Atendimento Educacional Especializado: Formação, Políticas e Desafios na Prática Inclusiva.

SPECIALIZED EDUCATIONAL SERVICES: TRAINING, POLICIES AND CHALLENGES IN INCLUSIVE PRACTICE

SERVICIOS EDUCATIVOS ESPECIALIZADOS: FORMACIÓN, POLÍTICAS Y RETOS EN LA PRÁCTICA INCLUSIVA

Autor

Juverlânya Alves Santos Souza
ORIENTADOR
Prof. José Ricardo Martins Machado

URL do Artigo

https://iiscientific.com/artigos/B87CB8

DOI

Souza, Juverlânya Alves Santos . Atendimento Educacional Especializado: Formação, Políticas e Desafios na Prática Inclusiva.. International Integralize Scientific. v 5, n 47, Maio/2025 ISSN/3085-654X

Resumo

O Atendimento Educacional Especializado (AEE) é um serviço fundamental para garantir a efetivação da educação inclusiva nas escolas brasileiras. Este artigo tem como objetivo discutir a formação do profissional do AEE, analisar as políticas públicas que sustentam esse serviço, refletir sobre os desafios enfrentados para sua implementação nas escolas e apresentar práticas pedagógicas voltadas aos estudantes com deficiência visual, auditiva e com Transtorno do Espectro Autista (TEA). A pesquisa é de natureza qualitativa, com base em revisão bibliográfica e análise documental. Os resultados evidenciam que, embora exista um marco legal consistente, persistem entraves como a ausência de formação adequada, falta de infraestrutura, barreiras atitudinais e fragilidade na articulação entre os profissionais. Conclui-se que a efetividade do AEE depende do investimento na formação docente, do compromisso com a equidade e da construção de uma cultura escolar inclusiva e democrática.
Palavras-chave
atendimento educacional especializado; educação inclusiva; deficiência; formação docente; políticas públicas.

Summary

The Specialized Educational Service (SES) is essential to ensuring the effectiveness of inclusive education in Brazilian schools. This article aims to discuss the training of SES professionals, analyze the public policies that support this service, reflect on the challenges faced in its implementation, and present pedagogical practices aimed at students with visual and hearing impairments and those with Autism Spectrum Disorder (ASD). This is a qualitative study based on bibliographic and documentary analysis. The findings show that despite a solid legal framework, obstacles remain, such as the lack of adequate teacher training, insufficient infrastructure, attitudinal barriers, and weak coordination among professionals. It is concluded that the effectiveness of the SES depends on investment in teacher training, commitment to equity, and the development of an inclusive and democratic school culture.
Keywords
specialized educational service; inclusive education; disability; teacher training; public policy.

Resumen

El Servicio Educativo Especializado (SEE) es fundamental para garantizar la efectividad de la educación inclusiva en las escuelas brasileñas. Este artículo tiene como objetivo discutir la formación del profesional del SEE, analizar las políticas públicas que respaldan este servicio, reflexionar sobre los desafíos de su implementación y presentar prácticas pedagógicas dirigidas a estudiantes con discapacidad visual, auditiva y con Trastorno del Espectro Autista (TEA). Se trata de una investigación de carácter cualitativo, basada en revisión bibliográfica y análisis documental. Los resultados revelan que, a pesar de un marco legal consolidado, persisten obstáculos como la falta de formación adecuada, carencias en la infraestructura, barreras actitudinales y fragilidad en la articulación entre los profesionales. Se concluye que la efectividad del SEE depende de la inversión en la formación docente, del compromiso con la equidad y de la construcción de una cultura escolar inclusiva y democrática.
Palavras-clave
servicio educativo especializado; educación inclusiva; discapacidad; formación docente; políticas públicas.

INTRODUÇÃO

A educação inclusiva é um princípio fundamental para a consolidação de uma sociedade democrática, plural e equitativa. Ao reconhecer a diversidade como elemento constitutivo do processo educativo, a escola assume o compromisso de garantir a todos os estudantes o direito à aprendizagem e ao desenvolvimento pleno, independentemente de suas condições físicas, sensoriais, intelectuais ou sociais. Nesse contexto, o Atendimento Educacional Especializado (AEE) constitui-se como um serviço complementar e suplementar ao ensino comum, voltado ao público-alvo da educação especial, e fundamentado em legislações que reafirmam o direito à educação para todos.

