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Resumo
INTRODUÇÃO
A saúde é um dos pilares mais fundamentais para o bem-estar de qualquer sociedade. Os profissionais que atuam na linha de frente dos serviços de saúde, especialmente aqueles envolvidos no atendimento pré-hospitalar, estão expostos a uma série de riscos ocupacionais que podem comprometer sua saúde física e mental. Entre os diversos profissionais que atuam nesse setor, os motoristas de ambulância, ou condutores socorristas, enfrentam uma realidade de trabalho que impõe desafios significativos, tanto no que diz respeito à segurança quanto ao impacto psicológico e físico gerado pelas peculiaridades da função. Neste contexto, é de suma importância compreender as doenças e os riscos aos quais esses trabalhadores estão expostos, a fim de desenvolver estratégias de mitigação, prevenção e promoção da saúde desses profissionais.
A atuação dos motoristas de ambulância se insere em um contexto de extrema vulnerabilidade, uma vez que são responsáveis por conduzir veículos de emergência em condições adversas, muitas vezes sob estresse intenso e em ambientes urbanos caracterizados pelo trânsito caótico. Além disso, esses profissionais convivem diretamente com cenas de acidentes graves, atendem a situações de grande urgência e, por vezes, lidam com a morte de pacientes, o que pode gerar impactos psicológicos significativos. De acordo com Nascimento et al. (2016), os motoristas de ambulância desempenham funções que demandam atenção constante, habilidades técnicas específicas e resiliência emocional para lidar com o estresse gerado pelas condições de trabalho.
Os riscos ocupacionais a que esses trabalhadores estão expostos são diversos e, frequentemente, negligenciados. Enquanto o foco de muitas pesquisas está voltado para os riscos biológicos e químicos enfrentados por profissionais da saúde como médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem, os motoristas de ambulância enfrentam riscos únicos relacionados à ergonomia, à segurança no trânsito e à saúde mental. O estresse físico decorrente da postura inadequada durante a condução do veículo, a pressão psicológica para atender prontamente às emergências e a constante exposição a acidentes e cenas traumáticas são fatores que impactam diretamente na qualidade de vida desses profissionais. Tais fatores tornam necessário um estudo mais aprofundado sobre os riscos específicos enfrentados por esses trabalhadores, especialmente considerando que a saúde ocupacional, no Brasil, ainda carece de uma abordagem mais específica para as diferentes funções dentro dos serviços de saúde.
O entendimento desses riscos é particularmente relevante quando se observa o cenário atual da saúde pública, que envolve a crescente demanda por serviços de emergência e o aumento das situações de urgência, muitas vezes relacionadas a condições epidêmicas e ao agravamento de doenças crônicas. Durante a pandemia de Covid-19, por exemplo, os motoristas de ambulância enfrentaram não só o aumento da carga de trabalho, mas também os riscos associados à exposição ao vírus, o que agravou ainda mais as condições de saúde desses profissionais (Lóss et al., 2020). Assim, os motoristas de ambulância estão expostos a uma combinação de fatores de risco que abrangem tanto a saúde física quanto a saúde mental, e a análise desses fatores torna-se crucial para a construção de um ambiente de trabalho mais seguro e saudável.
Este artigo busca, portanto, explorar a relação entre os motoristas de ambulância e as doenças às quais estão expostos, identificando os principais riscos ocupacionais a que estão sujeitos e propondo medidas de prevenção e intervenção. A pesquisa se justifica pela necessidade de aprofundar o conhecimento sobre as condições de trabalho dessa categoria e os impactos na saúde, especialmente em um contexto onde os serviços de atendimento pré-hospitalar estão sob crescente demanda. Além disso, a literatura existente, apesar de abordar os riscos ocupacionais em diversas áreas da saúde, carece de um foco específico nos motoristas de ambulância, o que torna o presente estudo uma contribuição significativa para o campo da saúde ocupacional.
