A importância da leitura e escrita na educação infantil – relato de experiência

THE IMPORTANCE OF READING AND WRITING IN EARLY CHILDHOOD EDUCATION

LA IMPORTANCIA DEL DERECHO LECTURA Y ESCRITURA EN EDUCACIÓN INFANTIL

Autor

Fernanda Silva Lima
ORIENTADOR
 Vagda Gutemberg Gonçalves Rocha

URL do Artigo

https://iiscientific.com/artigos/7520E5

DOI

Lima, Fernanda Silva . A importância da leitura e escrita na educação infantil – relato de experiência. International Integralize Scientific. v 5, n 46, Abril/2025 ISSN/3085-654X

Resumo

O presente trabalho tem como objetivo apresentar e refletir sobre a implementação de práticas de leitura e escrita na Educação Infantil, realizadas na Escola Aurora, com turmas compostas por crianças de 0 a 6 anos. A proposta partiu da concepção de que a leitura e a escrita, na infância, devem ser compreendidas como práticas sociais que extrapolam o ensino mecânico do código alfabético. Fundamentado em autores como Vygotsky, Ferreiro, Piaget, Soares e Malaguzzi, o projeto foi estruturado de forma a considerar a criança como sujeito ativo no processo de construção do conhecimento, valorizando sua escuta, sua expressão, sua criatividade e seu tempo de aprender. A metodologia adotada foi qualitativa, com base na observação participante e na escuta atenta das crianças. Foram planejadas e executadas atividades integradas ao cotidiano escolar, com foco em experiências lúdicas e significativas que envolvessem a oralidade, a leitura e a escrita de maneira contextualizada. Dentre as ações desenvolvidas, destacam-se: rodas de leitura com reconto, dramatizações de histórias, escrita espontânea de nomes e listas, jogos sonoros com rimas e aliterações, projetos como o “Leitor Mirim” e a criação de cantinhos permanentes de leitura e escrita nas salas. Todas as ações foram pautadas pela ludicidade, pela interação e pelo respeito às fases do desenvolvimento infantil. Os resultados observados ao longo do processo foram expressivos: notou-se um aumento no vocabulário oral das crianças, maior interesse e envolvimento com livros e histórias, avanços nas hipóteses de escrita e maior autonomia no uso dos materiais pedagógicos. Além disso, o projeto promoveu o fortalecimento do vínculo afetivo entre professor e aluno, além de intensificar a participação das famílias no processo de alfabetização. As práticas adotadas contribuíram para tornar o ambiente escolar mais acolhedor, estimulante e propício à formação de leitores e escritores desde a infância. Do ponto de vista da prática docente, a experiência proporcionou uma ressignificação do planejamento pedagógico, da organização do espaço educativo e da avaliação, que passou a considerar os registros qualitativos como indicadores fundamentais do desenvolvimento das crianças. Reforçou-se a importância da formação continuada, da troca entre colegas e da construção de um olhar mais sensível sobre os processos de letramento na infância. O trabalho com leitura e escrita na Educação Infantil, quando realizado com intencionalidade pedagógica, sensibilidade e compromisso com o encantamento da infância, potencializa a aprendizagem e o desenvolvimento integral das crianças. Mais do que antecipar a alfabetização formal, trata-se de construir experiências que despertem o prazer pela linguagem, favoreçam a imaginação e desenvolvam competências fundamentais para a formação de sujeitos críticos, criativos e protagonistas do próprio processo de aprender.
Palavras-chave
Leitura. Escrita. Educação Infantil. Alfabetização.

