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Resumo
INTRODUÇÃO
O avanço das tecnologias da informação e comunicação (TICs) tem promovido profundas transformações na forma como os serviços de saúde são ofertados e acessados. Dentro desse contexto, a telemedicina surge como uma estratégia inovadora, capaz de romper barreiras geográficas, otimizar recursos e garantir cuidados médicos mesmo em áreas remotas. Trata-se da prática da medicina mediada por ferramentas tecnológicas, que viabilizam consultas, diagnósticos, acompanhamento e até mesmo tratamentos à distância, com qualidade e segurança (Kur; Silva; Pinho, 2023).
A consolidação da telemedicina no Brasil ganhou maior visibilidade durante a pandemia de COVID-19, quando o distanciamento social impôs a necessidade urgente de reestruturar o atendimento em saúde. A crise sanitária escancarou as fragilidades do sistema público, especialmente em regiões afastadas dos grandes centros urbanos, como a Região Norte do país. Foi nesse cenário que a telemedicina se mostrou uma alternativa viável e eficaz para garantir a continuidade dos cuidados médicos e evitar o colapso dos serviços presenciais (Castro et al., 2020).
Apesar de sua crescente implementação, a telemedicina ainda enfrenta desafios éticos, estruturais e legais. As diferenças regionais no acesso à internet, a necessidade de regulamentação clara e a resistência de parte dos profissionais de saúde são obstáculos importantes. Além disso, o uso dessa tecnologia suscita questionamentos sobre a confidencialidade dos dados, a qualidade do atendimento remoto e a equidade no acesso à saúde. Em estados como Rondônia, onde grande parte da população vive em áreas rurais ou de difícil acesso, a telemedicina representa não apenas uma ferramenta de suporte, mas uma solução concreta para alcançar comunidades historicamente desassistidas (Kur; Silva; Pinho, 2023; Governo de Rondônia, 2022).
Diante desse panorama, esta pesquisa busca compreender como a telemedicina tem sido aplicada no Brasil e, em especial, na Região Norte e no estado de Rondônia, analisando seus fundamentos legais, seus impactos práticos e os desafios enfrentados para sua consolidação. A relevância do estudo reside na necessidade de promover uma reflexão crítica sobre o papel da tecnologia na saúde pública e de contribuir para o fortalecimento de políticas que ampliem o acesso e a qualidade da atenção médica em contextos de vulnerabilidade geográfica e social.
O presente trabalho tem como objetivo, a aplicação da telemedicina como ferramenta de ampliação do acesso aos serviços de saúde no Brasil, com ênfase na Região Norte e no estado de Rondônia, destacando seu conceito, evolução, bases legais e impactos na atenção à saúde de populações rurais e isoladas, especialmente no contexto da pandemia de COVID-19.
Trata-se de uma revisão bibliográfica fundamentada em estudos científicos, publicados prioritariamente nos últimos cinco anos, incluindo também legislações anteriores ainda em vigor. A pesquisa utilizará bases como Google Acadêmico, National Library of Medicine (PUBMED) e Scientific Electronic Library Online (SciELO), com o intuito de identificar os impactos, os desafios e as implicações práticas da aplicação da telemedicina no contexto da saúde.
CONCEITO E OBJETIVO DA TELEMEDICINA
A telemedicina é definida pela Organização Mundial da Saúde como um conjunto de cuidados ligados à saúde, promovidos por profissionais da área por meio de tecnologias da informação e comunicação, nos casos em que a distância é um fator crítico. No Brasil, trata-se de uma estratégia para superar barreiras geográficas e sociais, promovendo equidade no cuidado e expansão do acesso, principalmente em regiões desassistidas. Nesse contexto, a telemedicina tem se consolidado como alternativa de cuidado viável, especialmente durante a pandemia, quando a necessidade de evitar o contato presencial impulsionou sua adoção nos serviços públicos de saúde (Silva et al., 2022).
Além de promover acesso, a telemedicina também atua na educação em saúde e na capacitação profissional, como demonstrado em comunidades ribeirinhas da Amazônia, onde o uso da ferramenta permitiu a realização de consultas médicas, orientação em saúde básica e formação de agentes comunitários, tudo isso por meio de um polo montado na comunidade de Santa Catarina, em Rondônia. Essa experiência revela o potencial transformador da tecnologia no contexto amazônico (Machado et al., 2010).
