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Resumo
INTRODUÇÃO
A compreensão sobre o termo qualidade de vida (QV) é multidisciplinar e recente, em processo de afirmação de fronteiras e conceitos; por isso, definições sobre o termo são comuns, mas nem sempre concordantes (Almeida, 2012).
Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), QV pode ser definida como “percepção dos indivíduos de que suas necessidades estão sendo satisfeitas ou, ainda, que estão sendo negadas oportunidades de alcançar a felicidade e a autorrealização, com independência de seu estado de saúde físico ou das condições sociais e econômicas” (OMS, 1998).
Depreende-se que QV, por possuir diversas formas e facetas, insere-se em diversos âmbitos para verificar aspectos de indivíduos e coletividade. No que tange ao ambiente de trabalho, há o conceito de qualidade de vida no trabalho (QVT) que é uma compreensão abrangente e comprometida das condições de vida no ambiente laboral, incluindo aspectos de bem-estar, garantia da saúde, segurança física, mental , social e capacitação para realizar tarefas com segurança e bom uso de energia pessoal. A construção da QVT ocorre a partir do momento que se percebe a empresa e as pessoas como um todo, promovendo o bem-estar e segurança dos trabalhadores a fim de assegurar uma maior produtividade, qualidade no trabalho e maior satisfação na vida familiar e pessoal (Aquino, 2015).
A qualidade de vida no trabalho se apresenta como uma preocupação do homem, desde o início da sua existência, com o objetivo de facilitar ou trazer satisfação e bem-estar ao trabalho na execução de suas tarefas. O conceito de qualidade de vida engloba vários aspectos, como físicos, ambientais e psicológicos do local de trabalho (Chiavenato, 2004).
Conforme Limongi-França (2006), a qualidade de vida no trabalho e os modelos de liderança participativa acabam por se combinar tão perfeitamente que se tornam um moto-contínuo, em que um viabilizar e impulsionar o outro, mantendo a coesão de equipe. O modelo de liderança promove envolvimento das pessoas com a tarefa e participação no processo decisório; e isso acaba por se refletir na QVT, aumentando os índices de satisfação e motivação do empregado.
Laszlo apud Limongi-França (2019) afirma que quando se tem estratégia para a QVT consequentemente há uma melhoria na produtividade. Em essência, é um estado de mente, um estado de consciência influenciado por um conjunto de fatores ao trabalho, ao ambiente de trabalho e à “personalidade do empregado
De acordo com Maximiano (2002), a qualidade de vida no trabalho consiste na visão mais ampla das concepções existentes sobre motivação e satisfação, baseando-se numa visão integral dos seres humanos, denominada de enfoque biopsicossocial, o qual propõe a visão integrada dos indivíduos. Tal enfoque propõe que a saúde consiste no completo bem-estar biológico, psicológico e social, definição esta adotada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 1986.
Recentemente, Sant’Anna, Kiliminik e Moraes (2011) publicaram um livro formado de estudos brasileiros sobre Qualidade de vida no Trabalho (QVT) e escreveram uma introdução na qual entendem que:
A qualidade de vida no trabalho tem sido definida de diferentes formas por diferentes autores. No entanto, praticamente todas as definições guardam entre si, como ponto comum, o entendimento da QVT como um movimento de reação ao rigor dos métodos tayloristas e, consequentemente, como um instrumento que tem por objetivo propiciar uma maior humanização do trabalho, o aumento do bem-estar dos trabalhadores e uma maior participação destes nas decisões e problemas do trabalho (Sant’Anna, Kiliminik e Moraes, 2011).
Conforme Oliveira (2004), o mundo do trabalho vem sofrendo grandes transformações devido às inovações tecnológicas e organizacionais que exigem cada vez mais dos trabalhadores. Na busca pela sobrevivência, as extensas jornadas de trabalho realizadas pelos trabalhadores, independente da profissão, têm causado desconfortos musculares, afetando seu bem-estar (Mendes, 2004).
Em consequência do estresse resultante do expediente de trabalho, o trabalhador pode sentir-se desmotivado para concluir não somente suas atividades laborais, mas, principalmente, suas ações diárias em geral, incluindo atividades de recreação, lazer e físicas. Assim, parece aceitável a ideia de que o estresse imposto pelas longas jornadas de trabalho, geralmente em más posturas e com mobílias inadequadas, somado a movimentos repetitivos, que ocorrem em algumas profissões, resulta em alta prevalência de lombalgia entre trabalhadores de diversos cargos (Pastre, 2007; Martins, 2000).