Summary

This paper aims to present and reflect on the implementation of reading and writing practices in Early Childhood Education, carried out at Escola Aurora, with classes composed of children aged 0 to 6 years. The proposal was based on the concept that reading and writing, in childhood, should be understood as social practices that go beyond the mechanical teaching of the alphabetic code. Based on authors such as Vygotsky, Ferreiro, Piaget, Soares and Malaguzzi, the project was structured in such a way as to consider the child as an active subject in the process of knowledge construction, valuing their listening, expression, creativity and time to learn. The methodology adopted was qualitative, based on participant observation and attentive listening to the children. Activities integrated into the school routine were planned and executed, focusing on playful and meaningful experiences that involved speaking, reading and writing in a contextualized manner. The following stand out among the actions developed: reading circles with retelling, dramatizations of stories, spontaneous writing of names and lists, sound games with rhymes and alliterations, projects such as “Leitor Mirim” and the creation of permanent reading and writing corners in the classrooms. All actions were guided by playfulness, interaction and respect for the stages of child development. The results observed throughout the process were significant: there was an increase in the children’s oral vocabulary, greater interest and involvement with books and stories, advances in writing hypotheses and greater autonomy in the use of teaching materials. In addition, the project promoted the strengthening of the emotional bond between teacher and student, in addition to intensifying the participation of families in the literacy process. The practices adopted contributed to making the school environment more welcoming, stimulating and conducive to the development of readers and writers from childhood. From the perspective of teaching practice, the experience provided a new meaning for pedagogical planning, the organization of the educational space and assessment, which began to consider qualitative records as fundamental indicators of children’s development. The importance of ongoing training, exchanges between colleagues and the construction of a more sensitive view of literacy processes in childhood was reinforced. The work with reading and writing in Early Childhood Education, when carried out with pedagogical intentionality, sensitivity and commitment to the enchantment of childhood, enhances children’s learning and integral development. More than anticipating formal literacy, it is about building experiences that awaken the pleasure of language, foster imagination and develop fundamental skills for the formation of critical, creative subjects and protagonists of their own learning process.
Keywords
Reading. Writing. Early Childhood Education. Literacy.

Resumen

Este trabajo tiene como objetivo presentar y reflexionar sobre la implementación de prácticas de lectura y escritura en Educación Infantil, realizada en la Escuela Aurora, con clases compuestas por niños de 0 a 6 años. La propuesta se basó en la idea de que la lectura y la escritura, en la infancia, deben entenderse como prácticas sociales que van más allá de la enseñanza mecánica del código alfabético. Basado en autores como Vygotsky, Ferreiro, Piaget, Soares y Malaguzzi, el proyecto fue estructurado de forma a considerar al niño como un sujeto activo en el proceso de construcción de conocimiento, valorando su escucha, su expresión, su creatividad y su tiempo para aprender. La metodología adoptada fue cualitativa, basada en la observación participante y la escucha atenta a los niños. Se planificaron y ejecutaron actividades integradas a la vida escolar diaria, centrándose en experiencias lúdicas y significativas que involucraron hablar, leer y escribir de manera contextualizada. Entre las acciones desarrolladas se destacan: círculos de lectura con relatos, dramatizaciones de cuentos, escritura espontánea de nombres y listas, juegos sonoros con rimas y aliteraciones, proyectos como “Leitor Mirim” y la creación de rincones permanentes de lectura y escritura en las aulas. Todas las acciones estuvieron guiadas por el juego, la interacción y el respeto a las etapas del desarrollo infantil. Los resultados observados a lo largo del proceso fueron significativos: hubo un aumento del vocabulario oral de los niños, mayor interés e implicación con los libros y cuentos, avances en la redacción de hipótesis y mayor autonomía en el uso de materiales pedagógicos. Además, el proyecto promovió el fortalecimiento del vínculo emocional entre docente y alumno, además de intensificar la participación de las familias en el proceso de alfabetización. Las prácticas adoptadas contribuyeron a hacer del ambiente escolar un espacio más acogedor, estimulante y propicio para el desarrollo de lectores y escritores desde la infancia. Desde el punto de vista de la práctica docente, la experiencia proporcionó una redefinición de la planificación pedagógica, la organización del espacio educativo y la evaluación, que pasó a considerar los registros cualitativos como indicadores fundamentales del desarrollo infantil. Se reforzó la importancia de la formación permanente, el intercambio entre colegas y la construcción de una mirada más sensible a los procesos de alfabetización en la infancia. El trabajo con la lectura y la escritura en Educación Infantil, cuando se realiza con intencionalidad pedagógica, sensibilidad y compromiso con el encanto de la infancia, potencia el aprendizaje y el desarrollo integral de los niños. Más que anticipar la alfabetización formal, se trata de construir experiencias que despierten el placer del lenguaje, favorezcan la imaginación y desarrollen habilidades fundamentales para la formación de sujetos críticos, creativos y protagonistas del propio proceso de aprendizaje.
Palavras-clave
Lectura. Escribiendo. Educación Infantil. Alfabetismo.

INTRODUÇÃO

A leitura e a escrita, na contemporaneidade, são compreendidas como práticas sociais fundamentais para a inserção do sujeito no mundo letrado. Desde a mais tenra infância, a criança estabelece relações com a linguagem por meio de suas experiências cotidianas, interações sociais e vivências no ambiente familiar e escolar. Na Educação Infantil, essa relação não deve ser reduzida ao ensino mecânico do código escrito, mas sim tratada como um processo amplo de construção de significados, onde ler e escrever se apresentam como formas de expressão, comunicação e entendimento do mundo.

