Práticas inclusivas na educação física: Um olhar para as escolas públicas de Mossoró/RN

INCLUSIVE PRACTICES IN PHYSICAL EDUCATION: A LOOK AT PUBLIC SCHOOLS IN MOSSORÓ/RN

PRÁCTICAS INCLUSIVAS EN LA EDUCACIÓN FÍSICA: UNA MIRADA A LAS ESCUELAS PÚBLICAS DE MOSSORÓ/RN

Autor

Rafael dos Santos Silva Oliveira

URL do Artigo

https://iiscientific.com/artigos/C5EAAC

DOI

Oliveira, Rafael dos Santos Silva . Práticas inclusivas na educação física: Um olhar para as escolas públicas de Mossoró/RN. International Integralize Scientific. v 5, n 46, Abril/2025 ISSN/3085-654X

Resumo

O presente artigo analisa os principais desafios enfrentados por professores de Educação Física no contexto da educação inclusiva em escolas públicas de ensino fundamental da cidade de Mossoró/RN. A pesquisa teve como objetivo geral compreender as dificuldades práticas vivenciadas por esses profissionais, com foco na atuação pedagógica junto a estudantes com deficiências. O estudo foi desenvolvido a partir de uma abordagem quali-quantitativa, por meio de pesquisa de campo com amostragem não probabilística por conveniência. Os resultados indicam que, embora haja progressos na implementação de práticas inclusivas, os professores ainda enfrentam limitações estruturais, carência de formação continuada e ausência de apoio institucional adequado. A análise dos dados permitiu traçar um panorama das dificuldades recorrentes no cotidiano escolar e apontar caminhos para o aprimoramento das práticas pedagógicas. O estudo visa contribuir com a reflexão sobre a formação docente, o fortalecimento de políticas públicas inclusivas e a construção de uma Educação Física acessível a todos os estudantes.
Palavras-chave
Educação inclusiva. Educação física. Escolas públicas. Mossoró. Acessibilidade.

Summary

This article analyzes the main challenges faced by Physical Education teachers in the context of inclusive education in public elementary schools in the city of Mossoró/RN. The general objective of the research was to understand the practical difficulties experienced by these professionals, focusing on pedagogical practices with students with disabilities. The study was developed using a qualitative-quantitative approach, through field research with non-probabilistic convenience sampling. The results indicate that, although there has been progress in the implementation of inclusive practices, teachers still face structural limitations, a lack of continuing education, and inadequate institutional support. Data analysis allowed for an overview of recurring difficulties in the school environment and pointed to ways of improving pedagogical practices. The study aims to contribute to the reflection on teacher training, the strengthening of inclusive public policies, and the construction of Physical Education that is accessible to all students.
Keywords
Inclusive education. Physical education. Public schools. Mossoró. Accessibility.

Resumen

El presente artículo analiza los principales desafíos enfrentados por los profesores de Educación Física en el contexto de la educación inclusiva en escuelas públicas de educación primaria de la ciudad de Mossoró/RN. El objetivo general de la investigación fue comprender las dificultades prácticas vividas por estos profesionales, con enfoque en la actuación pedagógica con estudiantes con discapacidades. El estudio se desarrolló a partir de un enfoque cuali-cuantitativo, mediante una investigación de campo con muestreo no probabilístico por conveniencia. Los resultados indican que, aunque hay avances en la implementación de prácticas inclusivas, los profesores aún enfrentan limitaciones estructurales, falta de formación continua y ausencia de apoyo institucional adecuado. El análisis de los datos permitió delinear un panorama de las dificultades recurrentes en el entorno escolar y señalar caminos para mejorar las prácticas pedagógicas. El estudio busca contribuir a la reflexión sobre la formación docente, el fortalecimiento de políticas públicas inclusivas y la construcción de una Educación Física accesible para todos los estudiantes.
Palavras-clave
Educación inclusiva. Educación física. Escuelas públicas. Mossoró. Accesibilidad.

INTRODUÇÃO

A temática da inclusão na educação tem sido amplamente discutida nas últimas décadas, especialmente a partir da publicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), que propõem uma abordagem mais ampla e equitativa para todos os componentes curriculares, incluindo a Educação Física e nas escolas a inclusão de estudantes com deficiência representa um desafio que envolve não apenas infraestrutura e recursos, mas principalmente o preparo pedagógico dos profissionais da educação (Brasil, 1997).