No entendimento de Gonçalves et al. (2023), a telemedicina é uma forma moderna de prestar serviços de saúde à distância, com apoio das tecnologias da informação e comunicação. Seu principal objetivo é ampliar o acesso da população aos serviços médicos, especialmente em áreas onde a presença física de profissionais de saúde é limitada. Ao permitir consultas, diagnósticos, monitoramentos e até procedimentos por meio digital, a telemedicina rompe barreiras geográficas e melhora a resolutividade do sistema de saúde, promovendo agilidade, eficiência e continuidade do cuidado.
A telemedicina é definida como uma modalidade da medicina que utiliza as tecnologias da informação e comunicação para oferecer atendimento remoto. Isso envolve desde monitoramento de pacientes até consultas interativas em tempo real, promovendo agilidade e alcance geográfico ampliado, especialmente em regiões com difícil acesso aos serviços de saúde tradicionais. Sua aplicação não se restringe ao atendimento clínico, mas abrange educação médica e promoção da saúde, sendo uma ferramenta indispensável para áreas isoladas e populações com mobilidade reduzida (Kur; Silva; Pinho, 2023).
Ao longo do tempo, a telemedicina se mostrou mais do que uma alternativa emergencial. Tornou-se um mecanismo transformador, ao romper barreiras geográficas, reduzir custos e democratizar o acesso à saúde. Seu papel é cada vez mais reconhecido não só pela academia, mas também por instituições públicas e privadas que a enxergam como um caminho sustentável para ampliar e qualificar os atendimentos (Kur; Silva; Pinho, 2023).
Durante a pandemia de COVID-19, a telemedicina também foi incorporada no ensino médico, como mostra a experiência de uma universidade do norte do país, que adaptou o internato dos alunos de medicina ao formato remoto. Isso garantiu não apenas a continuidade do aprendizado, mas também o atendimento remoto à população, dentro dos parâmetros legais e pedagógicos da formação médica (Duarte et al., 2021).
Segundo Gonçalves et al. (2023), a telemedicina tem ganhado cada vez mais destaque, sobretudo na área da saúde, onde o déficit de especialistas em muitas regiões do Brasil impede um atendimento célere e eficaz, possibilitando que profissionais especializados auxiliem médicos da atenção primária, evitando encaminhamentos desnecessários e reduzindo custos do sistema público. Assim, a telemedicina se afirma como uma estratégia de apoio clínico, educacional e logístico dentro do Sistema Único de Saúde (SUS), com grande potencial para melhorar a equidade no atendimento.
LEIS QUE ABRANGEM A TELEMEDICINA NO BRASIL E EM RONDÔNIA
Embora o uso da telemedicina já estivesse previsto desde 2007 no âmbito do Programa Nacional de Telessaúde, sua expansão durante a pandemia expôs a necessidade de maior regulamentação legal e estruturação nacional. Apesar dos avanços pontuais, ainda há carência de legislação mais robusta que sustente seu uso permanente e padronizado (Silva et al., 2022).
No Brasil, a prática da telemedicina foi oficialmente regulamentada durante a pandemia da COVID-19, com a Lei Federal nº 13.989/2020. Esta legislação autorizou, em caráter emergencial, o uso da telemedicina enquanto perdurasse a crise sanitária. Ela visava assegurar o atendimento médico, diagnóstico, acompanhamento e prescrição à distância, reforçando a importância da saúde digital no enfrentamento da pandemia (Kur; Silva; Pinho, 2023).
Com a emergência sanitária provocada pela COVID-19, o governo federal editou a Portaria nº 345, de 19 de março de 2020, permitindo a substituição das aulas presenciais por meios remotos, inclusive para o curso de Medicina. No mesmo período, Rondônia publicou o Decreto nº 24.871, que declarou estado de emergência e possibilitou a reorganização das atividades acadêmicas e médicas, inclusive com a adoção do teleatendimento como forma de estágio curricular supervisionado (Duarte et al., 2021).
