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Resumo
INTRODUÇÃO
A educação inclusiva representa um compromisso essencial com a equidade e a justiça social ao buscar assegurar que todos os alunos, independentemente de suas habilidades ou necessidades especiais, tenham acesso a uma educação de qualidade. Dentro desse contexto, a diversidade de necessidades educativas especiais (NEE) impõe um desafio significativo para educadores, instituições e formuladores de políticas. As NEE ‘s abrangem um amplo espectro de condições, incluindo deficiências físicas, visuais, auditivas, intelectuais, transtornos do espectro do autismo (TEA) e transtornos de aprendizagem, cada uma exigindo abordagens pedagógicas e adaptações específicas.
A compreensão aprofundada dessa diversidade é crucial para o desenvolvimento de práticas educacionais que promovam a inclusão efetiva. As adaptações de materiais educativos desempenham um papel vital nesse processo, fornecendo os recursos necessários para que alunos com NEE possam participar plenamente das atividades escolares e alcançar seu máximo potencial. Essas adaptações variam desde a modificação de textos e livros, a utilização de tecnologias assistivas, até a implementação de recursos visuais e materiais manipulativos, todos projetados para atender às necessidades específicas de cada aluno.
Este artigo explora a diversidade das necessidades educativas especiais e discute as diversas estratégias e adaptações de materiais educativos necessárias para promover uma educação inclusiva. O objetivo é fornecer uma visão abrangente e prática das abordagens inclusivas, destacando a importância de um sistema educacional flexível e responsivo às necessidades de todos os alunos.
REVISÃO DE LITERATURA
DIVERSIDADE DE NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS
Deficiência Física: Inclui limitações ou dificuldades motoras ou no controle muscular, paralisia cerebral, amputações de pelo menos um dos membros, entre outros. No ambiente escolar, essas limitações podem impactar a participação plena do aluno em atividades acadêmicas e sociais, exigindo adaptações específicas para garantir que eles tenham acesso igualitário à educação.
A deficiência física pode variar amplamente em termos de gravidade e manifestações. Sendo suas principais expressões: Paralisia cerebral, que é caracterizada por uma condição neurológica que pode afetar a mobilidade, o equilíbrio e a coordenação. Pode variar de leve a grave, com alguns indivíduos precisando de dispositivos de assistência para se mover; Amputações, que tratam da perda de um ou mais membros, seja congênita ou adquirida e que pode afetar a mobilidade e a capacidade de realizar certas tarefas; Distrofias Musculares, que são doenças genéticas que causam fraqueza progressiva dos músculos, afetando a mobilidade e outras funções físicas; Lesão Medular, condição causada por danos à medula espinhal que podem resultar em paralisia parcial ou total, dependendo da gravidade e da localização da lesão; Artrite Juvenil – condição que causa inflamação das articulações, levando a dor, rigidez e, em alguns casos, dificuldades de movimento.
Deficiência Visual: Refere-se a uma redução ou perda significativa da capacidade de enxergar, que não pode ser completamente corrigida com o uso de óculos, lentes de contato, medicamentos ou cirurgia. A deficiência visual pode variar de leve a profunda e inclui tanto a baixa visão quanto a cegueira total. É uma condição que pode afetar pessoas de todas as idades, com impactos significativos na vida cotidiana, na educação, no trabalho e nas interações sociais.
Esta deficiência pode ser referente a Baixa Visão, com perda significativa da visão que não pode ser corrigida completamente com lentes, mas algum grau de visão útil ainda está presente. Pessoas com este quadro podem ter dificuldades para ler, reconhecer rostos ou realizar tarefas diárias, mesmo com a melhor correção visual possível; Cegueira Legal – termo utilizado em alguns países para definir critérios específicos de visão que classificam uma pessoa como “cega” para efeitos legais e de benefícios. Geralmente, considera-se cega legalmente a pessoa cuja acuidade visual no melhor olho, com a melhor correção, é de 20/200 ou pior, ou que tenha um campo visual restrito a 20 graus ou menos; e por fim, Cegueira Total – referindo-se à ausência completa de visão, impossibilitando a pessoa a perceber luz ou formas.