A problemática central deste estudo está na escassez de pesquisas focadas nos riscos específicos enfrentados pelos motoristas de ambulância, uma categoria de trabalhadores que, embora desempenhe um papel essencial na cadeia de atendimento de urgência, continua sendo amplamente ignorada em termos de políticas de saúde ocupacional. A ausência de intervenções eficazes para prevenir doenças e lesões relacionadas ao trabalho, bem como a falta de um suporte psicológico adequado para lidar com as situações de estresse intenso, são questões que precisam ser abordadas urgentemente. Portanto, o artigo propõe analisar os principais fatores de risco, identificar as doenças mais comuns entre os motoristas de ambulância e sugerir estratégias para a promoção da saúde e a mitigação dos riscos ocupacionais.
A metodologia adotada neste estudo será a pesquisa bibliográfica, com uma análise detalhada das publicações existentes sobre riscos ocupacionais no serviço de atendimento móvel de urgência e saúde mental dos profissionais envolvidos. A revisão integrativa será a estratégia principal para compilar e sintetizar as informações sobre os riscos específicos enfrentados pelos motoristas de ambulância, a fim de proporcionar uma visão abrangente sobre a temática. A pesquisa será realizada por meio de uma análise crítica das fontes disponíveis, com ênfase nos estudos realizados em contextos similares, como o atendimento pré-hospitalar em áreas de risco e a análise dos impactos psicossociais em ambientes de alta pressão. As referências bibliográficas selecionadas para este trabalho incluirão artigos que abordam tanto os riscos físicos quanto os psicológicos a que os motoristas de ambulância estão expostos, como os estudos de Chassot (2010), Dal Pai et al. (2015), Fernandes (2021), Tonezer e Cordenuzzi (2021), entre outros.
O objetivo geral deste estudo é investigar os riscos ocupacionais enfrentados pelos motoristas de ambulância e os impactos na sua saúde física e mental. Para atingir esse objetivo, serão estabelecidos os seguintes objetivos específicos: 1) identificar os principais riscos ocupacionais associados à função de motorista de ambulância; 2) analisar as doenças físicas mais prevalentes entre os motoristas de ambulância, como problemas musculoesqueléticos e lesões decorrentes da postura inadequada; 3) examinar os impactos psicológicos do trabalho, incluindo o estresse, a síndrome de Burnout e os transtornos relacionados ao trauma, como o transtorno de estresse pós-traumático (TEPT); 4) propor medidas de prevenção e intervenções para melhorar a saúde ocupacional dos motoristas de ambulância, com foco em programas de ergonomia, apoio psicológico e capacitação para o enfrentamento do estresse.
A relevância deste estudo está diretamente ligada à possibilidade de promover uma mudança na abordagem das políticas de saúde ocupacional para os motoristas de ambulância. Considerando a especificidade dessa função e os riscos únicos aos quais esses profissionais estão expostos, é fundamental que se criem protocolos de segurança mais robustos, programas de capacitação em saúde mental e medidas preventivas que possam mitigar os efeitos nocivos das condições de trabalho. Além disso, os resultados deste estudo podem contribuir para a construção de um ambiente de trabalho mais seguro e saudável, garantindo que os motoristas de ambulância desempenhem suas funções com mais qualidade de vida, o que, por sua vez, refletirá na melhoria do atendimento de emergência e na eficácia do sistema de saúde como um todo.
Em suma, o presente estudo se propõe a aprofundar o conhecimento sobre os riscos ocupacionais enfrentados pelos motoristas de ambulância, oferecendo um olhar atento e detalhado sobre as doenças e condições de trabalho que esses profissionais enfrentam no cotidiano. Ao investigar as implicações físicas e psicológicas dessa profissão, espera-se contribuir para a construção de políticas públicas mais eficazes no campo da saúde ocupacional, promovendo, assim, a saúde e o bem-estar desses trabalhadores essenciais no contexto da saúde pública brasileira.
