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Resumo
INTRODUÇÃO
O envelhecimento populacional é um dos principais fenômenos sociais da atualidade, refletindo mudanças estruturais e demográficas em escala global e com ele, crescem os desafios relacionados à saúde e à qualidade de vida dos idosos. No Brasil o envelhecimento tem se intensificado nas últimas décadas, conforme evidenciado pelos dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 2022, o Brasil contava com aproximadamente 32,1 milhões de pessoas com 60 anos ou mais, representando 15,8% da população total. Esse número indica um aumento de 56% em relação a 2010, quando havia 20,5 milhões de idosos (10,8% da população). O número de pessoas com 65 anos ou mais atingiu 22,17 milhões em 2022, correspondendo a 10,9% da população brasileira, um crescimento de 57,4% em comparação a 2010. Segundo projeções do IBGE, em 2070, certa de 37,8% da população Brasileira será composta por pessoas com 60 anos ou mais, totalizando aproximadamente 75,3 milhões de indivíduos. Nesse contexto, nos últimos anos, tem crescido o interesse da comunidade científica por fatores que influenciam um envelhecimento mais positivo, ativo e saudável, dando origem ao conceito de “envelhecimento bem-sucedido”.
Conforme descrito por Rowe e Kahn (2015), o envelhecimento bem-sucedido é definido pela interação de três elementos fundamentais: baixa probabilidade de doença e incapacidade, manutenção de alta capacidade funcional e cognitiva, e envolvimento ativo com a vida. Para atingir esses objetivos, é essencial considerar os aspectos psicossociais que influenciam a adaptação e o bem-estar na velhice. A Organização Mundial da Saúde (2020), define o envelhecimento saudável como um “processo de desenvolver e manter a capacidade funcional que permite o bem-estar na velhice”.
Um dos conceitos psicológicos que se torna mais relevante é a autoeficácia. Bandura (1997), descreve a autoeficácia como a crença de um indivíduo em sua capacidade de organizar e executar as ações necessárias para alcançar determinados resultados. Em termos mais simples, quanto mais uma pessoa acredita que consegue fazer algo, maior a chance de ela realmente tentar e persistir. Em um contexto de saúde, essa crença influencia diretamente a motivação, o comportamento e a persistência diante de obstáculos e adoção de comportamentos saudáveis. Pesquisas mostram que adultos mais velhos com maior autoeficácia também são menos dependentes para atividades da vida diária, relatam menos sintomas depressivos, são mais ativos física e socialmente e têm melhor qualidade de vida (Luszczynska et al., 2011; Guerra et al., 2019). Esses dados indicam que a autoeficácia pode ser um fator de proteção relevante frente às perdas funcionais e às adversidades comuns relacionadas à idade.
Nesse cenário, este estudo sugere uma revisão integrativa da literatura com o objetivo de responder à seguinte pergunta: Qual é o papel da autoeficácia na promoção de um envelhecimento bem-sucedido? Para isso, a introdução apresenta os conceitos-chave e a relevância do tema; a metodologia específica as razões e a forma como a revisão integrativa foi delineada; os resultados são discursos por meio da escrita; e por fim, são apresentadas as considerações finais e as referências utilizadas ao longo do trabalho.
METODOLOGIA
Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, que tem como objetivo mostrar a importância da autoeficácia na promoção de um envelhecimento bem-sucedido. Conforme metodologia proposta por, (Mendes; Silveira; Galvão, 2016), a revisão integrativa (RI) é um método que busca reunir a produção científica relevante acerca de um determinado tema, oferecendo um acesso rápido e sintetizado aos resultados científicos mais importantes sobre a área de interesse.
