Saúde mental e ética organizacional: impactos da cultura tóxica no ambiente corporativo

MENTAL HEALTH AND ORGANIZATIONAL ETHICS: IMPACTS OF TOXIC CULTURE IN THE CORPORATE ENVIRONMENT

SALUD MENTAL Y ÉTICA ORGANIZACIONAL: IMPACTOS DE LA CULTURA TÓXICA EN EL AMBIENTE CORPORATIVO

Autor

Jandermaicon Silva Oliveira
ORIENTADOR
Prof. Dr. Fábio Terra Gomes Junior

URL do Artigo

https://iiscientific.com/artigos/BF0CF0

DOI

Oliveira, Jandermaicon Silva . Saúde mental e ética organizacional: impactos da cultura tóxica no ambiente corporativo. International Integralize Scientific. v 5, n 47, Maio/2025 ISSN/3085-654X

Resumo

O ambiente corporativo contemporâneo apresenta desafios significativos para a promoção da saúde mental dos trabalhadores, especialmente em contextos onde prevalece a cultura organizacional tóxica. Este artigo tem como objetivo analisar os impactos da cultura tóxica sobre a saúde mental no ambiente de trabalho, ressaltando a importância da ética organizacional como instrumento de mitigação desses efeitos. A pesquisa foi desenvolvida por meio de uma revisão bibliográfica qualitativa, abordando autores clássicos e contemporâneos da área de ética profissional, governança corporativa e saúde mental. Os resultados indicam que ambientes caracterizados por relações de poder abusivas, ausência de transparência, sobrecarga de trabalho e negligência com o bem-estar dos colaboradores tendem a gerar elevados índices de estresse, ansiedade e burnout. Conclui-se que a implementação de políticas de compliance ético, a promoção de uma cultura de respeito e responsabilidade social são fundamentais para a construção de ambientes laborais saudáveis e sustentáveis.
Palavras-chave
saúde mental; ética organizacional; cultura tóxica; compliance; ambientes saudáveis.

Summary

The contemporary corporate environment presents significant challenges to the promotion of workers’ mental health, especially in contexts dominated by toxic organizational cultures. This article aims to analyze the impacts of toxic culture on mental health in the workplace, highlighting the importance of organizational ethics as a mitigating tool. The research was conducted through a qualitative bibliographic review, addressing classical and contemporary authors in the fields of professional ethics, corporate governance, and mental health. The results indicate that environments characterized by abusive power relations, lack of transparency, work overload, and neglect of employee well-being tend to generate high rates of stress, anxiety, and burnout. It is concluded that the implementation of ethical compliance policies and the promotion of a culture of respect and social responsibility are fundamental to the construction of healthy and sustainable work environments.
Keywords
mental health; organizational ethics; toxic culture; compliance; healthy environments.

Resumen

El entorno corporativo contemporáneo presenta desafíos significativos para la promoción de la salud mental de los trabajadores, especialmente en contextos donde prevalece una cultura organizacional tóxica. Este artículo tiene como objetivo analizar los impactos de la cultura tóxica en la salud mental en el ambiente laboral, destacando la importancia de la ética organizacional como herramienta de mitigación. La investigación se realizó mediante una revisión bibliográfica cualitativa, abordando autores clásicos y contemporáneos en ética profesional, gobernanza corporativa y salud mental. Los resultados indican que los ambientes caracterizados por relaciones de poder abusivas, falta de transparencia, sobrecarga de trabajo y negligencia hacia el bienestar de los colaboradores tienden a generar altos índices de estrés, ansiedad y agotamiento. Se concluye que la implementación de políticas de cumplimiento ético y la promoción de una cultura de respeto y responsabilidad social son fundamentales para la construcción de ambientes laborales saludables y sostenibles.
Palavras-clave
salud mental; ética organizacional; cultura tóxica; cumplimiento; ambientes saludables.

