Educação física escolar: Superando o modelo competitivo e valorizando o humano

SCHOOL PHYSICAL EDUCATION: OVERCOMING THE COMPETITIVE MODEL AND VALUING THE HUMAN

EDUCACIÓN FÍSICA ESCOLAR: SUPERANDO EL MODELO COMPETITIVO Y VALORANDO LO HUMANO

Autor

Gleiton Soares Bezerra da Costa e Silva
ORIENTADOR
Prof. Dr. Rodger Roberto Alves de Sousa

URL do Artigo

https://iiscientific.com/artigos/9FD497

DOI

Silva, Gleiton Soares Bezerra da Costa e . Educação física escolar: Superando o modelo competitivo e valorizando o humano. International Integralize Scientific. v 5, n 47, Maio/2025 ISSN/3085-654X

Resumo

Este artigo tem como objetivo discutir a atuação do professor de Educação Física no contexto escolar, considerando sua formação profissional, postura ética e relação com os alunos. A análise fundamenta-se em uma abordagem teórica, com base em autores da área da Educação Física, e contempla as principais tendências pedagógicas adotadas no ensino, como as abordagens psicomotora, construtivista, desenvolvimentista e críticas. Além disso, destaca-se a relevância das práticas lúdicas na educação infantil, especialmente o brincar como ferramenta essencial para o desenvolvimento físico, cognitivo e socioemocional das crianças. A discussão propõe uma reflexão sobre o papel da Educação Física na construção de uma prática pedagógica contextualizada, inclusiva e formativa, que contribua para o desenvolvimento integral do educando e para sua inserção crítica na sociedade.
Palavras-chave
educação física escolar; formação docente; práticas pedagógicas; ludicidade; desenvolvimento infantil.

Summary

This article aims to discuss the role of the Physical Education teacher in the school context, considering their professional training, ethical conduct, and relationship with students. The analysis is based on a theoretical approach supported by authors in the field of Physical Education and addresses the main pedagogical trends adopted in teaching, such as psychomotor, constructivist, developmentalist, and critical approaches. Furthermore, it highlights the importance of play in early childhood education, especially as an essential tool for the physical, cognitive, and socioemotional development of children. The discussion encourages reflection on the role of Physical Education in building a contextualized, inclusive, and formative pedagogical practice that contributes to the student’s holistic development and their critical integration into society.
Keywords
school physical education; teacher training; pedagogical practices; playfulness; child development.

Resumen

Este artículo tiene como objetivo discutir el papel del profesor de Educación Física en el contexto escolar, considerando su formación profesional, conducta ética y relación con los estudiantes. El análisis se basa en un enfoque teórico sustentado por autores del área de la Educación Física y aborda las principales tendencias pedagógicas adoptadas en la enseñanza, como los enfoques psicomotor, constructivista, desarrollista y críticos. Además, se destaca la importancia del juego en la educación infantil, especialmente como una herramienta esencial para el desarrollo físico, cognitivo y socioemocional de los niños. La discusión propone una reflexión sobre el papel de la Educación Física en la construcción de una práctica pedagógica contextualizada, inclusiva y formativa que contribuya al desarrollo integral del alumno y a su inserción crítica en la sociedad.
Palavras-clave
educación física escolar; formación docente; prácticas pedagógicas; ludicidad. desarrollo infantil.

INTRODUÇÃO

A Educação Física escolar é uma área essencial na formação integral do indivíduo, pois é a responsável em articular os saberes corporais, sociais e culturais que contribuem significativamente para o desenvolvimento físico, cognitivo, afetivo e social dos alunos. No contexto da escola contemporânea, o professor de Educação Física desempenha papel fundamental na mediação de práticas pedagógicas que valorizam o corpo como linguagem e expressão, superando visões reducionistas que restringem essa disciplina ao mero desenvolvimento motor ou à prática esportiva competitiva. 