Deficiência Auditiva: Trata da perda parcial ou total da capacidade de ouvir, que pode variar de leve a profunda. Essa condição pode ter um impacto significativo na vida de um estudante, influenciando o desenvolvimento da linguagem, a comunicação, o aprendizado e a socialização. No ambiente escolar, onde a comunicação oral é frequentemente a principal forma de interação, as barreiras criadas pela deficiência auditiva podem ser desafiadoras. No entanto, com as adaptações adequadas e o suporte necessário, os estudantes com deficiência auditiva podem ter uma experiência educacional rica e inclusiva.
As perdas auditivas podem ser: Auditiva Condutiva, gerada quando o som não é adequadamente conduzido através do canal auditivo externo até o tímpano e os pequenos ossos do ouvido médio. Esta condição pode ser causada por infecções de ouvido, acúmulo de cera, ou malformações congênitas. Muitas vezes é tratável e pode ser temporária; Auditiva Sensorioneural, que resulta de danos ao ouvido interno (cóclea) ou ao nervo auditivo e pode ser causada por fatores genéticos, exposição a ruídos altos, envelhecimento ou infecções. Geralmente é permanente e pode variar de leve a profunda; Auditiva Mista – perda que combina elementos de perda auditiva condutiva e sensorioneural; Surdez Profunda, quando há perda auditiva total, não havendo percepção do som, mesmo com amplificação.
Deficiência Intelectual: Engloba limitações importantes no funcionamento intelectual e no comportamento adaptativo com manifestação nas habilidades como raciocínio, resolução de problemas, planejamento / execução de tarefas, pensamento abstrato, aprendizagem a partir de experiências. Essas limitações surgem antes dos 18 anos e podem variar amplamente em termos de gravidade e impacto na vida diária, incluindo o processo educacional.
A deficiência intelectual pode ser classificada em diferentes níveis, com base na gravidade e nas habilidades adaptativas: Leve, sendo que as pessoas com este tipo de deficiência podem apresentar algumas dificuldades acadêmicas e de aprendizagem, especialmente em áreas que exigem pensamento abstrato, como matemática e leitura complexa. Com suporte, podem alcançar uma certa independência e desenvolver habilidades sociais e práticas adequadas; Moderada, quando indivíduos podem aprender habilidades básicas de comunicação e cuidar de si mesmos, mas precisam de apoio contínuo na vida diária e na educação. O aprendizado ocorre de maneira mais concreta, com foco em habilidades práticas e adaptativas; Grave, que gera limitações significativas na comunicação e em habilidades práticas, necessitando de apoio constante em todas as áreas da vida. A educação se concentra no desenvolvimento de habilidades de vida diárias e na comunicação básica; profunda, em que indivíduos têm limitações severas em todos os aspectos do funcionamento intelectual e adaptativo. O ensino se concentra em respostas básicas ao ambiente, comunicação rudimentar e atividades essenciais de cuidado próprio.
TRANSTORNOS DO ESPECTRO DO AUTISMO (TEA)
É uma condição neurodesenvolvimental que afeta a comunicação, a interação social e o comportamento. As características e a intensidade dos sintomas variam amplamente entre os indivíduos, o que significa que cada aluno com TEA terá necessidades e desafios únicos no ambiente escolar.
Para apoiar adequadamente esses alunos, é essencial entender suas características principais e as adaptações necessárias para promover uma educação inclusiva, tendo em vista algumas das principais características dos portadores desta condição:
Dificuldades de Comunicação:
Verbal: Alguns alunos com TEA podem ser não verbais ou ter atrasos significativos no desenvolvimento da fala. Outros podem falar fluentemente, mas têm dificuldades em manter uma conversa, interpretar metáforas, ou entender o tom e a entonação da fala.
Não Verbal: Dificuldades em interpretar e utilizar gestos, expressões faciais e contato visual, o que pode afetar a comunicação social
Interação Social:
Preferência por Atividades Solitárias: Muitos alunos com TEA preferem atividades solitárias ou têm dificuldades em participar de brincadeiras ou trabalhos em grupo.
