O brincar, o modelo lúdico e a terapia ocupacional

PLAY, THE PLAYFUL MODEL AND OCCUPATIONAL THERAPY

EL JUEGO, EL MODELO DE JUEGO Y LA TERAPIA OCUPACIONAL

Autor

Julia Fidelis
ORIENTADOR
Profa. Dra. Priscila Trudes Artêro

URL do Artigo

https://iiscientific.com/artigos/BCA49A

DOI

Fidelis, Julia. O brincar, o modelo lúdico e a terapia ocupacional. International Integralize Scientific. v 5, n 46, Abril/2025 ISSN/3085-654X

Resumo

O brincar é uma atividade própria da criança, é universal, livre e possibilita o desenvolvimento de habilidades físicas, mentais, sociais e emocionais. Dessa forma, o brincar também pode ser compartilhado no espaço grupal, nesse contexto é possível a descoberta do próprio fazer, das potencialidades e das limitações, compartilhar experiências, vivenciar situações novas, observar e aprender com o fazer do outro. Na técnica de intervenção do brincar da Francine Ferland, denominada Modelo Lúdico, o brincar é definido por três elementos: atitude, ação e o interesse. Este modelo funciona como uma via, na qual a criança descobre – mesmo com limitações físicas – o prazer do agir, de viver e de ser. Neste sentido, compreende-se a importância do brincar para o desenvolvimento infantil, pois é através deste que o indivíduo se reconhece e desenvolve habilidades necessárias para um desempenho efetivo nas diferentes esferas ocupacionais. É importante a continuidade de pesquisas correlacionando as fases do brincar e o desenvolvimento das aptidões no desenvolvimento infantil, bem como a divulgação científica acerca do tema.
Palavras-chave
Brincar. Modelo lúdico. Terapia ocupacional. Criança.

Summary

Playing is a child’s own activity; it is universal, free, and enables the development of physical, mental, social, and emotional skills. Thus, playing can also be shared in a group setting, in which it is possible to discover one’s own actions, potentialities, and limitations, share experiences, experience new situations, and observe and learn from the actions of others. In Francine Ferland’s play intervention technique, called the Ludic Model, playing is defined by three elements: attitude, action, and interest. This model functions as a path through which children discover – even with physical limitations – the pleasure of acting, living, and being. In this sense, we understand the importance of playing for child development, since it is through this that individuals recognize themselves and develop the skills necessary for effective performance in different occupational spheres. It is important to continue research correlating the phases of playing and the development of skills in child development, as well as scientific dissemination on the subject.
Keywords
Play. Play model. Occupational therapy. Child.

Resumen

El juego es una actividad propia del niño, es universal, gratuita y permite el desarrollo de habilidades físicas, mentales, sociales y emocionales. De esta manera, el juego también puede ser compartido en el espacio grupal, en este contexto es posible descubrir las propias acciones, potencialidades y limitaciones, compartir experiencias, vivir nuevas situaciones, observar y aprender de las acciones de los demás. En la técnica de intervención lúdica de Francine Ferland, denominada Modelo Lúdico, el juego se define por tres elementos: actitud, acción e interés. Este modelo funciona como un camino a través del cual el niño descubre –aún con limitaciones físicas– el placer de actuar, vivir y ser. En este sentido, se entiende la importancia del juego para el desarrollo infantil, pues es a través de éste que el individuo se reconoce y desarrolla habilidades necesarias para un desempeño efectivo en los diferentes ámbitos ocupacionales. Es importante continuar con las investigaciones que correlacionan las fases del juego y el desarrollo de habilidades en el desarrollo infantil, así como la divulgación científica sobre el tema.
Palavras-clave
Jugar. Modelo juguetón.Terapia ocupacional. Niño.

INTRODUÇÃO

O brincar é natural, essencial e universal, é um facilitador do crescimento humano, aliado à saúde (Winnicott,1975)¹. De acordo com Parham e Fazio² o brincar é “qualquer atividade espontânea e organizada que ofereça satisfação, entretenimento, diversão e alegria”. Nesse sentido, o brincar possibilita o desenvolvimento de aptidões físicas, mentais e emocionais, sendo uma forma de expressão e criatividade (Kaufmann-Sacchetto et al., 2011; Cruz; Pfeifer, 2006; Martini, 2010).

A criança traz para dentro da área do brincar objetos ou fenômenos oriundos da realidade externa, utilizando-os como recursos para externalizar a realidade interna ou pessoal (Winnicott, 1975). É pelo brincar que a criança descobre e relaciona os objetos e pessoas que estão inseridas no seu cotidiano. Segundo Ferland4, brincar também é dominar a realidade: “na brincadeira a criança constrói uma ponte entre o familiar e o desconhecido: ela aprisiona gradualmente a realidade”.

Em relação ao fenômeno da criatividade, é no momento da brincadeira é a criança quem decide o que é real, ou seja, é a imaginação que promove a ação (Ferland, 2006; Winnicott, 1975). Rieben , utiliza o termo imaginação simbólica, ao modo subjetivo de como a criança compreende e assimila a realidade, por exemplo, dar vida a objetos, alimentos, ter um amigo imaginário, e a imaginação criativa, em que as representações e as ficções são mais convenientes com a realidade.