A atuação Educador Físico requer uma formação crítica, reflexiva e ética, capaz de compreender as múltiplas dimensões do movimento humano e suas relações com a cultura, a saúde e a cidadania, sendo assim, a formação inicial e continuada dos professores deve contemplar saberes que promovam o reconhecimento da diversidade e a construção de práticas inclusivas e emancipadoras (Betti; Zuliani, 2022).

Em virtude disso, é imprescindível considerar as abordagens pedagógicas que influenciam o ensino da Educação Física ao longo das últimas décadas, como as perspectivas psicomotora, construtivista, desenvolvimentista e críticas, tais abordagens contribuem para a elaboração de propostas curriculares mais coerentes com a realidade dos estudantes, ampliando os horizontes educativos da disciplina (Darido; Rangel, 2021). Outro aspecto relevante é o papel do brincar e das atividades lúdicas na Educação Infantil, as quais proporcionam vivências significativas que favorecem o desenvolvimento global da criança.

Ao integrar o jogo, a brincadeira e a ludicidade ao cotidiano escolar, o professor de Educação Física torna-se agente promotor de aprendizagens prazerosas e transformadoras (Oliveira; Ribeiro, 2023). Diante desse panorama, este artigo tem como objetivo discutir a atuação do professor de Educação Física no ambiente escolar, analisando sua formação, conduta ética, relação com os alunos e os principais fundamentos pedagógicos que sustentam a prática docente, enfatizando a importância da ludicidade no processo de ensino-aprendizagem.

PERSPECTIVAS CONTEMPORÂNEAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR

A disciplina de Educação Física no ambiente escolar, contrariando o que muitos acreditam, não deve ser inteiramente desvinculada do esporte, já que um de seus principais objetivos é fomentar a socialização e a integração entre os estudantes e o esporte pode de fato, colaborar nesse sentido. Conforme o autor Kunz (2021), quando o esporte é praticado com ênfase excessiva no rendimento, pode gerar pressões emocionais prejudiciais aos alunos. Por esse motivo, as atividades recreativas realizadas em grupo são ferramentas eficientes para promover a interação social almejada pela Educação Física escolar, essas práticas valorizam o trabalho colaborativo, estimulam o desenvolvimento de habilidades sociais, o respeito mútuo e o controle emocional dos estudantes.

A promoção da criatividade também é uma das metas fundamentais da Educação Física escolar, de acordo com os estudos de Neira e Nunes (2019), as crianças entre dois e sete anos devem ser incentivadas a explorar o corpo e o movimento com liberdade, por meio de propostas lúdicas que respeitem suas fases de desenvolvimento. Sendo assim, o planejamento das aulas deve levar em consideração as atividades espontâneas e dinâmicas, que priorizem o brincar e a expressão corporal em ambientes abertos, estimulando a imaginação, pois a prática pedagógica precisa partir das vivências dos estudantes e de suas necessidades cotidianas. É responsabilidade do professor valorizar esses interesses dos alunos, evitando as sobrecargas de informações abstratas e descontextualizadas, como afirma Oliveira (2020), impor conteúdos distantes da realidade dos educandos compromete o processo de ensino-aprendizagem e afeta negativamente a motivação e o envolvimento dos alunos.

Essa influência mútua entre o esporte e a Educação Física tem se intensificado com o surgimento de novas abordagens que ampliam as possibilidades educativas da disciplina e essas transformações permitem a inclusão de perspectivas mais democráticas e menos autoritárias nas práticas escolares. O ensino da Educação Física deve considerar os impactos negativos da valorização excessiva da competição esportiva, assim como evitar reproduzir modelos tradicionais que historicamente excluíram a diversidade dos sujeitos, segundo Betti e Zuliani (2018), então, é essencial refletir sobre os contextos socioculturais dos alunos para promover práticas mais inclusivas, colaborativas e prazerosas.

Diante da situação apresentada, se tornam urgentes o investimento na formação continuada dos docentes da área e garantir condições adequadas para o desenvolvimento das aulas, proporcionando um acesso igualitário à prática esportiva e às brincadeiras escolares. Quando bem estruturadas e com recursos apropriados, as atividades corporais despertam o interesse dos estudantes e contribuem para sua integração com o grupo e com os professores, o desafio da Educação Física é ao mesmo tempo ser significativa; atrativa e participativa.