REFERENCIAL TEÓRICO
A atuação dos motoristas de ambulância, parte fundamental da equipe de emergência no atendimento pré-hospitalar, é marcada por riscos ocupacionais substanciais, que envolvem desde a exposição a perigos físicos e biológicos até a sobrecarga psicológica causada pela natureza do trabalho. Este contexto impõe um desafio significativo para os profissionais que, ao longo de suas jornadas, desempenham funções críticas na estabilização de pacientes em situações extremas. A relevância desse tema, portanto, reside na necessidade urgente de uma compreensão mais profunda sobre os riscos específicos aos quais esses trabalhadores estão expostos, e como tais fatores impactam sua saúde física, psicológica e, por consequência, sua qualidade de vida. O estudo desses riscos ocupa um lugar central na saúde ocupacional, especialmente porque a literatura atual ainda carece de uma análise mais detalhada sobre os motoristas de ambulância, muitas vezes tratados genericamente como parte de um espectro mais amplo de trabalhadores da saúde.
O transporte de pacientes em ambulâncias ocorre sob condições que frequentemente são caracterizadas pela alta pressão e imprevisibilidade. De acordo com Chassot (2010), o risco ocupacional nesse contexto se amplia pela intensidade das tarefas que os motoristas precisam executar, aliadas ao estresse físico e emocional de conduzir sob situações de risco. O tráfego intenso, o tempo limitado para atender às demandas das emergências, além da responsabilidade de conduzir com agilidade e segurança, são fatores que contribuem para uma carga de trabalho psicofísica intensa. Além disso, esses profissionais estão sujeitos a um número considerável de fatores de risco, como problemas musculoesqueléticos relacionados à postura inadequada durante a condução e a falta de ergonomia nos veículos de emergência, o que pode levar a dores crônicas e comprometimentos mais sérios da saúde. A exposição prolongada ao esforço físico, combinada ao movimento constante de aceleração e frenagem, agrava ainda mais esse quadro, levando muitos motoristas a desenvolverem problemas nas articulações e nas costas.
O estresse psicológico também ocupa um papel central nas doenças ocupacionais enfrentadas por esses trabalhadores. A situação de urgência e a necessidade de tomar decisões rápidas sob pressão, como destaca Tonezer e Cordenuzzi (2021), tornam o trabalho dos motoristas de ambulância um dos mais exigentes dentro do setor da saúde. A constante exposição ao sofrimento humano, ao risco de acidentes fatais e à pressão pela eficiência no transporte de pacientes em estado grave, contribui para o desgaste mental e emocional. A síndrome de Burnout, identificada por Zanin e Angonese (2019), é uma das condições psicológicas mais prevalentes entre motoristas de ambulância, que, em face do desgaste emocional excessivo e da sobrecarga de responsabilidades, acabam por desenvolver um distanciamento afetivo em relação ao seu trabalho, o que pode comprometer ainda mais sua saúde mental. A falta de recursos adequados de apoio psicológico e a escassez de programas de gestão do estresse nas instituições de saúde contribuem significativamente para o agravamento desses quadros.
Além disso, há o risco de doenças psicossociais, como os transtornos de estresse pós-traumático (TEPT), que podem resultar da exposição constante a cenas traumáticas durante o atendimento a pacientes gravemente feridos ou que venham a falecer. Esses transtornos, que afetam a capacidade de adaptação ao ambiente de trabalho e a qualidade de vida dos profissionais, muitas vezes são negligenciados pelas instituições, que não oferecem suporte adequado para a saúde mental dos motoristas de ambulância. A evidência de que o estresse pós-traumático é uma preocupação recorrente entre esses trabalhadores é corroborada por Lóss et al. (2020), que enfatizam a relação direta entre o estresse no ambiente de trabalho e o surgimento de transtornos psicológicos entre os profissionais de saúde, incluindo motoristas de ambulância. A exposição constante a situações extremas, como acidentes fatais e atendimento a pacientes em estado grave, são fatores que não apenas afetam o bem-estar emocional desses profissionais, mas também sua capacidade de tomar decisões rápidas e seguras durante as emergências.