Dificuldades em Formar Relacionamentos: Alunos com TEA podem ter dificuldades em entender as normas sociais, o que pode levar ao isolamento ou a interações sociais desajeitadas.
– Rotinas e Repetição: Preferência por seguir rotinas rígidas e resistência a mudanças. Comportamentos repetitivos, como balançar o corpo, bater as mãos ou repetir palavras ou frases, são comuns.
– Interesses Restritos: Foco intenso em tópicos ou atividades específicas, às vezes com pouca flexibilidade para explorar outros interesses.
– Hipossensibilidade ou Hipersensibilidade: Trata de respostas exageradas a estímulos sensoriais, como luzes brilhantes, ruídos altos, texturas de alimentos ou roupas. Alguns alunos podem ser hipersensíveis a certos sons ou toques, enquanto outros podem buscar estímulos sensoriais intensos.
– Variabilidade Cognitiva: As habilidades cognitivas de alunos com TEA podem variar amplamente, com alguns apresentando dificuldades significativas em certas áreas e outros tendo habilidades cognitivas normais ou acima da média.
– Dificuldade em Generalizar Aprendizado: Podem ter dificuldade em transferir habilidades ou informações aprendidas de um contexto para outro.
– Atenção e Foco: Os alunos com TEA podem ter dificuldade em manter o foco em tarefas que não são de seu interesse ou podem se concentrar excessivamente em detalhes específicos.
– Organização: Dificuldades em planejar, organizar e concluir tarefas, exigindo suporte adicional para gerenciar atividades escolares.
Transtornos de Aprendizagem: São condições neurológicas que afetam a capacidade de uma pessoa de aprender, processar e aplicar certas habilidades acadêmicas, apesar da inteligência normal ou superior. Esses transtornos podem se manifestar de várias formas, afetando habilidades como leitura, escrita, matemática, e a coordenação motora. É essencial identificar e entender os diferentes tipos de transtornos de aprendizagem para fornecer as adaptações necessárias que ajudarão os alunos a alcançar o sucesso educacional.
Alguns dos principais transtornos de aprendizagem são: Dislexia – transtorno específico da leitura que afeta a capacidade de decodificar palavras, reconhecer palavras escritas com precisão e fluência, e compreender textos. Alunos com esta condição podem ter dificuldades para associar letras a sons, pronunciar palavras corretamente, reter informações lidas, ler de forma fluente e compreender o que foi lido; Disgrafia – transtorno que afeta as habilidades de escrita. Pode envolver dificuldades com a caligrafia, ortografia, organização de textos e expressão de ideias de forma escrita. Neste caso, alunos podem ter dificuldade em segurar um lápis corretamente, escrever de forma legível, clara e organizada e estruturar textos de maneira coerente; Discalculia, refere-se ao transtorno específico voltado à matemática e que afeta a capacidade de compreender conceitos numéricos, realizar operações aritméticas e compreender problemas matemáticos. Alunos com este transtorno podem ter dificuldades em memorizar fatos matemáticos, contar de maneira precisa e entender a relação entre números.
Ainda neste eixo de transtorno de aprendizagem, destacam-se: Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) que, embora não seja exclusivamente um transtorno de aprendizagem, pode afetar significativamente o aprendizado, pois caracteriza-se por dificuldades em manter a atenção, impulsividade e hiperatividade. Alunos com TDAH podem ter dificuldade em concentrar-se em tarefas, seguir instruções e organizar atividades escolares, dificultando assim, a conclusão de tarefas, a retenção de informações e a participação em atividades de grupo; Transtorno de Processamento Auditivo Central (DPAC), que afeta a forma como o cérebro processa as informações auditivas. Alunos com TUPAC podem ter dificuldade em compreender e lembrar instruções orais, distinguir sons semelhantes, e seguir conversas em ambientes barulhentos, podendo serem levados a mal-entendidos, dificuldades em acompanhar aulas expositivas e problemas em seguir conversas; Transtorno de Processamento Visual, afetando a forma como o cérebro processa as informações visuais. Alunos com transtorno de processamento visual podem ter dificuldade em interpretar gráficos, mapas, símbolos e letras, o que pode afetar a leitura e a escrita.