No contexto da Educação Física, esses desafios assumem particularidades específicas, uma vez que as aulas envolvem práticas corporais, interação física e dinâmicas que exigem adaptação e sensibilidade por parte dos docentes. Os professores devem desenvolver habilidades e estratégias que garantam a participação de todos os estudantes de maneira ativa, respeitando suas limitações e potencialidades (Castro; Rangel, 2021).

Considerando essa situação, este estudo tem como problema de pesquisa: Quais são os principais desafios práticos enfrentados pelos professores de Educação Física das escolas públicas de ensino fundamental da cidade de Mossoró/RN no que se refere à educação inclusiva?

O objetivo geral consiste em compreender esses desafios, considerando o cotidiano das aulas, as políticas públicas de apoio e as estratégias pedagógicas utilizadas, a pesquisa foi realizada em escolas públicas de ensino fundamental da cidade de Mossoró, no estado do Rio Grande do Norte, tendo participado do estudo os professores de Educação Física atuantes nessas instituições, majoritariamente do sexo masculino, com mais de dez anos de experiência docente e formados em instituições públicas de ensino superior.

REFERENCIAL TEÓRICO

No ambiente escolar inclusivo, todas as disciplinas demandam ajustes em seu processo de ensino e aprendizagem para permitir a participação dos alunos com necessidades educacionais especiais em todos os momentos. Entre essas disciplinas, encontra-se a Educação Física, que, conforme os Parâmetros  Curriculares Nacionais (PCN) de Educação Física (Brasil, 1998), tem como um de seus objetivos no ensino fundamental garantir que todos os alunos sejam capazes de participar das atividades corporais, estabelecendo relações sociais equilibradas e construtivas com os outros, reconhecendo as características físicas e de desempenho de si próprio e dos demais, sem discriminação, promovendo atitudes de respeito, aceitação e solidariedade.

Uma abordagem inclusiva da Educação Física Escolar (EFE) priorizaria não apenas o desenvolvimento das habilidades motoras ou aptidões físicas, mas também os conhecimentos da cultura corporal de movimento. Caparroz e Bracht (2007) sugerem que os professores de Educação Física devem estar cientes e comprometidos com o fato de que seu conhecimento e prática pedagógica não são fixos, mas sim um processo constante de construção e reconstrução.

É necessário reformular as ações pedagógicas para atender às diferenças e individualidades de cada aluno. É de suma importância e urgência que questões relacionadas à Educação Inclusiva sejam abordadas e discutidas com maior frequência na sociedade, pois a Constituição Federal (Brasil, 1988) em seu artigo 208, inciso V, assegura o direito de acesso aos níveis mais elevados de ensino, pesquisa e criação artística a todos os educandos, de acordo com sua capacidade. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Brasil, 1996), em seu capítulo V, preconiza a prática inclusiva na escola, destacando a importância e os benefícios do processo de aprendizado dos alunos com deficiência junto com as crianças não deficientes.

Com base nisso, as escolas devem implementar mudanças significativas para atender às peculiaridades de cada aluno, inclusive daqueles com necessidades educacionais especiais, visando oferecer a todos um ensino de qualidade, respeitando suas diferenças e especificidades. Apesar do crescente interesse no assunto, percebe-se pelos relatos dos educadores que a tão almejada inclusão não está sendo efetivada conforme sugerido na legislação e nas pesquisas no campo da Educação Inclusiva. Uma das dificuldades mencionadas por eles é a falta de preparo dos professores para trabalhar com alunos com necessidades educacionais especiais.

A autora Mantoan (2015), argumenta que os professores sentem falta de conhecimentos e habilidades relacionados à compreensão, origem e prognóstico das deficiências e dificuldades de aprendizagem, bem como da capacidade de empregar métodos e técnicas específicas para ensinar esses alunos.

Para Mantoan (2015), a Educação Inclusiva é um movimento político contínuo e não pode ser encarada como uma responsabilidade individual do professor. Uma reestruturação escolar se torna essencial, juntamente com novas abordagens na formação inicial e contínua dos professores, a fim de que o ensino considere as diferenças. Busca-se por mudanças que tenham significado e que redefinam de forma intencional e pedagógica os métodos e motivos de ensinar na perspectiva da Educação Inclusiva.