INTRODUÇÃO

No contexto das transformações contemporâneas do trabalho, a saúde mental dos profissionais tornou-se uma das principais preocupações para instituições públicas e privadas. A aceleração tecnológica, a pressão por resultados, o aumento das metas e a intensificação da competitividade geram impactos psicológicos relevantes que desafiam as organizações a reverem suas práticas de gestão e, sobretudo, a estrutura ética que sustenta suas culturas institucionais. Em ambientes corporativos marcados pela ausência de transparência, pelo autoritarismo e pela negligência com o bem-estar, desenvolvem-se contextos chamados de “cultura organizacional tóxica”, que favorecem o adoecimento emocional dos trabalhadores.

A cultura tóxica caracteriza-se por padrões comportamentais disfuncionais como assédio moral, comunicação agressiva, liderança punitiva e individualismo extremo. Nesses ambientes, a ética é muitas vezes negligenciada ou reduzida a discursos formais sem efetividade prática. Como destacam Cânçado, Guimarães e Lima (2016), a presença de práticas autoritárias e a ausência de mecanismos de controle ético geram ambientes de trabalho desestruturados, prejudicando diretamente a saúde mental dos profissionais.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) já reconheceu a importância do trabalho como fator de risco para o desenvolvimento de doenças mentais, especialmente quando o ambiente profissional se organiza de forma predatória. O burnout, por exemplo, foi incluído na Classificação Internacional de Doenças (CID-11), e representa uma síndrome diretamente relacionada à exposição crônica ao estresse laboral. Diante disso, torna-se imperativo compreender como a ética organizacional pode ser uma ferramenta de prevenção do adoecimento, por meio de práticas que respeitem os limites humanos, promovam o diálogo e fortaleçam o senso de pertencimento.

A ética organizacional, nesse cenário, deixa de ser apenas um ideal teórico e se converte em instrumento concreto de gestão, articulando-se a práticas de compliance, códigos de conduta e políticas institucionais de integridade. Como apontam Lima Verde (2024) e Silva e Melo (2020), a implementação de programas de compliance com foco em saúde mental e prevenção de riscos psicossociais é uma tendência crescente entre organizações comprometidas com a sustentabilidade humana no trabalho.

Este artigo propõe-se a analisar os impactos da cultura organizacional tóxica na saúde mental dos trabalhadores e refletir sobre a importância da ética institucional como instrumento preventivo. Por meio de uma revisão bibliográfica de natureza qualitativa, com base em publicações científicas recentes e documentos institucionais, busca-se compreender os mecanismos que favorecem a degradação do ambiente corporativo e apontar caminhos para a construção de culturas organizacionais mais saudáveis, éticas e sustentáveis.

O texto está estruturado em quatro partes: a introdução; a revisão da literatura, que abordará os fundamentos da ética organizacional, os impactos da cultura tóxica e o papel do compliance; a metodologia, que explicita os critérios e procedimentos da pesquisa; e, por fim, as considerações finais, que apresentam os resultados da análise e propostas para futuras investigações.

REVISÃO DA LITERATURA

A compreensão dos vínculos entre saúde mental, ética organizacional e cultura tóxica exige uma análise aprofundada dos fundamentos teóricos e das práticas que estruturam o comportamento institucional nas organizações. Neste sentido, esta seção tem como objetivo contextualizar e fundamentar o debate a partir de diferentes perspectivas: filosófica, psicológica e organizacional. Para isso, a revisão da literatura está organizada em quatro eixos principais: inicialmente, exploram-se os fundamentos da ética organizacional, a partir de suas bases conceituais clássicas e contemporâneas; em seguida, analisa-se a relação entre saúde mental e condutas éticas nas organizações; posteriormente, discute-se o fenômeno da cultura tóxica e seus impactos psicossociais no ambiente corporativo; e, por fim, examinam-se os mecanismos de compliance e as políticas institucionais como instrumentos éticos de enfrentamento e promoção de ambientes laborais saudáveis.

FUNDAMENTOS DA ÉTICA ORGANIZACIONAL

A ética organizacional pode ser compreendida como o conjunto de valores, normas e princípios que orientam a conduta de indivíduos e instituições no ambiente de trabalho. Ela opera como um referencial normativo que, para além do cumprimento das leis, visa assegurar que as decisões e comportamentos adotados pelas organizações estejam em conformidade com princípios de justiça, respeito, integridade e responsabilidade social.