Além da lei federal, o Ministério da Saúde publicou a Portaria nº 467/2020, que detalha os serviços de telemedicina, como consulta, pré-atendimento, suporte assistencial, monitoramento e emissão de documentos médicos com validade legal por meios eletrônicos. O documento também estabelece diretrizes éticas e operacionais para a atuação médica remota, enfatizando a segurança da informação e o sigilo dos dados dos pacientes (Kur; Silva; Pinho, 2023).
No estado de Rondônia, a Lei Ordinária nº 5.282, de 12 de janeiro de 2022, autorizou expressamente o uso da telemedicina em hospitais, clínicas e consultórios públicos e privados durante a crise provocada pela COVID-19. A lei estadual define a telemedicina como o exercício da medicina mediado por tecnologias, com finalidades assistenciais, preventivas e educativas. Ela também permite o uso de plataformas digitais e pessoal capacitado para o funcionamento adequado do sistema (Governo de Rondônia, 2022).
Posteriormente, a prática da telemedicina foi detalhadamente normatizada pela Resolução CFM nº 2.314/2022, que definiu a telemedicina como o exercício da medicina mediado por tecnologias digitais, regulamentando suas modalidades (como teleconsulta, telemonitoramento e telediagnóstico), além de prever critérios éticos, de segurança da informação e de autonomia profissional (Gonçalves et al., 2023).
No estado de Rondônia, a Lei Ordinária nº 5.282/2022 autorizou o uso da telemedicina em unidades públicas e privadas de saúde durante a pandemia. A lei estadual teve papel importante na formalização da prática no contexto regional, permitindo que hospitais, clínicas e consultórios adotassem ferramentas digitais para prestar assistência médica remota. Essa medida contribuiu para que o estado enfrentasse a crise sanitária com alternativas viáveis de atendimento, especialmente em regiões afastadas dos grandes centros urbanos (Governo de Rondônia; 2022).
Mesmo sem mencionar leis diretamente, Machado et al. (2010), conceitua que, a experiência em Rondônia com comunidades ribeirinhas utilizou a telemedicina em consonância com os princípios constitucionais do SUS, especialmente a equidade, a integralidade e o acesso universal, o que respalda sua legitimidade como ferramenta de cuidado à distância.
USO DA TELEMEDICINA A NÍVEL BRASIL
No Brasil, o avanço da telemedicina foi intensificado pela pandemia, tornando-se uma estratégia essencial para garantir a continuidade do atendimento médico, especialmente em um país de dimensões continentais e com desigualdade no acesso à saúde. Diversas experiências demonstram a eficácia dessa ferramenta, que evitou deslocamentos desnecessários e promoveu atendimentos rápidos e resolutivos. A prática também contribuiu para a integração entre equipes médicas e melhoria da gestão clínica (Kur; Silva; Pinho, 2023).
Antes vista com desconfiança por parte de profissionais e instituições, passou a ser reconhecida como uma ferramenta de alta relevância para garantir o acesso da população ao atendimento médico, especialmente em tempos de distanciamento social. A experiência demonstrou que, quando bem estruturada, a telemedicina pode ser tão confiável quanto o atendimento presencial, sem comprometer a qualidade do cuidado (Gonçalves et al.; 2023).
A distribuição da telemedicina no Brasil durante a pandemia foi marcada por avanços significativos, mas também por desafios que expuseram fragilidades estruturais. Enquanto regiões mais desenvolvidas consolidaram rapidamente o atendimento remoto, outras ainda dependem de investimentos em infraestrutura, capacitação e regulamentação para alcançar uma implementação segura e eficaz. A pandemia, nesse sentido, serviu como catalisador para uma transformação que, embora desigual, mostrou-se irreversível no sistema de saúde brasileiro (Castro et al., 2020).
Por outro lado, a desigualdade digital brasileira ficou ainda mais evidente. Milhões de brasileiros sem acesso constante à internet ou a dispositivos compatíveis ficaram à margem desse novo modelo de atendimento. Além disso, questões éticas e legais, como a segurança dos dados dos pacientes, a emissão de documentos eletrônicos e a validação de diagnósticos à distância, exigiram adaptações rápidas e, muitas vezes, improvisadas por parte das instituições de saúde (Kur; Silva; Pinho, 2023; Castro et al., 2020).
