Por Trás Das Páginas: Como o material Rioeduca da prefeitura do Rio de Janeiro traz a educação ambiental para o diálogo entre educador e educando no cotidiano escolar

BEHIND THE PAGES: HOW THE RIOEDUCA MATERIAL FROM THE CITY OF RIO DE JANEIRO BRINGS ENVIRONMENTAL EDUCATION INTO THE DIALOGUE BETWEEN EDUCATOR AND STUDENT IN THE SCHOOL ENVIRONMENT

DETRÁS DE LAS PÁGINAS: CÓMO EL MATERIAL RIOEDUCA DE LA ALCALDÍA DE RÍO DE JANEIRO LLEVA LA EDUCACIÓN AMBIENTAL AL DIÁLOGO ENTRE EDUCADOR Y EDUCANDO EN EL ÁMBITO ESCOLAR

Autor

Cintia Neves de Oliveira Ribeiro
ORIENTADOR
 Profª Drª Simone Aparecida Marendaz

URL do Artigo

https://iiscientific.com/artigos/B180EC

DOI

Ribeiro, Cintia Neves de Oliveira . Por Trás Das Páginas: Como o material Rioeduca da prefeitura do Rio de Janeiro traz a educação ambiental para o diálogo entre educador e educando no cotidiano escolar. International Integralize Scientific. v 5, n 46, Abril/2025 ISSN/3085-654X

Resumo

Este artigo propõe uma análise crítica do material Rioeduca, disponibilizado pela Prefeitura do Rio de Janeiro como principal ferramenta de apoio pedagógico alinhada à Base Nacional Comum Curricular (BNCC). O estudo tem como objetivo compreender de que forma a educação ambiental é abordada nas páginas oficiais da prefeitura, investigando as perspectivas teóricas e metodológicas adotadas, as possíveis lacunas existentes e o impacto dessas escolhas na prática pedagógica. Fundamentado na legislação vigente, como a Constituição Federal de 1988 e a Lei nº 9.795/1999, atualizada pela Lei nº 14.926/2024, o trabalho ressalta a importância de uma educação ambiental contínua, interdisciplinar e crítica, capaz de contribuir para a formação cidadã e consciente dos educandos. A pesquisa busca, ainda, fomentar reflexões sobre a construção de políticas públicas educacionais que promovam práticas transformadoras, especialmente diante dos desafios impostos pelas mudanças climáticas, perda de biodiversidade e desastres socioambientais cada vez mais recorrentes.
Palavras-chave
Educação Ambiental. Políticas Públicas. Rioeduca. Prática Pedagógica. Sustentabilidade.

Summary

This article proposes a critical analysis of the Rioeduca material, made available by the Municipality of Rio de Janeiro as the main pedagogical support tool aligned with the National Common Curricular Base (BNCC). The study aims to understand how environmental education is addressed on the municipality’s official platforms, investigating the theoretical and methodological perspectives adopted, existing gaps, and the impact of these choices on pedagogical practice. Based on current legislation, such as the Brazilian Federal Constitution of 1988 and Law No. 9.795/1999, updated by Law No. 14.926/2024, the paper highlights the importance of continuous, interdisciplinary, and critical environmental education, capable of contributing to the civic and conscious formation of students. The research also seeks to encourage reflection on the development of public educational policies that promote transformative practices, especially in the face of challenges posed by climate change, biodiversity loss, and increasingly frequent socio-environmental disasters.
Keywords
Environmental Education. Public Policies. Rioeduca. Pedagogical Practice. Sustainability.