Ao contrário da visão tradicional de alfabetização que associa a aprendizagem da leitura e escrita a um processo linear e exclusivamente cognitivo, a abordagem contemporânea entende que as crianças, mesmo antes de dominar o sistema alfabético, já participam de práticas de letramento. Segundo Emilia Ferreiro (2001), a criança é um sujeito ativo na construção do conhecimento escrito, elaborando hipóteses sobre a linguagem a partir de suas experiências e interações. Assim, o papel do professor é o de mediador que oferece um ambiente rico em linguagem, possibilitando a reflexão e o contato constante com diversos gêneros textuais.

Nesse contexto, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) reforça o direito de toda criança à linguagem oral e escrita, destacando que a Educação Infantil deve garantir situações nas quais as crianças possam escutar, falar, ler, observar e expressar-se de diferentes formas. A leitura de histórias, as conversas mediadas, os jogos verbais, os registros gráficos e as brincadeiras simbólicas são estratégias fundamentais para o desenvolvimento da linguagem, do pensamento e da criatividade.

A Escola Aurora, onde foi realizada a presente experiência, tem se mostrado sensível à importância de práticas pedagógicas que valorizam o protagonismo infantil. Inserida em um contexto comunitário e multicultural, a escola investe em projetos que favorecem o desenvolvimento integral das crianças. Nesse ambiente, a leitura e a escrita foram trabalhadas de forma integrada ao cotidiano das turmas de Educação Infantil, com crianças de 0 a 6 anos, considerando seus interesses, curiosidades e níveis de desenvolvimento.

Este relato de experiência tem como objetivo apresentar as práticas pedagógicas implementadas na Escola Aurora com foco na leitura e escrita na Educação Infantil. A proposta foi construída com base em referenciais teóricos que valorizam a ludicidade, o afeto e a linguagem como instrumentos essenciais para o desenvolvimento infantil. Por meio de atividades planejadas, observações e registros, buscou-se estimular o prazer de ler e escrever, respeitando os tempos e as singularidades de cada criança.

Além disso, este trabalho visa refletir sobre os desafios e as possibilidades enfrentadas no contexto escolar, bem como evidenciar os resultados obtidos a partir do envolvimento das crianças, da equipe pedagógica e da comunidade escolar. A intenção é contribuir com outros profissionais da área da Educação Infantil, oferecendo subsídios teóricos e práticos que favoreçam a construção de propostas significativas de leitura e escrita desde os primeiros anos escolares.

OBJETIVOS DO PROJETO 

O desenvolvimento da leitura e da escrita na Educação Infantil demanda uma compreensão sensível e fundamentada sobre o processo de alfabetização na infância. Diferente da concepção tradicional, que compreende a alfabetização como mera decodificação de símbolos, o projeto desenvolvido na Escola Aurora parte da ideia de que a linguagem escrita deve ser apresentada como uma experiência viva, significativa e prazerosa. Nesse sentido, o principal objetivo do projeto foi despertar o interesse pela leitura e escrita de forma lúdica e contextualizada, respeitando o tempo e as particularidades de cada criança.

A proposta foi organizada em torno de objetivos gerais e específicos que norteassem as práticas pedagógicas e oferecessem às crianças um ambiente rico em experiências com a linguagem. Entre os objetivos gerais, destacam-se:

  • Estimular o desenvolvimento da linguagem oral e escrita por meio de atividades significativas e interativas;
  • Incentivar o contato frequente com diferentes tipos de textos e portadores textuais, como livros, revistas, rótulos, listas, bilhetes, entre outros;
  • Criar uma rotina pedagógica que valorize o protagonismo infantil nas práticas de leitura e escrita.

Os objetivos específicos buscavam promover ações concretas para atingir as metas do projeto, como:

  • Proporcionar momentos diários de leitura compartilhada, utilizando diferentes estratégias como contação de histórias, reconto e dramatizações;
  • Estimular a escrita espontânea, através do registro de nomes, listas de palavras, desenhos com legendas e criação de histórias;
  • Desenvolver a consciência fonológica por meio de brincadeiras com rimas, sons e aliterações;
  • Ampliar o vocabulário das crianças através de conversas mediadas, rodas de conversa e exploração de novas palavras em contextos reais;
  • Favorecer a escuta ativa e a capacidade de recontar narrativas, fortalecendo a compreensão leitora desde cedo;
  • Envolver as famílias nas práticas de leitura e escrita, promovendo empréstimos de livros, oficinas e atividades para casa.

