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Resumo
INTRODUÇÃO
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição do neurodesenvolvimento caracterizada por dificuldades na comunicação, na interação social e por padrões de comportamento restritos e repetitivos. Dentre os desafios enfrentados por crianças com TEA, a seletividade alimentar se destaca como um dos mais recorrentes, podendo comprometer a nutrição, o crescimento e a qualidade de vida dessas crianças. Pesquisas indicam que essa seletividade pode estar diretamente relacionada ao Transtorno do Processamento Sensorial (TPS), uma condição que afeta a forma como os estímulos sensoriais são percebidos e processados pelo cérebro, tornando texturas, sabores e cheiros de certos alimentos intoleráveis para essas crianças. Diante disso, compreender a relação entre TPS e seletividade alimentar no TEA é essencial para o desenvolvimento de estratégias eficazes que possam minimizar os impactos desse comportamento alimentar restritivo.
A seletividade alimentar em crianças com TEA tem sido amplamente estudada, mas sua relação com o Transtorno do Processamento Sensorial ainda gera questionamentos sobre os mecanismos que a influenciam e sobre as melhores abordagens para minimizar seus impactos. Dessa forma, este estudo busca responder à seguinte questão: de que maneira o Transtorno do Processamento Sensorial influencia a seletividade alimentar em crianças com TEA e quais estratégias podem ser adotadas para melhorar a aceitação alimentar dessas crianças?
Assim, o objetivo geral deste estudo é analisar essa relação, identificando os principais fatores que contribuem para a recusa alimentar e investigando estratégias de intervenção que possam ampliar o repertório alimentar desses indivíduos. Para isso, pretende-se compreender as implicações do TPS no comportamento alimentar de crianças com TEA, identificar os desafios enfrentados por familiares e profissionais no manejo da seletividade alimentar, revisar as principais estratégias terapêuticas utilizadas para ampliar o repertório alimentar dessas crianças e discutir o papel da família e da escola no suporte à alimentação de crianças com TEA.
A relevância deste estudo se justifica pela necessidade de compreender melhor os fatores que influenciam a seletividade alimentar no TEA e de contribuir para a elaboração de estratégias que melhorem a aceitação alimentar e a qualidade de vida dessas crianças. A seletividade alimentar no TEA não se trata de uma simples recusa de alimentos, mas sim de uma dificuldade que pode resultar em déficits nutricionais graves e afetar a rotina familiar e escolar. Para pais e cuidadores, as refeições frequentemente se tornam momentos de tensão e frustração, podendo comprometer não apenas o desenvolvimento nutricional, mas também o emocional da criança.
No ambiente escolar, a alimentação restritiva pode dificultar a participação da criança nas atividades coletivas, aumentando seu isolamento social. Diante desses desafios, torna-se essencial a realização de estudos que aprofundem a relação entre TPS e seletividade alimentar, fornecendo subsídios teóricos e práticos para a formulação de intervenções mais eficazes.
Para alcançar os objetivos propostos, este estudo consiste em uma pesquisa bibliográfica de caráter exploratório e descritivo, baseada na revisão de literatura científica nacional e internacional sobre o tema. Foram analisados artigos acadêmicos, dissertações, teses e publicações em periódicos científicos indexados que abordam a relação entre TPS e seletividade alimentar no TEA. A seleção das fontes seguiu critérios de relevância, priorizando estudos publicados nos últimos dez anos, em língua portuguesa, que apresentem evidências sobre os impactos sensoriais na alimentação e as estratégias de intervenção disponíveis.
A abordagem adotada para a análise dos textos foi qualitativa, enfatizando a interpretação e a comparação dos dados obtidos nas fontes pesquisadas. Os resultados foram organizados em eixos temáticos, permitindo uma discussão estruturada sobre os fatores que influenciam a seletividade alimentar no TEA e as abordagens terapêuticas utilizadas para minimizar essa dificuldade.