Do ponto de vista filosófico, a ética é um ramo da filosofia que se ocupa do exame racional do comportamento humano, buscando discernir entre o certo e o errado, o justo e o injusto. Aristóteles (2021), em sua obra Ética a Nicômaco, afirma que o hábito de agir virtuosamente é construído pela repetição de ações justas, e não é dado pela natureza. Para o autor, a ética não é teórica, mas prática: “a virtude é adquirida pela prática, e não pela instrução” (Aristóteles, 2021, p. 35).

No campo organizacional, a ética assume papel estratégico, pois contribui para o fortalecimento do clima institucional, a confiança entre os membros e a reputação externa da empresa. De acordo com Silva e Melo (2020), a ética nas organizações não pode ser tratada como um discurso abstrato ou apenas um código de fachada; ela deve se traduzir em políticas de governança, mecanismos de compliance, canais de denúncia eficazes e condutas coerentes por parte das lideranças.

Kant (2023), ao propor o imperativo categórico, defendia que a moralidade consiste em agir de tal modo que a máxima da ação possa tornar-se uma lei universal. Tal princípio, quando aplicado ao contexto empresarial, implica que os gestores e colaboradores devem agir com base em valores universalizáveis — ou seja, que possam ser seguidos por todos e aplicados sem distinção ou privilégio. Isso reforça a necessidade de tratamento equitativo, transparência nos processos e responsabilidade institucional.

Mill (2007), por sua vez, com sua perspectiva utilitarista, ressalta que ações morais são aquelas que promovem o maior bem-estar para o maior número de pessoas. Essa visão tem sido retomada em discussões contemporâneas sobre ética organizacional, especialmente no que diz respeito à responsabilidade social corporativa. Empresas que pautam suas decisões no bem coletivo e no cuidado com seus stakeholders tendem a gerar ambientes mais equilibrados, produtivos e saudáveis.

Atualmente, a ética organizacional também se alinha com os princípios da sustentabilidade e dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), integrando a agenda de governança ambiental, social e corporativa (ESG). Conforme destacam Farias e Souza (2022), a ética empresarial contemporânea precisa ser entendida como um instrumento de transformação social, não apenas como um requisito de imagem institucional.

Portanto, a ética organizacional constitui a base para a construção de relações de trabalho saudáveis, baseadas no respeito mútuo, na justiça e na cooperação. Sua presença é essencial para prevenir práticas abusivas, como o assédio moral, a exclusão e a negligência com a saúde mental. Sem uma cultura ética consolidada, mesmo as melhores políticas de compliance tornam-se ineficazes ou simbólicas.

RELAÇÃO ENTRE SAÚDE MENTAL E ÉTICA NO AMBIENTE DE TRABALHO

A saúde mental no ambiente de trabalho é um reflexo direto da qualidade das relações interpessoais, da estrutura organizacional e da coerência ética entre discurso institucional e prática cotidiana. Em contextos corporativos nos quais predominam respeito, transparência, reconhecimento e justiça, os níveis de estresse e adoecimento psicológico tendem a ser significativamente menores. Em contrapartida, ambientes marcados por assédio moral, autoritarismo, pressões abusivas e indiferença institucional à subjetividade dos trabalhadores favorecem a manifestação de sintomas como ansiedade, exaustão emocional, depressão e síndrome de burnout.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) define saúde mental como um estado de bem-estar no qual o indivíduo é capaz de lidar com as adversidades da vida, trabalhar de forma produtiva e contribuir com sua comunidade. Segundo dados da instituição, o local de trabalho pode ser fator de proteção ou de risco à saúde mental, a depender da cultura organizacional, das práticas de gestão e das condições oferecidas aos trabalhadores (OMS, 2022).