Além disso, estudos apontam que, mesmo após o fim da emergência sanitária, a telemedicina deve continuar como uma estratégia complementar no sistema de saúde. A aceitação tanto por pacientes quanto por profissionais cresceu significativamente, o que mostra o potencial dessa tecnologia em cenários diversos, da atenção básica à medicina especializada (Ferrari, 2020; Veiga et al., 2021).
Dados do Departamento de Informática do SUS (Datasus) revelam que entre 2021 e maio de 2022 foram realizados aproximadamente 1,37 milhão de teleconsultas no Brasil, com forte concentração nas regiões Sudeste e Sul. A maior parte desses atendimentos foi feita por profissionais não médicos, evidenciando a diversidade de atuação da telemedicina e a importância de sua ampliação para áreas menos favorecidas (Silva et al., 2022).
A pandemia também impulsionou o uso da telemedicina em instituições de ensino e saúde em todo o país. A adaptação de internatos e estágios à modalidade remota demonstrou não apenas viabilidade, mas também potencial pedagógico da telemedicina, especialmente em momentos de crise sanitária (Duarte et al., 2021).
Nas regiões Sul e Sudeste, onde há maior concentração de infraestrutura tecnológica, profissionais especializados e conectividade, a telemedicina foi rapidamente implementada e ampliada. Hospitais e clínicas adaptaram-se com relativa agilidade, oferecendo consultas virtuais, emissão digital de receitas e acompanhamento remoto de pacientes em isolamento. Nesses contextos, a vantagem mais visível foi a continuidade do cuidado médico sem exposição ao risco de contaminação, além de uma maior eficiência no uso de recursos humanos e materiais (Kur; Silva; Pinho, 2023).
Já nas regiões Norte e Nordeste, especialmente em estados como Amazonas, Acre, Maranhão e Rondônia, o cenário foi distinto. A implantação da telemedicina enfrentou diversos obstáculos, como a precariedade da conexão à internet, a escassez de equipamentos adequados e a falta de capacitação dos profissionais da saúde para lidar com ferramentas digitais. Em muitas localidades, principalmente em áreas rurais e indígenas, o atendimento virtual era inviável sem investimentos prévios em infraestrutura (Castro et al., 2020).
De modo geral, os dados revelam que as regiões Sudeste e Sul concentraram a maior parte dos atendimentos por telemedicina no Sistema Único de Saúde (SUS), enquanto as regiões Norte e Nordeste apresentaram os menores índices de utilização. A região Sudeste, por exemplo, respondeu por mais de 70% das teleconsultas realizadas no período de 2021 a maio de 2022, demonstrando não apenas maior volume de serviços, mas também maior investimento financeiro destinado à manutenção dessa modalidade (Silva et al., 2022).
As vantagens observadas incluem a redução de filas, a otimização do tempo de profissionais e pacientes, o uso racional de recursos e a maior capilaridade do atendimento. Além disso, estudos mostraram que a aceitação por parte da população aumentou durante a pandemia, assim como o interesse dos profissionais de saúde em aderir à prática. A expectativa é de que, mesmo no pós-pandemia, a telemedicina permaneça como parte integrante e complementar do sistema de saúde (Kur; Silva; Pinho, 2023).
USO DA TELEMEDICINA NA REGIÃO NORTE: ESTADO DE RONDÔNIA
Na Região Norte do Brasil, onde grandes distâncias e limitações de infraestrutura dificultam o acesso à saúde, a telemedicina mostrou-se especialmente útil durante a pandemia. Em estados como Amazonas, Acre e Pará, foram criadas estratégias específicas de teleatendimento para população ribeirinha e indígena, oferecendo consultas, triagem e acompanhamento remoto. A escassez de médicos foi parcialmente suprida com a atuação de especialistas à distância (Castro et al., 2020).
Na região Norte, que inclui estados como Rondônia, a prática trouxe impactos positivos como redução da sobrecarga dos centros urbanos, racionalização de recursos e melhora na resolutividade dos serviços. Contudo, ainda há desafios importantes, como a falta de conexão de qualidade e capacitação técnica dos profissionais da saúde local. A ampliação da infraestrutura digital continua sendo um fator crucial para a consolidação definitiva da telemedicina nessa região (Castro et al., 2020).