A relação entre os riscos ocupacionais e a saúde dos motoristas de ambulância vai além da questão psicológica e física. A literatura também aponta para a exposição a agentes biológicos, uma vez que esses trabalhadores têm contato frequente com materiais contaminados durante os atendimentos. A possibilidade de exposição a fluidos corporais de pacientes, como sangue e secreções respiratórias, coloca os motoristas de ambulância em uma posição vulnerável, especialmente em um ambiente onde a rotina é repleta de acidentes e situações de grande risco para os pacientes, muitos dos quais podem estar portando doenças infecciosas transmissíveis. Nascimento et al. (2016) destacam que a combinação de fatores, como a falta de precauções adequadas e o uso inconsistente de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), pode aumentar a probabilidade de infecção entre esses profissionais, resultando no contágio por doenças como hepatite e HIV.
Em um estudo recente realizado por Fernandes (2021), durante a pandemia de SARS-CoV-2, a exposição a agentes biológicos se intensificou, aumentando os riscos ocupacionais para todos os profissionais de saúde, incluindo motoristas de ambulância. A escassez de EPIs adequados e a necessidade de atendimento imediato a pacientes com possíveis infecções complicaram ainda mais as condições de trabalho desses profissionais. A pandemia, com suas consequências devastadoras, não apenas expôs os motoristas de ambulância a um risco biológico ampliado, mas também intensificou o estresse psicológico e emocional devido à pressão adicional imposta pela situação de crise sanitária, afetando diretamente sua saúde mental e física.
Ademais, os motoristas de ambulância são frequentemente submetidos a longas jornadas de trabalho, muitas vezes sem intervalos adequados para descanso, o que pode levar a uma exaustão física e mental considerável. A falta de descanso adequado é um fator que contribui para o aumento da probabilidade de acidentes de trânsito envolvendo ambulâncias. O estresse e a fadiga resultantes de jornadas longas e extenuantes impactam a capacidade de concentração desses profissionais, tornando-os mais suscetíveis a erros durante o transporte de pacientes. A pesquisa de Dal Pai et al. (2015) destaca que as equipes de atendimento pré-hospitalar móvel, incluindo motoristas de ambulância, estão expostas a uma carga de trabalho significativa, o que eleva o risco de acidentes e lesões, tanto para os trabalhadores quanto para os pacientes que estão sendo transportados. A vulnerabilidade desses profissionais se reflete na alta taxa de acidentes no trânsito envolvendo ambulâncias, um problema que necessita de atenção urgente por parte das autoridades de saúde.
Neste contexto, é imprescindível a implementação de políticas de saúde ocupacional que abordem de forma específica os riscos aos quais os motoristas de ambulância estão expostos. A promoção da saúde mental e a melhoria das condições ergonômicas, por exemplo, são fundamentais para mitigar os impactos negativos associados à profissão. Além disso, o treinamento para o uso adequado de EPIs, a criação de protocolos de segurança e o apoio psicológico constante são medidas que podem reduzir a prevalência de doenças ocupacionais e melhorar a qualidade de vida desses trabalhadores. O estudo de Tonezer e Cordenuzzi (2021) sugere que a introdução de programas de prevenção de estresse e estratégias de adaptação ao trabalho são fundamentais para a preservação da saúde mental desses profissionais, permitindo que eles possam desempenhar suas funções com mais eficiência e menos impacto emocional.