Como destaca Tubino (2015, p. 43), “o esporte, quando compreendido como fenômeno educacional, precisa ser restabelecido a partir de suas dimensões humanas e sociais”. Dessa maneira, o esporte escolar não deve estar associado unicamente ao alto desempenho competitivo, mas sim ser tratado como conteúdo formativo, de convivência e inclusão, a atuação docente na Educação Física pode e deve promover vivências que estimulem o respeito, a cooperação e a construção coletiva do conhecimento.

INCORPORAÇÃO DA EDUCAÇÃO FÍSICA NO CURRÍCULO ESCOLAR

Um olhar de nível histórico, a disciplina de Educação Física (EF) tem ocupado uma posição secundária e marginalizada na estrutura dos conhecimentos escolares, mesmo com a atual LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional –, ainda se observa a valorização de determinados componentes curriculares em detrimento de outros (Ferreira; Darido, 2017). A especificidade da Educação Física, atualmente, é ignorada ou até mesmo retirada dos projetos político-pedagógicos em algumas instituições de ensino. E infelizmente, até alguns profissionais da área, colaboram com esse cenário ao concordar que as áreas centrais da educação formal, como linguagens, matemática e ciências, devem prevalecer sobre componentes como artes e Educação Física (Bento et al., 2020).

Existe uma concepção que entende que a Educação Física é uma área ainda em busca de sua identidade, é possível perceber que a EF ao longo da sua trajetória no campo pedagógico foi absorvendo historicamente as características das instituições na qual era ministrada. Nesse sentido, autores como Betti e Zuliani (2021) apontam que a marginalização dessa disciplina decorre das influências de modelos militares, médicos e esportivos, que imprimiram um viés técnico e reducionista à sua prática.

Durante o século XIX e as primeiras décadas do século XX, a Educação Física brasileira sofreu forte influência militar, os professores da área eram rigidamente supervisionados, com foco em disciplina, submissão e obediência. E essa visão contribui para o enaltecimento do preparo físico como base do progresso nacional, na tentativa de moldar um corpo produtivo e resistente (Paes; Balbino, 2020). Assim, a concepção biológica e mecanicista sobrepunha-se aos objetivos pedagógicos e formativos da disciplina. Posteriormente, com a ascensão da psicomotricidade, surgiu uma nova visão que utilizava a Educação Física escolar como ferramenta auxiliar na aprendizagem de outros componentes curriculares, contribuindo para que perdesse sua identidade própria. 

Como foi reforçado por Gaya e Marques (2018), embora essa abordagem tenha buscado integrar o corpo e a mente; acabou por diluir a especificidade da área em prol de outros saberes escolares. Segundo o autor Soares (apud Nascimento; Almeida, 2019), a visão psicomotora reforça a marginalidade da Educação Física por reduzir sua função à de suporte, reafirmando uma hierarquia em que disciplinas com maior status científico são priorizadas, em prejuízo das áreas consideradas acessórias. É notório que existe uma hierarquização do conhecimento escolar, onde a matemática, a língua portuguesa e as ciências figuram no topo. Em um segundo nível, aparecem história e geografia. Enquanto a Educação Física e as artes ocupam os degraus mais baixos dessa pirâmide curricular (Darido; Massaud, 2021).