A elaboração desses objetivos foi embasada em autores que defendem uma alfabetização significativa e contextualizada. Vygotsky (2007) destaca que o desenvolvimento da linguagem ocorre por meio da interação social, sendo o ambiente alfabetizador essencial para que a criança avance em suas zonas de desenvolvimento proximal. Piaget (1992), por sua vez, salienta a importância do jogo simbólico e da construção ativa do conhecimento, princípios também incorporados neste projeto por meio da ludicidade.

Na prática, os objetivos serviram como guias para o planejamento das atividades e para a observação dos avanços individuais de cada criança. Respeitar os diferentes ritmos e estilos de aprendizagem foi um dos compromissos assumidos ao longo do projeto, o que tornou o processo mais democrático e afetivo. Acredita-se que, ao possibilitar o acesso à leitura e escrita de forma prazerosa e respeitosa, a escola cumpre com um de seus principais papéis: formar sujeitos leitores, críticos e participativos desde os primeiros anos de vida escolar.

O projeto reafirma a importância de se planejar intencionalmente ações pedagógicas que promovam a linguagem escrita como algo vivo e necessário, e não como uma obrigação escolar desvinculada do cotidiano da criança. Assim, os objetivos traçados não apenas nortearam a experiência vivida na Escola Aurora, mas também apontam caminhos possíveis para que outras instituições repliquem e aprimorem tais práticas em favor da alfabetização na Educação Infantil.

METODOLOGIA UTILIZADA 

A experiência relatada foi realizada na Escola Aurora, uma instituição que atende crianças de 0 a 6 anos na Educação Infantil, localizada em um bairro com características urbanas e de forte vínculo comunitário. A escola possui um ambiente acolhedor, com salas adaptadas para a faixa etária atendida, brinquedoteca, biblioteca, pátio e espaços destinados à leitura e à criação artística. Tais ambientes foram fundamentais para o desenvolvimento de atividades que estimulassem o contato das crianças com a linguagem escrita e oral de maneira lúdica e significativa.

A metodologia adotada teve como base a pesquisa qualitativa com caráter exploratório, pautada na observação participante e na escuta sensível das crianças durante as atividades. O planejamento das ações foi construído a partir dos interesses do grupo, priorizando o protagonismo infantil e a valorização da cultura da infância. Foram consideradas as especificidades de cada faixa etária e respeitados os diferentes ritmos de aprendizagem, conforme orientações da Base Nacional Comum Curricular (BNCC).

As práticas desenvolvidas foram fundamentadas nas teorias de autores como Vygotsky, que defende a importância das interações sociais e da linguagem como instrumentos de mediação no processo de aprendizagem, e Emilia Ferreiro, que afirma que a criança constrói hipóteses sobre a linguagem escrita antes mesmo de ser formalmente alfabetizada. A metodologia também incorporou princípios da pedagogia da escuta, conforme defendido por Loris Malaguzzi, valorizando a escuta ativa e a participação das crianças nas decisões do cotidiano pedagógico.

As etapas metodológicas envolveram:

  • Diagnóstico inicial: observação das crianças em suas interações com livros, materiais gráficos e situações de leitura e escrita. Foram analisadas suas hipóteses sobre a linguagem, o interesse por histórias, o vocabulário utilizado e sua produção gráfica espontânea.
  • Planejamento das atividades: com base no diagnóstico, foram elaboradas sequências didáticas que integrassem leitura, escrita e oralidade em contextos lúdicos e reais. O planejamento era flexível, permitindo adaptações de acordo com a reação e envolvimento do grupo.
  • Execução das práticas: as atividades ocorreram dentro da rotina escolar, com momentos específicos dedicados à leitura de histórias, cantigas, dramatizações, jogos sonoros, rodas de conversa e produções escritas espontâneas. Também foi criado um “Cantinho da Leitura” permanente na sala, com livros acessíveis às crianças.
  • Registro e acompanhamento: foram utilizados portfólios individuais, diários de bordo da professora e registros fotográficos para acompanhar o desenvolvimento das crianças e as transformações ocorridas ao longo do projeto.
  • Avaliação contínua e formativa: os avanços das crianças foram analisados com base em critérios qualitativos, considerando suas hipóteses de escrita, a ampliação do vocabulário, a autonomia em relação aos materiais e o envolvimento nas atividades. A avaliação era processual e integrava a prática cotidiana, sem pressão por resultados imediatos.

