Autor
Resumo
INTRODUÇÃO
A ética na robótica tem assumido papel imprescindível quando o assunto é respeito e cuidado. Certamente ela está em todas as instâncias da sociedade. Muitas pessoas já ouviram falar de ética, mas poucas pessoas agem com ética nas suas ações e escolhas. Por isso as ações individuais se refletem inclusive na robótica, pois é uma instância e um conhecimento que precisa ter cuidado e saber utilizar com ética também. Então é necessário conhecê-la e saber o que os autores científicos dizem sobre isto, para poder agirmos como sujeitos éticos na robótica. E evitar problemas sérios que podem surgir sem ela.
DESENVOLVIMENTO
O QUE É ÉTICA?
A origem da palavra ética vem do grego ethos, que quer dizer o modo de ser, o caráter. Os romanos traduziram o ethos grego, para o latim mos (ou no plural mores), que quer dizer costume, de onde vem a palavra moral (Universidade Federal do Rio Grande, 2024).
Assim a ética é um costume. E sabemos que costume se passa de pessoas para pessoas. É um modo de ser, diz muito respeito ao carácter.
Tanto ethos (caráter) como mos (costume) indicam um tipo de comportamento propriamente humano que não é natural, o homem não nasce com ele como se fosse um instinto, mas que é “adquirido ou conquistado por hábito” (Universidade Federal do Rio Grande, 2024 Apud Vázquez).
Portanto, ética e moral, pela própria etimologia, dizem respeito a uma realidade humana que é construída histórica e socialmente a partir das relações coletivas dos seres humanos nas sociedades onde nascem e vivem. Na ética o homem não nasce com ela, mas é conquistado com o tempo nas suas ações diárias.
Para o ser humano viver é conviver. É justamente na convivência, na vida social e comunitária, que o ser humano se descobre e se realiza enquanto um ser moral e ético. É na relação com o outro que surgem os problemas e as indagações morais: o que devo fazer? Como agir em determinada situação? Como comportar-me perante o outro? Diante da corrupção e das injustiças, o que fazer? (Universidade Federal do Rio Grande, 2024).
QUEM INVENTOU A ÉTICA
A ética na robótica tem sido fortemente influenciada pelas famosas Leis da Robótica de Isaac Asimov. Asimov, renomado autor de ficção científica, propôs essas leis como uma forma de estabelecer princípios éticos para os robôs em suas histórias. Embora as Leis de Asimov sejam fictícias, elas têm tido um impacto duradouro no campo da robótica e têm sido frequentemente discutidas em relação à ética robótica atual (Melo, 2023).
Quem trouxe a ética na robótica foi popularizado principalmente pelo escritor de ficção científica Isaac Asimov, assim com ele que possamos ter a sua ficção científica como princípio ético.
As Leis de Asimov são conceitos ideais, criados para as histórias de ficção científica de Asimov. Na prática, a implementação das leis em robôs reais é desafiadora devido à complexidade da ética e à necessidade de considerar contextos e nuances em situações do mundo real (Melo, 2023). “[…]A ética na robótica atual tende a ser mais flexível e contextual, reconhecendo a importância de considerar uma variedade de valores e princípios éticos em diferentes situações. […]” (Melo, 2023).
Mas será que os robôs são éticos? Segundo Melo, 2023:
[…]As Leis de Asimov atribuem a responsabilidade ética principalmente aos robôs, enquanto a ética na robótica atual reconhece a necessidade de uma abordagem mais abrangente, que envolva engenheiros, programadores, usuários e a sociedade como um todo Além disso, a tomada de decisões éticas é considerada um desafio em andamento, com o objetivo de desenvolver algoritmos e sistemas que possam lidar com dilemas morais de forma mais sofisticada.
Então, os robôs segundo a lei e supostamente deveriam seguir a lei e se tornarem cidadãos/tecnologia éticos. Assim, com a implementação de algoritmos nesses sistemas que estejam voltados a atuarem com princípios éticos. Cabe ao criador implementar com ética a ética na robótica. Com certeza seria um trabalho palpável de ser estabelecido. Mas precisamos entender que os valores éticos são diferentes de uma pessoa para outra. Cada pessoa tem sua ética. Assim, é o comportamento individual de uma pessoa com base em um código de ética ou de conduta que deve ter aplicabilidade geral enquadrando essas ações como certas ou erradas (Machado, 2022).
Machado, continua: “Ser ético é agir de acordo com “as regras” e com a moral. Nesse sentido, o que é moralmente correto é estabelecido de acordo com cada sociedade, pois o que é certo em algumas comunidades pode ser errado em outras […]”(Machado, 2022).