Não podemos limitar as questões da Educação Inclusiva apenas a um grupo específico, como o das crianças com deficiência. Se persistirmos nessa concepção, as atitudes excludentes em relação a outras crianças se tornarão cada vez mais evidentes em quem é capaz ou não de aprender. Na compreensão da autora:

Tratamos de encontrar meios para facilitar a introdução de uma inovação, fazendo o mesmo que fazíamos antes, mas com outra designação ou em um local diferente – como é o caso de incluir alunos nas salas de aula comuns, mas com todo o staff do ensino especial por detrás, para que não seja necessário rever as práticas excludentes do ensino regular. Válvulas de escape, como o reforço paralelo, o reforço continuado, os currículos adaptados etc., continuam sendo modos de discriminar alunos que não damos conta de ensinar. Assim, escondemo-nos da nossa incompetência (Mantoan, 2015, p. 55).

No ambiente escolar, são executadas diversas ações que contribuem para a produção de conhecimentos de naturezas diversas. Venâncio et al. (2016) afirmam que essas ações são essenciais para reconhecer e considerar tanto os professores quanto os alunos como sujeitos responsáveis por processos singulares na construção dos saberes que lhes são próprios.

Com base em estudos como os de Matthiesen et al. (2008) e Trinca e Vianna (2014), é possível perceber que as aulas de Educação Física podem auxiliar na aprendizagem dos alunos com necessidades educacionais especiais. As crianças aprendem que são capazes de participar das atividades, respeitando seus limites, o que aumenta sua consciência corporal, confiança e autoestima. O aluno é visto como um ser de relações, e essas relações ocorrem em diversos contextos ao longo da vida, como na escola e na família (Venâncio, 2016).

Os Parâmetros Curriculares Nacionais (Brasil, 1998) destacaram que a Educação Física na escola proporciona oportunidades para todos os alunos, de forma democrática e não seletiva, visando ao seu desenvolvimento como seres humanos. Portanto, é crucial enfatizar que os alunos com necessidades educacionais especiais não devem ser excluídos das aulas e devem ser considerados nos processos de ensino e aprendizagem.

As atividades propostas nas aulas de Educação Física precisam despertar interesse, mobilização, ressignificação e experiências que façam sentido nas vivências e problematizações com jogos, brincadeiras, lutas, ginásticas, esportes, desafios corporais relacionados às atividades da vida diária, entre outros. Para compreender isso, é necessário ouvir não apenas os alunos, mas também as experiências dos professores.

O processo educativo deve valorizar não apenas as formas de aprendizado existentes, mas também as formas criadas pelos sujeitos para aprender e compreender o mundo por meio das relações e experiências vivenciadas (Venâncio, 2016).

Os professores de Educação Física precisam estar atentos, pois, como afirmam Matthiesen et al. (2008), existem diversas formas de expressão e comunicação, e não se deve buscar comparações com um modelo ideal. Darido et al. (2001) destacam a urgente necessidade de uma Educação Física para todos, sem discriminação de qualquer tipo, e os professores devem estar atentos para identificar e problematizar qualquer atitude discriminatória e preconceituosa.

Ao deixarem de lado preconceitos e práticas excludentes, os professores colaboram  com  ações  inclusivas,  que  permitem  que  os  alunos  com  necessidades educacionais especiais não se sintam discriminados. É necessário adaptar a metodologia, os materiais e os modos de uso, de modo a atender às características pessoais e interpessoais e promover a participação e o envolvimento nas diversas situações propostas e nas novas ressignificações das vivências e experiências entre professores e alunos.

As escolas brasileiras estão sendo desafiadas a se reorganizarem para ampliar o acesso e democratizar o ensino (Rosin-Pinola; Del Prette, 2014). Embora a inclusão de alunos com deficiência na rede regular de ensino esteja garantida por lei (Brasil, 1996), ainda há uma série de dificuldades a serem superadas na prática. Isso exige uma colaboração integral dos envolvidos no processo inclusivo, reunindo esforços coletivos para construir uma escola que contemple toda a diversidade escolar.

Apesar dos esforços para garantir uma educação inclusiva de qualidade, na prática é possível encontrar professores despreparados para o processo inclusivo, além da falta de uma rede de apoio para desenvolver o seu trabalho com qualidade (Briant; Oliver, 2012). Os professores podem ser considerados os profissionais mais capazes de enfrentar os desafios relacionados à inclusão. No entanto, é necessário que conheçam as propostas do processo inclusivo, as características das deficiências e as particularidades de cada aluno (Gutierres Filho, 2012).