Durante todo o processo, o ambiente escolar foi preparado para ser letrado, acolhedor e estimulante, com materiais variados, como livros de diferentes gêneros, cartazes, letras móveis, papel, lápis, tintas, revistas e objetos do cotidiano com escrita (rótulos, embalagens, calendários). Além disso, houve a participação da família, por meio de rodas de leitura, empréstimo de livros e oficinas de criação de histórias.

A metodologia adotada buscou garantir que as crianças se vissem como leitoras e produtoras de textos, ainda que não dominassem plenamente o sistema alfabético. Ao trabalhar a leitura e escrita de forma natural, contextualizada e divertida, as práticas pedagógicas da Escola Aurora reforçaram a ideia de que toda criança tem o direito de aprender com prazer e significado, desde os primeiros anos de vida escolar.

DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES DESENVOLVIDAS  

As atividades desenvolvidas na Escola Aurora foram cuidadosamente planejadas com o intuito de integrar a leitura e a escrita ao cotidiano das crianças de forma lúdica, envolvente e significativa. O objetivo principal era que as práticas de linguagem fossem vivenciadas pelas crianças como experiências prazerosas, despertando nelas o gosto por explorar, imaginar, criar e comunicar. Todas as ações respeitaram as fases de desenvolvimento infantil e consideraram os saberes prévios dos alunos.

A proposta pedagógica partiu da ideia de que a alfabetização na Educação Infantil não deve ser antecipada de forma mecânica, mas sim vivenciada como um processo de imersão em práticas sociais de linguagem. Dessa forma, a leitura e a escrita foram inseridas no cotidiano escolar por meio de projetos temáticos, sequências didáticas e atividades permanentes que promoviam o contato frequente com diferentes gêneros textuais e portadores de texto.

  1. Roda de Leitura: Um dos momentos mais aguardados pelas crianças era a roda de leitura, realizada diariamente, em que a professora selecionava livros de literatura infantil, muitas vezes sugeridos pelas próprias crianças. A leitura era feita com entonação, pausas e expressividade, criando um ambiente de encantamento. Após a leitura, abria-se espaço para que as crianças recontassem a história com suas palavras, expressassem sentimentos, relacionassem com suas vivências e até dramatizassem os personagens.
  2. Produção de Histórias Coletivas: Em algumas ocasiões, a professora iniciava uma narrativa e as crianças eram convidadas a continuar a história de forma coletiva. Essa atividade, além de promover a oralidade e a criatividade, incentivava a escuta e o respeito às ideias dos colegas. As histórias produzidas eram registradas em cartazes ou livros coletivos, com a escrita da professora acompanhada por ilustrações feitas pelas crianças.
  3. Escrita Espontânea: A escrita espontânea foi amplamente incentivada através de atividades que envolviam o nome próprio, listas (de brinquedos, frutas, animais), bilhetes para os colegas, convites e receitas. As crianças tinham acesso livre a materiais como papéis coloridos, lápis, canetas, carimbos e alfabeto móvel. O foco não estava na escrita correta, mas sim na expressão da intenção comunicativa da criança, valorizando suas hipóteses sobre o sistema de escrita.
  4. Jogos Sonoros e Atividades Fonológicas: Foram realizados jogos com rimas, aliterações, parlendas e trava-línguas, com o objetivo de desenvolver a consciência fonológica de maneira divertida. Essas atividades favoreceram a percepção dos sons das palavras, habilidade essencial para o processo de alfabetização.
  5. Projeto “Leitor Mirim”: Foi criado o projeto “Leitor Mirim”, onde a cada semana uma criança levava para casa uma mochila com livros, um caderno de registros e orientações para a família. A proposta era que a leitura fosse compartilhada em casa, promovendo o envolvimento familiar. Ao retornar para a escola, a criança relatava a experiência para os colegas e a professora registrava suas falas.
  6. Cantinho da Leitura e da Escrita: Na sala de aula foi montado um espaço fixo com tapete, almofadas, livros variados e materiais de escrita. Esse espaço era utilizado livremente pelas crianças durante os momentos de escolha, o que favoreceu a autonomia e o hábito da leitura de forma espontânea.
  7. Atividades com Gêneros Textuais Diversificados: Ao longo do projeto, as crianças tiveram contato com contos, poesias, rótulos, embalagens, receitas, cartazes, convites, músicas e adivinhas. Cada tipo de texto foi explorado com objetivos diferentes: desenvolver vocabulário, reconhecer funções sociais da escrita, promover a leitura funcional e ampliar o repertório cultural.

Todas essas atividades tinham como base o brincar, o imaginar e o experimentar. O papel da professora era o de mediadora, criando situações que favorecessem a interação entre as crianças e os textos, estimulando questionamentos, conversas e descobertas.