Resumen

Este artículo propone un análisis crítico del material Rioeduca, puesto a disposición por el Ayuntamiento de Río de Janeiro como la principal herramienta de apoyo pedagógico alineada con la Base Nacional Común Curricular (BNCC). El estudio tiene como objetivo comprender cómo se aborda la educación ambiental en las plataformas oficiales del ayuntamiento, investigando las perspectivas teóricas y metodológicas adoptadas, las posibles lagunas existentes y el impacto de estas elecciones en la práctica pedagógica. Basado en la legislación vigente, como la Constitución Federal de Brasil de 1988 y la Ley nº 9.795/1999, actualizada por la Ley nº 14.926/2024, el trabajo resalta la importancia de una educación ambiental continua, interdisciplinaria y crítica, capaz de contribuir a la formación ciudadana y consciente de los estudiantes. La investigación también busca fomentar reflexiones sobre la construcción de políticas públicas educativas que promuevan prácticas transformadoras, especialmente frente a los desafíos impuestos por el cambio climático, la pérdida de biodiversidad y los desastres socioambientales cada vez más frecuentes.
Palavras-clave
Educación Ambiental. Políticas Públicas. Rioeduca. Práctica Pedagógica. Sostenibilidade.

INTRODUÇÃO

“Não é possível pensar em educação sem amor. Amoroso, porém, não significa ingênuo, mas responsável, comprometido com a causa da libertação.”

Paulo Freire

A Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999, estabelece diretrizes fundamentais para a educação ambiental no Brasil, promovendo uma importante discussão sobre a implementação de valores voltados à construção de uma vida saudável e sustentável no ambiente escolar e na sociedade como um todo. A norma traz a compreensão de que a educação ambiental não deve estar restrita às instituições de ensino, mas deve ser um processo permanente e abrangente, envolvendo toda a sociedade em suas diversas dimensões. Em 17 de julho de 2024, a legislação foi atualizada por meio da Lei nº 14.926, sancionada pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. Essa atualização incluiu temas contemporâneos de grande relevância, como as mudanças climáticas, a contenção da perda de biodiversidade e a prevenção de desastres ambientais, ampliando o alcance e a responsabilidade da educação ambiental nas políticas públicas brasileiras.

Art. 1º Esta Lei altera a Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999, para assegurar atenção às mudanças do clima, à proteção da biodiversidade e aos riscos e vulnerabilidades a desastres socioambientais no âmbito da Política Nacional de Educação Ambiental.

Art. 2º A Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999, passa a vigorar com as seguintes alterações:

Art. 5º VIII – o estímulo à participação individual e coletiva, inclusive das escolas de todos os níveis de ensino, nas ações de prevenção, de mitigação e de adaptação relacionadas às mudanças do clima e no estancamento da perda de biodiversidade, bem como na educação direcionada à percepção de riscos e de vulnerabilidades a desastres socioambientais;

IX – o auxílio à consecução dos objetivos da Política Nacional do Meio Ambiente, da Política Nacional sobre Mudança do Clima, da Política Nacional da Biodiversidade, da Política Nacional de Proteção e Defesa Civil, do Programa Nacional de Educação Ambiental e das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Ambiental, entre outros direcionados à melhoria das condições de vida e da qualidade ambiental. (Brasil, 2024)

A escola exerce um papel fundamental na formação integral do indivíduo, preparando-o para a vida em sociedade, para a convivência ética entre os seres humanos e para uma relação responsável com o meio ambiente em que está inserido. Nesse sentido, a instituição escolar configura-se como agente central de transformação da realidade, especialmente em contextos marcados por desigualdades sociais e crises socioambientais resultantes do modelo de produção capitalista. A intensificação de desastres ambientais, como ondas de calor extremas, chuvas intensas e alagamentos, evidencia a urgência de práticas educativas que transcendam a mera transmissão de informações. Nesse contexto, a educação ambiental assume o compromisso de promover a conscientização crítica, orientando o ser humano a adotar comportamentos e valores que contribuam para a sustentabilidade e para a manutenção da vida no planeta, assegurando condições dignas de existência para as gerações presentes e futuras. Essa perspectiva está em consonância com o artigo 225 da Constituição Federal, que dispõe: “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado […], cabendo ao Poder Público promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente” (BRASIL, 1988).