É importante destacar que a atuação dos professores é influenciada por diversas concepções, incluindo sua capacitação não apenas em conteúdos e conceitos, mas também em habilidades interpessoais e políticas, além de suas atitudes (Rosin-Pinola; Del Prette, 2014). Considerando a importância da atitude do professor em sala de aula e seu papel como agente de mudança, é essencial salientar que as atitudes podem ser expressas de forma positiva ou negativa em relação ao aluno.

O conceito de atitude tem sido objeto de estudo por ser considerado uma predisposição interna adquirida e compreendida como a maneira de agir e pensar dos diferentes sujeitos, podendo ser modificada (Carvalho, 2011). Portanto, é necessário que o professor esteja preparado e qualificado para adotar atitudes positivas que favoreçam a inclusão e a participação de todos, criando assim condições de aprendizagem para os alunos (Rosin Pinola; Del Prette, 2014).

No que diz respeito à atuação do professor na Educação Física, que é componente curricular obrigatório da Educação Básica (Brasil, 1996), é importante ressaltar que, ao longo das décadas passadas, as pessoas com deficiência muitas vezes foram excluídas das atividades práticas dessa área por não possuírem determinadas habilidades, atuando apenas como espectadores e sendo ignoradas no contexto educacional (Gutierres Filho et al., 2011).

Portanto, percebe-se que a Educação Física assumiu muitas vezes um caráter excludente, mas, por outro lado, também se apresenta como uma disciplina promissora para a inclusão escolar (Fiorini, 2011; Gutierres Filho et al., 2012). No entanto, é fundamental compreender que o professor de Educação Física desempenha um papel crucial como agente de mudança na formação dos alunos, o que pode e deve ser realizado por meio de atitudes positivas fundamentais para esse processo (Gutierres Filho et al., 2012).

METODOLOGIA 

A presente pesquisa adotou uma abordagem de métodos mistos, combinando técnicas qualitativas e quantitativas para investigar os desafios enfrentados por professores de Educação Física na inclusão de alunos com deficiência em escolas públicas de Mossoró/RN. O estudo é classificado como aplicado, exploratório e descritivo, pois visa compreender práticas docentes, propor soluções práticas e descrever a realidade enfrentada nas aulas inclusivas,  uso dessa abordagem mista permitiu ampliar a compreensão do fenômeno, integrando dados objetivos e relatos subjetivos dos participantes.

O percurso metodológico foi estruturado em cinco etapas: solicitação formal de acesso às escolas públicas, recebimento da listagem de contatos institucionais, contato telefônico com as instituições, visitas presenciais para apresentação da pesquisa e aplicação de um questionário. O questionário foi elaborado com perguntas abertas e fechadas, tendo sido utilizado para levantar os desafios enfrentados pelos docentes, estratégias utilizadas e percepção sobre políticas públicas de inclusão.

A amostragem foi do tipo não probabilística por conveniência, composta por 16 professores de Educação Física de escolas públicas de ensino fundamental, onde a escolha dos participantes baseou-se na disponibilidade e interesse em colaborar com o estudo, todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), conforme os princípios éticos da pesquisa científica.

ANÁLISE DE DADOS 

PERFIL DOS PROFESSORES

Para a realização desse trabalho acadêmico, contou-se com a contribuição total de 16 (dezesseis) professores de educação física que atuam em escolas públicas da cidade de Mossoró. Sendo que entre os pesquisados, a metade dos participantes está na faixa etária de 36 a 45 anos, seguida pela faixa etária de 25 a 35 anos, sendo respondida por 4 participantes. Havendo também alguns participantes nas faixas etárias de 46 a 55 anos, 3 respostas, e mais de 55 anos, com 1 resposta.

A distribuição etária dos professores, pode indicar diversos aspectos da carreira docente, considerando que a metade dos pesquisados possuem a concentração de idade na faixa de 36 a 45 anos, pode-se considerar uma reflexão sobre a estabilidade no emprego público após a superação dos desafios nos anos iniciais da profissão.

A formação dos professores é um fator determinante para a eficácia da educação inclusiva, a maioria dos professores participantes é proveniente de instituições de ensino superior públicas e essa predominância pode influenciar de forma direta a abordagem pedagógica dessess docentes. Segundo as pesquisas desenvolvidas por Gatti et al. (2009), “professores formados em universidades públicas tendem a ter uma formação mais voltada para as questões sociais e inclusivas, refletindo as políticas educacionais mais abrangentes dessas instituições”. 