As práticas descritas contribuíram não apenas para o desenvolvimento da leitura e da escrita, mas também para fortalecer vínculos afetivos, promover a cooperação entre os alunos e ampliar o repertório linguístico e cultural das crianças, consolidando um ambiente educativo rico em linguagem, sentido e encantamento.

 RESULTADOS OBSERVADOS 

A implementação das atividades de leitura e escrita na Educação Infantil da Escola Aurora resultou em importantes avanços no desenvolvimento linguístico, cognitivo e socioemocional das crianças. Ao longo do processo, foi possível observar transformações significativas na forma como os alunos passaram a se relacionar com os textos, com os colegas e com os materiais pedagógicos. Os resultados não se limitaram ao reconhecimento de letras e palavras, mas se expressaram de maneira ampla no interesse, na participação e na autonomia demonstrada durante as atividades.

Um dos primeiros aspectos perceptíveis foi o aumento do vocabulário oral das crianças, que passaram a utilizar com mais frequência palavras novas, adquiridas por meio das histórias, músicas e conversas em sala. Durante as rodas de leitura, por exemplo, era comum ouvir as crianças recontando histórias com riqueza de detalhes ou fazendo conexões com suas vivências familiares. Essa oralidade mais estruturada foi fundamental para o processo de construção da linguagem escrita.

Além disso, houve um engajamento crescente nas atividades de escrita espontânea. Inicialmente, algumas crianças apresentavam resistência em usar lápis e papel, demonstrando insegurança ou desinteresse. Contudo, à medida que o projeto avançava e o ambiente se tornava mais estimulante, as produções gráficas passaram a surgir com mais frequência e espontaneidade. As crianças começaram a escrever seus nomes, tentar formar palavras, desenhar e inventar símbolos próprios, revelando hipóteses sobre a escrita compatíveis com o que defendem estudiosos como Ferreiro e Teberosky (1986).

Outro resultado relevante foi a autonomia no uso dos materiais. O “Cantinho da Leitura e da Escrita” tornou-se um dos espaços mais frequentados da sala, mesmo nos momentos livres. As crianças passaram a selecionar livros por conta própria, sentavam-se em duplas ou grupos para folheá-los, criavam suas próprias histórias e utilizavam recursos diversos, como carimbos e letras móveis, com criatividade e organização.

A socialização também se fortaleceu, pois muitas das atividades envolviam trocas entre os colegas: escrever bilhetes uns para os outros, ler em voz alta para a turma, criar histórias coletivas e participar de jogos linguísticos. Isso proporcionou um ambiente mais cooperativo e afetivo, no qual as crianças aprendiam juntas, compartilhando dúvidas e descobertas.

Em relação aos desafios enfrentados, foi necessário adaptar algumas propostas para atender às diferenças no ritmo de desenvolvimento entre as crianças. Algumas demonstravam avanços mais rápidos na produção escrita, enquanto outras necessitavam de maior tempo de exposição e incentivo. A escuta atenta da professora e o acompanhamento individualizado foram essenciais para garantir que todas se sentissem acolhidas e respeitadas em seu processo.

Também é importante destacar o envolvimento das famílias, que contribuíram positivamente ao participar do projeto “Leitor Mirim”. Muitos responsáveis relataram que passaram a incluir a leitura como parte da rotina em casa e observaram melhorias na linguagem e no interesse das crianças por livros.

Os resultados observados revelaram que a introdução da leitura e da escrita na Educação Infantil, quando realizada de forma planejada, lúdica e sensível, é capaz de transformar o ambiente escolar e ampliar significativamente o repertório linguístico e expressivo das crianças. Os efeitos positivos do projeto ultrapassaram os limites da sala de aula, alcançando a relação das crianças com o mundo ao seu redor e reforçando a importância da escola como espaço de encantamento, descoberta e formação de leitores desde os primeiros anos.

 CONTRIBUIÇÕES PARA A PRÁTICA DOCENTE 

A experiência desenvolvida na Escola Aurora com foco na leitura e escrita na Educação Infantil não apenas beneficiou o desenvolvimento das crianças, mas também proporcionou profundas reflexões e transformações na prática docente. O envolvimento direto com o planejamento, a execução e a observação das atividades contribuiu para que a professora ampliasse sua compreensão sobre os processos de ensino e aprendizagem da linguagem escrita, reconhecendo o valor do lúdico, da escuta ativa e da intencionalidade pedagógica.