Assim, espera-se que este estudo contribua para uma melhor compreensão da relação entre TPS e seletividade alimentar no TEA, auxiliando na formulação de estratégias eficazes para o manejo dessa condição. Além disso, busca-se reforçar a importância de uma abordagem multidisciplinar que envolva terapeutas ocupacionais, nutricionistas, educadores e famílias, garantindo um suporte adequado às crianças com seletividade alimentar. A ampliação do conhecimento sobre esse tema pode ser um passo fundamental para o desenvolvimento de intervenções mais assertivas, melhorando a qualidade de vida das crianças com TEA e de suas famílias.
TRANSTORNO DO PROCESSAMENTO SENSORIAL E SUAS IMPLICAÇÕES NO TEA
O Transtorno do Processamento Sensorial (TPS) é uma condição frequentemente observada em indivíduos com Transtorno do Espectro Autista (TEA), sendo caracterizado por dificuldades na modulação, integração e resposta a estímulos sensoriais. De acordo com Silva e Dias (2019), essas dificuldades podem impactar significativamente a interação social, o comportamento alimentar e a rotina diária da criança. O TPS pode se manifestar por hipersensibilidade, onde a criança apresenta respostas exageradas a estímulos como sons, luzes e texturas, ou por hipossensibilidade, quando há baixa percepção de estímulos ambientais.
Magagnin, Zanon e Seabra (2020) afirmam que as dificuldades no processamento sensorial podem comprometer diversas áreas do desenvolvimento infantil, interferindo na comunicação, aprendizagem e comportamento.
Segundo os autores:
O processamento sensorial atípico em crianças com TEA é um fator determinante para a seletividade alimentar. Muitas dessas crianças apresentam hipersensibilidade tátil e gustativa, o que pode levar à recusa de determinados alimentos devido à textura ou sabor. Essa condição impacta diretamente a qualidade da alimentação, podendo resultar em déficits nutricionais e dificuldades no desenvolvimento físico e cognitivo. Além disso, a evitação alimentar pode desencadear comportamentos de estresse e ansiedade tanto na criança quanto nos cuidadores, tornando as refeições um momento de grande desafio (Magagnin; Zanon; Seabra, 2020, p. 48).
Dessa forma, percebe-se que o TPS não apenas influencia a aceitação alimentar, mas também pode estar associado a dificuldades emocionais e comportamentais no contexto familiar e escolar. Mendes, Souza e Carvalho (2020) relatam que até 70% das crianças com TEA apresentam algum nível de disfunção sensorial, o que reforça a necessidade de um olhar atento para essas características no momento da avaliação clínica.
Segundo os autores:
A seletividade alimentar está diretamente relacionada às dificuldades no processamento sensorial. Crianças com TEA tendem a evitar alimentos com determinadas cores, texturas ou temperaturas, demonstrando extrema resistência a mudanças na dieta. Além disso, o comportamento alimentar pode ser influenciado por fatores ambientais, como ruídos ou iluminação intensa durante as refeições, que geram desconforto e aumentam a recusa alimentar (Mendes; Souza; Carvalho, 2020, p. 33).
No contexto das intervenções terapêuticas, a abordagem da Integração Sensorial tem sido amplamente utilizada para auxiliar crianças com TEA a melhorarem sua relação com os estímulos sensoriais. Vieira, Lima e Oliveira (2021) destacam que esse tipo de intervenção promove uma adaptação gradual a diferentes estímulos, contribuindo para a modulação sensorial e a aceitação alimentar.
Os autores afirmam que:
A Terapia de Integração Sensorial é baseada na exposição controlada da criança a estímulos sensoriais variados, permitindo que ela desenvolva maior tolerância a diferentes sensações. Quando aplicada a crianças com seletividade alimentar, essa abordagem tem se mostrado eficaz na introdução gradual de novos alimentos, pois possibilita a dessensibilização de estímulos adversos e reduz a ansiedade associada à alimentação (Vieira; Lima; Oliveira, 2021, p. 79).