IMPACTOS DOS TRANSTORNOS DE APRENDIZAGEM NO PROCESSO EDUCACIONAL
O processo educacional é regido pela soma de esforços entre família, aluno e escola. No entanto, quando a abordagem é referente a um aluno que demanda acompanhamento pedagógico e/ ou multidisciplinar, é de suma importância atentar aos impactos dos transtornos de aprendizagem no processo educacional, sendo alguns deles: baixo desempenho acadêmico, quando os transtornos de aprendizagem podem levar a um desempenho acadêmico abaixo do esperado, especialmente em áreas diretamente afetadas pela condição, como leitura, escrita ou matemática; frustração e baixa autoestima – remetendo à constante luta para acompanhar os colegas, resultando em frustração, ansiedade e baixa autoestima, pois alunos com transtornos de aprendizagem podem sentir que nunca alcançam o mesmo nível de sucesso que os outros, o que pode desmotivá-los.
É válido também ressaltar os Problemas de Comportamento, condição em que a frustração contínua e as dificuldades de aprendizado podem levar a problemas de comportamento, como desmotivação, agressividade ou isolamento social. Esses comportamentos podem ser uma resposta à incapacidade de lidar com os desafios escolares; Isolamento Social – gerando dificuldade em acompanhar os colegas nas tarefas escolares ou em participar de atividades em grupo pode levar ao isolamento social, agravando sentimentos de exclusão; Desafios na Transição para Níveis Educacionais Superiores, quando alunos com transtornos de aprendizagem podem enfrentar dificuldades adicionais à medida que progridem para níveis educacionais mais altos, onde as demandas acadêmicas e a independência aumentam.
ADAPTAÇÕES EDUCACIONAIS PARA ALUNOS COM TRANSTORNOS DE APRENDIZAGEM
Para apoiar os alunos com transtornos de aprendizagem, várias adaptações podem ser implementadas no processo educacional sendo algumas delas a instrução individualizada e diferenciada por meio da criação de um PEI (Plano de Ensino Individualizado) que atenda às necessidades específicas do aluno com metas acadêmicas realistas e estratégias de ensino adaptadas, e o desenvolvimento de um ensino diferenciado através de ajustes das metodologias de ensino para acomodar diferentes estilos de aprendizado, utilizando abordagens visuais, auditivas e cinestésicas.
Deve-se também valorizar e aprimorar o uso de tecnologia assistiva com o uso de programas de computador e aplicativos (Softwares Educativos) que auxiliam na leitura, escrita e matemática, como leitores de texto, corretores ortográficos e calculadoras; oferecer dispositivos como gravadores de voz, tablets e laptops para serem ferramentas de apoio e facilitarem o acesso ao conteúdo acadêmico; adaptações curriculares que geram modificações de tarefas, simplificam instruções, sugerem dividir tarefas em etapas menores e fornecer exemplos concretos para ajudar na compreensão; realização de avaliações adaptadas; e mais tempo para completar provas; oferecer avaliações orais ou práticas e usar critérios de avaliação diferenciados.
Sobre as adaptações que podem ajudar no processo de ensino – aprendizagem, pode-se ressaltar a importância do ambiente de aprendizagem suportivo, reduzindo distrações na sala de aula, criando um espaço de aprendizagem tranquilo e organizado, estabelecendo e mantendo rotinas claras para ajudar o aluno a saber o que esperar e a se preparar para as atividades escolares, criando assim uma rotina estruturada. Há também o suporte emocional e social, que oferece apoio psicológico para ajudar o aluno a lidar com a frustração, a ansiedade e a baixa autoestima, fator que muitas vezes demanda intervenção psicológica; assim como incluir programas de desenvolvimento de habilidades sociais para ajudar os alunos a interagir de forma mais eficaz com colegas e professores (Treinamento de habilidades sociais). E por fim, a parceria com pais e cuidadores através da comunicação regular sobre o progresso e as dificuldades do aluno e buscando o envolvimento familiar, encorajando a participação dos pais em programas educacionais e, em casa, oferecendo estratégias para apoiar a aprendizagem fora da escola.
