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Resumo
INTRODUÇÃO
A epigenética desempenha um papel fundamental no controle da expressão gênica, influenciando diretamente processos relacionados ao envelhecimento saudável e à longevidade. Esse campo de estudo tem revelado como mecanismos moleculares, como a metilação do DNA, modificações em histonas e o papel do RNA não codificante, são sensíveis a estímulos ambientais, impactando a expressão de genes cruciais para a saúde ao longo da vida. Genes associados à longevidade, como FOXO3 e SIRT1, têm sido destacados na literatura por sua relevância em processos celulares relacionados à resistência ao estresse oxidativo e à reparação do DNA. Morais et al. (2023) ressaltam que a interação entre o microbioma humano e fatores ambientais, como dieta e atividade física, pode modular esses mecanismos epigenéticos, oferecendo novas perspectivas para intervenções que promovam o envelhecimento saudável.
A influência do microbioma intestinal é especialmente relevante nesse contexto. Estudos mostram que alterações na microbiota, induzidas por fatores externos, impactam diretamente a homeostase do sistema imunológico, contribuindo para a prevenção de doenças crônicas e para a manutenção de uma longevidade saudável. Morais et al. (2023) destacam ainda que intervenções no estilo de vida, como a incorporação de prebióticos e probióticos, podem restaurar o equilíbrio da microbiota, reduzindo inflamações sistêmicas associadas ao envelhecimento, como o inflammaging.
A atividade física, por sua vez, tem sido amplamente reconhecida como um fator modulador da epigenética. Gouveia (2017) explora como a prática regular de exercícios físicos é capaz de influenciar positivamente genes relacionados à longevidade, promovendo a plasticidade celular e aumentando a capacidade do organismo de se adaptar ao envelhecimento. Além disso, o exercício desempenha um papel central na redução de marcadores inflamatórios, na melhora da circulação e no fortalecimento do sistema imunológico, fatores que contribuem para um envelhecimento mais saudável.
Outro fator crucial é a nutrição, que também atua como um poderoso modulador epigenético. Solis (2021) enfatiza que uma dieta equilibrada, rica em compostos bioativos, como antioxidantes e polifenois, pode proteger contra o estresse oxidativo e a degeneração celular. Alimentos como frutas, vegetais e grãos integrais fornecem nutrientes que não apenas combatem os danos causados pelos radicais livres, mas também regulam a expressão gênica, favorecendo a manutenção de processos fisiológicos saudáveis.
Esses fatores ambientais, quando combinados, destacam a plasticidade do genoma humano e sua capacidade de responder a estímulos externos, reforçando a importância de um estilo de vida saudável para a promoção da longevidade. Além disso, estudos em centenários demonstram que indivíduos que alcançam idades extremas frequentemente apresentam padrões epigenéticos adaptativos que refletem estilos de vida saudáveis ao longo de décadas.
Diante do exposto tem como objetivo investigar padrões epigenéticos específicos em centenários e correlacioná-los com fatores ambientais e hábitos de vida.
Este estudo justifica-se pela crescente relevância da epigenética na compreensão dos mecanismos que promovem o envelhecimento saudável e a longevidade, considerando a influência direta dos fatores ambientais sobre a expressão gênica. A busca por estratégias eficazes que potencializem a saúde em idades avançadas tem se tornado essencial diante do aumento da expectativa de vida e dos desafios associados ao envelhecimento da população mundial.
MECANISMOS EPIGENÉTICOS E SUAS IMPLICAÇÕES NA REGULAÇÃO GÊNICA
A epigenética desempenha um papel crucial na regulação da expressão gênica, permitindo que células com o mesmo material genético apresentem características e funções diferentes. Essa regulação ocorre por meio de mecanismos epigenéticos que atuam na organização da cromatina, na acessibilidade dos genes e na estabilidade do genoma, sem alterar a sequência de DNA. Entre os principais mecanismos destacam-se a metilação do DNA, as modificações em histonas e a atuação dos RNAs não codificantes. Esses processos são modulados tanto por fatores intrínsecos, como a diferenciação celular, quanto por fatores externos, como dieta, estresse e exposição a toxinas (Paiva et al., 2019; Silva et al., 2024).