Diante de toda essa responsabilidade atribuída à escola, é imprescindível direcionar um olhar atento e cuidadoso àqueles que tornam a educação possível. No interior de uma unidade escolar, diversos profissionais sustentam os pilares do processo educativo; entretanto, destaca-se o papel central do docente, que dedica horas ao ensino de valores, saberes e deveres fundamentais à formação cidadã. Para que a temática ambiental seja efetivamente incorporada à prática pedagógica, é necessário que as escolas contem com suporte adequado, evitando que a educação ambiental se restrinja a ações pontuais ou datas comemorativas. Segundo (Santos, 2024): “Cabe à escola, portanto, desempenhar essa importante função de permitir aos estudantes a reflexão sobre as práticas sustentáveis e, consequentemente, a de atingir os que estão fora dos muros do ambiente escolar.”

As mudanças climáticas por exemplo, cujos impactos são cada vez mais visíveis e graves, exigem um compromisso contínuo e estruturado. Nesse sentido, a educação ambiental deve ser abordada de forma interdisciplinar, permeando todas as áreas do conhecimento. Além disso, é essencial que os materiais didáticos ofereçam suporte consistente, tratando a temática com a relevância e a profundidade que ela requer, de modo a contribuir para a formação crítica e consciente dos educandos.

O material Rioeduca, disponibilizado pela Prefeitura do Rio de Janeiro, constitui-se como a principal ferramenta de apoio pedagógico, apresentando conteúdos alinhados à Base Nacional Comum Curricular (BNCC). No entanto, questiona-se se esse material efetivamente contempla e oferece suporte consistente aos educadores para o desenvolvimento da temática em sala de aula ou se apresenta a educação ambiental de maneira fragmentada e superficial. Nesse sentido, justifica-se o presente trabalho pela necessidade de analisar criticamente o material Rioeduca do 1º ao 5º ano do ensino fundamental, buscando compreender de que forma a educação ambiental é abordada nas páginas oficiais da prefeitura, quais perspectivas teóricas e metodológicas são privilegiadas, quais lacunas se fazem presentes e de que maneira essas escolhas impactam o ambiente escolar e a prática pedagógica no seu cotidiano. 

Assim como acontecimentos de outros países, como inovações tecnológicas, conferências internacionais sobre o clima, campanhas globais de sustentabilidade, avanços em cidades inteligentes ou até mesmo movimentos de ativistas como o Fridays for Future , ganham destaque por seu caráter pitoresco e por servirem como vitrines que contribuem para a homogeneização cultural, a valorização do entorno local na educação ambiental também deve ser vista como um conceito-chave para a promoção de pequenas mudanças. Embora tais eventos globais gerem visibilidade e estabeleçam referências, partir do cotidiano, do ambiente em que a vida realmente acontece como escolas, comunidades e espaços públicos pode ser mais significativo para transformar o pensamento racional do que esperar por ações grandiosas ou distantes da realidade imediata.

O mundo do tempo real, do just-in-time, é aquele subsistema da realidade total que busca sua lógica nessa mencionada racionalidade única, cuja criação é, todavia, limitada, atributo de um pequeno número de agentes. O mundo do cotidiano é também o da produção ilimitada de outras racionalidades, que são, aliás, tão diversas quanto as áreas consideradas, já que abrigam todas as modalidades de existência. (SANTOS, 2020) 

Dessa forma, estudar e conhecer os problemas ambientais locais torna-se essencial, pois permite que a educação ambiental dialogue com a realidade próxima dos indivíduos, fortalecendo o vínculo entre conhecimento e prática cotidiana. Ao reconhecer as especificidades do território e valorizar as racionalidades existentes, é possível promover mudanças efetivas no comportamento e na percepção ambiental das comunidades, estimulando soluções adequadas à sua própria realidade. Por isso o material oficial da prefeitura deve estar alinhado e atualizado com a realidade local e os acontecimentos a nível global que nos afetam diretamente.