ALUNOS COM DEFICIÊNCIA FÍSICA
Estudantes com deficiência física podem enfrentar uma variedade de desafios no ambiente escolar, como mobilidade reduzida – dificuldades em se mover pelo ambiente escolar, especialmente em edifícios que não são acessíveis; participação em atividades físicas devido a limitações na participação em educação física ou outras atividades que exigem mobilidade ou força física; dificuldades em manusear materiais escolares como livros, lápis ou instrumentos de laboratório devido à fraqueza muscular ou problemas de coordenação; e fadiga, tendo em vista que muitos alunos com deficiência física podem se cansar mais facilmente, necessitando de pausas frequentes ou de um ritmo de trabalho mais flexível.
Diante destas particularidades, os ambientes social e educacional deveriam priorizar acessibilidade física com a instalação de rampas e/ou elevadores para garantir que os alunos possam acessar todas as áreas da escola, portas e corredores largos, garantindo que sejam suficientes para a passagem de cadeiras de rodas, banheiros adaptados com barras de apoio e espaço adequado para cadeiras de rodas; materiais de escrita adaptados (lápis grossos, prendedores, pranchas inclinadas, apoio de braço); adaptação de mobiliário, ajustando o mobiliário à altura e à inclinação para acomodar as necessidades específicas do aluno; uso de tecnologia assistiva – para alunos com dificuldades na fala ou na coordenação, recomenda-se o uso de dispositivos de comunicação alternativa, como teclados, mouses ou tablets especiais ou tablets, software que permite o controle por voz ou com movimentos mínimos para que este público possa desenvolver, com autonomia, seu conhecimento e sua inserção no mercado de trabalho.
No tocante à adaptação curricular para o alunado com limitação física, é interessante ajustar tempo para realização de atividade e provas, ofertando tempo adicional para a realização destas tarefas ou permitindo a realização de exames de forma oral ou digital; modificar as atividades de educação física para permitir a participação de todos os alunos, independentemente de suas limitações físicas.
Para que todas as estratégias e ações supra mencionadas surtam, de fato, efeito na vida deste grupo específico de alunos, faz-se necessária também a existência de apoio multidisciplinar com assistentes ou ajudantes que possam ajudar o aluno com atividades diárias, como se mover entre as salas, manipular materiais ou usar o banheiro; acesso a profissionais que possam oferecer suporte contínuo para desenvolver habilidades motoras e facilitar a participação em atividades escolares, como é o caso de fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais.
ALUNOS COM DEFICIÊNCIA VISUAL
Esta especificidade demanda adaptações como materiais em Braille, livros com letras grandes, uso de lupas e de leitores de tela, audiolivros, descrições detalhadas de imagens e gráficos. Além disso, ela pode ter efeitos profundos em diversas áreas da vida.
Na educação, este público específico pode enfrentar desafios na aprendizagem, especialmente em sistemas de ensino que não oferecem materiais adaptados, como textos em Braille, áudio e tecnologia assistiva. Na mobilidade, a locomoção pode ser limitada, necessitando do uso de bengalas, cães-guia, ou outros dispositivos de assistência. No mercado de trabalho, estas pessoas podem encontrar barreiras no mercado de trabalho, especialmente em ambientes que não são acessíveis ou que carecem de adaptações adequadas. Na vida social, a deficiência visual pode afetar a capacidade de participar em atividades sociais, culturais e recreativas, embora muitas destas pessoas encontrem maneiras de se adaptar e superar esses desafios.
Para apoiar pessoas com deficiência visual, várias adaptações e tecnologias assistivas estão disponíveis: Braille (sistema de leitura e escrita tátil que permite a alfabetização de pessoas cegas); leitores de tela através de Software que converte texto em fala, permitindo que pessoas com deficiência visual naveguem em computadores e smartphones; ampliadores de tela, com dispositivos ou software que ampliam o conteúdo da tela para facilitar a leitura; audiolivros e leitura digital com materiais em áudio ou formatos digitais acessíveis, como Daisy e EPUB, que permitem a leitura com sintetizadores de voz; dispositivos de mobilidade, como bengalas brancas e cães-guia, que ajudam na conquista de independência.