No Brasil, estudos indicam um aumento expressivo de afastamentos por transtornos mentais relacionados ao trabalho. Souza e Almeida (2023) destacam que a exposição contínua a práticas abusivas, como o assédio moral e a sobrecarga de tarefas, tem se tornado uma das principais causas de adoecimento psicológico no ambiente corporativo. Os autores observam que a ausência de uma política ética clara e de canais efetivos de escuta e apoio institucional amplia a vulnerabilidade emocional dos colaboradores, além de comprometer a produtividade e o clima organizacional.

Do ponto de vista da gestão ética, a promoção da saúde mental nas empresas exige mais do que programas pontuais de bem-estar ou ações motivacionais. É preciso incorporar valores éticos às políticas de governança, ao estilo de liderança e às relações hierárquicas. Como argumentam Silva e Melo (2020), a ética deve estar presente na construção de processos justos, no reconhecimento do esforço dos colaboradores e na existência de mecanismos para prevenir e combater comportamentos discriminatórios, abusivos ou negligentes.

Ambientes onde há práticas éticas efetivas são, em geral, mais saudáveis, colaborativos e comprometidos com o desenvolvimento humano. Segundo Cânçado, Guimarães e Lima (2016), a integridade institucional e o respeito à dignidade humana no espaço de trabalho funcionam como fatores protetores da saúde psíquica e favorecem um clima organizacional mais harmonioso.

É nesse contexto que a ética organizacional assume papel preventivo e transformador. Ela atua como antídoto à cultura tóxica, oferecendo parâmetros para decisões justas, respeito à diversidade, escuta ativa e valorização das experiências subjetivas dos profissionais. Em última instância, a ética não apenas protege a saúde mental, mas também amplia o compromisso social da organização, fortalecendo seus vínculos internos e externos.

CULTURA TÓXICA ORGANIZACIONAL: CARACTERÍSTICAS E IMPACTOS

A cultura organizacional representa o conjunto de valores, crenças, símbolos e práticas que moldam o comportamento coletivo dentro de uma empresa. Quando essa cultura é saudável, ela promove integração, senso de pertencimento, motivação e produtividade. No entanto, quando distorcida por padrões autoritários, competitividade extrema, falta de empatia e ausência de políticas éticas consistentes, instaura-se o que se denomina cultura organizacional tóxica.

Esse tipo de cultura é caracterizado por práticas recorrentes de assédio moral, lideranças abusivas, comunicação violenta, invisibilização de esforços individuais, metas inatingíveis e desprezo pela saúde mental dos trabalhadores. Segundo Souza e Almeida (2023), a cultura tóxica tem como uma de suas marcas a naturalização da violência simbólica e relacional no espaço de trabalho. Ela transforma ambientes coletivos em espaços de medo, hostilidade e desgaste psicológico contínuo.

De acordo com Cânçado, Guimarães e Lima (2016), ambientes tóxicos favorecem a ocorrência de transtornos como estresse pós-traumático, síndrome de burnout e depressão, além de impactarem diretamente o desempenho organizacional. Tais culturas reduzem a confiança entre equipes, desestimulam a criatividade e provocam uma rotatividade elevada de profissionais. O clima organizacional, nesses casos, é contaminado por práticas que não apenas adoecem o trabalhador, mas fragilizam a reputação institucional e a sustentabilidade do negócio.

Mattos (2021) alerta que, muitas vezes, essas disfunções são mascaradas por discursos meritocráticos ou de “alta performance”, que pressionam colaboradores a excederem seus limites físicos e emocionais. Essa lógica, quando associada à falta de canais institucionais para escuta e acolhimento, favorece a banalização do sofrimento psíquico e a desumanização das relações de trabalho.

A presença de uma cultura tóxica também está ligada à inexistência de mecanismos efetivos de compliance, bem como à negligência da alta gestão quanto à saúde mental e ao equilíbrio emocional das equipes. Lima Verde (2024) ressalta que a ausência de lideranças éticas e a permissividade institucional diante de comportamentos abusivos são elementos-chave para a manutenção desse tipo de cultura.