A educação escolar tem o importante papel de integrar os conteúdos à compreensão e à participação ativa da dinâmica do espaço local, Essa aproximação resulta em melhor apreensão dos conteúdos escolares e em maior valorização do lugar, pelo conhecimento desse espaço e o desenvolvimento de atividades de cunho socioambiental. A inclusão do espaço local na prática educacional abre oportunidades, desde a manutenção e a extensão de áreas preservadas até a recuperação de áreas degradadas, assim como ade criar novos instrumentos para a troca de saberes, com base na integração de diferentes agentes sociais. (SANTOS, 2024)

ANÁLISE DO MATERIAL RIOEDUCA NA APLICAÇÃO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO COTIDIANO ESCOLAR

“O espaço educativo é aquele onde emerge a construção. Ou não é nada.”

   Vera Candau

A crescente complexidade das questões socioambientais tem impulsionado a inserção da educação ambiental como componente fundamental nos processos formativos, especialmente no contexto da educação básica. Frente aos desafios impostos pelas mudanças climáticas, pela degradação ambiental e pelas desigualdades no acesso aos recursos naturais, torna-se urgente promover práticas pedagógicas que desenvolvam nos estudantes uma consciência crítica e uma postura ética diante do meio em que vivem. Nesse cenário, a escola se firma como espaço estratégico para a formação de sujeitos capazes de compreender e transformar a realidade, sendo o material didático uma das principais ferramentas nesse processo.

Como educadores, devemos ter sempre presente que conscientização ambiental é muito mais que campanhas, programas e projetos, geralmente envolvendo temas como lixo, água, poluição, como se fossem demandas isoladas. O que devemos despertar na comunidade escolar é o fato de que a biodiversidade é muito importante, mais importante é que somos uma espécie que compõem esta biodiversidade. (REIGOTA, 2008)

Na rede pública municipal do Rio de Janeiro, os materiais didáticos produzidos e distribuídos por meio do programa RioEduca desempenham papel central na mediação do conhecimento em sala de aula. Tais materiais orientam o planejamento docente, organizam os conteúdos escolares e influenciam diretamente a forma como os temas transversais, como a educação ambiental, são incorporados ao cotidiano educativo. No entanto, a presença da temática ambiental nesses materiais não garante, por si só, a efetiva formação crítica dos alunos em relação às questões ecológicas. É preciso analisar em que medida os conteúdos propostos dialogam com a realidade dos estudantes e favorecem a construção de práticas pedagógicas significativas.

Diante disso, vamos analisar o material didático do RioEduca com foco na abordagem da temática ambiental e sua aplicação no cotidiano escolar. Busca-se compreender de que forma os conteúdos relacionados à educação ambiental são apresentados, se há articulação entre teoria e prática e em que medida esses materiais contribuem para o desenvolvimento de uma educação comprometida com a sustentabilidade e com a valorização do entorno local. A investigação parte da premissa de que a efetivação da educação ambiental depende não apenas da presença do tema nos materiais, mas da sua capacidade de se integrar à vivência escolar de forma crítica, contextualizada e transformadora.

MATERIAL RIOEDUCA 2025 – 1º ANO

Ao analisar o material didático RioEduca 2025 destinado ao 1º ano do Ensino Fundamental, observa-se que a temática da educação ambiental ocupa um espaço reduzido diante da extensão total da obra. Composto por 392 páginas e adotado como principal recurso pedagógico ao longo de todo o ano letivo, o material dedica apenas quatro páginas (290 a 293) a conteúdos diretamente relacionados à sustentabilidade. Nessa seção, o tema central sugerido para a atuação docente é a reutilização de materiais recicláveis, o que limita o escopo da abordagem ambiental a práticas pontuais de reaproveitamento. Na página 292, há a inserção de um breve texto que menciona os princípios de “reduzir, reciclar, reutilizar e repensar”, contudo, essa é a única referência explícita à educação ambiental em todo o livro. Tal abordagem pontual evidencia a fragilidade da inserção do tema no currículo, sinalizando a ausência de uma perspectiva transversal e contínua que permita integrar as questões ambientais ao cotidiano escolar de forma crítica e significativa.

