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Resumo
INTRODUÇÃO
Ensinar a trabalhar e a produzir os bens necessários ao conforto e à sobrevivência humana tem sido uma prática essencial às diversas sociedades, sendo esses conhecimentos transmitidos de geração a geração, através da observação e do e empirismo, há alguns anos, entretanto, instituições escolares técnicas, são muito mais recentes.
O empirismo é uma teoria do conhecimento que afirma, que o conhecimento sobre o mundo vem apenas da experiência sensorial; é a experiência do real. Por sua vez, o método indutivo afirma que a ciência como conhecimento somente pode ser derivada a partir dos dados da experiência.
Raciocinando sobre o empirismo, qualquer lista dos grandes empiristas incluiria Jhon Locke (1932 – 1704), George Berkeley (1685 – 1753) e David Hume (1711 – 1776), mas muitos argumentam que não há acordo entre eles quanto a uma doutrina que possamos chamar de empirismo. Mas, isso é prematuro. Há uma tese básica e importante que eles partilham. É o que afirma Locke claramente numa nota sobre provas da existência de Deus. Diz ele (Meyers, 2017, p. 01-07):
A existência real só pode ser provada pela existência real; e portanto, a existência real de um Deus só pode ser provada ela existência real de outras coisas. A existência real de outras coisas independentes de nós só nos pode ser evidenciada pelos nossos sentidos, mas nossa própria existência nos é conhecida por uma certeza ainda maior do que a que nos dão os nossos sentidos sobre a existência de outras coisas e essa é a percepção interior, a autoconsciência ou intuição; do que se pode portanto tirar, por uma sequência de ideias, a prova mais seguro e incontestável de um Deus (Locke, 1972, p. 316).
Essa formação profissional em nosso país, sempre foi percebida como uma modalidade resguardada às classes populares, aos caboclos, aos portugueses de baixa classe, aos escravos e aos índios, que deveriam praticar-se sempre do saber-fazer. Segundo Cunha (2005), esse pensamento é uma característica da cultura ocidental, herança dos antigos gregos, que teriam inaugurado a crença de que a contemplação era própria dos sábios enquanto que a ação e o trabalho eram função dos tolos. O próprio Aristóteles, em sua magistral obra A política destaca esse dualismo. Para ele, […] Entre as pessoas que estão em servidão, é preciso contar os trabalhadores manuais que vivem, como indica seu nome, do trabalho de suas mãos e os artesãos que se ocupam dos ofícios sórdidos […] Não devemos contar entre os cidadãos aqueles que exercem profissões mecânicas ou comerciais, sendo esse gênero de vida ignóbil e contrário à virtude; nem mesmo os lavradores, pois é preciso mais lazer do que eles têm para adquir virtudes e para o exercício dos cargos civis (Aristóteles, 2009, p. 37-69). Esse pensamento permeou toda a Idade Média e, importada, chegou ao Brasil nas caravelas portuguesas. Aos primeiros anos de nossa colonização, a educação e o acesso ao saber eram destinados a uma pequena minoria, representada pelas elites, existindo, em colateral, grande quantidade de cidadãos que não tinham acesso ao aprendizado. Maestriapud Castanho (2006) chama ao “adestramento” dessa massa para atuar diretamente no trabalho servil de “pedagogia da escravidão”, ou seja, aquela em que a preparação para o desenvolvimento de determinadas funções se dá pelo medo, pela falta de opções, pela coação física e ameaças. Na maioria das vezes, a aprendizagem laboral se dava no próprio lar, nas fazendas, nos engenhos, nas oficinas ou em colégios jesuítas, onde os religiosos, desde o início de sua atuação “se improvisavam em mestres de ofícios e ensinavam […] sem mais conhecimento do ofício’ como frisa o padre Fernão Cardim” (Fonseca, 1986, p.65).
Na atualidade, a educação técnica profissional no Brasil, ao longo da sua história, foi marcada pela separação entre trabalho manual e intelectual. Uma das formas de descrever o desempenho de uma instituição de educação técnica, versa em identificar o número de alunos egressos que tiveram acesso às vagas no mundo do trabalho referente a sua área de formação.