A análise da saúde ocupacional dos motoristas de ambulância, portanto, exige uma abordagem holística que leve em consideração não apenas os riscos físicos, mas também os aspectos psicológicos e psicossociais envolvidos. As medidas preventivas devem ser desenhadas de forma integrada, incluindo a avaliação dos fatores ergonômicos, a proteção contra a exposição a agentes biológicos e a oferta de suporte psicológico adequado. Nesse sentido, a literatura sobre o tema, como demonstrado pelos estudos de Chassot (2010), Dal Pai et al. (2015) e Nascimento et al. (2016), aponta para a necessidade de uma mudança significativa nas práticas de saúde ocupacional para os motoristas de ambulância, a fim de garantir que esses profissionais possam continuar desempenhando seu papel essencial de forma segura e saudável.
Em suma, os motoristas de ambulância, que atuam na linha de frente do sistema de saúde, estão expostos a uma gama de riscos ocupacionais que comprometem sua saúde física e mental. A compreensão aprofundada desses riscos, juntamente com a implementação de políticas de prevenção e cuidado, é essencial para melhorar as condições de trabalho desses profissionais e garantir sua qualidade de vida. O aprimoramento da saúde ocupacional, como sugerido pelos diversos estudos revisados, é uma necessidade urgente, que, ao beneficiar os motoristas de ambulância, também impacta diretamente na qualidade do atendimento prestado à população em emergências.
RISCOS OCUPACIONAIS E IMPACTOS NA SAÚDE DOS MOTORISTAS DE AMBULÂNCIA
A profissão de motorista de ambulância, parte integral da equipe de atendimento pré-hospitalar, representa uma das funções mais exigentes no setor da saúde. Essas condições de trabalho são caracterizadas por uma série de riscos ocupacionais que, além de impactarem diretamente a saúde física e psicológica desses profissionais, têm implicações significativas tanto no desempenho da função quanto no bem-estar geral dos trabalhadores. A literatura científica sobre a saúde ocupacional desses trabalhadores, no entanto, ainda é escassa, o que gera a necessidade urgente de aprofundar o conhecimento sobre os múltiplos riscos a que estão expostos, para que se possa adotar medidas preventivas e corretivas adequadas que visem a sua saúde e segurança.
Entre os riscos mais evidentes para os motoristas de ambulância, destacam-se os fatores físicos, como as lesões musculoesqueléticas e os distúrbios relacionados à postura inadequada. O trabalho desses profissionais exige que permaneçam por longos períodos em posições que não favorecem a ergonomia, como ocorre durante as horas de condução do veículo. A repetição constante de movimentos, a pressão nas articulações e a falta de suporte adequado no interior das ambulâncias, como observou Chassot (2010), contribuem para o surgimento de dores crônicas e outros problemas musculares. Além disso, a exposição a vibrações e ruídos constantes, causados pelo movimento do veículo, pode gerar problemas auditivos e musculares, afetando ainda mais a qualidade de vida desses trabalhadores. O diagnóstico precoce de distúrbios musculoesqueléticos pode prevenir complicações mais sérias, mas a falta de sistemas de monitoramento de saúde ocupacional e a falta de programas de prevenção são fatores que agravam o quadro de saúde dos motoristas de ambulância.
O risco de acidentes também é uma preocupação recorrente. O fato de os motoristas de ambulância estarem frequentemente sob pressão para transportar pacientes em tempo recorde, atravessando ruas congestionadas e enfrentando condições de trânsito imprevisíveis, aumenta consideravelmente a probabilidade de acidentes de trânsito. A fadiga, combinada com o estresse físico e psicológico, também contribui para a redução da atenção e da capacidade de reação, tornando esses profissionais mais vulneráveis. Tonezer e Cordenuzzi (2021) abordam a questão da segurança no trânsito no contexto do atendimento móvel de urgência, destacando a importância de treinamentos específicos que capacitem os motoristas a lidarem com as situações de risco enquanto preservam sua segurança e a dos pacientes. A exposição a acidentes de trânsito também envolve riscos relacionados aos próprios pacientes, cujas condições de saúde podem ser agravadas pelo trauma adicional causado por colisões ou frenagens bruscas.