Na tentativa de contornar esses problemas, as empresas têm adotado a Ginástica Laboral (GL), como um recurso para diminuir os afastamentos decorrentes de lesões por esforço repetitivo e doenças osteomusculares, relacionadas ao trabalho, reduzir os atestados médicos, acidentes de trabalho e garantir o aumento da produtividade (Mendes, 2004; Martins, 2000; Figueiredo, 2005).
Os primeiros registros da prática da Ginástica Laboral são de 1925. Neste ano, na Polônia, operários se exercitavam com uma pausa adaptada a cada ocupação particular. Alguns anos depois, esta ginástica foi introduzida na Holanda e na Rússia, no início da década de 60, e começou a ser praticada na Alemanha, na Suécia, na Bélgica e no Japão. Os Estados Unidos adotaram a Ginástica Laboral em 1968 (Revista do Confef, 2004; Lima apud Figueiredo e Alvão, 2005).
No Brasil, sua difusão ocorreu na segunda metade da década de 1980, com uma adesão ainda maior nos anos 1990, coincidindo com a “epidemia” das LER/DORT. A GL, naquela época, foi introduzida com finalidades diversas: prevenção de doenças ocupacionais, diminuição dos acidentes de trabalho, aumento da produtividade e melhora do bem-estar geral dos trabalhadores (Zilli, 2002; Mendes e Leite, 2004; Militão, 2001).
Segundo Martins (2001), uma das formas mais utilizadas de intervenção no trabalho, com intuito de prevenção de doenças e promoção da saúde, é a Ginástica Laboral (GL). A GL tem características de preparação muscular para o trabalho, pausa, correção postural ou relaxamento muscular (Lima, 2003).
Estudos mais recentes indicam que a intervenção da Ginástica Laboral corrobora na melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores e evidencia resultados significativos na prevenção de doenças ocupacionais e agravos relacionados ao trabalho (Moura; Gomes, 2020).
Em concordância com este mesmo pensamento, Cancian e Malacarne (2018) afirmam que quando a ginástica laboral é aplicada no ambiente de trabalho é possível reduzir o estresse físico e mental e trazer benefícios à qualidade de vida e ao ambiente de trabalho.
METODOLOGIA
Este estudo de caso, de caráter explicativo, foi desenvolvido com um grupo composto por 35 colaboradores, com idades entre 32 e 57 anos, residentes na cidade de Cachoeira do Sul/RS. A pesquisa foi realizada ao longo de 4 semanas, com encontros de 15 minutos, cinco vezes por semana, no local onde os trabalhadores realizavam o serviço laboral. Inicialmente, foram estabelecidos contatos com a agência para formalizar as sessões, durante os quais foi apresentada a proposta da Ginástica Laboral ao gerente da corporação, os objetivos do estudo e os procedimentos que seriam realizados.
As atividades iniciaram com alongamentos para a promoção do relaxamento muscular e alívio de pontos de tensão. Em seguida, foram realizados exercícios de mobilidade, flexibilidade articular, fortalecimento do tronco e membros superiores.
Para análise dos resultados, foi utilizada a identificação através dos relatos, os percentuais de evolução em aspectos como mobilidade, força do tronco, flexibilidade articular e algia. Os resultados fornecem uma visão clara do impacto positivo da prática da GL na saúde e na qualidade de vida dos colaboradores.
RESULTADOS
De acordo com o estudo, os resultados alcançados através da GL na primeira semana, de 6 a 10 de janeiro, indicaram que 70% dos colaboradores informaram que o quadro álgico (dores) diminuiu muito pouco e que a flexibilidade não mudou significativamente; houve pouca evolução na postura e na resistência física. A grande maioria relatou que a sensação de bem-estar após os exercícios melhorou. O desempenho referente à interatividade foi bastante modesto.
Em relação à semana seguinte, de 13 a 17 de janeiro, houve uma evolução de quase 80% na flexibilidade, e a amplitude de movimentos ganhou mais força devido a essa evolução. A flexibilidade e a amplitude de movimentos melhoraram principalmente com os exercícios de mobilidade, houve melhora considerável na postura, na resistência muscular e diminuição significativa das algias nos membros superiores e na região lombar.
Na semana de 20 a 24 de janeiro, o empenho mostrado pelos colaboradores foi maior do que nas semanas anteriores. A concentração foi perceptível, acompanhada do bom desempenho na flexibilidade. Mais da metade dos participantes, que anteriormente referiam alguma algia, mostrou que ou sentiam pouca ou nenhuma dor, principalmente na região lombo-sacra. Em relação à postura, 85% dos colaboradores mostraram melhora significativa na força muscular que sustenta a coluna vertebral.