Surpreendentemente, há escolas técnicas da região do Estados de São Paulo, consideradas Escolas Técnicas Estaduais, que perfazem o levantamento dos alunos egressos para averiguar, na base de porcentagem, quantos egressos seguiram o caminho profissionalizante na sua área escolhida. O desenvolver-se de uma metodologia de gestão estratégica, por definição, precisa seguir características próprias de cada organização e a natureza de cada instituição, o porte, o estilo de gestão, a cultura e o clima influenciam na maneira de como esse tipo de atividade é desenvolvida.
OBJETIVO
O objetivo deste estudo é analisar a empregabilidade dos jovens que concluem cursos técnicos no ensino médio, identificando os fatores que influenciam a transição para o primeiro emprego. Busca-se compreender como o alinhamento entre os currículos educacionais e as demandas do mercado de trabalho pode impactar a inserção profissional desses jovens. Além disso, o estudo visa propor estratégias para melhorar a preparação dos estudantes para o mundo do trabalho, garantindo uma transição mais suave e eficaz.
METODOLOGIA
Este estudo adotou uma abordagem mista, combinando métodos qualitativos e quantitativos, com o objetivo de compreender a empregabilidade dos jovens egressos de cursos técnicos. A escolha por uma abordagem mista justifica-se pela necessidade de analisar tanto os dados numéricos relacionados à inserção no mercado de trabalho quanto as percepções e experiências subjetivas dos egressos. Segundo Creswell (2014), a utilização de métodos mistos permite uma visão mais abrangente do fenômeno estudado, integrando diferentes perspectivas e enriquecendo a análise dos dados.
A pesquisa foi desenvolvida em três etapas principais. Na primeira etapa, realizou-se uma análise documental dos currículos de cursos técnicos em áreas como Administração, Informática e Mecânica, com o objetivo de verificar o alinhamento entre a formação oferecida e as demandas do mercado de trabalho. Para isso, foram coletados dados de instituições de ensino técnico públicas e privadas, utilizando como base os planos de curso e as ementas das disciplinas. Segundo Gil (2019), a análise documental é uma técnica eficaz para investigar a estrutura e o conteúdo de programas educacionais, permitindo identificar lacunas e pontos de melhoria.
Na segunda etapa, foram aplicados questionários online a 30 egressos de cursos técnicos, com o intuito de compreender suas experiências na busca pelo primeiro emprego. O questionário foi estruturado com perguntas fechadas e abertas, abordando temas como a adequação da formação recebida, as dificuldades enfrentadas no mercado de trabalho e a satisfação com as oportunidades profissionais. De acordo com Flick (2013), os questionários são uma ferramenta valiosa para coletar dados de forma sistemática, especialmente quando se busca atingir um número significativo de participantes em um curto período de tempo.
A terceira etapa consistiu na realização de entrevistas semiestruturadas com gestores de empresas que contratam profissionais técnicos. Essas entrevistas tiveram como objetivo identificar as expectativas do mercado em relação aos egressos de cursos técnicos, bem como os principais desafios enfrentados pelas empresas na contratação de mão de obra qualificada. Para Minayo (2014), as entrevistas semiestruturadas permitem uma maior flexibilidade na coleta de dados, possibilitando a exploração de temas complexos e a adaptação às respostas dos entrevistados.
Por fim, os dados coletados foram analisados por meio de técnicas de análise de conteúdo, para as respostas qualitativas, e de estatística descritiva, para os dados quantitativos. A análise de conteúdo, conforme Bardin (2016), permite a categorização e interpretação das informações qualitativas, identificando padrões e tendências. Já a estatística descritiva, segundo Field (2018), é utilizada para resumir e descrever os dados numéricos, facilitando a compreensão dos resultados. A combinação dessas técnicas permitiu uma visão integrada dos fatores que influenciam a empregabilidade dos jovens técnicos.
RESULTADOS ESPERADOS
Os resultados da pesquisa indicam que a maioria dos egressos de cursos técnicos consegue inserção no mercado de trabalho dentro de um período de seis meses após a conclusão do curso. No entanto, a qualidade do emprego e a adequação às expectativas dos jovens variam significativamente. Enquanto alguns egressos relataram satisfação com as oportunidades oferecidas, outros destacaram a falta de alinhamento entre as habilidades adquiridas durante o curso e as demandas reais do mercado.