Uma das principais contribuições desse trabalho foi a valorização do protagonismo infantil como eixo central do processo educativo. Ao observar atentamente as crianças, suas falas, gestos, produções e reações às propostas, a professora passou a construir planejamentos mais sensíveis, flexíveis e alinhados com os interesses e ritmos individuais. Isso possibilitou o fortalecimento do vínculo afetivo entre docente e aluno, elemento fundamental para a aprendizagem significativa.

Outro ponto importante foi a ressignificação do papel do professor como mediador do conhecimento. Longe de assumir uma postura transmissora de conteúdos, a docente se colocou como alguém que provoca, incentiva, escuta e acompanha o percurso de cada criança na construção do saber. Essa mudança de postura exige um olhar atento, capacidade de interpretar sinais e muita sensibilidade para perceber os pequenos avanços que fazem parte do processo de letramento.

A experiência também despertou a necessidade de repensar os instrumentos de avaliação. Ao invés de buscar resultados padronizados e imediatos, a prática docente passou a se apoiar em registros qualitativos: portfólios, fotos, vídeos, desenhos, escritas espontâneas e relatos das crianças. Esses registros se mostraram mais eficazes para acompanhar o progresso das crianças e para planejar novas intervenções pedagógicas.

Outro aspecto transformador foi o reconhecimento da importância de criar ambientes alfabetizadores intencionais, nos quais a leitura e a escrita estejam presentes de forma acessível e constante, integradas às brincadeiras e situações do cotidiano. A organização do espaço físico — como o Cantinho da Leitura e da Escrita —, o uso de materiais variados e a exposição de produções infantis nas paredes da sala revelaram-se estratégias fundamentais para valorizar a linguagem e promover o sentimento de pertencimento.

Além disso, a experiência reforçou a importância do trabalho coletivo na escola. A troca com outros educadores, a partilha de experiências bem-sucedidas e a construção de uma cultura de formação contínua entre os profissionais da instituição contribuíram para o fortalecimento de uma prática mais colaborativa e crítica. O projeto, por sua natureza integradora, envolveu professores, coordenadores, famílias e crianças, fortalecendo os vínculos e o sentido de comunidade escolar.

Outro impacto relevante foi o encorajamento da reflexão teórica constante. A professora buscou aprofundar-se em autores como Vygotsky, Ferreiro, Soares, Piaget e Malaguzzi, o que permitiu embasar suas práticas e compreender melhor as etapas do desenvolvimento infantil. Essa base teórica serviu como alicerce para tomar decisões pedagógicas mais conscientes e fundamentadas.

Em síntese, as contribuições para a prática docente foram múltiplas: amadurecimento profissional, maior sensibilidade para a escuta da infância, uso mais eficaz dos espaços e materiais, valorização do planejamento e da avaliação formativa, e sobretudo, a certeza de que ensinar leitura e escrita na Educação Infantil é um ato de encantamento, cuidado e compromisso com a formação de sujeitos críticos e criativos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A experiência vivenciada na Escola Aurora, com foco no desenvolvimento da leitura e da escrita na Educação Infantil, revelou-se rica, transformadora e profundamente significativa — tanto para as crianças quanto para a professora responsável pelo projeto. Ao longo de sua implementação, foi possível perceber que, quando se respeita o tempo da infância, quando se confia nas capacidades dos pequenos e quando se investe em práticas lúdicas e contextualizadas, o processo de alfabetização acontece de forma natural, prazerosa e eficaz.

Os avanços observados no desenvolvimento linguístico das crianças foram visíveis não apenas nas suas produções orais e gráficas, mas também no entusiasmo e na curiosidade com que passaram a se envolver com os livros, com os materiais de escrita e com as atividades de leitura. Crianças que antes demonstravam pouco interesse por textos ou tinham resistência ao uso de lápis e papel passaram a se apropriar das práticas letradas com autonomia, criatividade e alegria.

Além do progresso individual das crianças, o projeto também contribuiu para o fortalecimento do ambiente escolar como espaço de construção coletiva do conhecimento, onde professores, alunos e famílias se reconhecem como partes fundamentais no processo educativo.

O envolvimento das famílias nas atividades de leitura em casa e nas devolutivas feitas pelas crianças em sala demonstrou que o estímulo ao letramento não deve se restringir aos muros da escola, mas pode (e deve) ultrapassá-los, alcançando o cotidiano da criança em todos os seus espaços de convivência.