A limitação do tratamento da educação ambiental a apenas algumas páginas do material didático contraria as diretrizes dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), que estabelecem a temática ambiental como um dos temas transversais fundamentais para a formação cidadã. Segundo (GUIMARÃES, 2004), a educação ambiental não deve se restringir à transmissão de informações pontuais, mas promover uma leitura crítica da realidade e estimular a construção de valores, atitudes e práticas sustentáveis no cotidiano escolar. Da mesma forma, (SAUVÉ, 2005) argumenta que uma abordagem efetiva da educação ambiental precisa ser contínua, contextualizada e integrada aos diversos campos do conhecimento, permitindo que o aluno perceba as inter-relações entre sociedade, natureza e cultura.

No caso do material analisado, a escolha por abordar exclusivamente o conceito de reutilização de materiais recicláveis, sem articulação com outras dimensões da sustentabilidade como a justiça ambiental, o consumo consciente, a preservação da biodiversidade ou os impactos socioeconômicos da degradação ambiental evidencia uma visão reducionista da temática. Ainda que a inclusão dos quatro R’s (reduzir, reutilizar, reciclar e repensar) represente um avanço simbólico, a ausência de continuidade e aprofundamento impede a consolidação de uma consciência ecológica crítica nos anos iniciais da formação escolar. Essa abordagem fragmentada contribui para uma percepção distanciada e superficial dos problemas ambientais, limitando a capacidade do estudante de relacionar os conteúdos escolares com sua realidade e com os desafios concretos do mundo contemporâneo.

MATERIAL RIOEDUCA 2025 – 2º ANO

No material didático do 2º ano do programa RioEduca, a temática da sustentabilidade e da educação ambiental é abordada com um pouco mais de frequência em comparação ao livro do 1º ano. Composto por 392 páginas e organizado de forma interdisciplinar, integrando conteúdos de História, Ciências e Geografia, o material dedica algumas seções específicas à abordagem ambiental. No entanto, a presença da temática continua sendo pontual e fragmentada, com conteúdos distribuídos apenas nas páginas 237, 298, 341, 348 e 349. Na página 237, a abordagem gira em torno dos problemas ambientais urbanos, tendo como foco as chuvas intensas que ocorrem na cidade do Rio de Janeiro. O texto menciona os alagamentos, o descarte inadequado de lixo e as doenças decorrentes dessa prática, vinculando os impactos ambientais diretamente à saúde humana e à infraestrutura urbana. Já na página 298, é apresentada uma breve discussão sobre a interação entre o ser humano e a natureza, utilizando como exemplo a Quinta da Boa Vista no bairro histórico de São Cristóvão, destacada como um importante parque urbano destinado ao lazer em família. No entanto, a relação do ser humano com o meio ambiente é tratada de forma superficial, restringindo-se à descrição do espaço como um local de visitação, sem integrar criticamente a presença humana como parte do ecossistema.

A página 341 retoma a temática com o título “Cuidados com o meio ambiente”, mencionando pontos de coleta seletiva para o descarte correto de resíduos sólidos, mas restringindo-se à reciclagem como dado informativo, sem problematizações mais amplas sobre o consumo ou os ciclos dos materiais. Por fim, as páginas 348 e 349 abordam o consumo consciente, trazendo orientações básicas como não deixar torneiras abertas, apagar luzes desnecessárias e evitar o desperdício de recursos. Apesar da relevância das recomendações, o tratamento do conteúdo permanece descontextualizado, sem aprofundar as implicações sociais, econômicas e ambientais do consumo.

Assim, embora o material do 2º ano apresente maior incidência de conteúdos relacionados à educação ambiental em relação ao 1º ano, sua abordagem continua sendo esporádica, com ênfase em atitudes individuais e comportamentos corretivos, sem avançar para uma reflexão crítica, interdisciplinar e contínua, conforme preconizado pelos Parâmetros Curriculares Nacionais sobre o meio ambiente.

MATERIAL RIOEDUCA 2025 – 3º ANO

No material didático do 3º ano do programa RioEduca, observa-se uma estrutura pedagógica segmentada por disciplinas, sem articulação clara entre os componentes curriculares, o que contraria a proposta de interdisciplinaridade recomendada para o tratamento da educação ambiental enquanto tema transversal. Ao longo da análise das diferentes áreas do conhecimento, constata-se que a abordagem da temática ambiental é pontual, descontextualizada e desprovida de continuidade ao longo dos bimestres, o que compromete sua efetiva integração ao processo formativo.