Portanto, combater a cultura organizacional tóxica exige uma transformação estrutural que ultrapassa medidas pontuais. É necessário reconfigurar os valores organizacionais, revisar modelos de liderança, implementar códigos de conduta funcionais e institucionalizar práticas que promovam o bem-estar coletivo. Mais do que um problema individual, o adoecimento mental dos trabalhadores deve ser reconhecido como um sintoma de falhas sistêmicas, que exigem respostas éticas e institucionais amplas.

COMPLIANCE E POLÍTICAS DE PROMOÇÃO DA SAÚDE MENTAL

A consolidação de uma cultura organizacional ética e saudável requer a institucionalização de mecanismos capazes de prevenir práticas abusivas, assegurar a integridade das relações de trabalho e promover o bem-estar dos colaboradores. Nesse sentido, os programas de compliance ético têm evoluído para além da mera conformidade com normas legais, assumindo um papel estratégico na prevenção de riscos psicossociais e na promoção da saúde mental no ambiente corporativo.

Tradicionalmente associado ao combate à corrupção e à integridade financeira, o compliance passou a incorporar aspectos de governança voltados ao respeito à dignidade humana, à inclusão e ao cuidado com a saúde emocional dos trabalhadores. Conforme Lima Verde (2024), empresas que estruturam seu compliance com foco em relações humanas tendem a ser mais bem-sucedidas na retenção de talentos, na redução de conflitos internos e na construção de uma reputação institucional sólida.

Um dos pilares do compliance moderno é a existência de códigos de conduta claros, amplamente divulgados e efetivamente aplicados. Esses documentos devem incluir, de forma explícita, princípios voltados à promoção da saúde mental, como a proibição de práticas de assédio moral, a valorização do equilíbrio entre vida pessoal e profissional, e o reconhecimento da importância da escuta ativa e do acolhimento institucional.

De acordo com Silva e Melo (2020), a simples formalização de normas não é suficiente para garantir uma cultura ética; é necessário o comprometimento efetivo da alta liderança com os princípios estabelecidos. A atuação ética das lideranças é decisiva para a internalização dos valores institucionais e para a criação de um ambiente psicológico seguro. Lideranças omissas ou coniventes com práticas abusivas enfraquecem o sistema de integridade e desestimulam denúncias, agravando o clima organizacional.

Nesse contexto, a criação de canais de denúncia confidenciais, programas de apoio psicológico, treinamentos contínuos em ética, e a inserção de indicadores de saúde mental no planejamento estratégico são algumas das práticas que reforçam a efetividade dos programas de compliance. Barros (2023) enfatiza que o compliance ético, ao incorporar dimensões subjetivas do trabalho, transcende a burocracia e se transforma em ferramenta de gestão humanizada.

Além disso, instituições que integram os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) em suas políticas internas, especialmente o ODS 3 (Saúde e Bem-Estar) e o ODS 8 (Trabalho Decente e Crescimento Econômico), alinham seus programas de compliance à agenda internacional de direitos humanos e desenvolvimento organizacional sustentável. Farias e Souza (2022) destacam que a ética empresarial, quando vinculada à sustentabilidade, amplia seu alcance para além do lucro e fortalece o compromisso com a vida e a saúde no trabalho.

Dessa forma, o compliance ético contemporâneo emerge como uma resposta organizacional não apenas às exigências legais, mas a uma demanda social urgente: o enfrentamento do adoecimento psíquico provocado por culturas tóxicas. Seu êxito, no entanto, depende da coerência entre discurso e prática, do engajamento institucional e da disposição para transformar estruturas que historicamente negligenciaram o ser humano como centro das decisões corporativas.

METODOLOGIA

Este estudo caracteriza-se como uma pesquisa qualitativa, de natureza exploratória e descritiva, cujo objetivo é compreender como a cultura organizacional tóxica afeta a saúde mental dos trabalhadores e de que forma a ética institucional pode atuar como fator protetivo e preventivo. A escolha metodológica pela abordagem qualitativa justifica-se pela complexidade e subjetividade do fenômeno analisado, que envolve elementos simbólicos, relacionais e institucionais que não são quantificáveis, mas que podem ser interpretados com base em análise de conteúdo e referenciais teóricos.