Assim como cada um tem sua ética, é possível compreendê-la em uma totalidade: Na sociedade, temo, assim:
O conceito de ética surgiu na Grécia Antiga durante o século V a.C., em um contexto de intensa reflexão a respeito das regras de convívio social. Os pensadores e filósofos gregos buscavam entender o funcionamento do regime de comportamento humano e foram criando “regras” que deveriam ser seguidas para uma vida em sociedade (Machado, 2022).
A ética é um campo de estudo filosófico que trata dos princípios morais que orientam o comportamento humano. Suas raízes remontam à Antiguidade, sendo inicialmente formulada por filósofos gregos como Sócrates, Platão e Aristóteles. Embora não se possa atribuir a invenção da ética a um único indivíduo, Aristóteles (384-322 a.C.) é amplamente reconhecido como um dos principais fundadores do pensamento ético ocidental. Em sua obra Ética a Nicômaco, Aristóteles explora a ideia de “virtude” como um caminho para alcançar a vida plena, enfatizando a importância do equilíbrio e da razão nas ações humanas (Aristóteles, 1999).
Ao longo dos séculos, o estudo da ética foi expandido por filósofos como Immanuel Kant, que desenvolveu a ética deontológica, baseada no dever e na moralidade universal, e John Stuart Mill, conhecido por sua defesa do utilitarismo, que avalia a moralidade com base nas consequências das ações (Kant, 2002; Mill, 2004). Esses pensamentos clássicos formam a base para a ética contemporânea, que agora é aplicada a novos desafios, como a robótica e a inteligência artificial.
Na robótica, a aplicação da ética é essencial para garantir que o desenvolvimento e o uso de robôs sejam moralmente aceitáveis e seguros. Com a evolução dos robôs autônomos e sistemas de IA, as questões éticas sobre como essas máquinas devem agir e como elas afetam a sociedade tornaram-se cada vez mais prementes. O desenvolvimento ético de robôs é influenciado por princípios que remontam à filosofia antiga, como o conceito aristotélico de “justiça” e o imperativo categórico kantiano, que exige que as ações sejam conduzidas de maneira que possam ser universalizadas como uma norma moral (Kant, 2002).
Na robótica, um dos principais desafios é garantir que os robôs tomem decisões moralmente aceitáveis, especialmente em situações complexas ou de risco. Por exemplo, as chamadas “leis da robótica”, popularizadas pelo escritor Isaac Asimov, tentam endereçar questões éticas, sugerindo que os robôs devem sempre proteger os seres humanos e obedecer às suas ordens, a menos que isso conflite com a segurança humana (Asimov, 1950). Contudo, na prática, implementar esses princípios éticos é uma tarefa desafiadora, pois a programação de robôs envolve decisões que afetam diretamente a vida das pessoas, como em casos de robôs assistentes na saúde e carros autônomos.
Além disso, a ética robótica precisa lidar com o impacto da automação no mercado de trabalho e no bem-estar social. De acordo com Brynjolfsson e McAfee (2014), a rápida substituição de trabalhadores humanos por robôs pode gerar desigualdades sociais e econômicas, levantando a necessidade de políticas éticas que protejam os direitos dos trabalhadores enquanto permitem o progresso tecnológico.
Portanto, a ética, que remonta a filósofos da Grécia Antiga, continua sendo um pilar essencial na discussão sobre o futuro da robótica. A forma como implementamos esses princípios no desenvolvimento de robôs e IA moldará o impacto dessas tecnologias na sociedade, garantindo que seu uso seja justo, seguro e benéfico para todos.
A IMPORTÂNCIA DA ÉTICA NA ROBÓTICA
Os robôs não possuem uma noção intrínseca de certo e errado, mas a ética da robótica busca fornecer diretrizes e princípios para orientar o desenvolvimento e uso ético dessas tecnologias, garantindo que elas sejam benéficas para a sociedade como um todo. Em sua essência, não possuem uma noção inerente de certo e errado como os seres humanos. Isso ocorre porque os robôs são criados e programados para executar tarefas específicas com base em algoritmos e regras predefinidas, sem possuírem uma consciência moral ou capacidade de discernimento ético. Os robôs são projetados para seguir com precisão as instruções programadas, executando suas funções de maneira eficiente e consistente. Eles são regidos por princípios lógicos e matemáticos, operando em um ambiente de tomada de decisões determinístico, no qual as ações são baseadas em condições específicas e resultados previsíveis (será?) (Melo, 2023).
Os robôs não tem noção do que é certo ou errado “intrinsecamente”, na verdade eles sabem do que é certo ou errado pelo o que os criadores consideram ou aprendem com as outras pessoas. E pelos algoritmos que são inculcados. Mas será que eles realmente aprendem a ser éticos? Ou melhor, será que ao agir, estarão agindo eticamente? Por isso a ética na programação e desenvolvimento de sistemas é importante serem estudados e testados.