A metilação do DNA é um dos mecanismos epigenéticos mais conhecidos e estáveis. Trata-se da adição de grupos metila no carbono 5 da citosina em dinucleotídeos CpG, geralmente encontrados em regiões promotoras de genes. Esse processo, catalisado pelas DNA metiltransferases (DNMTs), resulta no silenciamento transcricional dos genes, desempenhando um papel essencial no desenvolvimento normal, na diferenciação celular e na manutenção da estabilidade genômica. Segundo RIVAS (2021), a metilação do DNA também está envolvida na inativação de elementos transponíveis, que podem causar instabilidade genética se não forem devidamente regulados. Além disso, padrões anormais de metilação estão associados a diversas doenças, incluindo câncer, doenças autoimunes e distúrbios metabólicos.
Outro mecanismo central na epigenética são as modificações pós-traducionais das histonas, que incluem processos como acetilação, metilação, fosforilação e ubiquitinação. Essas modificações ocorrem nas caudas N-terminais das histonas e afetam diretamente a compactação da cromatina, influenciando a acessibilidade dos genes à maquinaria transcricional. De acordo com Souza Rosa (2020), a acetilação de histonas está geralmente associada à abertura da cromatina e à ativação gênica, enquanto a metilação pode levar tanto à ativação quanto à repressão, dependendo do resíduo modificado e do contexto celular. Por exemplo, a trimetilação da lisina 4 na histona H3 (H3K4me3) está associada a promotores ativos, enquanto a trimetilação da lisina 27 (H3K27me3) está ligada ao silenciamento gênico.
Os RNAs não codificantes, por sua vez, representam uma classe de reguladores epigenéticos com funções diversas, incluindo o controle da tradução de proteínas e a modulação da estabilidade do RNA mensageiro. Entre os RNAs não codificantes, destacam-se os microRNAs (miRNAs), os RNAs longos não codificantes (lncRNAs) e os RNAs pequenos interferentes (siRNAs). Esses RNAs interagem com a cromatina e com proteínas reguladoras, modulando a expressão gênica de forma específica. Silva et al. (2024) destacam que os miRNAs desempenham um papel crítico no controle de vias metabólicas e de sinalização celular, sendo frequentemente alterados em condições patológicas como o câncer e doenças cardiovasculares.
Um aspecto importante dos mecanismos epigenéticos é sua interação com fatores ambientais. A plasticidade epigenética permite que o epigenoma responda dinamicamente a estímulos externos, como dieta, atividade física e exposição a agentes tóxicos. Essa interação é exemplificada pela capacidade de nutrientes bioativos, como polifenois e ácidos graxos ômega-3, de modular a atividade de DNMTs e histona desacetilases (HDACs), promovendo alterações benéficas na expressão gênica. Paiva et al. (2019) sugerem que esses efeitos podem ser herdados por meio de marcas epigenéticas transgeracionais, destacando o impacto das escolhas ambientais nas gerações futuras.
A herança epigenética transgeracional é outro campo de estudo relevante, pois permite que marcas epigenéticas sejam transmitidas de uma geração para outra sem alterações na sequência de DNA. Essas marcas podem ser estabelecidas durante o desenvolvimento embrionário e persistir ao longo da vida. Rivas (2021) explica que esse processo é fundamental para a manutenção de padrões específicos de expressão gênica em diferentes tipos celulares e tem implicações profundas na biologia do desenvolvimento e na evolução.
Além disso, os mecanismos epigenéticos desempenham um papel crucial em processos adaptativos e de defesa. A reprogramação epigenética durante a formação de gametas e o desenvolvimento embrionário garante a restauração de um estado basal do epigenoma, permitindo que as células se diferenciem adequadamente. Contudo, falhas nesse processo podem levar a doenças como o câncer. Em hepatoblastomas, por exemplo, alterações epigenéticas são frequentemente observadas e incluem a hipermetilação de promotores de genes supressores de tumor e a ativação de oncogenes por modificações em histonas (Rivas, 2021).