Entre os obstáculos identificados, estão a precariedade da infraestrutura de internet, a escassez de equipamentos tecnológicos, a baixa cobertura de profissionais especializados e, principalmente, a dificuldade logística para alcançar comunidades isoladas. Mesmo com esses entraves, houve iniciativas locais importantes. Um exemplo foi a experiência em comunidades ribeirinhas do Baixo Madeira, em Rondônia, onde um projeto de telemedicina foi implementado com o apoio de várias instituições, levando consultas médicas e ações de educação em saúde a populações que antes estavam completamente desassistidas (Machado et al., 2010).
Mesmo diante das enormes necessidades da região, o Norte do Brasil foi o território com menor volume de atendimentos por telemedicina no período analisado pelo DATASUS. Os dados mostram que essa região respondeu por apenas 0,84% dos tele atendimentos não médicos e 1,78% das teleconsultas médicas, o que reflete a escassez de infraestrutura, conectividade e recursos humanos especializados (Silva et al., 2022).
Apesar das dificuldades, como a conexão de internet precária e a falta de capacitação técnica, os resultados observados foram bastante positivos. A implementação da telemedicina em algumas unidades básicas, por exemplo, permitiu evitar encaminhamentos desnecessários para os centros urbanos, reduziu os custos com transporte e hospitalizações e promoveu resolutividade em atendimentos que antes ficariam represados por falta de especialistas (Gonçalves et al.; 2023).
Por outro lado, iniciativas pontuais têm mostrado o valor estratégico da telemedicina na região. Em Rondônia, uma universidade privada implantou o teleatendimento como forma de estágio supervisionado durante a pandemia, promovendo cuidado à distância, especialmente para pacientes com doenças crônicas e síndromes gripais. Essa prática mostrou-se eficaz, segura e bem recebida pela população (Duarte et al., 2021).
Em Rondônia, a aplicação da telemedicina se insere no contexto das necessidades específicas do estado, caracterizado por vastas áreas rurais e de difícil acesso. O trabalho de Kur e colaboradores destaca que, para populações do interior, a telemedicina se tornou a principal ferramenta de acesso à saúde, especialmente no período da pandemia. O uso de teleconsultas foi adotado tanto na rede pública quanto em iniciativas privadas, promovendo resoluções clínicas rápidas e evitando o deslocamento para centros urbanos (Kur; Silva; Pinho, 2023).
Uma das experiências mais significativas registrada nesse estudo, ocorreu em comunidades ribeirinhas do Baixo Madeira. Um polo de telemedicina instalado na comunidade de Santa Catarina viabilizou atendimentos em tempo real, com apoio de especialistas de outros estados, promovendo inclusão digital, assistência médica e educação em saúde para moradores isolados. A ação, coordenada pelo NAPRA, contou com parcerias interinstitucionais e resultou em um modelo viável de atenção à saúde em regiões de difícil acesso (Machado et al., 2010).
A adesão dos trabalhadores rurais à telemedicina foi notavelmente alta, sendo 3,8 vezes maior que nas áreas urbanas, segundo dados apresentados no estudo. Isso evidencia uma aceitação significativa da população local, além de apontar a viabilidade técnica e social da estratégia. Entretanto, a infraestrutura de internet ainda é um obstáculo, com muitos usuários enfrentando dificuldades para acessar as ferramentas no horário agendado, o que afeta a eficácia das ações (Kur; Silva; Pinho, 2023).
Já na capital Porto Velho, a pandemia obrigou a adaptação do ensino médico. Uma universidade privada implantou o teleatendimento como estratégia emergencial para manter os estágios de clínica médica e saúde coletiva, focando especialmente nos estudantes pertencentes ao grupo de risco. O modelo adotado permitiu o atendimento remoto a pacientes crônicos e com sintomas gripais, com capacitação dos internos e acompanhamento dos preceptores (Duarte et al., 2021).
Contudo, os dados de financiamento federal demonstram que o estado de Rondônia, assim como o restante da região Norte, ainda recebe investimentos modestos para a telemedicina. Essa disparidade evidencia a necessidade de políticas públicas mais equitativas para garantir o acesso integral à saúde em todo o território nacional (Silva et al., 2022).