A prática docente também foi significativamente impactada. A experiência proporcionou reflexões sobre o papel do educador como mediador sensível e atento ao universo infantil, provocando mudanças no planejamento, na escuta, na avaliação e no uso do espaço pedagógico. A leitura e a escrita deixaram de ser conteúdos isolados e passaram a integrar todas as dimensões do trabalho com a infância — da oralidade ao movimento, do desenho ao brincar, do afeto à criação.

Outro aspecto fundamental revelado pelo projeto foi a importância da ludicidade como estratégia pedagógica. A brincadeira, a imaginação e a fantasia são linguagens naturais da criança e, por isso, foram os principais canais de aproximação com o mundo da leitura e da escrita. Livros tornaram-se brinquedos; palavras, motivos de riso; histórias, pontes para o pensamento e a emoção. Ao se alfabetizar brincando, a criança se reconhece como autora, leitora e produtora de sentido no mundo.

Conclui-se que projetos como esse, realizados desde a Educação Infantil, são essenciais para garantir o direito de toda criança ao acesso à cultura escrita, ao mesmo tempo em que respeitam as especificidades da infância. Ensinar a ler e escrever, nesse contexto, não é apenas apresentar letras, sílabas ou regras gramaticais, mas sim proporcionar experiências significativas com a linguagem, que despertem o encantamento, o pensamento crítico e a criatividade.

A experiência na Escola Aurora mostra que a leitura e a escrita, quando inseridas com intencionalidade pedagógica, sensibilidade e ludicidade, têm o poder de transformar a sala de aula em um lugar de descoberta, expressão e construção de sentidos. Mais do que preparar para o futuro, alfabetizar na Educação Infantil é permitir que a criança viva intensamente o presente — com palavras, com histórias e com imaginação.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FERREIRO, Emilia; Teberosky, Ana. Psicogênese da língua escrita. 23. ed. Porto Alegre: Artmed, 2001.

MALAGUZZI, Loris. As cem linguagens da criança: a abordagem de Reggio Emilia na educação da primeira infância. 3. ed. São Paulo: Ateliê Editorial, 2016.

NEVES, Maria Helena Menna Barreto. A construção da leitura e da escrita na Educação Infantil. 5. ed. São Paulo: Ática, 2006.

PIAGET, Jean. A psicologia da criança. São Paulo: Martins Fontes, 1992.

SOARES, Magda. Letramento e alfabetização: as muitas facetas. 15. ed. São Paulo: Cortez, 2003.

VYGOTSKY, Lev Semenovich. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. 7. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

 

Lima, Fernanda Silva . A importância da leitura e escrita na educação infantil – relato de experiência.International Integralize Scientific. v 5, n 46, Abril/2025 ISSN/3085-654X

Referencias

BAILEY, C. J.; LEE, J. H.
Management of chlamydial infections: A comprehensive review.
Clinical infectious diseases.
v. 67
n. 7
p. 1208-1216,
2021.
Disponível em: https://academic.oup.com/cid/article/67/7/1208/6141108.
Acesso em: 2024-09-03.

Share this :

Edição

v. 5
n. 46
A importância  da leitura e escrita na educação infantil – relato de experiência

Área do Conhecimento

As dificuldades de tradução do inglês para o português na área culinária
culinária; ingrediente; variações.
Os desafios da leitura na escola “reflexões”
leitura; desafios educacionais e socias; educação.
O ensino da língua inglesa aliado às inteligências múltiplas e ao uso de ferramentas multimídia
educação; inteligências múltiplas; ensino; ferramentas multimídia.
A teoria das inteligências múltiplas e o processo de ensino-aprendizagem da língua inglesa
educação; inteligências múltiplas; ensino.
A teoria das inteligências múltiplas
educação; inteligências múltiplas; ensino.
A influência dos pais na leitura infantil: Estratégias para o desenvolvimento do hábito de leitura
leitura infantil; mediação parental; desenvolvimento cognitivo.

Últimas Edições

Confira as últimas edições da International Integralize Scientific

maio

Vol.

5

47

Maio/2025
feature-abri-2025

Vol.

5

46

Abril/2025
MARCO

Vol.

5

45

Março/2025
FEVEREIRO (1)

Vol.

5

44

Fevereiro/2025
feature-43

Vol.

5

43

Janeiro/2025
DEZEMBRO

Vol.

4

42

Dezembro/2024
NOVEMBRO

Vol.

4

41

Novembro/2024
OUT-CAPA

Vol.

4

40

Outubro/2024

Fale com um com um consultor acadêmico!

O profissional mais capacitado a orientá-lo e sanar todas as suas dúvidas referentes ao processo de mestrado/doutorado.