Várias etapas compõem a revisão integrativa: identificação do problema (elaboração e pergunta norteadora, escolha dos descritores e dos critérios para inclusão/exclusão dos estudos); busca dos artigos na literatura; categorização dos estudos analisados; avaliação da amostra; síntese dos estudos selecionados e interpretação dos resultados. Para a organização dessa revisão foi necessário realizar um levantamento bibliográfico em busca avançada na Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), registrados nos seguintes Descritores em Ciências da Saúde (DeCS): “autoeficácia”, “envelhecimento bem-sucedido”, “idoso” e “qualidade de vida”. O operador booleano E foi usado para combiná-los. Um exemplo da estratégia de busca utilizada foi: (“autoeficácia”) E (“idoso”) E (“envelhecimento bem-sucedido”) E (“qualidade de vida”).
A seleção dos artigos foi baseada nos seguintes critérios de inclusão: artigos publicados em revistas científicas com pesquisa totalmente disponível, de acesso livre, e estudos disponíveis em inglês, português e espanhol. Além disso, de acordo com os critérios de exclusão, foram descartados: artigos incompletos, artigos duplicados, publicações não relacionadas à questão norteadora e outros materiais que não foram categorizados como artigos científicos.
É importante destacar que também foram utilizadas fontes de órgãos governamentais e outros artigos científicos, para a realização da discussão. Neste estudo, foi realizado um levantamento de publicações científicas entre os anos de 2013 até 2023, resultando em 112 artigos, dos quais 32 estavam disponíveis na íntegra. Seguindo os critérios de inclusão e exclusão, foram selecionados 10 artigos. O processo de seleção dos estudos está representado no fluxograma seguinte:
Figura 1: Fluxograma para composição da amostra de artigos analisados.
Fonte: Elaboração do autor (2025)
Para uma melhor disposição estrutural, foram elaboradas sínteses dos 10 artigos selecionados para integrar à revisão traduzidos para Língua Portuguesa (Quadro I), contendo: autor, tipo de estudo, país de origem e resultados/conclusões.
Quadro 1: Caracterização dos Artigos que compõem o presente estudo
Fonte: Elaboração do autor (2025)
DISCUSSÃO
A revisão dos estudos mostra que a autoeficácia é um fator psicológico determinante para a promoção de um envelhecimento bem-sucedido, atuando em múltiplas dimensões da vida dos idosos. Os achados apontam, de forma consistente, que níveis elevados de autoeficácia estão associados à maior qualidade de vida, funcionalidade, engajamento social, adesão a comportamentos saudáveis e menor ocorrência de problemas de saúde mental.
Silva et al. (2015) destacam que a autoeficácia está diretamente relacionada ao engajamento social, aspecto crucial do modelo de envelhecimento bem-sucedido desenvolvido por Rowe e Kahn (1997). O contato social não só é um reflexo de bem-estar, mas também um fator proteção contra o isolamento, depressão e declínio cognitivo, sugerindo que a crença na autoeficácia estaria associada à atuação comportamental proativa para se manter conectado dentro de redes de apoio.
A autoeficácia foi identificada como um preditor de manutenção da capacidade funcional quando acompanhada longitudinalmente ao longo de cinco anos em um estudo de Martínez e Gómez (2018). Esses dados apoiam ainda mais a autoeficácia como um recurso interno pelo qual os idosos mantêm sua independência funcional, apesar dos desafios impostos pelo envelhecimento.
Além disso, programas de construção de autoeficácia foram eficazes como em Chen et al. (2019), que incluíam aumento de atividade física e redução de sintomas depressivos em idosos chineses. Esse resultado fornece mais suporte de que a autoeficácia pode ser promovida através de uma intervenção devidamente adaptada, com consequentes efeitos benéficos no bem-estar mental e físico. Esses resultados estão de acordo com os descritos na revisão sistemática de Oliveira e Souza (2020), que indicou que a autoeficácia exerce uma enorme influência na adesão ao tratamento, particularmente em indivíduos idosos com doenças crônicas. Isso é consistente com a estrutura de Bandura (1997), que enfatizou a autoeficácia como um preditor de comportamento autorregulado e da persistência frente a desafios. Em contextos clínicos, a crença na própria capacidade de manejar a própria saúde é fundamental para que o idoso se torne protagonista de seu processo terapêutico.