A formação do profissional do AEE é um dos pilares para a efetividade do serviço. Tal formação deve ir além do domínio de técnicas e instrumentos pedagógicos, exigindo também um compromisso ético com a promoção dos direitos humanos e com a valorização da diversidade. Como observa Mantoan (2006), o trabalho na perspectiva da inclusão implica o rompimento com paradigmas tradicionais e demanda uma postura reflexiva, crítica e colaborativa do educador. Sem uma formação adequada, o AEE corre o risco de se tornar um espaço de reforço à exclusão, em vez de um instrumento de superação das desigualdades educacionais.

Além da qualificação profissional, a efetivação do AEE depende da articulação de políticas públicas que assegurem o seu funcionamento contínuo e estruturado. Leis como a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146/2015), a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/1996) e documentos orientadores como a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) evidenciam a importância de políticas integradas e intersetoriais para a garantia dos direitos educacionais da pessoa com deficiência. Ainda assim, a realidade escolar brasileira apresenta inúmeros desafios, entre eles a carência de recursos humanos e materiais, a ausência de regulamentação específica para determinadas funções e as barreiras atitudinais que ainda persistem no ambiente escolar.

Este artigo tem como objetivo refletir sobre a formação do profissional do AEE, analisar as políticas públicas que sustentam esse atendimento, discutir os principais desafios enfrentados para sua implementação nas escolas públicas e privadas, e, por fim, apresentar o viés pedagógico do AEE frente às especificidades dos estudantes com deficiência visual, auditiva e com Transtorno do Espectro Autista (TEA). A pesquisa foi desenvolvida por meio de revisão bibliográfica qualitativa, de natureza descritiva e analítica, com base em autores da área da educação inclusiva e em documentos legais e institucionais. Busca-se, assim, contribuir para o fortalecimento de uma cultura educacional que reconheça e valorize a diferença, promovendo o acesso, a permanência e o sucesso escolar de todos os estudantes.

A FORMAÇÃO DO PROFISSIONAL DO AEE

A atuação no Atendimento Educacional Especializado (AEE) requer uma formação docente que vá além da dimensão técnica e conte com uma base epistemológica e ética voltada à valorização da diversidade humana e à garantia do direito à educação. O profissional do AEE precisa estar preparado para responder às especificidades dos estudantes com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento ou altas habilidades/superdotação, o que exige domínio de conhecimentos teóricos e práticos que sustentem uma prática pedagógica inclusiva, reflexiva e intencional.

Segundo Glat e Fernandes (2005), o professor especializado deve compreender os princípios da educação inclusiva, conhecer as diferentes deficiências e transtornos do desenvolvimento, saber aplicar estratégias de ensino adaptadas e utilizar recursos de acessibilidade, como a tecnologia assistiva, a comunicação alternativa e os materiais pedagógicos adaptados. Além disso, sua formação deve contemplar a ética das relações humanas, a escuta sensível e a capacidade de colaborar com a equipe pedagógica da escola. O profissional do AEE não atua de forma isolada, mas como parte de uma rede colaborativa que visa construir caminhos possíveis para o acesso e a aprendizagem dos alunos.

Contudo, apesar dos avanços legais, a formação do profissional do AEE ainda apresenta fragilidades. Muitos docentes são inseridos no atendimento especializado sem a devida qualificação, o que compromete a qualidade do serviço ofertado e pode gerar práticas descontextualizadas ou até mesmo excludentes. Como destaca Pletsch (2009, p. 53), “a formação do professor de educação especial não pode se limitar a cursos pontuais; ela precisa ser contínua, integrada à prática e voltada para os desafios reais da inclusão”. Nesse sentido, torna-se indispensável a oferta de programas permanentes de formação continuada, que articulem teoria e prática, e favoreçam a construção coletiva do conhecimento no interior das instituições escolares.