A aplicação clínica dos conhecimentos sobre epigenética tem avançado significativamente. Terapias baseadas em epigenética, como inibidores de DNMTs e HDACs, estão sendo exploradas para tratar uma variedade de condições, incluindo câncer, doenças neurodegenerativas e distúrbios metabólicos. Essas intervenções oferecem a possibilidade de reverter marcas epigenéticas anormais, restabelecendo padrões saudáveis de expressão gênica. Silva et al. (2024) ressaltam que, embora promissoras, essas abordagens ainda enfrentam desafios relacionados à especificidade e à durabilidade dos efeitos terapêuticos.
GENES ASSOCIADOS À LONGEVIDADE E SUA REGULAÇÃO EPIGENÉTICA
O estudo da longevidade humana e os mecanismos que a influenciam tem avançado significativamente com a compreensão dos genes relacionados a esse processo e sua regulação epigenética. A longevidade não depende apenas de fatores genéticos fixos, mas também de interações dinâmicas entre o genoma e o ambiente. Alterações epigenéticas, como metilação do DNA, modificações em histonas e regulação por RNAs não codificantes, desempenham papéis centrais na modulação da expressão gênica, promovendo a adaptação ao envelhecimento e o aumento da longevidade em algumas populações humanas (Rivas, 2021; Coelho, 2022).
Entre os genes frequentemente associados à longevidade, destacam-se FOXO3, SIRT1 e KLOTHO, que participam de vias metabólicas e antioxidantes cruciais. O gene FOXO3 está diretamente relacionado à resistência ao estresse oxidativo e à regulação de vias associadas à apoptose celular. Estudos apontam que a metilação em regiões promotoras desse gene pode reduzir sua expressão, impactando negativamente a longevidade (Coelho, 2022). A regulação epigenética do gene FOXO3, em particular, tem sido amplamente estudada em indivíduos centenários, revelando padrões de metilação específicos que permitem maior resiliência celular em condições adversas.
Outro gene de relevância, SIRT1, codifica uma sirtuína com função de desacetilase, sendo crucial para a reparação do DNA e a regulação da inflamação. A ativação de SIRT1, modulada por modificações em histonas e alterações epigenéticas, tem mostrado prolongar a longevidade em modelos experimentais (Oliveira, 2024). A dieta e o exercício físico são fatores externos que influenciam diretamente a regulação epigenética de SIRT1, promovendo sua expressão e contribuindo para um metabolismo celular mais eficiente e maior proteção contra o envelhecimento.
Além desses, o gene KLOTHO, conhecido como “gene da longevidade,” regula o metabolismo do cálcio e do fósforo, além de atuar na proteção contra o estresse oxidativo. Evidências mostram que a hipermetilação de seu promotor está associada a doenças relacionadas à idade, como osteoporose e aterosclerose (Maia; Silva, 2020). Intervenções epigenéticas que reduzem a metilação nessa região têm sido sugeridas como potenciais terapias antienvelhecimento.
A interação entre genes relacionados à longevidade e fatores ambientais é mediada pela plasticidade epigenética, que permite adaptações dinâmicas às condições externas. Dieta, atividade física e exposição a agentes tóxicos são exemplos de fatores que modulam a expressão desses genes. Coelho (2022) destaca que padrões alimentares ricos em polifenóis, presentes em frutas e vegetais, podem atuar na ativação de genes de longevidade por meio da regulação epigenética, melhorando a saúde metabólica e reduzindo o risco de doenças crônicas.
Outro aspecto relevante é a herança epigenética, que possibilita a transmissão de marcas epigenéticas associadas à longevidade entre gerações. Estudos indicam que mudanças epigenéticas em genes-chave, como FOXO3 e SIRT1, adquiridas ao longo da vida podem ser parcialmente transmitidas aos descendentes, conferindo vantagens adaptativas (Rivas, 2021). Contudo, a reversibilidade das marcas epigenéticas também abre portas para intervenções terapêuticas, visando otimizar os padrões de expressão gênica em prol de uma vida mais longa e saudável.