O estudo qualitativo de Torres et al. (2021) traz a perspectiva subjetiva dos idosos, revelando que a percepção das próprias capacidades é essencial para a superação de limitações físicas e para a reconstrução de sentido na vida cotidiana. Esses relatos enriquecem a discussão ao mostrar que a autoeficácia vai além de uma variável psicométrica e se manifesta como uma força motivacional para enfrentar perdas e adversidades.
Por fim, Johnson et al. (2022) encontraram uma associação entre maior nível de autoeficácia e menos hospitalizações frequentes em idosos frágeis. Essa informação também indica que a autoeficácia atua também na prevenção de agravos, ao promover comportamentos proativos e autocuidado eficaz, diminuindo a dependência dos serviços de saúde e apoiando a sustentabilidade do sistema.
Em suma, os estudos revisados fornecem evidências de que a autoeficácia é um fator comum que medeia o efeito dos componentes físicos, cognitivos e emocionais do envelhecimento nos aspectos sociais e emocionais da vida. Não deve ser considerada apenas pela responsabilidade do indivíduo, mas é parte de políticas públicas que envolvem o empoderamento dos idosos. Intervenções interdisciplinares que promovem o sentimento de competência pessoal, como programas de educação em saúde, grupos de apoio, atividades físicas supervisionadas e intervenções psicossociais representam maneiras potenciais, válidas e eficazes para promover o envelhecimento ativo.
Por isso, investir no fortalecimento da autoeficácia dos idosos não só ajuda a proteger e melhorar a saúde de cada pessoa, mas também é uma forma de lidar melhor com o envelhecimento da população. Entender a autoeficácia como um conceito importante para o envelhecimento saudável nos ajuda a compreender melhor as necessidades de uma sociedade que está envelhecendo e a pensar em ações mais humanas, eficazes e duradouras.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta revisão integrativa permitiu analisar a autoeficácia como um todo, considerando-a um elemento do processo de envelhecimento bem-sucedido, enfatizando seu efeito benéfico em algumas dimensões da vida do idoso, como independência funcional, saúde mental, conectividade social e controle sobre comportamentos de saúde.
Os estudos revisados mostram que a crença na própria capacidade de enfrentar desafios e tomar decisões é um fator protetivo frente aos impactos negativos do envelhecimento, promovendo maior qualidade de vida e bem-estar na velhice. A autoeficácia revela-se como um importante recurso psicológico para resiliência, autocuidado e participação na vida. Portanto, promover a autoeficácia em estudos envolvendo idosos é uma estratégia importante para políticas públicas, ações comunitárias e intervenções de saúde visando a um envelhecimento ativo e saudável. Reconhecendo o poder da crença na agência própria como um motor de mudança, pode-se imaginar um envelhecimento mais engajado, envolvido e, em última análise, gratificante para todos.
Os resultados encontrados também demonstram a importância de ampliar o investimento em programas interdisciplinares voltados para o empoderamento da população idosa, especialmente aqueles que envolvam educação em saúde, atividades físicas, suporte psicossocial e estímulo à participação social. Tais ações podem não apenas ajudar a reduzir a demanda por serviços de saúde e cuidados, mas também a criar uma sociedade mais inclusiva e preparada para o envelhecimento populacional.
Conclui-se, portanto, que a autoeficácia é um fator importante no processo de envelhecimento bem-sucedido, sendo imprescindível que profissionais de saúde, formuladores de políticas públicas e pesquisadores reconheçam seu papel e atuem na promoção de estratégias que a aprimorem. Estudos futuros podem elucidar intervenções adaptadas aos perfis dos idosos, além dos efeitos a longo prazo da autoeficácia aprimorada relacionada à saúde e longevidade.
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