A formação do profissional do AEE também deve contemplar o desenvolvimento de habilidades para o trabalho com tecnologias assistivas e recursos pedagógicos acessíveis. Isso inclui desde o domínio de softwares educativos e leitores de tela até o uso do braile, da Língua Brasileira de Sinais (Libras), dos sistemas pictográficos e dos objetos concretos de aprendizagem. O professor precisa saber selecionar, adaptar e aplicar esses recursos conforme as necessidades de cada estudante, promovendo sua autonomia e ampliando suas possibilidades de comunicação e expressão.

Além disso, é essencial que o profissional do AEE seja preparado para atuar de forma colaborativa com os demais professores da escola, participando do planejamento pedagógico, propondo estratégias de mediação e contribuindo com a construção de ambientes de aprendizagem mais inclusivos. De acordo com Mantoan (2006), o trabalho inclusivo não é tarefa de um único profissional, mas responsabilidade de toda a equipe pedagógica, sendo o professor do AEE um mediador que compartilha saberes e promove a articulação entre ensino comum e atendimento especializado.

Portanto, a formação do profissional do AEE deve ser compreendida como um processo contínuo e comprometido com a transformação das práticas educativas. Ela deve articular fundamentos teóricos sólidos, saberes pedagógicos aplicados, conhecimentos sobre acessibilidade e inclusão, e posturas éticas voltadas ao respeito à diferença e à promoção dos direitos humanos. Somente assim será possível assegurar um AEE efetivo, qualificado e capaz de contribuir para a construção de uma escola inclusiva e democrática.

POLÍTICAS PÚBLICAS QUE ASSEGURAM O AEE

A construção de uma educação inclusiva no Brasil está alicerçada em um conjunto de políticas públicas que reconhecem a diversidade como um valor e garantem o direito de todos os estudantes à aprendizagem, à participação e ao desenvolvimento pleno. Entre as principais políticas que sustentam o Atendimento Educacional Especializado (AEE), destacam-se a Constituição Federal de 1988, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (PNEEPEI), a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (LBI), e a Base Nacional Comum Curricular (BNCC).

A Constituição Federal de 1988 estabelece, no artigo 205, que a educação é direito de todos e dever do Estado, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Já no artigo 208, inciso III, é assegurado “atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino”, evidenciando o compromisso com a integração educacional e social.

A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, publicada pelo Ministério da Educação em 2008, representou um marco normativo ao romper com modelos segregadores e afirmar que “a educação inclusiva é um direito humano e uma condição para o exercício pleno da cidadania”. Segundo o documento, o AEE deve ser ofertado em salas de recursos multifuncionais, com profissionais qualificados, e em articulação com o currículo da escola regular. A política enfatiza ainda que a inclusão escolar deve ser entendida como um processo dinâmico, que exige revisão constante das práticas pedagógicas e das estruturas escolares para responder às necessidades de todos os alunos.

A LBI reforça o dever do Estado de promover a inclusão por meio de ações intersetoriais e da garantia de condições de acessibilidade física, pedagógica e comunicacional.

Além das legislações e diretrizes citadas, programas específicos do MEC como o Programa de Implantação de Salas de Recursos Multifuncionais e o Programa de Formação de Professores para o AEE têm contribuído para a consolidação dessa política pública. Segundo Silva e Lopes (2021), tais programas evidenciam uma tentativa do Estado brasileiro de estruturar o atendimento educacional especializado por meio da aquisição de equipamentos, da formação docente e da ampliação do número de escolas inclusivas no país.

Entretanto, apesar da existência de um arcabouço legal robusto, a efetividade das políticas públicas esbarra em diversos entraves. Como observa Costa (2020), “há uma distância significativa entre o que está previsto nas normativas e o que de fato é garantido nas escolas”, sendo recorrentes os relatos de ausência de profissionais capacitados, falta de salas equipadas e desconhecimento por parte das equipes pedagógicas sobre como implementar o AEE.