A regulação epigenética também desempenha papel na mitigação de processos inflamatórios e no controle do estresse oxidativo, ambos fatores determinantes no envelhecimento celular. A metilação do DNA em genes inflamatórios, como o TNF-α, tem sido correlacionada a menores níveis de inflamação crônica, fator que contribui para a longevidade em populações específicas (Oliveira, 2024). De forma semelhante, modificações em histonas em regiões promotoras de genes antioxidantes potencializam as defesas celulares contra espécies reativas de oxigênio (ROS), retardando o processo de senescência celular.
O papel dos RNAs não codificantes na regulação de genes associados à longevidade é um campo emergente de pesquisa. MicroRNAs específicos podem modular a expressão de genes envolvidos na via mTOR e no metabolismo energético, promovendo a homeostase celular (Maia; Silva, 2020). Esses mecanismos mostram-se promissores tanto para a compreensão do envelhecimento quanto para o desenvolvimento de novas estratégias de intervenção.
Por fim, as perspectivas terapêuticas baseadas na epigenética apontam para a possibilidade de reverter ou atenuar marcas epigenéticas adversas, promovendo padrões de expressão gênica associados a uma vida mais longa. Intervenções como inibidores de DNMTs e ativadores de histona acetiltransferases (HATs) já estão em estudo para doenças relacionadas ao envelhecimento (Rivas, 2021). O avanço nessas áreas promete não apenas compreender melhor os mecanismos subjacentes à longevidade, mas também oferecer soluções práticas para uma saúde mais duradoura.
METODOLOGIA
A presente pesquisa foi desenvolvida com base em uma revisão bibliográfica, utilizando artigos científicos publicados em fontes reconhecidas e confiáveis. A seleção dos estudos foi realizada por meio de buscas em bases de dados acadêmicas, como PubMed, Scopus e Google Scholar, empregando critérios específicos de busca com palavras-chave previamente definidas, como “metilação do DNA,” “modificações em histonas,” “microRNAs” e “regulação epigenética.”
Foram incluídos apenas artigos publicados nos últimos dez anos, disponíveis nos idiomas português e inglês, que apresentassem metodologia clara e dados relevantes. A escolha dos estudos levou em consideração aqueles que utilizavam técnicas avançadas para análise de modificações epigenéticas, como sequenciamento de DNA e RNA, bem como análises de modificações em histonas.
Os critérios de exclusão envolveram a remoção de artigos que não apresentavam relação direta com os mecanismos epigenéticos ou que careciam de dados quantitativos claros. Também foram excluídos estudos que não detalhassem a metodologia empregada, garantindo a consistência e a qualidade das fontes selecionadas.
O processo de análise dos dados consistiu na leitura detalhada e sistematização das informações extraídas, organizando os achados em categorias de acordo com os tipos de mecanismos epigenéticos abordados nos estudos. Foi realizada uma comparação entre os resultados apresentados nos diferentes artigos, com o objetivo de identificar padrões e divergências nos dados obtidos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados da análise bibliográfica indicam que os genes associados à longevidade, como FOXO3, SIRT1 e KLOTHO, são regulados por mecanismos epigenéticos que envolvem metilação do DNA, modificações em histonas e RNAs não codificantes. Esses mecanismos atuam de forma integrada para influenciar processos biológicos fundamentais, como a resistência ao estresse oxidativo, a regulação da inflamação e a reparação de danos ao DNA.
De acordo com Rivas (2021), a metilação do DNA em regiões promotoras do gene FOXO3 pode reduzir sua expressão, impactando negativamente a capacidade celular de resistir ao estresse e de promover a apoptose controlada. Por outro lado, estudos mostram que padrões de hipometilação em indivíduos centenários estão relacionados a uma maior expressão desse gene, o que pode explicar sua associação à longevidade em populações específicas.
A pesquisa também destacou o papel do gene SIRT1, que codifica uma desacetilase com funções cruciais na reparação do DNA e na regulação metabólica. Oliveira (2024) demonstrou que a regulação epigenética desse gene é sensível a fatores externos, como dieta e exercício físico. Modificações em histonas, como a acetilação em regiões promotoras, aumentam a expressão de SIRT1, favorecendo processos antioxidantes e anti-inflamatórios, essenciais para a manutenção da homeostase celular durante o envelhecimento.