Além da intervenção terapêutica, é fundamental que pais e educadores estejam preparados para lidar com as dificuldades sensoriais das crianças com TEA. Segundo Oliveira, Lima e Silva (2021), a adaptação do ambiente pode ser uma estratégia eficaz para minimizar os impactos do TPS na alimentação e no comportamento.
Para os autores:
Ambientes mais estruturados e previsíveis ajudam crianças com TEA a se sentirem mais confortáveis e seguras. No contexto alimentar, isso significa proporcionar refeições com pouca interferência sensorial, como redução de ruídos, iluminação suave e utensílios adequados para evitar estímulos desconfortáveis. A adaptação gradativa da rotina alimentar é essencial para melhorar a aceitação de novos alimentos” (Oliveira; Lima; Silva, 2021, p. 65).
A compreensão das dificuldades sensoriais no TEA também tem implicações na aprendizagem e no desenvolvimento social. De acordo com Silva et al. (2019), crianças que apresentam disfunção sensorial podem ter dificuldades em ambientes escolares, o que impacta diretamente sua participação em atividades educacionais.
Os autores ressaltam que:
Alterações sensoriais podem afetar não apenas o comportamento alimentar, mas também outras habilidades essenciais para o desenvolvimento da criança com TEA. Muitas dessas crianças apresentam dificuldades em ambientes com muitos estímulos sensoriais, como salas de aula movimentadas, o que pode comprometer sua concentração e engajamento nas atividades. A adaptação desses ambientes é fundamental para promover um aprendizado mais acessível e confortável (Silva et al., 2019, p. 29).
Diante dessas evidências, percebe-se que o TPS representa um desafio significativo para crianças com TEA, impactando não apenas a alimentação, mas também seu desenvolvimento geral. Estudos como os de Souza et al. (2020) enfatizam a importância de estratégias individualizadas para lidar com essas dificuldades, destacando que cada criança apresenta um perfil sensorial único e requer um plano de intervenção específico.
Os autores afirmam que:
A intervenção deve ser planejada de forma personalizada, considerando as necessidades sensoriais de cada criança. O trabalho interdisciplinar, envolvendo terapeutas ocupacionais, nutricionistas, fonoaudiólogos e educadores, é essencial para garantir um suporte abrangente e eficaz. Estratégias como exposição gradual, reforço positivo e modificação ambiental são fundamentais para ajudar crianças com TEA a ampliarem seu repertório alimentar e melhorarem sua relação com a alimentação (Souza et al., 2020, p. 42).
Por fim, a literatura reforça a importância da identificação precoce das dificuldades sensoriais no TEA para um melhor direcionamento das intervenções.
A SELETIVIDADE ALIMENTAR E SUAS MANIFESTAÇÕES EM CRIANÇAS COM TEA
A seletividade alimentar é uma característica comum entre crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), sendo um dos maiores desafios enfrentados por pais e profissionais de saúde. Estudos indicam que essa dificuldade pode ter origem em múltiplos fatores, incluindo aspectos sensoriais, comportamentais e gastrointestinais. Segundo Almeida et al. (2018), crianças com TEA demonstram maior resistência à introdução de novos alimentos, optando por um repertório alimentar restrito, o que pode comprometer a sua nutrição e desenvolvimento adequado.
Muitos desses indivíduos apresentam hipersensibilidade a sabores, texturas e temperaturas, levando a uma recusa persistente de certos grupos alimentares.
Mendes, Souza e Carvalho (2020) explicam que:
A hipersensibilidade gustativa e olfativa é um dos principais fatores responsáveis pela seletividade alimentar no TEA. Crianças afetadas frequentemente rejeitam alimentos com texturas irregulares ou sabores intensos, como frutas cítricas, vegetais fibrosos e carnes com gordura aparente. Essa aversão pode estar relacionada à forma como o cérebro dessas crianças processa estímulos sensoriais, tornando a experiência alimentar desconfortável e, em muitos casos, angustiante. Por consequência, a introdução de novos alimentos pode se tornar um grande desafio, exigindo estratégias terapêuticas que respeitem os limites individuais da criança (Mendes; Souza; Carvalho, 2020, p. 45).