Outro risco substancial relacionado ao trabalho dos motoristas de ambulância é a exposição a agentes biológicos. Embora os motoristas não sejam os principais responsáveis pelo atendimento direto aos pacientes, a dinâmica do transporte de vítimas e o contato com ambientes hospitalares contaminados tornam-nos vulneráveis a infecções. O transporte de pessoas com doenças infecciosas, como tuberculose, HIV, hepatite e outras patologias transmissíveis, aumenta a probabilidade de contaminação, especialmente quando não há cuidados adequados com a higienização dos veículos e uso correto dos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs). Dal Pai et al. (2015) ressaltam que, apesar dos motoristas de ambulância não estarem diretamente envolvidos com os procedimentos médicos, sua proximidade com os pacientes e os ambientes de atendimento coloca-os em risco. A exposição a sangue e outros fluidos corporais durante o transporte de vítimas, por exemplo, pode resultar na transmissão de doenças se não forem seguidas as precauções necessárias. A importância da implementação de protocolos rígidos de segurança e higiene no atendimento pré-hospitalar é uma questão vital para a saúde desses profissionais.
No entanto, os riscos físicos e biológicos não são os únicos desafios enfrentados pelos motoristas de ambulância. A pressão emocional e psicológica que esses profissionais sofrem diariamente é igualmente significativa. A constante exposição a cenários traumáticos, como acidentes fatais e condições graves de saúde dos pacientes, coloca os motoristas em uma situação de vulnerabilidade psicológica. A necessidade de manter a calma e tomar decisões rápidas em situações extremas exige grande resiliência emocional. A pressão contínua para prestar um atendimento rápido e eficiente, somada à convivência com cenas de sofrimento humano, torna esses trabalhadores suscetíveis ao estresse crônico. Como apontado por Zanin e Angonese (2019), a síndrome de Burnout é um fenômeno comum entre motoristas de ambulância, e é caracterizada pelo esgotamento físico e emocional, além do distanciamento afetivo do trabalho. Essa condição compromete a capacidade de realizar tarefas com eficácia, além de afetar a saúde mental dos trabalhadores, resultando em distúrbios como ansiedade e depressão.
O impacto psicológico no trabalho dos motoristas de ambulância é ainda mais intenso em tempos de crise, como foi observado por Lóss et al. (2020) durante a pandemia da Covid-19. A tensão e o aumento da carga de trabalho, somados ao medo de contaminação e ao risco de transmissão do vírus, resultaram em uma situação de estresse psicológico extremo para os profissionais de saúde, incluindo motoristas de ambulância. As altas demandas, a falta de recursos, a pressão por resultados rápidos e a escassez de medidas de apoio psicológico nas instituições de saúde contribuem para o agravamento de quadros psicológicos entre os trabalhadores. A sobrecarga emocional gerada por essas circunstâncias pode afetar a saúde mental de maneira irreversível, contribuindo para o desenvolvimento de transtornos psiquiátricos mais graves, que impactam não só a vida profissional, mas também a qualidade de vida pessoal dos motoristas de ambulância.
Outro ponto importante a ser destacado é a saúde mental dos motoristas, especialmente em relação ao transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), que é uma consequência comum de situações altamente traumáticas e que afeta muitos profissionais da saúde, incluindo os motoristas de ambulância. A exposição constante a cenas de acidentes graves, mortes e emergências, como descrito por Nascimento et al. (2016), pode desencadear o TEPT, que se caracteriza por flashbacks, insônia, pesadelos, irritabilidade e uma reatividade emocional exacerbada. A falta de apoio psicológico adequado e a insuficiência de políticas de cuidado mental para esses profissionais tornam o ambiente de trabalho ainda mais arriscado, pois os motoristas não têm os recursos necessários para lidar com o trauma acumulado. Nesse sentido, a implementação de programas de apoio psicológico, com suporte especializado para os motoristas, é essencial para mitigar os efeitos do estresse e prevenir o desenvolvimento de doenças mentais graves.