Devido a isso, a Educação Física passou a reivindicar sua legitimidade como parte integrante da formação escolar, como destacado por Silva et al. (2020), essa área busca afirmar seus fundamentos, conteúdos próprios e metodologias específicas que permitam seu reconhecimento como promotora de cultura corporal e não apenas de atividades auxiliares, à compreensão da Educação Física dentro dessa perspectiva exige uma análise da Lei 9.394/96. A LDB assegura a Educação Física como componente obrigatório na educação básica, abrangendo desde a educação infantil até o ensino médio, sendo facultativa no ensino superior (Brasil, 2017), no entanto, nessa mesma legislação é permitido que os professores generalistas, como os pedagogos, ministrem as aulas nos anos iniciais do ensino fundamental, sem exigência de formação específica. Essa situação acaba suscitando questionamentos sobre a real preparação desses profissionais para lidar com os objetivos da área, uma análise dos currículos dos cursos de pedagogia revelou uma carga horária extremamente limitada destinada à Educação Física. Mesmo com avanços, como a inserção de mais disciplinas voltadas ao movimento e ao lúdico, a maioria das instituições de ensino superior ainda considera a EF como recreação ou psicomotricidade, o que compromete a formação docente e perpetua a marginalização do componente (Melo; Bastos, 2019).

Nas etapas finais do ensino fundamental e no ensino médio, a legislação exige docentes licenciados em Educação Física, porém as aulas frequentemente são agendadas em horários extracurriculares, resultando em baixa adesão dos alunos e reforçando o caráter periférico da disciplina (Guedes; Knijnik, 2017). Essa prática evidencia e reproduz a hierarquia dos saberes, pois favorece as disciplinas tidas como mais importantes na organização escolar. Essa estrutura hierarquizada acaba refletindo na forma como o sistema educacional brasileiro tem valorizado determinados conhecimentos em detrimento de outros desde a sua origem. A nova LDB, embora tenha trazido avanços, ainda sustenta esse modelo. 

Um exemplo claro disso são os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), elaborados na década de 1990, que organizam os componentes curriculares em volumes distintos, o volume destinado à Educação Física é o sétimo na ordem, precedido por língua portuguesa, matemática, ciências, história, geografia e artes (Brasil, 1997). Não bastasse isso, o volume referente à Educação Física é um dos mais sucintos e menos densos em termos pedagógicos, como observado por Silva e Silva (2020), ele carece de uma profundidade teórica e de propostas pedagógicas mais consistentes, o que contribui para uma visão superficial do componente e dificulta ainda mais a sua valorização nas escolas.

A formação dos futuros educadores físicos também é afetada por essa lógica, as licenciaturas em EF, em muitos casos ainda reproduzem o modelo tecnicista e competitivo, distanciando-se das propostas pedagógicas voltadas à formação integral do estudante e isso compromete a construção de uma prática docente crítica e consciente, como alertam Oliveira e Nascimento (2021). Nas últimas décadas, entretanto, a Educação Física escolar tem buscado sua identidade e reafirmado seu papel na formação cidadã, como apontam Kunz e Bracht (2019), a área possui objetivos próprios, metodologias específicas e finalidades formativas que vão além do auxílio a outras disciplinas, consolidando-se como um componente indispensável para a formação integral do aluno.

A Educação Física deve compor a estrutura curricular com o mesmo valor que os demais componentes, rompendo com a lógica hierarquizante e promovendo uma organização curricular mais democrática e equitativa e, além disso; por se tratar da cultura corporal em suas múltiplas manifestações, a EF requer condições específicas para sua aplicação, como espaços físicos amplos, quadras, materiais diversos e condições climáticas adequadas. Entretanto, tais exigências não devem ser justificativas para seu desprestígio, pelo contrário, é preciso compreender que a área representa um importante acúmulo de saberem históricos e culturais sobre o corpo e o movimento, e deve ser valorizada como tal (Fernandes; Santos, 2022).

O EDUCADOR FÍSICO

A formação acadêmica do professor de Educação Física deve contemplar uma base humanística, crítica e científica que lhe permita atuar de maneira ética e reflexiva entre diferentes contextos educacionais e sociais. Conforme aponta Darido (2019), esse profissional deve ser preparado para compreender as múltiplas dimensões da cultura corporal de movimento, articulando saberes práticos e teóricos com base em epistemologias diversas da área.