A influência do comportamento alimentar nas crianças com TEA também está ligada à rigidez cognitiva, uma característica frequente nesses indivíduos. Oliveira, Lima e Silva (2021) destacam que a insistência em padrões fixos e previsíveis pode dificultar ainda mais a aceitação de novos alimentos, uma vez que essas crianças preferem rotinas alimentares repetitivas e evitam mudanças em suas refeições habituais.
Os autores afirmam que:
Muitas crianças com TEA apresentam resistência significativa à introdução de novos alimentos, o que pode levar a um ciclo de reforço negativo. A recusa persistente a diferentes grupos alimentares pode gerar preocupação entre os cuidadores e levar a estratégias inadequadas, como oferecer apenas os alimentos aceitos pela criança para evitar crises comportamentais. Esse padrão, no entanto, pode agravar a seletividade alimentar e dificultar ainda mais a diversificação alimentar a longo prazo (Oliveira; Lima; Silva, 2021, p. 72).
Outro fator relevante para a seletividade alimentar no TEA são os problemas gastrointestinais frequentemente associados a essa condição. Segundo Vieira et al. (2021), a incidência de refluxo, constipação e desconfortos abdominais pode contribuir para uma relação negativa com a alimentação, fazendo com que a criança evite determinados alimentos devido a experiências prévias de dor ou mal-estar.
Magagnin, Zanon e Seabra (2020) ressaltam a importância da exposição gradual a novos alimentos para ajudar a criança a superar a seletividade alimentar. No entanto, essa abordagem deve ser conduzida de forma estruturada e respeitosa, para evitar associações negativas com a alimentação.
Segundo os autores:
A exposição repetida a determinados alimentos pode contribuir para a aceitação gradual desses alimentos por crianças com TEA. Essa estratégia deve ser realizada de maneira controlada, sem pressões ou punições, respeitando as preferências e o tempo da criança. Em muitos casos, a simples presença do alimento no prato, sem a necessidade de consumi-lo imediatamente, já pode ser um passo importante para a aceitação futura. Técnicas de reforço positivo e modelagem também podem ser eficazes para incentivar a experimentação de novos alimentos (Magagnin; Zanon; Seabra, 2020, p. 53).
A influência do ambiente na alimentação de crianças com TEA também deve ser considerada. De acordo com Almeida (2020), o contexto alimentar pode impactar significativamente a aceitação de novos alimentos, sendo essencial evitar distrações e estímulos sensoriais excessivos durante as refeições.
O autor destaca que:
Ambientes mais estruturados e previsíveis ajudam crianças com TEA a se sentirem mais confortáveis e seguras. No contexto alimentar, isso significa proporcionar refeições com pouca interferência sensorial, como redução de ruídos, iluminação suave e utensílios adequados para evitar estímulos desconfortáveis. A adaptação gradativa da rotina alimentar é essencial para melhorar a aceitação de novos alimentos (Almeida, 2020, p. 108).
Dessa forma, a seletividade alimentar deve ser compreendida como um fenômeno multifatorial, que requer uma abordagem multidisciplinar para seu manejo adequado. Vieira et al. (2021) sugerem que o acompanhamento contínuo e o suporte às famílias são fundamentais para garantir que essas crianças recebam uma nutrição balanceada.
Por fim, Mendes et al. (2020) ressaltam a importância de abordagens terapêuticas integradas, considerando fatores sensoriais, comportamentais e nutricionais.
Segundo os autores:
A seletividade alimentar no TEA não deve ser tratada como uma simples fase ou uma preferência alimentar comum. Pelo contrário, é um desafio complexo que pode impactar negativamente a saúde e o desenvolvimento infantil. A intervenção deve ser planejada de forma individualizada, levando em consideração o perfil sensorial e comportamental de cada criança. O envolvimento de terapeutas ocupacionais, nutricionistas e fonoaudiólogos é essencial para garantir um suporte abrangente e eficaz (Mendes et al., 2020, p. 58).
