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Resumo
INTRODUÇÃO
Ao nos depararmos com a palavra inteligência e a ideia por trás dela, é bastante provável que o que aconteça a seguir é fazermos relação com notas escolares, rendimento nos estudos, boletins de desempenho, diplomas, sucesso no trabalho e, até mesmo, testes de QI. Até certo ponto, não estamos errados em relacionar esses pontos uns com os outros, contudo, há muito mais por trás desse estereótipo sobre o que é esperado de pessoas inteligentes do que essa rasa noção da representação de intelectualidade.
Sabemos que é comum haver certa comparação de inteligência entre pessoas da mesma área, como colegas em uma escola e/ou profissionais atuando juntos em uma empresa de advocacia, e isso acontece como forma de saber quem é “o mais inteligente”. Esse tipo de situação, por muitas vezes, causa competição desnecessária, podendo levar a inimizades e desmotivação, por exemplo, o que atinge diretamente o emocional, o pessoal e o profissional das pessoas envolvidas. Dessa forma, o desempenho cai e logo assume-se que a pessoa não está mais capacitada em sua área.
De modo geral, esse aspecto intelectual do ser humano geralmente é tido como algo testável, palpável, visível e, geralmente, facilmente medido; porém, como é possível medir a inteligência de pessoas com diferentes históricos, habilidades, genética e interesses?
Assim, aspectos como os citados acima deveriam, também, ser levados em consideração, já que alteram e afetam diretamente como uma pessoa age, pensa, se expressa e resolve problemas. Não seria justo nem ideal, muito menos eficaz, comparar resultados de duas pessoas que foram criadas de formas diferentes, ou que não tiveram acesso aos mesmos benefícios, por exemplo.
Podemos usar como exemplo fictício uma comparação feita entre um músico e um matemático, onde é bem provável que um não consiga fazer o que o outro faz – pelo menos não com a mesma habilidade e eficiência, já que estudaram de forma aprofundada assuntos diferentes, e optaram por se dedicarem exclusivamente a algo (para que alcançassem a excelência).
Mesmo assim, poderíamos exemplificar a partir de casos de pessoas da mesma área, como dois biólogos. Em primeiro lugar, existem diversos campos dentro da biologia onde uma pessoa pode especializar-se; em segundo lugar, mesmo que tenhamos dois biólogos especializados na mesma área, teremos traços distintos de inteligência, uma vez que a absorção feita de algo que se é aprendido ocorre de maneira única em cada cérebro.
Então, como poderíamos dizer que uma pessoa é melhor ou mais inteligente que outra? Não podemos ignorar o fato de existirem pessoas sem interesse pelos estudos ou pelo aprofundamento de um assunto, mas nesse caso ainda não seria eficaz “medir” a inteligência de forma a comparar dois indivíduos, já que claramente teríamos uma pessoa interessada e outra não.
AS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS
A comparação entre coeficientes cognitivos é bastante corriqueira, como vimos. Incomodado com questões similares, em 1983, Howard Gardner, psicólogo de Harvard, trouxe a Teoria das Inteligências Múltiplas em seu livro “Mind: The Theory of Multiple Intelligences”, onde ele expõe a ideia de que as pessoas têm diferentes tipos de inteligência, indo da musical até a lógico/matemática. Essas inteligências, descritas por Alan Pritchard (2009, p. 34), são:
Ainda de acordo com Pritchard (2009), Gardner inicialmente descreveu apenas sete inteligências, porém mais tarde ele veio a acrescentar mais duas inteligências. Existem, ainda, outros dois nomes sendo considerados como possíveis inteligências, a espiritual e a moral, mas essas ainda são consideradas problemáticas.
Entender e aceitar que existem diferentes tipos de inteligências é fundamental para que possamos nos aperfeiçoar nesse assunto e, então, em certo ponto, estarmos aptos a usar esse conhecimento a favor de nossos alunos e da educação de modo geral.
Acredito já ser ultrapassada a idéia de testes de nivelamento, proficiência, QI (quociente de inteligência), e qualquer outro tipo de teste que sirva para medir a inteligência de uma pessoa de forma fechada, sem abertura para expandir o pensamento “fora da caixa”, um teste igual para todos; pessoas completamente diferentes umas das outras passando pela mesma prova.
É claro que em muitas situações, como em escolas de inglês, por exemplo, precisamos testar alunos para colocá-los na turma certa ou com o livro adequado, mas acontece muitas vezes de fazermos isso e com o tempo percebermos que o aluno simplesmente não corresponde ao que o resultado da proficiência nos mostrou, e nesses casos, a mudança acontece de forma mais fácil, pois é possível trocar o aluno de turma ou substituir o livro em questão sem afetar o aprendizado do aluno – ao menos não permanentemente.