Na área de Língua Portuguesa, cujo conteúdo se estende da página 8 à 79, a temática ambiental aparece apenas na página 68, por meio de uma manchete do jornal Extra que trata da reutilização de materiais recicláveis transformados em instrumentos musicais. Apesar de se tratar de um projeto cultural relevante, sua inclusão está limitada ao trabalho com o gênero textual “notícia”, sem aprofundamento conceitual ou articulação com outras disciplinas. Na página 70, a temática reaparece brevemente em um cartaz que apresenta o uso de cores nos recipientes para separação de resíduos recicláveis, sendo novamente uma menção pontual, sem desdobramentos didáticos significativos. Já na área de Matemática, que compreende da página 84 à 165, não há qualquer menção à temática ambiental, evidenciando a ausência de um esforço interdisciplinar no tratamento da sustentabilidade.

Em Ciências, cujo conteúdo se estende das páginas 168 a 217, a única ocorrência da temática ambiental está na página final do capítulo, por meio de uma abordagem sobre o consumo consciente. Ainda que o tema seja pertinente, sua presença limitada a uma única página demonstra uma falta de continuidade e aprofundamento no desenvolvimento de competências socioambientais. Por outro lado, a disciplina de Geografia, que abrange as páginas 222 a 278, apresenta um maior número de referências à educação ambiental. A temática surge na página 238 com o conceito de práticas sustentáveis, seguido da página 241 com a tipologia das formas de poluição, da página 248 com práticas sustentáveis voltadas à melhoria da qualidade de vida, da página 250 com o tratamento de resíduos, da página 255 com a coleta seletiva, da página 256 com o conceito de sustentabilidade, e da página 262 com modos de vida sustentáveis. Ainda que essas menções sejam relevantes, elas se concentram em uma única disciplina, o que reforça a fragmentação do tratamento pedagógico do tema.

Por fim, na disciplina de História, cujos conteúdos vão da página 280 à 329, não há qualquer menção à temática ambiental. A ausência de referências nessa área compromete a articulação temporal e social da problemática ambiental com os processos históricos, perdendo-se a oportunidade de explorar como as ações humanas ao longo do tempo impactaram o meio ambiente. Esse panorama demonstra que, apesar de ser um tema transversal previsto nos Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998), a sustentabilidade não é tratada de forma interdisciplinar no material do 3º ano. A abordagem continua sendo isolada, superficial e, em muitos casos, apenas ilustrativa, dificultando o desenvolvimento de uma consciência ambiental crítica e integrada no cotidiano escolar.

MATERIAL RIOEDUCA 2025 – 4º ANO

A análise do material didático do 4º ano do programa RioEduca evidencia, mais uma vez, o tratamento fragmentado da temática ambiental, contrariando a perspectiva de transversalidade prevista nos Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998). A organização do conteúdo por disciplinas, aliada à ausência de articulação entre elas, compromete uma abordagem crítica e interdisciplinar da sustentabilidade, reduzindo o tema a menções pontuais em áreas específicas do conhecimento.

Na disciplina de Língua Portuguesa, cujos conteúdos se estendem das páginas 8 a 106, a temática da educação ambiental está completamente ausente. Não há qualquer texto, poesia, notícia ou proposta de atividade que dialogue com a problemática socioambiental contemporânea. A omissão da sustentabilidade nessa área, que possui grande potencial formativo por meio da leitura crítica de mundo, representa uma lacuna importante no processo de sensibilização e conscientização dos alunos. A situação se repete na disciplina de Matemática (p. 110–189), onde a temática ambiental não é sequer mencionada, revelando a ausência de propostas que utilizem dados ambientais como contexto para o desenvolvimento de habilidades matemáticas.