Em suma, a seletividade alimentar em crianças com TEA é uma questão que envolve múltiplos fatores e que exige estratégias específicas para seu manejo. A adoção de intervenções baseadas na dessensibilização sensorial, na adaptação ambiental e no reforço positivo pode ser determinante para ampliar o repertório alimentar dessas crianças e garantir uma alimentação mais equilibrada.
ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO PARA O MANEJO DA SELETIVIDADE ALIMENTAR EM CRIANÇAS COM TEA
A seletividade alimentar em crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) exige uma abordagem multidisciplinar para minimizar seus impactos no desenvolvimento e na qualidade de vida. Segundo Oliveira, Lima e Silva (2021), “…as intervenções devem considerar os aspectos sensoriais, comportamentais e nutricionais da criança, garantindo uma abordagem individualizada e respeitosa.” (p. 98). A implementação de estratégias adequadas pode contribuir para a ampliação do repertório alimentar e a redução da resistência a novos alimentos.
Uma das abordagens mais eficazes no manejo da seletividade alimentar é a Terapia de Integração Sensorial, que busca melhorar a resposta da criança a diferentes estímulos sensoriais, incluindo aqueles relacionados à alimentação.
Magagnin, Zanon e Seabra (2020) explicam que:
A Terapia de Integração Sensorial tem sido amplamente utilizada para ajudar crianças com TEA a modularem suas respostas a estímulos sensoriais, promovendo maior aceitação alimentar. Durante as sessões, as crianças são gradualmente expostas a diferentes texturas, sabores e temperaturas, de forma lúdica e sem imposição, permitindo que desenvolvam maior tolerância a alimentos antes rejeitados. Essa abordagem tem mostrado resultados promissores, principalmente quando associada a estratégias de reforço positivo e ao envolvimento da família no processo terapêutico (Magagnin; Zanon; Seabra, 2020, p. 60).
Outra estratégia amplamente recomendada é a exposição gradual aos alimentos, uma técnica que consiste em apresentar repetidamente o alimento rejeitado de maneira não invasiva e sem pressão. Segundo Mendes, Souza e Carvalho (2020), a exposição repetida é um fator essencial para a aceitação alimentar, pois permite que a criança se familiarize com o novo alimento antes de consumi-lo.
Os autores destacam que:
Crianças com TEA podem precisar de uma média de 15 a 20 exposições a um novo alimento antes de aceitá-lo completamente. Esse processo deve ser conduzido de maneira cuidadosa, evitando pressões ou punições, pois associações negativas podem reforçar ainda mais a recusa alimentar. Estratégias como a modelagem, na qual a criança observa outras pessoas consumindo o alimento sem exigências imediatas, podem auxiliar nesse processo (Mendes; Souza; Carvalho, 2020, p. 74).
O reforço positivo é outra estratégia essencial para incentivar a experimentação alimentar. Pesquisas indicam que elogios e pequenas recompensas aumentam a motivação da criança para tentar novos alimentos, tornando a experiência alimentar mais prazerosa.
Vieira et al. (2021) ressaltam que:
O reforço positivo pode ser utilizado para incentivar comportamentos alimentares saudáveis em crianças com TEA. Pequenos incentivos, como elogios verbais, adesivos ou atividades prazerosas após a aceitação de um novo alimento, podem contribuir para uma maior motivação e participação da criança no processo de diversificação alimentar (Vieira et al., 2021, p. 85).
A reeducação alimentar por meio de estratégias lúdicas também pode ser uma alternativa eficaz. Algumas técnicas incluem o uso de brincadeiras com os alimentos, como pintar com purês de frutas ou criar figuras com os alimentos no prato.
Mendes et al. (2020) afirmam que:
A alimentação lúdica é uma abordagem inovadora que transforma a experiência alimentar em um momento de prazer e descoberta para a criança. Brincadeiras que envolvem os alimentos sem a necessidade de consumo imediato permitem que a criança se familiarize com novas cores, formas e texturas, reduzindo a resistência à experimentação. Além disso, o envolvimento da criança no preparo das refeições pode aumentar o interesse e a aceitação alimentar (Mendes et al., 2020, p. 83).