Segundo Bardin (2016), a pesquisa qualitativa permite o aprofundamento crítico de significados sociais e institucionais, sendo adequada para fenômenos como cultura organizacional, sofrimento psíquico e ética corporativa. Assim, esta investigação se baseia em revisão de literatura sistemática e interpretativa, com o objetivo de identificar os principais conceitos, abordagens e evidências acadêmicas sobre os temas centrais do estudo: saúde mental no trabalho, cultura organizacional tóxica e compliance ético.

TIPO DE PESQUISA

A presente pesquisa é bibliográfica e de cunho exploratório, tendo em vista que busca mapear e interpretar a produção científica relevante sobre o tema, organizando os dados em categorias analíticas. O estudo também assume um caráter descritivo, pois apresenta conceitos, estruturas e experiências relatadas na literatura, compondo um quadro interpretativo que visa embasar reflexões práticas e acadêmicas sobre o assunto.

Conforme Creswell (2014), a abordagem exploratória é apropriada quando o objetivo é investigar áreas pouco discutidas ou emergentes, como é o caso da integração entre ética organizacional e promoção da saúde mental em contextos de cultura tóxica.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A coleta de dados foi realizada por meio da revisão de literatura sistemática, com busca de artigos, teses, dissertações, livros e documentos institucionais publicados entre 2013 e 2024. As bases de dados utilizadas incluíram: SciELO, Periódicos CAPES, ResearchGate, além de sites institucionais com publicações confiáveis sobre ética corporativa, compliance e saúde do trabalhador.

Os critérios de seleção dos materiais incluíram:

  • Relevância temática direta com os tópicos do artigo.
  • Disponibilidade pública e acessível dos textos completos.
  • Priorização de produções atualizadas, com exceção de obras clássicas fundamentais (ex: Aristóteles, Kant, Mill).
  • Presença de fundamentação científica reconhecida.

A análise do conteúdo seguiu as orientações de Bardin (2016), utilizando a categorização temática como estratégia para organizar os dados em quatro eixos: fundamentos da ética organizacional; relação entre ética e saúde mental; impactos da cultura tóxica; e políticas de compliance e bem-estar.

LIMITAÇÕES DA PESQUISA

Embora a revisão bibliográfica possibilite uma análise crítica robusta, algumas limitações são reconhecidas neste estudo. Primeiramente, a ausência de dados empíricos, como entrevistas ou pesquisas de campo, restringe a validação prática das interpretações teóricas. Além disso, a dinâmica acelerada das transformações organizacionais, especialmente após a pandemia de COVID-19, pode exigir atualização constante das discussões sobre saúde mental e governança ética.

Outra limitação é o foco em fontes majoritariamente brasileiras, o que, embora pertinente ao contexto local, pode deixar de considerar variações culturais ou institucionais de outros países. No entanto, optou-se por este recorte para priorizar a aplicabilidade prática dos resultados em realidades semelhantes à brasileira.

Por fim, a metodologia adotada proporcionou uma base teórica sólida e abrangente para a compreensão do fenômeno estudado. A revisão crítica da literatura permitiu identificar padrões, lacunas e tendências relevantes, subsidiando uma reflexão consistente sobre os impactos da cultura organizacional tóxica e a importância de estruturas éticas institucionalizadas para a promoção da saúde mental no trabalho.

RESULTADOS 

A análise da literatura permitiu constatar que ambientes organizacionais marcados por culturas tóxicas contribuem diretamente para o adoecimento psíquico dos trabalhadores. As principais características desses ambientes incluem relações hierárquicas autoritárias, naturalização do assédio moral, sobrecarga de tarefas, ausência de diálogo institucional e desvalorização do bem-estar emocional. Tais fatores geram aumento nos índices de estresse, ansiedade, burnout e afastamentos por doenças mentais.