Durante sua formação, o educador físico adquire competências para atuar com atividades físicas, esportivas, recreativas e educativas, reconhecendo a importância da inclusão, da diversidade cultural e da promoção da saúde; mas para isso, é fundamental que o curso de licenciatura proporcione experiências que desenvolvam uma postura investigativa, criativa e colaborativa, voltada à realidade dos estudantes e às especificidades regionais (Ferreira & Darido, 2020), o professor de Educação Física deve atuar de forma ética e comprometida com a melhoria da qualidade de vida da população, contribuindo com uma formação integral dos alunos. 

Sua prática deve estar pautada em metodologias críticas que promovam o protagonismo estudantil, a autonomia e a valorização da cultura corporal de movimento como expressão social e cultural (Betti & Zuliani, 2021). E nesse aspecto, o relacionamento entre professor e aluno é essencial para o êxito do processo de ensino-aprendizagem, o papel do docente deve ir além da simples transmissão de conhecimentos técnicos, buscando estabelecer um vínculo pedagógico baseado na escuta, no diálogo e no respeito mútuo (Kunz, 2020). Nesse sentido, o professor de Educação Física deve reconhecer os saberes prévios dos alunos, valorizando tanto os conhecimentos populares quanto os acadêmicos.

A prática pedagógica deve possibilitar a participação ativa dos estudantes na construção do conhecimento, rompendo com modelos tradicionais e tecnicistas que historicamente caracterizaram a Educação Física escolar, de acordo com Bracht (2022), é fundamental superar a visão competitiva e padronizadora, promovendo uma abordagem emancipatória que incentive a cooperação, a reflexão e a criticidade.

A Educação Física deve contribuir para o desenvolvimento de competências investigativas e criativas nos alunos e a utilização de estratégias pedagógicas como questionamentos exploratórios, projetos interdisciplinares e atividades investigativas pode estimular a curiosidade e o interesse pelos conteúdos abordados, além disso, o incentivo à pesquisa e à reflexão sobre as práticas corporais pode contribuir para uma aprendizagem mais significativa e contextualizada.

Segundo o autor Ghiraldelli: 

A ausência da prática de pesquisa na escola a faz distanciar-se da produção do conhecimento. O sistema educacional brasileiro, fundado a partir de interesses da burguesia, ao reproduzir o ensino, distanciou-se da pesquisa, que ao ser ela um elemento enriquecedor do conhecimento, foi desvalorizada dentro da escola. Assim observamos em algumas aulas que os alunos não estavam familiarizados com o trabalho de pesquisa, principalmente num componente curricular com ênfase no físico, onde esperavam fazer exercícios ginásticos e práticas esportivas não cabendo, para eles, um programa voltado também para atividades consideradas intelectuais (1988, p. 20).

Atualmente também é importante que o professor de Educação Física compreenda os impactos da mídia, das redes sociais e da cultura de consumo sobre os interesses dos alunos, principalmente em relação aos esportes mais midiáticos, isso exige uma postura crítica e uma prática pedagógica que amplie o repertório corporal dos estudantes, inserindo jogos, danças, lutas e atividades pouco exploradas, mas com grande potencial educativo (Darido & Massud, 2021).

TENDÊNCIAS PEDAGÓGICAS 

As abordagens pedagógicas que mais influenciaram o ensino da Educação Física escolar desde a década de 1970 são: a psicomotora, a construtivista, e desenvolvimentista e as abordagens críticas, de base sociopolítica e epistemológica. Também são discutidas, embora com menor penetração no cotidiano escolar, outras vertentes como a sociológica-sistêmica e a antropológica-cultural (Darido & Massud, 2021). Sendo que essas abordagens foram incorporadas aos debates pedagógicos a partir da promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) e dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), que estabeleceram novos referenciais para a prática pedagógica da Educação Física escolar, propondo um ensino mais contextualizado e voltado ao desenvolvimento integral dos estudantes (Brasil, 2018).

A abordagem psicomotora surgiu como um contraponto aos modelos mecanicistas anteriores, priorizando o desenvolvimento global da criança, sobretudo até os 10 ou 11 anos, nessa perspectiva, o foco recai sobre os aspectos cognitivos e motores do indivíduo, contribuindo para sua formação integral. Nesse enfoque, a EF é vista como um instrumento auxiliar ao aprendizado em outras disciplinas, embora não se valorize adequadamente seus conteúdos próprios, como os jogos, a dança, a ginástica e o esporte (Souza & Castro, 2020).