Ainda abordando questões acadêmicas dos pesquisados, foi possível identificar que a maioria dos participantes possui como nível de formação acadêmica a especialização com 43,8%, seguido por aqueles com graduação com 31,3%, há também participantes com mestrado 18,8% e um com doutorado com 6,1% de participação.

VIVÊNCIA DOS PROFESSORES

Para conseguir identificar e avaliar os diversos desafios práticos enfrentados pelos professores ao lecionar Educação Física para alunos que possuem necessidades especiais, foi continuada a análise dos dados coletados considerando as respostas subjetivas dos pesquisados. 

Os professores foram convidados a identificar os desafios práticos mais perceptíveis enfrentados pelos eles no cotidiano ao lecionar Educação Física para alunos que possuem necessidades especiais, os dados fornecidos foram categorizado nas seguintes dimensões apresentadas abaixo

Quadro 1: Desafios Práticos

Fonte: Elaborado pelo autor (2025).

Como é possível observar na tabela de dados apresentada acima, metade das respostas se referiram a adequação da didática para atender às necessidades dos alunos com deficiência, como sendo o maior desafio enfrentado. Seguido pela citação sobre a falta de Infraestrutura acessível (25%), Limitação de conhecimentos especificos sobre formas de inclusões (12,5%) e Escassez de recursos adequados (12,5%).

Importante ressaltar que em pergunta realizada anteriormente a maioria dos 16 professores participantes sinalizou que foram orientados na graduação sobre Educação Especial e/ou Educação Física Adaptada. No entanto, essa orientação inicial muitas vezes não é suficiente para lidar com a diversidade de necessidades específicas que surgem na prática diária, como foi possível atestar através dessa mesma pesquisa. 

Para elucidar melhor os dados, segue abaixo algumas justificativas dos participantes sobre as dimensões das percepções abordadas:

Participante n°2: Adaptar atividades “padrões” que sirvam e ajudem aos alunos de necessidades especiais, para que participem de forma igualitária das aulas.

Participante n°11: Formação específica insuficiente. Na graduação, não tivemos enfoque aos alunos com deficiência na escola, quais os tipos de deficiência encontradas e suas características, como pensar estratégias para a inclusão desses alunos, como pensar a inclusão nas aulas, quais as adaptações que podemos fazer nas aulas de acordo com cada deficiência, PEI, dentre outras.

Participante n°15: Entender a melhor forma que meu aluno consegue participar das atividades práticas, absorver o conteúdo e como avaliá-lo.

A segunda resposta com mais citação foi sobre a infraestrutura física das escolas, a infraestrutura inadequada pode dificultar a realização de atividades inclusivas, dificultando a transferência de conhecimentos e destacando a necessidade de investimentos em recursos físicos e acessibilidade nas escolas. Esse tema foi abordado com mais ênfase na pergunda realizada em sequência, que será abordada em seguida. 

Na sequencia dos resultados, com o mesmo número de respostas ficaram a limitação de conhecimentos especificos sobre inclusões e a escassez de recursos adequados, ambos com 12,5% do total de respostas. 

A falta de conhecimentos específicos impede que os professores identifiquem e implementem as melhores práticas pedagógicas para alunos com diferentes tipos de deficiência. Uma das justificativas citada pelos pesquisados sobre esse tema: 

Participante 08: São muitas especificações que cada deficiência traz e é muito dificil lidar com todas elas e fazer realmente a inclusão desse aluno nas aulas, não há muitas formas de se especializar sobre esse assunto de forma mais abrangente que realmente possa nos ajudar de fato na escola. 

A escassez de recursos adequados citada entre os professores também representam um obstáculo para a realização de atividades inclusivas e a implementação de adaptações necessárias.

Participante 13: Falta de estruturas físicas de apoio e até de materiais, mesmo que seriam necessários para realização de qualquer adequação com os alunos com deficiência, para realimente inserir eles na atividade junto com os demais colegas.  

É possivel concluir, através das respostas disponibilizadas, que os principais desafios práticos enfrentados pelos professores, englobam fatores relacionados com a formação específica em educação inclusiva e sua adaptação didática e a falta de acessibilidade na infraestrutura física e nos materiais necessários para de fato trazer essa inclusão aos estudantes. 

Na questão seguinte foi tratada a percepção mais específica desses professoras sobre a falta de recursos ou infraestrutura adequada para atender às necessidades dos alunos com deficiência na prática. 