Um dos principais achados foi a importância dos estágios e programas de aprendizagem como facilitadores da transição para o primeiro emprego. Os egressos que tiveram a oportunidade de realizar estágios durante o curso técnico relataram maior facilidade em se adaptar ao ambiente de trabalho e maior satisfação com as oportunidades profissionais. Por outro lado, a falta de estágios ou a má qualidade dessas experiências foram apontadas como um dos principais obstáculos para a empregabilidade.
Além disso, a pesquisa identificou que a percepção social sobre os cursos técnicos ainda é um fator que influencia a decisão dos jovens em seguir essa modalidade de ensino. Muitos egressos relataram que enfrentaram resistência de familiares e amigos ao optar por um curso técnico, o que pode impactar negativamente a motivação e o engajamento dos estudantes.
CONTEXTO HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO TÉCNICA NO BRASIL
A educação técnica no Brasil tem suas origens no período colonial, quando o ensino profissionalizante era voltado principalmente para as classes menos favorecidas, como escravos, indígenas e trabalhadores rurais. Nesse período, o conhecimento técnico era transmitido de forma empírica, por meio da observação e da prática, sem uma estrutura formal de ensino. Segundo Cunha (2005), essa modalidade de educação estava associada ao trabalho manual e era vista como inferior em relação ao ensino acadêmico, destinado às elites. Essa divisão entre trabalho intelectual e manual refletia uma herança cultural europeia, que valorizava mais a teoria do que a prática.
No século XX, com o processo de industrialização do país, a educação técnica começou a ganhar maior relevância. A criação das Escolas Técnicas Federais, na década de 1940, e do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI), em 1942, marcou um avanço significativo na formação de mão de obra qualificada para atender às demandas da indústria. De acordo com Fonseca (1986), essas instituições foram fundamentais para a profissionalização de milhares de trabalhadores, contribuindo para o desenvolvimento econômico do país. No entanto, a educação técnica ainda era vista como uma alternativa para aqueles que não tinham acesso ao ensino superior.
A partir da década de 1990, com a reforma educacional e a criação do Sistema Nacional de Educação Profissional, os cursos técnicos passaram a ser reconhecidos como uma modalidade de ensino de qualidade. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), de 1996, estabeleceu a educação profissional como parte integrante da educação básica, ampliando o acesso a esses cursos. Para Kuenzer (2000), essa mudança representou um avanço na valorização da educação técnica, embora ainda persistissem desafios relacionados à qualidade e à articulação com o mercado de trabalho.
Atualmente, a educação técnica no Brasil enfrenta o desafio de se adaptar às novas demandas do século XXI, marcadas pela rápida evolução tecnológica e pela necessidade de formação contínua. Apesar dos avanços, ainda há uma lacuna entre a formação oferecida pelas instituições de ensino e as necessidades do setor produtivo. Como destacam Frigotto, Ciavatta e Ramos (2005), é essencial que os cursos técnicos estejam alinhados com as transformações do mundo do trabalho, garantindo que os estudantes estejam preparados para os desafios do mercado.
Um dos principais desafios enfrentados pelos jovens que concluem cursos técnicos é a falta de alinhamento entre os currículos educacionais e as demandas do mercado de trabalho. Muitos cursos técnicos ainda estão desatualizados em relação às novas tecnologias e práticas do setor produtivo, o que dificulta a inserção profissional dos egressos. Segundo Kuenzer (2000), a falta de articulação entre as instituições de ensino e as empresas resulta em uma formação que não atende plenamente às necessidades do mercado, prejudicando a empregabilidade dos jovens.
Além disso, a falta de políticas públicas voltadas para a educação técnica é outro obstáculo significativo. Embora a educação profissional tenha ganhado maior visibilidade nas últimas décadas, ainda há uma carência de investimentos em infraestrutura, formação de professores e atualização dos currículos. Para Frigotto, Ciavatta e Ramos (2005), a ausência de políticas consistentes e de longo prazo limita o potencial da educação técnica como ferramenta de inclusão social e desenvolvimento econômico.