O suporte de uma equipe multidisciplinar, composta por nutricionistas, terapeutas ocupacionais e fonoaudiólogos, é fundamental para garantir um atendimento completo à criança com TEA.
Por fim, é importante lembrar que cada criança com TEA possui um perfil sensorial e comportamental único, o que torna essencial a individualização das estratégias de manejo da seletividade alimentar.
Como conclui Almeida (2020):
A seletividade alimentar no TEA deve ser abordada respeitando as características individuais de cada criança. Métodos rígidos ou coercitivos tendem a gerar ainda mais resistência, enquanto estratégias baseadas na adaptação gradual, no reforço positivo e no respeito às preferências sensoriais da criança podem promover avanços significativos. O suporte contínuo da família e de profissionais especializados é indispensável para garantir um progresso sustentável e uma alimentação mais equilibrada (Almeida, 2020, p. 120).
Dessa forma, fica evidente que o manejo da seletividade alimentar em crianças com TEA requer uma abordagem personalizada, integrando diferentes técnicas e contando com o envolvimento ativo da família e da equipe multidisciplinar. O sucesso da intervenção depende de um planejamento adequado, respeitando as necessidades individuais da criança e promovendo um ambiente seguro e positivo para a experimentação alimentar.
O PAPEL DA FAMÍLIA E DA ESCOLA NO SUPORTE À SELETIVIDADE ALIMENTAR NO TEA
O suporte da família e da escola é essencial para o desenvolvimento da criança com Transtorno do Espectro Autista (TEA), principalmente quando se trata da seletividade alimentar. Segundo Oliveira et al. (2021), o ambiente familiar e escolar influencia diretamente a relação da criança com a alimentação, sendo essencial que os cuidadores adotem estratégias que incentivem a aceitação de novos alimentos.
O envolvimento da família no processo de intervenção alimentar tem sido apontado como um fator determinante para o sucesso das estratégias terapêuticas. Vieira et al. (2021) destacam que “quando os pais participam ativamente das intervenções alimentares, há uma melhora significativa na aceitação de novos alimentos e na redução da resistência alimentar”. Além disso, é fundamental que os responsáveis compreendam que a recusa alimentar não é uma simples teimosia da criança, mas sim um comportamento baseado em dificuldades sensoriais e emocionais.
De acordo com Mendes et al. (2020):
O suporte da família no processo de diversificação alimentar é indispensável para que a criança se sinta segura ao experimentar novos alimentos. Estratégias como o consumo em conjunto da refeição, a oferta de porções pequenas e o estímulo positivo durante o ato alimentar são fundamentais para minimizar a resistência da criança. É importante também evitar o uso da alimentação como forma de punição ou recompensa, pois isso pode reforçar comportamentos negativos e intensificar a recusa alimentar (Mendes et al., 2020, p. 88).
Além do ambiente familiar, a escola desempenha um papel fundamental na construção de hábitos alimentares saudáveis. Segundo Almeida (2020), a adaptação do ambiente escolar e o treinamento dos profissionais para lidar com crianças com seletividade alimentar podem contribuir para a redução da recusa alimentar. A criação de uma rotina alimentar previsível e a oferta de alimentos variados de forma gradual são estratégias que ajudam na aceitação de novos alimentos.
Um dos principais desafios encontrados no contexto escolar é a dificuldade de adaptação da criança com TEA às refeições coletivas.
Oliveira, Lima e Silva (2021) explicam que:
Crianças com TEA podem apresentar dificuldades em ambientes com excesso de estímulos, como refeitórios escolares, o que pode interferir diretamente no comportamento alimentar. O ruído excessivo, a movimentação intensa e a presença de odores fortes podem gerar desconforto e levar à recusa alimentar. Dessa forma, a adaptação do ambiente, como a criação de espaços mais tranquilos para a alimentação, pode ser uma alternativa eficaz para reduzir a ansiedade e melhorar a experiência alimentar da criança” (Oliveira; Lima; Silva, 2021, p. 102).