O brincar é a via real de aprendizagem da criança. No contexto da Terapia Ocupacional, Ferland4 acredita em duas correntes sobre a utilização do brincar. A primeira refere a atividade do brincar como meio para despertar o interesse da criança na terapia. Já a outra expõe o brincar de forma abrangente, possibilitando inúmeras experiências por meio da criatividade e imaginação. Dessa maneira, para brincar é necessário que a criança apresente atitude e ação, sendo importante estimular e reinventar o sentido do brincar, para que a criança possua uma atitude lúdica para favorecer sua ação (Ferland, 2006, P.59).

REFERENCIAL TEÓRICO

Através do brincar e do prazer – componente essencial da brincadeira -, a criança experimenta vivências que lhe permitem descobrir o mundo (Ferland,2006, p.2). É pelo brincar que a criança descobre e relaciona os objetos e pessoas que estão inseridas no seu cotidiano. Segundo Ferland4, o brincar apresenta desenvolvimento sequencial, contendo componentes que serão descritos a seguir.

A primeira etapa do desenvolvimento do brincar inicia a partir do nascimento e acontece até os dezoito meses. Esta etapa refere-se à descoberta do corpo e do ambiente, referente à brincadeira autocósmica, isto é, o bebê se interessa pelo próprio corpo. Ainda, nessa fase o bebê não percebe distinção entre si e a mãe; explora, com a visão, as mãos e inicia exploração do rosto da mãe. Os estímulos que lhe despertam o interesse são os auditivos, como músicas ou conversas; visuais, como móbiles e/ou pessoas em movimento; táteis, presentes em diferentes texturas e vestibulares como, por exemplo, movimento no braço do adulto.

A segunda etapa do desenvolvimento do brincar refere-se ao período dos dezoito meses até os três anos, em que a criança é uma grande exploradora e inicia novas experiências. Ela já apresenta desejo de independência e acontece a brincadeira conhecida como paralela, que é quando a criança percebe a presença de outra criança, porém estas não dividem a mesma brincadeira. Aqui está presente a microsfera, isto é, a criança é imersa no mundo dos brinquedos. Sendo que somente posteriormente, começa a compartilhar os brinquedos, inicia o jogo simbólico e se interessa pela linguagem. Ao final do período, a brincadeira é macrosfera, ou seja, é compartilhada com os demais.

Finalmente, a última etapa acontece entre os três e os seis anos de idade, que é a fase da brincadeira por excelência, em que há melhora das habilidades motoras, integração das noções de tempo (amanhã, ontem, dia, noite), imitação transferida (imita ações que observou antes; interiorizou imagens mentais), cria histórias simples. Aos quatro anos seus desenhos já são reconhecíveis, mas possuem erros de perspectiva e proporção. Nesta fase as brincadeiras são associativas (brinca com outras crianças) e cooperativas (brincadeiras em comum).

O Modelo Lúdico, que será explicado no tópico a seguir, é uma técnica de intervenção essencialmente sobre o brincar, o qual é visto como atividade própria da criança. Dessa forma, por meio da avaliação do brincar é possível identificar atrasos no desenvolvimento, perceber relações interpessoais, identificar habilidades e limitações no desempenho ocupacional, traçar metas e objetivos baseados nas reais necessidades do cliente e da família (Brandão e Mancini, 2007; Cavalcanti, 2007).

O MODELO LÚDICO

O modelo lúdico, criado pela terapeuta ocupacional Francine Ferland em 1994 tem como conceito central a capacidade de agir, sendo que, nesse agir, também deve existir a capacidade de adaptar uma atividade frente às suas possibilidades e de reagir perante a impossibilidade de realizar uma atividade. Quando encontra alguma dificuldade, a criança deve ser estimulada a procurar soluções, e se não as encontrar, ela pode escolher entre pedir ajuda ou então mudar de atividade – o que representa atitudes autônomas, pois são escolhas da própria criança. Neste modelo o brincar é o campo das atividades próprias da infância:

Por ele, abordamos a criança com atividades carregadas de sentido para ela. Respondemos, assim, à sua necessidade fundamental de agir do modo mais apropriado. Buscando desenvolver suas habilidades, seus interesses e suas atitudes durante as atividades, contribuímos para melhorar a qualidade do cotidiano da criança (Ferland, 2006, p. 61).

Para brincar, a criança toma iniciativas, cria soluções e situações fictícias, sente-se livre para decidir uma ação. Essas características são incitadas pela atitude lúdica, que é o “pano de fundo” do brincar. Neste sentido, o brincar é definido por três elementos: atitude, ação e o interesse. Assim como o brincar também possibilita a interação entre esses três elementos. O “quadro conceitual” do Modelo Lúdico está apresentado na figura 1. Em suma, o Modelo Lúdico funciona como uma via, na qual a criança descobre – mesmo com limitações físicas – o prazer de agir, o prazer de viver e o prazer de ser.