Dessa forma, é necessário que as políticas públicas para a educação especial sejam acompanhadas de investimentos concretos, monitoramento contínuo e mecanismos de responsabilização que assegurem sua implementação efetiva. Como alerta Mantoan (2006, p. 49), “a legislação não pode se tornar letra morta; ela precisa ser assumida como compromisso político e pedagógico por todos os envolvidos com a educação”.

DESAFIOS PARA IMPLEMENTAR O AEE NA PRÁTICA

Apesar dos avanços significativos nas políticas públicas voltadas à inclusão escolar e à oferta do Atendimento Educacional Especializado (AEE), a implementação efetiva desse serviço ainda enfrenta inúmeros desafios nas escolas brasileiras. A transição de um modelo excludente para uma abordagem inclusiva exige não apenas mudanças legislativas, mas transformações profundas nas estruturas, práticas pedagógicas e mentalidades escolares.

Um dos principais obstáculos enfrentados é a escassez de profissionais qualificados e a fragilidade da formação continuada. Como ressalta Glat (2007), “há uma carência considerável de professores preparados para lidar com a diversidade nas salas de aula regulares, e também para atuar no AEE, o que compromete a qualidade do atendimento”. Muitos profissionais são designados para funções no AEE sem terem recebido a formação específica exigida, o que os deixa inseguros e despreparados para lidar com as múltiplas demandas apresentadas pelos alunos com deficiência.

Além disso, a ausência de regulamentação específica para cargos como o do profissional de apoio educacional – responsável por acompanhar o estudante com deficiência nas atividades diárias – gera lacunas na organização do trabalho escolar. Muitas vezes, esse profissional atua sem um plano de ação claro, sem formação adequada e sem articulação com o professor do AEE e o professor regente. Como observa Costa (2020, p. 88), “a indefinição das atribuições desses agentes compromete a construção de práticas colaborativas e eficazes no interior das escolas”.

Outro desafio diz respeito à infraestrutura física e pedagógica das escolas. Embora o Programa de Implantação de Salas de Recursos Multifuncionais tenha contribuído para a expansão do AEE, muitas dessas salas ainda operam com recursos limitados, em ambientes inadequados ou com equipamentos danificados e desatualizados. A falta de tecnologia assistiva, materiais pedagógicos adaptados e acessibilidade arquitetônica ainda é recorrente, especialmente nas regiões Norte e Nordeste, onde as desigualdades educacionais são mais acentuadas. Segundo Pletsch (2009), a ausência de infraestrutura adequada reforça as barreiras à aprendizagem e impede que os estudantes com deficiência se desenvolvam em condições de equidade.

As barreiras atitudinais constituem um dos entraves mais persistentes à implementação do AEE. Essas barreiras dizem respeito a preconceitos, estigmas e resistências por parte de professores, gestores e até famílias, que, por desconhecimento ou por falta de preparo, não reconhecem o potencial de aprendizagem dos alunos com deficiência. Mantoan (2006) afirma que a inclusão exige, antes de tudo, a disposição da escola em repensar suas práticas, romper com o paradigma da homogeneidade e aceitar que a diferença é constitutiva do processo educativo.

A articulação entre os diferentes profissionais envolvidos no processo de inclusão também se apresenta como um desafio. Muitas vezes, o AEE é concebido de forma isolada, sem diálogo com o professor regente, a coordenação pedagógica e demais setores da escola. Isso compromete a eficácia do atendimento e impede que as estratégias de apoio especializado sejam refletidas no cotidiano da sala de aula. Como destaca Carvalho (2015), a colaboração entre os educadores é essencial para que as adaptações curriculares, metodológicas e avaliativas sejam coerentes e efetivas.

Além disso, a sobrecarga de trabalho dos profissionais da educação, somada à escassez de tempo para planejamentos coletivos e estudos de caso, dificulta o desenvolvimento de ações formativas e colaborativas. O cotidiano escolar marcado por urgências administrativas, falta de pessoal e acúmulo de funções impede que a inclusão seja tratada como prioridade pedagógica.