Quadro 2: Falta de recursos ou infraestrutura adequada

Fonte: Elaborado pelo autor (2025).

Os professores de forma geral citaram que sentem que ambos os fatores afetam o desenvolvimento de suas atividades. 18, 75%  das respostas se referiram a falta de estrutura como a mais significativa, 25% como sendo a falta de materiais gerais, também 25% responderam que ambas as opções afetam seus cotidianos e a maioria com 31,5% citaram que além de ambas as alternativas a falta de apoio de outras pessoas dificultava ainda mais a realidade deles. 

É possível compreender melhor os resultados analisando algumas dessas justificativas:

Participante 02: Só de materiais. No meu caso, a escola possui quadra coberta, acompanhantes para os alunos especiais, acessibilidade. Sinto falta de mais materiais adequados para a prática e materiais adaptados para esses alunos.

Participante 05: Precisamos de material de apoio, de pessoas especializadas para contribuir com os professores no processo, mais apoio da equipe pedagógica, mais discussão das temáticas referentes a inclusão. Mais formação dos professores. Mais socialização de experiências exitosas.

Participante 09: Sim, nas atividades físicas é muito sobre dinâmicas e de grande movimentação. sinto a questão estrutural como fundamental para uma boa realização inclusiva. Uma quadra esburacada, por exemplo, não dá a mínima condição de um cadeirante se movimentar com tranquilidade.

Participante 15: Os locais geralmente não são adaptados para as diversas condições, o padrão é que seja para pessoas sem necessidades especiais.

As respostas dos pesquisados ressaltam a necessidade de investimentos em infraestrutura, formação docente, disponibilização de materiais adaptados e adaptação dos espaços físicos para promover uma prática inclusiva da Educação Física nas escolas públicas de Mossoró/RN.

CONSIDERAÇÃO FINAIS

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 9394/96) reconhece a Educação Especial como uma modalidade transversal a todos os níveis de ensino, reforçando que não devem existir categorias segregadas na educação. Isso implica que as instituições escolares devem estar preparadas para oferecer suporte a todos os alunos, inclusive aqueles que necessitam de apoios diferenciados, promovendo o respeito, a dignidade e o desenvolvimento pleno. 

Contudo, a efetivação da inclusão depende não apenas do compromisso das escolas, mas também da ação efetiva do governo, por meio de investimentos em infraestrutura, formação continuada e políticas públicas consistentes. A pesquisa realizada com professores de Educação Física em escolas públicas de Mossoró/RN revelou diversos desafios no contexto da educação inclusiva, como a escassez de recursos físicos e materiais adaptados, a falta de formação específica e o suporte institucional insuficiente. 

Apesar dessas dificuldades, os docentes demonstraram empenho em adaptar suas práticas pedagógicas para atender às necessidades dos alunos com deficiência, utilizando metodologias cooperativas, atividades adaptadas e estratégias que promovem a inclusão e a participação de todos. Os relatos apontam que a Educação Física pode ser um espaço potente para a promoção da cidadania, da cooperação e do desenvolvimento integral dos estudantes.

Para que a inclusão escolar se torne realidade, é indispensável o envolvimento conjunto da escola, do governo e da sociedade civil, a disciplina de Educação Física, tradicionalmente centrada na performance atlética, precisa se reinventar com foco na diversidade e no respeito às diferenças. A formação ética e crítica dos professores deve ser fortalecida, rompendo com a lógica de mercado e abraçando o papel social e inclusivo da educação. 

Apenas por meio de ações estruturadas, investimentos públicos e valorização profissional será possível consolidar uma escola pública verdadeiramente inclusiva, que garanta a todos os alunos, com ou sem deficiência, uma formação humana, participativa e de qualidade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Oliveira, Rafael dos Santos Silva . Práticas inclusivas na educação física: Um olhar para as escolas públicas de Mossoró/RN.International Integralize Scientific. v 5, n 46, Abril/2025 ISSN/3085-654X

Referencias

BAILEY, C. J.; LEE, J. H.
Management of chlamydial infections: A comprehensive review.
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v. 67
n. 7
p. 1208-1216,
2021.
Disponível em: https://academic.oup.com/cid/article/67/7/1208/6141108.
Acesso em: 2024-09-03.

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Práticas inclusivas na educação física: Um olhar para as escolas públicas de Mossoró/RN

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