Na disciplina de Ciências, que vai da página 194 à 244, a educação ambiental aparece somente nas páginas 244 e 245, com uma abordagem focada na importância de reciclar e reutilizar materiais. A restrição da temática a essas práticas, embora relevantes, limita a compreensão mais ampla e crítica das relações entre sociedade, natureza e ciência, comprometendo o desenvolvimento de uma consciência ecológica mais complexa. Já na disciplina de Geografia (p. 248–296), o conteúdo apresenta algumas inserções significativas: a página 273 traz um pequeno texto informativo sobre unidades de conservação; a página 278 discute a evolução do crescimento urbano com base em uma comparação fotográfica do centro da cidade do Rio de Janeiro entre os anos de 1580 e 1988; as páginas 284 e 285 abordam a poluição dos rios e a importância de cuidar da água; por fim, a página 286 trata do consumo consciente. Ainda que pontuais, essas referências demonstram um esforço de aproximação entre os conteúdos geográficos e os desafios ambientais contemporâneos.

A disciplina de História, que compreende da página 302 a 398, apresenta, em comparação com os anos anteriores, uma abordagem mais ampla da relação entre o ser humano e o meio ambiente. A página 319 introduz a conexão entre homem e natureza; a página 320 destaca que cuidar da natureza é uma prática ancestral; a página 321 trata do crescimento urbano e seus impactos sobre o meio ambiente; a página 328 aborda a importância da preservação das florestas e os benefícios que elas proporcionam ao ambiente; e, por fim, a página 329 discute a necessidade de preservar os recursos hídricos. Apesar dessas inserções, a abordagem continua sucinta, carecendo de aprofundamento crítico e de articulação com os demais componentes curriculares.

Dessa forma, constata-se que, embora o material do 4º ano avance pontualmente na inserção de conteúdos ligados à sustentabilidade, especialmente nas áreas de Geografia e História, o tratamento do tema permanece fragmentado, disciplinarmente isolado e, em muitas situações, meramente ilustrativo. A ausência de uma perspectiva integradora e contínua fragiliza o desenvolvimento de uma educação ambiental efetiva, comprometida com a formação de cidadãos conscientes e atuantes diante dos desafios ambientais do século XXI.

MATERIAL RIOEDUCA 2025 – 5º ANO

A análise do material didático do 5º ano do programa RioEduca evidencia, mais uma vez, a fragilidade da abordagem da educação ambiental, tema essencial no contexto educacional do século XXI. Apesar das diretrizes nacionais que propõem a sustentabilidade como eixo transversal no currículo escolar (BRASIL, 1998), observa-se que a maior parte do conteúdo segue uma lógica disciplinar compartimentalizada e desarticulada, em que a temática ambiental aparece de forma pontual, superficial ou é totalmente silenciada.

Na disciplina de Língua Portuguesa, cujos conteúdos abrangem da página 10 à 103 e contemplam os quatro bimestres do ano letivo, não há qualquer menção à temática da sustentabilidade ou à discussão de questões ambientais atuais. Trata-se de uma omissão significativa, considerando o potencial formativo da linguagem na construção de uma consciência crítica e na problematização de temas urgentes da contemporaneidade. Da mesma forma, a disciplina de Matemática, que se estende da página 108 à 190, não contempla em nenhuma de suas unidades qualquer referência à educação ambiental, perdendo a oportunidade de contextualizar os conteúdos numéricos a partir de dados ambientais, como consumo de recursos, produção de resíduos ou indicadores climáticos.

A disciplina de Ciências, por outro lado, apresenta o tratamento mais expressivo da temática, entre as páginas 202 e 254. Nela, o conteúdo contempla questões relevantes como a preservação da água (p. 206), a relação entre os seres humanos e os oceanos (p. 212), a abordagem dos cinco Rs da sustentabilidade (reduzir, reutilizar, reciclar, repensar e recusar) e o aproveitamento integral dos alimentos (p. 248), bem como a separação adequada de resíduos sólidos com vistas à proteção do planeta (p. 250). Além disso, a página 256 retoma a importância da preservação da água, inserida dentro da explicação sobre o ciclo hidrológico. Essas abordagens demonstram um esforço no sentido de ampliar o escopo ambiental da disciplina, ainda que faltem conexões interdisciplinares com os demais componentes curriculares.