Diante desses desafios, é imprescindível que a implementação do AEE seja acompanhada de políticas integradas que garantam formação docente continuada, condições adequadas de trabalho, infraestrutura acessível e acompanhamento pedagógico. Também se faz necessário o fortalecimento de instâncias de gestão democrática e o envolvimento das famílias e da comunidade no processo educativo. Como sintetiza Mantoan (2006, p. 51), “a escola inclusiva não se constroi apenas com recursos físicos, mas com mudanças de atitudes, com compromisso político e com a valorização da diversidade humana”.

O SETOR DE AEE E O VIÉS PEDAGÓGICO COM ALUNOS COM DEFICIÊNCIA

O Atendimento Educacional Especializado (AEE), desenvolvido prioritariamente nas salas de recursos multifuncionais, constitui uma ação pedagógica intencional voltada à eliminação de barreiras que dificultam ou impedem a plena participação e aprendizagem dos alunos público-alvo da educação especial. O viés pedagógico que orienta o AEE parte do reconhecimento das singularidades de cada estudante e busca oferecer recursos e estratégias específicas que favoreçam a equidade educacional, respeitando o princípio da inclusão.

A atuação do professor do AEE deve contemplar o uso de materiais adaptados, tecnologia assistiva, comunicação alternativa e práticas pedagógicas específicas, de acordo com as deficiências e as necessidades de cada aluno. Para estudantes com deficiência visual, por exemplo, é fundamental o uso de recursos como o sistema braille, o sorobã, livros táteis, textos em fonte ampliada, softwares leitores de tela e objetos tridimensionais. O ensino deve priorizar a exploração tátil, auditiva e sinestésica, promovendo o desenvolvimento da autonomia, da mobilidade e da leitura e escrita em braile. Como aponta Sassaki (2006), a acessibilidade à comunicação e à informação é essencial para garantir oportunidades educacionais igualitárias aos alunos com deficiência visual.

No caso dos estudantes com deficiência auditiva, o atendimento pedagógico deve respeitar sua identidade linguística e cultural, assegurando o uso da Língua Brasileira de Sinais (Libras) como primeira língua e da língua portuguesa como segunda. A presença de intérpretes de Libras, materiais visuais e vídeos com legendas ou tradução simultânea em Libras são recursos que contribuem para a compreensão dos conteúdos curriculares. De acordo com Quadros e Schmiedt (2006), a educação bilíngue é uma base fundamental para a inclusão dos surdos, pois considera suas especificidades linguísticas no processo de escolarização.

Para os alunos com Transtorno do Espectro Autista (TEA), o AEE deve oferecer suporte pedagógico baseado na previsibilidade, na organização ambiental e na estruturação das atividades. É recomendada a utilização de rotinas visuais, sistemas de comunicação alternativa e aumentativa, como o PECS, e metodologias como o TEACCH e a Análise do Comportamento Aplicada (ABA). Bosa (2006) afirma que, para o aluno com TEA, a clareza na organização dos espaços e das tarefas é determinante para o sucesso da aprendizagem, pois reduz a ansiedade e promove segurança nas interações escolares.

Independentemente do tipo de deficiência, o AEE deve estar pautado pelos princípios da equidade, da valorização da diversidade e da centralidade do sujeito no processo de aprendizagem. O papel do professor especializado é o de mediador entre as necessidades do aluno e as exigências do currículo escolar, atuando em parceria com o professor regente e demais membros da equipe pedagógica. A mediação do AEE vai além da adaptação de materiais; ela envolve o planejamento conjunto, a construção de estratégias acessíveis e o acompanhamento sistemático do desenvolvimento dos estudantes.

Mantoan (2006) enfatiza que ensinar a todos não significa padronizar os processos de ensino, mas, ao contrário, adaptar-se à pluralidade, oferecendo a cada aluno as condições necessárias para aprender de maneira significativa. Dessa forma, o setor de AEE não pode ser concebido como espaço isolado, mas como parte integrante do projeto político-pedagógico da escola, colaborando para a transformação das práticas educativas e para a promoção de uma cultura escolar inclusiva e democrática.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Atendimento Educacional Especializado (AEE) é uma ferramenta pedagógica essencial para a consolidação de uma educação verdadeiramente inclusiva. Ao reconhecer a diversidade como princípio educativo, o AEE permite que estudantes com deficiência visual, auditiva, com Transtorno do Espectro Autista, entre outras condições, tenham assegurado o direito de acesso, permanência e sucesso no ambiente escolar. No entanto, garantir a efetividade desse serviço demanda ações que ultrapassem o plano legal e avancem em direção à transformação das práticas pedagógicas e da cultura institucional das escolas.