ALUNOS COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA
Alunos com todo e qualquer tipo de deficiência auditiva necessitam de ajustes no processo de ensino – aprendizagem voltados ao uso de linguagem de sinais, legendas em vídeos, intérpretes de libras, acesso a recursos visuais e textuais e sistemas de FM (sistema de frequência modulada pessoal), sendo este último uma tecnologia assistiva de alto custo usada principalmente por pessoas que utilizam aparelhos auditivos ou implantes cocleares e foi desenvolvido para melhorar a qualidade do som recebido em ambientes ruidosos ou com grande reverberação, como salas de aula, auditórios, ou locais públicos, onde o som direto da fala pode ser difícil de captar.
O Sistema FM Pessoal consiste em dois componentes principais: o transmissor, que geralmente é um pequeno microfone usado pelo professor, palestrante ou qualquer pessoa que esteja falando. O som captado pelo microfone é convertido em sinais de frequência modulada (FM) e transmitido diretamente para o receptor, dispositivo que é conectado ao aparelho auditivo ou implante coclear do usuário. Ele recebe os sinais FM enviados pelo transmissor e os converte de volta em som, entregando-o diretamente aos ouvidos do usuário.
A ausência da eficiência auditiva impacta a vida do estudante de diferentes maneiras, pois podem ter dificuldades no desenvolvimento da linguagem oral, especialmente se a perda auditiva ocorreu antes da aquisição da fala, o que afeta a compreensão e a produção da linguagem, dificultando assim a comunicação com professores e colegas.
No âmbito acadêmico, a falta de acesso pleno à comunicação oral pode impactar negativamente o desempenho acadêmico, especialmente em disciplinas que dependem fortemente da escuta, como leitura, línguas e ciências, tendo em vista que estes alunos costumam ter dificuldades em acompanhar as aulas, participar de discussões e compreender instruções, podendo levar não só a lacunas no aprendizado, mas também a interação social – impactando a autoestima e o bem-estar emocional, levando a sentimento de frustração ou exclusão.
Para garantir que os estudantes com deficiência auditiva tenham uma experiência educacional inclusiva e equitativa, várias adaptações podem ser implementadas no ambiente escolar, entre elas o apoio à comunicação a partir de profissionais que traduzem a comunicação oral para a Língua Brasileira de Sinais (Libras), permitindo que estudantes surdos ou com deficiência auditiva grave compreendam e participem das aulas (Intérprete de Libras); treinamento de professores para que falem de maneira clara e pausada, facilitando a leitura labial para estudantes que dependem dessa técnica; uso de legendas em vídeos e transcrições de aulas para garantir que o conteúdo seja acessível a todos os estudantes.
Além disso, muitas vezes é necessário implementar medidas para reduzir o ruído de fundo nas salas de aula, como carpetes, cortinas e isolamento acústico, para melhorar a qualidade do som; e colocar o estudante com deficiência auditiva em um local onde possa ver claramente o professor e os colegas, facilitando a leitura labial e a participação nas atividades desenvolvidas.
Para este público é importante fornecer materiais escritos, visuais ou digitais que complementem a comunicação oral, como apresentações em slides, resumos escritos, e vídeos com legendas; utilizar métodos de ensino que incorporem mais elementos visuais e menos dependência da comunicação oral, como gráficos, diagramas e demonstrações práticas; oferecer treinamento para que os professores compreendam as necessidades dos estudantes com deficiência auditiva e saibam como adaptar suas práticas pedagógicas; promover atividades que sensibilizem os colegas de classe para a inclusão e a importância da comunicação acessível.
ALUNOS COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL
A deficiência intelectual afeta o processo de ensino-aprendizagem de várias maneiras, dependendo da gravidade da condição e das habilidades específicas do indivíduo. Alguns dos impactos mais comuns incluem: dificuldades de aprendizagem, desenvolvimento da linguagem, habilidades sociais, autonomia e independência.