O treinamento dos professores e demais profissionais da escola também é essencial para garantir um suporte adequado às crianças com TEA. Magagnin, Zanon e Seabra (2020) ressaltam que a falta de informação sobre seletividade alimentar pode levar a práticas inadequadas, como insistência excessiva para que a criança coma determinado alimento, o que pode gerar resistência e reforçar comportamentos de recusa.
A conscientização dos professores sobre as dificuldades alimentares das crianças com TEA é essencial para garantir um suporte adequado no ambiente escolar. Muitas vezes, a seletividade alimentar é erroneamente interpretada como um comportamento inadequado ou uma escolha da criança, o que pode resultar em abordagens punitivas ou coercitivas. O treinamento dos profissionais para reconhecer e respeitar essas dificuldades pode fazer a diferença no processo de aceitação alimentar (Magagnin; Zanon; Seabra, 2020, p. 65).
Outro fator importante para o sucesso da intervenção alimentar é a comunicação eficaz entre família e escola. Segundo Vieira et al. (2021), “a troca de informações entre pais e educadores sobre as dificuldades e preferências alimentares da criança é essencial para garantir um acompanhamento adequado”. Relatórios periódicos e reuniões entre os responsáveis e os profissionais da escola podem auxiliar na criação de estratégias alinhadas para promover uma alimentação mais variada.
Dessa forma, o papel da família e da escola no suporte à seletividade alimentar vai além da simples oferta de alimentos. É necessário um trabalho conjunto para criar um ambiente seguro e encorajador, permitindo que a criança se sinta motivada a experimentar novos alimentos sem pressões excessivas.
Como afirma Almeida (2020):
O sucesso da intervenção alimentar depende diretamente da parceria entre família e escola. Pais, professores e profissionais de saúde devem atuar em conjunto para garantir que a criança com TEA tenha oportunidades de desenvolver hábitos alimentares saudáveis de forma respeitosa e progressiva. Estratégias como o reforço positivo, a adaptação ambiental e o respeito ao tempo da criança são fundamentais para garantir avanços no processo de aceitação alimentar (Almeida, 2020, p. 120).
Por fim, é fundamental que a sociedade como um todo esteja mais informada sobre a seletividade alimentar no TEA, reduzindo estigmas e promovendo a inclusão. Campanhas de conscientização e capacitação de profissionais podem contribuir para que essas crianças recebam o suporte adequado tanto no ambiente doméstico quanto escolar.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
A análise dos estudos revelou que a seletividade alimentar em crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) está fortemente associada ao Transtorno do Processamento Sensorial (TPS). Os achados indicam que a hipersensibilidade sensorial desempenha um papel central na recusa de determinados alimentos, principalmente devido a texturas, sabores e temperaturas que geram desconforto. Segundo Mendes, Souza e Carvalho (2020), crianças com TEA frequentemente apresentam dificuldades em aceitar novos alimentos, o que pode comprometer sua nutrição e desenvolvimento.
Outro ponto identificado foi o impacto emocional e social da seletividade alimentar, afetando tanto a criança quanto sua família. Magagnin, Zanon e Seabra (2020) ressaltam que as refeições podem se tornar momentos de estresse e frustração para os cuidadores, especialmente quando há pressão para que a criança aceite alimentos que lhe causam desconforto sensorial. Esse comportamento alimentar restritivo também pode influenciar a interação social, já que eventos que envolvem refeições podem se tornar desafiadores para a criança com TEA.
Em relação às estratégias de intervenção, os estudos analisados apontam que a Terapia de Integração Sensorial e a exposição gradual aos alimentos são as abordagens mais eficazes para o manejo da seletividade alimentar. Vieira et al. (2021) indicam que a exposição repetida a um novo alimento pode aumentar a aceitação, desde que feita de forma respeitosa e sem imposições. Além disso, o reforço positivo demonstrou ser uma estratégia eficaz para incentivar a experimentação alimentar, contribuindo para a ampliação do repertório alimentar da criança.