Em contrapartida, a disciplina de Geografia, que vai da página 258 à 304, não estabelece uma ponte entre os conteúdos clássicos da área — como clima, relevo e vegetação — e as problemáticas ambientais contemporâneas. A ausência de uma discussão crítica sobre o impacto das ações humanas na transformação do espaço geográfico e na degradação dos ecossistemas representa uma limitação no tratamento pedagógico do tema. Por fim, a disciplina de História, que compreende da página 314 à 363, também não contempla a educação ambiental em nenhuma de suas unidades, desconsiderando a possibilidade de reflexão sobre os processos históricos de ocupação do território, industrialização, urbanização e suas consequências ambientais.

Dessa forma, constata-se que, embora a disciplina de Ciências avance na inserção de conteúdos ligados à sustentabilidade, o material do 5º ano do RioEduca permanece marcado por uma abordagem fragmentada, sem articulação entre os componentes curriculares e sem o aprofundamento necessário para a formação de uma consciência ambiental crítica. A ausência da temática em disciplinas com alto potencial reflexivo, como Língua Portuguesa, Geografia e História, compromete o desenvolvimento de uma visão integrada do meio ambiente e evidencia o distanciamento entre o discurso da transversalidade e a prática efetiva no material didático analisado.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As análises realizadas ao longo deste trabalho evidenciaram que a abordagem da educação ambiental nos materiais didáticos do programa RioEduca, utilizados do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental, é marcada por fragmentações, superficialidades e ausência de integração entre as disciplinas. Embora a temática da sustentabilidade esteja prevista como conteúdo transversal nas diretrizes educacionais nacionais, sua efetivação nos livros didáticos ainda é limitada, esporádica e, muitas vezes, reduzida a menções pontuais desvinculadas do cotidiano dos estudantes.

Nos anos iniciais, sobretudo no 1º e 2º ano, a presença da temática ambiental é mínima, restringindo-se a tópicos como a reutilização de materiais recicláveis e o consumo consciente, sem aprofundamentos ou continuidade ao longo dos conteúdos. À medida que se avança nos anos escolares, observa-se um ligeiro aumento da presença do tema, com destaque para a disciplina de Ciências, que, em alguns volumes, aborda aspectos como preservação da água, impactos da poluição e práticas sustentáveis. Ainda assim, essa abordagem não se estende a todas as áreas do conhecimento, como Língua Portuguesa, Matemática, Geografia e História, que, em sua maioria, silenciam ou tratam de forma meramente ilustrativa as questões ambientais.

A ausência de uma perspectiva interdisciplinar compromete a formação crítica dos estudantes, uma vez que impede a construção de uma compreensão ampla e integrada dos problemas socioambientais contemporâneos. A educação ambiental, para além de conteúdos pontuais, exige um comprometimento pedagógico contínuo e articulado, que envolva diferentes áreas do saber e promova o engajamento dos alunos na construção de uma consciência ecológica e cidadã.

Dessa forma, conclui-se que os materiais do RioEduca ainda não incorporam plenamente a educação ambiental como eixo estruturante do processo educativo. Para que essa lacuna seja superada, é necessário revisar a organização e os conteúdos desses materiais, inserindo a temática de forma transversal, crítica e contextualizada, valorizando o entorno dos estudantes e promovendo reflexões que ultrapassem o discurso normativo e se transformem em práticas significativas no cotidiano escolar.

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Referencias

BAILEY, C. J.; LEE, J. H.
Management of chlamydial infections: A comprehensive review.
Clinical infectious diseases.
v. 67
n. 7
p. 1208-1216,
2021.
Disponível em: https://academic.oup.com/cid/article/67/7/1208/6141108.
Acesso em: 2024-09-03.

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v. 5
n. 46
Por Trás Das Páginas: Como o material Rioeduca da prefeitura do Rio de Janeiro traz a educação ambiental para o diálogo entre educador e educando no cotidiano escolar

Área do Conhecimento

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