METODOLOGIA 

Este estudo adotou uma abordagem qualitativa, de caráter exploratório, com análise de obras e artigos científicos sobre o tema.

Para a produção deste artigo, foi lida na íntegra a obra de Francine Ferland, “O modelo lúdico: o brincar, a criança com deficiência física e a terapia ocupacional”, traduzido por Maria Madalena Moraes, publicado em São Paulo pela Editora Roca, em 2006.

Também foram estudadas fontes bibliográficas brasileiras e estrangeiras, avaliadas a partir da leitura dos títulos e resumos, identificando a temática e ressaltando a relação com a ideia central deste artigo.

O objetivo do presente artigo, é explicar sobre a importância do brincar para o desenvolvimento infantil, bem como sua utilização como recurso terapêutico na terapia ocupacional.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Compreende-se a importância do brincar para o desenvolvimento infantil, pois é através deste que o indivíduo se reconhece e desenvolve habilidades necessárias para um desempenho efetivo nas diferentes esferas ocupacionais. Desta forma, através do Modelo Lúdico, pode-se identificar atrasos no desenvolvimento de crianças assim como é possível a elaboração de objetivos e metas terapêuticas condizentes com a realidade do paciente e da família.

Na Terapia Ocupacional, o brincar é uma estratégia para o terapeuta ocupacional iniciar o contato com a criança, constituir um vínculo e promover a descoberta de seu interesse e prazer (Ferland, 2006). Sendo assim, é um importante recurso destes profissionais na intervenção direta com a criança, possibilitando a partir deste, o desenvolvimento de habilidades necessárias para a participação nas diferentes esferas ocupacionais.

Neste sentido, é importante a continuidade de pesquisas correlacionando as fases do brincar e o desenvolvimento das aptidões no desenvolvimento infantil, bem como a divulgação científica acerca do tema.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BATISTA M. F. S, Lima E. M. F. A. O brincar e a cultura popular: refleexões para a terapia ocupacional. Rev Ter Ocup Univ São Paulo. 2023 jan.-dez.;33(1-3):e216864. DOI: https://doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v33i1e216864

BRANDÃO, M. B. ; Mancini, M. C. . Avaliação Funcional de Crianças com Disfunções Neuromotoras: O Uso de instrumentos estandardizados na clínica da Terpia Ocupacional. In: X Congresso Brasileiro de Terapia Ocupacional, 2007, Gioânia. Anais/ X Congresso Brasileiro de Terapia Ocupacional. Gioânia: Editora Kelps (UGC), 2007. v. X.

CAVALCANTI, A. & Galvão, C. Terapia ocupacional, fundamentação & prática. Rio de Janeiro, Guanabara Koogan, 2007.

CASTRO, D.P., et al. Brincar como Instrumento terapêutico. Pediatria. São Paulo, 2010, vol. 32, no 4, p. 246-254.

CASTRO, D.P., et al. Brincar como Instrumento terapêutico. Pediatria. São Paulo, 2010, vol. 32, no 4, p. 246-254.

FERLAND, F. O modelo lúdico: o brincar, a criança com deficiência física e a terapia ocupacional; [tradução Maria Madalena Moraes]. São Paulo: Roca, 2006.

KAUFMANN-SACCHETTO, K., Madaschi, V., Barbosa, G. H. L. B., Silva, P. L., Silva, R. C. T., Felipe, B. T. D. C., & Souza-Silva, J. R. (2011). O ambiente lúdico como fator motivacional na aprendizagem escolar. Cadernos de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento, 11(1), 28-36. Recuperado de: http://editorarevistas.mackenzie.br/index.php/cpgdd/article/viewFile/11170/6934

PARHAM, L. D.; Fazio, L. S. Play in occupational therapy for children. St. Louis: Mosby, 1997.

PELOSI, M. B., Munaretti, A. S., Nascimento, J. S., & Melo, J. V. de. (2018). Evolução do comportamento lúdico de crianças com síndrome de Down. Revista De Terapia Ocupacional Da Universidade De São Paulo, 29(2), 170-178. https://doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v29i2p170-178

RIEBEN, L. (1982). Processus secondaire et creativite: partie immergée de I’ceberg? Dans N. Nicolaidis et. E. Schimid-Kitsikis (dir): Creativit et/ou symptôme (p.97-112). Paris: Edition Clancier-Guénaud.

WINNICOTT, D. W. (1975). O brincar e a realidade. Rio de Janeiro, RJ: Imago.

Fidelis, Julia. O brincar, o modelo lúdico e a terapia ocupacional.International Integralize Scientific. v 5, n 46, Abril/2025 ISSN/3085-654X

Referencias

BAILEY, C. J.; LEE, J. H.
Management of chlamydial infections: A comprehensive review.
Clinical infectious diseases.
v. 67
n. 7
p. 1208-1216,
2021.
Disponível em: https://academic.oup.com/cid/article/67/7/1208/6141108.
Acesso em: 2024-09-03.

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n. 46
O brincar, o modelo lúdico e a terapia ocupacional

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