A importância da ética na robótica, de uma forma geral, está em garantir que o desenvolvimento e o uso de robôs e inteligência artificial (IA) ocorram de maneira responsável e justa, protegendo os direitos humanos e o bem-estar social, evitando problemas futuros.
O DETERMINISMO NA ROBÓTICA
O determinismo na robótica, de um modo geral, refere-se à ideia de que o comportamento de um robô ou sistema automatizado é totalmente previsível e determinado pelas suas entradas (informações recebidas) e pelas regras (algoritmos ou programas) que ele segue.
Determinismo refere-se à capacidade de prever e controlar o comportamento de um robô com base em um conjunto de regras, algoritmos e entradas específicas. O determinismo na robótica implica que, dado um estado inicial e um conjunto de comandos, o comportamento do robô será sempre o mesmo, sem variações ou incertezas. Na prática, o determinismo na robótica é buscado através da programação e do design do sistema robótico, com o objetivo de garantir que as ações do robô sejam consistentes e previsíveis. Isso é especialmente relevante em aplicações onde é necessário um alto grau de precisão e confiabilidade, como na automação industrial ou em cirurgias assistidas por robôs (Melo, 2023).
APLICAÇÃO DA ÉTICA ROBÓTICA NO DIA A DIA
Imagem 1 – Robô aspirador
Fonte: Magazine Luiza (2025)
Segundo Guilherme Justino, 2017 apud Edson Prestes: Estamos próximos de viver em um presente em que humanos e robôs vão coexistir. Antes que a hora chegue, é preciso alinhar os valores que esperamos e evitar possíveis impactos negativos — disse Prestes, docente no Instituto de Informática da UFRGS.
Preocupações éticas e até afetivas sobre a robótica podem parecer distantes da realidade contemporânea, mas o professor da UFRGS exemplifica que já há soldados que, treinados em combate ao lado de máquinas inteligentes, se sentem próximos dos “amigos” de metal. E que foram dados passos significativos no desenvolvimento de robôs capazes de “ler” emoções humanas e reagir a elas — abrindo espaço para uma relação, de alguma forma, sentimental com essas máquinas. Quanto às preocupações de que um dia os robôs substituirão as tarefas humanas, Prestes se mostra otimista: há funções, sim, que deixarão de ser feitas por pessoas, mas essas se limitam a algumas atividades profissionais que envolvem trabalhos mecânicos. O pensamento, a decisão final em uma situação importante, se forem seguidos os protocolos atualmente em desenvolvimento, serão sempre feitos por humanos (Justino, 2017).
A aplicação da ética na robótica no dia a dia está se tornando cada vez mais importante à medida que robôs e sistemas de inteligência artificial se tornam parte integrante de diversas áreas da vida. No ambiente doméstico, assistentes robóticos, como aspiradores automáticos e dispositivos de cuidado para idosos ou pessoas com deficiência, levantam questões éticas sobre privacidade, respeito à autonomia dos usuários e segurança dos dados coletados. Na saúde, robôs assistentes cirúrgicos e sistemas de diagnóstico autônomos precisam ser projetados para tomar decisões éticas e seguras, garantindo que a vida e a dignidade dos pacientes sejam sempre priorizadas.
No setor de transportes, veículos autônomos representam um dos exemplos mais significativos da robótica moderna. Esses veículos precisam ser programados para tomar decisões em situações de risco que levem em consideração a segurança de todos, o que levanta dilemas éticos sobre quem deve ser priorizado em um possível acidente. Além disso, o uso de robôs na indústria e no comércio, como em fábricas automatizadas ou no atendimento ao cliente, traz desafios sobre o impacto no mercado de trabalho e na substituição de empregos humanos, exigindo uma reflexão ética sobre a responsabilidade social e econômica dessas inovações.
ÉTICA NA ROBÓTICA: DESAFIOS E IMPLICAÇÕES
Com o avanço acelerado da robótica e sua integração em setores críticos como saúde, segurança, indústria e serviços, surgem importantes questões éticas relacionadas à interação humano-robô e à autonomia das máquinas. A ética na robótica abrange temas como a responsabilidade moral das ações dos robôs, a privacidade, a segurança dos dados e o impacto no mercado de trabalho.
Um dos principais desafios éticos na robótica é a atribuição de responsabilidades. À medida que os robôs se tornam mais autônomos, surge a questão: quem deve ser responsabilizado por suas ações, especialmente em situações onde os robôs tomam decisões complexas? Floridi e Cowls (2020) destacam que, com a crescente autonomia, é difícil definir os limites da responsabilidade entre os desenvolvedores, fabricantes e os próprios robôs. Por exemplo, no caso de um acidente causado por um carro autônomo, a responsabilidade ética recai sobre o desenvolvedor do software, o fabricante do veículo ou o próprio sistema de IA? É interessante pensar sobre estas questões que implicam nosso modo de vida neste momento que estamos vivendo em 2024.