No entanto, fazer um aluno repetir todo o ano letivo por não ter atingido a pontuação mínima em um teste, ou tirar a chance de ingresso de uma pessoa em uma universidade, no curso de Filosofia, por exemplo, por conta de algumas questões de matemática que estavam incorretas, são situações que desmotivam e que podem até traumatizar uma pessoa.
Essas formas de testagem de conhecimento não são tão eficazes, pelo menos não quando falamos em longo prazo, e ainda colocam a pessoa que está sendo submetida a eles em uma situação de grande pressão, podendo resultar na desmotivação com relação ao assunto em questão.
Esse tipo de teste que nos diz o quão inteligente ou não nós somos, acaba apenas por testar aspectos que foram decorados ou que estão frescos na memória, além de testarem apenas uma forma do intelecto do indivíduo, que geralmente é a linguística ou matemática, deixando de fora aspectos em que a pessoa expressaria melhor o seu conhecimento e potencial intelectual. Basicamente, os testes tradicionais que conhecemos não trazem uma forma que proporcione colocar o conhecimento como todos em prática.
Então, entramos com a teoria das múltiplas inteligências, que é um campo bastante complexo por tratar-se do cérebro humano, algo que quanto mais se explora, mais se descobre que há muito que não sabemos.
AS INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS NA SALA DE AULA
Quando discutimos sobre inteligências múltiplas, é possível, dentro das múltiplas inteligências, trabalhar com a interdisciplinaridade, trazendo, por exemplo, para as aulas de inglês, a matemática, a biologia, a física, a química, e até mesmo a educação física, fazendo com que os alunos se movimentem em um ambiente onde a língua inglesa está inserida.
Usar a arte em sala de aula para o aprendizado de uma segunda língua também pode ser eficaz. É possível ensinar desde cores e formas geométricas, até técnicas de desenho e perspectiva. Tudo em inglês.
Podemos abordar diversos tópicos gramaticais sem precisarmos encher um quadro com esquemas de regras e fazer os alunos usarem metade da aula copiando e a outra metade preenchendo lacuna. Não digo que esse método tradicional não funcione com aluno algum, pois pode funcionar, mas acredito que está na hora de mostrarmos para eles que existem outras formas de aprender, e que isso pode ajudá-los a explorar inteligências que eles mesmos desconhecem sobre si próprios.
De acordo com Gardner (2006), as inteligências múltiplas são: musical, corporal-sinestésica, lógico-matemática, linguística, espacial, interpessoal, intrapessoal e naturalista, sendo a última acrescentada após a primeira publicação das inteligências múltiplas. Além disso, nessa mesma obra, Gardner diz que segue com 8½ inteligências, já que ele não reconhece totalmente a inteligência existencial.
Ainda de acordo com Howard Gardner (2006), cada uma dessas inteligências tem um papel importante. A musical está relacionada à percepção e produção de música em certas partes do cérebro. Essas áreas são caracteristicamente localizadas no hemisfério direito, apesar de a habilidade musical não estar tão claramente localizada no cérebro como a linguagem natural, por exemplo.
A inteligência corporal-sinestésica está ligada ao controle do movimento do corpo, cuja localização é no córtex motor. Essa inteligência é usada para expressar sentimentos, como em uma dança, para jogos e esportes, e para criação de produtos novos, como uma invenção.
O processo de rápida resolução de problemas e, muitas vezes, sendo não verbal e quase “invisível” até mesmo para a pessoa que está realizando o processo de resolução, é a principal característica da inteligência lógico-matemática, que muitas vezes é a base de testes de QI.
Algumas áreas do cérebro são mais proeminentes a cálculos matemáticos do que outras. Inclusive, de acordo com Gardner (2006), evidências sugerem que as áreas linguísticas nos lobos frontal e temporal são mais importantes para a dedução lógica, e as áreas visual/espaciais nos lobos parietal e frontal, para cálculos numéricos. E o verdadeiro mecanismo que fornece o caminho para a solução de problemas ainda não foi completamente compreendido pelos pesquisadores.
A aplicação da teoria das múltiplas inteligências em sala de aula oferece uma abordagem diversificada que reconhece e valoriza a variedade de habilidades cognitivas dos alunos. Ao incorporar a teoria de Gardner e sua perspectiva no ensino, os educadores podem adaptar suas estratégias pedagógicas para atender às diferentes formas de inteligência dos alunos.
A diversificação das atividades em sala de aula, alinhadas às diferentes inteligências, não apenas estimula o engajamento dos estudantes, mas também fortalece a aquisição da língua inglesa, como canções e ritmo, podem ser particularmente eficazes para alunos com a inteligência musical mais desenvolvida. Da mesma forma, abordagens que valorizam a dimensão interpessoal podem incluir práticas de comunicação e colaboração, enriquecendo a experiência de aprendizado. Ao incorporar essa teoria, os educadores não apenas ampliam as oportunidades de sucesso para os alunos, mas também contribuem para um ambiente educacional que respeita e celebra a diversidade de talentos e habilidades cognitivas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Aprofundar-me na Teoria das Inteligências Múltiplas e explorar suas potencialidades para transformar a educação tem sido o objetivo central deste trabalho. Ao longo do desenvolvimento do estudo, ficou claro que a aplicação dessa teoria pode não apenas proporcionar uma visão mais ampla sobre as capacidades cognitivas humanas, mas também contribuir para um ambiente educacional mais inclusivo, saudável e eficaz.