Enquanto a abordagem construtivista propõe por sua vez a construção ativa do conhecimento a partir da interação entre o indivíduo e o ambiente, onde se aponta a importância de respeitar o universo cultural dos alunos e o de promover situações de aprendizagem desafiadoras e significativas, o ensino da Educação Física nessa vertente deve considerar o contexto social dos alunos, explorando a ludicidade e o protagonismo infantil no processo de ensino-aprendizagem (Oliveira & Santos, 2021).

Já a abordagem desenvolvimentista dirige-se especialmente aos estudantes até os 14 anos, defendendo que a aprendizagem do movimento deve ocorrer de forma sistematizada e condizente com o estágio de desenvolvimento do aluno, o seu objetivo é o de oferecer vivências motoras adequadas para promover o aprendizado de habilidades fundamentais, contribuindo para a adaptação do indivíduo às exigências do cotidiano (Bomfim & Darido, 2019).

As abordagens críticas emergem como uma tentativa de romper com o modelo tradicional de ensino da Educação Física, marcado pela reprodução de práticas esportivas elitizadas, essa vertente propõe uma Educação Física comprometida com a transformação social e com a formação de sujeitos críticos e conscientes. Os conteúdos devem possuir relevância social, ser contemporâneos e permitir a articulação entre o conhecimento científico e o saber popular, promovendo a reflexão sobre a realidade vivida pelos alunos (Bracht, 2022)

A Educação Física escolar é compreendida como disciplina que lida com os saberes da cultura corporal de movimento, como jogos, esportes, danças, lutas, ginástica, entre outros; que estão inseridos no contexto histórico e social dos sujeitos. A incorporação dessas diferentes abordagens ampliou a visão sobre o papel educativo da Educação Física, que passou a considerar o aluno como um ser integral, valorizando não apenas o desenvolvimento físico, mas também aspectos cognitivos, afetivos e sociais (Darido & Massud, 2021).

Nessa perspectiva, os Parâmetros Curriculares Nacionais se colocam como importante instrumento de orientação pedagógica, oferecendo subsídios para a construção de propostas curriculares coerentes com a realidade dos alunos e com os objetivos mais amplos da educação (Brasil, 2018).

A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR 

A Educação Física escolar na educação infantil tem como foco principal a ludicidade, utilizando jogos e brincadeiras como estratégias para promover o desenvolvimento físico, cognitivo, afetivo e social das crianças. Tais atividades contribuem significativamente para a formação de hábitos saudáveis, favorecendo a construção da autoestima, da autonomia e das habilidades relacionais desde os primeiros anos de vida (Darido & Massud, 2021).

Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais (Brasil, 2018), há uma relação direta entre a Educação Física e a promoção da saúde, especialmente na infância, onde os conteúdos propostos devem contribuir para a valorização do corpo, o cuidado consigo e com o outro, o fortalecimento dos vínculos afetivos e a construção da identidade pessoal e coletiva. O brincar, além de ser uma atividade prazerosa, possibilita à criança experimentar, criar, comunicar, aprender a conviver e resolver conflitos. A prática lúdica proporciona oportunidades para que a criança expresse desejos, emoções e pensamentos, desenvolvendo sua capacidade de empatia, negociação e respeito às regras sociais (Freire & Scaglia, 2020).

Ao brincar, a criança se desafia e amplia suas possibilidades de ação, atingindo níveis de desenvolvimento superiores aos que alcançaria em situações rotineiras, o sentimento de conquista ao completar tarefas lúdicas, como montar um quebra-cabeça ou vencer um jogo coletivo, estimula sua motivação e autoestima (Pereira & Cavalcanti, 2022).