Outro gene relevante, KLOTHO, conhecido por sua atuação na proteção contra o estresse oxidativo, mostrou-se altamente influenciado por alterações epigenéticas. Maia e Silva (2020) observaram que a hipermetilação do promotor de KLOTHO está associada a doenças relacionadas ao envelhecimento, como aterosclerose e doenças neurodegenerativas. Esses resultados reforçam a importância de intervenções epigenéticas, como a utilização de compostos bioativos, para reverter padrões de metilação adversos.
Coelho (2022) evidenciou a influência de RNAs não codificantes, como microRNAs, na modulação de vias metabólicas associadas à longevidade. MicroRNAs específicos foram identificados como reguladores negativos de genes antioxidantes, enquanto outros promovem a expressão de genes que aumentam a capacidade de adaptação celular. Essa regulação pós-transcricional complementa os efeitos da metilação e das modificações em histonas, destacando a complexidade do controle epigenético na longevidade.
Os resultados também apontaram para a importância de fatores externos, como dieta e atividade física, na modulação epigenética desses genes. Coelho (2022) e Oliveira (2024) ressaltaram que uma dieta rica em compostos antioxidantes, como polifenois, está associada à ativação de genes como FOXO3 e SIRT1, enquanto padrões alimentares pobres em nutrientes essenciais podem induzir alterações epigenéticas deletérias. Da mesma forma, a prática regular de exercícios físicos mostrou aumentar a expressão de genes de longevidade por meio de alterações em marcas epigenéticas favoráveis, como a aceitação de histonas.
Deste modo, os achados corroboram a hipótese de que a regulação epigenética dos genes associados à longevidade é altamente dinâmica e influenciada por fatores ambientais e comportamentais. Essas evidências reforçam o potencial de intervenções baseadas em epigenética para promover um envelhecimento saudável e prevenir doenças relacionadas à idade.
Os avanços no campo da epigenética têm proporcionado uma nova perspectiva sobre o envelhecimento e a longevidade, evidenciando que fatores ambientais, como dieta, atividade física e exposição a agentes externos, desempenham papeis cruciais na modulação da expressão gênica. De acordo com Maia e Silva (2020), os mecanismos epigenéticos, incluindo a metilação do DNA, as modificações em histonas e os RNAs não codificantes, são capazes de alterar a funcionalidade celular, influenciando diretamente o tempo de vida saudável dos indivíduos. Esses mecanismos oferecem uma explicação para as variações no envelhecimento entre indivíduos submetidos a diferentes condições ambientais.
A metilação do DNA tem sido amplamente estudada como um dos mecanismos epigenéticos mais relevantes no controle da expressão gênica. Toureiro et al. (2017) enfatizam que esse processo é particularmente sensível a alterações na dieta e no estilo de vida. Por exemplo, uma alimentação rica em nutrientes metilantes, como folato e colina, contribui para padrões de metilação equilibrados, enquanto dietas pobres em nutrientes podem levar a hipermetilação ou hipometilação em regiões promotoras críticas, impactando negativamente a expressão de genes relacionados à longevidade.
Os RNAs não codificantes, como os microRNAs, desempenham papeis regulatórios importantes no contexto do envelhecimento. Medeiros e Ferreira (2018) destacam que esses RNAs atuam no controle pós-transcricional de genes envolvidos na resposta ao estresse oxidativo e no metabolismo energético. A disfunção na expressão desses microRNAs, muitas vezes desencadeada por alterações ambientais, pode contribuir para o desenvolvimento de doenças crônicas, como diabetes e doenças cardiovasculares, comuns em populações envelhecidas.
O impacto da inflamação no envelhecimento é outro aspecto relevante analisado por Fernandes (2019). O conceito de “inflammaging,” ou inflamação crônica de baixo grau associada ao envelhecimento, é amplamente estudado em relação aos mecanismos epigenéticos. A pesquisa indica que mediadores inflamatórios, como a interleucina-6 (IL-6), têm sua expressão regulada por alterações epigenéticas. A acetilação e a metilação em regiões específicas do genoma podem promover ou suprimir a produção de citocinas inflamatórias, determinando a gravidade do processo inflamatório durante o envelhecimento.