Foi possível observar que a ausência de condutas éticas institucionalizadas e a fragilidade dos mecanismos de escuta e proteção aos trabalhadores intensificam a invisibilidade do sofrimento psíquico no trabalho. Em contraste, organizações que promovem uma cultura ética, com lideranças comprometidas, códigos de conduta consistentes, canais de denúncia efetivos e políticas voltadas à saúde mental, demonstram maior capacidade de prevenir e mitigar os efeitos negativos da cultura tóxica.

Outro achado importante foi a evidência de que os programas de compliance, quando integrados a uma perspectiva ética e humanizada, constituem ferramentas eficazes para a construção de ambientes laborais mais saudáveis. A implementação de políticas de integridade e o alinhamento com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), especialmente os que tratam de saúde e bem-estar, ampliam o papel social das organizações e favorecem relações de trabalho mais justas e equilibradas.

DISCUSSÃO

A discussão dos resultados à luz da literatura analisada revela que a ética organizacional deve ser compreendida como um eixo estruturante da saúde mental no trabalho. A ética não pode ser concebida apenas como uma diretriz normativa, mas como um conjunto de práticas concretas que atravessam a cultura institucional, os estilos de liderança e os mecanismos de gestão de pessoas.

Como apontado por diversos autores, a cultura tóxica não é produto de ações pontuais, mas de estruturas organizacionais permissivas, que silenciam abusos e normalizam condutas nocivas. O discurso de produtividade a qualquer custo, associado à ausência de responsabilização institucional, contribui para o agravamento do sofrimento psíquico, especialmente em contextos onde a saúde mental é desconsiderada como dimensão estratégica da gestão.

Por outro lado, empresas que assumem o compromisso ético de promover o bem-estar de seus colaboradores demonstram que é possível equilibrar resultados econômicos e responsabilidade social. O compliance ético, quando articulado à gestão humanizada e à escuta ativa dos trabalhadores, deixa de ser apenas um instrumento legalista para se tornar um elemento transformador da cultura organizacional.

A discussão também indica que a superação da cultura tóxica demanda um esforço coletivo, intersetorial e constante. Requer o reposicionamento da ética como princípio norteador das práticas institucionais e o reconhecimento da saúde mental como um direito humano fundamental no mundo do trabalho.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conclui-se que os impactos da cultura organizacional tóxica sobre a saúde mental dos trabalhadores são profundos, sistêmicos e evitáveis. A negligência com a subjetividade dos colaboradores e a ausência de políticas institucionais de proteção resultam em danos individuais e coletivos que comprometem não apenas o bem-estar humano, mas também a sustentabilidade das próprias organizações.

A ética organizacional emerge, portanto, como um campo fundamental para a promoção de ambientes de trabalho saudáveis, justos e sustentáveis. Ela deve estar presente em todas as dimensões da gestão: desde a formulação das políticas internas até as decisões estratégicas, passando pela conduta das lideranças e pela escuta dos trabalhadores.

A promoção da saúde mental nas empresas não pode ser tratada como um privilégio ou um diferencial competitivo, mas como uma obrigação ética e uma estratégia de sobrevivência organizacional. Para isso, é preciso reconfigurar valores, rever estruturas, capacitar lideranças e criar espaços institucionais de acolhimento e cuidado.

Sugere-se, como continuidade desta pesquisa, a realização de estudos empíricos com aplicação de questionários e entrevistas em diferentes setores organizacionais, a fim de ampliar o diagnóstico sobre o impacto da ética institucional na saúde mental dos trabalhadores e contribuir para o desenvolvimento de políticas públicas e privadas mais eficazes e humanizadas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Oliveira, Jandermaicon Silva . Saúde mental e ética organizacional: impactos da cultura tóxica no ambiente corporativo.International Integralize Scientific. v 5, n 47, Maio/2025 ISSN/3085-654X

Referencias

BAILEY, C. J.; LEE, J. H.
Management of chlamydial infections: A comprehensive review.
Clinical infectious diseases.
v. 67
n. 7
p. 1208-1216,
2021.
Disponível em: https://academic.oup.com/cid/article/67/7/1208/6141108.
Acesso em: 2024-09-03.

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