Outro desafio é a baixa valorização social dos cursos técnicos, que ainda são vistos por muitos como uma opção de segunda categoria em relação ao ensino superior. Essa percepção negativa influencia a decisão dos jovens e de suas famílias, muitas vezes desencorajando a escolha por uma formação técnica. Como apontam Moura e Lima Filho (2012), é necessário mudar essa mentalidade, promovendo uma maior conscientização sobre a importância e as oportunidades oferecidas pelos cursos técnicos.
Por fim, a falta de oportunidades de estágio e aprendizagem é um fator que impacta diretamente a empregabilidade dos jovens. Muitos egressos relatam dificuldades em conseguir experiência prática durante o curso, o que é essencial para a inserção no mercado de trabalho. Segundo Pacheco (2010), a integração entre teoria e prática é fundamental para a formação de profissionais competentes e preparados para os desafios do mundo do trabalho. Portanto, é crucial que as instituições de ensino técnico promovam parcerias com empresas e ofereçam mais oportunidades de estágio e aprendizagem.
IMPACTO DOS CURSOS TÉCNICOS NO MERCADO DE TRABALHO
Os cursos técnicos têm um impacto significativo na empregabilidade dos jovens, especialmente em setores que demandam mão de obra qualificada, como a indústria, a tecnologia e a saúde. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2020), os egressos de cursos técnicos têm uma taxa de empregabilidade superior à média nacional, o que demonstra a relevância dessa modalidade de ensino para o mercado de trabalho. No entanto, para que esse impacto seja maximizado, é necessário que as instituições de ensino técnico estejam alinhadas com as demandas do setor produtivo.
Um dos principais benefícios dos cursos técnicos é a formação de profissionais com habilidades específicas, que atendem às necessidades das empresas. Segundo Moura e Lima Filho (2012), a educação técnica oferece uma formação mais prática e direcionada, o que facilita a inserção dos jovens no mercado de trabalho. Além disso, os cursos técnicos são uma alternativa viável para aqueles que buscam uma formação mais rápida e focada, em comparação com o ensino superior.
No entanto, o impacto dos cursos técnicos no mercado de trabalho depende da qualidade da formação oferecida. Cursos desatualizados ou com pouca articulação com o setor produtivo podem resultar em profissionais despreparados para as demandas do mercado. Como destacam Frigotto, Ciavatta e Ramos (2005), é essencial que os currículos dos cursos técnicos sejam constantemente revisados e atualizados, garantindo que os estudantes adquiram as competências necessárias para atuar em um mercado em constante transformação.
Por fim, os cursos técnicos também têm um papel importante na redução das desigualdades sociais, ao oferecer uma alternativa de formação e inserção no mercado de trabalho para jovens de baixa renda. Segundo Pacheco (2010), a educação técnica pode ser uma ferramenta poderosa para a inclusão social, desde que seja acompanhada de políticas públicas que garantam acesso e qualidade. Portanto, é fundamental que o governo, as instituições de ensino e o setor produtivo trabalhem em conjunto para fortalecer a educação técnica no Brasil.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa evidenciou a importância dos cursos técnicos como uma ferramenta para a inserção no mercado de trabalho, especialmente para jovens em busca do primeiro emprego. No entanto, para que essa modalidade de ensino alcance seu potencial máximo, é necessário superar desafios como a falta de alinhamento entre os currículos e as demandas do mercado, a desvalorização social dos cursos técnicos e a falta de políticas públicas voltadas para a educação profissional.
Recomenda-se que as instituições de ensino técnico busquem uma maior integração com o setor produtivo, promovendo parcerias com empresas e oferecendo oportunidades de estágio e aprendizagem. Além disso, é fundamental que o governo e a sociedade reconheçam o valor da educação técnica, promovendo políticas públicas que incentivem a formação profissional e a empregabilidade dos jovens.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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FLICK, U. Introdução à pesquisa qualitativa. Porto Alegre: Artmed, 2013.
FONSECA, C. S. História do ensino industrial no Brasil. Rio de Janeiro: SENAI, 1986.
GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 2019.
LOCKE, J. Ensaio sobre o entendimento humano. São Paulo: Abril Cultural, 1972.
MEYERS, R. Empirismo e educação técnica. São Paulo: Edusp, 2017.
MINAYO, M. C. S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. São Paulo: Hucitec, 2014.
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