Em virtude disso, cabe ao professor de Educação Física planejar aulas que priorizem o brincar como linguagem principal na educação infantil, respeitando as fases do desenvolvimento infantil e incentivando a experimentação corporal, o jogo e a brincadeira devem ser considerados como elementos fundamentais para o ensino-aprendizagem na infância, uma vez que promovem a construção de saberes de forma integrada e prazerosa (Silva & Rocha, 2021)

Diante dessas diversas abordagens pedagógicas que permeiam o ensino da Educação Física escolares, é possível compreender que o movimento corporal deve ser tratado como um saber legítimo, com potencial formativo que ultrapassa os limites do desempenho físico. A inclusão das tendências psicomotora, construtivista, desenvolvimentista e crítica ampliaram as possibilidades de atuação docente, favorecendo práticas pedagógicas mais inclusivas, reflexivas e conectadas à realidade dos alunos. 

Nesse contexto, o brincar assume papel central na educação infantil, sendo um instrumento essencial para o desenvolvimento integral da criança, promovendo aprendizagens significativas por meio de vivências lúdicas e prazerosas. Assim, a Educação Física se fortalece como componente curricular fundamental para a formação de sujeitos autônomos, críticos e socialmente engajados, conforme propõem os documentos oficiais e os estudos contemporâneos da área.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Educação Física escolar, longe de ser uma disciplina meramente complementar ou recreativa, configura-se como um componente curricular essencial para a formação integral dos estudantes, promovendo o desenvolvimento físico, cognitivo, afetivo e social. 

Como demonstrado ao longo deste trabalho, sua prática deve transcender os modelos tradicionais, marcados pelo tecnicismo e pela competitividade, para adotar abordagens pedagógicas mais inclusivas, críticas e contextualizadas. A valorização do brincar, da ludicidade e da cultura corporal de movimento é fundamental, especialmente na educação infantil, pois estimula a criatividade, a cooperação e a construção de identidades. 

No entanto, persistem desafios históricos, como a marginalização da disciplina no currículo escolar e a falta de reconhecimento de sua especificidade pedagógica. A hierarquização dos saberes, que privilegia áreas como matemática e língua portuguesa em detrimento da Educação Física, reflete uma visão reducionista da educação, que ignora o potencial formativo das práticas corporais. É urgente, portanto, romper com essa lógica, garantindo condições adequadas para a efetivação de uma Educação Física democrática, que contemple espaços, materiais e formação docente qualificada. O educador físico, como agente transformador, deve assumir um papel central nesse processo, articulando teoria e prática de forma reflexiva, ética e comprometida com a realidade dos alunos. Sua atuação deve priorizar metodologias que incentivem o protagonismo estudantil, a criticidade e a ressignificação do esporte como fenômeno educativo e social. 

Dessa forma, a Educação Física escolar não apenas contribui para a promoção da saúde e do bem-estar, mas também para a formação de cidadãos autônomos, cooperativos e conscientes de seu papel na sociedade. Seu pleno reconhecimento como disciplina indispensável exige mudanças estruturais no sistema educacional, alinhadas às demandas contemporâneas por uma educação mais humana, inclusiva e significativa. 

Como destacou Tubino (2015), ressignificar o esporte e as práticas corporais a partir de suas dimensões humanas e sociais é o caminho para consolidar a Educação Física como um eixo fundamental na construção de uma sociedade mais justa e equitativa. 

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TUBINO, Manoel José Gomes. Esporte: um fenômeno educacional. 2. ed. Brasília: Ministério do Esporte, 2015.

Silva, Gleiton Soares Bezerra da Costa e . Educação física escolar: Superando o modelo competitivo e valorizando o humano.International Integralize Scientific. v 5, n 47, Maio/2025 ISSN/3085-654X

Referencias

BAILEY, C. J.; LEE, J. H.
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Clinical infectious diseases.
v. 67
n. 7
p. 1208-1216,
2021.
Disponível em: https://academic.oup.com/cid/article/67/7/1208/6141108.
Acesso em: 2024-09-03.

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v. 5
n. 47
Educação física escolar: Superando o modelo competitivo e valorizando o humano

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A arteterapia como ferramenta de cuidado emocional na infância
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