A formação do profissional do AEE se apresenta como uma das bases estruturantes desse processo. Um professor preparado para lidar com a diversidade é capaz de mediar as relações entre o estudante e o conhecimento, adaptar o currículo, utilizar tecnologias assistivas e propor estratégias que promovam a autonomia, a comunicação e a participação de seus alunos. Nesse sentido, torna-se imprescindível a oferta de programas de formação inicial e continuada que contemplem os fundamentos da inclusão, as especificidades do público atendido e as práticas colaborativas no contexto escolar.

As políticas públicas brasileiras, como a LDBEN, a LBI e a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, oferecem um importante marco legal para o desenvolvimento do AEE. Contudo, sua efetivação no cotidiano escolar encontra entraves significativos, como a falta de infraestrutura adequada, a escassez de recursos pedagógicos acessíveis, a desvalorização dos profissionais de apoio e as persistentes barreiras atitudinais. Esses desafios evidenciam a necessidade de ações mais incisivas por parte do poder público, das instituições formadoras e das gestões escolares.

O viés pedagógico que orienta o AEE deve estar centrado na valorização das singularidades dos estudantes e na promoção de práticas educativas que reconheçam a diferença como fator enriquecedor do processo de ensino-aprendizagem. A atuação do professor do AEE deve ser colaborativa, planejada, crítica e inclusiva, contribuindo com o desenvolvimento de propostas pedagógicas que atendam às necessidades de todos os alunos e fortaleçam a construção de uma escola mais justa, democrática e acessível.

Assim, este artigo reafirma a importância de investir na formação docente, na implementação efetiva das políticas inclusivas e na superação dos obstáculos que ainda impedem o pleno funcionamento do AEE. A educação inclusiva não é apenas um direito legalmente garantido, mas uma condição ética e social indispensável à construção de uma sociedade que respeita e valoriza todas as formas de existência.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 

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GLAT, R. Educação inclusiva: em busca de uma escola para todos. Revista Educação, Porto Alegre, v. 30, n. 3, p. 389-405, 2007.

GLAT, R.; FERNANDES, M. P. A escola inclusiva: a reorganização do trabalho pedagógico e os desafios para a formação de professores. Revista Educação Especial, Santa Maria, v. 18, n. 28, p. 273-286, 2005.

MANTOAN, M. T. E. Inclusão escolar: o que é? por quê? como fazer? São Paulo: Moderna, 2006.

PLETSCH, M. D. Formação de professores e a educação inclusiva: tensões e possibilidades. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, v. 14, n. 40, p. 519-532. 2009.

QUADROS, R. M.; SCHMIEDT, M. M. Educação de surdos: construindo caminhos. Porto Alegre: Mediação, 2006.

SASSAKI, R. K. Inclusão: construindo uma sociedade para todos. Rio de Janeiro: WVA, 2006.

SILVA, L. C.; LOPES, C. R. Políticas públicas para a educação inclusiva: avanços e contradições. Revista Brasileira de Política e Administração da Educação, Porto Alegre, v. 37, n. 2, p. 333-350, 2021.

Souza, Juverlânya Alves Santos . Atendimento Educacional Especializado: Formação, Políticas e Desafios na Prática Inclusiva..International Integralize Scientific. v 5, n 47, Maio/2025 ISSN/3085-654X

Referencias

BAILEY, C. J.; LEE, J. H.
Management of chlamydial infections: A comprehensive review.
Clinical infectious diseases.
v. 67
n. 7
p. 1208-1216,
2021.
Disponível em: https://academic.oup.com/cid/article/67/7/1208/6141108.
Acesso em: 2024-09-03.

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