Na última semana, de 27 a 31 de janeiro, o empenho exibido pelos colaboradores foi muito maior do que nas semanas anteriores. O quadro álgico diminuiu consideravelmente, a flexibilidade e a interatividade foram naturais e evidentes. A semana foi concluída com 98% dos participantes aperfeiçoados na facilidade de realizar exercícios que exigiam mobilidade e resistência. Em relação à postura, os colaboradores constataram uma melhora acentuada, pois, ao realizarem o trabalho de digitação, era natural que se policiassem e utilizassem uma postura mais adequada, pois não sentiam tanta dor.
A interatividade foi marcante, pois, através dessa prática, na qual foram reunidos todos os colaboradores durante o período, estes reafirmaram uma maior aproximação e acolhimento mútuo.
DISCUSSÃO
Os resultados apresentados demonstram a eficácia da Ginástica Laboral (GL) como estratégia para a promoção da qualidade de vida, hábitos saudáveis e prevenção de doenças em um ambiente corporativo. Ao longo das quatro semanas, verificou-se uma evolução progressiva em diversos aspectos avaliados, com destaque para a redução das algias em regiões como punhos e coluna lombar, aumento da flexibilidade, melhoria da postura, confirmando a eficácia da metodologia aplicada.
Na primeira semana, 70% dos participantes disseram ter tido uma leve diminuição no quadro álgico (dores) e que a flexibilidade não mudou muito; houve pequena correção na postura e na resistência física; a grande maioria relatou que a sensação de bem-estar após os exercícios melhorou. O desempenho referente à interatividade foi bastante tímido, o que sugere que os exercícios iniciais não foram bem aceitos devido à falta de hábito. Contudo, a rotina de encontros contribuiu para a interação social, reforçando o caráter inclusivo e prazeroso da GL. Esses resultados apontam o papel da atividade física em grupo na redução do estresse e na melhoria do bem-estar.
Durante a segunda semana, de 13 a 17 de janeiro, a evolução na flexibilidade e na amplitude de movimentos foi notável, com 80% de evolução. Os participantes tiveram maior facilidade na execução dos exercícios e relataram avanços na resistência muscular e postura. Essa fase ilustra a importância da progressão gradual das atividades, conforme preconizado por abordagens pedagógicas voltadas para a execução de tal prática.
Na terceira semana, de 20 a 24 de janeiro, a redução das algias e a melhora da postura foram relatadas por mais da metade dos participantes. Esses resultados indicam que a consistência na prática da GL começa a gerar impactos musculoesqueléticos perceptíveis, especialmente na sustentação da coluna vertebral e na redução do estresse mecânico.
Na quarta e última semana, de 27 a 31 de janeiro, o progresso atingiu 98% dos participantes, que relataram diminuição das dores e maior facilidade na execução de exercícios que exigiam flexibilidade e resistência. A postura foi um dos aspectos mais destacados, refletindo o fortalecimento muscular e a confiança adquirida ao longo da prática, pois os participantes se habituaram a corrigir-se ao realizar suas atividades laborais. A interatividade ficou evidente, pois a prática da GL colaborou com a socialização no contexto das atividades físicas, reafirmando uma maior aproximação de todos os envolvidos.
Na literatura, esses resultados são considerados uma modalidade eficaz, promovendo benefícios físicos, psicológicos e sociais para todo o grupo envolvido.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa evidenciou que a prática da Ginástica Laboral (GL) é uma estratégia eficaz para promover qualidade de vida, hábitos saudáveis e prevenção de doenças laborais futuras. Ao longo das quatro semanas, observou-se uma redução significativa, principalmente das dores lombares, aumento da flexibilidade articular, melhora da postura e uma maior aproximação entre os participantes, além de um fortalecimento dos laços sociais. Esses resultados destacaram a importância de atividades físicas regulares e adaptadas às necessidades das empresas, reforçando a importância de iniciativas para a adoção de práticas como a GL, a fim de promover a saúde e o bem-estar nos ambientes corporativos. O programa alcançou o objetivo de melhorar a qualidade de vida por meio da motivação para o trabalho. Através dos exercícios propostos, os colaboradores passaram por um processo de capacitação, tornando-se mais aptos a enfrentar as demandas do ambiente de trabalho. A pesquisa enriqueceu a comunidade científica, visto que trouxe benefícios mútuos entre colaboradores e empresa, reforçando a afirmação e comprovação de que um indivíduo trabalha de forma qualitativa e produtiva quando está em boas condições de saúde para o trabalho.
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