A Teoria das Inteligências Múltiplas, proposta por Howard Gardner, propõe um olhar mais abrangente sobre o que constitui a inteligência, desafiando as abordagens tradicionais que se baseiam em métricas rígidas como o QI. Ao considerar as múltiplas facetas da inteligência humana, é possível enxergar os alunos sob uma perspectiva mais holística, valorizando suas diferenças e adaptando o ensino para atender às suas necessidades e potenciais.
Na prática, existem inúmeras formas de colocar a teoria em ação dentro das salas de aula. Uma das maneiras mais simples, porém, eficazes, de integrar as inteligências múltiplas no ensino de uma segunda língua, como o inglês, é a incorporação de diferentes abordagens pedagógicas que envolvam várias inteligências ao mesmo tempo. Por exemplo, ao ensinar um aspecto gramatical em uma aula de inglês, podemos utilizar músicas. A música, um meio com grande potencial para envolver alunos com a inteligência musical, pode ser uma excelente ferramenta para explicar pontos gramaticais de forma descontraída e lúdica.
Em vez de seguir o método tradicional, em que as regras gramaticais são apresentadas no quadro e os alunos se limitam a preencher lacunas em uma folha, a música oferece uma forma mais dinâmica e envolvente de explorar o conteúdo. Essa abordagem não apenas torna o aprendizado mais prazeroso, mas também permite que os alunos internalizem a estrutura gramatical de maneira mais natural, associando-a a algo que eles já apreciam e dominam, como a música.
Além disso, a música ativa outras inteligências, como a inteligência linguística, ao promover o reconhecimento de padrões linguísticos, e a inteligência interpessoal, ao possibilitar discussões em grupo sobre o conteúdo da canção. Essa integração de diferentes áreas do conhecimento e das diversas formas de inteligência é uma das principais características de um ensino baseado nas múltiplas inteligências, que valoriza tanto a aprendizagem cognitiva quanto a afetiva.
Ao aplicar a teoria das inteligências múltiplas de maneira mais concreta, podemos também observar o impacto positivo na motivação dos alunos. Em vez de simplesmente decorar regras e procedimentos que logo serão esquecidos, os alunos passam a experimentar diferentes formas de aprender, o que não só facilita a retenção de conteúdo, mas também amplia suas habilidades cognitivas e sociais. Nesse sentido, a aprendizagem se torna mais profunda e significativa, contribuindo para o desenvolvimento integral do aluno.
Acredito que a adoção de uma abordagem diversificada no ensino, respeitando as particularidades de cada aluno e as diferentes inteligências presentes em sala de aula, pode promover uma educação mais justa e eficaz. Para isso, é fundamental que os educadores se abram para novas possibilidades pedagógicas e estejam dispostos a desafiar os métodos tradicionais que, muitas vezes, não reconhecem as diversidades cognitivas e emocionais dos alunos. O papel do educador, nesse contexto, é o de facilitador da aprendizagem, oferecendo estratégias que possibilitem aos alunos explorar suas inteligências em diversas formas e contextos.
Portanto, ao refletir sobre as possibilidades que a Teoria das Inteligências Múltiplas oferece para a educação, é evidente que ela representa uma mudança paradigmática que pode transformar o processo de ensino-aprendizagem. O desafio, agora, é aplicar esses conceitos no cotidiano escolar, criando práticas pedagógicas que respeitem e potencializem as diversas inteligências dos alunos, proporcionando-lhes uma educação mais rica, diversificada e, sobretudo, significativa.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANTUNES, Celso. As inteligências múltiplas e seus estímulos. Campinas: Papirus, 2015.
ARMSTRONG, Thomas. Multiple Intelligences in the Classroom. Alexandria, VA: ASCD, 2009.
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GARDNER, Howard. Frames of Mind: The Theory of Multiple Intelligences. Nova York: Basic Books, 1983.
GARDNER, Howard. Multiple Intelligences. Nova York: Basic Books, 2006.
GARDNER, Howard. O verdadeiro, o belo e o bom redefinidos: novas diretrizes para a educação no século XXI. Rio de Janeiro: Rocco, 2012.
PRITCHARD, Alan. Ways of Learning: Learning Theories and Learning Styles in the classroom. Abingdon: Routledge, 2009.
STERNBERG, Robert. Beyond IQ: A Triarchic Theory of Human Intelligence. Nova York: Cambridge University Press, 1985.
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