 27-35, 2007.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE. The world health report. Geneva; 2001
PAOLIELLO, Elizabeth; TOLEDO, Eliana; AYOUB, Eliana; BORTOLETO, Marco Antonio Coelho; GRANER, Larissa. Grupo Ginástico Unicamp: 25 anos. Campinas: Unicamp, 2014.
PATRÍCIO, T. L.; BORTOLETO, M. A. C.; TOLEDO, E. de. Institucionalização da ginástica para todos no Brasil: três décadas de desafios e conquistas (1988-2018). Pensar a Prática, Goiânia, v. 23, 2020. DOI: 10.5216/rpp.v23.61240. Disponível em: https://revistas.ufg.br/fef/article/view/61240. Acesso em: 10 de dezembro de 2024.
PEREZ GALLARDO, Jorge Sergio; SOUZA, Elizabeth Paoliello Machado de. La experiencia del Grupo Ginástico Unicamp en Dinamarca. Congresso Latino-Americano/ICHPERSD, I. Anais…, Foz do Iguaçu, PR, 1996.
SANTOS, Ingrid de Oliveira; TSUKAMOTO, Mariana Harumi Cruz. A prática da ginástica para todos como uma possibilidade de promover a autonomia da pessoa idosa. Corpoconsciência, v. 24, n. 3, p. 131-142, set./ dez., 2020.
Área do Conhecimento
Submeta seu artigo e amplie o impacto de suas pesquisas com visibilidade internacional e reconhecimento acadêmico garantidos.