Gouveia (2017) apresenta evidências de que a prática regular de atividade física tem efeitos benéficos na regulação epigenética, especialmente na manutenção de padrões favoráveis de metilação do DNA e na modulação de marcas em histonas. Esses efeitos contribuem para a redução da inflamação crônica e para o aumento da expressão de genes envolvidos na reparação do DNA, na homeostase celular e na longevidade. A atividade física, portanto, surge como uma intervenção eficaz para mitigar os efeitos deletérios do envelhecimento.
No campo da epigenética nutricional, Bozelo et al. (2023) demonstram que compostos bioativos presentes em alimentos, como polifenois e ácidos graxos ômega-3, modulam positivamente os mecanismos epigenéticos, promovendo a expressão de genes antioxidantes e anti-inflamatórios. Essa interação destaca o papel da dieta na prevenção de doenças relacionadas ao envelhecimento e no aumento da qualidade de vida em idades avançadas.
Outro aspecto abordado na literatura é a relação entre alterações epigenéticas e a regeneração celular. Rivas (2021) investiga como a hipermetilação de regiões promotoras pode silenciar genes essenciais para a reparação do DNA e a proliferação celular. Essas alterações, frequentemente associadas ao envelhecimento, aumentam a susceptibilidade a doenças degenerativas, como o câncer. No entanto, intervenções terapêuticas baseadas em epigenética, como inibidores de DNMTs, têm demonstrado potencial para restaurar a expressão gênica e melhorar a funcionalidade celular.
Meda (2019) explora o envelhecimento cutâneo como uma manifestação visível do impacto de alterações epigenéticas. A exposição a agentes externos, como radiação UV e poluição, acelera o processo de envelhecimento da pele ao modificar marcas epigenéticas associadas à degradação da matriz extracelular. Essas descobertas ressaltam a importância de medidas preventivas, como o uso de protetores solares, para reduzir os efeitos do envelhecimento ambiental na epiderme.
Os estudos também indicam a relevância da herança epigenética transgeracional. Medeiros e Ferreira (2018) sugerem que alterações epigenéticas adquiridas ao longo da vida, como as desencadeadas por dietas inadequadas ou sedentarismo, podem ser parcialmente transmitidas às gerações seguintes. Essa transmissão reforça a necessidade de intervenções precoces e sustentáveis para otimizar os padrões epigenéticos e promover a saúde ao longo das gerações.
Os dados analisados apontam para a complexidade e a interconexão dos mecanismos epigenéticos no envelhecimento. A compreensão dessas dinâmicas não apenas amplia o conhecimento científico, mas também oferece bases para o desenvolvimento de estratégias personalizadas para a promoção da longevidade saudável, abordando os fatores de risco modificáveis de maneira eficaz e sustentável.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo evidenciou que os mecanismos epigenéticos desempenham um papel crucial na regulação da expressão gênica e na promoção da longevidade saudável. Alterações como a metilação do DNA, modificações em histonas e a ação dos RNAs não codificantes são moduladas por fatores ambientais, como dieta, atividade física e exposição a agentes externos, oferecendo novas perspectivas para a compreensão e o manejo do envelhecimento.
A literatura revisada destacou que intervenções direcionadas, como a adoção de hábitos alimentares ricos em compostos bioativos, a prática regular de exercícios físicos e o controle de fatores inflamatórios, podem reverter ou atenuar padrões epigenéticos deletérios. Essas intervenções não apenas contribuem para a prevenção de doenças relacionadas à idade, como também promovem o envelhecimento saudável e funcional.
Adicionalmente, as descobertas sobre a herança epigenética transgeracional reforçam a importância de medidas preventivas e sustentáveis que impactem positivamente as gerações futuras. O avanço em terapias epigenéticas, incluindo inibidores de DNMTs e moduladores de histonas, apresenta um horizonte promissor para a medicina personalizada, possibilitando abordagens específicas para melhorar a qualidade de vida e prolongar a longevidade.
Assim, a epigenética emerge como uma ferramenta essencial para compreender a complexidade do envelhecimento e desenvolver estratégias inovadoras que integram ciência, saúde pública e bem-estar, contribuindo para uma sociedade mais saudável e longeva.
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