No contexto escolar, identificou-se que a falta de adaptação do ambiente e o despreparo dos profissionais podem agravar a seletividade alimentar. Oliveira, Lima e Silva (2021) destacam que ruídos intensos, iluminação forte e cheiros fortes nos refeitórios escolares podem desencadear maior recusa alimentar em crianças com TEA. A adaptação desses ambientes, assim como o treinamento de professores e profissionais da alimentação, pode melhorar significativamente a aceitação alimentar nesses espaços.
Por fim, os achados evidenciaram que o suporte da família é essencial no processo de intervenção alimentar. Almeida (2020) ressalta que a participação dos pais e responsáveis na introdução de novos alimentos aumenta a chance de aceitação e reduz a resistência alimentar. Pais que recebem orientação profissional sobre estratégias alimentares específicas tendem a ter mais sucesso na ampliação do repertório alimentar de seus filhos.
Esses achados reforçam a importância de uma abordagem multidisciplinar, que envolva terapeutas ocupacionais, nutricionistas e educadores para garantir um suporte adequado à criança com TEA. A individualização das estratégias e a adaptação dos ambientes são fatores determinantes para o sucesso das intervenções alimentares.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo analisou a relação entre o Transtorno do Processamento Sensorial (TPS) e a seletividade alimentar em crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA), destacando os principais desafios enfrentados por essas crianças, suas famílias e os profissionais envolvidos. Os achados revelaram que a seletividade alimentar no TEA não é apenas uma questão de preferência alimentar, mas sim um fenômeno complexo influenciado por fatores sensoriais, comportamentais e ambientais. A compreensão desses fatores é essencial para a formulação de estratégias eficazes que minimizem os impactos da seletividade alimentar e promovam uma alimentação mais equilibrada.
As pesquisas analisadas indicaram que a hipersensibilidade sensorial é um dos principais determinantes da recusa alimentar em crianças com TEA. A dificuldade em tolerar texturas, sabores e temperaturas específicas pode gerar um repertório alimentar extremamente restrito, afetando diretamente a nutrição e o desenvolvimento da criança. Além disso, a seletividade alimentar pode se tornar um fator de estresse para as famílias, interferindo na dinâmica das refeições e dificultando a socialização em ambientes que envolvem alimentação. Dessa forma, torna-se imprescindível a adoção de abordagens terapêuticas que respeitem as particularidades sensoriais dessas crianças.
Os estudos também evidenciaram que a Terapia de Integração Sensorial e a exposição gradual aos alimentos são estratégias eficazes para ampliar o repertório alimentar das crianças com TEA. No entanto, para que essas abordagens sejam bem-sucedidas, é fundamental a participação ativa da família e da escola. Pais que recebem treinamento adequado sobre como lidar com a seletividade alimentar de seus filhos apresentam melhores resultados no processo de introdução alimentar. Da mesma forma, a adaptação do ambiente escolar e a capacitação dos professores podem contribuir significativamente para a aceitação alimentar e a inclusão das crianças com TEA nos momentos de refeição.
Apesar dos avanços na compreensão da seletividade alimentar no TEA, ainda há desafios a serem superados. A falta de profissionais especializados na área, a ausência de políticas públicas voltadas para essa questão e a desinformação sobre as dificuldades alimentares das crianças com TEA são obstáculos que precisam ser enfrentados. Investimentos em pesquisa, capacitação profissional e conscientização da sociedade são fundamentais para garantir um suporte mais adequado às crianças com seletividade alimentar e suas famílias.
Por fim, este estudo reforça a importância de um olhar multidisciplinar para a seletividade alimentar no TEA, considerando as especificidades de cada criança e promovendo intervenções baseadas em evidências científicas. A ampliação do conhecimento sobre o tema e o desenvolvimento de estratégias inovadoras podem contribuir significativamente para melhorar a qualidade de vida dessas crianças, garantindo que elas tenham acesso a uma alimentação mais variada, saudável e prazerosa.
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