A combinação de fatores de risco físico, biológico e psicológico coloca os motoristas de ambulância em uma posição de vulnerabilidade, e exige uma abordagem integrada e cuidadosa por parte das autoridades de saúde e das instituições de atendimento pré-hospitalar. A criação de políticas de saúde ocupacional que abordem de maneira abrangente todos os riscos enfrentados por esses trabalhadores é crucial para garantir sua saúde e segurança. A falta de políticas adequadas de prevenção e de apoio ao trabalhador, combinada com as condições de trabalho extenuantes, coloca os motoristas de ambulância em risco constante de adoecer ou de sofrer acidentes. A proposta de Tonezer e Cordenuzzi (2021) de implementar estratégias de prevenção de estresse e capacitação para lidar com situações de risco é uma das alternativas que pode contribuir para a saúde ocupacional desses trabalhadores, proporcionando-lhes ferramentas para enfrentar o estresse e melhorar sua qualidade de vida no trabalho.
Dessa forma, a promoção da saúde dos motoristas de ambulância envolve uma série de medidas preventivas e corretivas que visam não apenas a proteção física contra lesões, mas também o cuidado com a saúde mental e emocional desses profissionais. A introdução de protocolos mais eficazes de segurança, o treinamento contínuo para o uso adequado dos EPIs, a revisão das condições de ergonomia nos veículos e o apoio psicológico constante são medidas essenciais para reduzir os riscos ocupacionais e melhorar as condições de trabalho. Além disso, as autoridades de saúde devem estabelecer uma rede de apoio mais robusta para garantir que os motoristas de ambulância tenham os recursos necessários para lidar com os desafios emocionais e físicos da profissão, promovendo, assim, um ambiente de trabalho mais saudável e seguro. A implementação dessas medidas não só melhorará a saúde dos motoristas, mas também contribuirá para a melhoria do atendimento prestado à população, garantindo que os profissionais possam realizar suas funções com mais eficácia, segurança e qualidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A conclusão do presente artigo reforça a relevância da análise dos riscos ocupacionais enfrentados pelos motoristas de ambulância e seus impactos na saúde física, psicológica e social desses profissionais. Ao longo deste estudo, foi possível compreender que esses trabalhadores estão expostos a uma combinação de fatores de risco que afetam diretamente sua qualidade de vida e seu desempenho profissional. A falta de estratégias adequadas de prevenção e cuidado, tanto em relação aos riscos físicos, como as lesões musculoesqueléticas e a exposição a vibrações e agentes biológicos, quanto aos aspectos psicológicos, como o estresse crônico e a síndrome de Burnout, destaca a urgência de ações mais eficazes no campo da saúde ocupacional.
A partir da revisão das literaturas de Chassot (2010), Dal Pai et al. (2015), Tonezer e Cordenuzzi (2021), Zanin e Angonese (2019), entre outros, ficou evidente que as condições de trabalho dos motoristas de ambulância são particularmente desafiadoras, sendo os fatores de risco frequentemente amplificados pela pressão das emergências, a falta de descanso adequado e o contato contínuo com cenários traumáticos. Isso compromete, além da saúde física e mental desses trabalhadores, a qualidade do atendimento de emergência prestado à população, refletindo diretamente na eficiência do sistema de saúde como um todo.
As evidências apontam para a necessidade urgente de políticas públicas e práticas institucionais que contemplem um cuidado mais abrangente com a saúde desses profissionais, que desempenham uma função essencial na linha de frente da saúde pública. A implementação de medidas de prevenção, como a melhoria das condições ergonômicas, o treinamento contínuo para o uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), o apoio psicológico e a criação de ambientes de trabalho mais seguros, são passos essenciais para a promoção da saúde e segurança dos motoristas de ambulância.
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