Apesar das dificuldades, as vantagens da telemedicina se mostraram significativas em todo o território nacional. Entre os benefícios mais evidentes estão a ampliação do acesso à saúde, especialmente em localidades remotas; a diminuição do risco de contágio tanto para pacientes quanto para profissionais; a redução de custos com deslocamentos e internações desnecessárias; e a possibilidade de integração entre diferentes níveis de atenção, facilitando a coordenação do cuidado (Duarte et al., 2021).
Experiências bem-sucedidas foram observadas. Iniciativas de teleconsultas por aplicativos de mensagens, como WhatsApp, permitiram a triagem e o acompanhamento de casos leves, aliviando a demanda nos hospitais. Em Rondônia, por exemplo, a Lei Estadual nº 5.282/2022 legalizou o uso da telemedicina durante a pandemia, possibilitando que o setor público e privado adotasse oficialmente a prática como estratégia de enfrentamento à crise (Governo de Rondônia, 2022).
Entre as vantagens mais destacadas, está a ampliação do acesso à saúde para populações antes negligenciadas pela distância dos centros urbanos. Com a possibilidade de atendimento remoto, pacientes em áreas isoladas puderam receber orientações, receitas médicas e até acompanhamento psicológico sem sair de casa. Outro ponto positivo foi a otimização do tempo dos profissionais e a redução de aglomerações nos serviços de saúde, evitando a propagação do vírus (Kur; Silva; Pinho, 2023).
Contudo, a experiência brasileira durante a pandemia deixa claro que a expansão da telemedicina exige mais do que tecnologia: é necessário planejamento estratégico, investimentos sustentáveis, capacitação contínua dos profissionais e políticas públicas comprometidas com a equidade. A pandemia escancarou as desigualdades, mas também abriu caminhos para a construção de um modelo de saúde mais integrado, eficiente e acessível, desde que as lições aprendidas sejam transformadas em ações permanentes (Silva et al., 2022).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A presente pesquisa permitiu compreender que a telemedicina, embora não seja um conceito novo, ganhou força e urgência durante a pandemia da COVID-19, transformando-se em um recurso vital para manter o acesso à saúde em todo o território brasileiro. A emergência sanitária expôs as desigualdades do país e, ao mesmo tempo, revelou o enorme potencial das tecnologias digitais na superação de barreiras geográficas e estruturais, sobretudo em regiões historicamente marginalizadas, como a Região Norte e o estado de Rondônia.
Nos estados com infraestrutura mais robusta, como nas regiões Sul e Sudeste, a adoção da telemedicina ocorreu de forma rápida e eficiente. Já em áreas rurais e remotas, especialmente no Norte, sua implementação foi mais desafiadora, exigindo adaptações criativas por parte dos profissionais e das instituições de saúde. Apesar das dificuldades, os benefícios foram evidentes: redução da sobrecarga hospitalar, continuidade do atendimento médico, segurança sanitária e maior alcance populacional.
Em Rondônia, a criação de uma legislação específica, como a Lei nº 5.282/2022, sinaliza um passo importante rumo à institucionalização da telemedicina como política pública. Entretanto, a permanência de problemas como a instabilidade de conexão, a carência de equipamentos e a lacuna de formação digital entre os profissionais de saúde aponta para a necessidade urgente de investimentos em infraestrutura e capacitação.
Fica evidente, portanto, que a telemedicina não deve ser encarada apenas como uma solução temporária para situações emergenciais, mas como uma ferramenta estratégica e permanente dentro do Sistema Único de Saúde (SUS). Para que isso se concretize de forma justa e efetiva, é imprescindível que políticas públicas sejam fortalecidas, que a legislação avance em harmonia com os princípios éticos e que a inclusão digital se torne prioridade nacional.
Em suma, este estudo reitera que a telemedicina representa um avanço irreversível na forma de cuidar da saúde no Brasil. O desafio, daqui em diante, será garantir que esse avanço seja acessível a todos, independentemente de onde vivem ou da condição socioeconômica que possuem, transformando o direito à saúde em realidade concreta para milhões de brasileiros.
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