Estudantes com deficiência intelectual podem ter dificuldades para entender conceitos abstratos, reter informações e aplicar o conhecimento em diferentes contextos e por isso podem precisar de mais tempo e repetição para aprender novos conceitos e habilidades. Além disso, pode demandar a confecção e o uso de materiais pedagógicos simplificados explorando mais o emprego de imagens e gráficos; instruções claras e passo a passo; atividades práticas e concretas; reforço positivo.
A aquisição e o uso da linguagem podem ser atrasados ou limitados, dificultando a comunicação com professores e colegas, assim como as habilidades de leitura e escrita podem ser significativamente afetadas, exigindo adaptações específicas. Isto tudo pode desencadear prejuízo na interação social, como interpretar pistas sociais, entender normas de comportamento e fazer amigos – leve-se em consideração o fato de que a inclusão social é essencial para o desenvolvimento de habilidades sociais e emocionais.
O desenvolvimento de habilidades de vida prática é tão importante quanto o aprendizado acadêmico e muitos estudantes com deficiência intelectual precisam de apoio adicional para realizar atividades diárias e participar de atividades escolares. No entanto, este apoio deve ser feito por equipe multidisciplinar qualificada.
Para tentar minimizar o impacto na vida dos estudantes com deficiência intelectual, várias adaptações podem ser implementadas no processo de ensino – aprendizagem, como é o caso da confecção de currículo individualizado, tendo em vista o desenvolvimento de um plano de ensino individualizado (PEI) que se concentre nas necessidades, habilidades e metas específicas do estudante e adaptação do currículo com a inserção de mais atividades práticas e habilidades de vida diária, além de conceitos acadêmicos básicos.
Além disso, é essencial utilizar estratégias de ensino diferenciadas, como o aprendizado baseado em projetos, atividades práticas e instruções passo a passo buscando, sempre que possível, usar materiais visuais, manipulativos e tecnologia assistiva, tornando os conceitos mais acessíveis. Tudo isso, respeitando o ritmo de aprendizagem do próprio aluno para evitar sobrecarga de informações e garantir a compreensão do conteúdo com a prática repetida fazendo com que os conceitos sejam revisados regularmente.
É de suma importância a criação de um ambiente de aprendizagem favorável, inclusivo e acolhedor onde todos os alunos sejam respeitados e valorizados, independentemente de suas especificidades, promovendo assim, a interação social entre estudantes com e sem deficiência intelectual, facilitando a inclusão e o desenvolvimento de habilidades sociais. Para isto, este alunado precisa receber apoio constante de equipe multidisciplinar por meio de assistentes educacionais, psicólogos, terapeutas ocupacionais e outros profissionais que possam ajudar o estudante a acessar o currículo e a participar plenamente das atividades escolares. O suporte pode incluir ajuda com organização, acompanhamento de tarefas e adaptação de avaliações.
Como estratégias de comunicação com este público específico, pode-se pensar na implementação de sistemas de comunicação alternativa e aumentativa (CAA) para estudantes que têm dificuldades com a linguagem verbal; e uso de linguagem simples, frases curtas e repetição de instruções para garantir a compreensão. Desta maneira, aumenta-se a possibilidade de absorção de conteúdo e, consequentemente, de aprendizado.
TEA: TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA
As características associadas ao TEA podem ter vários impactos no processo de ensino-aprendizagem , entre eles: desafios de comunicação, interação social e inclusão, resistência a mudanças e flexibilidade cognitiva, sensibilidade sensorial, atenção e execução de tarefas.
No que tange os desafios de comunicação e a interação social e inclusão, o fato de a comunicação ser limitada ou atípica pode dificultar a compreensão das instruções, a participação em atividades de grupo e a interação com colegas e professores devido a uma possível dificuldade em entender nuances de linguagem, como humor ou sarcasmo, podendo levar a mal-entendidos, isolamento ou exclusão no ambiente em que se encontra. Além disso, dificuldades em entender normas sociais podem causar comportamentos que os outros consideram inadequados, afetando sua aceitação pelos pares.