Outro ponto crítico são os algoritmos que controlam os robôs, especialmente aqueles utilizados em sistemas de vigilância, segurança ou mesmo no atendimento ao público. Se o algoritmo for treinado com dados enviesados, ele pode perpetuar discriminações ou tomar decisões prejudiciais, como acontece em sistemas de reconhecimento facial que demonstraram maior margem de erro ao identificar indivíduos de diferentes etnias (Zou & Schiebinger, 2018). Isso levanta preocupações sobre justiça e equidade no uso da robótica.
A privacidade é outro aspecto ético fundamental. Muitos robôs, especialmente em ambientes domésticos ou hospitalares, coletam grandes quantidades de dados sobre seus usuários. Esses dados podem incluir informações sensíveis sobre comportamento, saúde ou localização. Segundo Lin, Abney e Bekey (2017), a falta de regulamentações claras sobre o armazenamento e uso desses dados pode resultar em invasões de privacidade e abusos, exigindo um debate mais aprofundado sobre como garantir que as informações pessoais sejam protegidas.
Além disso, o impacto da robótica no mercado de trabalho levanta sérias preocupações éticas. A automação por robôs já está substituindo muitos empregos, especialmente em setores como manufatura e logística (Brynjolfsson & McAfee, 2014). Embora a robótica possa aumentar a eficiência e a produção, é essencial que políticas sejam implementadas para mitigar o impacto negativo sobre os trabalhadores e garantir que os benefícios sejam distribuídos de maneira justa.
Em síntese, a ética na robótica exige uma abordagem multidisciplinar e regulatória para garantir que as inovações tecnológicas sejam acompanhadas de medidas que protejam os direitos humanos, garantam a justiça e promovam a segurança em um mundo cada vez mais automatizado.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Sobre ética na robótica ressalto a importância de estabelecer diretrizes claras e universais para a criação, desenvolvimento e uso de robôs e sistemas autônomos. O avanço da robótica traz inúmeros benefícios para a sociedade, mas também impõe desafios éticos complexos que exigem respostas responsáveis. Questões como a segurança, privacidade, responsabilidade e impacto social precisam ser abordadas de maneira proativa por meio de políticas regulatórias, colaborações interdisciplinares e um compromisso contínuo com o bem-estar humano. Assim, uma estrutura ética robusta é essencial para garantir que as tecnologias robóticas promovam justiça, equidade e respeito pelos direitos fundamentais, ao mesmo tempo em que evitam potenciais danos e abusos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Tradução de M. J. Schneider. 2ª ed. São Paulo: Martin Claret, 1999.
ASIMOV, I. Eu, Robô. New York: Gnome Press, 1950.
BRYNJOLFSSON, E.; MCAFEE, A. The Second Machine Age: Work, Progress, and Prosperity in a Time of Brilliant Technologies. W.W. Norton & Company, 2014.
FLORIDI, L.; COWLS, J. Ethical Guidelines for AI: A Multidisciplinary Perspective. AI & Society, 2020.
JUSTINO, Guilherme. Ética na robótica: até onde pode ir o papel dos robôs na vida humana? 04 Out 2017. Disponível em : Ética na robótica: até onde pode ir o papel dos robôs na vida humana? | GZH (clicrbs.com.br). Acesso em: 18 de outubro de 2024.
KANT, I. Fundamentação da Metafísica dos Costumes. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
LIN, P.; ABNEY, K.; BEKEY, G. Robot Ethics: The Ethical and Social Implications of Robotics. MIT Press, 2017.
MACHADO, Simone. O que é ética? É diferente de moral? Quais tipos existem? Veja como aplicar, 14 Mar. 2022. Disponível em: Ética: o que é, como surgiu, exemplos e diferença para moral (uol.com.br). Acesso em: 18 de outubro de 2024.
MILL, J. S. Utilitarismo. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
MELO, Fábio. Robôs não têm noção de certo e errado, 17 Mai. 2023. Disponível em: Robôs não têm noção de certo e errado (linkedin.com). Acesso em: 18 de outubro de 2024.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE, Moral e Ética: O que é Ética. Disponível em: o que é ética – Comissão de Ética Pública da FURG. Acesso em: 18 de outubro de 2024.
ZOU, J.; SCHIEBINGER, L. AI can be sexist and racist — it’s time to make it fair. Nature, 559, p. 324-326, 2018.
Área do Conhecimento
Submeta seu artigo e amplie o impacto de suas pesquisas com visibilidade internacional e reconhecimento acadêmico garantidos.