Pessoas com TEA costumam ter resistência a mudanças na rotina escolar ou no ambiente de sala de aula, fatores que podem gerar ansiedade significativa e comportamentos desafiadores, além de limitá-los na participação em atividades espontâneas ou criativas. Somado a tudo isto, a sensibilidade sensorial pode afetar a concentração e o conforto do aluno em certos ambientes, como salas de aula barulhentas ou com iluminação forte. Isto porque estímulos sensoriais indesejados podem levar a comportamentos de evitação ou crises sensoriais.
Referente à atenção e à execução de tarefas, pessoas com TEA costumam ter dificuldade em focar / organizar tarefas sem suporte especializado adicional, podendo resultar em desafios para completar atividades ou acompanhar o ritmo da turma.
Para que estudantes portadores de TEA consigam minimizar as dificuldades no processo de aprendizagem, o ambiente escolar e a rede de apoio (na escola e fora dela) precisam passar por ajustes na estruturação do ambiente, uso de agendas visuais, instruções claras e previsíveis, uso de tecnologias de comunicação alternativa.
A comunicação alternativa e aumentativa (CAA) através do uso de sistemas de comunicação não verbais, como cartões de imagens, dispositivos de fala, ou linguagem de sinais para apoiar a comunicação; e a escolha pela linguagem clara e objetiva a partir do uso de instruções claras, simples e diretas, evitando figuras de linguagem que possam ser confusas. Somadas a isto, rotinas visuais com uso de horários visuais e listas de verificação para ajudar os alunos a entenderem e seguirem a rotina diária mantendo assim, constância e previsibilidade para, desta maneira, reduzir ansiedade e comportamentos desafiadores.
Referente ao suporte sensorial, faz-se necessário criar ambientes sensoriais adaptados com espaços na sala de aula que minimizem estímulos sensoriais excessivos, como luzes fluorescentes ou ruídos altos; uso de materiais sensoriais como fidget toys, fones de ouvido para bloquear ruídos, ou áreas de descanso sensorial para ajudar o aluno a regular suas respostas sensoriais.
Modificar materiais e atividades para atender às necessidades e interesses específicos do aluno, usando abordagens visuais e práticas, oferecer apoio individual ou em pequenos grupos para ajudar com tarefas que o aluno acha desafiadoras, incluir atividades que incentivem a interação social estruturada, como jogos em pares ou grupos, com suporte de um mediador, promover a compreensão e a aceitação das diferenças entre os colegas de classe, através de programas de sensibilização e empatia são práticas essenciais no processo de ensino – aprendizagem e de estímulo à inserção social.
No âmbito da gestão comportamental, estratégias de reforço positivo com elogios ou recompensas para incentivar comportamentos desejáveis e adesão às rotinas ou até mesmo com planos de intervenção comportamental a partir do desenvolvimento de planos individualizados para lidar com comportamentos desafiadores, identificando gatilhos e implementando estratégias de prevenção e resposta.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Adaptar materiais educativos para atender à diversidade de necessidades educativas especiais é essencial para promover uma educação inclusiva e equitativa. A personalização dos recursos e métodos de ensino, o uso de tecnologias assistivas e a criação de um ambiente acessível são fundamentais para garantir que todos os alunos tenham as mesmas oportunidades de aprender e se desenvolver.
Para isto, é necessário o aprofundamento do estudo desta área por parte não só dos gestores públicos, mas também de toda a sociedade. Isto inclui a facilitação do acesso a informações sérias e com embasamento científico, ações sociais de inclusão real do público com especificidades, políticas de acolhimento e de acompanhamento destas famílias e por último, mas tão importante quanto os outros itens mencionados, a oferta constante de cursos acessíveis para famílias, cuidadores e equipes multidisciplinares.
Toda e qualquer adaptação no espaço físico e no âmbito pedagógico deve ser feita de maneira pensada, planejada e com expectativa de facilitar o acesso deste estudante e de sua família. Mudanças voltadas à prática e à funcionalidade do cotidiano, e não apenas em estudos científicos, pois cada realidade do alunado é única e precisa ser vista e analisada dentro de sua individualidade para que se obtenha êxito ao longo do processo.
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